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quinta-feira, 19 de abril de 2018

A Selva é um romance escrito por Ferreira de Castro.








A Selva é um romance escrito por Ferreira de CastroPublicado pela primeira vez em 1930, A Selva talvez seja a obra mais importante do autor. O entrecho se resume no seguinte: Alberto, português e estudante de Direito de 26 anos, é obrigado, por causa de suas ideias políticas, a eimigrar para Belém do Pará. Depois de morar com seu tio algum tempo, embrenha-se na floresta amazônica a fim de viver como seringueiro. E no seringal "Paraíso", às margens do Rio Madeira, vive uma série de aventuras propiciadas pela mata virgem e pelo açodamento (precipitação descuidada) do sexo.

Ferreira de Castro
José Maria Ferreira de Castro (Ossela, Oliveira de Azeméis, 24 de Maio de 1898 — Porto, 29 de Junho de 1974) foi um escritor português, que aos doze anos de idade emigrou para o Brasil, onde viria a publicar o seu primeiro romance Criminoso por ambição, em 1916.
Aos 12 chega em Belém, depois, durante quatro anos viveu no seringal Paraíso, em plena selva amazónica, junto à margem do rio Madeira. Depois de partir do seringal Paraíso, viveu em precárias condições, tendo de recorrer a trabalhos como, colar cartazes, embarcadiço em navios do Amazonas etc. Volta a Belém, em 1914, e inicia aqui sua vida literária. Ele mesmo distribuía os fascículos do seu livro. Frequentava o Cinema Olympia e os cafés do centro. Volta a Portugal e em 1926, lança, dentre outros livros, Sangue negro (1923), Emigrantes (1928) e A selva (1930), onde transformou sua em experiência vivida em experiência  imaginada e rememorada, dados concretos surgem modificados pela memória; o fundo verídico dá espaço à criação lierária e a imagem do Brasil é refletida  numa espécie de neorrealismo português que Alves Redol, depois de uma temporada em Luanda,  afirmaria  em 1940, com seu romance Gaibeus.
Mais tarde, em Portugal, foi redactor do jornal O Século, director do jornal O Diabo e colaborador das revistas O domingo ilustrado1 (1925-1927) e Ilustração2 (iniciada em 1926).
Emigrante, homem do jornalismo, mas sobretudo ficcionista, é hoje em dia, ainda, um dos autores com maior obra traduzida em todo o mundo, podendo-se incluir a sua obra na categoria de literatura universal moderna, precursora do neo-realismo, de escrita caracteristicamente identificada com a intervenção social e ideológica.
A exemplo da sua ainda grande actualidade pode referir-se a adaptação ao cinema, com muito sucesso, da obra A Selva.
Pretendemos entrar em contato com aqueles que tiveram acesso à Casa-Museu Ferreira de Castro.
Ferreira de Castro, um dos maiores vultos de sempre da cultura portuguesa, era um trabalhador incansável, na verdadeira acepção do termo.
Obras:
·           Criminoso por Ambição (1916)
·           Alma Lusitana (1916)
·           Rugas Sociais (1917-18)
·           Mas ... (1921)
·           Carne Faminta (1922)
·           O Êxito Fácil (1923)
·           Sangue Negro (1923)
·           A Boca da Esfinge (1924)
·           A Metamorfose (1924)
·           A Morte Redimida (1925)
·           Sendas de Lirismo e de Amor (1925)
·           A Epopeia do Trabalho (1926)
·           A Peregrina do Mundo Novo (1926)
·           O Drama da Sombra (1926)
·           A Casa dos Móveis Dourados (1926)
·           O voo nas Trevas (1927)
·           Emigrantes (1928)
·           A Selva (1930)
·           Eternidade (1933)
·           Terra Fria (1934)
·           Sim, uma Dúvida Basta (1936)- publicado em 1994
·           O Intervalo (1936)- publicado em 1974
·           Pequenos Mundos, Velhas Civilizações (1937)
·           A Volta ao Mundo (1940 e 1944)
·           A Tempestade (1940)
·           A Lã e a Neve (1947)
·           A Curva na Estrada (1950)
·           A Missão (1954)
·           As Maravilhas Artísticas do Mundo (Vol I) (1959
·           As Maravilhas Artísticas do Mundo (Vol II) e 1963)
·           O Instinto Supremo (1968)
·           Os Fragmentos (1974)
Buscas na internet:
·           Ficha no IMDb
·           http://ferreiradecastro.blogspot.com




JOSÉ MARIA FERREIRA DE CASTRO:
UMA VIVÊNCIA DE EMIGRANTE NAS TERRAS DO BRASIL

                                                                 Maria Eva B.K. LETÍZIA

O movimento migratório lusitano com destino ao Brasil independente origens históricas e demográficas


