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domingo, 31 de agosto de 2014

A VIDA ÍNTIMA DE LAURA: Clarice Lispector para ler com as crianças.

A escrita de Clarice é encantadora para adultos, mas ela também investiu seu talento na área da literatura para a infância. Na verdade é texto agradável para todas as idades.
Que tal lê-lo para os pequenos?


Talvez eles possam acompanhar pelo tablet etc.
Curtam.
É puro prazer e evolução do espírito.
Viva Clarice!

O link com o texto e ilustrações é esse aqui embaixo:
Boa viagem!

http://portugues.seed.pr.gov.br/arquivos/File/ClariceLispector(1).pdf


sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Tensão na França: esquerda e direita estão se rasgando em fúria

As notícias que chegam da França nos causam apreensão. O clima tenso entre esquerda e direita põe em xeque conceitos variados de democracia e nacionalismo.
François Hollande e seu novo Gabinete de Governo (Partido Socialista), formado às pressas depois que seus antigos aliados o abandonaram enfrentam desafios. Os Ministros foram contra o novo regime de autoridade fiscal sugerido pelo presidente, que quer  que seu pacto de responsabilidade se aprimore, isso inclui corte de gastos de 50 bilhões de euros.
Se o plano de Hollande não der certo seu governo corre sério risco de cair.
Até artistas estão se metendo para dar palpite no imbróglio.

Kiera Cass causa tumulto em Recife e Polícia é acionada

A  vinda de Kiera Cass causou confusão em Shopping do Recife, fãs enlouquecidos fizeram bagunça e  a foi chamada para resolver o quiproquó chique. Era o lançamento do livro "A Escolha" com direito a debate.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

A literatura de Walt Whitman em pequena dose

E agora, senhores,
Uma palavra eu lhes dou para permanecer em suas memórias e mentes,
Como base, e fim também, de toda metafísica.
(Também, para os alunos, o velho professor,
No final de seu curso apinhado.)
Tendo estudado o novo e o antigo, os sistemas grego e alemão,
Kant tendo estudado e exposto – Fichte e Schelling e Hegel,
Exposto o saber de Platão – e Sócrates, maior que Platão,
E maior que Sócrates buscado e exposto – Cristo divino tenho muito estudado,
Eu vejo reminiscentes hoje aqueles sistemas grego e alemão,
Vejo as filosofias todas – igrejas cristãs e princípios, vejo,
Sob Sócrates claramente vejo – e sob Cristo o divino eu vejo,
O caro amor do homem pelo seu camarada – a atração de amigo por amigo,
Do marido bem-casado e a esposa mãe de crianças e os pais,
De cidade por cidade, e terra por terra.
The Base of all Metaphysics
And now, gentlemen,     
A word I give to remain in your memories and minds,     
As base, and finale too, for all metaphysics.     
  
(So, to the students, the old professor,     
At the close of his crowded course.)
  
Having studied the new and antique, the Greek and Germanic systems,     
Kant having studied and stated—Fichte and Schelling and Hegel,     
Stated the lore of Plato—and Socrates, greater than Plato,     
And greater than Socrates sought and stated—Christ divine having studied long,    
I see reminiscent to-day those Greek and Germanic systems,
See the philosophies all—Christian churches and tenets see,     
Yet underneath Socrates clearly see—and underneath Christ the divine I see,     
The dear love of man for his comrade—the attraction of friend to friend,     
Of the well-married husband and wife—of children and parents,     
Of city for city, and land for land.

Morte de comandante é investigada em Suape

Morte em Suape: Polícia Federal trata do caso de um comandante grego, 50 anos, que apareceu morto num  navio petroleiro atracado ali , de origem Liberiana e que ia a  Belém e a Fortaleza. O corpo dele estava no sofá de sua cabine, dia 21 de agosto.
O complexo portuário  é hoje palco de vários acontecimentos importantes e convive com uma rotina peculiar, lembrando que com sua construção faraônica surgiram problemas como os ataques de tubarão que infestam várias praias pernambucanas. Constantemente ouvimos falar de greves de trabalhadores por lá. Suape era a menina dos olhos de muitos políticos e investidores. 
Para a morte do grego parece que os dados apontam para problemas cardíacos.

domingo, 24 de agosto de 2014

Museu Cais do Sertão: oásis num Recife problemático

Contar a história do Sertão usando também a tecnologia, eis um espaço diferente em Recife. 

Muitos reclamam do dinheiro público utilizado nesse projeto, enquanto o Teatro do Parque, só para citar um escandaloso dado,  está fechado há tanto tempo e sem previsão de reforma.

Gostei muito do túnel de espelhos e projeções:

Moisés Monteiro de Melo  Neto no Museu Cais do Sertão


 O Museu Cais do Sertão, no Bairro do Recife, instalado no antigo Armazém 10 no porto da cidade, que possui dois mil metros quadrados e conta com uma exposição permanente sobre o Rio São Francisco, também estúdios de gravação, oficinas de instrumentos musicais e, dentre muitas outras coisas, a obra completa de Luiz Gonzaga, merece atenção dos brasileiros e estrangeiros. 


Tive oportunidade de visitá-lo e gostei muito, embora suspeite de como vai ser feita a manutenção dele, soube que há recursos federais envolvidos na empreitada (R$ 97 milhões, recursos do Ministério da Cultura e do Governo de Pernambuco). Existem ali duas salas de cinema, numa delas assisti a um curta de Paulo Caldas sobre o sertão.


Há muitas projeções e materiais interativos
Os ingressos: R$ 8, inteira e R$ 4, meia (para estudantes e jovens até 24 anos), professor não paga.
Às terças-feiras, o local é aberto gratuitamente das 14h às 21h.
Nas segundas-feiras, o Cais do Sertão está fecha para sua  manutenção.

 O equipamento público foi inaugurado pelo ex-governador Eduardo Campos faltando muita coisa ainda, por exemplo: o auditório e o restaurante.


sábado, 23 de agosto de 2014

Roberto Ploeg: um mestre no Recife, em 25 quadros

Fui à exposição de Roberto Ploeg e vi quadros muito interessantes como o da expulsão de Adão e Eva do paraíso e o  Caim e Abel . Conheci Ploeg quando estava nos Estados Unidos e me apaixonei por sua obra. No Recife são  25 obras e o nome da exposição é Pretextos e está na Arte Plural Galeria.
Ploeg é holandês  e veio ao Brasil em 1979 para concluir pesquisa de mestrado sobre a teologia latino-americana, Teologia da Libertação. Em 1982, instalou-se no Nordeste brasileiro. O curador é nosso caríssimo Raul Córdula. Trata-se de uma arte 'histórica' mesclada às narrativas bíblicas. Apreciem o quadro A entrada de Cristo em Olinda (2013)


Roberto Ploeg/Reprodução


https://profmoisesneto.blogspot.com.br

Jomard Muniz de Britto: Tropicalismo etc & tal...

