Aristóteles
define a tragédia, como uma imitação de caráter elevado, completa
e de certa extensão, em linguagem ornamentada e adornos distribuídos pelo
drama, com atores atuando e não narrando, despertando o temor e a piedade,
tendo por efeito a catarse
(purificação) destas emoções.
A tragédia é constituída por 6
elementos: a fábula, que é a imitação da ação; o caráter, que diz
respeito à qualidade das personagens; as falas, que são o conjunto dos versos;
as ideias, tudo o que dizem os personagens para manifestar seu pensamento; o
espetáculo, que é a parte cênica; e o canto, principal adorno do espetáculo.
Os principais meios pelos quais a tragédia fascina as plateias fazem
parte da fábula, que são as peripécias e o reconhecimento. As
fábulas precisam ter uma extensão que a memória possa apreender por
inteiro. Assim, a duração apropriada de uma tragédia é aquela que permite que
nas ações, se passe da felicidade ao
infortúnio ou do infortúnio à felicidade, o que torna a tragédia mais bela.
A fábula precisa ser uma unidade, de
maneira que, se acrescentada ou excluída parte dela, altera-se o todo.
TRÊS TRISTES GREGAS
Quanto à qualidade da fábula, esta só é bela se for complexa (peripécias e reconhecimento)
e capaz de excitar temor e compaixão. Nelas, o infortúnio das personagens não são frutos de sua perversidade, mas
sim das suas ações. Para ser bela, a fábula precisa propor um fim único,
oferecendo a mudança da felicidade para o
infortúnio em virtude de um erro grave.
Assim, o poeta deve criar fábulas e não versos, porque são as
fábulas que imitam ações e fatos capazes de suscitar o temor e a compaixão.
As fábulas são classificadas em simples ou complexas de acordo com
ações que imitam. Ações simples são as que produzem mudanças na sorte sem
peripécias ou reconhecimento, e complexas, ações com peripécias, reconhecimento
ou ambos.
A peripécia é a alteração das ações em sentido contrário ao que
parecia natural. O reconhecimento é a passagem do desconhecimento ao
conhecimento das personagens.
Sobre a divisão da tragédia,
seus termos essenciais são: prólogo,
que é a parte completa que antecede o coro; o episódio, parte encontrada entre 2 corais e o êxodo é a parte completa
da tragédia da qual após não há coro. A tragédia
se compõem de enredo e desfecho, além de apresentar estrutura dramática com
início, meio e fim.
A tragédia deve ser construída de maneira que as pessoas, só ao
ouvirem ou lerem, sem nada ver, possam aterrorizar-se e sentir piedade.
Isso caracteriza o bom poeta.
Aristóteles destaca a competência do poeta ao narrar não o
acontecido, mas o que poderia acontecer, o possível, a necessidade. Assim, a
diferença entre o poeta e o historiador não está na forma da obra, mas no que
relatam. Por isso, a poesia, segundo Aristóteles, é mais filosófica e de
caráter mais elevado, pois permanece no universal.
(texto extraído do Seminário de História da Filosofia da Arte, Universidade do Rio de Janeiro, por Larissa de França)
Outubro: não
importa se já tivemos desamores. Porque lemos e soubemos que quase tudo começa e pode terminar em
campo de flores. Pela alvura
das angélicas e desatino certeiro das
DORINHAS. As mesmas Sonias de todos os
desejos desejantes. Continuam tão singulares no abismo de presenças sonoras e performativas.
Com essa última palavra tudo ainda pode reinventar-se em rosa vermelha. Nosso
corpo inteiro e sempre em busca de espaços reencontrados sem Proust. Qual o
tempo de nossos eternos Robertos? ESCREVIVÊNCIAS. ONDE TODO O TEMPO É BREVE e nos deixa marcados sem aliterações.
MARQUES: deixemos para outros a pergunta. Por QUEM a brevidade do tempo? SONIA
de todos os sons, sonhos, pesadelos. Boleros sonolentos e frevos sempre
rasgados e arrebatadores. Ó
DORINHA!
Ninguém saberia onde nosso tempo recomeça em outros precipícios. Das falas e cântico dos
cânticos. Entre Sonias e Dorinhas
quantas brevidades acontecendo para nós? Amamos e odiamos na mesma ou em outras contra-posições? Corpos seriam universos
paralelos ou plataformas da poeticidade? Elas – Sonia e Dorinha –
carecem de outra VIA CRUCIS em
nosso-vosso cotidiano. Sejamos como sempre
desejando um tempo breve, porém
na primavera das pulsações.
