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segunda-feira, 2 de junho de 2025

CORDEL PÉ NA ESTRADA COM JACK KEROUAC Autor: Moisés Monteiro de Melo Neto



 


 PREFÁCIO

 

“No meio da todas as desgraças que herdamos, cumpre reconhecer que nos foi deixada a maior liberdade de espírito. Cabe-nos a nós não fazer mau uso dela”, essa máxima de André Breton no “Manifesto do Surrealismo” nos parece atual ao falamos de uma produção Literária de Cordel que dialoga intensamente com culturas aparentemente distantes do que tradicionalmente vem sendo produzido no Cordel brasileiro. Assim, vem sendo engendrada a produção literária de Moisés Monteiro de Melo Neto. Desta vez, com “Cordel na estrada de Jack Kerouac”, ele nos blinda com uma produção literária que dialoga mais uma vez entre as camadas da literatura rotuladas por parte da tradição crítica como popular e erudito.

Jack Kerouac como escritor norte-americano, teve sua vida vivida entre 1922 e 1969, mas eternizada por ser um dos grandes nomes da Geração Beat, a qual teve influencia em movimentos culturais relevantes como a contracultura e o movimento hippie. Assim como o autor do Cordel, a obra-prima de Kerouac também se materializa em um romance autobiográfico: “On the Road” (Na Estrada), publicado em 1957, no qual suas viagens pelos Estados Unidos e México são narradas com genialidade. Moisés Monteiro de Melo Neto também possui o hábito de narrar muitas de suas viagens em seus escritos, a exemplo do romance “Palimpsesto”, o qual metaforiza passagens pelo Brasil, América do Sul e países mais distantes como o Egito. O filósofo e crítico literário alemão, Friedrich Schlegel, em “O Dialeto dos Fragmentos”, consegue nos passar uma descrição capaz apreender boa parte da obra de ambos os autores que dialogam no presente cordel: “Muitos dos romances mais notáveis são um compêndio, uma enciclopédia de toda a vida espiritual de um indivíduo genial; [...] Todo homem que é culto e se cultiva também contém um romance em seu interior” .

Outra coincidência entre ambos os autores é que Kerouac, antes de ser consagrado como uma espécie de patrono da Geração Beat, quando estava em Lowell, costumava ter o hábito de ler, comentar, criar e compartilhar diversos textos com os amigos, inclusive, os literários. Isso, em Moisés, é inevitavelmente realizado através do seu trabalho docente na Universidade de Pernambuco (UPE) e na Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL), mas vai além, não apenas compartilha sua erudição com todos a sua volta, como as sublima em folhetos de Cordel com uma produção incessante. Essa atividade, vai além da ludicidade inerente ao gênero Cordel, é uma forma de estreitar, derrubar ou encontrar arames caídos entre as fronteiras construídas entre o erudito e o popular. Boa leitura!

 

José Nogueira da Silva

Doutor em Educação (Universidade Federal de Alagoas – UFAL)

Mestre em Letras e Linguística (UFAL)

Graduado em Letras e Pedagogia

 

 

 

CORDEL PÉ NA ESTRADA COM JACK KEROUAC

Autor: Moisés Monteiro de Melo Neto

1 Jean-Louis Lebris de Kerouac

De Lowell, Massachussetts, sim  

De dezenove vinte e dois

Começo dizendo assim

falece em seis nove, novembro

Não porque estivesse afim

 

2 Chamam  Jack Kerouac

Rei beatnik ele foi

Beat literatura que criou

Nos EUA, anos 50 e apoi

Jack é franco canadense

Na raiz, que se entoe

 

3 Lowell sua cidade natal

 Filho de Léo e Gabrielle

Teve uma infância séria

Dedicado à mãe, que zele

 Em colégio jesuíta

 Morre o irmão Gerard, dor pele

 

4  Pobre, treina futebol americano

Pra ganhar bolsa de estudo

Entra Universidade de Columbia

Nova York com  família e tudo

Frequenta a biblioteca

Livro é bom, não lhe iludo

 

5 Vai à Marinha de Guerra e Mercante

Em New York conhece gente

Pra toda vida que teve

Ginsberg. Burroughs e de frente

Teve Neal Cassady, é

Relação bem diferente

 

6 Que fique logo bem claro

Neal era produto das ruas

Esposa de dezesseis anos

Marylou fazia das suas

Neal esteve em reformatórios

Topava relações duas

 

7 Conheceu grandes amigos

 Que com ele formariam

A Geração Beatnik

E sucesso ganhariam

com viagens e escritos

muitos livros lançariam

 

8 Kerouac com  The town and the city

 Falou da selvagem cidade

valores do velho mundo.

 seus diários, sinceridade

 foi o seu primeiro romance

 publicado,  e a vaidade?