Alguns nomes são recorrentes na obra de Jomard Muniz de Britto: os irmãos Campos e Pignatari, por exemplo, admiradores de Caetano e incentivadores da Tropicália, que retomaram a linha evolutiva do baiano e deram organicidade e fortaleceram seus julgamentos de criação, nisso está uma intersecção com Jomard que, dentre vários vieses ataca nacionalismos passadistas, nacionaloides do tipo  macumba para turistas oswaldiana. Quanto ao mencionado movimento liderado por Caetano e Gil, Luís Carlos Barreto deu nome à canção Tropicália, por causa de uma instalação do carioca Hélio Oiticica e logo a seguir Nelson Motta escreveu um texto no qual batizou o movimento que surgia foi aí que Caetano resignou-se ao nome Tropicália, por falta de opções, Tropicalismo lhe soava gasto por causa de Gilberto Freyre. A Tropicália enquanto miscelânia de informações que vão de Louis Malle, pelo filme Maria, com Brigitte Bardot, passando por Garota de Ipanema (em tupi: água ruim), identificações com Terra em Transe, com toda a esperteza e fúria da estética de Glauber; Jomard une-se ao grupo em 1968 e instala-se nos limites do Tropicalismo (diferir da tropicologia freyriana). Longe da esquerda festiva, tal vanguarda livra-se de possíveis angústias da influência em intensa radicalidade, como no espírito tropicalista. A poesia de Jomarde é de cunho jamesjoyciano, fundo verbivocovisual com versos em palavras-montagens, em translíngua. De João Cabral, outra das referências na poética de Jomard, vem o olhar lúcido, o nível de argumentação, defesa crítica, determinação inabalável. Do noigandres do Concretismo às perguntas sobre a significação (em louca tenacidade) nos poemas-manifestos jomardianos contra os mantenedores do subdesenvolvimento na geleia geral (como na letra de Torquato Neto) brasileira que a mídia anuncia.
Surge o texto como a quebra dos resguardos, como reflexo de ruidosas performances, escrita paródica-carnavalesca de aspecto inventivo-construtivista (de combatividade) buscando a imparcialidade, a expor as entranhas do Brasil em radicalidade antilírica, como num filme de Godard, ver a abertura de Pierrot  le fou, numa poética cheia de lugares incomuns, poesia enquanto palavra-impacto, composição (des)construtora de efeitos, linguagem organizada de maneira meticulosa em meio ao caos criativo vertiginoso numa época em que os ouvidos têm paredes, num mundo que se mostra mais intolerante do que nos libertários anos nos quais JMB iniciou sua produção poética. Augusto de Campos já disse que a poesia é uma família de náufragos nadando no espaço e no tempo. Busco nesta minha explanação a trans-historicidade contra a banalização do passado no texto de JMB, onde diluição e invenção, qualidade de percepção do mundo buscam, talvez, expressar o indizível, apontar que a captação do fenômeno qualitativo e sensível, longe do sentimentalismo, em protesto contra a vulgarização da vida na era da disparada da tecnologia e mudança rápida de valores morais. Seu deboche de cunho antropológico e pós-utópico cubo-futurista aborda também o erótico na política em expressividade não linear sendo por isso rejeitado tanto pela esquerda quanto pela direita, mas isto não o impede de continuar com seus atentados (panfletos que ele distribui atentando inclusive contra o panfletarismo, em pleno século XXI).
No seu texto para o filme O palhaço degolado temos algo próximo ao construtivismo indigesto e antropófago. Seus textos parecem fora de controle numa escrita mais intuitiva do que coerente, incitavam à demolição, contra o acanhamento e inclui os erros como contribuições. Algo nos textos jomardianos parece clandestino, andrógino, enfim: pluralidade de estilos, desmantelamento de cercas entre as classes sociais, os gêneros; mas Jomard Muniz de Britto não é um piadista nem um vanguardista datado. É poeta que usa o tratamento de choque em ritual canibalista na movência do Brasil, em selvagem psicanálise a riscar o nome do Pai, em audacioso gesto literário. Não em poesia límpida, mas em mistura de referências, estilo novo, inaugural, a rir das desesperanças, dos comandantes e dos alienados. Poesia que tenta desalienar corações e mentes em meio às tentativas vãs de unicidade e cinismo. Suas discussões sobre o gozo imediato, sua recusa às migalhas lançadas pelo poder, sua atração pelos marginalizados, tudo isto, como uma performance exerceu sobre mim simultaneamente atração e repulsa. Venceu a primeira.


Moisés Monteiro de Melo Neto

Cocaína, prostituição e homossexualismo são fichinhas...

De passagem pela TV Globo, estou gostando do trabalho de George Moura e equipe em O Rebu. Quanto ao Aguinaldo Silva, pernambucano com faca bem afiada, sua Império me trouxe en passant , prostituição e homossexualismo de forma cômica e melodramática. Pelo que entendi a esposa aceita o marido homossexual e diz que estará junto (para sempre) na alegria e na tristeza (quando os filhos descobrirem o caso do pai). Parece a situação enfrentada por Rogéria no comercial de vendas de produtos usados: "libera a moita, caipivara!".


Esse aí interpreta um prostituto, em Império


Cruel, cruel. Enquanto Paulo Beti interpreta um homossexual caricato, que confessa paixão de adolescente que acabou com sua vontade de amar (hoje, para ele amor seria só desejo); a tal paxão seria justamente pela pessoa que ele quer destruir ( o tal marido enrustido).
Já em O Rebu, a festa é azeitada por cocaína, sexo e música; é difícil jogar tanta história em  pouco tempo da diegeses; na dúvida, alguém pega o helicóptero, casos de amor fazem-se e desfazem-se rapidamente (o investigador e a dona da casa).
Ficar ouvindo "Eu te amo" de Chico Buarque quando a S. Charlote pensa no seu rapaz morto torna-se repetitivo, às vezes.
E Dira Paes, sempre no mesmo tom, a insinuar que alguém pode ser o culpado?
E Kássia Kis Magro, Patrícia Pilar, Tony Ramos?
Enquanto isso tem uma novela que leva todos aos anos 70/ 80... sim: a noite vai chegar e muitos ficam olhando para a TV como zumbis.
Eu passo os olhos... que ímã...

