Retórica
Gil Vicente, da série Inimigos, autorretrato matando LULA 2005
Queridas companheiras e
queridos companheiros...
Eu
não sei se esse som aumenta um pouquinho mais, porque isso facilitaria minha
voz já rouca.
Querido
companheiro Vagner [Freitas], presidente da CUT, querido companheiro Aloízio
Mercadante, ex-senador, ex-deputado federal, ex-ministro da Ciência e
Tecnologia, ex-ministro da Educação, ex-ministro da Casa Civil da presidenta
Dilma... porra, se eu tivesse tantos títulos assim, eu seria presidente da
República.
Companheiro
Guilherme Boulos, nosso companheiro que está iniciando uma jornada sendo
candidato a presidente da República pelo PSOL, mas é um companheiro da mais
alta qualidade, que vocês têm que levar em conta a seriedade desse
menino.
Eu
digo ‘menino’ porque ele só tem 35 anos de idade, e, quando eu fiz a greve de
78, eu tinha 33 anos de idade e consegui, através da greve, chegar a criar um
partido e virar presidente. Você tem futuro, meu irmão, é só não desistir
nunca.
Quero
cumprimentar essa garota, essa garota bonita, garota militante do PC do B, que
também está fazendo a sua primeira experiência como candidata a presidenta da
República pelo PC do B --e que eu acho um motivo de orgulho e uma perspectiva
de esperança para esse país ter gente nova se dispondo a enfrentar a negação da
política, assumindo a política e dizendo: ‘nós queremos ser presidente da
República para mudar a história do país’.
Quero
agradecer a companheira dessa mulher, possivelmente a mais injustiçada das
mulheres que um dia ousaram fazer política nesse país. A injustiçada pelo jeito
de governar, acusada de não saber conversar, acusada de não saber fazer
política... Mas eu quero ser testemunha de vocês: a Dilma foi a pessoa que me
deu a tranquilidade de fazer quase tudo o que eu consegui fazer na Presidência
da República pela confiança, pela seriedade e pela qualidade e competência
técnica da Dilma.
Eu
sou grato, grato de coração, porque não teria sido o que foi se não fosse a
companheira Dilma. Portanto, Dilma, você sabe que eu serei profundamente, para
o resto da vida... repartirei o meu sucesso na Presidência com Vossa
Excelência, independentemente do que aconteça nesse mundo.
Quero
cumprimentar o meu querido companheiro Fernando Haddad. Ele viveu o melhor
período de investimento na educação brasileira nesse país.
Quero
cumprimentar o meu companheiro Celso Amorim, o companheiro que certamente foi
mais importante ministro das Relações Exteriores que esse país já teve, que colocou
o Brasil como protagonista mundial durante todo o nosso governo.
Quero
parabenizar o nosso companheiro Ivan Valente, deputado pelo PSOL, companheiro
que está aqui. Quero cumprimentar o nosso valoroso, extraordinário João Pedro
Stédile, presidente coordenador do Movimento Sem Terra.
Quero
cumprimentar, eu não tenho o nome, mas o presidente do companheiro do PSOL, o
Juliano, jovem presidente do PSOL.
Quero
cumprimentar o nosso querido escritor Fernando de Morais, que está escrevendo a
biografia do meu governo --que nunca termina, porra! Eu estou quase para morrer
e ele não termina a minha biografia.
Quero
cumprimentar o nosso querido companheiro Paulo Pimenta, líder do PT, o homem
que tem o blog dos deputados mais importantes de Brasília e o cidadão que
melhor tem enfrentado o Moro e a operação Lava Jato naquilo que são os defeitos
dela. Parabéns, companheiro Pimenta.
Quero
cumprimentar o índio mais esperto do Brasil, o presidente do Piauí, o
governador do Piauí -- o companheiro Wellington [Dias] está cumprindo o
terceiro mandato e, pelo andar das pesquisas, ele está a caminho de cumprir o
quarto mandato como governador do estado do Piauí.
Quero
aqui cumprimentar o companheiro Emídio [de Souza], tesoureiro do PT,
ex-prefeito de Osasco, que tem trabalhado incansavelmente pra gente recuperar o
papel do PT na história deste país.
Quero
cumprimentar o companheiro Orlando Silva, presidente, ou melhor, deputado do PC
do B.
Quero
cumprimentar o nosso companheiro [Edson Carneiro] Índio, que é da Intersindical
-- é um companheiro de muita qualidade.
