“No meio da todas as desgraças que
herdamos, cumpre reconhecer que nos foi deixada a maior liberdade de espírito.
Cabe-nos a nós não fazer mau uso dela”, essa máxima de André Breton no
“Manifesto do Surrealismo” nos parece atual ao falamos de uma produção Literária
de Cordel que dialoga intensamente com culturas aparentemente distantes do que
tradicionalmente vem sendo produzido no Cordel brasileiro. Assim, vem sendo
engendrada a produção literária de Moisés Monteiro de Melo Neto. Desta vez, com
“Cordel na estrada de Jack Kerouac”, ele nos blinda com uma produção literária
que dialoga mais uma vez entre as camadas da literatura rotuladas por parte da
tradição crítica como popular e erudito.
Jack Kerouac como escritor
norte-americano, teve sua vida vivida entre 1922 e 1969, mas eternizada por ser
um dos grandes nomes da Geração Beat, a qual teve influencia em movimentos
culturais relevantes como a contracultura e o movimento hippie. Assim como o
autor do Cordel, a obra-prima de Kerouac também se materializa em um romance
autobiográfico: “On the Road” (Na Estrada), publicado em
1957, no qual suas viagens pelos Estados Unidos e México são narradas com
genialidade. Moisés Monteiro de Melo Neto também possui o hábito de narrar
muitas de suas viagens em seus escritos, a exemplo do romance “Palimpsesto”, o
qual metaforiza passagens pelo Brasil, América do Sul e países mais distantes
como o Egito. O filósofo e crítico literário alemão, Friedrich Schlegel, em “O
Dialeto dos Fragmentos”, consegue nos passar uma descrição capaz apreender boa
parte da obra de ambos os autores que dialogam no presente cordel: “Muitos dos
romances mais notáveis são um compêndio, uma enciclopédia de toda a vida
espiritual de um indivíduo genial; [...] Todo homem que é culto e se cultiva
também contém um romance em seu interior” .
Outra coincidência entre ambos os
autores é que Kerouac, antes de ser consagrado como uma espécie de patrono da
Geração Beat, quando estava em Lowell, costumava ter o hábito de ler, comentar,
criar e compartilhar diversos textos com os amigos, inclusive, os literários.
Isso, em Moisés, é inevitavelmente realizado através do seu trabalho docente na
Universidade de Pernambuco (UPE) e na Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL),
mas vai além, não apenas compartilha sua erudição com todos a sua volta, como
as sublima em folhetos de Cordel com uma produção incessante. Essa atividade,
vai além da ludicidade inerente ao gênero Cordel, é uma forma de estreitar,
derrubar ou encontrar arames caídos entre as fronteiras construídas entre o
erudito e o popular. Boa leitura!
José Nogueira da Silva
Doutor em Educação
(Universidade Federal de Alagoas – UFAL)
Mestre em Letras e
Linguística (UFAL)
Graduado em Letras
e Pedagogia
CORDEL
PÉ NA ESTRADA COM JACK KEROUAC
Autor:
Moisés Monteiro de Melo Neto
1
Jean-Louis Lebris de Kerouac
De
Lowell, Massachussetts, sim
De dezenove vinte e dois
Começo dizendo assim
falece em seis nove, novembro
Não porque estivesse afim
2
Chamam Jack Kerouac
Rei
beatnik ele foi
Beat
literatura que criou
Nos
EUA, anos 50 e apoi
Jack
é franco canadense
Na
raiz, que se entoe
3 Lowell sua cidade natal
Filho de Léo e Gabrielle
Teve uma infância séria
Dedicado à mãe, que zele
Em colégio jesuíta
Morre o irmão Gerard, dor pele
4
Pobre, treina futebol americano
Pra ganhar bolsa de estudo
Entra Universidade de Columbia
Nova York com família e tudo
Frequenta a biblioteca
Livro é bom, não lhe iludo
5 Vai à Marinha de Guerra e Mercante
Em New York conhece gente
Pra toda vida que teve
Ginsberg. Burroughs e de frente
Teve Neal Cassady, é
Relação bem diferente
6 Que fique logo bem claro
Neal era produto das ruas
Esposa de dezesseis anos
Marylou fazia das suas
Neal esteve em reformatórios
Topava relações duas
7 Conheceu grandes amigos
Que com ele formariam
A Geração Beatnik
E sucesso ganhariam
com viagens e escritos
muitos livros lançariam
8 Kerouac com The town and the city
Falou da selvagem cidade
valores do velho mundo.
seus diários, sinceridade
foi o seu primeiro romance
publicado,
e a vaidade?