Pintou Marina Silva com chapa frouxa

Complicada a candidatura de  Marina Silva, com a  chapa frouxa e diante de raposas vorazes, vamos ver.
Otubro aproxima-se como num filme de Eisenstein,  o Brasil falando mal de si mesmo e culpando a "turma".
Ulalá!
As entrevistas do Jornal Nacional são como estrelas num picadeiro de cristal: até vento quebra, mas como diria Drummond: "o que se partiu (partido?) cristal não era.
Morreu mais uma pessoa conhecida do grande público: Cybele de Sá Leite, do Quarteto em Cy.


Ela que já vencera um festival internacional de música (dentre os concorrentes estava Françoise Hardy).

Aos poucos o clamor por Eduardo Campos (o  mito) vai se transformando em passado.
Renata Campos não foi escolhida vice, não queria.
Erundina não coube na posição.
Fervem invejas e despeitos, só o interesse é ativo e pródigo.
Enquanto isso no Palácio da Justiça...

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Papa Francisco diz que estamos na 3ª Guerra Mundial e clama contra Islamismo que mata católicos

O  Papa Francisco, que entrevista ontem disse que só tem mais dois ou três anos de vida,  sugeriu que estamos na 3ª Guerra Mundial, citou o caso da Síria, da Faixa de Gaza, Ucrânia e outros.


Outro ponto que vem gerando discussões: Sua Santidade pediu uma providência, em consenso com outros países , em relação ao massacre de cristãos, por muçulmanos , no Iraque.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

MOENDO CARNE HUMANA: Moisés Neto tempera o melhor do pior dos nossos dias no Recife

"Pó de Lua", de Clarice Freire, filha do escritor e cineasta Wilson Freire, é a bola editorial da vez, com influência do cordel e desenhos da autora, fazendo alinha “visual writing” (!), misturando ilustrações e versos rimados; a autora é publicitária e isso tem tudo a ver com sua obra, by the way: os poemetos já receberam mais de um milhão de curtidas no Facebook!
Do Festival de Cinema de Gramado vêm novidades: Alceu com sua Luneta do Tempo trouxe dois prêmios Kikito, um pela direção de arte e outro pela sua trilha sonora especiialmente composta para o filme.
Até a  última ponta: Dilma foi chamada de “assassina” no velório de Eduardo Campos. E, assim que o arcebispo ia acabando a missa, João Campos, bem próximo à Presidente do Brasil, ergueu a mão fechada e gritou exaltado: “Eduardo Guerreiro do Povo Brasileiro!”. Lá embaixo alguns gritavam também: “justiça!”. A Globo transmitiu  por quase 12 horas seguidas tudo o que acontecia, o que atraiu milhares de pessoas. O dia estava cinzento, o rio Capibaribe refletia o azul do céu na sua lama enegrecida de maré seca, às 4 da tarde. No cemitério de Santo Amaro houve queima de fogos por meia hora.
O mundo gira: o vírus Ebola está deixando apavorada muita gente. No Recife, cheia de gente chegando da África (quase não há fiscalização e o comercio de rua está atraindo não só trabalhadores de outros estados e cidades, mas até de outros continentes que aqui podem comercializar tranquilamente) quer seja para trabalhar ou estudar. Os hospitais estão traçando estratégias para qualquer emergência.
O Ira! Apresentou-se no teatro RioMar com ingressos esgotados (Maria Rita, Ivete Sangalo e outros cancelaram tudo por causa do velório de Eduardo). “Flores em você", “Envelheço na cidade" e outros hits levaram a plateia a curtir demais  o guitarrista Edgar Escadurra e Nazi, que fizeram as pazes depois de tanta troca de munição, acompanhados por uma banda afiada. Quando detonou uma nova canção, desculpou-se  dizendo que era nova mas não era “chata”. Pode?
Na TV, a novela O Rebu tem bom texto de George Moura e seu grupo. 


O Rebu tem cenas tórridas

Numa cena Jesuíta Barbosa mata seu amigo de infância na favela por causa de dinheiro e ao vê-lo baleado se contorcendo de dor, chorando solta essa pérola: “morre que passa”.
Ação! O filme “Não pare na Pista” não é exatamente um grande filme, mas pelo meio da história tem coisas que merecem atenção. O maldito Paulo Coelho, ainda execrado pela Academia, o professor Janilto Andrade já escreveu um livro ensinando a desprezá-lo, o autor é retratado no longa.
O amigo americano: o jovem negro Michael Brown, 18 anos, assassinado pela polícia em Ferguson, Saint Louis, capital do Missouri, desencadeou uma crise e uma onda de protestos que tiraram Obama das suas férias. Racismo em xeque.
Daqui ninguém sai vivo! Morreu Sevcenko, historiador brasileiro especialista em cultura e história contemporânea, autor de “Literatura como Missão”, dia 13 de agosto, aos 61 anos.
FRASES marcantes: “A morte não é um acontecimento da vida. A morte não pode ser vivida” (Ludwig Wittgenstein)
“Fazer comédia é fingir otimismo” (Robin Williams)


domingo, 17 de agosto de 2014

Teatro e velório de Eduardo Campos

Noite de sábado: fui assistir à peça ARTE, com Vladmir Brichta, sobre arte e camaradagem masculina. O texto me lembrou Edward Albee, Quem tem medo de Virginia Woolf?

Tudo gira ao redor de um quadro em branco, comprado por um dos amigos por 200 mil. Ao sair do Teatro do Santa Isabel deparei com o velório de Eduardo Campos, vi Renata Campos e filhos chegando no carro de bombeiro.

Velório de EC II


Muita gente na frente do Palácio do Campo das Princesas.
Hoje houve Missa às dez da manhã: Marina Silva, Lucélia Santos, Lula, Dilma, Suplicy, tantos, Guel Arraes, João Augusto Lyra...
Os caixões de Marcelo Lyra e Percol ficaram ao lado. Os filhos do ex-governador estavam como ativistas, principalmnente o mais velho, João que tem pretensões política.
Havia faixas com dizeres absurdos: "Eduardo: anjos não morrem, você está vivo"

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Morreu hoje Celeide Neves, a viúva do Rei Reginaldo Rossi

Pode não ser tão impactante, mas Agosto continua ainda mais intenso, ceifando e cheio de fome. Como eu disse ainda vão rolar muitas cabeças. Que vento frio. Ah! E esses uivos anunciando que dias melhores vão demorar a chegar. O próximo que se cuide, a agenda está cheia de surpresas... Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos...

