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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Lírica recifense: POEMAS DE MOISÉS MONTEIRO DE MELO NETO






POEMAS DE 
MOISÉS MONTEIRO DE MELO NETO
PUBLICADOS NO JORNAL
Folha de Pernambuco (Recife)



O escritor, nascido em Recife (PE),MOISÉS MONTEIRO DE MELO NETO, em Cesareia, cidade de Israel nos arredores de Cesareia Marítima, a antiga cidade portuária. Encontra-se a meio caminho entre Tel Aviv e Haifa, no litoral mediterrâneo de Israel, próximo a Hadera, onde parte destes poemas foram escritos, no fim da primeira década o terceiro milênio


Prefácio

Recife acordou radiante, majestosa e imponente, como o sol que ilumina e aquece nossos corações; ou talvez, um Deus que encontra satisfação  em abençoar seus filhos. Isto porque nossa menina, que já não é mais tão menina assim, foi glorificada por um de seus filhos. Filho este que parece saborear do néctar, degustar dos mais diversos sabores da literatura.
Moisés Neto, dramaturgo, teatrólogo, poeta, nos presenteia com mais uma de suas obras: “risos e sisos”, uma releitura de seus poemas publicados em jornal, e porque não dizer, uma releitura de sua vida, uma vez que os poemas retratam muito de suas experiências e observações sobre o universo de cada leitor. É difícil ler seus poemas e não pensar: mas como? Como ele consegue sintetizar meu pensamento em tão poucas palavras? Talvez por ser ele um pesquisador, um artesão das palavras que nos embriaga e nos entorpece em sua descrição dos nossos sentimentos. Um poeta que tem o romântico como sua essência, mas que transita pela tradição (simbolismo, modernismo, até pelo arcadismo...), sem perder o contato com o contemporâneo, o que nos permite dizer que sua obra será sempre atual. Isto nos revela o Moisés letrado, um autor esmerado, estudioso da literatura que não se contenta apena com o dom da arte de escrever, mas que vai além...
Um autor que a princípio se mostra simples em sua forma de escrever, mas quando nos aprofundamos em sua obra percebemos o quanto ele é sofisticado. Temos aqui uma coletânea de poemas que nos mostra o universo lúdico do autor suas emoções... ideias. Alguns dos seus poemas ressaltam a beleza do Recife, dentro desta linha podemos citar o poema Outono, um amor que transcende o tempo e tem a cidade como pano de fundo, já em  Epifania, a  linguagem simbolista faz-se presente , o poeta faz uso de algumas figuras de linguagem na tentativa de envolver o leitor em um  universo mágico. Em Ode ao Teatro de Santa Isabel, vamos encontrar uma homenagem a um templo/ ícone das artes no Recife. Nele enfatiza-se a nobreza da arte de atuar e a história que é representa nas paredes do teatro, os vestígios do tempo, as marcas de suas glorias que por si só atrai um publico. Ele que já foi chamado de teatro de Pernambuco, mas passou a se chamar Santa Isabel  para homenagear a princesa. Com o estilo neoclássico, elegante e imponente; o nosso Santa Isabel é considerado por muitos o mais belo edifício teatral do império. Ele que já foi testemunha de inúmeras revoluções, que já recebeu tantas figuras ilustres. Deus o abençoe caro gigante. Vós que sois a “Fênix renascida”, pois ressurgistes das cinzas como a ave mitológica e resistisses à tantas transformações ao longo dos tempos. Que os deuses do teatro te concedam toda gloria e honra  que só um grande rei merece. Nos o saudamos. 
 Em Linha do tempo, a vida é um grande palco onde encenamos nosso próprio espetáculo, somos espectadores e protagonistas da nossa história, escrevemos nosso próprio enredo e muitas vezes nos perdemos em nossa própria trama; o teatro é mímese da vida, não como reprodução real do que somos, mas sim,como uma representação lúdica do sentimento humano. O poema apresenta uma cadência, um jogo rítmico através das palavras: “lida, vida, cena, sonhos, bastidores...” um artifício do poeta para comparar o teatro à trajetória de uma vida. Ele representa tanto o artista (você) quanto o homem comum (eu). Penso que o teatro é uma boa comparação, pois somos todos trabalhadores e batalhamos por uma causa. Em Os Atores, o poeta produz um poema sobre a arte de atuar, o título do texto é a chave do poema (meta linguagem). Usando de palavra opostas (antíteses) e ideia contrárias (paradoxos) “Sozinhos em grupos”, o autor sistematiza sobre a arte de representar; o ator e suas mil faces, o mestre das ilusões. O ator e sua capacidade de dar vida a um personagem (“manipuladores do próprio eu ou fantoches?”), misturando o conotativo ao denotativo ele brinca de ser Deus quando compõe uma personagem.
Descrevendo a maravilhosa fase da juventude, Poeminha Um mostra que todos acontecimentos nos traz algum aprendizado, os riscos, as dúvidas, os acertos e incertezas de um futuro duvidoso. A juventude e sua eterna relação com a transitividade do tempo onde tudo é passageiro e acontece agora.”somo tão jovens e temos todo tempo do mundo e mesmo assim não temos tempo a perder”. A adolescência e suas descobertas; amores, encantos e desencantos; a juventude seus riscos e prazeres tudo é eterno enquanto durar. Já em O templo das horas, tempo é a matéria prima do poeta e o poeta tem como tarefa registrar os fatos, ser operário a serviço  do tempo. Uma passagem de mês, uma passagem de ano... tudo é criado pelo homem, mas no ”templo das horas não há portas”, então só nos resta observar e aprender os ensinamentos que ele nos dá . O templo das horas fala da vida, “Embora mais um ano esteja para começar/ Aprenda antes que seja tarde” não devemos deixar de viver nossas realizações, pois este tempo acaba... a vida acaba, falar dos sentimentos, pois, amanhã pode não dar mais tempo, priorizar o hoje.
Um jogo de sensações Epifania nos faz enxergar a noite com nossa eterna companheira, ou com pano de fundo para o universo dos românticos. o poema nos  conduz a um ambiente misterioso,lúdico; o poeta faz uso de elementos simbolistas na tentativa de envolver o leitor em um  universo mágico, sinestésico, mesclando  bem o romantismo com o simbolismo: “A noite/É de branco luar na estrada deserta/Ímã vermelho, teu calor me atrai/O azul escuro do céu serve de contraste para/Uma verde luz que emana dos teus olhos.” O poema Você persiste traz um sentimento de nostalgia, a ideia de um homem solitário “O mar repete um aviso/agora és ilha, homem”, que se apega às lembranças do passado; um amor que ultrapassa os  limites do tempo. O mar, as ondas renovando nosso desejo de não virar a página de uma história inacabada em nossos pensamentos e a lembrança dos abraços “hoje braços distantes”. Talvez um amor adolescente, um amor que nos lembra o tempo em que tudo parece ser para sempre; sem respeitar a efemeridade e a cronologia dos fatos.  Novamente, o autor brinca com as palavra usando metáforas, comparações para criar um ambiente romântico.
Chove, apresenta características urbanas: “Recife, vestida de céu/cinzento, chove tanto/Cinco horas da manhã...”, fatos corriqueiros em nosso cotidiano. Da janela do apartamento Recife é descrita como uma metrópole que não descansa. Ao mesmo tempo, percebemos que o autor utiliza o cotidiano  para mostrar o amanhecer das pessoas, o despertar e o sentimento que pode levar o leitor a uma interpretação do  que teria acontecido na noite anterior:” Silêncio entre nós dois, nada pode nos fazer um\ Entre a indiferença e o intransitivo prazer de existir”.
 Mesclando simbolismo e romantismo o poema Teus olhos conduz a um jogo sensações (sinestesia) “Como negras azeitonas/Sobre branca porcelana” misturando cores, sabores que aguçam nossos sentidos. O eu lírico  nos revela sua face romântica que faz comparações para exprimir a loucura de quem ama, remetendo-nos à morbidez do romantismo. “Roletas russas da sorte/A loucura de quem ama”. Possivelmente uma releitura de um poema de Gonçalves Dias chamado “Olhos Verdes”.
A busca sugere o aprendizado que vai além do material (metafísica) “Que aprendizado novo nos aguarda?/o da doçura?/talvez o do ar mais puro...” trazendo uma relação com o arcadismo, trabalhando a questão da natureza e do sagrado do puro e o intocável; “sobre sermos jóias preciosas/sobre deixar a bebida sagrada/tocar nossos lábios/para sermos puros”.
Em Seu beijo um pescador avistou uma mulher de cabelos dourados boiando em direção à praia. Uma mulher seminua, metade humana, metade peixe  que o seduziu com o seu canto e beleza (Lenda da sereia). O poeta faz uso da mitologia para expressar seus sentimentos, ele assume o papel do pescado: “eu estava deitado na areia/ você chegou” talvez uma referência à deusa Tétis (ilha dos amores).O beijo é caminho que leva às portas da percepção,”sua boca na minha” , dois lábil que se encontram e se unem formando um todo, o toque suave das mãos acariciando-me “ você minha joia mais rara”, o êxtase de uma relação.
Preparando-se para a sedução, Balada recifense enfatiza o desejo, a juventude e sua efemeridade, eu quero viver o hoje e o amanhã fica para depois... “Entro na boate te procurando/ Peço uma bebida doce./ Sinto o gosto, teu cheiro aguça meus sentidos../ Me  viro  e beijo/ Mas não é você/ a noite acaba e tudo voltou ao que era antes...”. Apesar da linda noite, vem a decepção por não ter estado com a pessoa amada.