 

9 Não chegou a trazer fama

 Uma má experiência

 passaria muito tempo

 sem publicar , vem a sofrência

período  que  sucedeu, criou

On the Road., sua obra de referência

 

10 Fala das suas viagens

que fez com Neal, um amigo

de sobrenome Cassady

desde universidade, digo

 formas livres de escrever

 mochila, e pobre abrigo

 

11 Vagava de um lado pro

 Dentro do seu  país

Os EUA, anos 50

No México "Tristessa", diz

sobre viciada em morfina

 Não é coisa de aprendiz

 

12 Tem ensinamentos budistas

 compaixão por sofrimento

O pé na estrada ele tinha

Rota 66, experimento

 Liberdade era o mote

 sete anos sol, frio, vento

 

13 Leste -oeste, de Nova York

Foram até São Francisco

Dean Moriarty e Sal Paradise

Pseudônimo arisco

Verão de 53

 Geraria  "Os Subterrâneos", risco

 

14 Escrito em três dias apenas

rompante inspiracional

junta fatos biográficos.

De um jeito natural

 On the road é “Bíblia Hippie”

Entre o divino e o mal

 

15 Escrita em três semanas

 narrativa alucinante

impressionou editores

rolo de 36 metros, se espante

sem parágrafos ou pontuação

caretice bem distante

 

16  Fluxo de palavras, certo?

Na editora deu trabalho

Rolo foi revisado

Botam pontos e vírgulas, atalho

 páginas eliminadas

 cartas fora do baralho

 

17  Era estilo-avalanche

Dizem tomava benzedrina

Ele diz foi só café

Allen Ginsberg, língua ferina

Escritor amigo seu

Fala de escrita interina

 

18 Jack podia escrever romances

 sob efeito de substâncias

 sentava e datilografava

 por semanas, importâncias

fazia correções, escrevia

ele não media distâncias

 

 

19 Ele sempre foi tímido

 ainda que parecesse durão

 era doce, sensível, passional.

Com Neal tinha isso não

era mais espontâneo

tipo do cara bissexual machão

 

20 Ele se interessava por palavras

 Pedia: Jack o ensinasse

 a ser do seu jeito

Eram opostos, se alguém notasse

 Diziam se pareciam

Carolyn, de Neal falasse

 

21 Neal, rude, Jack, introvertido

Sucesso, prestígio, sim

Conquistou, mas atormentado

Crítica estupefata, enfim

Um novo Hemingway?

Para Jack foi assim

 

22  Fama causou apreensão

Instantânea celebridade

Deu-lhe agitação medo

Era a tal publicidade

ele era só Jack Kerouac

sem uma felicidade

 

23 Vagabundos Iluminados 

Foi o livro a seguir

lançado em cinco oito

mal consigo definir

coisas espirituais

ele então deixou fluir

 

24  Se isolou de todo mundo

Pirou numa colina, tal bicho

numa cabana sozinho

sem eletricidade, um nicho

sem vidros nas janelas

sem vaidade nem capricho

 

25 Uma garrafa de uísque por dia

sofreu com alucinações

 registrada no seu  livro “Big Sur”

 de meia dois, ele expõe suas opiniões

foi ser guarda florestal

sim: nas diárias e serões

 

26 Neal: muito sexo,  amar sem medo

 Com gente recém conhecida

 Desapego ao material

 pequenos furtos, gasta tudo na vida

usa roupas emprestadas

era rebeldia atrevida

Mas Kerouac atinge o extremo.