Marcos sublimadores de nossos desamparos. Nem Freud nem Lacan poderiam
ouvi-las sem reinventá-las. Toda psicanálise em mesas de bar ou apartamentos acadêmicos. Entre
Paris e Holandas, Olindas, Bahias e
Janeiros ameaçados.
O poema dramático-musical para juventude e infância:
COSMOS
E O MENINO MÁGICO
Este texto é uma
devida homenagem ao trabalho que aOng Moradia e
Cidadania vem desenvolvendo em PE, junto aos cidadãos sem recursos, apoiando-os e
incentivando-os realizarem seus sonhos que vai desde a retomada de
Dignidade, com capacitações
profissionais, cursos, auxiliando-os na conquista de uma nova vida,
devolvendo-lhes assim , a esperança.
Objetivando assim,
junto aos parceiros, a celebração de várias conquistas realizadas durante anos
de trabalho incansável, por Selda Cabral (Coordenadora ) que conta com primorosa assistência de todos
que compõe a Moradia e Cidadania-Pe.
FICHA TÉCNICA:
TEXTO: MOISÉS
MONTEIRO DE MELO NETO e ROSÁLIA
CALSAVARA. ATORES: ADRIANO CABRAL E
RAUL ELVIS. DIREÇÃO: Rosália
Calsavara e Adriano Cabral. Trilha sonora com letras de Moisés Neto e Rosália
Calsavara: Música: HENRIQUE MACEDO. Figurino e Cenário COLETIVO ESPERANÇA
DE ÓCULOS. Produção Executiva Rosália
Calsavara.
SOBRE
COSMOS
E O MENINO MÁGICO
COSMOS E O MENINO MÁGICO é uma
peça escrita inicialmente para homenagear a ONG MORADIA E CIDADANIA (PE) pelo
trabalho e dedicação a uma causa nobre: sonhar com um futuro melhor para os
jovens do nosso país, assim como auxiliar homens e mulheres que trabalham
diretamente com um público carente de apoio (também não governamental).
Trata-se da história de um órfão que vive num Lar mantido pela
Assistência Cristã, um garoto que já passou da idade em que geralmente crianças
assim são adotadas. Não é um garoto comum; ele não conhece sequer a sua mãe
(foi deixado na porta das irmãs, que através de muita burocracia conseguiram na
justiça auxiliar o Governo na educação desses jovens). Esse menino tem um
sonho, desde que a ONG levou-o a participar de uma oficina com artistas: ele
quer ser mágico; enfrenta por causa disso um processo de rejeição por parte dos
outros garotos que o chamam até de palhaço e dizem que ele não serve para nada,
é apenas um metido, um sonhador.
Cena da peça (Raul Elvis e Adriano Cabral)
Um sonhador... sim, um sonhador. Ele conheceu os membros da Moradia e Cidadania e através deles
conseguiu participar de oficinas, apreendeu alguns números de ilusionismo e
pensava que com seguiria driblar o destino, um tanto cruel que é não ter
orientação de um pai, ou uma mãe. AGORA ELE IRIA PARTICIPAR DA FESTA DE ANIVERSÁRIO
DA ONG (preparou números especiais e tudo), mas aconteceu de perder a memória
numa queda do telhado; está muito chateado por causa disso; (conseguirá
participar do evento que é uma espécie de agradecimento à ONG e uma prova de
conseguirá “ser alguém na vida” e não um simples desmemoriado que se acha
inútil?)
Moisés Monteiro de Melo Neto (Moisés Neto), Rosália e Maria Alice com parte da plateia na estreia do dia 25 de setembro de 2017
Deus colocou no seu caminho Irmã Magali, que o ajuda no que pode. Para
piorar a situação o Menino Mágico, que tinha mania de subir no telhado para
olhar as estrela e a lua, apesar da irmã Magali ter proibido, levou uma queda,
perdeu parte da sua memória, e assim sofre mais intensamente o processo de bullying, por parte dos outros garotos.
Ele esqueceu como se faz mágica, vive uma intensa crise existencial, quando
chega, enviado por irmã Magali (que foi passar o final de semana com os outros
garotos, no sítio das religiosas), o senhor Cosmos, cuja esposa, dona Maria
Terra, está gravemente doente no hospital e pediu, depois de perder um filho
muito querido, que o marido adotasse com ela o Menino Mágico, Cosmos é contra a
idéia, mas resolve conversar com o garoto, aconselhado pelas religiosas.