POR QUE o CAIS DO SERTÃO é TRANSTEMPO?


Jomard Muniz de Britto, jmb
Vamos começar tentando esquecer as precariedades de qualquer texto:
oral, gestual, audiovisual. Do vozeirão de Ascenso Ferreira atravessando
pontes, incensando mistérios do passado ao presente do futuro. O realismo
crítico de Graciliano Ramos pela angústia das vidas secas. A estética da fome
de Glauber Rocha na cruel esperança de que o sertão pudesse virar mar...
Gonzaga, Gonzaguinha, Gonzagão. Mas sabemos da impossibilidade dos
esquecimentos e até mesmo dos desejos: entre desamparo, ignorância, amor
e morte. Por tudo isso e eles o CAIS DO SERTÃO é do TRANSTEMPO:
formando espantos em nós. Do mais singular ao plural de nossas contradições
e crueldades. Tentemos esquecer, na medida do impossível, as “ideologias
da cultura brasileira”, desterros de Euclides, Amadas predestinações,
GALÁXIAS de Haroldo de Campos, poesia-síntese de Oswald de Andrade:
amor / humor. DIADORIM na diáspora de Guimarães Rosa. a regra secreta
de Sebastião Uchoa Leite. E todos os rumores eleitoreiros, decepções e
expectativas.
Se não estivesse passando pelo Recife de Bandeira o crítico da cultura
Edélcio Mostaço, que TUDO vislumbrou no CAIS DO SERTÃO, talvez
ainda o ignorássemos em nossa petulância universitária. Porque ISSO é
incrível, de fazer horror. Para nos humilhar: idiotamente.
Não mais que de repente, o TRANSTEMPO pode ser visualizado
a partir da projeção em três telas simultaneamente. Sertão. Sertões.
Semioticidades. Assim repensamos um slogan antigo de pretensões:
PERNAMBUCO FALANDO PARA O MUNDO. Sem interrogações
nem reticências. Sem ironias ou autopunições. Embora sempre (RE)voltando
aos esquecimentos: buracos nas ruas, avenidas e inteiro ambiente.
O centenário TEATRO DO PARQUE fechado por falta de tudo – da grana
às competências desgovernadas. Gente morrendo de fome, drogas, dormindo
nas ruas, sem saber do nosso CAIS. Tudo falhando e falindo para o mundo
vasto mundo dos desenvolvimentos e sustentabilidades.
Apesar dos pêsames, o CAIS DO SERTÃO temporaliza a HISTÓRIA
DA ETERNIDADE de Camilo Cavalcante. Para implodir no TRANS
de múltiplas transformações, continuemos repensando O CÃO SEM PLUMAS
de João Cabral de Melo Neto até o plural reinventado por Moacir dos Anjos.
Começamos esta travessia textual pelo vozeirão de Ascenso Ferreira e
não podemos INconcluir sem a voz luminosa de Maria Bethânia na poemação
musical de Chico César: “Avante Xavante cante / o vento canta contigo /
Não contente mas cantante / Como amante feito amigo... / A voz de um Brasil
distante / Que tanto diz quanto cala / Da dança do fogo da fala / Da gente
desse lugar...”
Do CAIS DO SERTÃO ao perspectivismo das nações indígenas,
cantemos pelos quintais do multiverso das linguagens, sem temer
sociologismos e outras tropicologias. Se o anarquismo em transe pode ser
o sonho indomável das OCUPAÇÕES, qual o entrelugar do
TRANScapitalismo na mais estúpida tragédia? Onde foi parar ou disparar
O sentimento trágico do mundo?
Recife, agosto de 2014.

Corpos destroçados e carbonizados. Tragédia na famlia de Arraes une-se a de outras

O horror, sim, o horror. Os corpos de Marcelo Lyra, Eduardo Campos chegam os Recife neste final de semana em meio a uma comoção tremenda.
O velório será no Palácio do Campo das Princesas.

Vamos refletir sobre isso com um poema de Fernando Pessoa?



A Morte Chega CedoA morte chega cedo, 
Pois breve é toda vida 
O instante é o arremedo 
De uma coisa perdida. 

O amor foi começado, 
O ideal não acabou, 
E quem tenha alcançado 
Não sabe o que alcançou. 

E tudo isto a morte 
Risca por não estar certo 
No caderno da sorte 
Que Deus deixou aberto. 

Fernando Pessoa, in 'Cancioneiro'

SOMBRA SEVERA, um romance regional? Uma narrativa de mitos?


Nascido em 20 de dezembro de 1947, Raimundo Carrero é jornalista, ficcionista, bastante supersticioso e temente a Deus. Começou a escrever ainda como aluno interno no colégio Salesiano do Recife. Em seus escritos objetiva aprofundar temas eternos como liberdade, igualdade e justiça. Publicado em  1988 e reeditado em 2001,  em Sombra Severa, temos o estilo de Carrero estampado por todas as páginas. Mais universal do que tipicamente regional (uma tradição já esgotada? Seria possível um super-regionalismo, nos moldes de uma literatura refinada com consciência histórica e crítica do país), regionalismo aqui enquanto realidade incomum em certas regiões em países  marcados por desigualdades extremas.

Que acham dessa sentença do livro? “Ama-se  é a inveja do outro, para roubar do outro a parte que lhe falta” (Raimundo  Carrero, em Sombra Severa)

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Eduardo Campos, desenlace de Santos: macabro

Ainda sob impacto da crua realidade de um agosto devastador, essa morte súbita de Eduardo Campos, vítima de um terrível acidente aéreo, parece parte de um pesadelo sem fim onde o Recife surge como um eixo macabro. No cemitério de Santo Amaro o corpo do ex-governador de Pernambuco ficará ao lado dos restos mortais do avô, Miguel Arraes.
A teoria da conspiração está acelerada em direção às mais estapafúrdias conclusões e pressuposições.
Crime? Pouco provável? Falha técnica? Falha humana?
No mesmo voo estava nosso caríssimo Marcelo Lyra, que deixa um filho tão pequenino...


segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Os nus e os mortos

Passou: dia dos pais num Brasil cheio de nus e mortos ao redor do berço esplêndido. As eleições se aproximam e os pais da pátria não assumem a paternidade nem adotam medidas mais sérias de comportamento. Os reflexos de um mundo caótico são aberrantes em qualquer ponto que se escolha para pensar o país num mundo que embora conectado mereceria uma varredura geral em seu descaso com a evolução do espírito humano.