Quero
cumprimentar o presidente da CTB [Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do
Brasil], que está aqui, o companheiro Adílson [Araújo], que é um companheiro
também muito importante no movimento sindical.
Quero
cumprimentar a nossa companheira Gleisi Hoffmann, a nossa querida presidenta do
nosso partido.
Quero
cumprimentar o companheiro Luiz Marinho, presidente do PT, ministro do
Trabalho, ministro da Previdência. Eu vou contar duas coisas do Marinho. O
Marinho foi catador de algodão, catador de café e catador de amendoim em Santa
Fé. O Marinho foi pintor na Volkswagen. O Marinho foi presidente deste
sindicato, o Marinho foi presidente da CUT. O Marinho foi certamente o mais
importante ministro de Trabalho do meu governo e foi melhor ministro da
Previdência, que foi ministro que acabou com a fila na Previdência. E o
Marinho foi o melhor prefeito que São Bernardo teve. E agora é o nosso
presidente estadual.
Quero
cumprimentar o nosso senador, nosso querido Lindbergh [Farias] -- grande
Lindbergh, que eu conheci ainda na campanha para derrubar o Collor. Tentei
tirá-lo do PC do B para levar para o PT, mas a minha relação de amizade com o
João Amazonas era tão forte que eu não tive coragem de conversar com ele.
Quero
cumprimentar, aqui -- gente, eu não tenho nome de todo mundo--, eu quero chamar
aqui o Wagner [Santana], presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São
Bernardo e companheiro Moisés [Selerges].
Ah,
é que está ali atrás e eu não estou vendo: o nosso companheiro senador da
república -- não, vereador, mas futuro senador, Eduardo Suplicy. Olha eu não
posso falar que ele teve uma tontura, porque isso não é recomendável para
quem está sendo o candidato, viu? Eu vou dizer que você estava ali sentado conversando
com eleitores, está bem?
Eu
pedi para vir aqui o companheiro de Sergipe, que é o companheiro
vice-presidente do PT que tem a incumbência de coordenar as caravanas da
cidadania por todo o território nacional e vocês têm acompanhado pela internet
o companheiro Márcio [Macedo].
Eu
pedi para vir aqui dois sindicalistas porque eu nasci nesse sindicato. Quando
eu cheguei aqui, esse sindicato era um barraco. Esse prédio foi construído já
na nossa diretoria. Aqui, para vocês saberem, eu fui diretor de uma escola de
madureza que tinha 1.800 alunos. Vocês pensam que eu sou só torneiro mecânico?
Pode dizer: ‘diretor de escola com 1.800 alunos também’.
E
a minha relação com esse sindicato... aqui está o Paulão, que é vice-presidente
do sindicato e é presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos e é da
secretaria do movimento sindical do PT. Eu não tenho nome de nada, estou
chutando de improviso o que eu estou vendo.
Mas
eu queria aproveitar, Wagner, a tua presença aqui, para que esse pessoal
soubesse que, na minha consciência, parte das conquistas da democracia
brasileira a gente deve a este sindicato dos metalúrgicos a partir de 1978.
Aqui
foi a minha escola, aqui eu aprendi sociologia, aprendi economia, aprendi
física, química e aprendi a fazer muita política porque, no tempo que eu era
presidente deste sindicato, as fábricas tinham 140.000 professores que me
ensinavam como fazer as coisas.
Toda
vez que eu tinha dúvida, eu ia na porta da fábrica perguntar para a
peãozada como fazer as coisas nesse país. Na dúvida, não erre. Na dúvida,
pergunte. E se você perguntar, a chance de você acertar é muito maior.
E
o Wagner é o companheiro que está cedendo este prédio pra gente fazer toda a
nossa campanha. E quero agradecer ao Moisés. O Moisés é o companheiro do
Wagner, é o diretor financeiro do sindicato e é um companheiro que nunca
se negou a contribuir com o movimento social, a contribuir com outras tarefas
da democracia -- não para partido político, mas para o movimento social. Este
sindicato nunca negou absolutamente nada. Então eu quero uma salva de palmas
para esses companheiros que são um sustentáculo da nossa luta.
Este
sindicato, diferente de outros sindicatos, tem quase 283 diretores. Para
ser diretor deste sindicato, as pessoas têm que ser eleitas pelo chão da
fábrica, pra um comitê. Se não tiver no chão da fábrica, não é eleito. E depois
de eleito no membro do comitê, se escolhe os que vão ser diretores do
sindicato. E tem a diretoria executiva, mas tem 283 pessoas que são diretores e
que são conselheiros. Se a gente fizesse isso em todo sindicato do Brasil,
certamente a gente teria muito menos pelego no movimento sindical brasileiro.