Na comemoração depois da estreia Cosmos e o Menino Mágico (Adriano Cabral, Raul Elvis e Moisés Neto, com parte dos espectadores na UNIVERSIDADE CAIXA)
Um diálogo delicado sobre a condição humana e a arte, eis o que o COLETIVO ESPERANÇA DE ÓCULOS propõe com
o seu novo espetáculo. Com música e teatro. A peça traz à luz o trabalho de
pessoas como Selda Cabral e Isnaldo, voluntários que levam adiante, junto com
Hector, Rafaela, Isabela e outros, aqui no Recife, um projeto que torna
possível concretizar sonhos, estruturar possibilidades, incentivar capacidades,
de brasileiros e brasileiras, que recebem assim um carinho e uma orientação
quE, com certeza, marcará suas vidas para o bem.
henrique macedo rosália calsavara e moises monteiro de melo neto set 17
OUTROS TRABALHOS DO COLETIVO ESPERANÇA DE ÓCULOS
Peças que o grupo já levou à cena
O SOM DA ESPERANÇA, musical de
Rosália Calsavara e Moisés Monteiro de Melo Neto
O SOM DA ESPERANÇA, musical de
Rosália Calsavara e Moisés Monteiro de Melo Neto
Ensaio da peça O SOM DA
ESPERANÇA, musical de Rosália Calsavara e Moisés Monteiro de Melo Neto.
Destaque para a atriz Isabela Leão (vestido vermelho)
O cartaz da peça NATAL DA ESPERANÇA,
UM AUTO DE FÉ: musical de Rosália Calsavara, Moisés Monteiro de
Melo Neto
NATAL DA ESPERANÇA, UM AUTO DE
FÉ: musical de Rosália Calsavara, Moisés Monteiro de Melo Neto
CARTAZ DA PEÇA e matéria no Jornal do Commercio(Recife-PE) NATAL DA ESPERANÇA, UM AUTO DE
FÉ: musical com direção do Professor Dr. Moisés Monteiro de Melo Neto
ENSAIO DE O NATAL DA ESPERANÇA, UM AUTO
DE FÉ: musical de Rosália Calsavara e Moisés Monteiro de Melo Neto
CARTAZ da peça Lembranças de
Carnaval, musical de Rosália Calsavara e Moisés MONTEIRO DE MELO NETO
Sinopse da peça Lembranças de
Carnaval, musical de Rosália Calsavara e Moisés Monteiro de
Melo Neto. participação especial do bloco das flores (recife) Morro da Conceião compareceu feliz
Lembranças de
Carnaval, musical de Rosália Calsavara e Moisés Monteiro de
Melo Neto; na foto Rosália recebe do bloco um ramalhete de flores e ambos agradecem a PARTICIPAÇÃO DO BLOCO DAS
FLORES
Lembranças de
Carnaval, musical de Rosália Calsavara e Moisés Monteiro de
Melo Neto (matéria no Jornal do Commercio, Recife)
Cartaz da peça AVENTURAS DE UM
PINGUIM NO BRASIL, musical de Rosália Calsavara e Moisés
Monteiro de Melo Neto
ADRIANO CABRAL EM CENA da peça
AVENTURAS
DE UM PINGUIM NO BRASIL, Musical de
Rosália Calsavara e Moisés Monteiro de Melo Neto
RAUL ELVIS EM CENA na peça
AVENTURAAS DE UM PINGUIM NO BRASIL, Musical de Rosália Calsavara e
Moisés Monteiro de Melo Neto
Olha pro céu, meu amor. Dirigindo o Musical estava o professor Moisés Monteiro de Melo Neto
Ensaio
da peça Olha pro céu, meu amor. Musical de Moisés Neto Rosália Calsavara Na foto (camisa azul) está o professor Moisés Monteiro de Melo Neto em ensaio
com Músicos
Para marcar os 17 anos de sua consolidação como Organização Não – Governamental (ONG), a Moradia e Cidadania / Coordenação Pernambuco, criada e mantida pelos empregados da Caixa Econômica Federal, realizará a peça teatral Cosmos e o Menino Mágico, às 17h do dia do seu aniversário (25/09), na Universidade Caixa – Rua do Brum, nº 123. A trama será encenada pelo Coletivo Esperança de Óculos, que conta com a direção de Rosália Calsavara e Adriano Cabral, e com a atuação de Adriano Cabral e Raul Elvis. O texto da peça foi escrito por Moisés Neto e Rosália Calsavara. E eles prometem: “emocionar”.
“Este texto é uma devida homenagem ao trabalho que a ONG Moradia e Cidadania vem desenvolvendo em PE, junto aos cidadãos sem recursos, apoiando-os e incentivando-os a realizarem seus sonhos”, explicou o escritor Moisés Neto.