 

27 O protagonistas do “viva e deixe viver”.

Esses dois? Caronas na estrada

Estrada chamada vida

Isso é coisa tão passada

Na realidade brasileira

Vem o funk em disparada

 

28 Tudo em prol da liberdade

A gente chega ao extremo

Nem pela curiosidade

Do  enorme ao pequeno, temo

Limite dos Beatniks

Só de pensar me tremo

 

 28 Ausência paterna e prisão

Isso se incluiu na rotina

as atitudes justificam

esperança ali na esquina

Jazz  (ou samba?) na noitada

Tanta dor se elimina

 

29 Total liberdade é uma máscara

 Prum egoísmo criativo

Percebemos no final

a atitude de Dean, ativo

a época já passou

mas o livro está vivo!

 

29 Os alicerces ficcionais

 em reais espaços ficou

geopolíticos, bem sei

mas a invenção não acabou

tal autor e narrador

essa memória marcou

 

30 Viagem cortando um país

 ao mesmo tempo, tão cultural

controvérsias de uma geração

quase além do bem e do mal

penso poeticamente

caretice me é fatal

 

31 On the road, autobiográfico

Parece falar de hoje, talvez

 Sal Paradise e Dean Moriarty

Grandes sem pequenez

Neal Cassady e Kerouac

errantes certa altivez

 

32 Aventuras e experiências

Um dia o homem se acha

a procura de si mesmo

disso ou aquilo outro lhe tacha

viver na intensidade

triste é quem se rebaixa

 

33 Descobertas e reflexões

de viajantes Na estrada

Coerência na narrativa

E estética, vida arretada

A aventura pessoal

do autor se lê redimensionada

 

34 Bem mais ampla, universal

 Esses diários de viagem

Registro de datas e eventos

Sociedade yankee e além

 sequelas da Segunda Guerra

Deles e nossas, também

 

35 Revoluções culturais

comportamento da juventude

 Pensamento transgressor

 Ferllinghetti, Corso: atitude

 Eita! Grupo peculiar

Atingiu grande altitude

 

36 Hippies, punks etc.

Muitos tentaram, destarte

O reggae também se ergueu

revolução pela arte

mas a literatura

levou isso a outra parte

 

 

37 Vasto e multiplicante

O capital solto é terrível

Varriam o globo pelo lucro

EUA ou Central do Brasil, incrível

Tem sempre a hora do rush

Do visível ao invisível

 

38 Nos olhos do estradeiro

Tem silêncio e zunido

Tudo está a cambiar

milhões de gente, prurido

atropelando sem temer

a lógica e o sentido

 

39 Em troca de uns tostões

um sonho maluco, quem sabe?

 pegando, agarrando, entregando

 suspira, morre, o que cabe?

São as torres da nação

Vida longa ao país, babe...

 

40 O homem vai prosseguindo

Na  desigualdade, bem sei

Existe a liberdade?

Isso já perguntei

Mudança são necessárias

Pro hetero e pro gay

 

41 Gerações futuras, me ouvi!

Sou professor e artista

Do mundo, muito eu vi

Embora eu não desista

 Entra na cena, acostumado

Pois nunca fui um turista

 

42 Transgrido na Literatura

Aqui mesmo, neste Cordel

Acredito na civilização

Mesmo jeito inferno/ Céu

Oro pum Deus que nos una

Que nunca nos deixe ao léu

 

 43 Minha primeira carona

 foi caminhão com dinamite

com bandeira vermelha e tudo

talvez você não acredite

má infraestrutura da estrada

memória me habilite

 

44 O sonho da população

 de classe média, e do pobre

 capacidade para renovação

retransformação, nada sobre

sempre nos renovar

de repente, se descobre

 

45 American way of life

Yankees a bombardear

Hollywood ou Netflix

Globo, Vênus a platinar

Nossos destinos se cruzam

On the road, sem parar

 

46 Na quebra e paradigmas

Construção de identidade

política que nos cerca

no campo ou na cidade

de angústia e reflexão

vagabundo, autoridade

 

47 Século XXI se arrastando

lacraia em deserto sem fim

Voltemos a Kerouac

Distante no tempo, enfim

no fim dos anos 50

Na imaginação sai de mim

 

48 “Oh cara! cara! cara!" balbucia-me Dean

Acabe o cordel, enterre o defunto

 Que isso não é o começo

Finde logo o assunto

 finalmente junto ao leitor, aí

diga: não fique junto

 

49 Foram loucos, monstros?

anormais, prisioneiros, drogados

Tradição que se construiu?

