SANTO
GENET, PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALAMOS DAS FLORES DA ARGÉLIA...
por moisesmonteirodemeloneto
Moisés Neto, Marcondes Lima, Mísia Coutinho, Jomeri Pontes e outros artistas prestigiaram SANTO GENET E AS FLORES DA ARGÉLIA
Ontem aplaudi, sentado, os atores Alcides Córdova / Alexia Silva
/ André Xavier / Binha Lemos / Diogo Gomes / Diôgo Sant’ana / Fábio Alves /
Giovanni Ferreira / Hypolito Patzdorf / Ito Soares / Lucas Ferr / Luiz Carlos
Filho / Marcos Pergentino / Natália Oliveira / Roberio Lucardo / Shica Farias /
William Oliveira, atores de SANTO GENET E AS FLORES DA ARGÉLIA (ah, que metáfora intrincada e poética, parece
nome de banda, você que imagine o que “elas” são...) um estranho espetáculo! Oh,
sim! Eu estou tão cansado, mas não, pra dizer que não acredito mais em você! Fui
assistir ao espetáculo dirigido por Breno Fittipaldi, em cartaz no Teatro Hermilo
Borba Filho e saí de lá chocado e renovado. Os jovens têm menos dificuldades de
quebrar (e também reforçar, através do condicionamento ideológico, é claro/
escuro, crepuscular em seu sol nascente). Saint Genet não é difícil de engolir.
Breno exorciza suas neuras como num divã carnavalizado e cheio de uma métrica
infernal. Quatro atrizes e uns doze atores encaram a platéia oferecendo seu
corpo e falando sobre o pop brega dos anos 80/90, de um modo hilário; é isso,
não é bem um humor nelsonrodriguiano,
é mais óbvio, quase redundante. Os atores são jovens e estão experimentando, o
ingresso é barato: é pulp fiction,
entendem? Emoções baratas. Discute-se o assédio moral como quem toma uma Coca-Cola
(by the way: essa semana escutei um
dentista dizer: Coca-cola é vida!).
Eu, na idade deles, fazia um espetáculo dirigido por João Falcão, chamado Muito Pelo Contrário, na cena final, que
era uma alegoria sobre o final da ditadura no Brasil e as perspectivas de um
novo país, que explodiria na voz de Renato Russo e outros logo depois; nós, eu, Paulo Falcão, Rutílio
Oliveira e Buarque, entrávamos com uns panos que mais exibiam do que cobriam nossa (não castigada) nudez. A vida é um jogo de dados e o palco também é um
cassino (VIVA OS 100 ANOS DE CHACRINHA, PERNAMBUCANO TÍPICO!). Quem tem medo de
Xuxa? De Sandy e Júnior? De ter assistido Dragon
Ball e ser colonizado por coisas como SHE-RA
(alter ego da Princesa Adora e irmã gêmea de He-Man), Balão Mágico, trem da Alegria, Angélica (Vou de taxi!)? O horror, sim, o horror, já sentenciou Joseph Conrad
sobre o Coração das Trevas. Malvado,
tremei!
Os artistas Nivaldo Nascimento, Jomeri Pontes e Moisés Neto foram conferir o Genet de Breno Fittipaldi
Sim, lembra um Grand Guignol: ali os novos atores entregam-se
(corpo e alma) ao encenador, que é amigo
de gente grande no teatro pernambucano, simpatizante da problemática arte que retrata aquele amor que não ousa dizer (em
tom baixo) o seu nome (escancara logo) e passam a viver várias vidas (inclusive
as suas, fantasiadas em bakhtiniana
carnavalização danada, um tanto trash), do mendigo
de prazer e afeto, do filho de uma prostituta. São atores adotados pela Nova Cena
teatral recifense, tiram onda de jovens transgressores nas mãos de encenador
astucioso (viva!): Breno Fittipaldi, que aqui faz às vezes de um cronista de
uma de uma época (ele só pega umas fatias, não dá para aprofundar, o papo é outro, (ah, os anos 80: back off, bitch! só viveu é que sabe), o
que o espectador tem à sua frente (exceto quando eles invadem a plateia, sempre
de maneira agressiva teatralmente falando. A conversa é outra: em relação à
sexualidade, a peça mistura lirismo com um olhar terno a um jeito bandido de
ser solitário em busca de fortes emoções, tudo ao mesmo tempo (what a lovely way to burn), digamos
assim. O roteiro segue os percalços pop dos anos 80, Festa estranha, com gente
esquisita: o que está ao redor da privada/ alegoria final? Uma peça de caráter homossexual? E viva Divine,
a primeira drag queen da literatura.
Poderíamos falar de Georges Bataille (com seus estudos sobre o Mal e o Erotismo!), Camille Paglia, da superficialidade do espetáculo TRATE-ME LEÃO (do grupo pop carioquíssimo Asdrúbal trouxe o trombone), de Pasolini (Salô, os 120 dias de Sodoma), Sade (que pecado!), do Teatro do Ridículo, de quase toooooda uma geração estragada por programas imbecis da TV brasileira nos anos 80/90, dos esgotos de Paris, da estratégia ideológica que domina as massas, da escatologia reinante nas classes inferior e superior (ai de ti, classe média), de Jeison Wallace (Trupe do barulho), do Vivencial Diversiones, e sua Cinderela, mas preferimos falar das flores da Argélia. Parabéns, Lucas Ferr.