Ao longo dos anos, o elenco do “Esperança de Óculos” já protagonizou outros espetáculos junto à ONG Moradia e Cidadania: O Som da Esperança (2014), no teatro da Caixa Cultural; Natal da Esperança (2014), também na Caixa Cultural; Lembranças de Carnaval (2015), na comunidade da Macaxeira e Morro da Conceição; As aventuras de um Pinguim no Brasil (2015), na comunidade da Macaxeira; O Bem que Multiplica (2016), na Caixa Cultural e na Escolinha do Pilar; e Olha pra o Céu Meu Amor (2016), na Comunidade da Macaxeira.
Todas as apresentações tiveram como tema a cidadania, e o objetivo de incentivar ou resgatar a auto-estima do público alvo da ONG: pessoas em vulnerabilidade social. O projeto de utilização do teatro para fins sociais beneficiou cerca de 2.200 pessoas, diretamente (aos projetos musicais que participaram das peças) e indiretamente (aos espectadores). Desta vez, a encenação se passará no ambiente Caixa. E terá um propósito: agradecer aos empregados – associados com uma boa história que sintetiza a corrente solidária que é a ONG Moradia e Cidadania, criada e mantida por eles.
“Penso que a comemoração cultural lúdica do aniversário da ONG Moradia e Cidadania realizada pela coordenação Pernambuco, causará reflexão da situação de vulnerabilidade social e a percepção da importante missão da entidade no sentido de balizar a sua contribuição para continuar o combate à fome e à miséria”, explicou a coordenadora estadual da ONG Moradia e Cidadania – PE, Selda Cabral.
Moisés Neto, Selda Cabral, Rosália e Raul Elvis, na estreia de COSMOS E O MENINO MÁGICO
SERVIÇO: Espetáculo Teatral Cosmos e o Menino Mágico – Aniversário de 17 anos da ONG Moradia e Cidadania QUANDO: Segunda feira – 25/09 ONDE: Sala Nísia Floresta, Universidade Caixa – Rua do Brum, nº 123, Recife – PE.
OFICINA promovida pela ONG Moradia e Cidadania, com o PROF. DR. MOISÉS MONTEIRO DE MELO NETO sobre letra de música e história da poesia; com os meninos do grupo BATENDO NA LATA, no Alto José do Pinho, Recife Pernambuco
Cena da peça Cosmos e o Menino Mágico (Raul Elvis e Adriano Cabral)
"Determinação, coragem e autoconfiança são
fatores decisivos para o sucesso. Não importa quais sejam os obstáculos e as
dificuldades. Se estamos possuídos de uma inabalável determinação,
conseguiremos superá-los. "
O livro tem o subtítulo Um estudo da psicologia da representação pictórica. É uma das grandes obras que se debruça sobre o estatuto da representação. Por que um desenho de uma pessoa é reconhecido como uma pessoa? Onde está esse semelhança? É “natural” que tanto quatro traços + um círculo quanto uma retrato de Dürer represente uma pessoa? o que é o estilo? Todas essas perguntas, outras questões e pontos de encontro em todas são respondidas por Gombrich.
O miolo do livro começou a tomar forma em 1956 no final dos anos 50 numa série de conferências sobre “The Visible World and the Language of Art”, e foi lançado alguns anos depois. A charge que abre a introdução é ótima para ajudar a compreender o tipo de problema que Gombrich investiga. A surreal cena da aula com uma modelo posando com os membros e cabeça de lado é o pontapé inicial da discussão sobre os estilos de representação. Discute porque a arte egípcia representava os seres humanos daquele modo, o porquê da busca pelo “naturalismo” da representação das convenções da arte ocidental e o estabelecimento do impressionismo.
A estrutura do livro, além de prefácios, notas etc:
Introdução A psicologia e o enigma do estilo Primeira parte: Os limites da semelhança I – Da luz à tinta II – Verdade e estereótipo Segunda parte: Função e forma III – O poder de Pigmalião IV – Reflexões sobre a revolução grega V – Fórmula e experiência Terceira parte: A participação do observador VI – A imagem nas nuvens VII – Condições de ilusão VIII – Ambiguidades da terceira dimensão Quarta parte: Invenção e descoberta IX – A análise da visão na arte X – O experimento da caricatura XI – Da representação à expressão
O texto foi revisado várias vezes, pelas reedições por qual passou. O prefácio à sexta edição inglesa, de 2000, tem o subtítulo “Imagens e Sinais”. Nele, Gombrich reconhece a semiótica como ferramenta de análise aplicável ao escopo de problemas que observa, e chega a dizer que “todas as imagens são sinais, e a disciplina que deve estudá-las não é a psicologia da percepção – como eu acreditava -, mas a semiótica, a ciência dos sinais”.