Eu
fiz questão de citar eles porque às vezes o cara compra o alimento, lava o
alimento, cozinha o alimento, leva pra gente comer e a gente sai sem saber quem
nutre o alimento. Então foi esses guerreiros aqui que deram essa possibilidade
extraordinária de a gente estar aqui fazendo isso.
A
segunda coisa é que eu confesso que vivi os meus melhores momentos políticos
nesse sindicato. Eu nunca esqueci a minha matrícula do sindicato: a minha
matrícula é 25986, de outubro, de setembro de 1968.
E
de lá pra cá, eu mantenho uma relação com este sindicato que, eu acho, é a
relação mais forte, porque qualquer presidente tem aqui -- Vicentinho já foi
presidente, Menegueli já foi presidente, Guiba já foi presidente, Zé Nobre já
foi presidente, Feijó já foi presidente, quem mais? O Guiba já falei, agora o
Wagnão. E por todos eles eu sou tratado como se ainda fosse presidente deste
sindicato pela relação que nós ficamos. Mas aqui... o Rafael, foi o penúltimo
presidente aqui.
Eu
queria dizer pra vocês que eu estou contando isso para tentar chegar ao que eu
quero dizer pra vocês. Em 1979, este sindicato fez uma das greves mais
extraordinárias. E nós conseguimos fazer um acordo com a indústria
automobilística que foi talvez o melhor.
E
eu tinha uma comissão de fábrica com 300 trabalhadores, o acordo era bom e eu
resolvi levar o acordo para a assembleia. E resolvi pedir para a comissão de
fábrica ir mais cedo para conversar com a peãozada. E eu fazia assembleia de
manhã pra evitar que o pessoal bebesse um pouquinho à tarde. Porque quando a
gente bebe um pouquinho, a gente fica mais ousado. Mesmo assim, não evitava
porque o cara levava litro de conhaque dentro da mala e eu ainda passava e
tomava uma dosezinha pra garganta ficar melhor, coisa que não aconteceu hoje.
Pois
bem, nós começamos a colocar o acordo em votação e 100 mil pessoas no estádio
da Vila Euclides não aceitavam o acordo. Era o melhor possível: a gente não
perdia dia de férias, a gente não perdia 13º salário e tinha 15% de aumento,
mas a peãozada estava tão radicalizada que queria 83 ou nada -- e nós
conseguimos.
Passamos um ano sendo chamados de pelegos pelos trabalhadores, a gente, Guilherme, ia na porta de fábrica, a peãozada...
Passamos um ano sendo chamados de pelegos pelos trabalhadores, a gente, Guilherme, ia na porta de fábrica, a peãozada...
Oh,
Jorge Viana, está aqui o meu querido senador do Acre, que eu não vi -- ele é
baixinho. Nosso querido companheiro, foi governador, prefeito, agora é senador
do Acre. Obrigada pela presença.
Olha,
para falar em nome dos artistas daqui, para citar todos, eu queria que o nosso
Osmar Prado viesse aqui. Ele é o decano.
Olha,
tem muita gente aqui. E tem a mulherada do Pará, a mulherada do Pará também
está aqui.
Mas
eu citei Osmar Prado porque o Osmar Prado é um artista de uma qualidade
irrepreensível. O que Deus não deu de tamanho para ele, deu de inteligência e
de capacidade artística. E ele já fez papéis extraordinários, mas tem um que eu
nunca esqueço, que ele era motorista e era tratado como se fosse chamado de
Tabaco, e o Tabaquinho marcou a minha vida. E eu fico mais feliz porque ele tem
uma posição política extraordinária.
E eu acho que esse aqui tem lado, esse tem lado e é com essa essa gente que a gente vai construir a nova política deste país.
E eu acho que esse aqui tem lado, esse tem lado e é com essa essa gente que a gente vai construir a nova política deste país.