Sementes do amanhã tem a cidade como pano de fundo de um grande amor que passou... fica a lembrança, a saudade e o desejo de voltar no tempo. “ se ainda pudesse ter algo seu/ seria o tempo reconquistado”. A nostalgia de uma história de amor inacabada.” nossa fantasia do último baile.../ entre atos e fatos, a dúvida e a culpa” de quem é a culpa , não sabemos; só o tempo cicatrizará as feridas, só o tempo nos dará um novo amanha.

Comparando os conflitos de um relacionamento com uma trama o poema   “Novela” ressalta os acontecimentos de um relacionamento, intrigas, conflitos contradições é como se a vida fosse um romance em capítulos  com  hora marcada para começar e terminar. Tudo está escrito, nada é por acaso: “Ah, meu amor!/ Por que teve que/ ser assim?/ tudo sempre parece /começo e fim”.
Retratando a vida dos que trabalham no mar o poema Pescadores mostra a alegria do seu trabalho e a incerteza do seu retorno “arrastar nelas o destino incerto” , com a vida sofrida mais sempre cheia de esperança, o eterno aprendizado da lida com mar é seus mistérios, o tempo...a solidão, o cansaço”;  dias e noites de  mestres e aprendizes” e a esperança do retorno para suas famílias. Este poema Revolução na Rua da Glória,  traz  uma história de amor de carnaval, “Ilusão latina/Amei-a no carnaval”, onde as lembranças da mulher pernambucana misturam-se com as lembranças da cidade, “mapa perdido: Pernambuco/Menina-revolução sem afeto/às margens secas do Capibaribe/no bairro da Boa Vista” , dos blocos, das fantasias , quem não já se encantou com os blocos líricos e a nostálgica do carnaval do Recife. A  liberdade o amor sem compromisso “Menina-revolução sem afeto” que dorme na memória e quando ressurgi vem a saudade boa ... a alegria de ter vivido aquele momento.” Ela dorme agora na memória”.

