Negritude e literatura na América Latina
ESTUDO do PROF. DR. MOISÉS MONTEIRO DE MELO NETO
UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO (UPE)
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE ALAGOAS (UNEAL)
- Orelhas: “[...] A literatura negra no Brasil
enfrenta problemas de qualidade [...] cabe a literatura negra indicar seu
espaço”
14 –
Conceitos ultrapassados.
153/6 – Grifei
autores centrais: teoria / obras
17 – A
questão de Domínio Proença Filho (não só o autor negro...) em lato (sentido) sensu, isto é: em sentido
amplo.
20 –
Negro não está confinado ao folclore (CÂNDIDO, “formação da literatura
brasileira”).
21 –
Literatura negra é feita pelas de “estratos-sócio-econômicos mais baixos”. Trabalhar este capítulo de Bernd com
prefácio
Cap. II “Negritude: Palavra Imperfeita para um concreto
ambíguo (44)
p.
25 gestação da “negritude”:
contexto histórico. “Trágica história do
homem que não pode ser ele mesmo”.
26 –
“Esteira negritudinista”. Negritudes (no
plural) dif. acepções.
27 –
“Negro civilizado”.
O
“ser-no-mundo-do-negro” (Sartre)
“Subjetividade
negra” (define Aurélio, 1975). 1ª vez/registra.
3) –
Contra a vinculação entre raça e cultura.
32 –
“Enfrentamento epidérmico”
negritude racista negritude
(ideologia).
32 – “A
negritude fracassou”, prisioneira da mística da raça. (opressão, independente
da raça, deve ser combatida, sugere MARX; ideologia porque oculta a dominação real (de
outras realidades).
33 –
Negro que quer só igualdade com o branco,
quer igual direito de ser explorado
pelo capitalismo!
Negritude como antiprograma da branquidade – conceito
de raça = concreto e particular já
conceito de classe = abstrato e universal.
34 – Deve
haver, podemos buscar uma “identidade pan-humana” (independente de preferências
sexuais, raça, região/nação) (assim haver fraternidade universal)? Ou este universalismo reduz o outro (!) ao silêncio?
O mundo
negro da diáspora.
35 – Não
aceitar negritude como especificidades inatas, sob o risco de
fugir à luta mais ampla? (Há tecido
poético negro que difere do
mundo dos brancos ...?!).
35 –
Denominadores comuns não se enraízam na
noção de raça... mas na partilha de determinada
situação histórica, reivindicações
de valores próprios (negritude no sentido lato) exercício de
consciência de classe, discurso contra qualquer tipo de opressão (conceitos
de raças e classe não são excludentes), podem coexistir: combate político.
36 – O
quilombo representa a luta de classes: é Insurreição, matriz primeira da negritude contra o
“estupro cultural cometido pelos brancos” (p. 37). O “proletariado negro”.
37 –
Indícios de alterações nas relações de dominação: direito à diferença .
38 – Furar o bloqueio que existe, abrir
espaço. NEGRÍCIA (para negritude,
variante criada por SENGHOR. Léopold Sédar Senghor. 1906- 2001, político e escritor
senegalês; presidente do Senegal de 1960 a 1980, entre as duas guerras
mundiais, junto com Aimé Césaire, ideólogo concreto do conceito de negritude)
39 –
Negritude não é movimento estanque ocorre
em diferentes culturas; é migratório e não sincrônico.
38 – Otávio Paz: compreensão do outro ser o outro sem deixar de sermos nós mesmos
(é ideal contraditório!). relações interculturais: identidade e alteridade.
39 – Cor
da pele não é suficiente para compor
a identidade (o que seria
cientificamente falso).
Identidade:
visão que temos de nós mesmos (acrescida de da visão que os outros têm de nós)
= tensão do olhar a nós próprios do outro ou do outro a si mesmo (visão
complementar).
40 – O
olhar sobre si mesmo não é reproduzido
por um espelho, é posição com
papéis definidos (?)
Identidade
perseguida por grupos negros é espaço
multidimensional (cidadania negra
é uma das dimensões).
Resposta política a uma conjuntura.
Negro: memória coletiva ritual x memória nacional ideologia.