9 Não chegou a trazer fama
Uma má experiência
passaria muito tempo
sem publicar , vem a sofrência
período que
sucedeu, criou
On the Road., sua obra de referência
10 Fala das suas viagens
que fez com Neal, um amigo
de sobrenome Cassady
desde universidade, digo
formas livres de escrever
mochila, e pobre abrigo
11 Vagava de um lado pro
Dentro do seu
país
Os EUA, anos 50
No México "Tristessa", diz
sobre viciada em morfina
Não é coisa de
aprendiz
12
Tem ensinamentos
budistas
compaixão por sofrimento
O pé na estrada ele tinha
Rota 66, experimento
Liberdade era o mote
sete anos sol, frio, vento
13 Leste -oeste, de Nova York
Foram até São Francisco
Dean Moriarty e Sal Paradise
Pseudônimo arisco
Verão de 53
Geraria
"Os Subterrâneos", risco
14 Escrito em três dias apenas
rompante inspiracional
junta fatos biográficos.
De um jeito
natural
On the road é “Bíblia Hippie”
Entre o divino e o mal
15 Escrita em três semanas
narrativa alucinante
impressionou editores
rolo
de 36 metros, se espante
sem
parágrafos ou pontuação
caretice
bem distante
16 Fluxo de palavras, certo?
Na editora deu trabalho
Rolo foi revisado
Botam pontos e vírgulas, atalho
páginas eliminadas
cartas fora do baralho
17 Era estilo-avalanche
Dizem tomava benzedrina
Ele diz foi só café
Allen Ginsberg, língua ferina
Escritor amigo seu
Fala de escrita interina
18 Jack podia escrever romances
sob efeito de substâncias
sentava e datilografava
por semanas, importâncias
fazia correções, escrevia
ele não media distâncias
19 Ele sempre foi tímido
ainda que parecesse durão
era doce, sensível, passional.
Com Neal tinha isso não
era mais espontâneo
tipo do cara bissexual machão
20 Ele se interessava por palavras
Pedia: Jack o ensinasse
a ser do seu jeito
Eram opostos, se alguém notasse
Diziam se pareciam
Carolyn, de Neal falasse
21 Neal, rude, Jack, introvertido
Sucesso, prestígio, sim
Conquistou, mas atormentado
Crítica estupefata, enfim
Um novo Hemingway?
Para Jack foi assim
22
Fama causou apreensão
Instantânea celebridade
Deu-lhe agitação medo
Era a tal publicidade
ele era só Jack Kerouac
sem uma felicidade
23 Vagabundos Iluminados
Foi o livro a seguir
lançado em cinco oito
mal consigo definir
coisas espirituais
ele então deixou fluir
24 Se isolou de todo mundo
Pirou numa colina, tal bicho
numa cabana sozinho
sem eletricidade, um nicho
sem vidros nas janelas
sem vaidade nem capricho
25 Uma garrafa de uísque por dia
sofreu com alucinações
registrada no seu livro “Big Sur”
de meia dois, ele expõe suas opiniões
foi ser guarda florestal
sim: nas diárias e serões
26 Neal: muito sexo,
amar sem medo
Com gente recém
conhecida
Desapego ao
material
pequenos furtos, gasta
tudo na vida
usa roupas emprestadas
era rebeldia atrevida
Mas Kerouac atinge o extremo.
