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segunda-feira, 26 de setembro de 2016

É isso o "morar" brasileiro? A 19ª edição da Casa Cor Pernambuco deixa à mostra desigualdades quinhentonas no Estado



por moisesneto


Eis a instalação de TURÍBIO E ZEZINHO Santos



Desde a última  sexta-feira (23)  quem quiser pode ir olhar como moram os ricos daqui do Recife e etc.
É a 19ª edição da Casa Cor Pernambuco. Nas rédeas deste festim estão Isabela Coutinho e Carla Cavalcanti (ah! Tarefa ingrata, essa de lançar/ seguir tendências do mercado...). São de 76 arquitetos/ designers/ paisagistas/ decoradores dos 42 ambientes, ocupando os 900 m², até 6 de novembro.
Com suas modernidades, sem esquecer nossas raízes, os burgueses prometem: esta é a maior mostra de decoração, arquitetura, paisagismo da América! (todas?) Ufa!
Piscina, ofurôs, muitos espelhos, cristais, couro de zebra, cabeça de antílope, mármore (num gesto de mau gosto observamos certas peças com senso crítico), cama, mesa e banho  e tanto supérfluo que deleita nosso olhar de barbárie, cansado de tanta miséria na cidade-mangue, ainda tão freyriana mesmo em todos os seus aspectos digitais.
Na instalação de TURÍBIO E ZEZINHO, Santos e Santos arquitetura (by the way: eles levaram seus objetos pessoais para lá, até um painel com fotos do casal no seu último giro pelo nosso estimado planetinha, tem, um luxo!), presenciava-se dois ícones do jetset local numa espécie de missão de modéstia e humildade; em determinado momento um deles sentou-se ao pianoforte, tocou algo mecanicamente, seguido por comentários, mas aí flagramos uma gafe: um dos visitantes, querendo bancar o íntimo, talvez, aproximou-se de um deles e disse: “Oi, adoro tudo isso,Turíbio", ao que o interlocutor respondeu: “Zezinho”. Sem comentários.
Discute-se também, os mais entendidos e preocupados com aspetos tão importantes na nossa sociedade, se a CASA COR, preserva mais do que destrói, e o que acontece quando essa mostra se acaba. No casarão da rua Gervásio Pires, por exemplo. Os finos e fofos, talvez, achem que se deveria, neste artigo, falar menos em desigualdade e adotar o tom mais AQUARIUS, ou talvez (quem sabe?) estudar os impactos não previstos aqui nestas mal traçadas linhas... falar de porcelanato e outras arquiteturices deliciosas, tão importantes numa cidade que tem prazer de botar tudo abaixo. Eu mesmo tive o prazer de entrar na casa cor que foi no final da avenida Conde da Boa Vista (havia ali, antes do Luiz Inácio, uma maternidade,, a Santa Rita, onde eu nasci: maravilha!). Também na que ficou num casarão da rua Gervásio Pires. A do cine Olinda? Perdi. Que fique bem clara uma coisa: sou contra o processo de destruição dos nossos imóveis mais antigos. É um pedaço de mim que desaba junto com eles, sempre.
Mas voltemos ao cerne de uma polêmica: pode-se ali observar a tal “modernidade” através do pretenso requinte de quem tem muita grana? O negócio todo foi montado num casarão do século 19 [Avenida Rui Barbosa, Graças, Zona Norte do nosso Recife cheio de charme e tanta bagaceira da tradição dos coronéis que insiste em permanecer cada vez mais high tech: de terça a sexta, das 16h às 22h; sábados, das 13h às 21h; e domingos das 13h às 20h. Ingressos: R$ 38 (inteira) e R$ 19 (meia), sorry, periferia]
E se alguém fizesse uma mostra deste tipo só que sobre os assalariados e esse pessoal da famigerada classe média, hein?




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