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quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Arcadismo português, Marquesa de Alorna

Lendo poesia da boa (arcadismo português, Marquesa de Alorna) em meio a uma paisagem exuberante.Adoro.

                                                                                                         
                                                   Sonho                                                      

Perdoa, Amor, se não quero
Aceitar novo grilhão;
Quando quebraste o primeiro,
Quebraste-me o coração.

Olha, Amor, tem dó de mim!
Repara nos teus estragos,
E desvia por piedade
Teus sedutores afagos!

Tu de dia não me assustas;
Os meus sentidos atentos
Opõem aos teus artifícios
Mil pesares, mil tormentos.

Mas, cruel, porque me assaltas,
De mil sonhos rodeado?
Porque acometes no sono
Meu coração descuidado?...

Eu, quando acaso adormeço,
Adormeço de cansada,
E o crepúsculo do dia
Me acorda sobressaltada.

Arguo então a minha alma,
Repreendo a natureza
De ter cedido ao descanso
Tempo que devo à tristeza.

Que te importa um ser tão triste?...
Cobre de jasmins e rosas
Outras amantes felizes!
Deixa gemer as saudosas!

(Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética')



O caso da MARQUESA DE ALORNA, pseudônimo dela: ALCIPE


D. LEONOR DE ALMEIDA LORENA E LENCASTRE, CONDESSA DE OEYNHAUSEN, 6.ª CONDESSA DE ASSUMAR E 4.ª MARQUESA DE ALORNA (*Lisboa 31-10-1750 - +Benfica 11-10-1839). Leonor de Almeida Lorena e Lencastre, mais conhecida como marquesa de Alorna, era filha primogênita do marquês de Alorna e conde de Assumar, D. João de Almeida Portugal e de sua mulher D. Leonor de Lorena e Távora. Essa herança de nome e de sangue, foi funesta para a jovem Leonor, que aos 8 anos de idade foi enclausurada no Convento de Chelas, em companhia de sua mãe e sua irmã, enquanto seu pai foi atirado aos calabouços. Era neta dos marqueses de Távora, executados a mando do marquês de Pombal devido ao seu alegado envolvimento num atentado ao rei D. José I. Os quase 20 anos passados como reclusa não impediram que recebesse uma cuidada formação linguística, literária e científica, coisa rara para as mulheres da época. Leu obras dos maiores escritores iluministas, como Racine, Rousseau, Voltaire e Diderot, que cedo lhe despertaram o gosto pela literatura. Teve como mestre o padre Francisco Manuel do Nascimento, mais conhecido pelo pseudônimo de FILINTO ELÍSIO nos ciclos poéticos da Arcádia Lusitana. Contudo, as leituras que mais a marcaram devem ter sido as cartas que o seu pai lhe enviava, escritas com o próprio sangue, à falta de outra tinta, no cárcere. Adotando o nome literário de Alcipe, suas poesias libertaram-se das grades e alcançaram grande fama, vindo mais tarde a ser publicadas sob o título de Poesias de Chelas (Chelas é uma zona da freguesia de Marvila em Lisboa situada na parte oriental da cidade, podendo-se chegar à mesma por comboio ou por metropolitano). Ela e a sua família saíram da prisão em 1777, depois do afastamento do Marquês do Pombal, por ordem de D. Maria I que havia sucedido a D. José. Tinha então vinte anos e pouco depois, casou com o conde de Oeynhausen, que viera da Alemanha, contratado em 1762 pelo marquês de Pombal para organizar e comandar o exército. O casamento em 1779, foi apadrinhado pela rainha D. Maria I e pelo rei seu marido, D. Pedro III. Viajou pela Europa, passando pelas cortes de Espanha de França e de Áustria, sendo recebida e homenageada pelos respectivos monarcas, imperadores e até pelo papa Pio VI.Enviuvou aos 43 anos, em 1793, ficando com seis filhos pequenos a seu cargo. Foi viver primeiro em Almeirim, onde patrocinou o ensino de moças pobres daquela vila e imediações.

Mudando-se depois para outra propriedade em Almada, freqüentaram a sua casa célebres figuras da vida literária, como Bocage (Elmano Sadino) e Alexandre Herculano. As invasões Napoleônicas do princípio do século XIX a obrigaram a exilar-se em Londres, entre 1804 e 1814 onde continuou a escrever poemas. Regressando a Portugal, tem o desgosto de ver a filha tornar-se amante do invasor Junot e, novamente, um membro da família caído em desgraça. E só depois de dez anos de muita luta, obteve a reabilitação da memória de seu irmão D. Pedro de Almeida de Portugal, 3.º marquês de Alorna, que por ter integrado a Legião Lusitana que acompanhou Napoleão à Rússia (morrendo no regresso), foi condenado como traidor à pátria.

Como herdeira de seu irmão passou a usar o título de 4.ª marquesa de Alorna vindo a falecer aos 89 anos de idade. Deixou seis volumes de "Obras Poéticas" e foi uma mulher ímpar em sua época, uma das mais notáveis figuras do pré-romantismo em Portugal. Alexandre Herculano chamou-lhe a "madame de Staël portuguesa."


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