A ÚLTIMA NOITE DE KAFKA: Direção do consagrado diretor recifense JOSÉ FRANCISCO FILHO; TEXTO de Cláudio Aguiar, em que ele imagina Kafka, na
sua última noite de vida, afásico no hospital, mergulhado em alucinações,
fazendo um balanço de sua vida num monólogo. O romancista cearense criou,
baseado em fatos concretos da existência do autor de A metamorfose, de A
colônia penal e outras obras, o drama interno de Kafka...
Luzilá Gonçalves Ferreira escreve sobre o texto BENTO TEIXEIRA de Moisés Neto (apresentado
no Teatro de Santa Isabel em setembro de
2010)
Diário de Pernambuco, 21 de setembro de 2010, Caderno
Viver, p. E2)
Um belo
final de tarde
Quem lá não esteve não sabe o que perdeu. No Salão Nobre do Teatro de Santa Isabel, que há 160 anos abriga recitais, concertos, para pessoas de bom gosto, em um cenário mínimo, sobre fundo negro, atores vestidos de preto fizeram a leitura dramática do texto teatral que seu autor, Moisés Neto, intitulou simples e modestamente de Bento. Trata-se do julgamento de Bento Teixeira, nosso primeiro poeta, o autor da Prosopopeia, por sua mulher, Filipa Raposa, e pelo representante da Inquisição. Partindo de nosso romance Os rios turvos, Moisés tornou presente o que era apenas palavras, ficção, romance, um trabalho de recriação, de criação, um belo, inteligente e muito pessoal documento dramático, pelo qual a autora do romance é agradecida.
Antes e após as leituras, fundo musical, antigas
melodias judaicas. Os atores sob a direção de José Francisco Filho,
instalados, em pequenas mesas, para Bento e Filipa, sobre um imponente púlpito,
para o representante do Grande Inquisidor, nos proporcionaram um raro momento
de doação deles mesmos, no profissionalismo, na emoção transmitida. Stella
Maris, uma das ótimas atrizes que o Recife possui, foi uma forte
personificação de Filipa Raposa, na perfeita dicção, na entonação, na economia
e precisão dos gestos. O Grande Inquisidor, vivido por George Meirelles tornou
nossas as acusações a Bento, na força e na convicção com que atacou,
culpabilizou, humilhou, ironizou o autor da Prosopopeia. De Germano Haiut,
o que dizer? "Une bête de théâtre", diriam os franceses, um bicho de
teatro, um imenso, enorme talento que nos comoveu (vi lágrimas em alguns
olhos), vivendo Bento Teixeira diante de nós, um pequeno judeu levado a abjurar
de sua própria fé.
Esse esforço de criatividade de produtores, atores,
autores, com que a Prefeitura do Recife congregou oficinas, várias leituras
dramáticas comemorando os 160 anos do teatro sob a coordenação de Lucia
Machado, não deve se encerrar aqui. Sugerimos sua reedição em locais e datas
outras. E com relação a Bento, recado para Antônio Campos, Eduardo Cortes e
Mário Helio - sua reapresentação na Fliporto deste ano, dedicada à literatura
de cunho judaico.
Luzilá Gonçalves Ferreira
Coluna dia a dia, JORNAL DO COMMERCIO
(Recife,
16 de setembro de 2010, Caderno C, p.3):
Teatro
Nosso
Os
veteranos atores Stella Maris Saldanha, Germano Haiut e George Meireles dão via
aos personagens do texto inédito Bento, do pernambucano Moisés Neto, que será
apresentado no Salão nobre do teatro de Santa Isabel. Atualmente, Moisés Neto é
o dramaturgo com textos mais montados no Recife.
Bento
SINOPSE
DO TEXTO "BENTO" - O judeu Bento Teixeira Pinto é autor do poema
épico Prosopopeia (publicado em 1601, um ano após a morte do autor, trata da
glória da família Albuquerque em Olinda e dá início à Literatura Barroca no
Brasil). No final do século XVI, após assassinar a sua esposa, Bento é
aprisonado pela Santa Inquisição por práticas judaicas. O texto aborda os
últimos dias de Bento num cárcere em Lisboa. O autor inspirou-se no personagem
de Filipa Raposa nos moldes em que a recriou a escritora Luzilá Gonçalves
Ferreira. O foco da peça se dá no tormento psicológico do assassino que,
remoendo tantos horrores, delira e passa por severos interrogatórios. Um drama
que envolve paixão e preconceito, bem nos moldes que marcam a dramaturgia do
pernambucano Moisés Neto.
DESCRIÇÃO
- O projeto de montagem de Bento propõe um diálogo entre Literatura
e História tendo como pano de fundo relatos sobre a vida de Bento Teixeira. As
apresentações teatrais acontecerão na Sinagoga Kahal Zur Israel ( ou
congregação rochedo de Israel ) que representa um dos marcos mais importantes
da presença Judaica no Brasil por ser a
primeira sinagoga oficial dos judeus que habitaram as Américas.
O
texto do premiado dramaturgo pernambucano Moisés Neto fala sobre o judeu Bento
Teixeira que é autor do poema épico Prosopopeia (publicado em 1601), um ano
após a morte do autor,trata da glória da família Albuquerque em Olinda e dá início à
Literatura Barroca no Brasil).No final do século XVI, após assassinar a sua
esposa, Bento é aprisionado pela Santa Inquisição por práticas judaicas.O texto
aborda os últimos dias de Bento Teixeira num cárcere em Lisboa.O autor
inspirou-se no personagem de Filipa Raposa nos moldes em que a recriou a
escritora Luzilá Gonçalves Ferreira.O texto trata ainda das questões de gênero,
da emancipação feminina.
