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terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

LITERATURA AFRICANA: pesquisa realizada por aluno do Professor Moisés Monteiro de Melo Neto




Agualusa, Pepetela e Mia Couto, três dos maiores nomes da Literatura da África, são brancos, enquanto isso a pergunta preconceituosa ou combativa ecoa:  como falar da literatura africana tendo como ícones três senhores que não são negros? Seria a cor da pele o tema central da literatura africana? Há ainda o caso de Valter Hugo mãe, que nascido em Angola, naturalizou-se português e o de Ondjaki, que merecem menção.
Para contornar essa dimensão continental nosso foco inicial fica sobre a literatura africana de expressão portuguesa, obviamente, tem suas bases  ainda no século XV, quando os portugueses (cronistas, viajantes em geral, poetas, historiadores, geógrafos,homens da ciências etc.) chegaram na África (por exemplo: Camões, Fernão Mendes Pinto, Damião de Góis, Garcia de Orta, Gomes Eanes de Zurara, João de Barros, Diogo de Couto,Duarte Pacheco Pereira), que trataram o continente como cheio de bárbaros reinos. Mas isto ainda é literatura feita “pelos portugueses”, na sua saga além-mar (mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal?), a chamada “literatura dos descobrimentos”, não é? E contextualiza no passado fatos, cultura, política durante a  colonização em África. Viria, séculos  depois, o que seria rotulada como “nova literatura”, ou “literatura colonial” (!), a do período entre 1900-1939, que teria outro perfil que a diferiria da literatura dos descobrimentos  baseada nos relatos dos estrangeiros  narrava fatos de então; já a literatura colonial , mas mesmo aí o que se percebe é o eurocentrismo num texto ideologicamente  racista, desenvolvendo ideias de inferioridade em relação ao negro, retratado como descendente e praticante de uma mentalidade pré-lógica. O Orientalismo de Said poderia ser aplicado aí, são seres e locais exóticos, onde a paisagem embriagante é apenas pano de fundo que os protagonistas, brancos, justifiquem a “natural”exploração que Marx retratou tão bem na sua obra. Por este e outros motivos é bom que se esclareça logo que qualquer preconceito, seja religioso, sexual, econômico, cultural ou qualquer que seja, deve ser combatido por uma literatura que se queira engajada com a causa da liberdade e felicidade do home e não apenas sua “sobrevivência”; ma também há, neste período, escritores como João de Lemos, autor de Almas Negras) ou José Osório de Oliveira, que escreveuRoteiro de África”, que se preocuparam refletir mais seriamente sobre o negro, sua cultura e seu lugar no mundo, de modo menos injusto do que o praticado pela famigerada “ literatura colonial”.
Com o crescimento da rede privada de escolas e das escolas públicas, surge, aos poucos, a tão sonhada liberdade de expressão, a imprensa ganha fôlego, que vão proporcionar também uma espécie de “nova literatura”, mas ainda presa ao colonialismo maldito, ainda nos parâmetros da literatura africana de expressão portuguesa. Em Angola, temos a publicação do livro Espontaneidade da minha alma (1949) , de José da Silva Maia Ferreira, 1º livro impresso na assim chamada  África lusófona, mas não a mais antiga obra do autor africano. Antes teríamos o poema de Antónia Gertrudes Pusish, cabo-verdiana, chamado Elegia à memória das infelizes vítimas assassinadas por Francisco Matos Lobo (impresso em Lisboa, 1949). A africanidade afirmava-se no meio intelectual de maneira forte e combativa em meio  ao domínio  europeu, eis a “Literatura Neoafricana”, escrita em línguas europeias, mas não devemos jamais desprezar  a literatura oral em língua africana. Na poesia, a literatura africana resiste ao simples exotismo e recupera narrativas tradicionais, muitas vezes usa ritmos das culturas populares.
Os personagens centrais, não são mais o homem europeu, incensando ainda mais  a visão eurocêntrica,  e sim o homem africano, a negra e seus problemas e soluções, mesmo que ainda estejamos falando da  literatura africana em língua portuguesa, mas agora de raiz africana, que se fortalece no confronto, rebelião linguística, literária e ideológica, dirigida principalmente aos africanos, mistura do "português" com línguas nativas , querendo tornar tal escrita diferenciada da dos europeus, complicando a descodificação da sua mensagem. Ressaltam-se os  poetas angolanos (António Jacinto, Luandino Vieira, Agostinho Neto, Pinto de Andrade, etc.) com textos que misturam o quimbundo e umbundo, como fizeram outros autores, por exemplo Mutimati Bernabé João (de Moçambique).
Com a independência de muitos países, na década de 70,século XX, surgem texto muito bons como Sagrada esperança, do poeta Agostinho Neto, onde se lê  a revolta política poeticamente retratada.  No 1º Congresso de Escritores da África, 1956, em Paris, trouxe as ideias de Sembene Ousmane, Mongo Beti, Bernard Dadié, Ahmadou Kourouma, Ferdinand Oyono, Léopold Sédar Senghor, Tchicaya U’Tamsi e Sony Labou Tansi, para um público mais amplo, as obras do período pós-emancipação das colônias, mesmo nos governos totalitários, marcados também por agitações tribais, revoluções e golpes, combatiam a repressão, a ditadura, e narravam vivências neste contexto, também algumas rsgatavam tradições. E autores como Wole Soyinka, da Nigéria; o egípcio Naguib Mahfuz e Nadine Gordimer, da África do Sul, que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura tornaram-se mais divulgados. É o caso também do queniano Ngugi Wa Thiong’o, e do poeta ugandense Okot p’Bitek, entre os muitos explos disponíveis.
As mulheres africanas tratam inclusive das experiências num continente machista, marcado pela poligamia etc. Maternidade, prostituição, a prostituição e subjetividade feminina, são temas tratados de forma forte, criativa por autoras como Flora Nwapa, Mariama Ba, Amma Darko, Fatou Diome, Bessie Head, Tsitsi Danaremba, Buchi Emecheta e outras cujas obras propõem integração maior do feminino na sociedade africana, sem esquecer as questões econômicas e na vivência cultural.


