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terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Moisés Neto e o casal real do Carnaval Recife 2017... momices recifenses

Moisés Neto e o casal real do Carnaval Recife 2017...


No Recife  há a eleição (no Pátio de são Pedro, pela Prefeitura da Cidade, do Rei e Rainha do Carnaval), mas o rei Momo é inspirado na mitologia grega (personagem mitológico que personificava a ironia e o sarcasmo). Por aqui, ele aparece meio assim(como nesta foto), nas tais festas carnavalescas, e é como um dos principais símbolos do carnaval (deve ser uma pessoa que goste muito de carnaval e de preferência gordo, animado (este casal é bem simpático, estive com eles), e anime  festas de carnaval(brincalhão, divertido e bem humorado, pois "governará" a cidade nos quatro dias de folia(Momo apareceu no Brasil nos carnavais do começo da década de 1930).

Carnaval Recife 2017: samba no pé e na passarela






Carnaval Recife 2017: samba no pé e na passarela
(desfilaram hoje de madrugada, dentre outras, Gigante do Samba e Galeria do Ritmo: fenomenais)


domingo, 26 de fevereiro de 2017

Oscar e o ridículo de todos os prêmios quando não é o seu favorito que ganha ou um sistema viciado?

Anton Yelchin (ao fundo) como Chekov e Zachary Quinto como Spock em 'Star Trek: Sem Fronteiras: MELHOR MAQUIGEM E PENTEADO. KKKKKKKKKKK. Hollywood precisa de várias lavajatos cerebrais


É jogo de Marketing, é imperialismo, mas todos , de um modo ou de outro, sabem do que se trata e, de certo modo, apoiam essa avalanche de produções que tentam massificar o planeta com o American way of life.
Na arena deste ano entram para matar ou morrer os seguintes concorrentes:

Melhor diretor

Dennis Villeneuve – A Chegada
Mel Gibson – Até o Último Homem
Damien Chazelle – La La Land – Cantando Estações
Kenneth Lonergan – Manchester À Beira Mar
Barry Jenkins – Moonlight: Sob a luz do luar

Melhor ator

Casey Affleck – Manchester À Beira Mar
Denzel Washington – Cercas
Ryan Gosling – La La Land – Cantando Estações
Andrew Garfield – Até o Último Homem
Viggo Mortensen – Capitão Fantástico

Melhor atriz

Natalie Portman – Jackie
Emma Stone – La La Land – Cantando Estações
Meryl Streep – Florence: Quem é Essa Mulher?
Ruth Negga – Loving
Isabelle Huppert – Elle

Melhor ator coadjuvante

Jeff Bridges – Até o Último Homem
Lucas Hedges – Manchester À Beira Mar
Dev Patel – Lion: Uma Jornada Para Casa
Michael Shannon – Animais Noturnos
Mahershala Ali – Moonlight: Sob a Luz do Luar

Melhor atriz coadjuvante

Viola Davis – Cercas
Naomie Harris – Moonlight: Sob a Luz do Luar
Nicole Kidman – Lion: Uma Jornada Para Casa
Octavia Spencer – Estrelas Além do Tempo
Michelle Williams – Manchester À Beira Mar

Melhor roteiro original

La La Land – Cantando Estações
Manchester À Beira Mar
A Qualquer Custo
O Lagosta
20th Century Woman

Melhor roteiro adaptado

Moonlight: Sob a Luz do Luar
Lion: Uma Jornada Para Casa
Cercas
Estrelas Além do Tempo
A Chegada

Melhor edição

A Chegada
Até o Último Homem
A Qualquer Custo
La La Land – Cantando Estações
Moonlight: Sob a luz do luar

Melhor edição de som

A Chegada
Horizonte Profundo: Desastre no Golfo
Até o Último Homem
La La Land – Cantando Estações
Sully: O Herói do Rio Hudson

Melhor mixagem de som

A Chegada
Até o Último Homem
La La Land – Cantando Estações
Rogue One: Uma história Star Wars
13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi

Fotografia

Arrival
La La Land – Cantando Estações
Lion: Uma Jornada Para Casa
Moonlight: Sob a Luz do Luar
Silêncio

Melhor direção de arte

A Chegada
Animais Fantásticos e Onde Habitam
Ave, César
La La Land – Cantando Estações
Passageiros

Melhor trilha

Jackie
La La Land – Cantando Estações
Lion: Uma Jornada Para Casa
Moonlight: Sob a Luz do Luar
Passageiros

Melhor canção

Audition (The fools who dream) – La La Land – Cantando Estações
Can’t stop the feeling – Trolls
City of stars – La La Land – Cantando Estações
The empty chair – Jim: The James Foley Story
How Far I’ll go – Moana