Parabéns William Oliveira. Sim, há tantas possibilidades falhas em quem joga desse modo como
vocês estão jogando. Há tantos pecados que vocês vão precisar mais de 7 vidas
para pagar. Mas e aí? Tecnicamente vemos uma luz econômica, um figurino, onde
se destaca somente os sapatos de William, que difere dos outros, que usam
alpercatas. Sim, figurino da hora (para não dizer que não falaram dos Mamonas
Assassinas!), mínimo, teatro essencial (à Denise Stoklos? SÃO 50 ANOS DE TEATRO
ESSENCIAL, UAU!non: Muito Pelo Contrário! https://www.youtube.com/embed/1eWYaKLdCDE
), eu me entrego e não chego mandando, disse Denise, e esses meninos se
entregam ao palco que mais parece um bando de demônios lambendo o chão do
alimento em dúbio ritual macabrocômico
. Alguém tropeça na fala, outro lembra Zé Celso Martinez, outro meio mestre
Cadengue, outra cena OH! CALCUTA! Numa simetria de pressa e cálculo, o diretor
arma seu jogo sem mostrar todos os bichos de uma vez: abre o circo com os 16
danando-se lentamente (em frenesi intermitente, ok?), amando
somente o vazio. Alguns críticos apontam logo os possíveis erros numa
dramaturgia de supermercado, outros falam da produção dessas duas companhias
teatrais que se unem neste espetáculo. Outros dizem que fulano ou beltrano está
atirando para todos os lados (adoro! Curtia filmes de gangsters, na infância). Cometa o erro número 3: vá ao teatro e
saia amaldiçoando o teatro: “isso é um desserviço!” (oh, my god: THEY’RE SINNERS AND THEY LIKE IT!).
Os meninos e meninas em
cena são contra a ordem estabelecida e o palco vira uma espécie de bordel freak show, metáfora do poder
institucionalizado: a família é sacramentada nas boas mamães e vovós que salvam
os netos do abismo da loucura, do “sofro assédio moral de tudo que é lado e
compenso isso hoje fazendo sexo selvagem, da maneira mais absurda e devassa, tá?”,
de um lado e pais caretas, escola e até... a igreja (mamma mia!) do outro. Mas há algo nessa estratégia Genet alegórica que parece
insinuar que esses atores (a maior parte composta por neófitos) querem vestir o público (cliente?) com tanta nudez,
que pode até fazer alguém querer receber
chicotadas deles. Eles têm algo que o público quer saber. Mas talvez só o
autor/ diretor o saiba. Tais atores leram O
Diário de um Ladrão, de Genet; mas o diretor, que leu muito mais, saqueou, salpicou,
triturou, parafraseou, parodiou, esculhambou, fez remexer os ossos debaixo da
terra (se é que o fogo do inferno já não queimou foi tudo!) Ah! Jean Genet
(1910- 1986), escritor francês, tão Cult, um dos melhores do século passado: o
que você acharia disso tudo? Sei lá. O que importa? Viva Saint
Genet: Ator e Mártir! Viva SANTO GENET E
AS FLORES DA ARGÉLIA!
SERVIÇO GERAL:
Dramaturgia, encenação e sonoplastia – Breno Fittipaldi
Assistentes de encenação – Hypólito Patzdorf e Nelson Lafayette
Preparação corporal – Hypolito Patzdorf
Assistente de preparação corporal – Hálison Santana
Preparação vocal e execução de sonoplastia – Nelson Lafayette
Figurino – Paulo Pinheiro
Assistente de figurino – Natália Oliveira
Maquiagem – Vinícius Vieira
Assistente de maquiagem – Sabrina França
Iluminação – Dara Duarte
Execução de luz – Dom Dom Almeida / Tomaz Mazzi
Identidade visual / Plano de mídia artística – Alberto Saulo e Alcides Córdova
Fotografias – Li Buarque
Ações formativas – Alberon Lemos
Equipe de Apoio – Adriane Lacerda, Lorenna Rocha, Nayara Cybelle e Paulo César Pereira e Rafael Motta
Produção executiva – Alcides Córdova, Binha Lemos e Luiz Carlos Filho
Produção geral – Grupo Cênico Calabouço
Assistentes de encenação – Hypólito Patzdorf e Nelson Lafayette
Preparação corporal – Hypolito Patzdorf
Assistente de preparação corporal – Hálison Santana
Preparação vocal e execução de sonoplastia – Nelson Lafayette
Figurino – Paulo Pinheiro
Assistente de figurino – Natália Oliveira
Maquiagem – Vinícius Vieira
Assistente de maquiagem – Sabrina França
Iluminação – Dara Duarte
Execução de luz – Dom Dom Almeida / Tomaz Mazzi
Identidade visual / Plano de mídia artística – Alberto Saulo e Alcides Córdova
Fotografias – Li Buarque
Ações formativas – Alberon Lemos
Equipe de Apoio – Adriane Lacerda, Lorenna Rocha, Nayara Cybelle e Paulo César Pereira e Rafael Motta
Produção executiva – Alcides Córdova, Binha Lemos e Luiz Carlos Filho
Produção geral – Grupo Cênico Calabouço
TEATRO HERMILO BORBA FILHO (Recife Antigo)
17 e 18/03 às 19h
12 e 19/03 às 18h
Ingressos R$15 / R$30. Vendas no local
12 e 19/03 às 18h
Ingressos R$15 / R$30. Vendas no local
E para concluir, vamos lembrar João Denys Araújo Leite? "Ai de vocês grandes,
de ouro, livros e besouros, se não fosse a fé dos pequenos. Ai de vocês
arianos, se não fosse o formigueiro de outras raças. Ai de vocês se não fosse a
transa alada da aleluia: a investida devastadora de outros cupins."(in Encruzilhada Hamlet)
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