Mas esse reconhecimento na verdade só engrandece o livro e o trabalho de Gombrich. Afinal, a primeira edição de Arte e Ilusão é da década de 50. Por um lado influenciou parte do trabalho de semioticistas que se dedicaram à imagem, por outro incorporou algumas de suas descobertas.
Apresento aqui um trecho do capítulo X. O experimento da caricatura:
“O borrão de tinta é um evento aleatório; o modo como reagimos à ele é determinado pelo nosso passado. Ninguém poderia predizer onde se rasgaria o papel que produziu a máscara fantasmagórica de Picasso – o que importa é que ele a conservou. Deve ter sido igualmente difícil saber antecipadamente como a exata posição das sobrancelhas poderia afetar a expressão do hipopótamo de Thurber – o que importa é que ele soube ver isso e explorá-lo.”
Entre os outros livros de Gombrich dois também merecem destaque, apesar de não os ter lido inteiros. O primeiro é Meditações Sobre um Cavalinho de Pau. Este título, o mais legal de todos os títulos de livros do mundo, se refere ao ato pelo qual uma criança (ou adulto, sabe-se lá) transforma uma vassoura em um cavalo, numa brincadeira ou encenação. Esse processo guarda semelhanças com o processo pelo qual traços em um papel se transformam em “arte”.
O outro livro, um dos maiores sucessos mundiais da área, é o História da Arte. Utilizado em boa parte dos cursos da área de artes pelo mundo, a obra foi editada várias vezes em diversos formatos. Na introdução de Arte e Ilusão, o autor adverte que o livro pode ser consumido por qualquer pessoa, desde que com um conhecimento básico das principais fases dos estilos de representação, contidos em História da Arte.
Recomendo a leitura de artigos de um pesquisador do Poscóm/Ufba chamado Benjamim Picado. Conheci Gombrich ao frequentar seu grupo de pesquisa, o Grupo de Análise da Fotografia. Da revista Contemporanea, pode ser lido o artigo Das Funções Narrativas ao Aspectual nos Ícones Visuais: notas sobre modos de interpretar imagens (pdf), no vol. 4, n°2 da publicação, no qual discute as idéias de Roland Barthes, Umberto Eco, E. H. Gombrich etc.
Foi premiado em 1987 como o melhor
dramaturgo português. Recusou o dinheiro, protestou de corda ao pescoço e
suicidou-se aos 27 anos. Morreu o homem e desapareceu a obra. E a memória?
O despertador
tocou à hora do costume, ainda antes das cinco da manhã, ele fez a cama
impecavelmente e saiu sozinho para o passeio habitual das madrugadas. Costumava
percorrer as ruas de Lisboa ainda desertas porque gostava de ver “a beleza do
fumo a evaporar”. Cinco horas depois, o telefone da casa das Amoreiras tocou e
a mãe atendeu. “É da casa de Nuno Miguel Rovisco Garcia Pedroso? É para dizer
que esse indivíduo se atirou à linha.”
Caía
assim o pano sobre a vida de Miguel Rovisco, o último grande prodígio da
dramaturgia portuguesa, considerado um génio por personalidades tão díspares
como Mário Viegas ou Filipe La Féria. Matou-se na estação de comboios de Belém,
a 3 de outubro de 1987. Tinha 27 anos, a idade mitificada do fim de vida de
artistas como Jimi Hendrix e Jim Morrison, antes dele, Amy Winehouse ou Kurt
Cobain depois. Quase nada resta dele, a obra é inacessível, a memória pública
perdeu-se, resta um saco de plástico cheio de folhas.
Sobre
os lençóis bem dobrados da cama feita deixou uma carta para a mãe em que
garantia partir “tranquilo”, um envelope 200 contos (mil euros) para o sobrinho
e afilhado bebé e um cartão escrito à mão para o ator e encenador Mário Viegas,
o amigo “imensíssimo”. No bolso, levava a carteira com a identificação
completa, a morada e o telefone de casa, um crucifixo e uma Bíblia que ficaria
destruída no embate com o comboio. Este final sangrento não surpreendeu a
família nem os poucos amigos do dramaturgo que tinha planeado matar-se antes
dos 30 anos “num sábado chuvoso”. “Queria ser ele a decidir quando e como
morreria”, explica a irmã, Graça Pedroso, na sala com vista para o Tejo junto
ao Jardim da Estrela. “Conseguiu.”