Mixagem de som

A Chegada
Até o Último Homem
La La Land – Cantando Estações
Rogue One: Uma história Star Wars
13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi

Melhor design de produção

A Chegada
Animais Fantásticos e Onde Habitam
Ave, Cesar!
La La Land – Cantando Estações
Passageiros

Melhor figurino

Aliados
Animais Fantásticos e Onde Habitam
Florence: Quem é Essa Mulher?
Jackie
La La Land – Cantando Estações

Melhor cabelo a maquiagem

Um Homem Chamado Ove
Star Trek: Sem Fronteiras
Esquadrão Suicida

Melhor filme em língua estrangeira

Terra de Minas
Um Homem Chamado Ove
O apartamento
Tanna
Toni Erdmann

Melhor animação

Kubo e as Cordas Mágicas
Moana: Um Mar de Aventuras
Minha Vida de Abobrinha
A Tartaruga Vermelha
Zootopia

Melhor documentário

Fogo no Mar
I Am Not Your Negro
Life, Animated
O.J.: Made in America
A 13ª Emenda

Melhor documentário em curta-metragem

Extremis
41 miles
Joe’s violin
Watani: My homeland
The White Helmets

Melhor curta metragem

Ennemis Intérieurs
La femme et le TGV
Silent night
Sing
Timecode

Meu caríssimo Paulinho Mafe fotografou o desfile do Galo da Madrugada 2017

A arte do fotógrafo  Paulo Mafe, Recife em sábado de Zé pereira (Desfile do Galo da Madrugada, bairro de São José):









Carnaval 2017: adorei a charge de Humberto na Folha de Pernambuco

O genial que Capiba e Nelson Ferreira  (que torcia pelo Sport Clube do Recife, ou seria membro da coral? Bom , o fato é que ele compôs o hino do Náutico, o timbu Coroado!)


Stephen King e Adriana Calcanhotto em foco na mídia em fevereiro de 2017

Livros: Stephen King tem seus personagens como mote de um novo seriado ianque (sob a batuta de J.J. Abrams, de Lost); só que agora pela plataforma streaming (ui!) Hulu (!) Será que a exclusão pode ser grande por causa dessas mídias kuen? O nome da série é CASTLE ROCK (cidade fictícia criada por King


Siga o mapa (risos e sisos)





enquanto isso, no Brasil, a branquinha Adriana Calcanhotto lança pela queridinha da mídia Companhia das Letras, uma Coletânea de “jovens poetas” (oh!). O nome da brochura é "AGORA COMO NUNCA”; QUESTIONADA SOBRE A AUSÊNCIA DE POLÍTICA NOS VERSOS ALI CONTIDOS) NUMA OBRA DESSAS, NESTE MOMENTO DO BRASIL E DO MUNDO”, ela disse que o que viu (pouco e fraco) não valia a pena, mas que os escritores estão escrevendo (que bom). 40 paus nas Livrarias. Vai encarar? 

Galo da Madrugada, Nois Sofre Mais Nós Goza, Carnaval de 17, No Recife


Na Boa Vista, mais especificamente na Rua Sete de Setembro, o bloco "Nois sofre mas nois goza" foi às ruas pelo 41º carnaval, desfilando por um trecho de um quarteirão, fazendo a festa dos seus adeptos. Nois Sofre é filho da livraria Livro Sete, de Tarcísio Pereira, expressa frustrações do povo e continua firme, distribuindo animação.


O Nóis Sofre começou sua concentração por volta do meio dia e passou toda a tarde restrito ao pequeno trecho do seu desfile, com orquestra de frevo e foliões incansáveis.


Jomard muniz de Britto, Carmelita Pereira, Moisés Neto e Didha PereiraNois Sofre Mais Nós Goza, Carnaval de 17, No Recife



Tarcíso Pereira e Moisés Monteiro de Melo Neto


Já o Galo da Madrugada, este ano, veio com polêmica: muita gente criticou a alegoria sobre a Ponte Duarte Coelho, no Recife

Jomard Muniz de Britto e  Moisés Neto, lá atrás está a escultura do Galo da Madrugada (na Ponte Duarte Coelho, no Recife)


Foliões no Galo da Madrugada 2017



Paulo Mafe vê o Galo da Madrugada (fotos)





Já os  homenageados do Galo da Madrugada em 2017, no seu 40º ano de desfile, são o cantor Alceu Valença e o compositor J. Michilles; o Galo também homenageia o centenário do "Velho Guerreiro" Chacrinha, através de alegorias que relembram cassinos.