Na visão do poema Intraduzível, um amor sem tradução, lembrança  que se eternizou... que tamanha importância passa a ser intraduzível diante de tantos detalhes. “Sereia, você me atrai, irresistível melodia./Navegador, conquistador, me deixo seduzir/e me tens nos teus domínios”.  A fascinação pela mulher e o domínio que ela possui sobre ele, as diversas sensações despertadas no tocar.
“É inútil resistir, você não acredita?/Dizer que o amor pagou o preço do meu pranto/Parece inútil a pureza no meu peito/Viveremos de nós mesmos!/E eu... como quem delira/De qualquer jeito/O resto é mentira”. O poema O resto é mentira! É um questionamento de amor... será que valeu a pena tudo? Será que a pureza do  amor tão maltratado valeu  ou tudo não passou de uma ilusão? Viveremos de que , já que a nossa história não passou de uma mentira. Fala da decepção.
Aí  está você... “Sapateando no leite derramado/Rindo do meu choro abafado/Dançando com o CD arranhado/Não vou adiar esse adeus danado” fala da insatisfação  de um relacionamento que esta no fim, descreve um lar em pedaços.O poema apresenta uma cadencia , jogo de silabas fortes que dar um ritmo, usando o artifício da aliteração , o autor consegue passar a ideia da repetição do discurso.
Sexto sentido: neste poema o autor cria uma relação entre sentidos do corpo  para expressar o seu desejo por uma mulher. O título é a chave do poema “sexto sentido”. Trabalhando com um jogo de palavras e ideias  o eu lírico mostra que sua vontade e incondicional pois, o seu querer independe do outro. “Nos meus olhos está a tua imagem... Queria ser o teu preferido, mesmo que fosso num sexto sentido”.
A música no ar e os dois que valsam, sob as estrelas, nada mais interessa... só o amor que os entorpece, nosso ritmo, nossa harmonia emanam alegria e ao seu lado não tenho mais dor.... Amantes no Paraíso: o poema fala da plenitude do amor , dois corpos que unem formando um só. 
Pantomina, numa narrativa descritiva, o eu lírico deste poema mostra uma situação onde o homem passa a ser objeto de desejo. Em uma festa regada a vinho e boa música de repente ele se sente observado: “alguém me dirige o olhar,nos percebemos e isso aguça meu desejo”. O que fazer, como devo agir?... No outro dia me ligou,como descobriu meu telefone?... Era o início de uma ópera bombástica.” O universo masculino e seus atrativos.O poema apresenta características narrativas:espaço,ambiente, cronologia de tempo e uma boa descrição de local.
Vamos encontrar em Milagre de carnaval, uma louvação ao carnaval, encontros e reencontros no meio de tanta fantasia, promessas que não são reais, mais serão lembradas como uma doce recordação “Te encontrei num clube de máscaras... bem sabia:/ Nossas promessas, tu não confessas?”. Em meio a exaustão, festa, alegria... nos encontramos... eu, andarilho errante, tu, que eras de outro, mas já me pertencias... Pierrôs e colombinas nos festejam e o galo nos abençoa. Seremos eternos ao menos em nossas lembranças”. Ressurgiremos transfigurados em ascensão sobre todos./Neste Éden recifense, tudo ferve.../Da madeira morta nascem flores./Tudo é folia,agora/estamos perdoados.”
 Um poema metafísico Nirvana nos remete ao cosmos, um turbilhão de sensações tudo ao mesmo tempo agora. “mudo, quieto em meio ao trovejar de pensamentos alheios./Ferido, petrificado pelo sal, doçura do amor impessoal...”. Um olhar introspectivo do homem em direção ao infinito em busca do ser superior. A busca pelo desapego material.
Recife como cenário do nosso amor, em Outono, a bela cidade que tem em suas pontes, ruas e praças a nostalgia da história de um povo. “Agora o outono recifense.../ As folhas caem na memória/ Caminhamos por ruas de sonho/Ecoam os nossos passos nesta história”. Neste cenário em pleno outono o amor se perpetua entre as folhas que caem e o colorido da cidade, as lembranças vividas aqui passando na memória serão sempre a prova viva do nosso amor. 
“Desaparece o sol na nossa janela/De um dia feliz sem mazela”, simboliza o fim de tarde, um olhar através da janela com a tranqüilidade do dia, observa a cidade do Recife: pessoas vêm e vão despertando a vontade de viver. Em “Desaparece o sol na minha janela” é valido ressaltar o jogo de corres... os detalhes das várias situações de um cotidiano, ali passando sobre um olhar atento descrevi-se a cidade.
Muitas vezes o autor nos traz um sentimento de nostalgia, como no poema Você persiste: “agora és ilha, homem./ lembrança dos teus abraços”. É ou não a ideia de um homem solitário que se apega às lembranças do passado, um amor que ultrapassa os limites do tempo? O mar, as ondas renovando nosso desejo de não virar a página de uma história inacabada em nossos pensamentos: “lembrança dos teus abraços/ hoje braços distantes”; talvez um amor adolescente, um amor que nos lembra o tempo em que tudo parece ser para sempre; sem respeitar a efemeridade e a cronologia dos fatos.  Novamente, o autor brinca com as palavras usando metáforas, comparações para criar um ambiente romântico, buscando o invisível, as profecias, sombras da vida... são dúvidas que percorrem o ser humano. Os sentimentos estão aflorando e o desejo me fará presente. A mais doce alucinação, lembranças e mistérios relatam um amor passado, feroz guardado para a vida inteira em sensações, ecos. Imagina se fosse agora... será que sentiria menos culpa? As fantasias continuam, passam como um filme acelerado, flashes da vida. Temos aqui a tradução, um relato de um casamento antigo, que em momentos de reflexão a vida e suas aventuras, levam a pensar ...será que poderia ter sido diferente, mais ao retornar de sua viagem alucinante quer acender o casamento o amor da vida inteira e que esta ali ao alcance das suas mãos.
Nelson Rodrigues faz cem anos e Moisés homenageia o escritor recifense que descreve tão bem a sociedade carioca, tendo a família como tema central, e as faces do ser humano, seus conflitos familiares e desejos... um realista de essência que ousou mostrar a vida como ela é, permeando-a com humor e a sátira. Suas mulheres podem ser a representação da pureza, castidade; ou a personificação do desejo, do pecado. O homem é representado como o canalha, o ser despido de pudores que faz o que for preciso para alcançar seus objetivos. O poema tem os ingredientes que torna a obra de Nelson Rodrigues diferenciada, mostra uma realidade problemática e polemica das famílias e dos relacionamentos: “castidade e perversão/ amor & tragédia/ gozo suburbano/ casamento problemático”, com uma visão sempre conturbada e uma opinião sempre contraditória o escritor relata a sociedade carioca.
A mitologia é a chave do poema Sem resposta:  Orfeu,  poeta e médico, filho da Calíope e de Apolo ou Eagro, rei da Trácia , o poema fala de um amor destrutivo , com isso levanta perguntas da importância da sua própria vontade,  “...em solo movediço/ sabendo que me segues/ e que não nos cabe/ nem o Hades nem o Eden./ Resta-nos/ Nosso amor em trânsito/ nosso amor ...passagem.../ sem resposta”; usando o amor como resposta e justificativa para seus atos, amor e pecado andam juntos tornando as perguntas sem respostas.
Em O  pedido... o desejo de estar com quem se ama, um cenário de justificativas de um amor perfeito , pronto para entrelaçar-se , a certeza da mulher amada...desejos, abraços  Sinta minha pele ardendo por você.../Meus ouvidos amorosos por lhe ouvir\meus lábios sedentos e obedientes./Meu coração...eu já nem sei se é só meu...” não existe mais eu e sim nós. Apesar das suas inseguranças, “entregue-se, como eu fiz”.  Porque as promessas são de amor eterno, então: “ Case comigo.”
A preparação para uma viagem, os pensamentos ficam voltados para os acontecimentos externos. Casa na montanha uma viagem para o campo: “Viajo para o campo/ A natureza só pode amar a ela mesma/ a gente tem que se ajudar./ A roseira que você plantou floriu”; transmitindo uma ideia bucólica, a valorização da natureza e a concepção que precisamos ajudar uns aos outros. Trabalhando elemento da natura Moisés descreve o desgaste do tempo na vida e nas coisas matérias, a necessidade da manutenção física e espiritual da vida. Assim também é em Tempo de separação, que traz a exposição do oposto  de um  relacionamento onde personalidades e prazeres com tempo se revelam coisas distintas: “... lá estão as cinzas do nosso amor/ brasas adormecidas/ apaixonadas”   adormecendo o amor tão intenso no inicio, parece que quanto mais tenta amar, mais o eu-lírico na poesia de Moisés  exercita-se como se fosse possível alimentar e continuar um amor puramente literário que busca justificativas e motivos para continuar. É o que percebemos em Nossa música como metáfora de uma vida, as cordas de um violão que quando dedilhadas produzem uma melodia comparadas à trajetória de uma vida... a história de duas pessoas que não conseguem se encontrar,duas metades que não se encaixam e são como cordas de um violão que não se tocam . O desejo sem lei, a não ser a mímesis interna, encontra e eterniza sua razão de ser e estar, pode ser numa praia, velha casa na colina, A casa do holandês, dá-se sempre uma espécie de  resgate, um período da história pessoal, inventada ou vivida, tudo vai se misturando em frenesi poético, torvelinho, como na casa antiga, castigada pelo tempo, onde o vento produz sons do abandono, onde o poeta escuta e transmite-nos o sofrimento da efemeridade, tema tão recorrente em sua obra, toda ela uma espécie paisagem selvagem de lembranças, ou, lembrando o mestre Edgar Allan Poe... relíquias, que Moisés define como “prisão/liberdade/ lembranças” , o que se passou realmente jamais saberemos com certeza. Às vezes isso resvala num encômio, como em homenagem a uma voz que se cala e eterniza-se como a de Mercedes Sosa, no poema La Negra acena dúbia despedida, tratando-a como uma mulher forte que conquistou o mundo com sua voz e seus ideais, mulher revolucionária, mas  que não perdeu a doçura e a sua voz carinhosa deixa saudade: Até a próxima canção, querida Mercedes”.
                                            Salomão Fonseca Gomes, professor e escritor