O homem moderno está num beco sem saída?


Sim o rei está nu e está morto.
Viva o rei!
 E nesse clima vale lembrar ainda um antigo conceito, o de modernidade líquida, sugerido por Bauman


Modernidade Líquida

Ana Fátima de Brito, Claudia Simone Vieira
Resumo: Este trabalho é uma resenha do clássico livro de ZYGMUNT BAUMAN, filósofo polonês, cuja obra é Modernidade Líquida. Através desta resenha é possível analisar e refletir sobre as mudanças que a sociedade moderna atravessa desde o individualismo até as relações de trabalho, família e comunidade, onde o tempo e o espaço deixam de serem concretos e absolutos para serem líquidos e relativos.
Palavras-chaves: Modernidade, Individualidade, Trabalho, Comunidade, Emancipação.
Abstract: This paper is a review of the classic book by Zygmunt Bauman, Polish philosopher, who the master is Liquid Modernity. Through this review it is possible to analyze and reflect on the changes that modern society from the individual to go through labor relations, family and community, where time and space change from concrete and absolute to be relative and liquid.
Keywords: Modernity, Individuality, Work, Community, Empowerment.
Sumário: 1. Contextualização; 2. Emancipação; 3. Individualidade; 4. Tempo e Espaço; 5. Trabalho; e 6. Comunidade.
1. Contextualização 
Zygmunt Bauman é um sociólogo polonês nascido em 1925, que iniciou carreira na Universidade de Varsóvia. Publicou mais de quarenta livros, entre os quais Modernidade Líquida, a obra escolhida para este resumo crítico.
Modernidade Líquida foi publicada próximo ao ano 2000, na propalada virada do século, sendo efetivamente lançado em 2001. Naquela época o mundo estava em pânico, pois havia diversas previsões de panes tecnológicos em programas e computadores espalhados pelo mundo, o famoso “bug do milênio”, ou seja, as máquinas e aplicativos computacionais estavam escritos e preparados para executar até 1999, o que exigia muitas adaptações para que não houvesse um caos tecnológico nos diversos setores e segmento da vida moderna.
Antes disso, durante a década de 1990, haviam ocorrido crises econômicas creditadas à globalização crescente, além de guerras como a do Golfo e nos Bálcãs. A Internet disseminava um conceito de universo social, criando tribos sociais que iam desde o consumismo desenfreado até a militância de causas ambientalistas.
O título da obra decorre da modernidade da sociedade que avança em vários sentidos, porém, questionável em suas atitudes e o seu contexto enquanto sociedade. A liquidez, a qual Bauman propõe vem do fato que os líquidos não têm uma forma, ou seja, são fluídos que se moldam conforme o recipiente nos quais estão contidos, diferentemente dos sólidos que são rígidos e precisam sofrer uma tensão de forças para moldar-se a novas formas.
Os fluídos movem-se facilmente, quer dizer: simplesmente “fluem”, “escorrem entre os dedos”, “transbordam”, “vazam”, “preenchem vazios com leveza e fluidez”. Muitas vezes não são facilmente contidos, como por exemplo, em uma hidrelétrica ou num túnel de mêtro, lugar que se pode observar as goteiras, as rachaduras ou uma pequena gota numa fenda mínima. Os líquidos penetram nos lugares, nas pessoas, contornam o todo, vão e vem ao sabor das ondas do mar.
A obra dedica-se a análise dessa liquidez que permeia cinco tópicos básicos: a emancipação, a individualidade, o tempo e espaço, o trabalho e a comunidade.
2. Emancipação
Bauman levanta uma questão sobre o conceito de liberdade, quando questiona se a mesma seria uma benção ou maldição, ou seja, uma benção no sentido que o individuo pode agir conforme os seus pensamentos e desejos, mas na contra-mão fala de uma maldição, já que recai sobre ele a responsabilidade por seus atos e ações.
Na modernidade líquida a hospitalidade dá espaço à crítica, onde passa do estado de agente passivo para o agente ativo, que questiona e reflete sobre as ações e porquês das coisas e a ação do individuo sobre a sociedade e vice-versa. A sociedade sólida, ou mesmo concreta, era impregnada de um certo totalitarismo na medida que é rígida, não tem resiliência e não se adapta as novas formas.
Bauman aborda que “o principal objetivo da teoria crítica era a defesa da autonomia, da liberdade de escolha e da auto-afirmação humanas, do direito de ser e permanecer diferente”.  Em outras palavras, a tal hospitalidade à crítica é onde o individuo vai e vem em liberdade e esta aberto aos questionamentos e reflexões, ele flui pela sociedade, tempo e espaço, pode reclamar ao sentir-se prejudicado, reivindicar direitos, porém é também responsabilizado pelas ações e reações decorrentes de seus atos.
Nesta altura da reflexão sobre a emancipação o autor traz a tona Max Weber que discursava sobre a impossibilidade de atingir a satisfação plena, porque o momento da autocongratulação e realização plena moviam-se rápido demais, para mais e mais adiante, fazendo com que o individuo fosse impulsionado para frente, perseguindo outros objetivos e anseios. 
Para o autor há duas características que fazem a forma de modernidade nova e diferente, uma que relata sobre o declínio da crença do fim do caminho no qual andamos, ou seja, para ele a modernidade é um caminho infindável de oportunidades, desejos, realizações a serem perseguidas continuamente. A segunda crença fala sobre a mudança da desregulamentação e a privatização das tarefas e deveres modernizantes, ou seja, a tarefa apropriada ao coletivo, simbolizado na figura da sociedade, sofre uma fragmentação para o individuo. A responsabilidade mais uma vez recai sobre o individuo que escolhe que caminho trilhar e o modelo a ser seguido ao invés de seguir normas pré-estabelecidas por governos ou líderes impostos.
O coletivismo foi à primeira opção daqueles que se situavam na ponta da recepção, ou seja, passivos, incapazes de tomar decisão, inertes em suas próprias limitações, que se deixavam levar pela modernidade sólida.
A distancia entre a individualidade como fatalidade e a individualidade como capacidade realista e prática de auto-afirmação está diminuindo. O individuo aprende a expressar-se de maneira adequada com o meio exterior e procura influenciar o meio para alcançar seus objetivos, fazer amigos, trabalhar em uma rede social complexa e emaranhada de agentes ativos e com fluidez.
Há uma distinção entre o cidadão que é um individuo que buscar seu próprio bem, através do bem-estar da cidade e o individuo que tende a ser morno, cético ou mesmo prudente quanto a causa comum, ao bem comum ou mesmo à sociedade justa. O individuo busca a sua auto-realização através de meios que o permitam tal realização, além disso, a individualização chegou para ficar com todas as suas implicações que decorrem de tal fato. 
