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quinta-feira, 19 de abril de 2018

Teatro em Recife


A ÚLTIMA NOITE DE KAFKA: Direção do consagrado diretor recifense JOSÉ FRANCISCO FILHO; TEXTO de Cláudio Aguiar, em que ele imagina Kafka, na sua última noite de vida, afásico no hospital, mergulhado em alucinações, fazendo um balanço de sua vida num monólogo. O romancista cearense criou, baseado em fatos concretos da existência do autor de A metamorfose, de A colônia penal e outras obras, o drama interno de Kafka...


Luzilá Gonçalves Ferreira escreve sobre o texto BENTO TEIXEIRA de Moisés Neto (apresentado no Teatro de Santa  Isabel em setembro de 2010)

Diário de Pernambuco, 21 de setembro de 2010, Caderno Viver, p. E2)
Um belo final de tarde

Quem lá não esteve não sabe o que perdeu. No Salão Nobre do Teatro de Santa Isabel, que há 160 anos abriga recitais, concertos, para pessoas de bom gosto, em um cenário mínimo, sobre fundo negro, atores vestidos de preto fizeram a leitura dramática do texto teatral que seu autor, Moisés Neto, intitulou simples e modestamente de Bento. Trata-se do julgamento de Bento Teixeira, nosso primeiro poeta, o autor da Prosopopeia, por sua mulher, Filipa Raposa, e pelo representante da Inquisição. Partindo de nosso romance Os rios turvos, Moisés tornou presente o que era apenas palavras, ficção, romance, um trabalho de recriação, de criação, um belo, inteligente e muito pessoal documento dramático, pelo qual a autora do romance é agradecida.
Antes e após as leituras, fundo musical, antigas melodias judaicas. Os atores sob a direção de José Francisco Filho, instalados, em pequenas mesas, para Bento e Filipa, sobre um imponente púlpito, para o representante do Grande Inquisidor, nos proporcionaram um raro momento de doação deles mesmos, no profissionalismo, na emoção transmitida. Stella Maris, uma das ótimas atrizes que o Recife possui, foi uma forte personificação de Filipa Raposa, na perfeita dicção, na entonação, na economia e precisão dos gestos. O Grande Inquisidor, vivido por George Meirelles tornou nossas as acusações a Bento, na força e na convicção com que atacou, culpabilizou, humilhou, ironizou o autor da Prosopopeia. De Germano Haiut, o que dizer? "Une bête de théâtre", diriam os franceses, um bicho de teatro, um imenso, enorme talento que nos comoveu (vi lágrimas em alguns olhos), vivendo Bento Teixeira diante de nós, um pequeno judeu levado a abjurar de sua própria fé.
Esse esforço de criatividade de produtores, atores, autores, com que a Prefeitura do Recife congregou oficinas, várias leituras dramáticas comemorando os 160 anos do teatro sob a coordenação de Lucia Machado, não deve se encerrar aqui. Sugerimos sua reedição em locais e datas outras. E com relação a Bento, recado para Antônio Campos, Eduardo Cortes e Mário Helio - sua reapresentação na Fliporto deste ano, dedicada à literatura de cunho judaico.
                                                 
   Luzilá Gonçalves Ferreira





Coluna dia a dia, JORNAL DO COMMERCIO
(Recife, 16 de setembro de 2010, Caderno C, p.3):


Teatro Nosso
Os veteranos atores Stella Maris Saldanha, Germano Haiut e George Meireles dão via aos personagens do texto inédito Bento, do pernambucano Moisés Neto, que será apresentado no Salão nobre do teatro de Santa Isabel. Atualmente, Moisés Neto é o dramaturgo com textos mais montados no Recife.