Em Portugal, como em todo o continente europeu, o século XIX caracterizou-se por uma importante subida da população. As taxas de mortalidade diminuíram sensivelmente e a esperança de vida aumentou duma maneira considerável, graças ao progresso nas áreas da saúde pública e da higiene. Assim, desde 1878, o crescimento demográfico tomou uma proporção que podemos classificar como impressionante, se compararmos o número de três milhões e cem mil portugueses residentes no país, por volta de 1820, com o número de cinco milhões quinhentos e quarenta e oito mil moradores permanentes, no território nacional, em 1911, ano em que o adolescente José Maria Ferreira de Castro, natural de Ossela, concelho de Oliveira de Azeméis, Distrito de Aveiro, deixou a sua terra natal para tentar a sorte no Brasil, antiga colônia lusitana no
Novo Mundo, que proclamara a sua Independência a 7 de Setembro de1822.
Numa primeira fase, uma parte da população rural, composta por famílias particularmente numerosas, tentava procurar um emprego assalariado nas grandes cidades, essencialmente em Lisboa ou no Porto, vistas de longe como possíveis Eldorados. Mas, a partir da década de 1860, o fluxo migratório oriundo das camadas camponesas lusitanas começou a dirigir-se para a América, principalmente para o Brasil, país onde os portugueses podiam comunicar, utilizando a sua língua pátria e onde a instrução primária adquirida por alguns desses emigrantes, nos bancos das escolas elementares lusas, podia ser imediatamente aproveitada, nomeadamente no comércio,
proporcionando-lhes melhores oportunidades de vencerem na vida do outro lado do Oceano Atlântico.
Todos os historiadores portugueses concordam com o facto de que o grosso dos emigrantes portugueses no Brasil provinha de Entre-Douro-e-Minho e da Beira Litoral, de que faz parte o já mencionado Distrito de Aveiro. Naquelas duas províncias continentais, o crescimento da população rural tornara-se incompatível com a vontade de preservar as condições de sobrevivência dentro de um mínimo de bem-estar. E isso explica o surto da emigração portuguesa, que, segundo o historiador A.H. de Oliveira Marques, de dez mil indivíduos registrados, em 1886, subiu para cerca de cinquenta mil pessoas, em 1911. Um daqueles cinquenta mil que saíram de Portugal chamava-se Ferreira de
Castro, futuro romancista, cuja obra seria divulgada no mundo inteiro,
através de traduções em trinta e seis línguas estrangeiras...
Obviamente, podemos avaliar que o número acima citado se situe
aquém da realidade, pois os registros distritais não mencionam aqueles que partiram de Portugal clandestinamente, já que não dispunham de
dinheiro para tirar os passaportes nas repartições do Governo Civil de
que dependiam administrativamente.
Diga-se logo que, deixando sair do seu território aquelas levas
de emigrantes que, indubitavelmente, contribuíam para o despovoamento
e a desorganização das suas províncias do interior, o Governo lusitano
vislumbrava uma contrapartida que não podia ser desprezada: tratava-se
do volume de divisas que os emigrados remetiam do Brasil e dos outros
países de emigração para as suas terras, quantias que estimulavam a
economia das regiões e compensavam o défice da balança comercial de
Portugal, que continuava a exportar pouco e a importar muito, do
Estrangeiro.
José Hermano Saraiva e Oliveira Marques consideram as
remessas de emigrantes, oriundas do Brasil, que afluíram a Portugal, no
ano de 1910, a quarta parte das receitas totais do Estado português,
orçando a sua importância em cerca de vinte mil contos de réis.
Frise-se também que as dificuldades económicas que levavam
milhares de indivíduos a deixar o território lusitano tinham as suas causas
na estagnação e na fraqueza do tecido industrial nacional, que não
conseguia sair das fases da oficina artesanal e da pequena manufactura,
assim como na incapacidade secular de desenvolver a agricultura, que
mal dava para o sustento daqueles que residiam no país.
Antes do advento do Liberalismo, costumava falar-se nos laços
feudais que, por assim dizer, tolhiam a actividade dos camponeses como
produtores. Mas, na segunda metade de Oitocentos, os agricultores já
estavam isentos da dízima à Igreja, extinta desde 1834. A sisa tambémficou reduzida a metade e apenas aplicada aos bens de raiz.
Desapareceram igualmente as jeiras, monopólios de fornos e lagares,
relegos, lutuosas, gabelas e todos os pagamentos em benefício do senhor
feudal ou do rei. O Liberalismo aboliu as coutadas e as coudelarias, os
bens da Coroa foram nacionalizados, revertendo para o Estado todas as
terras e todos os direitos pertencentes a comendatários e donatários.
Os morgadios seriam também extintos, desaparecendo, ao mesmo tempo,
numerosas portagens e costumagens que travavam e incidiam sobre o
comércio e a circulação de bens, encarecendo o transporte, agravando
todos os custos, que se repercutiam desastrosamente nos preços
retalhistas.
Por outro lado, os bens fundiários das ordens religiosas extintas
ou expulsas do país foram confiscados pelo Estado e depois revendidos
a pessoas singulares, a quem as leis decretadas, em 1832, por Mouzinho
da Silveira, garantiam, ainda por acima, a liberdade fiscal às terras
arroteadas de novo, por um período de vinte anos.
Os baldios e pousios, mal aproveitados, podiam tornar-se
produtivos, devido ao maior empenho pessoal dos novos proprietários,
enquanto o desenvolvimento dos transportes e das estradas, a partir de
1840, trouxe consigo os alicerces aproveitáveis pelo progresso económico
geral, graças a algumas infra-estruturas modernas. [...]






Análises histórico-sociais dos torna-viagens a partir da literatura portuguesa oitocentista (Historical-social analysis of the travelers from the nineteenth-century from the Portuguese literature)
Ricardo Moreira Figueiredo Filho

Resumo

Esse texto versa sobre a emigração portuguesa rumo ao Brasil e seus retornados “brasileiros” durante a segunda metade do século XIX e início do século XX. Partindo de análises históricas de obras literárias portuguesas referentes ao período mencionado, objetiva-se perceber os motivos do desterro, do retorno, o perfil dos torna-viagem e algumas consequências econômicas e culturais desses processos. Duas obras, com pontos de vista bem distintos em relação aos regressados, são enfatizadas neste estudo: A brasileira de Prazins, de Camilo Castelo Branco e O brasileiro Soares, de Luiz de Magalhães.

