Prof.
Moisés Monteiro de Melo Neto
Slide de um quadro surrealista; jovens
ao redor de uma mesa grande de centro (que eles a usarão para subir e fazer
suas “performances”; há jarras com chá gelado, frutas, alguns doces, num carrinho
de chá, ao lado; há um grande arranjo de flores , à esquerda; um som baixinho
com um excelente jazz, que não interfira na compreensão do que os jovens que
estão na sala dizem)
ALUNA
1: acho bom começarmos logo o ensaio; a galera que ainda não chegou que se vire
depois... solidariedade tem limite e o meu já esgotou...
ALUNO
2: vou logo dizendo, sei que não sou a única: não decorei tudo, mesmo sabendo
que a professora Fátima não vai dar sopa... e que o negócio da apresentação no teatro é pra já; sugiro que quem quiser fique com
o texto na mão; os que decoraram podem ficar sem...
ALUNO
1: concordo. Alguém discorda?
(ninguém levanta a mão)
ALUNO
1: então...observem bem o slide desta pintura! Os surrealistas admitem que a
razão nos dá a ciência, mas defendem que só a “não-razão” pode dar-nos a arte.
Apropriam-se da técnica de colagem dos dadaístas...
(exibição de slide com composição dadá e
exibe novo quadro surrealista)
ALUNO
1: Olhem bem! Eles exibem objetos deslocados dos seus
lugares, formados à maneira do sonho cujo resultado são misturados
interessantes (ou insólitas, desconcertantes), trabalham com a idéia do
INCONSCIENTE. Para os surrealistas, o importante é:
– a
imaginação contra a lógica.
– o
maravilhoso e o sobrenatural.
– a
escrita automática (escrever ao fluxo do inconsciente):
“Quando
sinto a impulsão lírica, escrevo sem pensar tudo o que meu inconsciente me
grita.”, como avisa Mário de Andrade. Enquanto isso, no Brasil da década de 20
do século passado...
(Aluna 1 fica no centro de uma roda como
se a sala fosse um acampamento de jovens e declama como se fosse um pajé
explicando uma lenda à tribo)
ALUNA 1: “(...) Macunaíma enxergou numa lapa bem no meio do
rio uma cova cheia d’água. E a cova era que nem a marca dum pé gigante.
Abicaram. O herói depois de muitos gritos por causa do frio da água entrou na
cova e se lavou inteirinho. Mas a água era encantada porque aquele buraco na
lapa era marca do pezão do Sumé, do tempo em que andava pregando o evangelho de
Jesus pra indiada brasileira. Quando o herói saiu do banho estava branco louro
e de olhos azuizinhos, água lavava o pretume dele.”
ALUNO 1: Macunaíma, o herói sem nenhum caráter,
romance, ou melhor rapsódia, de Mário de Andrade)
ALUNO 2: Seria bom deixar
claro quel o que é RAPSÓDIA... é como o filme sobre o QUEEN? Bohemian RhapsodY,
SOBRE O Freddie Mercury e tal...
ALUNO 1: Rapsódia é uma composição livre que
obedece características especiais ou clássicas, é uma justaposição, de escassa
unidade formal de melodias populares e de temas conhecidos, extraídos com
frequência de óperas ou uma peça próxima ao improviso, com fulcro em temas de
inspiração folclórica (como podemos ainda ver na literatura, como em MACUNAÍMA,
de Mário de Andrade, participante da Semana de 22.
ALUNA 2: eu posso acrescentar
que as rapsódias caracterizam-se por terem apenas um movimento, mas podendo integrar fortes variações de tema,
intensidade, sem necessidade de seguir
uma estrutura pré-definida, não há
necessidade de repetir os temas, podem-se criar novos ao sabor da inspiração.
ALUNO
2: o surrealismo na poesia BRASILEIRA, AS HERANÇAS CUBOFUTURISTAS... os
poemas de Oswald de Andrade mostram o mundo fragmentado do contemporâneo numa
luta caótica em busca de sua realização: a síntese representada e expressa pelo
poema.