O romancista e poeta nigeriano Chinua Achebe, amplamente visto como um avô de literatura africana moderna, é comprometido romancista, poeta, ensaísta e erudito nigeriano que pouco a pouco foi considerado o pai do romance africano. A sua obra 'Things Fall Apart' ('Tudo se desmorona') é uma das obras africanas mais lidas no mundo. Albert Chinualumogu Achebe nasceu em 1930 em Ogidi, Nigéria, trinta anos antes de o país declarar a sua independência do domínio colonial britânico. Estudou num colégio missionário e, embora educado na cultura ocidental, também foi criado na cultura tradicional Igbo. Foi já na Universidade quando Achebe renegou o seu nome Britânico, Albert, para retomar o seu nome indígena: Chinualumogu, Chinua para abreviar. O papel de Achebe no nascimento da literatura africana moderna fica claro ao analisar o impacto do seu primeiro livro, Things Fall Apart ('Tudo se desmorona', 1958), um dos romances mais lidos do século XX. A repercussão desta obra foi tal que é leitura obrigatória nas escolas de África e estudada em muitos dos países de língua inglesa. Foi elogiada a sua prosa colorida e amarga descrição da passagem europeia pelo mundo africano, com o consequente choque de culturas.(Outros títulos do autor, mas não todos, são: Arrow of God (Flecha de Deus', 1964), A Man of the People (Um homem do povo, 1966) e Anthills of the Savannah (Formigueiros da Savana, 1987), todas originariamente em inglês, idioma que defendeu na literatura.Até 2009 e desde o acidente  que imobilizou o seu corpo, que o colocou numa cadeira de rodas, o autor viveu em Nova Iorque com a sua esposa, com quem teve quatro filhos, onde trabalha como professor de Língua e Literatura.)