[Osmar Prado pede o
microfone]
Posso dizer uma coisinha sobre o Tabaco? Olha, o Tabaco tinha três mulheres --e ainda o que tinha por fora, aí eu pedi ao autor que desse o final do Tabaco, ele sendo traído -- porque todo traidor um dia é traído. E aí aparece a mulher do Tabaco, com uma penca de filho, grávida -- e eu digo: ‘mulher como é que você está grávida? Faz mais de um ano que eu não vou lá’
Posso dizer uma coisinha sobre o Tabaco? Olha, o Tabaco tinha três mulheres --e ainda o que tinha por fora, aí eu pedi ao autor que desse o final do Tabaco, ele sendo traído -- porque todo traidor um dia é traído. E aí aparece a mulher do Tabaco, com uma penca de filho, grávida -- e eu digo: ‘mulher como é que você está grávida? Faz mais de um ano que eu não vou lá’
[Lula continua]
Isso é vingança das mulheres, vingança. Porque o homem pensa que só ele é esperto, mas as mulheres também são espertas.
Isso é vingança das mulheres, vingança. Porque o homem pensa que só ele é esperto, mas as mulheres também são espertas.
Então,
companheiros e companheiras, nós conseguimos...
[Lula interrompe para
pedir que socorram uma pessoa que passa mal no chão]
Mas
eu ia dizendo pra vocês que nós não conseguimos aprovar a proposta que eu
considerava boa, e o pessoal então passou a desrespeitar a diretoria do
sindicato. E eu ia na porta da fábrica e ninguém parava, e a imprensa escrevia:
‘Lula fala para os ouvidos moucos dos trabalhadores’.
Nós
levamos um ano para recuperar o nosso prestígio na categoria e eu fiquei
pensando com ar de vingança: os trabalhadores dizem que podem fazer 100 dias de
greve, 400 dias de greve, que eles vão até o fim, pois eu vou testá-los em
1980.
E
fizemos a maior greve da nossa história: a maior greve, 41 dias de greve. Com
17 dias de greve, eu fui preso, e os trabalhadores começaram, depois de alguns
dias, a furar a greve. E nós então... eu sei que o Tuma, eu sei que o
doutor Almir, eu sei que doutor Vilela iam dentro da cadeia e falavam para mim:
‘você tem que acabar com a greve’, e eu dizia ‘eu não vou acabar com a greve;
os trabalhadores vão decidir por conta própria’.
O
dado concreto é que ninguém aguentou 41 dias, porque, na prática, o companheiro
tinha que pagar leite, tinha que pagar conta de luz, tinha que pagar gás. A
mulher passou a cobrar dele o dinheiro do pão, ele então começou a sofrer
pressão, não aguentou.
Mas
é engraçado porque, na derrota, a gente ganhou muito mais, sem ganhar
economicamente, do que quando a gente ganhou economicamente.
Significa
que não é dinheiro que resolve o problema de uma greve. Não é 5%, não é 10%, é
o que está embutido de teoria política, de conhecimento político e de tese
política numa greve.
Agora,
nós estamos quase que na mesma situação, eu estou sendo processado e eu tenho
dito claramente: o processo do meu apartamento, eu sou o único ser humano que
sou processado por um apartamento que não é meu.
E
ele sabem que O Globo mentiu quando disse que era meu. A Polícia Federal da
Lava Jato, quando fez o inquérito, mentiu que era meu. O Ministério Público,
quando fez a acusação, mentiu dizendo que era meu. E eu pensei que o Moro
ia resolver, e ele mentiu dizendo que era meu. E me condenou a nove anos de
cadeia.
É
por isso que eu sou um cidadão indignado. Porque eu já fiz muita coisa nos meus
72 anos, mas eu não os perdoo por ter passado para a sociedade a ideia de que
eu sou um ladrão.
Deram
a primazia dos bandidos fazerem um Pixuleco pelo Brasil inteiro. Deram a
primazia dos bandidos chamarem a gente de Petralha. Deram a primazia de criar
quase que um clima de guerra negando a política nesse país.
Eu
digo todo dia: nem um deles tem coragem ou dorme com a consciência tranquila da
honestidade, da inocência, que eu durmo. Nem um deles.
Eu
não estou acima da Justiça. Se eu não acreditasse na Justiça, eu não tinha
feito um partido político. Eu tinha proposto uma revolução nesse país.
Mas
eu acredito na Justiça, numa Justiça justa, numa Justiça que vota um processo
baseado nos autos do processo, baseado nas informações das acusações, das
defesas, na prova concreta que tem a arma do crime.
O
que eu não posso admitir é um procurador que fez um PowerPoint e foi para a
televisão dizer que o PT é uma organização criminosa que nasceu para roubar o
Brasil e que o Lula, por ser a figura mais importante desse partido, o Lula é o
chefe. E, portanto, se o Lula é o chefe, diz o procurador: “Eu não preciso
de provas, eu tenho convicção”.