42 –
Destruir sistemas que o negaram durante
séculos e curar-se da amnésia cultural.
42 –
Brasil na linguagem universal da negritude.
42- epidérmica (peles) ou reflexiva (reconhecer-separa
ser)
43- não excluir branco; somar: o aqui e o agora: contra o
domínio do futuro
(Não
analisei parte 3)
74 –
Literatura marginal ou contraliteratura.
Corpus: literatura negra
76 – Textos literatura dois planos (?)
1:
tradição
2:
contradição (morais: contraliteraura)
78 –
Domício Proença Filho a “substituidade sentimental” fez da literatura negra (br) até a 2ª metade dos 80, algo sem “profundidade”, parece
“queixa ou panfleto” (grito
legítimo). “Libelo contra preconceito e discriminação” -Cruz e Souza? solano?
Luiz Gamo? (geradora, também, de
estereótipos) (78)
Crítica
ainda não havia definido conceitualmente seu objetivo, até 1987, nem o
fizeram sem produtores negros.
Movediço
terreno: estes terrenos (termos?) em fase de construção; hesitante terminologia.
79 –
(Não há no Brasil “Literatura
Preta”, o termo).
Sobre
autores que tratam lit. negra (BR).
80 –
Literatura negra = estilo, léxico,
temática etc. (não só raízes afro-”negra” é termo menos limitador);
81 –
Poesia negra - sentimentos profundos dos
negros; questionamento; nova história;
revisão da palavra “negro”;
resistência; ruptura e descontrução.
Autores
da Poesia/lit. negra: podem ser brancos?
Dever ter a função de: conscientizar a
negritude, vencer o silêncio
imposto, interferir na realidade; ser porta-voz de uma raça. A voz dos que não têm voz. Ato político – social “militância ativa da palavra” (82).
Autores
aspiram a serem lidos (82).
Alguns
autores negros questionam a legitimidade da ABL (p. 82) mas faltam com o fluxo literário “oficial (em nado nas
escolas).
83 –
Lit. negra não pode esquecer polifonia
(compondo com 2 anos mais vozes ou Bakhtin?).
Imprensa
negra de SP /
1ª fase 1915-23;
2ª fase 1924-37;
Regeneramento
de raça pelo aprimoramento cultural
3ª fase 1945-63.
(Aumento
cultural luta de classes).
83-85 –
Frente negra brasileira (1931-1937)
“temp. tentativa” (Roger Bastide) recusa do negro de “ficar no seu lugar”; imagem
do “novo negro”).
85 –
1978: Mov. Negro; unificado (MNU)
86 –
1944 (SP) teatro experimental negro (imprensa
e teatro: Solano Trindade) (teatro
atinge camada de baixa renda, às vezes analfabetas).
87 –
Solano: sentimento da pertença ao solo
americano (marxista) “ser negro é uma forma de ser americano).
88 –
Rejeitam o estigma de “condenados da terra.
Solano – Nicolas Guillén (Diáspora) “navio
negreiro: cheinho de inteligência/resistência “sem se perder na angústia” ou “pura lamentação”,
mas crítico e afirmativo (discurso trindadiano).
“Só negros
[...] em luta pela liberdade são meus irmãos.
Todas as
raças contra o fascismo.
91
– Solano Trindade – transtextualidade da poesia negra. Ele é exponencial (nas 3 Américas).
91-97 –
Poesia antiépica (os vencidos como heróis), outro livro de Solano: “Seis tempos
de poesia” (1958) poema “canto
aos Palmares” TMB incluído em “Cantares
ao meu povo” (1961).
Ler
trecho (p. 92).
“Contra
todas as tiranias” (p. 93) nega conceito vigente de “civilização” (93) mundo dos opressores (no universo
carnavalizado do poema). [...]
onde não se dorme [...]
cantam marchas de sangue [...] convocam
forças para a guerra [...]
sadismo e morte” (em oposição a
Palmares). (94).
94 – Edouard Glissant, poema Les
Indes (1955: Les Indes
Galantes é uma ópera de Jean-Philippe Rameau com libreto de Louis Fuzelier.