Abstract
This article is concerned with the Portuguese emigration to Brazil, focusing on those who returned to Portugal during the second half of the 19th century and the beginning of the 20th century. This study aims to analyze the history of some Portuguese Literature during this time, seeking to understand the emigration causes, the return of the emigrants, the profile of those who returned to Portugal and the economic and cultural consequences of this process. Two novels are emphasized in this research: A Brasileira de Prazins, by Camilo Castelo Branco and O Brasileiro Soares, by Luiz de Magalhães.
Keywords: Homecoming people; Cultural identification; Economic necessities.

Palavras-chave

Retornados; Identificação cultural; Necessidades econômicas.
Durante a segunda metade do século XIX, a emigração portuguesa rumo ao
Brasil promoveu importantes reflexos sociais, políticos e econômicos tanto para o país
de acolhimento quanto para Portugal. O império tropical, após a extinção do tráfico
negreiro em 1850, sob pressão dos cafeicultores do oeste paulista e das ideologias
civilizatórias do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – IHGB –, passou a recrutar
trabalhadores europeus. Os portugueses constituem o segundo maior grupo de
imigrantes registrados no país entre 1881 e 1930, chegando a trezentos mil lusitanos,
cifra inferior apenas à dos italianos. (FAUSTO, 1998, p.275)
Deixar a família, os amigos, as paisagens da infância, os perfumes constituídos
em memórias e se lançar à viagem atlântica, no caso português, foi impulsionado,
principalmente, por interesses e ou necessidades econômicas2. A industrialização
falhada e os privilégios singulares concedidos pelos governos lusitanos oitocentistas a
algumas famílias e grupos sociais, juntamente com a lentidão das inovações agrícolas,
os baixos salários, o peso dos tributos e encargos hipotecários, limitaram o
aburguesamento dos campos. (MARTINS, 1956, p.108) O que, somado ao ataque da
filoxera3, intensificou a dependência econômica e a emigração para o Brasil, a qual
funcionou como válvula de escape para as pressões sociais internas. (FIGUEIREDO,
2005, p.87) Segundo Castro:
Em todas as aldeias próximas, em todas as freguesia das redondezas, havia o
mesmo anseio de emigrar, de ir em busca de riqueza e continentes
longínquos. Era um sonho denso, uma ambição profunda que cavava nas
almas, desde a infância à velhice. O ouro do Brasil fazia parte da tradição e
tinha prestígio duma lenda entre aqueles povos rudes e simples. [...] Palavra
mágica, o Brasil exercia ali um perene sortilégio e só a sua evocação era
motivo de visões esplendorosas, opulência deslumbrante e vidas libertas.
Sujeitos ao ganha-pão diário, sofrendo existência mesquinha, os lugares
sonhavam redimir-se, desde as veigas em flor ao dorso das serranias, pelo
ouro conquistado no país distante. (CASTRO, 1945, p.30-31)
Apesar de se encontrarem um pouco por várias partes do país, os portugueses se
concentraram no Pará, em São Paulo e, especialmente, na cidade do Rio de Janeiro,
onde minhotos já exerciam forte influência sobre os mercados da capital, tendo
influenciado inclusive a fala carioca. Segundo Chalhoub, a análise do censo de 1890
mostra que os imigrantes lusitanos chegaram a representar 20% da população local.
(CHALHOUB, 1986)
Esses imigrantes preferiam os centros urbanos às áreas rurais, acreditando que
naqueles seria possível realizar seus desejos de autonomia e enriquecimento. Entretanto,
essas expectativas, na maioria das vezes, foram frustradas. Embora muitos emigrados
tivessem como patrões seus próprios parentes ou conterrâneos, donos de comércios e
gerentes, a exploração foi excessiva, como relata Ribeiro,
2 Os fluxos emigratórios foram constituídos prioritariamente por jovens do sexo masculino, advindos do
Minho, da Beira-Alta e da Estremadura, que após anos de trabalho, sonhavam em regressar enriquecidos
e influentes para sua Lusitânia ou, pelo menos, em melhores condições de vida. (MARTINS, 1956, p.48)
3 Filoxera (Daktulosphaira vitifoliae) é o nome comum de um inseto – hemíptero da família
Phylloxeridae – que, a partir do último quartel dos Oitocentos, se constituiu como a praga mais
devastadora dos vinhedos portugueses.
acordar às 5 horas no verão, e às 6 horas no inverno, ou às 4 horas, no caso
dos caixeiros dos secos e molhados, bem como o cerrar as portas às 10 horas
da noite, que incentivou alguns caixeiros a reunirem-se e formarem as
primeiras associações. Desde então começaram a brigar pelo fechamento das