Houve ala para as crianças com o Palhaço Chocolate



É isso: Carnaval de 17, no Recife, está fervendo! daqui a pouco tem mais e muito mais! Vamos?

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Alegria Alegria! A semana de carnaval em Salvador promete e cumpre: Gil e Caetano são Tropicália 50 anos!

Caetano e Gil, ontem, sexta-feira pré-carnaval, no Centro Histórico de Salvador (o terceiro dia de carnaval de Salvador!), celebraram os 50 Anos do Tropicalismo, Gil subiu ao palco ao lado do também integrante do Tropicalismo, nosso querido Capinam. 


Caetano cantou Alegria Alegria, marco inicial do Tropicalismo, em 1967. Aí Gil detonou Soy Loco Por Ti America, parceria feita com Capinam e Domingo no Parque, outro clássico da Tropicália.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Carnaval esquisito, este, na nuestra Manguetown!


Muitas críticas negativas à alegoria-mor da folia pernambucana: o Galo da Madrugada. O novo "Galo Maestro" (autoria do apresentador e agora artista plástico Flávio Barra), está enfrentando oposição cerrada... no Recife: uma chateação; a província também está com medo da violência! Dizem até que metade do povo não vai às ruas (!) Carnaval esquisito, este, na nuestra Manguetown! Alalaô... por favor, não toquem o terror.


ENQUANTO ISSO OS FRANCESES MANDAM BALA NOS DESFILES DE CARNAVAL (EM NICE):







Já no Recife Antigo, hoje saiu pela 1ª vez o Bloco Ouroboros ou Oroboros (criatura mitológica, uma serpente que engole a própria cauda formando um círculo e que simboliza o ciclo da vida, o infinito, a mudança, o tempo, a evolução, a fecundação, o nascimento, a morte, a ressurreição, a criação, a destruição, a renovação. Muitas vezes, esse símbolo antigo está associado à criação do Universo), do multiartista Lano de Lins..




quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Também quero ter meu Sancho pra lutar contra os moinhos!

Eu garanto que o céu antigamente se mostrava mais azul
Por outro lado a América ficava bem mais norte do que sul
Eu admito que o futuro antigamente parecia bem maior
Por outro lado o perigo do passado no presente era menor

Hoje posso dizer que estive em frente do perigo
Mas tudo fica mais fácil quando existe algum amigo
Por isso quero dizer que já passei por maus bocados
Comendo em altos banquetes sem ficar empapuçado
Também já posso dizer que não é nada estar sozinho
Mas também quero ter meu Sancho pra lutar contra os moinhos!



Posso contar comigo numa solidão
Mas ter algum alguém do lado é melhor pro coração
Posso contar comigo numa solidão
Mas ter algum alguém do lado
Dentro de uma multidão!

Eu garanto que o rio antigamente só corria para o mar
E o vampiro só deixava suas marcas numa noite de luar
Eu admito que a cantiga de ninar daquela época era muito melhor
Mas a cantiga de acordar de hoje em dia tem um som muito maior

(Rita Lee)

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Carnaval do Recife


Boa semana , minha gente!
E esta é a semana pré-carnavalesca
a festa que se inicia
popular e principesca
Paradoxo aqui é brinquedo bom
forró e frevo sem sair do tom
Olé!




Pífanos para touros e toureiros da ilusão
de bailes, troças ... tantos brincantes
multidão, bumba o samba caboclinhos
o mar e o sertão 
e da elite surge um mameluco Momo
que oferece até a reclusão
para outros... monastério mistério
mas não diminuo, divido ou somo
Ah, multiplico o Recife!
Fora Wall Street!
sou teatro, literatura e sala de aula
mas sou também das ruas e dos clubes
do amor ao povo
cuja folia contagia
numa mistura tão grande
somos fortes, somos muitos
sou brasileiro por inteiro
antes que tudo fique mais lúcido ou caduco
Viva Pernambuco!
No meio de tantos problemas...
pulsa outro esquema
é, sim, a real magia
E sabe o que mais?
Evoé pra alegria!

"Só vou se Neide for! ", uma troça recifense pra lá de carnavalesca

A troça carnavalesca denominada "Só vou se Neide for! " nasceu de uma brincadeira entre amigos.- Alô! Vamos sair hoje? - Neide vai? Só vou se Neide for!
 Ontem, na rua da hora foi a festa/ desfile (pelo bairro do Espinheiro, Recife); cantamos o hino, com letra de Carlos Santos: "o Rei Momo está na Babilônia/ conversando com Nabucodonosor/ o carnaval vai ser em outra praça/ mas eu... só vou se Neide for !" (trecho)

São professores, alunos, ex-alunos, gente ligada aos cursos de direito, psicologia, Letras e muito mais!