Para a Contracapa:

  É com maestria e sensibilidade que Moisés Neto compõe esta obra. Passando por uma epifania onde tudo ao redor ganha equilíbrio, o autor nos remete ao seu mundo de verdades, mentiras, revelações, alucinações... e por que não o das suas baladas?
  Uma poesia Cool & Cult é o que temos nesta obra, com uma coerência e uma permanência que nos encanta. Poética não necessariamente avassaladora, mas com uma característica simples e elegante. O que se mostra em meio a esta simplicidade é a grandeza tantas vezes particular, porém altamente universal deste poeta.  (Malu Souza, professora, escritora e musicista)









Para as Orelhas:

  O recifense Moisés Monteiro de Melo Neto é  Doutor em Letras pelo PPG Letras UFPE, autor de vários textos teatrais e livros, como Chico Science: A Rapsódia Afrociberdélica. É professor há mais de vinte anos e tem vários artigos publicados em jornais e revistas nacionais e internacionais.
Acredito no amor como a essência de cada um dos poemas de Moisés, a começar pelo recíproco, como vemos em Seu Beijo, ou mesmo o rejeitado, retratado nos versos de Novela e, até, a dor do amor que se foi em Você persiste. Moisés Neto atua em seu teatro da vida registrando em versos e estrofes que criam uma espécie de trama em nossa mente. Nos versos do poema Novela, onde percebemos essa característica com mais ênfase. Somos espectadores dessa teatralização que se assemelha a um musical de tão embalado, e é nessa clima rítmico que sentimos, também, um quê de samba gostoso de declamar no poema “Aí está você...”.
  O tempo é submetido e concentrado em encenações que se revertem em temporadas e, assim, o ciclo não para. O templo das horas é como um espetáculo que se inicia, mas logo tem seu fim, são experiências da passagem de uma cena para a outra, e depois à outra temporada, outras peças, outros atos, outros atores e assim “sempre haverá mais uma chance”.
  Considerando a paixão que o autor deste livro exprime, não nos surpreende as tamanhas homenagens que o mesmo faz, durante a obra, à artistas como Mercedes Sosa, Nelson Rodrigues e à monumentos como o Teatro Santo Isabel e a própria cidade do Recife.
  É através de sentimentos como saudade, paixão, harmonia e do visível amor pelo teatro e pelo Recife que Moisés Neto compreende todos os poemas deste e livro. Não só estes, como todos os seus demais textos.   

                                           Malu Souza, professora, escritora e musicista




AS DATAS ABAIXO CORRESPONDEM AO DIA DA PUBLICAÇÃO NO JORNAL FOLHA DE PERNAMBUCO, PARTE DOS POEMAS FORMA ESCRITOS NUMA TEMPORADA QUE O AUTOR PASSOU EM ISRAEL




Linha do tempo

Na lida,
Vida,
Carne e metafísica,
Cena,
Sonhos e bastidores,
Assim estou/estamos
Neste improviso
Cheio de cálculos,
Luz e sombras,
Closes e panorâmicas,
Não é mesmo?
Face to face...

(20.03.12)

Da série Objetos de sangue, 1993, Yoko Ono





Nelson Rodrigues faz cem anos


É o teu centenário,  Nelson!
O teatro está cheio
 esperas o espetáculo começar
glória,  fracasso,
castidade e perversão
amor & tragédia
gozo suburbano
casamento problemático
cheio  de incesto
do álbum de família
rasurado
 tuas personagens
chegam novas
ao  século XXI
no palco,
redação de jornal,
asfalto selvagem
da vida-teatro
Vamos aplaudir
tua dança
da morte
com a eternidade
(23.02.12)



OS ATORES


Sozinhos
em grupos
lá estão
sonhadores
de cruel e ingênua
esperteza
sofrendo e gozando
o alheio
palmas, ouro
vaias, miséria
no palco
na rua
são o outro
 a máscara
tão perto/longe
manipuladores do próprio eu
ou fantoches?
(04.04.12)



O escritor, nascido em Recife (PE),MOISÉS MONTEIRO DE MELO NETO, NUM antigo Kibutz, próximo a Cesareia, cidade de Israel nos arredores de Cesareia Marítima, a antiga cidade portuária. Encontra-se a meio caminho entre Tel Aviv e Haifa, no litoral mediterrâneo de Israel, próximo a Hadera, onde parte destes poemas foram escritos, no fim da primeira década o terceiro milênio


Poeminha Um

O jovem não precisa de razões;
só de pretextos
no erro  ele tem o lucro
e quer  aproveitar tudo!
Não  só se esforça na certeza da  recompensa
e não quer a ciência
que troque o seguro por uma teoria
um problema.
Meu filho me ensina
que devo duvidar do que ensino
neste mundo  que nos é periferia!
(10.12.11)

Teus olhos

São uns olhos muito negros
Olhos de escuridão
Fazem-me prisioneiro
Estes olhos que me atraem
Minhas forças esvaem
Possuído sigo calmo
As sombras caem

Como negras azeitonas
Sobre branca porcelana
Em mesa cheia de morte
Teus olhos...
Roletas russas da sorte
A loucura de quem ama
E...ai! Não tê-los
Mesmo com a fome que tenho
Não poder comê-los...
(24.07.09)

A MAIS DOCE ALUCINAÇÃO

... em busca de algo para mim invisível
à margem de estranhos caminhos,
minha sombra percorre o mundo...
Recordo a profecia....