O
Foco da peça se dá no tormento psicológico do assassino que,remoendo tantos
horrores, delira e passa por severos interrogatórios. Um drama que envolve
paixão e preconceito, bem nos moldes que marcam a dramaturgia do pernambucano
Moisés Neto.
As
apresentações teatrais de Bento serão
de quinta a domingo sendo as récitas nas quintas e sextas direcionadas para
alunos da rede pública e da rede particular, ONGs ou projetos sociais que
comunguem com a proposta do projeto que é ler a História também como Literatura,
ver na Literatura a História se escrevendo.
OBJETIVO
GERAL - Realizar a montagem do espetáculo Bento
que tem como objetivo discutir as relações de gênero em seu viés
sócio-histórico-cultural sob uma ótica calcada nos relacionamentos humanos numa
época de intolerância geral como foi a da contrarreforma traçando um paralelo
com os relacionamentos humanos atemporais.
Encenar
o texto do premiado dramaturgo pernambucano Moisés Neto;
Exibir
os novos rumos da dramaturgia nordestina através de um texto elaborado a partir
de pesquisas e fundamentado na longa tradição teatral do ocidente;
Difundir
a produção teatral pernambucana e a pesquisa de linguagem desenvolvida pelos
criadores envolvidos na montagem;
Contribuir
para a formação de novas plateias e democratização de apreciação artística,
tomando o teatro como agente formador e transformador do ser humano;
Fortalecer
a acessibilidade a bens culturais;
Incentivar
a reflexão sobre a presença judaica em Pernambuco;
Integrar
em uma única atividade Literatura e História.
JUSTIFICATIVA
DO PROJETO - A montagem do texto do dramaturgo pernambucano Moisés Neto
justifica-se como oportunidade de valorizar a dramaturgia local, proporcionando
uma real dicção dos nossos autores locais no sentido de refletir a
sensibilidade do povo nordestino através de uma voz poética dramática
promovendo o engajamento na dramaturgia nordestina.
A
indicação das récitas acontecerem dentro da Sinagoga Kahal Zur Israel que está
localizada na atual Rua do Bom Jesus, chamada antigamente de Rua dos Judeus, no
Bairro do Recife proporcionará ao público conhecer de perto a história colonial
do Recife e a presença judaica na formação histórica do povo brasileiro. É
importante lembrar que muitos colonizadores lusos que vieram para o Brasil no
início do século XVI eram cristãos novos expulsos de Portugal.
Devido
à tolerância religiosa dos holandeses
que dominaram Pernambuco de 1630 a 1654
uma parte seleta de judeus/europeus veio se estabelecer no Brasil. Com a
expulsão dos holandeses a sinagoga foi fechada sendo reaberta em dezembro de
2001.
Derrotados
na Batalha do Guararapes, as famílias judias retornaram para a Holanda a bordo
do navio Valk. O desembarque ocorreu em nova Amsterdã, atual Nova York, onde os
judeus formaram a primeira comunidade judaica da América do Norte.
O
Judeu Bento Teixeira é autor de Prosopopeia que dá início a literatura barroca
no Brasil.
Propor
diálogo e reflexão a partir de fatos reais onde o lúdico é estabelecido pela montagem do texto Bento ,justifica-se como testemunho da sociedade
tendo compromisso maior com a fantasia.
Já
dizia Aristóteles – “ Com efeito, não diferem o historiador e o poeta por
escreverem versos ou prosa ( pois que, bem poderiam ser postas em versos as
obras de Heródoto e nem por isso deixariam de ser História, se fossem em verso
o que eram em prosa) – Diferem, sim , em que diz um as coisas que sucederam e
outro, as que poderiam suceder, propõe Simone Figueiredo.
PROPOSTA CONCEITUAL PARA DIREÇÃO DE ARTE - Amor, paixão,
medo, intolerância, religiosidade, perseguição, crime, castigo, tortura,
prisão, loucura, ilusão, poesia. Alguns dos atributos revelados na expressiva
dramaturgia de Moisés Neto para BENTO remete, inicialmente, a uma garrafa
lançada ao mar do tempo, ao mar da História.
Apesar de tempo e espaço delimitados no Recife dos
seiscentos, provoca sensações, atemporalidades de um não-lugar. A prisão como
signo é a arena onde relações de poder se recriam numa imbricada triangulação
de ricas personas que promovem o encontro com o autoconhecimento, perseguido
por Bento Teixeira (Germano Haiut), com uma perturbadora projeção onírica de
Felipa Raposa (Stella Maris), num feliz contraste com um opressor Oficial da
Inquisição (George Meireles).
Elementos postos, a encenação de José Francisco Filho define
pontos de partida para um espetáculo
imersivo, com ambiência que concentra energias ancestrais dos judeus da
Sinagoga Kahal Zur Israel. E com interpretações realistas que primam por uma
verossimilhança sensorial, envolvendo o público numa atmosfera de enlevamento.
Contrastes. Claro e escuro, sujo e limpo, claridades e
penumbras, viagem no tempo, desbotados, sombras, sobriedade, aromas, texturas
lisas e ásperas, tramas finas e rudimentares. Tais elementos são referências
plásticas que devem orientar a criação de ambientes cenográficos, indumentária,
maquiagem e objetos de cena num rico equilíbrio com uma iluminação cênica
artesanal e com sugestivas abstrações videográficas, propõe Célio Pontes,
Diretor de Arte.
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