Eu
quero que ele guarde a convicção dele para os comparsas deles. Para os asseclas
deles, e não para mim. Não para mim. Certamente um ladrão não estaria exigindo
provas. Estaria de rabo preso, com a boca fechada, torcendo para a imprensa não
falar o nome dele.
Eu
tenho mais de 70 horas de Jornal Nacional me triturando. Eu tenho mais de 70
capas de revistas me atacando. Eu tenho mais de milhares de páginas de jornais
e matérias me atacando. Eu tenho mais a Record me atacando. Eu tenho mais a
Bandeirantes me atacando. Eu tenho mais a rádio do interior, a rádio
do [inaudível]. E o que eles não se dão conta é que quanto mais eles me
atacam, mais cresce a minha relação com o povo brasileiro.
Eu
não tenho medo deles. Eu até já falei que gostaria de fazer um debate com o
Moro sobre a denúncia que ele fez contra mim. Eu gostaria que ele me mostrasse
alguma coisa de prova. Eu já desafiei os juízes do TRF-4. Que ele fosse para um
debate na universidade que ele quiser, no público que ele quiser, provar qual é
o crime que eu cometi nesse país.
E
eu às vezes tenho a impressão, e tenho porque sou um construtor de
sonho... Eu, há muito tempo atrás, eu sonhei que era possível governar
esse país envolvendo milhões e milhões de pessoas pobres na economia,
envolvendo milhões de pessoas nas universidades, criando milhões e milhões de
empregos nesse país.
Eu
sonhei, eu sonhei que era possível um metalúrgico sem diploma de universidade,
cuidar mais da educação do que os diplomados e concursados que governaram esse
país.
Eu
sonhei que era possível a gente diminuir a mortalidade infantil levando leite,
feijão e arroz para que as crianças pudessem comer todo dia. Eu sonhei que era
possível pegar os estudantes da periferia e colocar nas melhores universidades
desse país. Para que a gente não tenha juiz e procurador só da elite.
Daqui
a pouco nós vamos ter juízes e procuradores nascidos na favela de Heliópolis,
nascido em Itaquera, nascido na periferia. Vamos ter muita gente dos Sem Terra,
do MTST, da CUT formado. Esse crime eu cometi.
Eu
cometi esse crime que eles não querem que eu cometa mais. É por conta desse
crime que já tem uns dez processos contra mim. E se for por esses
crimes, de colocar pobre na universidade, negro na universidade, pobre
comer carne, pobre comprar carro, pobre viajar de avião, pobre fazer sua
pequena agricultura, ser microempreendedor, ter sua casa própria, se esse é o
crime que eu cometi, eu quero dizer eu vou continuar sendo criminoso nesse
país porque vou fazer muito mais. Vou fazer muito mais.
Companheiros
e companheiras, eu, em 1990, em 1986, eu fui o deputado constituinte mais
votado na história do país. E nós ficamos descobrindo que dentro do PT,
Manuela, companheiros, o Ivan era do PT na época, havia uma desconfiança que só
tinha poder no PT quem tinha mandato.
Quem
não tivesse mandato era tido... Eu não citei o senador Humberto Costa que eu vi
aqui, Humberto Costa senador de Pernambuco, eu esqueci de citar para vocês.
Ninguém me deu nominata. A Fátima [Bezerra] é do Rio Grande do Norte, ela será
a futura governadora do Rio Grande do Norte. Esse aqui, junto com Paulo Pimenta,
é o companheiro que mais briga e mais denuncia a Lava Jato. O
[Miguel] Rossetto foi ministro do Trabalho e da Previdência e talvez será
o governador do Rio Grande do Sul nessas eleições agora.
Está
aqui nossa companheira Jandira Feghali que é uma companheira
extraordinariamente combativa, tá? O Glauber Rocha... É Braga, é Braga. Alguém
prepara uma nominata para mim que eu vou citando as pessoas.
Então, companheiros,
quando eu percebi que o povo desconfiava que só tinha valor no PT quem era
deputado, Manuela e Guilherme, sabe o que eu fiz? Deixei de ser deputado.
Porque eu queria provar ao PT que eu ia continuar sendo a figura mais
importante do PT sem ter mandato. Porque se alguém quiser ganhar de mim no PT,
só tem um jeito, é trabalhar mais do que eu e gostar do povo mais do que eu.