Bento

SINOPSE DO TEXTO "BENTO" - O judeu Bento Teixeira Pinto é autor do poema épico Prosopopeia (publicado em 1601, um ano após a morte do autor, trata da glória da família Albuquerque em Olinda e dá início à Literatura Barroca no Brasil). No final do século XVI, após assassinar a sua esposa, Bento é aprisonado pela Santa Inquisição por práticas judaicas. O texto aborda os últimos dias de Bento num cárcere em Lisboa. O autor inspirou-se no personagem de Filipa Raposa nos moldes em que a recriou a escritora Luzilá Gonçalves Ferreira. O foco da peça se dá no tormento psicológico do assassino que, remoendo tantos horrores, delira e passa por severos interrogatórios. Um drama que envolve paixão e preconceito, bem nos moldes que marcam a dramaturgia do pernambucano Moisés Neto.
DESCRIÇÃO - O projeto  de montagem de Bento propõe um diálogo entre Literatura e História tendo como pano de fundo relatos sobre a vida de Bento Teixeira. As apresentações teatrais acontecerão na Sinagoga Kahal Zur Israel ( ou congregação rochedo de Israel ) que representa um dos marcos mais importantes da presença  Judaica no Brasil por ser a primeira sinagoga oficial dos judeus que habitaram as Américas.
O texto do premiado dramaturgo pernambucano Moisés Neto fala sobre o judeu Bento Teixeira que é autor do poema épico Prosopopeia (publicado em 1601), um ano após a morte do autor,trata da glória da família  Albuquerque em Olinda e dá início à Literatura Barroca no Brasil).No final do século XVI, após assassinar a sua esposa, Bento é aprisionado pela Santa Inquisição por práticas judaicas.O texto aborda os últimos dias de Bento Teixeira num cárcere em Lisboa.O autor inspirou-se no personagem de Filipa Raposa nos moldes em que a recriou a escritora Luzilá Gonçalves Ferreira.O texto trata ainda das questões de gênero, da emancipação feminina.
O Foco da peça se dá no tormento psicológico do assassino que,remoendo tantos horrores, delira e passa por severos interrogatórios. Um drama que envolve paixão e preconceito, bem nos moldes que marcam a dramaturgia do pernambucano Moisés Neto.
As apresentações teatrais de Bento serão de quinta a domingo sendo as récitas nas quintas e sextas direcionadas para alunos da rede pública e da rede particular, ONGs ou projetos sociais que comunguem com a proposta do projeto que é ler a História também como Literatura, ver na Literatura a História se escrevendo.
OBJETIVO GERAL - Realizar a montagem do espetáculo Bento que tem como objetivo discutir as relações de gênero em seu viés sócio-histórico-cultural sob uma ótica calcada nos relacionamentos humanos numa época de intolerância geral como foi a da contrarreforma traçando um paralelo com os relacionamentos humanos atemporais.
Encenar o texto do premiado dramaturgo pernambucano Moisés Neto;
Exibir os novos rumos da dramaturgia nordestina através de um texto elaborado a partir de pesquisas e fundamentado na longa tradição teatral do ocidente;
Difundir a produção teatral pernambucana e a pesquisa de linguagem desenvolvida pelos criadores envolvidos na montagem;
Contribuir para a formação de novas plateias e democratização de apreciação artística, tomando o teatro como agente formador e transformador do ser humano;
Fortalecer a acessibilidade a bens culturais;
Incentivar a reflexão sobre a presença judaica em Pernambuco;
Integrar em uma única atividade Literatura e História.
JUSTIFICATIVA DO PROJETO - A montagem do texto do dramaturgo pernambucano Moisés Neto justifica-se como oportunidade de valorizar a dramaturgia local, proporcionando uma real dicção dos nossos autores locais no sentido de refletir a sensibilidade do povo nordestino através de uma voz poética dramática promovendo o engajamento na dramaturgia nordestina.
A indicação das récitas acontecerem dentro da Sinagoga Kahal Zur Israel que está localizada na atual Rua do Bom Jesus, chamada antigamente de Rua dos Judeus, no Bairro do Recife proporcionará ao público conhecer de perto a história colonial do Recife e a presença judaica na formação histórica do povo brasileiro. É importante lembrar que muitos colonizadores lusos que vieram para o Brasil no início do século XVI eram cristãos novos expulsos de Portugal.
Devido à  tolerância religiosa dos holandeses que dominaram Pernambuco de 1630 a 1654  uma parte seleta de judeus/europeus veio se estabelecer no Brasil. Com a expulsão dos holandeses a sinagoga foi fechada sendo reaberta em dezembro de 2001.
Derrotados na Batalha do Guararapes, as famílias judias retornaram para a Holanda a bordo do navio Valk. O desembarque ocorreu em nova Amsterdã, atual Nova York, onde os judeus formaram a primeira comunidade judaica da América do Norte.
O Judeu Bento Teixeira é autor de Prosopopeia que dá início a literatura barroca no Brasil.
Propor diálogo e reflexão a partir de fatos reais onde o lúdico  é estabelecido pela montagem do texto Bento ,justifica-se como testemunho da sociedade tendo compromisso maior com a fantasia.
Já dizia Aristóteles – “ Com efeito, não diferem o historiador e o poeta por escreverem versos ou prosa ( pois que, bem poderiam ser postas em versos as obras de Heródoto e nem por isso deixariam de ser História, se fossem em verso o que eram em prosa) – Diferem, sim , em que diz um as coisas que sucederam e outro, as que poderiam suceder, propõe Simone Figueiredo.

PROPOSTA CONCEITUAL PARA DIREÇÃO DE ARTE - Amor, paixão, medo, intolerância, religiosidade, perseguição, crime, castigo, tortura, prisão, loucura, ilusão, poesia. Alguns dos atributos revelados na expressiva dramaturgia de Moisés Neto para BENTO remete, inicialmente, a uma garrafa lançada ao mar do tempo, ao mar da História.
Apesar de tempo e espaço delimitados no Recife dos seiscentos, provoca sensações, atemporalidades de um não-lugar. A prisão como signo é a arena onde relações de poder se recriam numa imbricada triangulação de ricas personas que promovem o encontro com o autoconhecimento, perseguido por Bento Teixeira (Germano Haiut), com uma perturbadora projeção onírica de Felipa Raposa (Stella Maris), num feliz contraste com um opressor Oficial da Inquisição (George Meireles).

Elementos postos, a encenação de José Francisco Filho define pontos de partida para um  espetáculo imersivo, com ambiência que concentra energias ancestrais dos judeus da Sinagoga Kahal Zur Israel. E com interpretações realistas que primam por uma verossimilhança sensorial, envolvendo o público numa atmosfera de enlevamento.
Contrastes. Claro e escuro, sujo e limpo, claridades e penumbras, viagem no tempo, desbotados, sombras, sobriedade, aromas, texturas lisas e ásperas, tramas finas e rudimentares. Tais elementos são referências plásticas que devem orientar a criação de ambientes cenográficos, indumentária, maquiagem e objetos de cena num rico equilíbrio com uma iluminação cênica artesanal e com sugestivas abstrações videográficas, propõe Célio Pontes, Diretor de Arte.









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