portas aos domingos, só efetivamente conquistado em 1911, ao menos de
acordo com a letra da lei. (RIBEIRO, 1990, p.42)
Embora a cidade do Rio de Janeiro tenha se tornado atrativa aos imigrantes
portugueses, esses aceitavam salários “exíguos que em seu Portugal jamais pensaram
em aceitar. Por isso, começaram a ser chamados de galegos por seus próprios
patrícios4.” (RIBEIRO, 1990, p.17)
O trânsito de pessoas, hábitos, bens materiais, saberes e culturas ajudaram a
formar características identitárias específicas de um lado e do outro do Atlântico.
Dentro desses contextos, alguns portugueses nunca voltaram, outros apenas a passeio e
um terceiro grupo, após muito esforço e saudades, regressou para sua terrinha, não
havendo uma correspondência linear referente à proporção de riquezas acumuladas.
Segundo as condições materiais e a linguagem popular do final do século XIX e início
do século XX, “uns voltaram ‘brasileiros’, os que ‘vinham’5 com uma riqueza assinável,
outros (menos afortunados) apenas ‘abrasileirados.’” (ALVES, 1994, p.258 – Grifos do
autor)
Os brasileiros, com sotaque na fala, indumentados com calças brancas, casaco de
canga, chapéu de Chili e anel de brilhantes, entre 1860 e 1920, época em que mais se
percebeu sua influência, promoveram consideráveis mudanças arquitetônicas na terra
natal de Camões. (ALVES, 1998). A eles, deve-se também, além de parte do
florescimento bancário português do século XIX, o investimento de fluxos monetários
na escolarização, principalmente no âmbito da alfabetização.
Entre os anos de 1863 e 1873, a cidade do Porto se tornou o local de maior
concentração de regressados, tornando-se eles os grandes responsáveis pelo comércio
com o Brasil e ocupando um espaço privilegiado nos quadros de exportações portuenses
só ultrapassado pelo vinho negociado com a Inglaterra. (ALVES, 1994, p.248) Dessa
forma, com as algibeiras a se avolumarem, os retornados formavam uma célula
considerável entre os membros mais influentes da cidade, como pontua Júlio Dinis em
seu romance Uma família inglesa (1986) ao descrever o trânsito familiar do personagem
Carlos Whitestone entre os mais graduados cidadãos da Cidade Invicta6:
Um dos muitos grupos, de que Carlos Whitestone se aproximou, compunhase
das mais graduadas individualidades da Praça. Carlos passou o braço por
cima do ombro de um barão, enfiou o outro no de um capitalista brasileiro, e
cumprimentou familiarmente um velho inglês, que estava na companhia
também. (DINIS, 1986, p.78)
Os retornados enriquecidos chegaram a tornar-se parâmetro de divisão
socioeconômica e urbanística do Porto, pelos hábitos e gostos que, dialeticamente,
constituíram através dos vários anos passados no Brasil. Os torna-viagem eram
percebidos no uso de cores mais claras, como o azul e o amarelo, nas fachadas de suas
moradas, pela presença de plantas tropicais em jardins bem trabalhados e nas varandas
douradas, onde os afortunados podiam se dar ao luxo de exposições embevecidas em
ócio. (SILVEIRA, 1999)
Esta nossa cidade – seja dito para aquelas pessoas, que porventura a
conhecem menos – dividi-se naturalmente em três regiões, distintas por
fisionomias particulares.
A região oriental, a central e a ocidental.
O bairro central é o portuense propriamente dito; o oriental o brasileiro; o
ocidental, o inglês [...].
O bairro oriental é propriamente brasileiro, por mais procurado pelos
Capitalistas, que recolhem da América. Predominam neste umas enormes
moles graníticas, a que chamam palacetes; o portal largo, as paredes de
azulejo – azul, verde ou amarelo, liso ou de relevo; o telhado de beiral azul;
as varandas azuis e douradas; os jardins, cuja planta se descreve com termos
geométricos e se mede a compasso e escala, adornados de estatuetas de louça,
representando as quatro estações; portões de ferro, com o nome do
proprietário e a era da edificação em letras também dourada; abunda a casa
rectangulares e portas góticas, algumas com ameias, e o mirante chinês. As
ruas mais sujeitas à poeira. Pelas janelas quase sempre algum capitalista
ocioso. (DINIS, 1986, p.78)
Desde a década de 1830, de um modo geral, a volta dos emigrados não
ultrapassou os 30% a 50%, havendo um crescente fenômeno de reemigração a partir da
década de 1870, com a banalização das viagens transatlânticas pelo vapor encurtando-as
de 45 para 15 dias. A partir da década de 1890, com a queda do câmbio no Brasil, o
brasileiro, até então, sinônimo de riqueza e pompa, transformou-se em ex-emigrante.