Assume a forma de um opéra-ballet com um prólogo e quatro entradas. Seguindo um
prólogo alegórico, as quatro entradas têm tramas distintas e separadas, mas são
unificadas pelo tema do amor em lugares exóticos) uma ”epopeia
obscura”.
95 – Solano, Césaire e Glissant: signos podem ser postos em
movimento (o entusiasmo marxista nos anos 60
estava nos eu ápice).
96 –
Analisar “Os tambores de São Luiz”, de
Josué Montello – personagem Damião).
97 –
Oswaldo de Camargo (autor mais prolífero
do movimento do hibridismo cultural branco x cultura negra). Muito publicado (anos 80, ainda) – p. 98
(poema “ESCOLHA”).
(entre o
desejo e o termos do autoconhecimento)
101 – “Passei
num tempo em que fui eu [...]”
102 –
Oswaldo, ao contrário de Solano, duvida até da força do poema como libertador.
Apropriação torturada dos 2 universos: branco
x negro: angústia em 2 sistemas culturais diferentes.
103 – seu grito era “sem cor” (Dilaceramento, p. 104).
104 –
Eduardo de Oliveira (“Túnica de Ébano”). (também dilacerado pelos ser branco x negro).
Poema
“Banzo” (dia x noite) (simbolização estereotipada, p. 108).
107 –
Eduardo de Oliveira, da sua geração, é o
que mais empregou a palavra negritude (no título da sua
antologia (GESTAS LÍRICAS DA
NEGRITUDE). (gesta: canção que lembra grandes feitos).
110 –
Crença / desejo de Eduardo Oliveira (SP.): “que sejamos todos iguais”; Mosaico com fragmentos
diversos. Tom didático / Evangelizador – (Negritude ou “negrícia) usa no
prefácio às “gestação didático / Evangelizador – busca dimensões: nacionais: americanidade...
Irmãos
dos 5 continentes – “Ciranda dos povos”.
Em
anunciados representando totalidade do “nós” o negativo e a revalorização da
raça na lit. negro-brasileira (1987, Zilá Bernd).
111 – E.
Oliviera : 7 livros (1958-80) ao lado de Oswaldo de Camargo – vertente tópica
dos anos 60 alicerçada no catolicismo
Importante
é negro e sua condição de migrante
cultural (rejeição no ambiente sócio-cultural
de acolhida).
África
– referência mística (para superar a perda da unidade original).
“Denúncia
da a-historicidade do seu povo”.
Dá refazer através dos muitos: história do ponto de vista negro, refazer mitos,
lendas.
Domício
Proença Filho (84 anos em 2019, professor
e pesquisador em língua portuguesa e literatura brasileira. É doutor em letras
e livre-docente em literatura brasileira pela Universidade Federal de Santa
Catarina) autor do livro (p.112) “– Dionísio Esfacelado, Quilombo dos Palmares)
(livro que o introduz na poesia negra
brasileira).
Liberação
dionisíaca (materializante ou espiritualizante?).
113 – A
condição apolínea (domesticação) é substituída por dionisíaca (libertação,
pensamento mágico).
113 –
Invocar Dionísio para voltar aos momentos Primordiais e daí: vida nos
quilombos, culto aos orixás: CAM, filho maldito de Noé que dá origem aos norte-africanos (nomeou
diversos povos que vieram para novo mundo
(camuflando heterogeneidade étnica dos escravos.
113 –
Comunhão cultural / orgulho de pertença
(espécie de vingança de caliban)
114 – Palmares como a Troia negra (Domício no seu livro): epicidade como resposta.
Intenção de preencher vazios da história.
115 – ILUAIÊ = tema da vida, opressão
superada.
Palmares
= por mais de 60 anos - negros
organizaram um Estado de esperança. Liberdade verde – Equidistante do céu
azul – vermelho inferno.
116 –
Epopeia de Palmares (oxissi – matas (verde). Domício, no seu livro Obs.:
Lembrar Revolta dos afaiates na Bahia (1835) – história recusa como
negra.
117 –
“Cortai os fios da nossa vida morta, ó
“meus irmãos mutilados”.