O
primeiro ato tinha sido encenado sete meses antes, em março de 1987, no foyer
do Teatro Nacional Dona Maria II, em Lisboa. Miguel Rovisco, então um jovem
completamente desconhecido, ganhou o Prémio Garrett para a melhor peça original
de 1986, com “Trilogia Portuguesa”, que tinha escrito fechado no quarto de
casa. O prémio foi atribuído por unanimidade por um júri nomeado pela
Secretaria de Estado da Cultura. “Julgo que foi a primeira vez que isso
aconteceu”, recorda Maria Manuel Pinto Barbosa, então chefe da divisão de
teatro da SEC e a quem “Trilogia Portuguesa” seria dedicada quando foi editada
em livro. “As pessoas concorriam anonimamente e quando fomos ver quem era o
verdadeiro autor da peça ficámos a olhar uns para os outros. Quem é este Miguel
Rovisco?” Duarte Barroso, alto funcionário da Secretaria de Estado, telefonou
ao premiado, que foi chamado ao gabinete de Maria Manuel. “Lembro-me do ar de
rapaz bem comportado, magro, de fato e gravata e muito educado. Não parecia
nada surpreendido por ter ganhado. Tinha uma grande autoestima, quase
arrogante. Disse que ia escrever mais umas peças e que depois se matava. Claro
que não lhe liguei nenhuma. Falámos mais de uma hora e meia e ele disse que as
mulheres é que costumavam confessar-se, mas que naquele caso tinha sido ele.”
O DIA DOS
SORRISOS AMARELOS
No
dia da entrega dos Prémios Garrett, os mais importantes do mundo teatral
português, que consagraram, por exemplo, Eunice Muñoz como a melhor atriz
daquele ano e Amélia Rey Colaço com o prémio carreira, Miguel Rovisco apareceu
todo vestido de preto, descalço e com uma corda com um nó de enforcado à volta
do pescoço. “Foi um choque”, lembra o encenador Norberto Barroca. “Imagine o
ambiente solene e institucional, de Teatro Nacional, com governantes e grandes
atores, era só sorrisos amarelos.” Recebeu o troféu das mãos da secretária de
Estado da Cultura, Teresa Patrício Gouveia, beijou-lhe a mão solenemente e
começou a discursar. “Nem só de snobismo e patine vive o teatro português”,
proclamou o premiado perante o espanto geral. Aceitava o troféu, que ainda está
guardado na casa de Graça Pedroso, mas recusava-se a receber os 300 contos
(1500 euros) do prémio.
Na
altura, era escriturário da Câmara de Lisboa e ganhava menos de 50 contos por
mês. “A minha mãe estava presente e ficou danada. ‘Que horror. Fazer-me isto,
quando sabe que sofro do coração’”, recorda a irmã. “Eu achei a maior graça.”
Foi o marido, Alberto Mallaguerra, quem preparou o adereço principal. “O Nuno
trouxe a corda e pediu-me para lhe fazer um nó de enforcado. Não disse para o
que era, mas como já tinha falado em suicídio várias vezes, fiz um nó tosco que
jamais funcionaria para se enforcar, mas para o efeito serviu.”
Na
carta de recusa que enviou à Secretaria de Estado, Rovisco declarava: “Se tudo
quanto o teatro português tem para me oferecer se resume a dinheiro, nesse caso
não só nunca mais escreverei uma linha para os palcos como votarei ao silêncio
das cinzas as obras dramáticas que em minha casa aguardam quem as leia.” Não
cumpriu a ameaça (ainda escreveu mais peças e só queimou parte do espólio), mas
nunca aceitou receber um centavo do Estado: “Onde estaria a virtude de uma
ética que não primasse pela teimosia?”, perguntava-se na carta.
A
razão da indisponibilidade (e da indisposição) era concreta: além dos 300
contos, o prémio previa que a obra fosse encenada na íntegra numa sala do
Teatro Nacional. A trilogia de Rovisco — um conjunto de três peças históricas,
“O Bicho”, sobre o Marquês de Pombal, “O Tempo Feminino”, sobre D. Maria I; e
“A Infância de Leonor de Távora”, sobre a família chacinada pelo Marquês —
tinha perto de seis horas, não poderia ser representada na íntegra como o autor
queria e não foi programada para os meses seguintes à entrega do troféu, como
também Rovisco pretendia. A peça seria encenada no início de 1988 por Norberto
Barroca. Rovisco nunca a veria em palco.
VINTE PEÇAS EM
TRÊS ANOS
Ainda
sem ter qualquer peça encenada, o dramaturgo era notícia por causa do
espetacular protesto e pela própria história de vida. Em três anos, entre 1984
e 1987, escreveu 20 peças, oito livros de poesia e romances que seriam
reduzidos a cinzas. Era um funcionário burocrático da Câmara, cargo que só
abandonou depois de ter recebido o Prémio Garrett para se poder dedicar “por
inteiro” à escrita. Era conservador, católico, monárquico, não tinha qualquer
curso superior (andou umas semanas em Direito, mas desistiu) e só se
interessava por teatro histórico numa altura em que o teatro experimental
estava em voga. “Faz falta um verdadeiro teatro nacional”, escreveu. “A
História de Portugal está completamente esquecida, quer no nosso teatro quer na
nossa televisão. E então passamos pela vergonha, chamo vergonha, de vermos
excelentes trabalhos sobre personagens históricas inglesas.”