Porque se não gostar, não vai ganhar.
Pois
bem, nós agora estamos num trabalho delicado. Eu talvez viva o momento de maior
indignação que um ser humano vive. Não é fácil o que sofre a minha família. Não
é fácil o que sofrem os meus filhos. Não é fácil o que sofreu a Marisa.
E
eu quero dizer que a antecipação da morte da Marisa foi a safadeza e a
sacanagem que a imprensa e o Ministério Público fizeram contra ela. Tenho
certeza. Porque essa gente eu acho que não tem filho, eu acho que não tem alma
e não tem noção do que sente uma mãe e um pai quando vê um filho massacrado,
quando vê um filho sendo atacado. E eu então, companheiros, resolvi levantar a
cabeça.
Não
pensem que eu sou contra a Lava Jato não. A Lava Jato se pegar bandido, tem que
pegar bandido mesmo, que roubou, e prender. Todos nós queremos isso. Todos nós
a vida inteira dizíamos, só prende pobre, não prende rico. Todos nós dizíamos.
E eu quero que continue prendendo rico. Eu quero.
Agora,
qual é o problema? É que você não pode fazer julgamento subordinado à
imprensa. Porque no fundo, no fundo, você destroi as pessoas na sociedade, na
imagem das pessoas, e depois os juízes vão julgar e falam “Eu não posso ir
contra a opinião pública porque a opinião pública está pedindo pra cassar”.
Quem
quiser votar com base na opinião pública, largue a toga e vá ser candidato a
deputado. Escolha um partido político e vá ser candidato. Ora, a toga é um
emprego vitalício. O cidadão tem que votar apenas com base nos autos do
processo. Aliás, eu acho que ministro da Suprema Corte não deveria dar
declaração de como vai votar. Nos Estados Unidos, termina a votação e você não
sabe o que o cidadão votou exatamente para que ele não seja vítima de
pressão.
Imagina
um cara ser acusado de suicídio e não tenha sido ele o assassino. O que que a
família do morto quer? Que ele seja morto, que ele seja condenado. Então o juiz
tem que ter, diferentemente de nós, a cabeça mais fria. Mais responsabilidade
de fazer acusação ou de condenar.
O
Ministério Público é uma instituição muito forte, por isso esses meninos, que
entram muito novos, fazem um curso de direito, depois fazem três anos de
concurso, porque o pai pode pagar, esses meninos precisavam conhecer um pouco
da vida, conhecer um pouco de política para fazer o que eles fazem na sociedade
brasileira. Ter uma coisa chamada responsabilidade.
E
não pensem que, quando eu falo assim, eu sou contra. Eu fui presidente e
indiquei quatro procuradores. E fiz discurso em todas as posses. E eu
dizia: quanto mais forte for a instituição, mais responsáveis os seus
membros têm que ser. Você não pode condenar a pessoa pela imprensa para depois
você julgá-la. Vocês estão lembrados que quando eu fui prestar depoimento lá em
Curitiba eu disse pro Moro: você não tem condições de me absolver porque a
Globo está exigindo que você me condene e você vai me condenar.
Pois
bem, eu acho que tanto o TFR-4 quanto o Moro, a Lava Jato e a Globo, elas têm
um sonho de consumo. O sonho de consumo é que, primeiro, o golpe não terminou com
a Dilma. O golpe só vai concluir quando eles conseguirem convencer que o Lula
não possa ser candidato a presidente da República em 2018.
Eles
não querem, não é porque eu vou ser eleito, eles não querem que eu participe
apenas porque tem a possibilidade de cada um de nós se eleger. Eles não querem
o Lula, eles não podem [inaudível] que pobre na cabeça deles [inaudível]. Pobre
não pode andar de avião, pobre não pode fazer universidade, pobre nasceu,
segundo a lógica deles, de comer e ter coisa de segunda categoria.
O
sonho de consumo deles é a fotografia do Lula preso. Ah, eu fico imaginando a
tesão da Veja colocando a capa minha preso. Eu fico imaginando a tesão da Globo
colocando a fotografia minha preso. Eles vão ter orgasmos múltiplos.
Eles
decretaram a minha prisão. E deixa eu contar uma coisa pra vocês. Eu vou
atender o mandado deles. E vou atender porque eu quero fazer a transferência de
responsabilidade. Eles acham que tudo o que acontece nesse país, acontece por
minha causa. Eu já fui condenado a três anos de cadeia. [Corte no vídeo]
chegando a hora de a onça beber água e os camponeses mataram o fazendeiro e
eles acham que essa frase minha era a senha.