6 A cidade do Porto é conhecida e valorizada pelos portuenses como Cidade Invicta por Napoleão não ter
conseguido tomar essa urbe.

Contudo, essas pessoas, que passaram anos a trabalhar no exílio, arraigaram,
junto a si, além da fama de riqueza, filantropia e poder político, o estereótipo de
ganância, reles e vulgar. Sendo reconhecidos, sócioidentitariamente, como pessoas
grosseiras, a portar roupas lautosas, “pellos nas orelhas, e joanetes – os immensos
joanetes que o Romantismo, de pé pequeno, nunca deixava d´accentuar, com um traço
de sarcasmo e asco. Este boneco por dentro não tinha nada, nem phrases, nem palha”.
(MAGALHÃES, 1886, p.10)
Eça de Queiroz, com sua irônica pena, reforça a estereotipia deselegante e
esnobe do retornado, considerado por ele o homem que
mais evidentemente symbolisava a Acção aos olhos turvos do Romantismo –
era esse labrego (o brasileiro), que, largando a enxada, embarcava para o
Brasil num porão de galera, com um par de tamancos e uma caixa de pinho, -
e annos depois volta de lá, na Mala real, com botas novas de verniz, grisalho
e joncudo, a edificar um palacete, a dar jantares de leitão ao abade, a tramar
eleições a ser barão. (QUEIROZ, 2000, p.7)
O teste probatório: o torna-viagem em “A brasileira de Prazins”
Camilo Castelo Branco (1825-1895) funde em sua obra A brasileira de Prazins
(1975), o paralelismo de sua vida conturbada e do amor por Ana Plácido, a qual
desposou o brasileiro Manuel Pinheiro Alves. Esse paralelismo influenciou o intelectual
português a disseminar o perfil estaparfúdio e endinheirado do regressado, que
carregaria em sua mala, junto aos tostões suados no Brasil, a sede pelo poder, a
abnegação dos valores sensíveis e a ânsia material incontida.
Para Aníbal Pinto de Castro, a literatura camiliana pode ser considerada de
grande relevância para os estudos históricos do presente tema, como se percebe a seguir:
A personagem e a personalidade do brasileiro eram, pois, demasiado
evidentes no tecido da sociedade portuguesa de Oitocentos pra que Camilo,
sempre atento à realidade que o envolvia, lhe ficasse indiferente, como
criador de ficção. E não admira, por isso, que no seu carácter ficcional (e
apenas dele!) a novela camiliana tenha um valor probatório, em termos
históricos, quase diria tão importante como os documentos que se guardam
nos arquivos. (CASTRO apud ALVES, 1998, p.200)
Para Saraiva e Lopes (1989), embora A brasileira de Prazins não transpareça
claramente o intuito de seguir a corrente naturalista, acaba por indicar traços dessa
corrente que Camilo Castelo Branco não subtraiu ao romance. O enredo se baseia no
amor descontente entre Marta de Prazins e o rico herdeiro José Dias, que falece tísico ao
perceber sua mãe impedir os planos de seu casamento. Não agradava à progenitora
compactuar com a união do filho com uma rapariga de condição social subalterna. Já
Simeão, pai de Marta, homem de ganância incontida, impeliu a filha, em seu leito de
morte, a prometer união matrimonial ao tio Feliciano Rodrigues Prazins, rico e recémregressado
de Pernambuco.
Assim, a jovem comprometida, em luta com seus sentimentos e valores,
impulsionada por uma paixão idealizada pelo já falecido José Dias, entregou-se à
loucura e à epilepsia, enquanto o marido, cada vez mais avarento, continuou a conter
despesas e a acumular fortuna. Para Branco, ele fazia “operações aritméticas em voz
alta como os velhos poetas inspirados faziam madrigais numa declaração rítmica ao ar
livre e ao luar. O certo é que ninguém o apanhava em intervalo escuro para o defraudar
um vintém.” (BRANCO, 1975, p.15)
O Feliciano é o homem mais rico destes arredores, e vivem como os
cabaneiros, de caldo e pão de milho. Ele, quando vai ao Porto recebe um
alqueire de soberanos que lhe vem do Brasil todos os anos, vai a pé, e mete
ao bolso uma côdeas de broa e quatro maçãs para não ir à estalagem.
(BRANCO, 1975, p.15)
Ainda como caricaturização aviltante do brasileiro, o autor reforça seus traços de
mesquinhez, sovinice e quase assexualidade, construindo um personagem que se
preocupa apenas em economizar e enriquecer.
Muito míope, usava de monóculo redondo num aro de búfalo barato. Como
era econômico até à miséria, dizia-se em Pernambuco que o Feliciano usava
um vidro só para não comprar dois; e que, se pudesse, venderia um olho
como coisa inútil. Com a economia e o trabalho bem propiciado em trinta
anos arredondara trezentos contos. Chegara aos quarenta e sete, ao outono da
vida, sem ter amado. Nunca se conspurcara nos latíbulos da Vênus
vagabunda. A sua virgindade era admirada e notória [...] para ser rico não
tinha precisão de mulher, que vira algumas meninas pobres a namorá-lo; mas
que desconfiara que lhe namorassem o seu dinheiro. Não tinha queda para o
sexo, que ele dizia seixo. “Não me deleitam os homens, não tão-pouco as
mulheres.” (BRANCO, 1975, p.147)
E no contínuo esforço de denegrir o brasileiro Manuel Alves, na voz do vigário
de Caldelas, Camilo finda sua novela, alfinetando-o.
Aí tem o brasileiro de Prazins, se nunca o viu – dizia-me há três meses o
padre Osório mostrando-me no mercado de Famalicão um velho escanifrado,
muito escanhoado, direito, com o monóculo fixo, vestido de cotim, com um
guarda-pó sujo, esfarpelado na abotoadura, e uma chibata de marmelo com
que sacudia a poeira das calças arregaçadas.
Tem oitenta e quatro anos – continuou o vigário de Caldelas –, veio a pé de
sua casa, que dista daqui légua e meia, janta um vintém de arroz, bebe outro
vintém de vinho, tem quinhentos contos, e volta pra casa a pé, através ou
pouco menos das suas catorze quintas. Com a frugalidade, com o exercício e
com o seu egoísmo sórdido viverá ainda muito tempo, porque o velho
Alexandre Dumas disse que os egoístas e os papagaios viviam cento e
cinquenta anos. (BRANCO, 1975, p.149)
Em A brasileira de Prazins, sabendo-se que as generalizações são perigosas e
muitas vezes obtusas, não são consideradas as privações e sacrifícios vividos pelos
brasileiros na ex-colônia portuguesa, além das benesses materiais proporcionadas pelos
mesmos em relação ao país de origem.
Mesmo que a maioria dos emigrantes não tenha voltado enriquecida, não se
pode negar que o pequeno pé-de-meia, além de possibilitar melhorias em suas
residências, investimentos discretos em suas propriedades agrárias, ainda lhes permitia
ostentar um padrão de vida superior à média nacional. Sem mencionar que as remessas
enviadas para os parentes, as doações, os investimentos em capitais da dívida pública, a
negociação de ações e a compra de imóveis para o futuro retorno, transformaram-se em
ações fundamentais para o equilíbrio da balança comercial lusitana, tanto no nível local
como nacional. (ALVES, 1998, p.344-345)
Dispersando a nódoa sovina: “O brasileiro Soares” por Luís de Magalhães
Considerando-se o “truísmo da interdependência estreita existente entre os
estudos literários e as ciências sociais” (SEVCENKO, 1985, p.20), Luís de Magalhães,
em sua obra O brasileiro Soares (1886), tenta humanizar a difundida estereotipia dos
brasileiros, “que apparecia como uma nodoa escandalosa no suave idyllio portuguez!