Versão I

Quando numa noite fria
você estiver perfumada e só
vivendo a mais doce alucinação
eu chegarei de repente
... como uma lembrança
como um mistério...
como uma lenda do sertão.
Deitarei com você
na sua cama
lhe darei calor
nos amaremos com sofreguidão
no escuro do quarto
como se fôssemos animais ferozes.
Sei que agora estamos distantes
mas o nosso amor
é para a vida inteira

Versão II

Quando numa noite você
corpo úmido de suor
Acender mais um cigarro, sabendo que vai  partir
num momento cravejado com pedras brilhantes
da sua mais doce alucinação
Você ainda vai rolar e gemer mais um pouco
... ainda existem vozes na rua
nem tudo se resume em silêncio
em quase poder se escutar o sussurro das ondas
nem tudo é isso – ainda ...  e se tudo fosse agora?
uma oração no meio da noite talvez,
aliviasse o peso da culpa
E se lhe viesse uma lembrança para aquecer
o peito jovem?
Você poderia recorrer aos nossos mistérios
com duendes, gnomos, comadre Florzinha
tomarmos uma infusão...
Mas tudo isso é enquanto deitado na cama
você não consegue dormir com o calor
Filme acelerado
Corte em todo o pensamento
sua recordação dos tempos
memórias de solidão
contradizem-se faiscantes
Você procura o interruptor
com sofreguidão
no escuro quer acender o casamento
amor que numa  vida inteira
não conseguiu entender
c-o-m-p-l-e-t-a-m-e-n-t-e.
(25.08.09)

A casa do holandês

Gaibu-Suape
beira-mar
velha morada
estranho lugar
castanhos tijolos expostos
fustigados pelo tempo
sem portas, janelas, teto
assobio  de outros tempos.

Velha casa da colina
Sob o farol
no fim do vale,
ontem/amanhã
murmúrios do vento,
redemoinho nas entranhas
mato/ flores selvagens
entre  paredes, umbrais.
Estranha relíquia:
Prisão/liberdade/ lembranças

LA NEGRA ACENA DÚBIA DESPEDIDA

Lá se vai Mercedes Sosa
Se vai para ficar para sempre
O amor que nos libertou tantas vezes com sua voz
Índia de sentimento profundo
Mãos de mãe
Mãos de mulher
Hoje o mundo guarda tua voz tão carinhosa
Que nos embalou em meio à guerra dos dias
Morreu o corpo
Viverá a força revolucionária do teu amor tão profundo
Pássaro sobre os Andes
Condor de esperança & fé
Viverá no mistério da arte
Mercedes- coração americano
Latino de fronteiras móveis
Até a próxima canção, querida Mercedes
Obrigado, por entregar-nos com tanto carinho
Tua despedida neste outubro é apenas mais uma canção
Tua participação no doce mistério da vida.
Teu sorriso e tua voz ficarão
Através do  universo
Retrabalhando o tempo e o espaço
Nesse eterno teatro da arte.
Por que choro tanto agora?


                                         (Recife, 4 de outubro de 2009)
(06.10.09)

A busca

Que aprendizado novo nos aguarda?
o da doçura?
talvez o do ar mais puro...
da correnteza tranquila das águas?
talvez o do fogo do sol
o de como se comunicar melhor
com a terra
sobre sermos joias preciosas
sobre deixar a bebida sagrada
tocar nossos lábios
para sermos puros
sermos felizes
nessa busca
que é sempre um presente
um dom inestimável
bom.
(12.08.09)

Seu beijo

Pensei no seu beijo quente
e você chegou
eu estava deitado na areia
a luz da lua
platinou o nosso amor
como um  manto
envolvendo nossos corpos
você meu canto
esperança
suas mãos afagando-me
como num sonho bom
a água mais pura
da sua boca na minha
as estrelas eram pedras preciosas
você minha joia mais rara
sobre tecido indiano
prateados....
êxtase!
(31.07.09)
Quadro do artista pernambucano Marco Hanois, a pedido de MOISÉS MONTEIRO DE MELO NETO



Balada recifense

Sem dor ou emoção, visto a roupa justa.
Olho no espelho do quarto
acaricio o corpo que te quer muito
repito a mesma música cinco vezes, bem alto
contra o silêncio da tua  ausência
pela janela a noite estrelada cura quase tudo. Entro na boate te procurando.
Peço uma bebida doce.
Ouço gritos no dancing
como num sonho divertido,
observo  os que dançam/ multicoloridos
corpos & copos  no meio da noite... fumaça.
De repente, como num filme moderninho,
Escuto o teu riso.
Sinto tua presença.
Tuas unhas  me arranham suavemente por trás do pescoço.
Teu perfume está no ar.
Eu me emociono e meu corpo vibra.
Me  viro  e beijo... são lábios úmidos, com gosto de frutas...
Mas... não é você!
(17.07.12)

Sementes do amanhã

Agora , no espelho da cidade, ainda lhe vejo
se ainda pudesse ter algo seu
seria o tempo reconquistado.
Agora...
As chuvas trazem as baronesas
plantas a flutuar no rio
cortando a paisagem
e as recordações.
No armário: nossa fantasia do último baile...
Na alma, entre atos e fatos, a dúvida e a culpa
de um amor que foi livre para crescer
e secou sob o sol do egoísmo.
Agora:o silêncio de domingo rega novas sementes.
Saio a deslizar por novas estradas.
No porta-luvas um pequeno retrato
da nossa paixão mal resolvida.
Ali ficaremos, fantasiados e sorrindo
até que o tempo, mais uma vez, nos separe.
27.01.10


Novela

Ah, meu amor!/ Por que teve que/ ser assim?
Cada copo que bebo/ tudo sempre parece /começo e fim
Do amor/ entre quatro paredes
Eu caí nesta rede/ de intrigas, /trapaças
Como numa novela,/ tal e qual /folhetim?

Ah,/ meu amor!/ Escuto a porta batendo
Que maldita surpresa!
Seu bilhete na mesa
Explicando tintim/ por tintim
É bem/ melhor /que seja/ assim
A jogada perfeita
Que com toda certeza
Antecipa o meu fim

Se ainda/ resta/ alguma/ chance
Talvez/ alguém/ me ofereça/ champanhe
Me convide pra dançar/...ah, meu amor!

Ah, meu amor! Por que tinha/ de ser assim?
Que destino fatal,/ presa num hospital
Sem dinheiro,/ é o fim!
Até que a Sorte/ sorriu/ pra mim
E no lance final/ como numa novela,/ eu /venci!