27 O protagonistas do “viva e deixe viver”.
Esses dois? Caronas na estrada
Estrada chamada vida
Isso é coisa tão passada
Na realidade brasileira
Vem o funk em disparada
28 Tudo em prol da liberdade
A gente chega ao extremo
Nem pela curiosidade
Do enorme ao
pequeno, temo
Limite dos Beatniks
Só de pensar me tremo
28 Ausência paterna e prisão
Isso se incluiu na rotina
as atitudes justificam
esperança ali na esquina
Jazz (ou
samba?) na noitada
Tanta dor se elimina
29 Total liberdade é uma máscara
Prum egoísmo
criativo
Percebemos no final
a atitude de Dean, ativo
a época já passou
mas o livro está vivo!
29 Os alicerces
ficcionais
em reais espaços ficou
geopolíticos, bem sei
mas a invenção não acabou
tal autor e narrador
essa memória marcou
30 Viagem cortando um país
ao mesmo tempo, tão cultural
controvérsias de uma geração
quase além do bem e do mal
penso poeticamente
caretice me é fatal
31 On the road, autobiográfico
Parece falar de hoje, talvez
Sal Paradise e Dean Moriarty
Grandes sem pequenez
Neal Cassady e Kerouac
errantes certa altivez
32 Aventuras e experiências
Um dia o homem se acha
a procura de si mesmo
disso ou aquilo outro lhe tacha
viver na intensidade
triste é quem se rebaixa
33 Descobertas e reflexões
de viajantes Na estrada
Coerência na narrativa
E estética, vida arretada
A aventura pessoal
do autor se lê redimensionada
34 Bem mais ampla, universal
Esses diários de viagem
Registro de datas e eventos
Sociedade yankee e além
sequelas da Segunda Guerra
Deles e nossas, também
35 Revoluções culturais
comportamento da juventude
Pensamento transgressor
Ferllinghetti, Corso: atitude
Eita! Grupo peculiar
Atingiu grande altitude
36 Hippies, punks etc.
Muitos tentaram, destarte
O reggae também se ergueu
revolução pela arte
mas a literatura
levou isso a outra parte
37 Vasto e multiplicante
O capital solto é terrível
Varriam o globo pelo lucro
EUA ou Central do Brasil, incrível
Tem sempre a hora do rush
Do visível ao invisível
38 Nos olhos do estradeiro
Tem silêncio e zunido
Tudo está a cambiar
milhões de gente, prurido
atropelando sem temer
a lógica e o sentido
39 Em troca de uns tostões
um sonho maluco, quem sabe?
pegando, agarrando, entregando
suspira, morre, o que cabe?
São as torres da nação
Vida longa ao país, babe...
40 O homem vai prosseguindo
Na desigualdade, bem sei
Existe a liberdade?
Isso já perguntei
Mudança são necessárias
Pro hetero e pro gay
41 Gerações futuras, me ouvi!
Sou professor e artista
Do mundo, muito eu vi
Embora eu não desista
Entra na cena, acostumado
Pois nunca fui um turista
42 Transgrido na Literatura
Aqui mesmo, neste Cordel
Acredito na civilização
Mesmo jeito inferno/ Céu
Oro pum Deus que nos una
Que nunca nos deixe ao léu
43 Minha primeira carona
foi caminhão com dinamite
com bandeira vermelha e tudo
talvez você não acredite
má infraestrutura da estrada
memória me habilite
44 O sonho da população
de classe média, e do pobre
capacidade para renovação
retransformação, nada sobre
sempre nos renovar
de repente, se descobre
45 American way of life
Yankees a bombardear
Hollywood ou Netflix
Globo, Vênus a platinar
Nossos destinos se cruzam
On the road, sem parar
46 Na quebra e paradigmas
Construção de identidade
política que nos cerca
no campo ou na cidade
de angústia e reflexão
vagabundo, autoridade
47 Século XXI se arrastando
lacraia em deserto sem fim
Voltemos a Kerouac
Distante no tempo, enfim
no fim dos anos 50
Na imaginação sai de mim
48 “Oh cara! cara! cara!"
balbucia-me Dean
Acabe o cordel, enterre o defunto
Que isso não é o começo
Finde logo o assunto
finalmente junto ao leitor, aí
diga: não fique junto
49 Foram loucos, monstros?
anormais, prisioneiros, drogados
Tradição que se construiu?