Outro ponto de debate é sobre distinção entre o individuo de jure e o de facto. Para o primeiro significa não ter ninguém para culpar sobre os seus fracassos e desilusões a não ser a si mesmo, enquanto que o individuode facto é o que ganha controle sobre seus destinos e toma as decisões que assim deseja. Entretanto, para que seja de facto é necessário que seja um cidadão. O espaço privado está colonizando o espaço público, onde o individuo de facto age e interage com o todo ao seu redor.
Há uma critica da política-vida onde a verdadeira libertação requer atualmente mais, e não menos, da esfera pública e do poder público, onde a autonomia individual carece de medidas públicas, na medida em que flui a sua relação interpessoal e o complexo meio da sociedade autônoma.
3. Individualidade
O autor inicia esse segundo conceito, ou seja, a individualidade com a revisão de conceitos trazidos da modernidade sólida como de Orwell, em sua obra 1984. Nela a liberdade individual era tolhida e controlada por uma força maior simbolizada na figura do grande irmão, que tudo vê, tudo ouve e tudo sabe. Ele é o controlador e disseminador de regras a serem seguidas por todas as pessoas. Adicionalmente, reforçando este ponto de vista, cita Walpole que escreveu que “o mundo é uma comédia para os que pensam, e uma tragédia para os que sentem”, ou seja, os que raciocinam e refletem sobre o contexto conseguem formular ou até mesmo agir e intervir sobre os demais, enquanto que outros que sentem, movem-se pelo coração, sofrem porque podem ser manipulados, atingidos ou frustrados pelo não alcance de suas metas.
Quanto ao capitalismo pesado segue certa ordem, ou seja, significa monotonia, regularidade, repetição e previsibilidade. Um exemplo é o caso do fordismo que em seu apogeu representou um modelo de industrialização, de regulamentação e de acumulação. As pessoas tinham funções muito bem definidas no processo de fabricação dos carros, algumas apenas apertavam arruelas de parafusos da porta, outras colocavam pneus, outras os bancos e assim por diante, com um alto grau de especialização para que o processo fosse ágil e eficiente. O que permitiu o alto volume de vendas naquela época, mas o individuo não tinha poder de escolha nem mesmo do modelo ou cor do carro, havia somente o Ford T. Os empregados eram contratados apenas para uma função, limitando suas potenciais habilidades e capacidades de desenvolvimento. O modelo do fordismo era um sistema que se auto-reproduzia, orientado pela ordem, gerando uma engenharia social.
A visão do capitalismo de Bauman é mais negativa, porém, cabe ao individuo descobrir e potencializar suas capacidades intelectuais, manuais ou mesmo físicas e aproveitá-las da melhor maneira possível para sua auto-realização, ou seja, com a máxima eficiência possível, de preferência alcançando a eficácia.
Para ele, no mundo capitalista existe o agente consumidor, que utiliza os bens ou serviços disponíveis, e sua frustração maior não é a falta do produto, mas sim a multiplicidade de escolhas disponíveis. E que será necessário abrir mão de várias possibilidades para ficar com apenas uma ou algumas alternativas de produtos e bens. No pensamento filosófico expresso neste capítulo da obra, o autor talvez quisesse dizer que pode haver maior espaço para um tema tão complexo quanto o comportamento do consumidor.
No capitalismo leve e fluido, as autoridades não mais ordenam, mas sim tentam seduzir e tornam-se agradáveis às pessoas que escolhem. Talvez seja pela tal propalada diversidade de opções e escolhas que cada indivíduo possui na modernidade liquida. Além disso, há certo maniqueísmo no capitalismo líquido, como a utilização da imagem de personalidades renomadas para passar credibilidade ou mesmo certa autoridade nos produtos e serviços que estão à disposição para o consumo.  
Em certo trecho do capítulo sobre a individualidade, o autor coloca “as condições de vida em questão levam homens e mulheres a buscar exemplos, e não lideres”, neste ponto poderia haver um debate sobre o ser líder e o ser exemplo. No comportamento do consumidor, um das áreas estudadas é justamente a abordagem sobre o efeito da beleza do corpo e da alma, sobre o consumidor e as suas escolhas de consumo. Sendo que muitas vezes a alma, o comportamento e as ações da pessoa em questão valem muito mais.
Um contra-ponto colocado por Bauman é que procurar exemplos e/ou orientações contínuas pode virar um vício, onde a pessoa torna-se dependente como se fosse uma droga, que quando privado, sofre convulsões e todo vício é autodestrutivo.
O código em que a “política de vida” está inserida, deriva da pragmática de comprar, ou seja, o ter é muito mais que o ser. O individuo procura a auto-afirmação quando passa a ter bens e produtos e para sobressair-se diante das demais pessoas da sociedade. O desejo é ilimitado, quando o individuo alcança um patamar imediatamente almeja outro maior e assim por diante. Cabe ressaltar que o autor poderia ter abordado o fato que há modernidade líquida, como a sólida é pautada por uma sociedade de consumo, um capitalismo perverso, que é estimulado por outras áreas como o marketing, propaganda, biogenética e outras.
Em relação ao corpo do consumidor, há uma distinção que é descrita quanto à saúde e a aptidão, ou seja, a saúde é a condição na qual o individuo é capaz de executar uma determinada função, seja física, como carregar um fardo ou psíquica como realizar a operação financeira de um caixa de supermercado. A aptidão vai além da saúde, no sentido de que estar apto significa ter um corpo flexível, ajustável e resiliente. Diz respeito a quebrar todas as normas e superar todos os padrões estabelecidos.
Na sociedade dos consumidores individualizados, tudo precisa ser feito por conta própria e a ironia reside no fato que ir as compras é um ato que encerra em si próprio a atividade individualizada de comprar. A identidade do ser é aquela em que o individuo tenta solidificar o fluido, ou seja, é marcada quando se compartilha as mesmas coisas, como se fosse uma marca, a busca pelo eterno e o imutável. A identidade é única e individual e somente pode ser consolidada quando se adquire o objeto que todo mundo compra.
O consumidor entra em conflito pela amplitude das escolhas que estão disponíveis ao seu redor, a angustia da tomada de decisão correta frente às diversas alternativas, a responsabilidade do individuo livre pela sua decisão e o risco assumido, fazem o processo do consumo cíclico e interminável.