[...].” (MAGALHÃES, 1886, p.13) Reconhecendo que:
elle, como o seu visinho, é homem, um mero homem, nem ideal nem bestial,
apenas humano: talvez capaz da maior sordidez, e talvez capaz do mais alto
heroísmo: podendo bem usar um horrível collete de seda amarella, e podendo
ter por baixo d´elle o mais nobre, o mais leal coração: podendo bem ser
ignóbil, e podendo, porque não? Ter a grandeza de Marco Aurélio.
(MAGALHÃES, 1886, p.14-15)
Essa análise não reducionista sobre o torna-viagem também é defendida por
Ribeiro (1990) ao elucidar que se, por um lado, os emigrantes lusitanos eram
considerados exploradores, principalmente em relação aos seus empregados, inclusive
portugueses, paradoxalmente, eram postos em relevo e valorizados devido a alguns
traços de suas condutas sociais, como a exaltação do trabalho duro, da disciplina e de
suas crenças cristãs.
No final do século XIX7, a predileção pelo trabalho português no Rio de Janeiro
pode ser retratada a partir de anúncios de empregos que os privilegiavam em
detrimento, principalmente, dos negros egressos da escravidão: “Precisa-se senhora
portuguesa para [...]” ou “Precisa-se moço português, recém-chegado da terra, para [...]
eram a ordem daqueles dias.” (RIBEIRO, 1990, p.46)
O que não garantia, contudo, um salário digno e uma vida decente aos recémchegados
de Portugal, tal como o personagem Joaquim Soares, que ainda criança foi
trabalhar na Bahia como marçano para seu tio Manoel, que o explorou como escravo.
Somente depois de muitos anos de árduo labor, conseguiu ocupar o cargo de caixeiro, o
que lhe possibilitou o início de uma condição socioeconômica um pouco melhor.
Contudo, a ambição não o cegava, não lhe permitia invejar o pão alheio, nem
vender seu caráter em prol de algum bem material. Seus sentimentos eram pouco
polidos, mas sinceros e profundos, sua honestidade era inquestionável, ficando a
escrituração e o cofre da loja em suas grosseiras mãos cabeludas.
Após doze anos de dedicação, de trabalho intenso e contínuo, de cuidados, de
sacrifícios pessoais e com um ordenado ainda miserável, seu tio veio a falecer,
“deixando-lhe somente uns botões de ouro que não chegariam a valer duas moedas
fortes.” (MAGALHÃES, 1886, p.12) Nem uma atitude de reconhecimento, uma palavra
amiga, apenas a frieza, a rudeza e o desdém. Todo o patrimônio foi deixado para um
filho bastardo e desconhecido, enquanto Joaquim, tomado por uma ingênua
compreensão, pôs-se a cumprir, sem contrapontos, o último desejo do falecido. “Antes
ser roubado do que roubar... Primeiro que tudo quero o socego cá de dentro. [...] toda
uma lisura de negócios e um timbre de cavalheirismo que, dia a dia, lhe confirmavam
mais a reputação”. (MAGALHÃES, 1886, p.43)
Entretanto, com a experiência acumulada, resolveu buscar o lucro, imprimindo à
conquista e posse do dinheiro sua condição de intransigente honestidade. Possuía
ambição e por ela lutava, mas não justificava posturas corruptas ou injustas para
alcançar seu sonho financeiro, ajudando seus conterrâneos em dificuldades,
Principalmente após a abolição da escravidão, em 1888.contribuindo para asilos, caixas de beneficência, hospitais e escolas, e demonstrando,
assim, um perfil de homem honesto, caridoso e trabalhador do emigrado lusitano.
Já com seus quarenta e sete anos de idade e trinta e dois de trabalho, conseguiu
liquidar um rendimento de mil libras. Achou que era tempo de se reformar capitalista,
de regressar ao seu Minho, tantas vezes relembrando, para gozar em paz o fruto de uma
tão longa jornada de trabalho. Vendeu seus negócios, escreveu para os seus, despediu-se
dos amigos e, com os olhos úmidos pela saudade e por seu coração dividido, partiu para
Portugal.
Essa descrição literária sobre os brasileiros se aproxima dos perfis gerais
levantados por Alves (1994), ou seja, de quarentões que não voltavam milionários, mas
que tinham condições de se estabelecerem de forma independente através de um
pequeno comércio, oficina ou exploração agrícola. Os que voltaram afortunados
formaram, efetivamente, grupos muito reduzidos, os quais, em sua maioria, passaram
várias décadas no Brasil para conseguir acumular suas fortunas.
Ao retornar à Ibéria, o brasileiro Soares tomou a direção de sua aldeia natal,
Guardeira, a qual lhe recebeu em peso, trazendo nas lágrimas o anseio que aquele
homem corpulento e grisalho se tornasse o “Messias da localidade, [...] o thesoureiro
official de todos os que não tivessem dinheiro, o cofre inexgotavel da população para
todas as phantasias do fomento de campanário.” (MAGALHÃES, 1886, p.65)