Estarão todos parados
Numa crônica do declínio
Foram poetas narrados
50 Dilemas de libertação
do lugar comum, enfim
superando a depressão
cultura alternativa em mim
volto ao foco deste livrinho
grandioso, tão chinfrim...
51 No verão de 56
Veio a obra “Anjos da desolação"
O alcoolismo piorou
Derrota e solidão
vai morar com a sua mãe
Long Island, que situação
52 Os trabalhos finais
Com alma desconectada
Perdido em devaneios
Alma beat tão cansada
virou um conservador
em nome da mãe amada
53 Casou duas vezes, o cara
Era uma vida comum
Mas acabaram em poucos meses
E velha conhecida, mais um
Com a mãe, moram na Flórida
Livro novo? Nenhum
54 Influência tão produtiva
Esse escritor deixou
Kerouac foi um mestre
Que por essa vida passou
E no Cemitério Edson
Massachussets, se enterrou
55 Não é bem final da história
Tanto se assucedeu
Coração e mente danados
Contracultura, valeu!
Esse fluxo continua
Esforço não se perdeu.
CORDEL PÉ NA ESTRADA COM JACK KEROUAC
Autor: Moisés Monteiro de Melo Neto
1 Jean-Louis Lebris de Kerouac
De Lowell, Massachussetts, sim
De
dezenove vinte e dois
Começo
dizendo assim
falece
em seis nove, novembro
Não
porque estivesse afim
2 Chamam Jack Kerouac
Rei beatnik ele foi
Beat literatura que criou
Nos EUA, anos 50 e apoi
Jack é franco canadense
Na raiz, que se entoe
3 Lowell sua cidade natal
Filho de Léo e Gabrielle
Teve uma infância séria
Dedicado à mãe, que zele
Em colégio jesuíta
Morre o irmão Gerard, dor pele
4 Pobre, treina futebol americano
Pra ganhar bolsa de estudo
Entra Universidade de Columbia
Nova York com família e tudo
Frequenta a biblioteca
Livro é bom, não lhe iludo
5 Vai à Marinha de Guerra e Mercante
Em New York conhece gente
Pra toda vida que teve
Ginsberg. Burroughs e de frente
Teve Neal Cassady, é
Relação bem diferente
6 Que fique logo bem claro
Neal era produto das ruas
Esposa de dezesseis anos
Marylou fazia das suas
Neal esteve em reformatórios
Topava relações duas
7 Conheceu grandes amigos
Que com ele formariam
A Geração Beatnik
E sucesso ganhariam
com viagens e escritos
muitos livros lançariam
8 Kerouac com The town and the
city
Falou da selvagem cidade
valores do velho mundo.
seus diários, sinceridade
foi o seu primeiro romance
publicado, e a vaidade?
9 Não chegou a trazer fama
Uma má experiência
passaria muito tempo
sem publicar , vem a sofrência
período que sucedeu, criou
On the Road., sua obra de referência
10 Fala das suas viagens
que fez com Neal, um amigo
de sobrenome Cassady
desde universidade, digo
formas livres de escrever
mochila, e pobre abrigo
11 Vagava de um lado pro
Dentro do seu país
Os EUA, anos 50
No México "Tristessa", diz
sobre viciada em morfina
Não é coisa de
aprendiz
12 Tem ensinamentos
budistas
compaixão por sofrimento
O pé na estrada ele tinha
Rota 66, experimento
Liberdade era o mote
sete anos sol, frio, vento
13 Leste -oeste, de Nova York
Foram até São Francisco
Dean Moriarty e Sal Paradise
Pseudônimo arisco
Verão de 53
Geraria "Os Subterrâneos", risco
14 Escrito em três dias apenas
rompante inspiracional
junta fatos biográficos.