Mudar de identidade implica em quebrar com os antigos preceitos, trata-se de uma iniciativa privada e individualizada, porém, implica em assumir riscos e romper determinados vínculos e certas obrigações.
Por fim, ele deixa uma reflexão sobre a individualidade que traz em si uma competitividade mais agressiva, onde o individuo está só e depende somente de si mesmo para fazer suas escolhas, pensamentos e ações ao invés de unificar uma condição humana regida pela cooperação e solidariedade.
4. Tempo e Espaço
No primeiro momento é analisada a comunidade, que nos remete a um passado longínquo, ou melhor, a um resquício de utopia sobre um bem viver em harmonia entre os vizinhos e os demais que nos circundam, seguindo as melhores regras de convívio. Porém, o autor traz a baile um comentário dos psiquiatras sobre o sentimento que um individuo nutre pensando que os outros estão sempre a conspirar contra ele. Com idéias antagônicas do bem-viver e a conspiração, o ideal de comunidade seria uma utopia a ser atingida. Pode-se dizer que comunidade é uma versão compacta do viver junto, porém quase nunca se concretiza.
No que tange a cidade, é um ajuntamento de pessoas estranhas umas as outras, que não tiveram nenhuma afinidade prévia e provavelmente nunca terão. Neste ponto, a obra relata que novamente há uma oportunidade de consumo imediato, sem compromisso com o outro individuo, é como uma espécie de máscara pública que usamos para viver em uma cidade, o que seria a essência da civilidade, que permite o engajamento e a participação pública sem a exposição do verdadeiro “eu”. A cidade como um espaço onde as pessoas podem compartilhar, sem serem pressionadas ou induzidas a retirar a tal máscara.
A idéia que Bauman transpassa mais uma vez, é que, quando o consumidor ou comprador vai às compras, é como uma viagem no espaço e, secundariamente, viagem no tempo. Os espaços seriam lugares que se atribuem significados, sejam eles de consumo, de vivência, ou outro lugar no qual as pessoas lhe atribuam algum valor. Já os espaços vazios são justamente o contrário, onde não há um significado atribuído aos mesmos.
É colocada no texto a passagem “é uma patologia do espaço público que resulta numa patologia da política: o esvaziamento e a decadência da arte do diálogo e da negociação, e a substituição do engajamento e mútuo comprometimento pelas técnicas do desvio e evasão”. Nota-se aqui a antiga recomendação dos pais e avôs para os netinhos: não fale com estranhos, mantenha distância de quem você não conhece, ele podem fazer mal e seqüestrá-lo. Talvez uma analise psicológica mais profunda explicaria a eterna fuga do debate e da negociação entre as pessoas.  
Uma definição simplista do “espaço” seria o que se pode percorrer em certo tempo e que o “tempo” seria o que se precisa para percorrê-lo. Há muita discussão sobre a definição exata do espaço e tempo, haja vista, inúmeros debates entre físicos, matemáticos e ciências “duras” ou mesmo a filosofia, contribuindo com suas reflexões.
A modernidade é delineada em um tempo e este tempo tem uma história associada. O tempo e espaço deveriam ser emancipados de seus grilhões estanques e sólidos, neste mundo fluido, o espaço fica maior com máquinas mais velozes, com invenções e desenvolvimento de tecnologias, e a cada vez cabe mais coisas dentro do tempo, com eventos simultâneos, rápidos, conjugados e assim ampliando também o espaço.
Na modernidade pesada, a riqueza e o poder dependem do tamanho e qualidade do hardware que são lentos e complexos no movimento, em antítese a modernidade leve. Fluem com os sistemas simbolizados no software, com as pessoas dispersas desenvolvendo capital intelectual e interligando as tecnologias, pessoas, objetos, espaços e tempo. Porém, a rapidez do software no tempo desvaloriza a idéia de espaço, aquele espaço físico onde as pessoas se reuniam, trabalhavam e conviviam.
Adicionalmente, poderia ser considerada a criação do espaço virtual que se desenvolveu no início do século XXI depois da publicação de Modernidade Líquida, como os “avatares”, a fazenda virtual do Facebook e assim por diante. A urgência de ir a algum lugar cede ao espaço virtual, no qual podemos ir a qualquer lugar no momento que assim desejar.
O poder líquido está em quem pode se liquefazer, ou seja, quem é livre para tomar decisões, ocupa mais espaço e livre para movimentar-se quase de modo imperceptível. A administração no capitalismo leve consiste em manter a mão-de-obra afastada do espaço ou mesmo forçá-la a sair, onde a era do software não mais prende e permite a liberdade de movimento, volátil e inconstante, por sua dinâmica de desenvolvimento em qualquer espaço e tempo ao redor do mundo.
A vida instantânea parece uma viagem infinita com múltiplas possibilidades a serem realizadas numa fração de tempo e na miniaturização dos componentes para caberem mais em menos. Costuma-se dizer que o dia deveria ter mais que 24 horas para fazer tudo que seria “necessário”. Atualmente as pessoas já ecoam que será preciso mais de uma vida para realizar e obter o que desejam.
O amanhã é tão efêmero e irreal, que é utilizado inclusive para passar credibilidade e esperança para as pessoas, numa realização que talvez nunca se concretize. O homem foi sustentado por dois pilares, entre o passado e o futuro construindo uma ponte entre a durabilidade e transitoriedade, mas viver numa modernidade líquida implica em assumir responsabilidades e viver o momento, o instantâneo em seu tempo e espaço únicos.
5. Trabalho
O capítulo sobre trabalho começa a idéia que para dominar o futuro é preciso ter os pés bem plantados no presente, porque o indivíduo que tem o poder sobre o presente pode expandir-se no futuro e até mesmo declinar do passado. Vale lembrar que, os grandes impérios da antiguidade como o romano, por exemplo, declinou décadas mais tarde e não se perpetuou no poder, apesar da hegemonia gloriosa do passado que um dia foi o presente.
A questão proposta pelo autor é a do progresso que se sustenta na autoconfiança em si mesmo e no desenvolvimento. O estágio da modernidade líquida no qual o progresso está inserido não é mais considerada uma medida temporária ou transitória que conduz a realização duradoura do bem-estar e viver, mas sim um desafio e uma necessidade perpétua e, quiçá, infindável de permanecer vivo e bem.