O
que eu quero transferir de responsabilidade? Eles já tentaram me prender por obstrução
de justiça, não deu certo. Eles agora querem me pegar numa prisão preventiva,
que é uma coisa mais grave, porque não tem habeas corpus. O Vaccari já está
preso há três anos, o Marcelo Odebrecht já gastou R$ 400 milhões e não teve
habeas corpus. Eu não vou gastar um tostão.
Mas
eu vou lá com a seguinte crença: eles vão descobrir pela primeira vez o que eu
tenho dito todo dia, eles não sabem que o problema desse país não chama-se
Lula. O problema desse país chama-se vocês, a consciência do povo, o Partido
dos Trabalhadores, o PC do B, o MST, o MTST... Eles sabem que tem muita gente.
E
aquilo que nossa pastora diz, e eu tenho dito todo discurso: não adianta
tentar evitar que eu ande por esse país porque tem milhões e milhões de Lulas,
de Boulos, de Manuela, de Dilmas Rousseff para andar por mim. Não adianta
tentar acabar com as minhas ideias, elas já estão pairando no ar e não tem como
prendê-las. Não adianta tentar parar os meus sonhos porque quando eu parar de
sonhar, eu sonharei pela cabeça de vocês.
Não
adianta achar que tudo vai parar no dia que o Lula tiver infarte. É bobagem
porque o meu coração baterá pelo coração de vocês e são milhões de corações.
Não
adianta eles acharem que vão fazer com que eu pare, eu não pararei porque eu
não sou mais um ser humano. Eu sou uma ideia. Uma ideia misturada com a ideia
de vocês.
E
eu tenho certeza que companheiros como os Sem Terra, MTST, os companheiros da
CUT, do movimento sindical [corte]. E essa é uma prova. Eu vou cumprir o
mandado e vocês vão ter que se transformar, cada um de vocês, vocês não vão
mais chamar Chiquinha, Joãozinho, Zezinho, Robertinho, todos vocês, daqui pra
frente, vão virar Lula e vão andar por esse país.
Vamos
fazer definitivamente uma regulação dos meios de comunicação para que o povo
não seja vítima das mentiras todo santo dia. Eles têm que saber, que vocês,
quem sabe, são até mais inteligentes do que eu, e poderão queimar os pneus que
tanto queima, fazer as passeatas que tanto vocês [inaudível], fazer as
ocupações no campo e na cidade... Parecia difícil a ocupação de São Bernardo e
amanhã vocês vão receber a notícia de que ganharam o terreno que vocês
invadiram.
Portanto
companheiros, eu tive chance agora, eu estava no Uruguai, entre Livramento e
Rivera. E as pessoas diziam assim pra mim: Lula, você dá uma voltinha ali, é só
atravessar a rua, finge que você vai comprar um “uisquizinho”, você está no
Uruguai junto com Pepe Mujica e vai embora e não volta mais e pede asilo
político. Ô Lula, você pode ir na embaixada da Bolívia, pode ir na embaixada do
Uruguai. Ô Lula, vai na embaixada da Rússia, vai na embaixada e de lá você pode
ficar falando. E eu falei eu não tenho mais idade.
A
minha idade é enfrentá-los de olho no olho e eu vou enfrentá-los aceitando
cumprir o mandado. Eu quero saber quantos dias eles vão pensar que estão me
prendendo. E quanto mais dias eles me deixarem lá, mais Lula vai nascer nesse
país e mais gente vai querer brigar nesse país porque a democracia não tem
limite, não tem hora pra gente brigar.
Por
isso eu estou fazendo uma coisa muito consciente, mas muito consciente. Eu
falei para os companheiros, se dependesse da minha vontade eu não iria, mas eu
vou. Eu vou porque eles vão dizer a partir de amanhã que o Lula está foragido,
que o Lula está escondido. Não, eu não estou escondido. Eu vou lá na barba
deles, para eles saberem que eu não tenho medo, para eles saberem que eu não
vou correr e para eles saberem que eu vou provar a minha inocência. Eles têm
que saber disso, tá?
E
façam o que quiserem, eu vou terminar com uma frase que eu peguei em 1982, com
uma menina de dez anos em Catanduva, que eu não sei quem é. E essa frase não
tem autor. A frase dizia: “Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas,
mas jamais conseguirão deter a chegada da primavera”.