Apesar
de nunca ter feito parte do “meio teatral” e de nem sequer ser espectador
assíduo de teatro, o nome de Miguel Rovisco começou a ser falado entre atores e
encenadores e foram editados três dos seus livros: “Trilogia Portuguesa”,
“Retrato de Uma Família Portuguesa” e “A História de Tobias”, todos pelas
Edições Rolim. Mário Viegas, que o considerava “um génio” pegou numa peça de
outra trilogia então inédita, “Os Heróis” — “Um Homem para qualquer Pátria”,
sobre a restauração da independência de 1640, e encenou-a no Teatro Experimental
do Porto. Foi a única peça da sua autoria que Rovisco veria, a 10 de junho de
1986. “Odiou tudo”, conta Graça Pedroso. “A encenação e o Porto. Tudo.”
Numa
das muitas cartas que trocou com Mário Viegas e que o ator, também já
desaparecido, publicou na “Auto-photo Biografia (Não Autorizada)”, Rovisco
avisa que “a carta lhe será de leitura desagradável, como está a ser
escrevê-la”. Critica a encenação que transformou “uma farsa numa comédia” e pôs
as pessoas “a rirem em vez de pensarem” e conta a história de um pintor que
conseguiu que uma importante galeria “expusesse um quadro no lugar mais
importante” do espaço mas estragou tudo quando “pendurou o quadro ao
contrário”. Viegas resume a zanga num comentário manuscrito que também publicou
na autobiografia: “O Rovisco não aguentou ver a sua peça em cena e bebia, bebia
todas as noites. Perdão, Nuno.” Ainda assim, considerava “um crime não se
publicar a sua obra” e confessava que a morte do amigo foi “um dos maiores
choques” que sofreu. “Acho que o Rovisco estava apaixonado por mim, embora não
tenha a menor prova que fosse homossexual.”
“NÃO QUEIRAS
SER REI”
A
peça esteve em cena durante uma edição do FITEI — Festival Internacional de
Teatro de Expressão Ibérica, no Porto, e foi considerada um êxito. Miguel Rovisco
seria então convidado para escrever o guião de uma serie de televisão,
“Cobardias”, uma produção para a RTP que seria a última grande obra do autor e
foi escrita em cerca de um mês. Contava a história de uma família, e
principalmente das suas mulheres, ao longo de várias gerações. As personagens
aparecem com 20, 40 e 60 anos. 13 episódios de 50 minutos cada escritos em 30
dias. O livro das Edições Ática está esgotado e é impossível de encontrar, a
produtora da série faliu e a RTP não tem qualquer cópia da obra.
“Escreveu
tudo nesta máquina”, diz Graça Pedroso a apontar para uma Hermes Baby em bom
estado de conservação. “Até estes poemas que escreveu para o sobrinho.” E
mostra uns pequenos dossiês de argolas feitos à mão com desenhos de animais e
pequenos poemas. “O leão é rei. Nas cidades vive atrás das grades. Não queiras
ser rei.”
“Conheci-o
no primeiro dia de filmagens”, conta Carmen Dolores, protagonista de
“Cobardias”. “Já o tinha visto no foyer do Dona Maria II quando foi aquele
episódio extravagante da corda e lembro-me dos olhos grandes, muito
impressionantes. Falámos muito, especialmente sobre o meu papel. Era muito bom.
Acho que o escreveu a pensar na mãe”, conta a atriz, que ainda guarda dois
livros do autor. “Depois de ele morrer, a mãe contactou-me e fui muitas vezes à
casa deles. Ela queria que eu conhecesse o ambiente onde ele vivia.”
Rovisco
viveu sempre com a mãe na casa do bairro das Amoreiras. A família tinha criadas
internas, e casa outra na Ericeira. “Éramos de classe média alta”, descreve
Graça. Nuno Miguel era um miúdo como os outros. “Éramos próximos, andávamos sempre
com outros dois primos e ele esfolava os joelhos. Era muito rapazola. Só aos 16
anos é que começou a isolar-se. Passava o tempo a ler e a escrever e a ter
alguns comportamentos extravagantes, como ir de roupão para a escola.” O fim da
harmonia veio com o fim do casamento. “Os meus pais divorciaram-se, a minha mãe
teve de começar a trabalhar e o meu irmão nunca aceitou muito bem a separação.