Dinaldo, Neide, Moisés Neto, Taciana Valença, estes são apenas alguns dos trocistas da "Só vou se Neide for! ", uma  troça recifense  pra lá de carnavalesca

Os professores Rafael Bezerra e Moisés Neto: na tarde da "Só vou se Neide for! ", uma  troça recifense  pra lá de carnavalesca (4º ano de folia)


sábado, 18 de fevereiro de 2017

Chico Science encontra Josué de Castro: Recife sob o signo do homem-caranguejo


 

Artigo do professor e escritor recifense Moisés Monteiro de Melo Neto 
(publicado no Le Monde Diplomatique)


Lúcio Maia, guitarrista de Sience, com a Nação Zumbi com livro de Moisés Monteiro de Melo neto sobre o Maguebeat




Citado nas letras de Science e em depoimentos que o poeta registrou na mídia, o cientista e professor Josué de Castro, recifense morto em 1973, é o autor do romance Homens e Caranguejos (1966) o qual foi lido por Chico com avidez enquanto formulava o conceito mangue. Este romance descreve o cotidiano de uma comunidade erguida num manguezal do bairro de Afogados, Recife na primeira metade do século XX. São pescadores de caranguejos, pessoas que tiram do mangue seu sustento. Suas casas construídas com o massapé, madeira e palha do local e sua principal alimentação os caranguejos, até as crianças eram criadas tomando mingau feito com o caldo (o “leite da lama”) destes bichos que “fervilhavam” nas margens do Capibaribe.

Seres humanos feitos de carne de caranguejo, pensando e sentindo como caranguejos. Seres anfíbios – habitantes da terra e da água, meio homem e meio bichos [...] parados como os caranguejos na beira da água ou caminhando para trás como caminham os caranguejos [...] habitantes dos mangues [...] dificilmente conseguiriam sair do ciclo do caranguejo, a não ser soltando para a morte e, assim, afundando-se para sempre dentro da lama [...] essa fossa pantanosa onde aguarda o Recife (CASTRO: 2001, p. 10-11).

Jorge du Peixe e Moisés Monteiro de Melo Neto



A visão de Josué é ao mesmo tempo perturbadora e dinâmica. Expõe a fome de um povo que ao mesmo tempo brinca com o bumba-meu-boi, o pastoril, o maracatu e outros folguedos (p. 113) planejam uma revolução que tome a cidade das mãos dos ricos poderosos e dos políticos, mostrados como hipócritas e ladrões. O mangue aparece antropomorfizado:

agarrando-se com unhas e dentes (...) grras fincadas profundamente no lodo [...] cabeleira verde [...] braços numa amorosa promiscuidade [...] luta constante com o mar como se fossem trapos de ocupação” (ibid. p. 12).

Este clima de mangue vivo onde o vegetal, mineral e animal se confundem influenciou profundamente as concepções de Chico e Fred 04. O próprio manifesto “Caranguejos com cérebro” é calcado neste tema, este ninho de lama que Josué comenta: “onde brota o maravilhoso ciclo do caranguejo” e onde

O bumba-meu-boi era apenas um pesadelo de faminto sonhando com boi-fantasma, que cresce diante dos seus olhos compridos, mas cujas carnes desaparecem de baixo das apalpeladas das suas mãos... (ibid. p. 21).

A representação do Recife nesta obra influência de João Cabral de Melo Neto, Joaquim Cardozo e Ascenso Ferreira. Ele descreve o cotidiano daqueles que migraram de sertão e da zona da mata para o Recife e aqui se misturaram aos miseráveis da metrópole.
São balaieiros carregando frutas e verduras, que vivem entre mosquitos e urubus, rostos magros, morenos, olhos negros e profundos, na Comunidade de Aldeia Teimosa onde alguns sonham com a revolução do proletariado. Lembremo-nos que quase 40 anos depois, em 2003, 54,9% da população do Recife ainda morava em favelas segundo o Jornal do Commercio (GÓIS, Ancelmo.“Recife-Favela”, Jornal do Commercio.Cad. 1, pág. 2, 29.09.03) –. Segundo pesquisa do Ibam / Banco Mundial.
Corrosiva e às vezes sarcástica, a ironia do autor mistura-se ao lirismo de um final onde o menino João Paulo integra-se repentinamente à luta armada e desaparece no meio do combate à beira do mangue, às margens do Capibaribe, em seu desejo de libertação no meio daquele cheiro frio de lama podre, de terra morta em decomposição. E o narrador conclui:

 São heróis de um mundo à parte. São membros de uma mesma família, de uma mesma nação, de uma mesma classe: a dos heróis do mangue (ibid. p. 43).