De um jeito natural
On the road é “Bíblia
Hippie”
Entre o divino e o mal
15 Escrita em três semanas
narrativa alucinante
impressionou editores
rolo de 36 metros, se espante
sem parágrafos ou pontuação
caretice bem distante
16 Fluxo de palavras, certo?
Na editora deu trabalho
Rolo foi revisado
Botam pontos e vírgulas, atalho
páginas eliminadas
cartas fora do baralho
17 Era estilo-avalanche
Dizem tomava benzedrina
Ele diz foi só café
Allen Ginsberg, língua ferina
Escritor amigo seu
Fala de escrita interina
18 Jack podia escrever romances
sob efeito de substâncias
sentava e datilografava
por semanas, importâncias
fazia correções, escrevia
ele não media distâncias
19 Ele sempre foi tímido
ainda que parecesse durão
era doce, sensível, passional.
Com Neal tinha isso não
era mais espontâneo
tipo do cara bissexual machão
20 Ele se interessava por palavras
Pedia: Jack o ensinasse
a ser do seu jeito
Eram opostos, se alguém notasse
Diziam se pareciam
Carolyn, de Neal falasse
21 Neal, rude, Jack, introvertido
Sucesso, prestígio, sim
Conquistou, mas atormentado
Crítica estupefata, enfim
Um novo Hemingway?
Para Jack foi assim
22 Fama causou apreensão
Instantânea celebridade
Deu-lhe agitação medo
Era a tal publicidade
ele era só Jack Kerouac
sem uma felicidade
23 Vagabundos Iluminados
Foi o livro a seguir
lançado em cinco oito
mal consigo definir
coisas espirituais
ele então deixou fluir
24 Se isolou de todo mundo
Pirou numa colina, tal bicho
numa cabana sozinho
sem eletricidade, um nicho
sem vidros nas janelas
sem vaidade nem capricho
25 Uma garrafa de uísque por dia
sofreu com alucinações
registrada no seu livro “Big Sur”
de meia dois, ele expõe suas
opiniões
foi ser guarda florestal
sim: nas diárias e serões
26 Neal: muito sexo,
amar sem medo
Com gente recém
conhecida
Desapego ao
material
pequenos furtos, gasta
tudo na vida
usa roupas emprestadas
era rebeldia atrevida
Mas Kerouac atinge o extremo.
27 O protagonistas do “viva e deixe viver”.
Esses dois? Caronas na estrada
Estrada chamada vida
Isso é coisa tão passada
Na realidade brasileira
Vem o funk em disparada
28 Tudo em prol da liberdade
A gente chega ao extremo
Nem pela curiosidade
Do enorme ao
pequeno, temo
Limite dos Beatniks
Só de pensar me tremo
28 Ausência paterna e prisão
Isso se incluiu na rotina
as atitudes justificam
esperança ali na esquina
Jazz (ou
samba?) na noitada
Tanta dor se elimina
29 Total liberdade é uma máscara
Prum egoísmo
criativo
Percebemos no final
a atitude de Dean, ativo
a época já passou
mas o livro está vivo!
29 Os alicerces
ficcionais
em reais espaços ficou
geopolíticos, bem sei
mas a invenção não acabou
tal autor e narrador
essa memória marcou
30 Viagem cortando um país
ao mesmo tempo, tão cultural
controvérsias de uma geração
quase além do bem e do mal
penso poeticamente
caretice me é fatal
31 On the road, autobiográfico
Parece falar de hoje, talvez
Sal Paradise e Dean Moriarty
Grandes sem pequenez
Neal Cassady e Kerouac
errantes certa altivez
32 Aventuras e experiências
Um dia o homem se acha
a procura de si mesmo
disso ou aquilo outro lhe tacha
viver na intensidade
triste é quem se rebaixa
33 Descobertas e reflexões
de viajantes Na estrada
Coerência na narrativa
E estética, vida arretada
A aventura pessoal
do autor se lê redimensionada
34 Bem mais ampla, universal
Esses diários de viagem
Registro de datas e eventos
Sociedade
yankee e além
sequelas da Segunda Guerra
Deles
e nossas, também
35
Revoluções culturais
comportamento
da juventude
Pensamento transgressor
Ferllinghetti, Corso: atitude
Eita! Grupo peculiar
Atingiu
grande altitude
36
Hippies, punks etc.