Estarão todos parados

Numa crônica do declínio

Foram poetas narrados

 

50 Dilemas de libertação

do lugar comum, enfim

superando a depressão

cultura alternativa em mim

volto ao foco deste livrinho

grandioso, tão chinfrim...

 

51 No verão de  56

Veio a obra “Anjos da desolação"

O alcoolismo piorou

Derrota e solidão

 vai morar com a sua mãe

Long Island, que situação

 

52 Os trabalhos finais

 Com alma desconectada

 Perdido em devaneios

 Alma beat  tão cansada

 virou um conservador

em nome da mãe amada

 

53 Casou duas vezes, o cara

Era uma vida comum

 Mas acabaram em poucos meses

E velha conhecida, mais um

Com a mãe, moram na Flórida

Livro novo? Nenhum

 

54 Influência tão produtiva

Esse escritor deixou

Kerouac foi um mestre

Que por essa vida passou

E no Cemitério Edson

Massachussets, se enterrou

 

55 Não é bem final da história

Tanto se assucedeu

Coração e mente danados

Contracultura, valeu!

Esse fluxo continua

Esforço não se perdeu.

 

 



 

 

 

 

 

 

CORDEL PÉ NA ESTRADA COM JACK KEROUAC

Autor: Moisés Monteiro de Melo Neto

1 Jean-Louis Lebris de Kerouac

De Lowell, Massachussetts, sim  

De dezenove vinte e dois

Começo dizendo assim

falece em seis nove, novembro

Não porque estivesse afim

 

2 Chamam  Jack Kerouac

Rei beatnik ele foi

Beat literatura que criou

Nos EUA, anos 50 e apoi

Jack é franco canadense

Na raiz, que se entoe

 

3 Lowell sua cidade natal

 Filho de Léo e Gabrielle

Teve uma infância séria

Dedicado à mãe, que zele

 Em colégio jesuíta

 Morre o irmão Gerard, dor pele

 

4  Pobre, treina futebol americano

Pra ganhar bolsa de estudo

Entra Universidade de Columbia

Nova York com  família e tudo

Frequenta a biblioteca

Livro é bom, não lhe iludo

 

5 Vai à Marinha de Guerra e Mercante

Em New York conhece gente

Pra toda vida que teve

Ginsberg. Burroughs e de frente

Teve Neal Cassady, é

Relação bem diferente

 

6 Que fique logo bem claro

Neal era produto das ruas

Esposa de dezesseis anos

Marylou fazia das suas

Neal esteve em reformatórios

Topava relações duas

 

7 Conheceu grandes amigos

 Que com ele formariam

A Geração Beatnik

E sucesso ganhariam

com viagens e escritos

muitos livros lançariam

 

8 Kerouac com  The town and the city

 Falou da selvagem cidade

valores do velho mundo.

 seus diários, sinceridade

 foi o seu primeiro romance

 publicado,  e a vaidade?

 

9 Não chegou a trazer fama

 Uma má experiência

 passaria muito tempo

 sem publicar , vem a sofrência

período  que  sucedeu, criou

On the Road., sua obra de referência

 

10 Fala das suas viagens

que fez com Neal, um amigo

de sobrenome Cassady

desde universidade, digo

 formas livres de escrever

 mochila, e pobre abrigo

 

11 Vagava de um lado pro

 Dentro do seu  país

Os EUA, anos 50

No México "Tristessa", diz

sobre viciada em morfina

 Não é coisa de aprendiz

 

12 Tem ensinamentos budistas

 compaixão por sofrimento

O pé na estrada ele tinha

Rota 66, experimento

 Liberdade era o mote

 sete anos sol, frio, vento

 

13 Leste -oeste, de Nova York

Foram até São Francisco

Dean Moriarty e Sal Paradise

Pseudônimo arisco

Verão de 53

 Geraria  "Os Subterrâneos", risco

 

14 Escrito em três dias apenas

rompante inspiracional

junta fatos biográficos.