A palavra “nação” e este senso de comunidade com espírito revolucionário deve ter incendiado as ideias de Chico e seu ideal de representação do Recife. Muitos pescadores de caranguejos no romance cobriam-se de lama com a finalidade de fugir dos mosquitos. No clipe da música “Maracatu atômico” Chico e a Nação Zumbi aparecem cobertos de lama, como numa alusão aos pescadores do mangue. Ouso de neologismos também serviria de inspiração a Science, por exemplo: verbo “jiboiar”, ao se referir a capacidade da jibóia de engolir “um homem inteiro” e passar um mês digerindo-o (p. 61). Chico cria o verbo (neologismo) “urubuservar” na introdução de “Maracatu de tiro certeiro”, na parceria com Jorge du Peixe (CSNZ, 1994). Outro ponto em comum seria a zoomorfização: homens e bichos se confundem na narrativa de forma implacável. Science vai resgatar isto também em sua obra, só que forma menor naturalista e mais caricata. Os mocambos, descritos por Josué, aparecem também na lira scienciana como símbolo da moradia, do pobre no Recife.
Enquanto Josué opta por uma visão pessimista, o trabalho de Science, é, de certa forma, quixotesco. Os monstros contra os quais investe suas armas são produtos tanto da realidade quanto da sua mente e na sua obra encontramos o ser metamorfoseado. Se os heróis de Josué são frustrados, os de Science celebram a vitória sígnica:

A façanha de ser prova: consiste não em triunfar realmente – é por isso que a vitória não importa no fundo -, mas em transformar a realidade em signos. Em signo de que os signos da linguagem são realmente conforme às próprias coisas [...] o poeta é aquele que, por sob as diferenças nomeadas e cotidianamente previstas, reencontra os parentes subterrâneos das coisas” (FOUCAULT: 2002, p. 64-67).

O mangueboy Chico e as personagens do lugar-mangue recriado por Josué parecem se articular num mesmo contexto de realidade mágica e desgraçada. Ambos tateiam em busca de saída e de fazer a linguagem romper seu parentesco com a realidade opressora e terminam criando uma alegoria, instaurando um pensamento novo. E assim surge uma reviravolta cultural na cidade do Recife, marca-se um estilo, uma época, um período, uma ruptura, uma descentralização, um deslocamento. Algo que rompesse estruturas arcaicas. Hoje analisamos o Mangue já com certo distanciamento daquele período, mas é possível detectar onde deu-se a ruptura e quais as suas possibilidades. Vejamos o que Foucault argumentou sobre esta questão da divisão da cultura em períodos:

Pretende-se demarcar um período? Tem-se, porém, o direito de estabelecer, em dois pontos do tempo rupturas simétricas, para fazer aparecer entre elas um sistema contínuo e unitário? A partir de que, então, ele se constituiria e a partir de que, em seguida, se desvaneceria e se deslocaria? [...] que quer dizer inaugurar um pensamento novo? [...] uma cultura deixa de pensar  como fizera até então e se põe a pensar outra coisa e de outro modo [...] o problema que se formula é o das relações do pensamento com a cultura. (ibid., p. 69).

Moisés Monteiro de Melo Neto e Renato Lins (Renato L)



A ruptura que podemos observar nos estudos de Josué aponta para a desigualdade econômica como responsável pelo fenômeno social da fome numa época em que se acreditava que ela resultava do acelerado crescimento populacional desproporcional ao aumento dos recursos naturais, já Science e outros poetas do Manguebeat lutavam por romper com os feudos culturais que estagnavam Recife com seus discursos reacionários. Josué foi deportado pela ditadura nos anos 60, mas seu legado serviu de base para os mangueboys, que sedimentaram sua luta, e unindo estas ideias à música e à poesia no início dos anos 90. Letras como “Rios, pontes e overdrives”, “Antene-se”, “Da lama ao caos”, “Risoflora”, “Manguetown”, “Corpo de lama” e outras são exemplos do que estamos afirmando. Elas se aproximariam o que Foucault questionou como sendo “ruptura”, inauguraram o “pensamento novo” e buscaram novas relações entre o pensamento e a cultura.
A cultura popular foi sacudida pela nova Cena. O governo logo percebeu que seria conveniente apoiar os mangueboys. Inicia-se a fase das negociações. O antigo regime parece querer cooptar a nova revolução, mesmo olhando-a meio de banda. E Science inicia negociações com Ariano Suassuna, dialoga com Alceu Valença. Nos moldes do antropólogo Renato Ortiz a tradição e modernidade mesclam-se no Brasil, país onde a ruptura nunca se realiza plenamente nem deixa de ser tentada, como aconteceu nos anos 60 com a Tropicália e o Cinema Novo.