ALUNA
1: vejam só esse poema de Oswald:
Chove chuva
choverando
que a cidade de meu bem
está-se toda se lavando
que a cidade de meu bem
está-se toda se lavando
Senhor
que eu não fique nunca
como esse velho inglês
aí ao lado
que dorme numa cadeira
à espera de visitas que não vêm
que eu não fique nunca
como esse velho inglês
aí ao lado
que dorme numa cadeira
à espera de visitas que não vêm
Chove chuva
choverando
que o jardim de meu bem
está-se todo se enfeitando
A chuva cai
cai de bruços
que o jardim de meu bem
está-se todo se enfeitando
A chuva cai
cai de bruços
A magnólia abre o
pára-chuva
pára-sol da cidade
de Mário de Andrade
A chuva cai
escorre das goteiras do domingo
pára-sol da cidade
de Mário de Andrade
A chuva cai
escorre das goteiras do domingo
Chove chuva
choverando
que a cidade de meu bem
está-se toda se molhando
que a cidade de meu bem
está-se toda se molhando
Anoitece sobre os
jardins
Jardim da Luz
Jardim da Praça da República
Jardim das platibandas
Jardim da Luz
Jardim da Praça da República
Jardim das platibandas
Noite
Noite de hotel
Chove chuva choverando
Noite de hotel
Chove chuva choverando
ALUNO 2: não gosto, deveríamos cortar este
poema, Oswald tem melhores...
ALUNO 1: quem é a favor de cortar esse poema?
(ninguém
levanta a mão)
ALUNO 1: ninguém?! Prossiga, aluna 1; fale
logo sobre a poética de um cara que não foi ao Teatro Municipal de São Paulo,
na Semana de arte moderna de 22 , mas
mandou o poema OS SAPOS, o recifense Manuel bandeira que torpedeou os
parnasianos...
(os
4 alunos, ou mais, de acordo com a direção, podem ser até 10...)
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas..."
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas..."
Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
O sapo-tanoeiro:
- A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo".
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo".
Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas,
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas,
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".
Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Veste a sombra imensa;
Lá onde mais densa
A noite infinita
Veste a sombra imensa;
Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio...
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio...
ALUNO 1: todos agora misturam como a poética, poema onde Bandeira
declara a essência da sua poesia...
“Quero antes o lirismo dos loucos
O
lirismo dos bêbados
O
lirismo difícil e pungente dos bêbados
O
lirismo dos clowns de Shakespeare
–
Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.”
ALUNA
3: quase um século depois e a Semana de Arte Moderna, comenta as relações entre
o Modernismo e o contexto político; o movimento da inteligência que
representamos, na sua fase verdadeiramente “modernista”, não foi o fator das
mudanças político-sociais posteriores a ele no Brasil. Foi essencialmente um
preparador, o criador de um estado-de-espírito revolucionário e de um
sentimento de arrebentação. [...] Os movimentos espirituais precedem sempre as
mudanças de ordem social. “O passado é lição para se meditar, não para
reproduzir.” Mário de Andrade
ALUNO 2: Reação de caráter
demolidor ao ademicismo reinante nas nossas artes...
ALUNA 2: escritores, pintores, escultores e poetas
compuseram naquele teatro um espetáculo de inteligência cultural jamais visto
na história brasileira.
(chega um aluno molhado de chuva e todos
fazem pausa, comem doces, toma chá gelado, coca cola... fruta, alguém pega uma
banana e diz..)
ALUNO 1: antes tarde do que
nunca, não é JR?
ALUNO 3: CHUVA, TRÂNSITO...
whatsapp, Instagram... mamãe... meu irmão pequeno...
ALUNA 2; pare (coloca a mão no peito e dramatiza) se
você falar mais eu choro... DEIXA DE PAPO E LÊ AÍ A PÁGIUNA 4, VAI...
ALUNO
3: (depois
de se acomodar e escutar a música que ficou mais alta enquanto ninguéM falava) : em meio a vaias e berros, ao executar
composições como “Impressões da Vida Mundana”, Villa-Lobos reforçou naquele
palco sua imagem de gênio da música; carioca, acabou entrando para sempre na
memória da cidade, onde, tempos depois, veio a organizar projetos de educação
musical nas escolas.