Como o tempo é escasso e instantâneo, o progresso precisa ser consumido e usufruído com rapidez, que o momento exige, antes mesmo que o outro progresso se faça perceber. Numa vida guiada pelo preceito da flexibilidade, as estratégias e planos de vida só podem ser de curto prazo, tal preposição colocada por Bauman merece um contra-ponto, se o que há são planos de curto prazo, então qual seria a razão de dedicar-se anos a fio aos estudos, por exemplo, sem um objetivo maior que é ser doutor em medicina neurológica, ou mesmo as empresas fazerem planos estratégicos considerados de longo prazo, que estão em torno de cinco a dez anos, se não houvesse tempos além do curto prazo. A simplificação pura do tempo instantâneo e fugaz, talvez não devesse simplesmente expandir em quaisquer direções.
A relação do trabalho onde o individuo tem se movimentado do estado sólido, com planejamentos de longo prazo, como trabalhar por anos a fio numa mesma empresa, até sua aposentadoria, cede lugar ao movimento curto, no qual o trabalhador articula e planeja algo em torno de dois movimentos futuros e deixa o sistema fluir.
O termo “remendar” proposto pelo autor talvez seja mais apropriado nessa nova relação de trabalho, na qual o plano a longo prazo é substituído pelo curto prazo e é necessário fazer ajustes na engrenagem com a máquina em movimento. 
A ascensão do trabalho ocorreu quando o individuo descobriu que o trabalho era uma fonte de riqueza, assim a razão tinha que buscar, utilizar e explorar essa fonte de modo mais eficiente. No capitalismo pesado, a relação entre o trabalho e a empresa, ou melhor, o capital que deveria ser atado, de tal forma que caminhasse junto e o sistema, não propiciasse a emancipação do individuo. Ele ficaria atrelado e subjugado aos desejos e ordens de outrem e o tempo seria considerado de longo prazo.
No capitalismo leve há a nova mentalidade que prega o curto prazo e os interesses do individuo não atrelados necessariamente do capital. A flexibilidade de ir e vir, o espaço virtual, a mobilidade de transitar por outras esferas apregoa que a vida no trabalho está sujeita a incertezas, o qual gera uma força individualizadora. Há uma fragilidade que permeia as relações no trabalho, um desengajamento unilateral. Entretanto, poderia ser acrescentado o aspecto bilateral, onde as partes envolvidas perseguem seus próprios objetivos e interesse independente, ou seja, o individuo e a empresa são entes independentes.
Os antigos funcionários cedem lugar aos colaboradores que tem menor laço com a empresa, na medida em que a relação de comprometimento no longo prazo se exígua. Os interesses das empresas e dos indivíduos não ficam claros para nenhuma das partes e assim para evitar uma frustração futura tendem a desconfiar de qualquer lealdade em relação ao local de trabalho ou projetos futuros.
A procrastinação é o ato de adiar uma ação, neste sentido ela tem uma tendência a romper qualquer limite de tempo e a estender-se indefinidamente.  A satisfação por sua vez fica relegada ao adiamento como uma provação simples e pura, uma problemática que sinaliza certo desarranjo social e/ou inadequação pessoal.
No fundo o trabalho na modernidade leve, condensa as incertezas quanto ao futuro e ao planejamento a longo prazo, a insegurança estabelecida nas relações e a falta de garantias entre as partes. No mundo do desemprego estrutural ninguém se sente suficientemente seguro ou amparado, ou seja, a flexibilidade é o termo que rege os novos tempos. Assim a satisfação instantânea é perseguida, ao contrário do adiamento da mesma, uma oportunidade não aproveitada é uma oportunidade perdida. Não obstante, a satisfação instantânea é a única maneira de sufocar o sentimento de insegurança, recolocada aqui, não a única, mas sim uma das formas para dominar o sentimento de insegurança, haja vista, que existem outros subterfúgios a serem aplicados no campo da psicologia com esse intuito.
6. Comunidade
A comunidade ideal seria um mundo que oferece tudo que se precisa para levar uma vida significativa e compensatória. É importante para o individuo participar do meio e interagir com ele, mesmo que haja a dicotomia entre liberdade do individuo e as mínimas regras estabelecidas.
Patriotismo versus nacionalismo, no qual o primeiro, em geral, é caracterizado pelo positivismo e o segundo pela carga negativa, ou seja, o nacionalismo é um certo sentimento de ódio e revolta, no qual os outros países estrangeiros estão conspirando algo ruim contra ele. O país acha que está sendo sub-valorizado e sub-respeitado e o patriotismo é visto como o lado leve que enaltece o país, ressalta as suas boas qualidades, sendo um movimento do “eu enquanto país”. O nacionalismo parece como ente que tranca e amordaça enquanto que o patriotismo parece ser mais libertador, leve, tolerante e hospitaleiro.
Além disso, a comunidade de semelhança é utilizada com certo espírito de “nós”, que seria com o intuito de se  disseminar a responsabilidade das ações e conseqüências, não fui eu, mas sim nós, portanto o outro também é responsabilizado. Essa imagem de comunidade como uma ilha de prosperidade e tranqüilidade caseira, num mar revolto e traiçoeiro, cativa à imaginação das pessoas.
Quando a globalização parece tem vigor maior para a disseminação da competitividade entre os povos, a luta pela sobrevivência busca novos mercados, explora a mão-de-obra mais barata e estimula a força da inimizade, mais do que promove a coexistência pacífica das comunidades. As populações sedentárias da modernidade sólida resistem às populações nômades mais propensas a modernidade líquida, atitude que motiva novas regras e deslocamentos de poder criando um conflito de pensamento e contrariedade.
Na paisagem da modernidade líquida a figura do “cloakroom”, ou comunidade de carnaval, é indispensável. O termo “cloakroom” capta bem um de seus traços característicos, no qual o espectador deixa suas roupas e regras utilizadas na rua e veste-se de acordo com a ocasião do espetáculo e assume novas regras durante o tempo daquela apresentação. Entretanto, a comunidade de carnaval dissipa as energias de impulsos de sociabilidade ao invés de condensar e assim contribui para a perpetuação da solidão.
O individuo conquista uma liberdade de ação e pensamento, na busca continua de realização e auto-afirmação, quebrando vínculos com o meio, como exemplo, o trabalho no capital pesado, onde havia uma relação mais sedentária entre as pessoas e o capital.
O tempo atua também numa comunidade de semelhança no capitalismo leve, com a inserção do individuo emergindo conflitos do “eu” e do “nós” que há na liberdade, porém, que também exige a responsabilidade associada à ação.
Esta obra deve ser revista ao longo do tempo, a afim de que novas reflexões e progressos sejam revisados a luz do entendimento da modernidade líquida.

Referência bibliográfica:
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Tradução: Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. 258p.