A movimentação política, mesmo quando identificada como populista, impregnava o ar, impedindo que os atores sociais percebessem que sob os seus pés se construía uma tradição moderna (ORTIZ: 2001, P. 110).

Como ressaltamos antes, o Mangue, em plenos anos 90, ainda ressaltava ícones como cangaceiros e reforçava mitos como o do nordestino ser um tipo desengonçado, mas não é uma poesia, nem uma música, que expresse conformismo, ou que demonstre uma unidimensionalidade das consciências. É uma postura construtiva que surge no auge do poder da indústria cultural sobre as massas, o final do século XX. Fala de conflitos e exige a luta dos desfavorecidos numa sociedade que pode ser vista sob diversos ângulos. A ação é considerada na poesia do mangue como foco central na orientação dos comportamentos, estimula-se a realização das vontades e a retomada do espaço público.

Uma posição mais extremada é certamente a de Adorno, quando descreve a sociedade de massa, como um espaço onde praticamente não existem mais conflitos, uma vez, que a luta de classes deixa de existir e a própria possibilidade de alienação se torna impossível. Sociedade marcada pela unidimensionalidade das consciências, o que reforça a integração da ordem social e elimina a expressão dos antagonismos (ibid. p. 150).

O Mangue carrega consigo a idéia de libertação que não se vincula a uma classe específica, embora o universo poético centre-se nos pobres, mas na mente de todos. Propõe a transformação da própria concepção do que é cultura, justamente numa época de mudança de parâmetros na economia global com o fim da Guerra Fria.
Marcada pelos estigmas da contracultura a poesia de Science exibe o ridículo e o êxtase do ser e anda na corda bamba entre o racional e o irracional. Como entender essa discrepância? Minha tese é de que Science propôs a redefinição desses e outros conceitos. Sua arma, como Barthes tanto sugeriu como sendo a melhor para se revolucionar, foi a linguagem. E Chico usou a língua do povo do Recife. Como Josué foi buscar nas camadas de baixa renda da população da cidade o motivo da estagnação dessa metrópole-lama.
 

A ex-esposa de Chico Science, a filha dele e Moisés Monteiro de Melo Neto, autor do primeiro  livro sobre o Manguebeat






                                                          II

De algum modo, a representação do Recife uma obra de Science comprovou o primado do significante sobre o significado, da significação sobre a representação, da semiose sobre a mimese. Não se buscava a realidade e sim autonomia da língua em relação à realidade, o signo em fragmentada relação com o seu objeto, como se o referente não existisse fora da linguagem e dependesse da interpretação. Detectamos função poética colocando em evidência o lado palpável dos signos e tornando evidente que o poeta selecionou e combinou de modo particular e especial as palavras para daí obter um ritmo, que lhe era intuitivo. Chico escutou muitos tipos de música e tinha aptidão nata para trabalhar a linguagem de forma musical. Por ter tido contato com comunidades de baixa renda como as de Peixinhos, Rio Doce, Ilha do Maruim e outras do Grande Recife, ele absorveu o linguajar, a sonoridade e aproveitou-se da psicodelia para ressaltar o inusitado das imagens. Recife perdia o peso do ser, se esvaziava e se enchia tornando-se diferente a cada verso como se existisse no mundo numa hora estranha onde ontem, hoje e amanhã se confundiam.
No trabalho poético com o signo lingüístico, o significante Recife é substituído às vezes por “Manguetown” como num rompimento de um contrato e a celebração do novo signo como meio de superar ou resolver uma dificuldade. A esperança é camuflada pelo gozo de ser expresso na exploração máxima da sonoridade das vogais, alongando-as e interpretando as palavras como se houvesse uma exclamação após cada uma delas. O senso de espetáculo e/ou festa parecem impregnar cada uma das composições. Um atrevido arrebatamento é posto em ação. O “real” da vida ou o que seria o “referencial” transformado em linguagem torna-se aventura festejada.
Ao comentar os textos de Barthes e Mallarmé, o professor Antoine Compagnon comenta algo que em muito se assemelha com o nosso estudo sobre Science:

Barthes cita, em nota, Mallarmé para justificar essa exclusão da referência e esse primado da linguagem, porque é exatamente a linguagem, tornado-se, por sua vez, a protagonista dessa festa um pouco misteriosa, que se substitui ao real, como se fosse necessário, ainda assim, um real. E na verdade, salvo se conduzirmos toda a linguagem a onomatopéias, em que sentido ela pode copiar? Tudo que a linguagem pode imitar é a linguagem: isso parece evidente (COMPAGNON: 2001, p. 101).