(slides exibem
quadros de anitta malfatti)
ALUNA 1: Anita Malfatti,
considerada quase uma mártir do movimento modernista, devido às reações que uma
exposição de seus quadros, em 1917,
provocou na intelectualidade da época. E por causa do artigo de Monteiro Lobato:
“Paranóia ou Mistificação?”, tentando detonar a exposição dela...
ALUNO
2: lembrando que Graça Aranha – da Academia Brasileira de Letras – aderiu às
novas idéias eDi Cavalcanti, coloca o cartaz da semana que ele fez, inspirado
no O nascimento de Vênus, mostra também o
nascimento de Vênus e compara com o cartaz, logo! Tas comendo mosca é JR?
(JR assume os slides)
ALUNO
3: (mostrando foto de Graça Aranha/ slide, claro) Graça Aranha abre a Semana com a palestra “EMOÇÃO
ESTÉTICA NA OBRA DE ARTE.” A arte e a literatura precisam mudar.
ALUNA2
: bem depois Menotti Del Picchia fala
sobre “Arte Moderna”. Reivindica liberdade total de expressão (vaias e mais
vaias do público). A Semana de Arte Moderna aconteceu devido ao apoio
financeiro dos fazendeiros de café.
(alunos agora formam
como se fosse uma marcha de protesto pelas ruas/ corredores do teatro, ao redor
da sala etc.)
“Queremos escrever com sangue – que é a
humanidade;com eletricidade – que é movimento, expressão dinâmica
do século; violência – que é energia
bandeirante.” (Menotti Del Picchia)
Aluno 1: (voltando ao normal) O Modernismo,
segundo Mário de Andrade, não tinha um programa comum, uma direção a ser
seguida. “A estética do Modernismo ficou indefinível” , disse Mário,
Mas predomina a renovação
literária e o experimentalismo, a inspiração nacionalista, o desenvolvimento e
o estímulo à pesquisa formal.
TODOS
GRITAM: (como se fossem esnobes) ICONOCLASTAS!
Queriam destruir tudo que não fosse moderno!
Interesse pelas coisas do Brasil! VALORIZAÇÃO DO INCONSCIENTE, DE CENAS COMUNS
DO DIA A DIA!
A
linguagem da poesia se aproxima da linguagem da prosa! Rupturas sintáticas e
lógicas; caricatura da retórica!
IRREVERÊNCIA!
PARÓDIA, como poema-piada na “língua brasileira” alicerçada no falar da nossa
gente; linguagem coloquial, a linguagem oral das camadas mais humildes) é
incorporada à linguagem literária. Liberdade lingüística – criam-se palavras,
mudam-se as classes gramaticais (os sempres, os amanhãs), linguagem sintética;
liberdade, na poesia, quanto à metrificação (uso de versos livres ou
metrificados). Postura agressiva e combativa:
ALUNA 2: Eu insulto o burguês! O
burguês-níquel
o burguês – burguês!
A digestão bem feita de São Paulo!
O homem – curva! O homem – nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro,
italianos,
é sempre um cauteloso pouco a pouco!
(Mário
de Andrade)
Aluno 1: (os outros fazem mímica desta cena, atrás)
No baile da corte
Foi o Conde d’Eu quem
disse:
Pra dona Benvinda
Que farinha de suruí
Pinga de Parati
Fumo de Baependi
É come bebê pita e caí.
(Oswald de Andrade)
TODOS: textos fragmentados; quebra dos nexos
lógicos, uso do fluxo de consciência, da enumeração caótica. intertextualidade
– paródia; textos marcados pelo humor e pela atividade irônico-crítica. PROSA
que se assemelha à narrativa cinematográfica.
·
( slides exibem REVISTAS DO MODERNISMO)
LUNO
2 (grita como num teatrão) ATENÇÃO! As revistas do Modernismo no Brasil!!
KLAXON
– No projeto gráfico as lições do Cubismo. No segundo volume, aparece encarte
com desenho do pintor Di Cavalcanti.
Estética (1924 – Rio de Janeiro)
A
Revista (1925 – Minas Gerais)
Madrugada
(1925 – Rio Grande do Sul)
Terra
Roxa e Outras Terras (1926 – São Paulo)
Festa
(1928 – Rio de Janeiro)
ALUNA
3: Vale destacar ainda em 1926 o Manifesto Regionalista do Recife
(VAI
MOSTRANDO FOTOS DE Gilbertto Freyre na década de 20, 1926)que provocaria mais
tarde (década de trinta) o surgimento de importantes obras regionalistas.
