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domingo, 5 de fevereiro de 2017

Bom domingo, com um texto que adoro, o Discurso de Marco Antônio diante do cadáver de César; Shakespeare modelou-o com habilidade... e aproveito para fazer uma homenagem a um ator que interpretou Marco Antônio, e outros personagens em peças minhas. Parabéns, Diogenes D. Lima, pelo prêmio e pela força nesta cena que se desenrola no Recife






Moisés Monteiro de Melo Neto (autor e diretor) com Diógenes Lima (ator, intérprete de Marco Antônio, na versão de Moisés Neto para Cleópatra)


"Amigos, romanos, cidadãos, escutem. Vim para enterrar Cesar, não para louvá-lo. O bem que se faz é enterrado com os nossos ossos, que seja assim com Cesar. O nobre Brutus disse a vocês que Cesar era ambicioso. E se é verdade que era, a falta era muito grave, e Cesar pagou por ela com a vida, aqui, pelas mãos de Brutus e dos outros. Pois Brutus é um homem honrado, e assim são todos eles, todos homens honrados. Venho para falar no funeral de Cesar. Ele era meu amigo, fiel e justo comigo. Mas Brutus diz que ele era ambicioso. E Brutus é um homem honrado.
Ele trouxe muitos prisioneiros para Roma que, para serem libertados, encheram os cofres de Roma. Isto parecia uma atitude ambiciosa de Cesar?
Quando os pobres sofriam Cesar chorava. Ora a ambição torna as pessoas duras e sem compaixão. Entretanto, Brutus diz que Cesar era ambicioso. E Brutus é um homem honrado.
Vocês todos viram que na festa do Lupercal, eu, por três vezes, ofereci-lhe uma coroa real, a qual ele por três vezes recusou. Isto era ambição? Mas Brutus diz que ele era ambicioso, e Brutus, todos sabemos, é um homem honrado. Eu não falo aqui para discordar do que Brutus falou. Mas eu tenho que falar daquilo que eu sei. Vocês todos já o amaram e tinham razões para amá-lo.Qual a razão que os impede agora de homenageá-lo na morte?"
(este momento Marco Antônio faz uma pausa no discurso, e as pessoas do povo começam a refletir sobre o que ele disse, e a questionar se Cesar tinha afinal merecido a morte que teve. Passado este interlúdio retorna Marco Antônio a falar)
"Ontem, a palavra de Cesar seria capaz de enfrentar o mundo, agora, jaz aqui morta. Ah! Se eu estivesse disposto a levar os seus corações e mentes para o motim e a violência, eu falaria mal de Brutus e de Cassius, os quais, como sabem, são homens honrados. Não vou falar mal deles. Prefiro falar mal do morto. Prefiro falar mal de mim e de vocês do que destes homens honrados. Mas, eis aqui, um pergaminho com o selo de Cesar. Eu o achei no seu armário. É o seu testamento. Quando os pobres lerem o seu testamento (porque, perdoem-me, eu não pretendo lê-lo), e eles se arrojarão para beijar os ferimentos de Cesar, e molhar seus lenços no seu sagrado sangue."
(o povo reclama de Marco Antônio e exige que ele o leia)
"Tenham paciência amigos, mas eu não devo lê-lo. Vocês não são de madeira ou de ferro, e sim humanos. E, sendo humanos, ao ouvir o testamento de Cesar vão se inflamar, ficarão furiosos. É melhor que vocês não saibam que são os herdeiros de Cesar! Pois se souberem... o que vai acontecer? Então vocês vão me obrigar a ler o testamento de Cesar? Então façam um círculo em volta do corpo e deixem-me mostrar-lhes Cesar morto, aquele que escreveu este testamento.
Cidadãos. Se vocês têm lágrimas, preparem-se para soltá-las. Vocês todos conhecem este manto. Vejam, foi neste lugar que a faca de Cassius penetrou. Através deste outro rasgão, Brutus, tão querido de Cesar, enfiou a sua faca,e, quando ele arrancou a sua maldita arma do ferimento, vejam como o sangue de Cesar escorreu. E Brutus, como vocês sabem, era o anjo de Cesar. Oh! Deuses, como Cesar o amava. O golpe de Brutus foi, de todos, o mais brutal e o mais perverso.
Pois, quando o nobre Cesar viu que Brutus o apunhalava, a ingratidão, mais que a força do braço traidor, parou seu coração. Oh! Que queda brutal meus concidadãos. Então eu e vocês e todos nós também tombamos, enquanto esta sanguinária traição florescia sobre nós. Sim, agora vocês choram. Percebo que sentem um pouco de piedade por ele.
Boas almas. Choram ao ver o manto do nosso Cesar despedaçado. Bons amigos, queridos amigos, não quero estimular a revolta de vocês. Aqueles que praticaram este ato são honrados. Quais queixas e interesses particulares os levaram a fazer o que fizeram, não sei. Mas são sábios e honrados e tenho certeza que apresentarão a vocês as suas razões. Eu não vim para roubar seus corações. Eu não sou um bom orador como Brutus. Sou um homem simples e direto, que amo os meus amigos."
(Seguem-se novamente comentários das pessoas, já agora lamentando o assassinato e condenando os assassinos. Volta Marco Antônio)
"Aqui está o testamento, com o selo de Cesar. A cada cidadão ele deixou 75 dracmas. Mais, para vocês ele deixou seus bens. Seus sítios neste lado do Tibre, com suas árvores, seu pomar, para vocês e para os herdeiros de vocês e para sempre. Este era Cesar. Quando aparecerá outro como ele?"

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