Poesia e realidade transformadas em produtos comerciais onde o que parecia imitado não eram os habitantes do Recife, mas a ação deles, o modo como eles se expressam. Muito mais o artefato sonoro-poético produzido pelo “imitador” (Chico) do que o objeto imitado, o homem pobre e a cidade estigmatizada. No arranjo que o poeta faz não importava mais se sua interpretação era fruto do engajamento ou da alienação. A natureza, o lugar, a poesia, a cultura e a ideologia parecem de tal forma estar amalgamados, que, olhar o que aconteceu no Recife de Chico Science faz-nos muito mais pensar no que poderia ter acontecido. O absurdo poeta-caranguejo era persuasivo ao desconstruir antigos conceitos de representação da cidade ou da “terra dos altos coqueiros / de beleza soberba estendal”, da “nova Roma, de bravos guerreiros / Pernambuco / imortal, imortal” como está na letra do livro de Pernambuco, cujo autor é Oscar Brandão da Rocha.
Por isso não abordamos Science com uma aparelhagem estruturalista: optamos pelos estudos culturais, por analisar a postura do poeta diante de um contexto que lhe era adverso e como ele reverteu esta situação através da blague, do humor afrociberdélico numa particular interpretação daquele momento, o final do segundo milênio, os anos 90 na Manguetown, provocando nova ilusão ao substituir a realidade pela sua representação.
São paradoxais as relações da poesia de Chico com o Recife: não podem ser definidas nem como miméticas nem como antimiméticas. A cidade recriada parecia com a anterior depois de teatral metamorfose. Seria impossível, neste caso, eliminar totalmente a referência, mas a urbe aparece como alucinação, ficção, ilusão poética como num show de mágica: “sumiu”, “voltou” mas não é a mesma: é um truque. Havia relações, agenciamentos, mas era o Recife como se fosse outra cidade e o habitante transforma-se em turista acidental ou espectador de si mesmo, ouvinte da própria história que parecia só existir por estar sendo recontada daquele modo. Eis o valor heurístico, o valor da arte de inventar: a representação scienciana surge como ápice de um século que em Recife foi marcado pela procura da própria identidade (Regionalismo e o Movimento Armorial do paraibano Suassuna que se desenvolveu nesta metrópole), um projeto controverso e cheio de perspectivas numa era onde a cibernética popularizou-se.

Com a digitalização e seus efeitos de onipresença e onividência (graças à ubiqüidade do sujeito nas redes telemáticas), ser e estar não são verbos que possam mais se colar semanticamente, (como na língua inglesa). A identidade desenraiza-se, libera-se de suas contenções físicas localizáveis num espaço determinado e aceita possibilidades inéditas de heterogeneização ou mesmo de fragmentação [...] a consciência do sujeito assim como as relações intersubjetivas não podem deixar de ser afetadas [...]Os corpos tornam-se vulneráveis à irradiação viral dos signos, e as identidades podem ser produzidas como um bem de mercado, ou então como qualquer figuração delirante na realidade sintética do ciberespaço (SODRÉ, 1996. p. 178-179).

E a “figuração delirante” na obra de Chico envolve as tradições e a literatura locais misturando-as, como viemos afirmando, com a tecnologia nos anos 90, que atingira as massas de forma avassaladora e a internet que ajudou a estabelecer novos parâmetros na mídia. Os mangueboys puderam contar já com estes recursos que se encaixavam com a proposta da cidade reinventada, agora virtual e pronta para ser despachada para qualquer lugar do mundo onde houvesse acesso à rede. Colaram o que viam com o que ouviram dizer:

Este corpo de lama que tu vê

é apenas a imagem que soul
este corpo de lama que tu vê
é apenas a imagem que é tu
[...] eu caminho como aquele grupo de caranguejos
ouvindo, a música dos trovões
[...] há muitos meninos correndo em mangues distantes
[...] essa rua de longe que tu vê
esse mangue de longe que tu vê
é apenas a imagem que é tu
(CSNZ, 1996)

Nesta letra de Science chamada “Corpo de lama”, além da liberdade gramatical a liberdade de interpretar os signos como se fossem almas ou até ritmos musicais (a imagem que “soul” – “alma” em inglês e um “ritmo” de música). A “música dos trovões”, que os caranguejos escutam é uma referência ao romance de Josué de Castro Homens e Caranguejos, no qual, aproveitando-se que os caranguejos ficavam desnorteados em dia de tempestade com trovões, os homens forjavam barulhos para simular esta situação e capturá-los assim. O “Corpo de lama” também é referência aos pescadores do mangue, metonímia de determinada população miserável da Manguetown que agora parece sem o cheiro na mídia. Com o mangue e seu aparato tecnológico a cibernética se instala na cultura recifense definitivamente: Recife caiu na rede, comunhão entre homem e máquina. A transmissão de um indivíduo de um lugar para o outro deixa de ser uma hipótese.