Dionísio gerado
na mãe mental, gestação acabada
coxa do pai Divino Zeus, ambivalência. (Domício, no seu livro)
Obs.:
Cruz e Sousa = valores euopeus o fazem sentir-se emparedado na condição
da africano,como Domício, mas este
tempo pobre encontrar.
118 –
Uso em Domício da palavra -símbolo voo
como em Oswaldo de Carvalho, substituição
irreal da ação que se quer , mas não se
realiza.
118 –
“Sonho” (palavra recorrente nesta poesia), não
como devaneio, mas como desejo, aspiração dominante.
Serra da
Barriga (onde se construiu o Quilombo
dos Palmares Cidade do Sonho Negro): “O
Grande voo dos reis” (Palmares: selva
como espaço de sonho livre).
118 – No
âmbito lexical, áreas semânticas de dor,
sofrimento dos escravos, orgulho,
enaltecimento da herança cultural africana.
118 – Emprego do elenco temático
ligado ao resgate de memória coletiva.
Uso da
modalidade de nominação originada do
desejo de re-nomear o mundo a partir da ótica negra.
Recorrência
da cor verde como símbolo do renascer.
Luís Silva (conhecido
como “Cuti”): 1978-Poemas da Carapinha,
inaugura fase da poesia negra BR: descrença
em ideologias salvadoras (Marxismo que sustentou Solano, Oswaldo de Camargo e Eduardo de Oliveira.
119 –
Cuti: Luis Silva, sob o signo de Exu;
e os poetas da geração 80 desesperança em ideologias. Entrou na cólera (afirma Marilene Chauí em “O que é
ideologia?”. São Paulo: Brasiliense,
1984).
Poesia
ainda arma de combate contra discriminação que
exila o poeta dentro de si mesmo, soprar, quebrar, romper, derrubar,
varrer, incendiar, eletrizar, redimir.
(ler poema “Batuque
na tocaia”) p. 119.
Desestabilizar
“as verdades” portadoras de estereótipos
que se coagulam como valores universais.
“Há me
esperança de tocaia na fuga”.
(Armas
usadas contra os negros se viram contra
repressor) – armas = justiça e,
ao mesmo tempo, opressão (simbologia
ambígua).
Poesia
de Cuti (Luis Silva): Subversora e
revolucionária. Confrontação.
121 – Há
múltiplas ocorrências do vocábulo sangue
(de tocaia estão o batuque e o poeta, à
espreita).
Violência
de linguagem Cuti é recusa a situação de exclusão, marginalidade e aí vem esta reivindicação
de identidade, no poema como
grito de fera ferida.
122 –
Aparentemente ameaçador este discurso poético (de Cuti) encerra um apelo de
reversão desta situação.
Pixaim,
nariz de abas largas, pele negra “ferro [...]
marca [...] alisa a vergonha nos cabelos (...) precisa é jogar fora (...) elos desta
corrente de desesperos” (do poema Batuque)
(ler poema “Ao amigo branco”, p. 122, de Cuti, Luis Silva, 1978). Imagem do branco
aparece negativa; reiteração ironia da
pal. “branco”.
123 –
Discussão sobre etnocentrismo (Bernd apela para Levi-Strauss)
124 – O
“esfalelamento de um povo” “epidermização praticada por Cuti” pode cair na “imutabilidade tautológica de uma natureza idêntica a si mesma” (analisar no livro dela)
Ler poema de Donaldo Schüller: “d. Martim Fera” (paródia ao
revolucionário personagem martim
Fierro).
124 –
Ver esquema que Bernd respete , muito bom, ao fim de análise de cada autor.
Afro-Gaúcho
Oliveira Silveira (1941).
p. 125 – Identidade
Negra e indígena gaúcha (regionalismo é menos expressivo
ou inexistente nos outros autores negros que vimos).
Tempo: suicídio, banzo, aquilombamento, fuga, “não -contribuição” do negro, mas a
“participação na formação da sociedade rio-grandense, junto ao
negro peão (edição de 1974)
126 – Guasca
bagal (poema da “Décima do negro peão”. Exalta a participação do negro
na Guerra do Paraguai (dezembro de
1864 a março de 1870). (eu acho que o afro foi massa de manobra, Moisés). “Ogum comendo churrasco” (!) (“Sincretismo entre a
tradição gauchesca e africana, diz Bernd): “índice de desdobramento que pode ocorrer no nível do resgate identitário”.
