Testando o figurino
Paixão de Cristo Olinda.
Texto e concepção geral de José Pimentel.
Pilatos (Moisés Monteiro de Melo Neto)
Interpreto este personagem há 4 anos.
Pôncio Pilatos foi prefeito da província romana da Judeia do ano 26 d.C. até o ano 36 ou começo do 37 d.C. Sua jurisdição chegava até a Samaria e a Iduméia. Antes destas datas pouco é sabido da sua vida.
Moisés Neto gravando parte da trilha sonora.
A Paixão de Cristo de Olinda divulgou, nesta quinta (11), os detalhes sobre o espetáculo em homenagem a José Pimentel, que interpretou Cristo por 40 anos e faleceu em 2018. O palco começou a ser montado na Praça do Carmo, no Sítio Histórico da cidade.
Apresentada tradicionalmente no Marco Zero do Recife, a encenação mudou de local após ser alvo de uma briga na justiça com a Apacepe.
Com entrada gratuita, o espetáculo é realizado em Olinda entre os dias 18 e 21 de abril, a partir das 20h. A encenação reúne 80 atores e 100 figurantes.
Cristo é interpretado pelo ator potiguar Hemerson Moura e ele afirma estar ansioso para as apresentações. "O trabalho está sendo bem árduo, mas com muito amor e dedicação", diz.Além de Hemerson, participam da peça Stella Maris Saldanha, como Maria; Gabriela Quental, como Maria Madalena; Daniela Câmara, como Verônica; Moisés Neto, que encena Pilatos; Luciano Lucas, como Herodes e Will Menezes, no papel de Judas.
Os cenários e figurinos são novos, feitos pela equipe que fazia a tradicional Paixão de Cristo com José Pimentel. "É um novo ciclo, que se inicia sem José Pimentel o corpo, a pessoa presente. Mas a história e o legado dele continuam", afirma a filha do ator, a produtora cultural Lílian Pimentel.
O título do cargo que exerceu foi o de praefectus (prefeito), da mesma forma que todos aqueles que ocuparam esse cargo antes do Imperador Cláudio e está confirmado por uma inscrição que apareceu na Cesareia. O titulo procurador que alguns antigos autores utilizam para referir-se e este cargo, é um anacronismo. Os evangelhos referem-se a ele de forma genérica com o título de "governador". Como prefeito tinha que manter a ordem na província e administrá-la tanto judicial como economicamente.
Pilatos (Moisés Neto e Jesus Cristo (Hemerson Moura) em cena da montagem de 2019, dirigida por José Francisco Filho
Portanto, devia de estar à frente do sistema judicial (conforme consta que fez no processo de Jesus) e recolhia os impostos para manter as necessidades da província e de Roma. Dessa última atividade não existem provas diretas, ainda que o incidente do aqueduto, contado por Flávio Josefo (veja abaixo), é certamente uma consequência dela. Além disso, encontraram-se moedas dos anos 29, 30 e 31, que sem margem de erro foram mandadas fazer por Pilatos. Mas, acima de tudo ele passou à História por ter sido quem mandou executar a Jesus de Nazaré; ironicamente, com isso seu nome foi incluído no símbolo da fé cristã: "padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado...".
Segundo contam Filão e Flávio Josefo, seu relacionamento com os judeus não era bom. Na opinião de Josefo, os anos em que Pilatos esteve como prefeito foram anos turbulentos na Palestina, e Filão escreve que o governador caraterizava-se pela "sua venalidade, sua violência, seus roubos, seus assaltos, sua conduta abusiva, as frequentes execuções de prisioneiros que não tinham sido julgados, e uma ferocidade sem limites" (Gaio 302). Ainda que nestas apreciações com certeza influam a intencionalidade e a compreensão própria dos autores, a crueldade de Pilatos, como sugerido em Lc.13,1,onde é mencionado o incidente de uns homens da Galiléia que tiveram seu sangue misturado ao dos sacrifícios por ordem do governador, é indubitável.
Josefo e Filão também contam que Pilatos introduziu em Jerusalém as insígnias em honra a Tibério, o que deu origem a uma revolta, obrigando-o a levá-las para Cesaréia. Josefo relata em outro momento que Pilatos usou o dinheiro sagrado para construir um aqueduto. A decisão levantou uma revolta que foi sangrenta. Alguns pensam que este é o fato ao qual faz referência Lc.13,1.Um último episódio contado por Josefo é a repressão violenta dos samaritanos no monte Garizim, ao redor do ano 35. Como consequência, os samaritanos enviaram representantes ao governador da Síria, L. Vitelio, que afastou Pilatos do seu cargo. Foi chamado a Roma para dar explicações, mas chegou após a morte de Tibério. Segundo a tradição recolhida por Eusébio, caiu em desgraça no império de Calígula e terminou suicidando-se.
Nos séculos seguintes surgiu todo tipo de lendas sobre sua pessoa. Algumas lhe atribuíam um final desastroso no Tevere ou em Vienne (França), enquanto outras (sobretudo as Atas de Pilatos, que na Idade Media faziam parte do Evangelho de Nicodemos) apresentam-no como um converso ao cristianismo junto com sua esposa Prócula, que é venerada como santa na Igreja Ortodoxa pela defesa de Jesus (Mt 27, 19). O próprio Pilatos está contado entre os santos da igreja etíope e copta. Mas, acima destas tradições, que na sua origem refletem a tentativa de mitigar a culpa do governador romano no tempo em que o cristianismo tinha dificuldades para abrir caminho no império, a figura de Pilatos, que conhecemos pelo evangelho, é a de uma personagem indolente, que não quer se enfrentar com a verdade e prefere contentar a multidão.
Sua presença no Credo é de muita importância porque nos lembra que a fé cristã é uma religião histórica e não um programa ético ou uma filosofia. A redenção operou-se num lugar concreto do mundo, a Palestina, num tempo concreto da história, quando Pilatos era prefeito da Judeia.
BIBLIOGRAFIA
SCHWARTZ, D. R. "Pontius Pilate", in Anchor Bible Dictionary, vol. 5 (ed. D.N. Freedman), Doubleday, New York 1992, pp. 395-401.
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