Tanto a proteína (humana) como o metal (máquina) seriam transcendidos pela realidade de informação, suscetível de transmissão eletrônica [...] a mutação se daria pelo acoplamento do corpo humano a dispositivos maquinais [...] montagem de personalidades combináveis [...] ritmo [...] a identidade viabiliza-se como um jogo de signos realizados por imagens, que circulam aceleradamente, de forma contagiante, à maneira de um processo viral [...] simulacros que se incorporam aos sujeitos, criando outro tipo de relação com o mundo físico. (SODRÉ, 1996, p. 173-174).

O “contágio”, ao qual se refere Sodré, era justamente a proposta do mangue. Do mesmo modo que os habitantes/consumidores da Manguetown se transformaram em caranguejos ao beber cerveja feita com água do mangue, com baba de caranguejo, transformando-se em seres mutantes. A contaminação sígnica:

O indivíduo atribui-se o nome que deseja e pode neste mesmo ato inventar e viver uma identidade alternativa [...] superação da realidade corporal primitiva [...] que no fundo seria pura desordem e falta de razão [...] multifacetado, o sujeito, que se define como suporte permanente de traços acidentais, depara com a sedução imagística e assiste à relativização da permanência pela mobilidade veloz das máscaras, das variadas posições de indivíduos-atos, inerentes à pessoa [...] é tentador buscar na ficção científica inspirações utópicas [...] de mutações psíquicas e corporais” (SODRÉ, 1996. P. 175-177).

 

 

O recifense Moisés Neto é professor, escritor, Mestre em Teoria da Literatura pela UFPE. Autor dos Livros Chico Science: A Rapsódia Afrociberdélica, Teatro Ilusionistas e Notícias Americanas, dentre outros.




 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


CASTRO, Josué de. Geografia da fome. Rio de Janeiro: Gryphos, 1992.
________________. Homens e caranguejos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001
COMPAGNON, Antoine. O demônio da crítica. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2001.
FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
GILROY, Paul; GROSSBERG, Lawrence; McROBBIE, Angela (org.). Without Guarantees: In Honor of Stuart Hall. London: Verso, 2000.
GLISSANT. Édouard. Caribbean Discourse. Charlottesville: University of Virginia Press, 1992.
GREINER, Christine; BIÃO, Armindo. Etnocenologia. São Paulo: Annablume Editora, 1998.
HABERMAS, Jürgen. O discurso filosófico da modernidade. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP & A Editore, 2001.
____________. Da diáspora – identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.
ORTIZ, Renato. Notas históricas sobre o conceito de cultura popular. São Paulo: Kellog Institute, 1986.
___________ . A moderna tradição brasileira. São Paulo: Brasiliense, 2001.
SODRÉ, Muniz. Reinventando @ cultura. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1996.

JORNAIS

GÓIS, Ancelmo. Recife-Favela. Jornal do Commercio, 29 set. 2003. Caderno 1, p. 2.

GRAVAÇÕES EM COMPACT DISC

CHICO SCIENCE & NAÇÃO ZUMBI. Da Lama ao Caos. Rio de Janeiro: Sony Music, 1994. 1 disco laser. Gravação de som.
_______________. Afrociberdelia. Rio de Janeiro: Sony Music, 1996. 1 disco laser. Gravação de som.




 Moisés Monteiro de Melo Neto;  fone:  (81) 999 61 34 22

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Trump é contra a formação de um Estado Palestino

Estados Unidos e o presidente Donald Trump pretende mudar a opinião da preidência dos EUA sobre os conflitos entre israelenses e palestinos: “Estou olhando para as soluções de um Estado e dois Estados, e eu gosto da que as duas partes gostarem. Se Israel e os palestinos estiverem felizes, eu estarei feliz com a qual eles mais gostarem”, “os Estados Unidos irão encorajar a paz e, de verdade, um ótimo acordo de paz”. “Nós estaremos trabalhando nisso de modo muito, muito diligente” disse Trump. O homem indicado por Trump para assumir o cargo de Embaixador dos EUA em Israel, David Friedman apoia abertamente os assentamentos israelenses em territórios palestinos! Sei que é um assunto complicado, mas talvez a divisão seja necessária. 
Estive na faixa de Gaza antes da Intifada iniciada 2000, presenciei cenas absurdas.
Acompanho hoje pela mídia o desenrolar deste antigo conflito.





Hoje a situação está praticamente fora de controle