A jogada perfeita
Como numa novela...
Tal e qual Folhetim!
(31.10.09)

Pescadores


Raia o sol na beira da praia
 Motores, algazarra, canto, risos e sisos.
Vão ao oceano, os pescadores pernambucanos
Jogarão as redes como se pudessem
Arrastar nelas o destino incerto
E segurá-lo nas mãos cortadas,
 Queimadas pelo trabalho.
Dias e noites de  mestres e aprendizes
Nas águas salgadas, cotidiano e mistério
Cansaço, perseverança, dolorido querer
No tempo e espaço o barco se solta
Agitado ou calmo navegar
Mar amar e volta
Dos nossos trabalhadores do mar...
(29 de março ou de maio de 2010)



REVOLUÇÃO NA RUA DA GLÓRIA)
(A Menina da Rua da Glória)

Recife-rua-revolução-menina
Ilusão latina
Amei-a no carnaval
Noite finda, a vejo agora:
Ela suspira,transpira,vira,revolve
Suspensa, indecisa, tranquila,se dissolve, se comove.
Mapa perdido: Pernambuco
Menina-revolução sem afeto
às margens secas do Capibaribe
no bairro da Boa Vista
Suplício, precipício, meretrício
Meia-noite, meio-dia: crioula carruagem,
lodo, lótus, baronesa na correnteza,
verdade nua, língua de prazer
Carnaval de lágrima pintada, sina cigana
Nós dois na cama, Éden hipotecado,
Festa, sorriso emprestado, estrela bailarina
sem fio mágico que se suspeite
Ela dorme agora na memória
Como um fantoche desconexo jogado do alto
Revolução: Rua da Glória?

(10.11.09)


O escritor recifense MOISÉS MONTEIRO DE MELO NETO


REVOLUÇÃO NA RUA DA GLÓRIA)

(A Menina da Rua da Glória)

Recife-rua-revolução-menina
Ilusão latina
Amei-a no carnaval
Noite finda, a vejo agora:
Ela suspira,transpira,vira,revolve
Suspensa, indecisa, tranquila,se dissolve, se comove.
Mapa perdido: Pernambuco
Menina-revolução sem afeto
às margens secas do Capibaribe
no bairro da Boa Vista
Suplício, precipício, meretrício
Meia-noite, meio-dia: crioula carruagem,
lodo, lótus, baronesa na correnteza,
verdade nua, língua de prazer
Carnaval de lágrima pintada, sina cigana
Nós dois na cama, Éden hipotecado,
Festa, sorriso emprestado, estrela bailarina
sem fio mágico que se suspeite
Ela dorme agora na memória
Como um fantoche desconexo jogado do alto
Revolução: Rua da Glória?
(10.11.09)



Intraduzível


A nossa eternidade
aninhada  em meu desejo por ti
raro perfume
frutas cristalizadas nesse querer
vinho tão puro
visão, destino dourado no tom exato
 moldura atemporal
suave pulsar perfumado
flor, ímã, talismã
gotas de janeiro na janela.
Sereia, você me atrai, irresistível melodia.
Navegador, conquistador, me deixo seduzir
e me tens nos teus domínios
sob topázio sol, ressurgem esses teus lábios rubis,
 olhos água-marinha,
sorriso de pérolas, embriagado reencontro em meu anseio
tua pele , consolador veludo
teus cabelos envolventes
tu, atração, para sempre: intraduzível...
(05.01.10)

O resto é mentira!
(Tango final)

É inútil resistir, você não acredita?
Dizer que o amor pagou o preço do meu pranto
Parece inútil a pureza no meu peito
Viveremos de nós mesmos!
E eu... como quem delira
De qualquer jeito
O resto é mentira

Chorei oceanos, vivi no fogo, acordado como quem delira
Agora um novo dia se aproxima
Ai de quem zombar de mim, me trocando
Miserável! Na mais rude pressa!
Por um devasso...

Viveremos de nós mesmos!
E eu... como quem delira
Quaisquer que sejam os meios
O resto é mentira
Meus caprichos não fazem jus ao
Meu coração arrancado
pela raiz
e estas ilusões perdidas...
Não valem orgulhosas cicatrizes
Se mereço risos ou admiração...
Não sei. Não direi mais nada!
Meu coração está feliz, pois é só seu!
Está em chamas
E eu... como quem delira
É inútil resistir
Não posso mais fingir
Dizer que o amor pagou o preço do meu pranto
Pra que guardar a pureza entre os meus peitos?
E eu... como quem delira
Viveremos de nós mesmos!
O resto é... mentira!
(07.11.09)


O escritor recifense MOISÉS MONTEIRO DE MELO NETO




  está você...

Sapateando no leite derramado
Rindo do meu choro abafado
Dançando com o CD arranhado
Não vou adiar esse adeus danado

A casa está uma bagunça, meu bem
E você fazendo essa pose zen
Vou tomar essa atitude, neném
Mala pronta, nem vem que não tem

Nosso lar, circo decadente, mal  estar
A gente nem consegue conversar
Você não liga mais pra mim

Não aguento mais isso assim
Não quero mais despedida
Vou embora, querida.


(04.11.09)

Amantes no Paraíso

A música nos envolve
Dançamos entre as estrelas
A noite toda
Até que o sol, rosa do céu
Tudo ofusque
E intensifique nosso ritmo
Harmônico.
Você me devolve o meu amor.
Não temo mais nenhum malefício
E sua beleza tão viva
É contraste fulgurante para a minha dor.
Hino magnífico, suas palavras
Transformam aço, vidro e concreto
Desta frenética floresta urbana
Em bosque verdejante e florido
Propício ao nosso idílio.
Seu sussurro no meu ouvido
É senha para o paraíso
Recuperado
do meu desmedido querer.
Acima de todas as coisas
Nossa união irradia paz...
(20.03.10)


Sexto sentido


Tão perto dos teus lábios
Quase posso morder tuas palavras
Com meu olfato tão perto do teu aroma
Despertando meu desejo mais e mais
Nos meus olhos está a tua imagem
Guardo-te em todos os sentidos da memória
Está ao alcance da minha mão a tua pele suave
Atiça a minha fantasia a tua voz
Música embriagante em jardim maravilhoso
Queria ser o teu preferido
Mesmo que fosso num sexto sentido
(17.03.10)



O escritor recifense MOISÉS MONTEIRO DE MELO NETO



Pantomima

Concluo um cálice de vinho do porto
 meu apetite  aumenta para  o próximo prato
A tarde avança, o almoço prossegue
Os convidados, os talheres, o pianista.
Na piscina crianças brincam como loucas.
Dois bêbados vendados
Executam estranha dança.
De repente sinto alguém me observar.
Sinto algo atraente no ar
Sou máquina masculina...
De repente, olhos negros, pele branca,
alguém me convida para mais intimidade:
 Qual flor tão viva no jardim esquecida
Lá estava a tal figura.
Nossos olhares... música delicada.
Lá estava alguém a me tentar de novo:
Quereria brincar de ninho comigo
Ou só diversão?
O que fazer?
Saí à francesa.
No outro dia me ligou,
Como descobriu meu telefone?
Mesmo sabendo que eu ainda era
compromissado, mas não muito, me quis.
Algo estranho nos uniu.
Era o início de uma ópera bombástica.
(08.02.10)