Essa passagem pode ser considerada uma metáfora da esperança material que
algumas aldeias minhotas nutriam pela volta de seus emigrados, sendo que alguns dos
ex-desterrados, entendendo ser seu dever cristão, ajudaram a reformar igrejas, construir
escolas e ou contribuir com outros projetos sociais.
O personagem Soares, bom comerciante, comprou a quinta do pai, onde um
depósito de juntas de bois de ceva passou a seguir para os paquetes ingleses pelo cais de
Massarelos. Sua família exercia forte influência na localidade. Seu irmão mais velho, o
padre Ignácio, era abade da freguesia; seu irmão Ricardo era médico no partido de
Soutello e seu cunhado Francisco Silva havia se tornado um conhecido homem político
da localidade.
Embora fossem reconhecidos socialmente, viam com cobiça a chegada do
parente enriquecido. Mas ninguém demonstrou maior expectativa que sua sobrinha,
Ermelinda. “Ainda no paquete, sua sobrinha planejava friamente um meio de o ver
deposto em seus pés. Achavam-na muito amiga do tio. O tio é um santo: morro por
elle.” (MAGALHÃES, 1886, p.69)
Como um aracnídeo, Ermelinda teceu os fios de sua conquista, exalando um ar
de inocência e integridade. Com a ajuda do tio e a atração irresistível de Joaquim,
conseguiu levá-lo aos degraus do altar, tendo, como garantia:

um dote de quarenta contos em bons papeis de Credito Predial, com a
doação explicita de todas as suas jóias e objectos de uso, Ermelinda tinha
segura a grande amarra do seu futuro, a ancora da sua vida. [...] Tinha tudo
prevenido para uma tempestade, e o mar da existência não a assustava já
como outrora. (MAGALHÃES, 1886, p.166)

Porém, não demorou para que a sobrinha-esposa, desejosa por “machos bonitos
e aceiados” (MAGALHÃES, 1886), passasse a se enamorar pelo administrador Alfredo
Sampaio, jovem bacharel em Direito que havia saído, recentemente, dos bancos da
Universidade e fora colocado em casa, ingenuamente, pelas mãos do próprio marido.
Após se entregar à lassidão adúltera, as noites ao lado de Joaquim se tornaram um
tormento. Às vezes, quase chorava ao se recordar do corpo efeminado e claro de
Alfredo, de sua pele fina e macia e de todos os seus requintes de galanteio.
Desconfiado, o abade passou a mandar cartas anônimas para a menina, sem
muitos resultados, o que apenas a impulsionou, frente à luxúria, a arquitetar friamente, e
sem remorsos, sua fuga com o amante, deixando o traído brasileiro jogado à sua própria
quimera e robustez. “Mentira-lhe sempre, enganara-o, enredará-o, tentara-o,
conquistara-o traiçoeiramente. Entrára-lhe no coração, de manso, como os dentes
venenosos [...].” (MAGALHÃES, 1886, p.354)
Joaquim estava em Régua, tratando de negócios, quando recebeu o aviso para
voltar. Ficou atordoado, sem saber o que realmente havia acontecido, passando por
momentos de grande angustia e ansiedade. Ao chegar, apercebendo-se da traição:

Um riso de desdém assomou-lhe aos lábios. Em frente estava uma console
com um espelho. Alluminou-se com um castiçal e olhou. Achou-se hediondo
e teve para a sua fealdade uma gargalhada de desprezo, digna de Diógenes.
Que mostrengo! A pelle dura e negra; o cabello basto e curto, já grisalho,
fazendo-lhe como um capacete ajustado ao craneo; a suissa áspera, o olhar
idiota, as narinas grossas e chatas de Bull-dog, a boca larga, de beiços
brutaes, arqueando-se n´um sorriso alvar de patego! [...] E queria amor –
aquilo?! Mas para elle bastava a sensação, o erotismo animal das sadias
naturezas camponias, o corpo musculoso e grosso d´uma Vênus de freguesia!
[...] – Ah! Ah! Ah! Ria como desvairado [...] E fui casar-me com uma mulher
que parecia um anjo! [...] Forte besta! Foi bem feito [...]. (MAGALHÃES,
1886, p.357-358)
Estremecido pela dor, pela hipocrisia e pela insensibilidade alheia, não suportou
sua mágoa, e com um tiro, pôs fim à sua vida, tombando de costas no sobrado,
estampando no rosto uma boca “que sorria com um riso indizível, mixto de despreso,
ironia e piedade, fixado na rigidez da mascara como a crystallisação physionomica dos
seus últimos sentimentos – de sceptiscismo, de desengano e de perdão!”
(MAGALHÃES, 1886, p.362-363)
Entre O brasileiro Soares e A brasileira de Prazins, percebem-se dois extremos
entre a bondade e a crueza, a benevolência e a avareza. Dois pontos entre os quais,
levando em consideração os limites humanos e psicológicos, circularam homens de
várias posturas, sentimentos e atitudes, que amaram, choraram, cobiçaram e regressaram
para sua saudosa Lusitânia. Mas, acima de tudo, homens de carne e osso, com desejos,
medos e anseios, que, perante as aventuras transatlânticas e muita labuta, ajudaram a
construir brasis e portugais.