Oliveira
diz (verso): “um jeito gaúcho / do negro /
batuque” (do livro Pêlo negro)
Negritude e vingança se associam em palavras “ponteagudas”: eu lírico está presente explicitamente no
poema; “revolta” e “protesto” nucleiam
as áreas semânticas; procura
das origens, desejo de união com negros das Américas; recusa em
testemunhar uma própria destruição
como sujeito.
129 – Tantã
(espécie de atabaque, instrumento musical de percussão criado por Sereno,
sambista carioca, nos anos 1970) como
símbolo (raízes); crítica e afirmação
como modalidades; “sinergismo” contra forças devoradoras da assimilação.
129 –
Duas publicações importantes para o movimento negro: Cadernos negros (contos e
poemas) antologia anual (1978-87 RJ-SC); aqui havia poucas associações com a
outra publicação: o Quilombhoje, poemas
(fundado por Cuti em 78) em 1985, o nº 8,
publicação financiada pelos autores. Oliveira Silveira e Paulo Colina
contribuíram só nos 1ºs cadernos negros, depois optarem pelo individual.
Sobre os Cadernos
negros: Zilá Bernd diz que têm importância mais social e
cultural do que propriamente artística” [..]” tom do panfleto. Ou força a
linguagem poética [...] repetitiva e redundante” (respetem “modelos
petrificados”, em vez de “vigorosos” a produzir “textos
enfraquecidos” não colocando a posição
primeira da poesia que é “colocar a
linguagem como um todo em novas bases (afirma Donaldo Schuller em A Palavra Imperfeita. Petrópolis: Vozes,
1979, p. 130); reduzindo a poesia à naração do martírio do povo negro (discordo).
130 – Grilhões
teimam em ferir o futuro, rasguemos
estas histórias, sem
esquecê-las, dizem José Carlos Limeira e Éle Semog (Luiz Carlos Amaral Gomes, pseudônimo Ele Semog, nasceu em Nova
Iguaçu, Rio de Janeiro, em 1952. É formado em Análise de Sistemas, com
especialização em Administração de Empresas pela PUC do Rio de Janeiro. No
contexto de efervescência cultural e política que propiciou o ressurgimento do
movimento negro a partir de fins da década de 1970, participou dos grupos
“Garra Suburbana” e “Bate-Boca”, voltados para o estudo e a produção da poesia
afrodescendente. Em 1977, integra as antologias Incidente normal e Ebulição
da escrivatura, esta última publicada pela Editora Civilização Brasileira.
Em 1978, lança o volume de poemas O arco-íris negro, em co-autoria
com José Carlos Limeira. A parceria se repete no ano seguinte, com a publicação
de Atabaques, livro onde se mantém o discurso de afirmação
identitária e de denúncia da desigualdade social. Em 1984, fundou o grupo
Negrícia – Poesia e Arte de Criolo. Ativista e agitador cultural, coordenou
o segundo e o terceiro Encontro de Poetas e Ficcionistas Negros Brasileiros.
Coordenou também o setor de literatura do projeto “90 anos de Abolição da
Escravatura”, com sede no museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro. Em 1980,
recebeu da União de Escritores Brasileiros, moção especial do Prêmio Fernando
Chinaglia.), em Ataques
(o “eu” e o “nós”, esquema pronominal privilegiado
na literatura negra; (contramodelo de
branco). Viga-mestra do discurso
poético negro: de “sujeitado” a “sujeito” (autorizado a
gerir suas relações com as determinações externas.
131 – Felix Guattari e Giles Deleuze:
“território é conjunto dos projetos e representações de um grupo” (Guattari, F.
& Deleuze, Kafka: por uma literatura
menor. Rio de Janeiro: Imago, 1977).
131 –
Literatura como reconquista da África (como os quilombos foram) “Quilombo de
hoje [...] igual aos [...] do passado”, escreve Carlos de Assumpção (Cadernos Negros 7), SP, Ed. dos Autores, 1984, p. 18).