MILAGRE DE CARNAVAL


Resplandescentes e rocambolescos
em meio a uma tempestade de frevos
tu mascando tutti-frutti, eu errante navegante:
ser-me-ias fiel?
Te encontrei num clube de máscaras...bem sabia:
eras de outro antes.
Nossas promessas, tu não confessas?
São trôpegas festas  com cenários sobrenaturais
e sinistros brincantes.
Quero me precipitar então nas ondas.
Tu não me segues?
Ressurgiremos transfigurados em ascensão sobre todos.
Que nos importa se tritões e ninfas cantam os prazeres sensuais?
Somos peregrinos ou atores nesta Divina commedia dell´arte?
Nossa poesia construiu castelo em terreno carnavalesco
mas tentamos redefinir o amor puro.
Neste Eden recifense, tudo ferve...
Da madeira morta nascem flores.
Tudo é folia,agora
estamos perdoados.
(13.02.10, publicado no sábado de Zé Pereira)



O escritor recifense MOISÉS MONTEIRO DE MELO NETO



O templo das horas



Na vida a gente não pode
Deixar muita coisa pra depois
Porque depois pode não dar tempo
E o tempo que passou não volta mais

O templo das horas não tem porta
Embora mais um ano esteja para começar 

Aprenda antes que seja tarde
atrás do truque, a verdade
Nosso mundo é o céu inteiro
No momento mais triste
ou no picadeiro

Num piscar de olhos estamos aqui
E noutro não estamos mais
A vida é mesmo assim, é fera demais
Para o novo ontem, o velho amanhã e eterno hoje...
 nunca há mesmo um fim

Sempre haverá mais uma chance
Por isso vamos ao brinde
A isso que se vê de perto-longe
(30.12.10)



NIRVANA


Paro em pleno movimento cósmico
mudo, quieto em meio ao trovejar de pensamentos alheios.
Ferido, petrificado pelo sal, doçura do amor impessoal...
Atemporal retrato imutável do ser na diversidade...
Olho o céu azul
daqui, do mesmo lugar ou dos distantes limites do universo.
Mãos no peito, perdido/ achado, junto ao grande arquiteto, eterno, que é, no foi/ será.
Estou numa curva, arrecife, floresta
... em calmaria, tempestade.
Pés  no chão,cubro-me com o lodo da permanência, no voo.
à margem na complexidade do mundo simples
sem dor, sem esfuziante alegria ...Aqui, qualquer lugar:
Nirvana... agridoce trago. Vértice, vórtice,saboroso travo sem gosto.
 Colmeia, salitre, sobre vermes e cetáceos.
Este corpo ferido, penetrando
 a mais pura entrega ativa.
pelo universo que me atravessa.
(16.02.11)

O escritor recifense MOISÉS MONTEIRO DE MELO NETO



CONHECER A VERDADE

Conhecer a Verdade
Saber da ávida ânsia
negra claridade
Iluminar abismos confusos
menos favorecidos ou profusos

A verdade é conceito vão.
O futuro é sonho que se faz.
Crer ou morrer.. pensar, tolo afã
No erro, na Ilusão/desilusão
Triste/ alegre Canção

Não torço pelo esforço/ Alvoroço
Não descasco máscaras no calabouço
vale tudo dos lúgubres repousos,
céu da divina comédia...
Alma e asas abertas...
(09.02.11)

Ode ao Teatro de Santa Isabel

Tuas paredes abrigam sonhos
Dentro de ti a vida explode com a intensidade de estrelas
No teu palco as ideias se renovam sempre
Ao som da música
No compasso da dança
A cada ato de tantas representações do riso, da dor, da serenidade
Trazes refletida em cada cristal a imagem da audácia humana
Cravado que estás às margens do Capibaribe
És glória de uma cidade que vem através dos anos construindo-se e refazendo-se
És rosa ao vento nas tardes mornas
És abrigo de tantos projetos que resistem às intempéries
És farol do Recife
Na tua nobreza os pobres se equivalem aos ricos
És de todos
E estás aberto como uma flor magnética
A atrair e ensinar
A divertir e educar
Quisera ter versos magníficos que expressassem toda a minha gratidão
Mas sou poeta menor diante do teu esplendor
Mais que sesquicentenário senhor
Já se vão cento e sessenta anos
E pareces tão jovem, tão atual
Queria te abraçar
Mas envolvo-te apenas com esse olhar de quem pede
A Deus por um mundo melhor
Diante do altar
(09.08.10)

Outono
               
Agora o outono recifense...
As folhas caem na memória
Caminhamos por ruas de sonho
Ecoam os nossos passos nesta história
Os crepúsculos vistos das pontes
Rodeiam-nos colorindo o cenário
O verão passado nos trouxe torpor
O futuro nos trará lembranças.
Passeamos de mãos dadas:
Que nos importa o mistério?
O vento salgado do Atlântico nos envolve
E gira a mandala na praça do marco zero
O mundo começa na nossa cidade
O Recife Antigo nos abraça
Ultrapassamos nossos erros
O amor nos deixa à vontade
Lembrança e expectativa a um só tempo...
Fazemo-nos transparentes em nosso encontro.
Quebra-se a ampulheta
A areia dos séculos se liberta.
Sentimos liberdade, novo ciclo se inicia
Lemos nas nuvens vermelhas outonais:
‘Ama e faze o que quiseres’.
A lua enfeita o céu arabesco
Conjugamos, em nova estação,
O mais sublime de todos os verbos: amar.
E é como se uma nova dimensão se abrisse.
(05.04.10)


Epifania

A noite
É de branco luar na estrada deserta
Ímã vermelho, teu calor me atrai
O azul escuro do céu serve de contraste para
Uma verde luz que emana dos teus olhos.
E uma música que dispensa instrumentos
Acalma o mundo, dissolve agonias
Tudo ao redor ganha equilíbrio...
Somos somente nós dois e somos todos os seres.
Assim, envoltos no absoluto, entramos em casa
Ícones sem época, a poesia é o nosso abrigo
Na vertigem do tempo e do espaço
(nossa união reduz o grande Mistério)
Suave, leve, breve, ó musa
distraída
Os acordes do amanhecer
Chegam de onde é quase horizonte
Deitamo-nos
O vento traz o barulho das folhas e dos pássaros.
Adormeceremos em sono
profundo, rodeados de eternidade
Tranquilos no que somos e queremos.
O resto é devir.
O agora se cristaliza num assomo de plenitude
(15.04.10)

O escritor recifense MOISÉS MONTEIRO DE MELO NETO



DESAPARECE O SOL NA MINHA JANELA

Desaparece o sol na nossa janela
De um dia feliz sem mazela
 Azul púrpura alaranjado, repicar de sino
Homem sombreando menino

Ventania cinza de outro lugar
Recife, Boa Vista , cores em profusão
Claro-escuro...Outros lumes,
jomardmunizdebrittianiano escreviver...