Porque
nós queremos mais casa, nós queremos mais escola, nós queremos menos
mortalidade. Nós não queremos impedir a barbaridade que fizeram com a Marielle
no Rio de Janeiro? Nós não queremos impedir a barbaridade que fazem com meninos
negros na periferia desse país? Não queremos mais que volte a desnutrição, a
mortalidade por desnutrição nesse país. Nós não queremos mais que um jovem não
tenha esperança de entrar na universidade. Porque esse país é tão cretino que
foi o último do mundo a ter uma universidade. O último.Todos os países mais
pobres tiveram. Porque eles não queriam que a juventude brasileira estudasse e
falaram que custava muito fazer escola. E se perguntar quanto custou não fazer
há 50 anos atrás.
Então
eu quero que vocês saibam que eu tenho orgulho, profundo orgulho, de ter sido o
único presidente da república sem ter um diploma universitário, mas sou o
presidente da república que mais fiz universidades na história desse país para
mostrar para essa gente que não confunda inteligência com quantidade de anos na
escolaridade.
Isso
não é inteligência, é conhecimento. Inteligência é quando você sabe tomar
decisão. Inteligência é quando você tem lado. Quando você não tem medo de
descobrir com os companheiros aquilo que é prioridade. E a prioridade desse
país é garantir que esse país volte a ter cidadania.
Não
vão vender a Petrobras. Vamos fazer uma nova Constituinte, vamos revogar a lei
do petróleo que eles estão fazendo. Não vamos deixar vender o BNDES, não vamos
deixar vender a Caixa Econômica, não vamos deixar destruir o Banco do Brasil, e
vamos fortalecer a agricultura familiar que é responsável por 70% do alimento
que comemos nesse país.
É
com essa crença, companheiros, de cabeça erguida, como eu estou falando com
vocês, que eu quero chegar lá e falar para o delegado: estou à sua disposição.
E a história, a história, daqui a alguns dias, vai provar que quem cometeu
crime foi o delegado que me acusou, foi o juiz que me julgou e foi o Ministério
Público que foi leviano comigo.
Por
isso companheiros, eu não tenho lugar no meu coração para todo mundo. Mas eu
quero que vocês saibam, se tem uma coisa que eu aprendi a gostar é da minha
relação com o povo. Quando eu pego na mão de um de vocês, quando eu abraço um
de vocês, quando eu beijo ---porque agora eu beijo homem e mulher igualzinho---
quando eu beijo um de vocês, eu não estou beijando com segundas intenções. Eu
estou beijando porque quando eu era presidente, eu dizia, eu vou voltar para
onde eu vim e eu sei quem são meus amigos eternos e quem são os amigos
eventuais.
Os
de gravatinha, que iam atrás de mim, agora desapareceram. Quem estão comigo são
aqueles companheiros que eram meus amigos antes de eu ser presidente da
República. São aqueles que comiam rabada aqui no Zelão, que comiam frango com
polenta no Demarchi, aqueles que tomavam caldo de mocotó no Zelão. Esses
continuam sendo nossos amigos.
Aqueles
que têm coragem de invadir um terreno para fazer casa. Aqueles que têm coragem
de fazer uma greve contra a Previdência, aqueles que têm coragem de ocupar um
campo para fazer uma fazendo produtiva. Aqueles que, na verdade, precisam do
estado.
Então
companheiros, eu vou dizer uma coisa para vocês, vocês vão perceber que eu
sairei dessa maior, mais forte, mais verdadeiro e inocente porque eu quero
provar que eles é que cometeram o crime. Um crime político, de perseguir um
homem que tem 50 anos de história política. E por isso eu sou muito grato.
Eu
não tenho como pagar a gratidão, o carinho e o respeito que vocês têm dedicado
a mim nesses tantos anos. E quero dizer a você Guilherme e à Manuela que, para
mim, é motivo de orgulho pertencer a uma geração que está no final dela vendo
nascer dois jovens disputando o direito de ser presidente da república desse
país.
Por
isso companheiros, um grande abraço.
Pode
ficar certo, esse pescoço aqui não baixa, a minha mãe já fez um pescoço curto
para ele não baixar e não vai baixar porque eu vou de cabeça erguida e vou sair
de peito estufado de lá porque vou provar a minha inocência.
Um
abraço companheiros, obrigado, mas muito obrigado a todos vocês pelo o que vocês
me ajudaram. Um beijo querido, muito obrigado.
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