De um jeito natural

 On the road é “Bíblia Hippie”

Entre o divino e o mal

 

15 Escrita em três semanas

 narrativa alucinante

impressionou editores

rolo de 36 metros, se espante

sem parágrafos ou pontuação

caretice bem distante

 

16  Fluxo de palavras, certo?

Na editora deu trabalho

Rolo foi revisado

Botam pontos e vírgulas, atalho

 páginas eliminadas

 cartas fora do baralho

 

17  Era estilo-avalanche

Dizem tomava benzedrina

Ele diz foi só café

Allen Ginsberg, língua ferina

Escritor amigo seu

Fala de escrita interina

 

18 Jack podia escrever romances

 sob efeito de substâncias

 sentava e datilografava

 por semanas, importâncias

fazia correções, escrevia

ele não media distâncias

 

 

19 Ele sempre foi tímido

 ainda que parecesse durão

 era doce, sensível, passional.

Com Neal tinha isso não

era mais espontâneo

tipo do cara bissexual machão

 

20 Ele se interessava por palavras

 Pedia: Jack o ensinasse

 a ser do seu jeito

Eram opostos, se alguém notasse

 Diziam se pareciam

Carolyn, de Neal falasse

 

21 Neal, rude, Jack, introvertido

Sucesso, prestígio, sim

Conquistou, mas atormentado

Crítica estupefata, enfim

Um novo Hemingway?

Para Jack foi assim

 

22  Fama causou apreensão

Instantânea celebridade

Deu-lhe agitação medo

Era a tal publicidade

ele era só Jack Kerouac

sem uma felicidade

 

23 Vagabundos Iluminados 

Foi o livro a seguir

lançado em cinco oito

mal consigo definir

coisas espirituais

ele então deixou fluir

 

24  Se isolou de todo mundo

Pirou numa colina, tal bicho

numa cabana sozinho

sem eletricidade, um nicho

sem vidros nas janelas

sem vaidade nem capricho

 

25 Uma garrafa de uísque por dia

sofreu com alucinações

 registrada no seu  livro “Big Sur”

 de meia dois, ele expõe suas opiniões

foi ser guarda florestal

sim: nas diárias e serões

 

26 Neal: muito sexo,  amar sem medo

 Com gente recém conhecida

 Desapego ao material

 pequenos furtos, gasta tudo na vida

usa roupas emprestadas

era rebeldia atrevida

Mas Kerouac atinge o extremo.

 

27 O protagonistas do “viva e deixe viver”.

Esses dois? Caronas na estrada

Estrada chamada vida

Isso é coisa tão passada

Na realidade brasileira

Vem o funk em disparada

 

28 Tudo em prol da liberdade

A gente chega ao extremo

Nem pela curiosidade

Do  enorme ao pequeno, temo

Limite dos Beatniks

Só de pensar me tremo

 

 28 Ausência paterna e prisão

Isso se incluiu na rotina

as atitudes justificam

esperança ali na esquina

Jazz  (ou samba?) na noitada

Tanta dor se elimina

 

29 Total liberdade é uma máscara

 Prum egoísmo criativo

Percebemos no final

a atitude de Dean, ativo

a época já passou

mas o livro está vivo!

 

29 Os alicerces ficcionais

 em reais espaços ficou

geopolíticos, bem sei

mas a invenção não acabou

tal autor e narrador

essa memória marcou

 

30 Viagem cortando um país

 ao mesmo tempo, tão cultural

controvérsias de uma geração

quase além do bem e do mal

penso poeticamente

caretice me é fatal

 

31 On the road, autobiográfico

Parece falar de hoje, talvez

 Sal Paradise e Dean Moriarty

Grandes sem pequenez

Neal Cassady e Kerouac

errantes certa altivez

 

32 Aventuras e experiências

Um dia o homem se acha

a procura de si mesmo

disso ou aquilo outro lhe tacha

viver na intensidade

triste é quem se rebaixa

 

33 Descobertas e reflexões

de viajantes Na estrada

Coerência na narrativa

E estética, vida arretada

A aventura pessoal

do autor se lê redimensionada

 