Algum
poetas dos Cadernos Negros trocavam
seus nomes por nomes de origem afro, como protesto (131).
132 – Cadernos negros “corpo estranho
na literatura brasileira”, diz
Bernd, “Pequeno número de leitores, sem editora, mas o grupo rompe barreiras
acadêmicas e interesses editoriais, faz da literatura um bem de todos!
132 –
Não há “um”(único) “discurso poético
negro”, cada texto é portador de
estratégias específicas, o que há são
“constantes discursivas” que podem
conferir unidade” aos textos.
Por exemplo:
A)
Existência fora da legitimidade contemplada
pelo campo literário (cânone) estatuído.
B)
P. 133 Emergência do eu enunciador
C)
P.134 de uma cosmogonia (corpo
de doutrinas, princípios que se ocupa em explicar a origem, o princípio do
universo).
D)
P.135
Ordenação de uma nova ordem
simbólica
E)
P.136 Reversão dos valores e avaliação do outro
F)
P.138 Tendência à teorização no paratexto
(prefácios, epígrafes, notas prévias,
apresentações).
A)
Negro à margem do mercado dos bens simbólicos
B)
Assimilação do outro e anulação da sua
alteridade (negros e índios exilados no interior da sociedade que não os
convocou ao diálogo, não os reconhecendo
como sujeitos portadores de uma cultura. Através do
(negro) no texto literário dá-se
a transmutação de objetos para sujeitos. O eu-nós na caracterização da poesia
negra.
134 –
Leitor é convidado a aderir ao projeto de escritura do enunciados.
134 – Linguagem
poética configurando-se como uma encenação, apelo à capacidade interpretativa do leitor.
134 – C) Construção de uma cosmogonia: desde
os navios negreiros à pós-abolição,
passe por Ganga zumba e seu filho
zumbi: os escravos heróis. Rememora-se o passado coletivo pelo fazer
poético, panteão dos orixás. Sonoridade
dos rituais nos poemas (ritmo).
135 – D) Nova ordem simbólica.
Pelo o
mundo às avessas (carnavalização termos como senzala viram termos “positivos” da “assentamento” ao novo
discurso, reencontro com as origens, símbolo de uma ordem social injusta).
Casa-grande
/ quilombo (em vez de senzala) liberdade /
esperança.
Instrumentos
musicais como o tantã = chamamento à
conscientização.
Ébano = a madeira negra de grande resistência.
Ressemantização
do esquema cromático = negro é belo.
136 –
Carvão contém em si a
brasa.
Branco =
vazio, silêncio, nada vermelho =
lava, vulcão (represado, explode) verde da “selva de Alagoas” (136).
E) Reversão dos valores e avaliação do outro “fio principal” com que é
“tecida” a poesia negra: tornar positivo o que era negativo.
137 – De
“observado” negro torna-se observador, no jogo de olhares recíprocos (afirmação
da diferença). Branco aparece na terceira pessoa do discurso.
137 – O
discurso da diferença é um discurso difícil
(Todorov, Tzvetan. A conquista da América. A questão do outro. SP:
Martin Fontes, 1983) pode surgir estereótipo reforçado.
138 – F)
Como escreveu Genette, Gerard (livro: “Palimpsestos” (Paris: SEVIL, 1983): a
ação sobre o leitor – o PACTO,
engajamento do autor.
Literatura
como lugar de convocação à re-existência
(do negro).
Axé! (=
força vital tem a qual os seres não podem existir nem se transformam, na cosmogonia nagô.
139 – Guattari ao falar das “minorias”
(homossexuais, por ex.) abandona o tema
“identidade cultural”, opta por “processos de singularização”. O conceito
de identidade é dinâmico, processual, não pode se paralisar e
principalmente: entrelaça problemáticas.
Ex.: a negritude e o devir homossexual.
Identidade
não é específica, não é um alvo: é
travessia, movimento contínuo de desconstrução dos espaços que se
opacificaram devido a sucessivos
processos de apropriação e controle do
outro; quando o que se precisa são
espaços transparentes com novos modos de relação com o outro, resgatando
vazios existenciais.