Referências

ALVES, Jorge Fernandes. Os brasileiros: emigração e retorno no Porto Oitocentista. Porto: Gráficos Reunidos, 1994.
ALVES, Jorge Fernandes (coord.). Os brasileiros da emigração. Vila Nova de Famalicão: Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, 1998.
BRANCO, Camilo Castelo. A brasileira de Prazins: cenas do Minho. Porto: Lello & Irmão, 1975.
CASTRO, Ferreira de. Emigrantes. 7. ed. Lisboa: Guimarães, 1945.
CHALHOUB, Sidney. Trabalho, lar e botequim: o cotidiano dos trabalhadores no Rio de Janeiro da belle époque. São Paulo: Brasiliense, 1986.
DINIS, Júlio. Uma família inglesa. Porto: Livraria Civilização, 1986.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1998.
FIGUEIREDO FILHO, Ricardo Moreira. Literatura lusofônica e a emigração portuguesa rumo ao Brasil (1850-1914). Cadernos de História. Belo Horizonte, v. 7, n. 8, p.84-102, out., 2005.
MAGALHÃES, Luiz de. O brasileiro Soares. Carta prefácio de Eça de Queiroz. Porto: Lugar & Genelioux, 1886.
MARTINS, Oliveira. Fomento rural e emigração. Lisboa: Guimarães & Cª, 1956.
MATTOSO, José. História de Portugal. vol 5-6. Lisboa: Estampa, 1993.
QUEIRÓZ, Eça de. Notas Contemporâneas. Lisboa: Livros do Brasil, 2000.
RIBEIRO, Gladys Sabina. Mata galegos: os portugueses e os conflitos de trabalho na república velha. São Paulo: Brasiliense, 1990.
SARAIVA, António José; LOPES, Oscar. História da literatura portuguesa. 15. ed. Porto: Porto Editora, 1989.
SARAIVA, António José; LOPES, Oscar. História da literatura portuguesa. 17. ed. Porto: Alberto de Oliveira LDA, 1996.
SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na Primeira Republica. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1985.
SILVEIRA, Jorge Fernandes da (org.). Escrever a casa portuguesa. Belo Horizonte: EDUFMG, 1999.

Luís de Magalhães – O Brasileiro Soares, Prefácio

“Bristol, 21 de Maio de 1886
Meu caro Luís Magalhães: quando você, no ano passado, me leu o esboço de O Brasileiro Soares, o que nele logo me prendeu foi a originalidade, larga e rigorosa, com que estava modelada a figura do seu Joaquim Soares da Boa Sorte.
(…)
Ora em Portugal o homem que mais evidentemente simbolizava a acção aos olhos turvos do romantismo era esse labrego, que, largando a enxada, embarcava para o Brasil num porão de galera, com um par de tamancos e uma caixa de pinho – e anos depois voltava de lá, na Mala Real, com botas novas de verniz, grisalho e jucundo, a edificar um palacete, a dar jantares de leitão ao abade, a tramar eleições e a ser barão…
(…)
E o curioso, meu caro Luís, é que, todos os tipos habituais do nosso romance romântico – só o brasileiro tem origem genuinamente portuguesa, de raiz.
(…)
O brasileiro, porém, era só nosso, deste solo que pisamos, castiço e mais originalmente português que a chalaça e a louça das Caldas. Mais que nacional, era local. Era do Minho, como o vinho verde.
(…)
Aquele que você encontra na Guardeira, o Joaquim da Boa Sorte, era excelente, cândido, casto, trabalhador, verdadeiro, magnânimo, de alma forte e amante.
(…)
O seu livro, caro Luís, tem a realidade bem observada e a observação bem exprimida – as duas qualidades supremas, as que devem procurar antes de tudo na obra de arte, onde outrora se admirava principalmente a imaginação e a eloquência. Mas você faz além disso, com o seu Brasileiro Soares, uma verdadeira reabilitação social.
(…)
Você desbrasileirou o brasileiro, humanizando-o; e como todo aquele que, com um tranquilo desprezo das convenções, faz uma obra de verdade, você elevou-se insensivelmente a esse feito mais raro, e melhor, que se chama uma boa acção.
Eça de Queirós”
Luís de Magalhães (Lisboa, 13/9/1859 – Porto, 14/12/1935)
Poeta, prosador, fundador de revistas, entre elas, a Revista Científica e Literária com António Feijó, e tertúlias, licenciado em Direito, amigo dos grandes nomes da Geração de 70, secretario de Eça, Governador Civil de Aveiro, Ministro dos Negócios Estrangeiros, reunia os intelectuais da época na sua Quinta do Mosteiro da Moreira da Maia.




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