Dava-se mal com o pai.” “O meu pai desejava galhardamente que eu fosse um
menino e essa foi a única alegria que eu lhe dei. (Fi-lo sem querer)”, escreveu
o próprio Rovisco na “Pequena Autobiografia” que acompanhava a edição do Teatro
Dona Maria II da “Trilogia Portuguesa”.
Andou
no Liceu Charles Lepierre, no Manuel da Maia e no Pedro Nunes. Falava francês e
espanhol. E não se sabe muito bem de onde veio o amor pela literatura e pelo
teatro. “Não tínhamos propriamente uma grande biblioteca e a única experiência
de teatro acontecia no Natal, quando a minha avó nos fazia representar umas
peças que ela própria escrevia”, explica Graça. Rovisco foi bom aluno, “sempre
no quadro de honra”, mas apesar de ter notas suficientemente altas, não quis
seguir um curso universitário. “Experimentou Filosofia e Direito, mas desistiu
ao fim de um mês ou de uma semana, achava que eram todos burros.” Foi trabalhar
para a Câmara, a atender pessoas e a receber projetos porque “queria o trabalho
mais estúpido possível”.
“O
ambiente que se criava à volta dele não era bom. Não sei se era culpa dele ou
dos outros, mas havia uma energia estranha. Nunca percebi porquê”, conta Carmen
Dolores. “Cobardias” é entregue ao realizador veterano Herlânder Peyroteo, que
faz as alterações que julga necessárias. Rovisco discorda, discute e desaparece
de cena. “Apareceu no ensaio e nunca mais o vimos”, conta Carmen Dolores.
“Odiou tudo”, confirma a irmã.
Só
vê um ou dois episódios. Na carta de despedida que deixou a Mário Viegas é
bastante claro: “Meu imensíssimo Mário, nem tenho palavras para te agradecer
tudo: os momentos teatrais mais bonitos — verdadeiramente dramáticos alguns —,
os bons conselhos e a tua amizade constante. Bem que tu me dizias para eu não
me meter com os tipos da televisão: alteraram tudo, nem respeito ao menos pelo
começo e fim de cada episódio, é de fugir de péssimo.” Mário Viegas resume: “O
Rovisco precipitou o seu suicídio ao ver a merda que o Herlânder Peyroteo fez
da sua série.” Já depois de morto, Rovisco ganharia mais dois Garrett. Um para
“História de Tobias” (melhor texto para a juventude) e outro para a “História
de Uma Família Portuguesa (melhor texto original).
ESCRITO NA
ÁGUA
O
que Miguel Rovisco deixou “não ficou escrito na pedra”, mas sim “na água”. A
metáfora é de José Mendes, jornalista do Expresso que escreveu em fevereiro de
88 sobre a segunda vida de Miguel Rovisco no palco do Dona Maria II. A
encenação da “Trilogia Portuguesa” seria entregue a Norberto Barroca, convidado
quando Rovisco ainda era vivo. “Já depois de ter aceitado o convite do diretor
do teatro e quando quis reunir com o autor, soube pelo jornal que se suicidou”,
escreveu o encenador num diário que faz parte de uma tese de doutoramento sobre
Miguel Rovisco da professora da universidade de São Paulo, Virgínia de Jesus.
Rogério
Paulo, um dos mais conceituados atores da época, foi escolhido para o papel de
Marquês, o protagonista de “O Bicho”. “Foi muito difícil porque o Rovisco nem
sempre respeitava o rigor histórico e o Rogério Paulo não percebia porquê. Por
exemplo, porque é que se chamava Sebastião Júlio e não Sebastião José, como na
realidade? Passava o tempo a dizer: isto não foi assim.” Norberto Barroca quis
usar um leão enjaulado para a cena final da peça e chegou a trazer o animal
para o teatro, o que provocou um motim “entre as senhoras do elenco”, lembra
Barroca. “Ficaram com pena do animal e contra mim. Estragou um bocado o
ambiente.” O leão não foi usado porque “na única noite que passou no teatro
fartou-se de rugir (as feras rugem à noite) e teve de ser devolvido ao Jardim
Zoológico”.
A
peça estaria dois meses em cena e seria um êxito moderado de público e de
crítica. “O Rovisco era um prodígio na escrita, mas não era um prodígio do
teatro. Um dramaturgo tem de ver o que escreve em cena, para perceber o que
funciona e o que não funciona e ele não teve tempo para isso”, explica Norberto
Barroca, que não voltaria a encenar ou a ler uma peça de Rovisco. “Não tive
essa curiosidade.”