Costuma-se
dividir o modernismo brasileiro em duas fases mais ou menos distintas.
ALUNO
2 : observem os slides! Na1ª fase (1922 a 1930) – Os autores não sabiam o que
queriam, mas sabiam o que “não” queriam. Ironizam com a idéia de Escola
literária.” Destaca a liberdade de pesquisa estética, o experimentalismo. Prefácio
interessantíssimo em Pauliceia Desvairada. Mário destaca ainda a necessidade de
renovação da intelectualidade brasileira.
ALUNA
1: vejam os quadros de Tarsila! Tarsila do Amaral.
(slides dos quadros de Tarsila)
No Movimento Pau-Brasil, de1924,
Oswald de Andrade buscou uma poesia de
redescoberta do mundo e do Brasil, combateu a linguagem retórica e vazia.
ALUNO
3: “Contra o gabinetismo, a prática culta da vida. (...) a língua sem arcaísmos,
sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros.
Como falamos. Como somos.”
ALUNA
1: DIZIA Oswald de Andrade – Manifesto Pau-Brasil, de1924: trabalho contra o detalhe naturalista – pela
síntese; contra a morbidez romântica – pelo equilíbrio geômetra e pelo
acabamento técnico; contra a cópia, pela invenção e pela surpresa (...) Nenhuma
fórmula para a contemporânea expressão do mundo. Ver com olhos livres!
ALUNA
2: Como desdobramento do movimento Pau-Brasil
surge o MOVIMENTO ANTROPOFÁGICO, de
OSWALD, inspirado pelo Abaporu de
Tarsila, 1928!
TODOS: “Só
a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente Filosoficamente.
Única
lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os
coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.
Tupi or not tupi, that is the question.
Contra
todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.
Foi
porque nunca tivemos gramáticas, nem coleções de velhos vegetais.
(...)
Antes de os portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a
felicidade!”
ALUNO 1: E PARA ENCERRAR:
Manifesto Regionalista de 1926
ALUNO 2:
(exibindo
vários slides de coisas do Recife, da primeira metade do século passado)
Os anos de 1925 a 1930 marcam a divulgação do
Modernismo pelos vários estados brasileiros. Assim é que o Centro Regionalista
do Nordeste, com sede em Recife, lança o Manifesto Regionalista de 1926, em que
procura “desenvolver o sentimento de unidade do Nordeste” dentro dos novos
valores modernistas. Apresenta como proposta “trabalhar em prol dos interesses
da região nos seus aspectos diversos: sociais, econômicos e culturais”. Além de
promover confer6encias, exposições de arte, congressos, o Centro editaria uma
revista. Vale lembrar que, a partir da década de 1930, o regionalismo
nordestino resultou em brilhantes obras literárias, com nomes que vão de
Graciliano Ramos, José Lins do Rego, José Américo de Almeida, Rachel de Queiroz
e Jorge Amado, no romance, a João Cabral de Melo Neto, na poesia.
(todos
riem e fazem uma festinha, podem até dançar ou tentar musicar estes textos
abaixo)
Vício na
fala
Para dizerem
milho dizem mio
Para melhor
dizem mio
Para pior pio
Para telha
dizem teia
Para telhado
dizem teiado
E vão fazendo
telhados. (Oswald)
Pronominais
Dê-me um
cigarro
Diz a
gramática
Do
professor e do aluno
E do
mulato sabido
Mas o bom
negro e o bom branco
Da Nação
Brasileira
Dizem
todos os dias
Deixa
disso camarada
Me dá um
cigarro. (Oswald)
brasil
O Zé Pereira
chegou de caravela
E perguntou pro
guarani da matavirgem
– Sois
cristão?
– Não. Sou
bravo, sou forte, sou filho da Morte
Teterê tetê Quizá Quizá Quecê!
Lá longe a
onça resmungava Uu! ua! uu!
O negro zonzo
saído da fornalha
Tomou a
palavra e respondeu
– Sim pela
graça de Deus
Canhem Babá
Canhem Babá Cum cum!