Quanto a José Eduardo Agualusa, José Luandino Vieira e Mia Couto: este último  é de família de imigrantes portugueses que se fixaram em Moçambique, onde ele nasceu, 1955; ele representa uma espécie de nova narrativa continental. Destaque para Terra Sonâmbula, uma das mais notáveis produções do final do século XX. Muitos dizem que ele sofre influência de Guimarães Rosa. Já o angolano José Eduardo Agualusa, também possui uma editora brasileira Língua Geral, com edição de livros só no idioma português: O Filho do Vento, Na rota das especiarias, A girafa que comia estrelas, e muito mais. O angolano( nascido em Portugal e naturalizado, José Luandino Vieira é autor dos contos Luanda e Velhas Histórias; e dos romances Nosso Musseque e Nós, os do Makulusu; e também outras novelas e outros livros infanto-juvenis: ajudou na construção da República Popular de Angola, após a conclusão da Guerra Colonial e em 2006 recebeu o Prêmio Camões, de grande valor para as criações literárias, mas rejeitou-o, por motivos pessoais.
Outro autor que merece destaque é Valter Hugo Mãe: Ele nasceu numa cidade angolana outrora chamada Henrique de Carvalho, hoje Saurimo. Em 1999 , ele publicou obras de Adriana Calcanhoto, Caetano Veloso, Manoel de Barros, ferreira Gullar  e outros. Codirigiu a revista Apeadeiro, de 2001 a 2004 e em 2006 funda a editora Objecto Cardíaco. Em 2007 ganhou o Prêmio José Saramago (este adorou o romance O remorso de Baltazar serapião e declarou na ocasião: "Por vezes, tive a sensação de assistir a um novo parto da Língua portuguesa". Desde o fim de 2012 apresentou um programa de entrevistas no Porto Canal. Os quatro primeiros romances de Valter Hugo Mãe são conhecidos como a tetralogia das minúsculas. Escritos integralmente sem letras capitais, incluindo o nome do autor, pretendiam chamar a atenção para a natureza oral dos textos e recondução da literatura à liberdade primeira do pensamento. As minúsculas aludem também a uma utopia de igualdade. Uma certa democracia que equiparava as palavras na sua grafia para deixar ao leitor definir o que devia ou não ser acentuado. Conheci Mia, Agualusa e Mãe no Recife. Mãe queria por fim das forças conhecer Ariano Suassuna e o fez, passando uma tarde com o autor do Romance da Pedra do reino. Esperamos desde então que ele reproduza isso num texto maior. Ariano morreu pouco tempo depois.
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valter hugo mãe



Ondjaki (Luanda, 5 de julho de 1977)  é um escritor angolano.

Ele estudou em Luanda e concluiu licenciatura em sociologia (em Lisboa). Fez o doutoramento em "estudos africanos" (Itália, 2010). Obteve o segundo lugar no prémio António Jacinto realizado em Angola, e publica o primeiro livro, Actu Sanguíneu.Depois de estudar por seis meses em Nova York (Columbia) filma com Kiluanje Liberdade o documentário Oxalá cresçam pitangas - histórias da Luanda.
As suas obras foram traduzidas para diversas línguas e em 2007, lançou seu livro Os da Minha Rua. Em Outubro de 2010 ganhou, no Brasil, o prêmio Jabuti, na categoria Juvenil, com o romance AvóDezanove e o Segredo do Soviético. O Jabuti é um dos mais importantes prémios literários brasileiros atribuído em 21 categorias. Em 2013, recebeu o prêmio José Saramago, por seu romance Os trasparentes. Morou no Brasil, no Rio de Janeiro.

Obras:
·            Actu Sanguíneu (poesia, 2000)
·            Bom Dia Camaradas (romance, 2001)
·            Momentos de Aqui (contos, 2001)
·            O Assobiador (novela, 2002)
·            Há Prendisajens com o Xão (poesia, 2002)
·            Ynari: A Menina das Cinco Tranças (infantil, 2004)
·            Quantas Madrugadas Tem A Noite (romance, 2004)
·            E se Amanhã o Medo (contos, 2005)
·            Os da minha rua (contos, 2007)
·            Avó Dezanove e o segredo do soviético (romance, 2008)
·            O leão e o coelho saltitão (infantil, 2008)
·            Materiais para confecção de um espanador de tristezas (poesia, 2009)
·            Os vivos, o morto e o peixe-frito (ed. brasileira / teatro, 2009)
·            O voo do Golfinho (infantil, 2009)
·            dentro de mim faz Sul, seguido de Acto sanguíneo (poesia, 2010)
·            a bicicleta que tinha bigodes (juvenil, 2011)
·            Os Transparentes (romance, 2012)
·            O caso do cadáver esquisito(2011)
·            Uma escuridão bonita (juvenil, Brasil/Portugal, 2013)
·            Sonhos azuis pelas esquinas (contos, Portugal, Caminho, 2014)
·            Os vivos, o morto e o peixe frito (teatro, Angola, PT, BR, 2014)
·            O céu não sabe dançar sozinho (contos, Brasil, Língua Geral, 2014)
·            O Carnaval da Kissonde (ilustrações de Vânia Medeiros, Portugal, 2015)
·            Os modos do mármore (poesia, Galiza, 2015)



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