Muitos
tentaram, destarte
O
reggae também se ergueu
revolução
pela arte
mas
a literatura
levou
isso a outra parte
37
Vasto e multiplicante
O
capital solto é terrível
Varriam
o globo pelo lucro
EUA
ou Central do Brasil, incrível
Tem
sempre a hora do rush
Do
visível ao invisível
38
Nos olhos do estradeiro
Tem
silêncio e zunido
Tudo
está a cambiar
milhões
de gente, prurido
atropelando
sem temer
a
lógica e o sentido
39
Em troca de uns tostões
um
sonho maluco, quem sabe?
pegando, agarrando, entregando
suspira, morre, o que cabe?
São
as torres da nação
Vida
longa ao país, babe...
40
O homem vai prosseguindo
Na
desigualdade, bem sei
Existe
a liberdade?
Isso
já perguntei
Mudança
são necessárias
Pro
hetero e pro gay
41
Gerações futuras, me ouvi!
Sou
professor e artista
Do
mundo, muito eu vi
Embora
eu não desista
Entra na cena, acostumado
Pois
nunca fui um turista
42
Transgrido na Literatura
Aqui
mesmo, neste Cordel
Acredito
na civilização
Mesmo
jeito inferno/ Céu
Oro
pum Deus que nos una
Que
nunca nos deixe ao léu
43 Minha primeira carona
foi caminhão com dinamite
com
bandeira vermelha e tudo
talvez
você não acredite
má
infraestrutura da estrada
memória
me habilite
44
O sonho da população
de classe média, e do pobre
capacidade para renovação
retransformação,
nada sobre
sempre
nos renovar
de
repente, se descobre
45
American way of life
Yankees
a bombardear
Hollywood
ou Netflix
Globo,
Vênus a platinar
Nossos
destinos se cruzam
On
the road, sem parar
46
Na quebra e paradigmas
Construção
de identidade
política
que nos cerca
no
campo ou na cidade
de
angústia e reflexão
vagabundo,
autoridade
47
Século XXI se arrastando
lacraia
em deserto sem fim
Voltemos
a Kerouac
Distante
no tempo, enfim
no
fim dos anos 50
Na
imaginação sai de mim
48
“Oh cara! cara! cara!" balbucia-me Dean
Acabe
o cordel, enterre o defunto
Que isso não é o começo
Finde
logo o assunto
finalmente junto ao leitor, aí
diga:
não fique junto
49
Foram loucos, monstros?
anormais,
prisioneiros, drogados
Tradição
que se construiu?
Estarão
todos parados
Numa
crônica do declínio
Foram
poetas narrados
50
Dilemas de libertação
do
lugar comum, enfim
superando
a depressão
cultura
alternativa em mim
volto
ao foco deste livrinho
grandioso,
tão chinfrim...
51 No verão de 56
Veio a obra “Anjos da desolação"
O alcoolismo piorou
Derrota e solidão
vai morar com a sua mãe
Long Island, que situação
52 Os trabalhos finais
Com alma desconectada
Perdido em devaneios
Alma beat tão cansada
virou um conservador
em nome da mãe amada
53 Casou duas vezes, o cara
Era uma vida comum
Mas acabaram em poucos meses
E velha conhecida, mais um
Com a mãe, moram na Flórida
Livro novo? Nenhum
54 Influência tão produtiva
Esse escritor deixou
Kerouac foi um mestre
Que por essa vida passou
E no Cemitério Edson
Massachussets, se enterrou
55 Não é bem final da história
Tanto se assucedeu
Coração e mente danados
Contracultura, valeu!
Esse fluxo continua
Esforço não se perdeu.
O manuscrito original
Museu Boott Cotton Mills (Massachusets, 2007)
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