E fizeram o
Carnaval.(Oswald)
“Como
falamos. Como somos (...).
O trabalho
contra (...) a
cópia,
pela invenção e
pela
surpresa. (...) ver
com olhos
livres”.
Manifesto
da poesia pau-Brasil
O Rebanho
Oh! Minhas
alucinações!
Vi os
deputados, chapéus altos,
sob o
pálio vesperal, feito de mangas-rosas,
saírem de
mãos dadas do Congresso... Como um
possesso
num acesso em meus aplausos
aos
salvadores do meu estado amado. (Mário de Andrade)
A
Meditação sobre o Tietê
“Água do meu
Tietê,
Ondas me
queres levar?
– Rio que
entras pela terra
E que me
afastas pela terra
É noite. E
tudo é noite. Debaixo do arco admirável
Da ponte das
bandeiras o rio
Murmura num
banzeiro de água pesada e oliosa...” (Mário de Andrade)
ALUNO Em O
Poeta Come Amendoim, Mário se identifica com o Brasil (nacionalismo) pela
linguagem.
“Brasil
amado não porque seja minha pátria,
Pátria é
acaso de migrações e do pão-nosso onde Deus der...
Brasil que
eu amo porque é o ritmo do meu braço aventuroso,
O gosto
dos meus descansos,
O balanço
das minhas cantigas amores e danças.
Brasil que
eu sou porque é a minha expressão muito engraçada,
Porque é o
meu sentimento pachorrento.
Porque é o
meu jeito de ganhar dinheiro, de comer e de dormir.”
(todos
silenciam e, talvez, depois de pausa dramática, ou blackout, se possível ,
falam com tom xamanístico; exibição de trechos do filme MACUNAÍMA, de Joaquim Pedro de Andrade)
No fundo do
mato-virgem nasceu Macunaíma, herói da nossa gente. Era preto retinto e filho
do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o
murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa
criança é que chamaram de Macunaíma.
Já na
meninice fez coisa de sarapantar. De primeiro passou mais de seis anos não
falando. Si o incitavam a falar exclamava:
– Ai! Que
preguiça!...
e não dizia
mais nada. Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de paxiúba, espiando o
trabalho dos outros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape já
velhinho e Jiguê na força de homem. O divertimento dele era decepar cabeça de
saúva. Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava pra
ganhar vintém. E também espertava quando a família ia tomar banho no rio, todos
juntos e nus: Passava o tempo do banho dando mergulho, e as mulheres soltavam
gritos gozados por causa dos guaimuns diz que habitando a água-doce por lá. No
mucambo si alguma cunhatã se aproximava dele pra fazer festinha, Macunaíma
punha a mão nas graças dela, cunhatã se afastava. Nos machos cuspia na cara.
Porém respeitava os velhos e freqüentava com aplicação a murua a poracê o toré
o bocorocô a cucui-cogue, todas essas danças religiosas da tribo.
Quando era
pra dormir trepava no macuru pequeninho sempre se esquecendo de mijar. Como a
rede da mãe estava por debaixo do berço, o herói mijava quente na velha,
espantando os mosquitos bem. Então adormecia sonhando palavras-feias,
imoralidades estrambólicas e dava patadas no ar.
O Poeta
Come Amendoim
“Brasil
...
Mastigado
na gostosura quente do amendoim...
Falado
numa língua curumim
De
palavras incertas num remeleixo
melado
melancólico...
Saem
lentas frescas trituradas pelos meus dentes
bons...
Molham
meus beiços que dão beijos alastrados
E depois
semitoam sem malícia as rezas bem nascidas...
Brasil
amado não porque seja minha pátria,
Pátria é
acaso de migrações e do pão-nosso onde
Deus
der...
Brasil que
eu amo porque é ritmos do meu braço aventuroso,
O gosto
dos meus descansos,
O balanço
das minhas cantigas
amores e
dansas.
Brasil que
eu sou porque é minha expressão muito engraçada,
Porque é o
meu sentimento pachorrento, Porque é o meu jeito de ganhar
dinheiro,
de comer e de dormir.
(M. de Andrade – Clã do Jaboti)
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