Na recifense tarde,
há canto gregoriano ao longe,
talvez na Igreja da Soledade
Em nós acende-se a fome de viver...
(03.12. 09)



O  pedido...


Você traz de volta as estrelas
 em meio a essa tempestade que se anuncia
A lua no céu está encoberta
O que fazer sem você?
Preciso me alimentar do seu doce perfume
Não quero mais fugir
Essa casa parece tão perfeita...
Então por que esta desconfiança?
Pra que tanta incerteza?
Entregue-se, como eu fiz.
Sinta minha pele ardendo por você...
Meus ouvidos amorosos por lhe ouvir
meus lábios sedentos e obedientes.
Meu coração...eu já nem sei se é só meu...
Resta-nos o abraço abençoado
Uma noite inteira bem juntinhos
Enquanto a chuva castiga a janela, fortemente...
Os bombons que eu trouxe, o anel de ouro, as flores
Foi porque lhe quero muito.
E lhe prometo amor eterno
Hoje e por todos os amanhãs!
Case comigo.
(09.04.10)



Chove


Recife, vestida de céu cinzento, chove tanto
Cinco horas da manhã...
tento  ser meu próprio sol.
Silêncio entre nós dois, nada pode nos fazer Um
Entre a indiferença e o intransitivo prazer de existir
não há fantasmas nem fantasias na nossa manhã
só nuvens e vento
o  dia entra  no apartamento
Agora a neblina esconde o horizonte
Trovões acompanham a marcha dos que inventam a cidade lá fora
Eu vigio o seu sono...
(20.05.10)

O escritor recifense MOISÉS MONTEIRO DE MELO NETO



Nossa música

Cá estamos
Como as cordas de um violão
Que tocam música
Mas não se tocam
Separadas estão
Em sucinta harmonia
Cósmico palpitar
Lada a lado: aço a cintilar.
Quem me dera algum dia
Fosse outra a sorte
Desse mágico querer
E como trança juntos ficássemos
Próximos até não mais poder
Na eternidade dos segundos
Como nuvens
Sedentas de outros mundos
(01.05.10)


Casa na montanha


Enquanto arrumo a bagagem
há lá fora o vaivém
de uma esquina perigosa
uma sede de surpresa.
Os conspiradores de pijamas observam
os que andam à noite nas ruas
e negociam beijos, carinhos.
Viajo para o campo
A natureza só pode amar a ela mesma
a gente tem que se ajudar.
A roseira que você plantou
floriu.
Nossa casinha na montanha
precisa de pintura
fustigada que foi
pela esperança descontrolada
trazida por vento, sol e chuva.
Aqui estou.
Talvez eu não lhe ame o bastante
mas insisto no verso sobre você
e nele guardo nosso amor:
vigiado, trancado
tão grande- uma prece.
Matriz que se basta...
(02.06.10)

O escritor recifense MOISÉS MONTEIRO DE MELO NETO


Sem resposta


Como Orfeu
não devo voltar-me para o que amo
sob pena de o destruir.
Detenho assim minha pergunta...
minha vontade de te ver
de ir ao teu encontro
no momento em que poderias
injustamente
transformar o mistério do amor
em simples resposta...
Assim
entre a superfície e a profundeza
avanço
em solo movediço
sabendo que me segues
e que não nos cabe
nem o Hades nem o Eden.
Resta-nos
Nosso amor em trânsito
nosso amor ...passagem...
sem resposta.
(14.06.10)


Você persiste

O mar repete um aviso
agora és ilha, homem.
Os grãos do amor sopram na praia
o dia passa no relógio
como música por acaso num rádio ao longe
ou flor oculta pela ramagem variada
amor ausência
flor sem haste
lembrança dos teus abraços
hoje braços distantes
lembrança persistente
(28.04. 10)






Tempo e separação

Agora abro nossa caixa de segredos
descubro e exponho nossos medos
atravesso nossos espelhos brilhantes
entro no teu país, como nunca antes
lá estão as cinzas do nosso amor
brasas adormecidas
apaixonadas.
Continuamos no carinho do tempo
na intensidade das lembranças mais ternas
driblando o esquecimento
até quando nossos destinos
parecem se separar
com zelo voltamos a nos amar
como se amor fosse a  arte de tecer
abrigos e prisões do
inexplicável querer.
(03.03. 2010)


A outra

Fecho os olhos e te chamo
Luzes dentro de mim te iluminam
Meu coração, templo, floresta
Onde nossas vozes se misturam
Em claridade e noite
Perigosas seguranças
Dos que nada pedem
Eternidade
Volúpia
Não és nem sou, é tão bom...
Nos beijamos como anjos
Em infinito mar de carinho
Me acordas por dentro
Cheiro forte de lírios
Abro os olhos
E vejo a outra
Que me chama
Mas a vida real é apenas sonho.
Só tu és verdade pura!
(28.05.10)







Depois das cinzas, não finjas

Maturidade foi a lição que não aprendeste
(ou esqueceste?)
Na urgência do mundo não me sinto estimulado
Preciso de algo mais esperançoso
que o teu timbre enjoado
com lânguidas promessas de paraíso
estou pronto: para acabar com isso?
Das tuas armações, eu não preciso
Do teu mundo bizarro, do teu cigarro...
Do fantasma do nosso compromisso.
Em segredo meu desejo também se apaga
Co o lembrança de carnaval, ideia vaga
Se não há cura para o amor
Vamos checar, por favor, não leve a mal
O que resta depois de sopradas as cinzas
(espero que não finjas)
Do amor para um
Ultrassentimental?
(18.02.2010)


O escritor recifense MOISÉS MONTEIRO DE MELO NETO


Carnaval

Lá está o Pierrô
Na festa:
De si mesmo ator
Entre o Galo da Madrugada
E o Bacalhau do Batata
Lágrima de perfume evapora
Ele esquece a dor
Entre tambores silenciosos
N o Marco Zero da existência
Longe do amor tão perto
Na multidão
Errante no seu carnavalesco deserto
Suportando tanto Arlequim-Mateus
Haverá mesmo um fim? Sabe deus
Recife explode
Ele tange seu alaúde
No calor, na vertigem, tanta folia...
Alucinação de três dias
Ele desliza manso
Mais um bobo entre lobos?
Ele retribui sorrisos
Faz do riso o siso
Em seu preto e branco
Impreciso
(05.03.11)

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