34 Bem mais ampla, universal

 Esses diários de viagem

Registro de datas e eventos

Sociedade yankee e além

 sequelas da Segunda Guerra

Deles e nossas, também

 

35 Revoluções culturais

comportamento da juventude

 Pensamento transgressor

 Ferllinghetti, Corso: atitude

 Eita! Grupo peculiar

Atingiu grande altitude

 

36 Hippies, punks etc.

Muitos tentaram, destarte

O reggae também se ergueu

revolução pela arte

mas a literatura

levou isso a outra parte

 

 

37 Vasto e multiplicante

O capital solto é terrível

Varriam o globo pelo lucro

EUA ou Central do Brasil, incrível

Tem sempre a hora do rush

Do visível ao invisível

 

38 Nos olhos do estradeiro

Tem silêncio e zunido

Tudo está a cambiar

milhões de gente, prurido

atropelando sem temer

a lógica e o sentido

 

39 Em troca de uns tostões

um sonho maluco, quem sabe?

 pegando, agarrando, entregando

 suspira, morre, o que cabe?

São as torres da nação

Vida longa ao país, babe...

 

40 O homem vai prosseguindo

Na  desigualdade, bem sei

Existe a liberdade?

Isso já perguntei

Mudança são necessárias

Pro hetero e pro gay

 

41 Gerações futuras, me ouvi!

Sou professor e artista

Do mundo, muito eu vi

Embora eu não desista

 Entra na cena, acostumado

Pois nunca fui um turista

 

42 Transgrido na Literatura

Aqui mesmo, neste Cordel

Acredito na civilização

Mesmo jeito inferno/ Céu

Oro pum Deus que nos una

Que nunca nos deixe ao léu

 

 43 Minha primeira carona

 foi caminhão com dinamite

com bandeira vermelha e tudo

talvez você não acredite

má infraestrutura da estrada

memória me habilite

 

44 O sonho da população

 de classe média, e do pobre

 capacidade para renovação

retransformação, nada sobre

sempre nos renovar

de repente, se descobre

 

45 American way of life

Yankees a bombardear

Hollywood ou Netflix

Globo, Vênus a platinar

Nossos destinos se cruzam

On the road, sem parar

 

46 Na quebra e paradigmas

Construção de identidade

política que nos cerca

no campo ou na cidade

de angústia e reflexão

vagabundo, autoridade

 

47 Século XXI se arrastando

lacraia em deserto sem fim

Voltemos a Kerouac

Distante no tempo, enfim

no fim dos anos 50

Na imaginação sai de mim

 

48 “Oh cara! cara! cara!" balbucia-me Dean

Acabe o cordel, enterre o defunto

 Que isso não é o começo

Finde logo o assunto

 finalmente junto ao leitor, aí

diga: não fique junto

 

49 Foram loucos, monstros?

anormais, prisioneiros, drogados

Tradição que se construiu?

Estarão todos parados

Numa crônica do declínio

Foram poetas narrados

 

50 Dilemas de libertação

do lugar comum, enfim

superando a depressão

cultura alternativa em mim

volto ao foco deste livrinho

grandioso, tão chinfrim...

 

51 No verão de  56

Veio a obra “Anjos da desolação"

O alcoolismo piorou

Derrota e solidão

 vai morar com a sua mãe

Long Island, que situação

 

52 Os trabalhos finais

 Com alma desconectada

 Perdido em devaneios

 Alma beat  tão cansada

 virou um conservador

em nome da mãe amada

 

53 Casou duas vezes, o cara

Era uma vida comum

 Mas acabaram em poucos meses

E velha conhecida, mais um

Com a mãe, moram na Flórida

Livro novo? Nenhum

 

54 Influência tão produtiva

Esse escritor deixou

Kerouac foi um mestre

Que por essa vida passou

E no Cemitério Edson

Massachussets, se enterrou

 

55 Não é bem final da história

Tanto se assucedeu

Coração e mente danados

Contracultura, valeu!

Esse fluxo continua

Esforço não se perdeu.

 

 

O manuscrito original

Museu Boott Cotton Mills (Massachusets, 2007)

 

 

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