Lembro de que escrevi sobre ele , em 2009, quando estivemos juntos:
Trabalhar
com o Universo de Antunes Filho para mim é um luxo e uma tarefa ímpar. A
produção artística deste homem que agora comemora 80 anos, 60 dos quais
dedicados ao teatro, é rara oportunidade. Seus pressupostos humanísticos são
fascinantes, quer seja inquirindo, desvelando ou reinventando as tendências do
teatro. Proporcionar acesso gratuito ou a preços populares nesta Mostra inédita
coloca Pernambuco em destaque nacional, com A Falecida - que trata do
cotidiano comum de muitos brasileiros (desemprego, falta de dinheiro,
assistência médica, futebol entre outras coisas) parece-me de certo modo
interessante, nestes nossos tempos tão bicudos de crise financeira, intelectual
e espiritual. A dramaturgia do nosso conterrâneo mesclando drama, farsa e
comédia, pessimismo e humor cruel faz com que a ironia e o deboche driblem o
nosso vulgar, grotesco e, por que não dizer? cômico cotidiano e talvez nos faça
rir e refletir sobre possíveis soluções para essa alma brasileira que às vezes
parece assombração e fortaleza inabalável. O espaço cênico e a universalização
do texto, a totalidade ininterrupta no movimento fluente que implica na
totalidade da existência está presente em toda esta Mostra, como um organismo
vivo onde cada parte cresce no contexto do todo. Numa cidade tão populosa como
Recife, trazemos as idéias de Antunes com seu grupo e sua longa e tão nova
história. Um Universo, reflexo de um Cosmo tão amplo que nos cerca enquanto
pequenino planeta. Palco em ação, palco onde transbordam tantas coisas. Nós, da
Ilusionistas Corporação Artística, sempre quisemos essa nova percepção e
tornar, como sempre nos ensinou o mestre Antunes, "aquilo que parece
improvisado, uma interferência em sentido, feio, anti-estético, numa componente
fixa e significativa. Estar aberto a insólitas relações." Esperamos
que o diálogo entre as partas dessa Mostra, que inclui o delicioso (em suas
reminiscências, objetos esquecidos) e onírico Foi Carmen, reflexo tão precioso
da sombra mítica da pequena notável que, entre confetes de antigos carnavais,
faz sua fantasmagórica aparição, una-se, em fraternal e profundo congraçamento,
ao apetitoso Prét-à-Porter - Coletânea 2 que, de acordo com seu
diretor, posiciona-se com o sentimento de amor desinteressado, kantiano - de
antigas gravuras guardadas em gavetões recônditos que só poderiam ser vistas à
luz de vela, ou ao Estrela da Manhã (Prêt-à-Porter 6), ou Bibelô de
Estrada (Prêt-à-Porter 9), ou ao O Poente do Sol Nascente (Prêt-à-Porter
5), à Oficina Para Jovens Atores com Antunes Filho, à exposição O
Universo de Antunes Filho na histórica Torre Malakoff ao ciclo de
palestras O Universo de Antunes Filho - Territórios Poéticos, no Teatro
Apolo.
Moisés Monteiro de Melo Neto e Antunes Filho.
Foi um projeto pensado antes de tudo com amor, mas que exigiu de mim a lógica na compreensão da sensibilidade deste poeta da cena que é Antunes. Agradeço desde já a todos envolvidos nesta gigantesca empreitada que marca os vinte e cinco anos da Ilusionistas Corporação Artística.
Recife, março de 2009
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