140 – De
Luiz Gama (1886) aos Cadernos negros (1986)
o ser coletivo resgatado quer livrar o sujeito dominado da sua impotência, tornando-o ativo na luta.
141 – Poeta como Bricoleur
(com materiais fragmentários fabricar algo
novo),– O que há ponto de ancoragem é
a superposição de diferentes
buscas de identidade.
141 –
Contra identidade que seja
atribuída, que seja estereótipo (piedade,
horror, lembranças traumáticas até então reprimidas)
Contra
o “cordão de isolamento” que a sociedade impõe
a determinados grupos (como
os homossexuais e os negros).
142 – A poesia–martírio?
O emparedamento (Cruz e Souza) a crise
se transformando em temática obsessional. Tensão entre cultura europeia e africana produzindo
identidade parcelar ou dividida (dualismo
cultural).
143 –
América Latina de cultura Autoctone (natural
do país no qual habita) ou Alóctone
(que ou aquele que não é
originário do país onde habita.).
Anticânone?
Evolução da literatura negra na literatura ‘oficial’ brasileira: não podemos
esquecer a luta para isso. De uma
instância marginal à valorização
(como foi o jazz, nos EUA), em caráter
assimilacionista, o que traz vantagens e desvantagens.
146 – A
retirada das máscaras brancas heterossexuais esta pulsão é irrepreensível.
147– Memória e futuro não como um universo alheio, mas
nosso (os dois corpi).
Transtextualidade (aqui definida como a
"transcendência textual do texto". Segundo Gérard Genette, a
transtextualidade é "tudo o que define o texto em relação, seja óbvio ou
oculto, com outros textos" e "abrange todos os aspectos de um texto
em particular) entre os dois corpi: memória e futuro. Do ser
reprimido ao ser liberado e autêntico: a literatura negra haure, retira (algo) de dentro de onde estava,
pondo-o para fora; extrai, colhe sua força e importância com a reterritorialização.
147-148 – “não há um universal ocupando todo o espaço, e um
particular na periferia, mas uma maneira particular a cada um de ser universal”
(GUATTARI, Felix & ROLNICK, Sueli. Cartografias do desejo. Petrópolis:
Vozes, 1986)
148- Não exatamente pele negra, máscara africana, isso não
traria reconhecimento integral
149- ver flora Sussekind: “Representação do negro no
Teatro” (como metáfora de Arlequin, fornecido por uma história e ficção brancas
[...] na fala do senhor o negro construiu seu autoconceito”, “travestimento”, máscara
branca colada ao rosto negro.
149 –
Autor negro: alguns conceitos tomados de empréstimos aos escritores brancos. Devorar a imagem de Arlequim, moldar seu próprio ser. Pois Arlequim não
consegue individualizar-se, ele é o inconsciente, o indeterminado, “jogo de damas”, confusão de desejos, dos projetos e dos
possíveis. (Chevalier e Ghueerbrant. Dicionário dos símbolos. Paris: Seghers,
1973).
149 – A
literatura absorve a representação de seus contraditores, as digere,
transformando tabu (proibição,
censura, perigo e impureza de determinadas atividades sociais) em
totem (símbolo sagrado adotado
como emblema por tribos ou clãs por considerarem como seus ancestrais e
protetores).
Nem sempre
a poesia negra adotou, nos primórdios, a iconoclastia modernista, mas
reinterpretou as relações com outras culturas. Próspero e Calibã,
revertendo perspectiva dominante, sob o
ponto de vista do nosso continente.
150 –
Processo: ruptura permanente dos equilíbrios estabelecidos. “Ser si mesmo é condenar-se à mutilação: o homem
é apetite perpétuo de ser outro”. (Paz, Otávio. O arco e a lira. RJ: Nova Fronteira, 1977).
150 –
Em poesia negra o enunciado é quase
sempre coletivo (mesmo no “eu”); é ação
política, resistência cultural.
Não é
preciso ser negro para fazer poesia negra, mas é preciso, no entanto, situar-se como
negro, ter intenção negra. Negritude é um discurso polifônico.
BERND, Zilá. Negritude e literatura na América. Porto Alegre:
Mercado Aberto, 1987.
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