por Moisés Neto
Sim, estamos diante de uma obra alegórica, mas lembra os restos de uma
janta abaianada, esta nova novela cuja direção é assinada por Luiz Fernando Carvalho; há nela laivos de erotismo, psicodelia e a direção de arte mostra-se à beira da caricatura. Há crítica ao "velho Brasil e análise do que os "jovens" poderiam fazer (ou fizeram?) para renovar as coisas. Soa pretensioso, isso? Não esquecer que o autor, Benedito Ruy Barbosa disse, no lançamento do produto, ODIAR "história de bicha" (SIC), o que causou constrangimento em alguns setores. Já o diretor tem saudade de "horta, lençol no varal e passarinhos na gaiola". Ah, esta nova novela da Globo parece mesmo é uma colcha de retalhos, no bom sentido, claro.
O elenco, dizem, é formado em sua maior parte, 70%, por... nordestinos.
Na trama, Rodrigo Santoro, o sinhozinho que vai se formar doutor, aparece em festim com cenas tórridas. Caetano canta Gregório de Matos, volta com Peixe (Os doces bárbaros), Tropicália rediviva. Seca e gente morrendo de sede a rezar e a acreditar em políticos. O capitão enfrenta o “coroné” (Fogo morto, de José Lins do Rego, às avessas?). O algodoal me fez lembrar O menino e o mundo. No reforço dos estereótipos, Velho Chico é previsível,mas todo destino é incerto, não é? Ainda se aguenta este formato para ganhar audiência, hoje ainda é dia de Maria? Lembro do que vi em A pedra do reino, também, ah, meu pedacinho de chão! Tudo se entrelaça.
O elenco, dizem, é formado em sua maior parte, 70%, por... nordestinos.
Na trama, Rodrigo Santoro, o sinhozinho que vai se formar doutor, aparece em festim com cenas tórridas. Caetano canta Gregório de Matos, volta com Peixe (Os doces bárbaros), Tropicália rediviva. Seca e gente morrendo de sede a rezar e a acreditar em políticos. O capitão enfrenta o “coroné” (Fogo morto, de José Lins do Rego, às avessas?). O algodoal me fez lembrar O menino e o mundo. No reforço dos estereótipos, Velho Chico é previsível,mas todo destino é incerto, não é? Ainda se aguenta este formato para ganhar audiência, hoje ainda é dia de Maria? Lembro do que vi em A pedra do reino, também, ah, meu pedacinho de chão! Tudo se entrelaça.
Encurraldos pela seca
“Arranca as
tripas”, diz o personagem de Tarcísio Meira (que , é quase óbvio, morreria no
primeiro capítulo) sobre o seu opositor, o tal capitão (que já anunciou cenas eróticas, no caso o banho espreitado
pela esposa). E a fotografia dá um show à parte com efeitos de zoom e distanciamento
angular.
Intervalo:
Natura vendida com a voz de Arnaldo Antunes, em outro Ivete Sangalo (com a cara
toda esticada, a vender margarina, cerveja, sei lá!).
Volta a
novela: bico de seio daquela atriz que é sósia de Juliana Paes (!): “Não vou
ser mais uma na sua cama!” (clichê, não?), ao que sinhozinho Rodrigo Santoro reponde:
“Vem, matutinha” (ela briga com ele porque ele prefere ir à própria formatura
(sem ela).
A talha colorida
que vai aparecendo para marcar os intervalos traz um homem e uma mulher, meio
Adão e Eva (ao lado do nome da novela).
A mãe do sinhozinho
tem trauma porque o primogênito morreu afogado (numa canoa, pelo menos é o que
sugere a música de fundo “a canoa virou...”). O nome dela é Encarnação (!) e
apesar da história ambientar-se inicialmente ao que se supõe ser anos 60 ou 70 (pela direção de arte: deviam dizer 1968, mas querem que você suponha, ou pelo menos imagine algo transtemporal) veste-se de modo um tanto anacrônico (quem se
importa?), Selma Egrei (a tal esposa, logo viúva, do "coroné" Jacinto, interpretado por Tarcísio) dá o melhor de si (vi uma interpretação dela, como
Gertrudes, tão ruim, no Hamlet
protagonizado por Thiago Lacerda), mas vai escorregando no raso. Quanto a Tarcísio vamos pegar leve, ele tem tempo de serviço.
Enquanto
isso na capitá, a sósia de Juliana paz, com uma roupa que parece surrupiada de
Caminho das Índias, diz, em relação ao sinhozinho Santoro: “Eu só queria que
ele me amasse” (parece o “ôxe, Jesuíno”,
refrão de Cordel encantado), aí entra
o som de Gal com “Como 2 e 2” (foram tantas músicas dos baianos que perdi a
conta): “Ai, Afrânio, estou me iludindo, você é louco!”, “Sim. Louco por você”,
“Você me trata como uma quenga!”, “Eu te amo Yolanda” (atriz é Caro, Castro, que mostrou o bico do seio, logo), “Cansei, Afrânio...”, e
tome mais cenas eróticas, agora Rodrigo e a matutinha que parece-se com Juliana
entram no mar para fazer vocês imaginam o quê. Na trilha sonora, neste momento
de êxtase entra na maior altura Maria Bethânia com “Meu primeiro amor” (igual a
uma borboleta vagando triste por sobre a flor... ).
Enquanto isso
na fazenda, Tarcísio Meira, que aparece na maior parte das cenas com um galo
embaixo do braço (metáfora grosseira?) tem que escutar Encarnação, sua esposa
do século XIX em plena segunda metade do século XX, reclamar da morte do primogênito,
que ela prefere a Santoro, dizer: “A culpa é sua”, e ele ainda quer se esfregar
com uma empregada negra, casada e mãe de um garoto (filho do pau mandado assassino
da fazenda de algodão do “coroné”). Vamos combinar que Santoro tem certo talento e que o diretor é criativo. Os cabelos e maquiagens são exagerados. Pensar que o personagem de Santoro será, noutra fase, interpretado por Fagundes dá o que pensar...
Tarcísio morre num ataque apoplético. Imagens de um barquinho que vai e vem, constantemente, sobre o rio... o barquinho passa, um perfil de mulher sentada, meio impressionista surge em tom melancólico.
Tarcísio morre num ataque apoplético. Imagens de um barquinho que vai e vem, constantemente, sobre o rio... o barquinho passa, um perfil de mulher sentada, meio impressionista surge em tom melancólico.
Fim do
primeiro capítulo.
Créditos ao
som de Tropicália (editada) cantada por Caetano Veloso.
Gostei do resumo, não vi a novela e agora depois dessa crítica vi que não perdi nada.rsrsrs
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