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segunda-feira, 30 de março de 2015

Au revoir , pou.pança.Cerejeiras em flor no Japão, economia e desgraça em Pindorama: Especulação voraz dos vampiros do capital?

 Enquanto no Oriente as cerejeiras estão florindo, no Japão, dando um show de exuberância , sutileza e poesia natural, aeconomia brasileira em desgraça, pelo menos segundo o alarde feito pela Mass Media, e no meu bolso também já sinto efeitos malignos causados pelo turbo capitalismo cada vez mais descarado e corruptor.

Cuidado com os idos de março!
Até tu, Brutus?
Cesariana nesta porca velha que é o acúmulo de riquezas nas mãos de tão poucos!
 O lobo mau tem nome: especulação!
Ouro não evapora!
Cadê a devolução aos cofres públicos do dinheiro roubado?
Cadê a exploração do pré-sal?

Só Jesus na causa: "Atualização de saldo" das famigeradas CADERNETAS DE POUPANÇA FICAM AQUÉM DA INFLAÇÃO...

Perguntas tardias: E o avião onde morreu Eduardo?  A quem pertencia?

Os cães ladrões a a caravana continuam passando a mão.

Vamos segurar a onda.

Ai! Quem me dera férias no Japão!

Manchetes locais: Recife está afundando!

sábado, 28 de março de 2015

Plant no Lollapalooza

 Um Robert Plant arrepiante subiu ao palco no Brasil, ainda há pouco; entremeando músicas do Led Zeppelin,  banda icônica,  que o alçou, ao lado de Page, a um estrelato bem particular, com outras suas; Robert Plant barbarizou hoje (28), no seu show  do Lollapalooza, em São Paulo. Já com 66 anos (que importam rugas e barriga se a voz dele há mais de 40 anos nos tantaliza?) o homem estava muito bem.

sexta-feira, 27 de março de 2015

Aniversário , Moisés Neto, Recife

Agradeço pelas inúmeras mensagens de Feliz Aniversário que estou recebendo pelo meu niver.

Grande abraço para todos vocês.

E viva este dia Internacional do Teatro e Nacional do Circo!



Um brinde!

Ainda chocado com a tragédia na Europa

O piloto suicida, que tinha problemas psiquiátricos e levou à morte 150 pessoas numa das mais terríveis tragédias dos últimos dias, nos faz pensar nessas pessoas que se controlam à base de remédios e disfarçam, até para si mesmas, seu potencial destrutivo.
Não estamos falando de loucura, estamos falando da maldade humana e da necessidade de amor e compreensão.

Repassando informações sobre o badalado Festival em São Paulo: Lollapalooza Brasil 2015

A programação das atrações do Lollapalooza Brasil 2015 já tem shows e bandas confirmadas. Serão mais de 50 atrações que irão se apresentar em 5 palcos. Os horários de cada um dos shows também já foram divulgados.
O Lollapalooza 2015 Brasil será realizado nos dias 28 e 29 de março no Autódromo de Interlagos, em São Paulo. Os ingressos estão esgotados.
Lollapalooza 2015 Lineup – Bandas e Atrações do Festival no Brasil
As principais atrações do Lollapaloza Brasil 2015 serão:
Programação Dia 28 – Sábado
Palco Skol – Horário e Banda
12:05 – Baleia
13:45 – Banda do Mar
15:55 –
 Alt-j
18:20 –
 Robert Plant
21:15 –
 Jack White
Palco Onix –  Horário e Banda
12:55 – Bula
14:50 – Fitz and the Tantrums
17:00 –
 Kasabian
19:40 –
 Skrillex
Palco Axe –  Horário e Banda
12:00 – 89 FM
13:00 – Boogarins
14:15 – Nem Liminha Ouviu
15:30 – Kongos
17:00 – St. Vincent
18:45 – SBTRKT
20:15 – Mariana and the Diamonds
21:45 –
 Bastille
Palco Perry –  Horário e Banda
13:00 – Anna
14:15 – Vintage Culture
15:30 – E-Cologyx vs Jakko
16:45 – DJ Snake
18:15 – Dillon Francis
20:00 – Ritmo Machine
21:30 – Major Lazer
Dia 29 – Domingo
Palco Skol –  Horário e Banda
11:50 – Scalene
13:30 – Molotov
15:25 –
 Interpol
17:35 –
 Foster The People
20:15 –
 Pharrell Williams
Palco Onix –  Horário e Banda
12:40 – Far From Alaska
14:20 – Rudimental
16:30 –
 The Kooks
18:55 –
 DJ Calvin Harris
Palco Axe –  Horário e Banda
12:00 – Dr. Pheabes
13:00 – Mombojó
14:30 – O Terno
16:00 – Three Days Grace
17:30 – Pitty
19:00 – Young the Giant

Palco Perry –  Horário e Banda
12:15 – Chemical Surf
13:15 – Fatnotronic
14:14 – Victor Ruiz AV Any Mello
15:15 – Big Gigantic
16:30 – Carnage
17:45 – The Chain Smokers
19:15 – Childish Gambino
20:45 –
 Steve Aoki




sábado, 21 de março de 2015

Endurecer sem perder a ternura jamais, companheiros!

De novo? Alemanha e França são chamadas a intervir pela paz no Leste da Ucrânia (local onde nasceu nossa Clarice Lispector). À luta, todos! Já! Os intresses capitalistas e/ ou étnicos estão cada vez mais perdendo a capacidade de se disfarçar (também é o caso do famigerado Estado Islâmico, que usa a religião para encobrir outros interesses); mas depois de mais uma semana de atentados, principalmente no mundo árabe, as notícias de hoje nos levam ao nosso pequeno céu/inferno caosmótico interno com o dólar zanzando perigosamente  acima dos 3 reais e poucos (ou tantos?). Já  aqui, em Pindorama, os médico cubanos estão tendo problemas em sua permanência no Brasil (pressão de lá e de cá): tem que endurecer sem perder a ternura jamais, companheiros!


Chega de esperar sentado: à luta!


 E o Governo bate mais forte e confisca obras de arte na OPERAÇÃO LAVA JATO, entregando obras (como  quadros de Djanira & outros do mesmo top) aos nossos combalidos museus (deviam mandar umas para o Recife, afinal nosso dinheiro foi surrupiado também, sabemos por quem).

Jomard Muniz de Britto, jmb em tramas

MARES DE MARÇO, ABRIL de MARESIAS


Moisés Neto, Noemi e Jomard

Pelo mais, pelo mínimo, impossível
desistir do Brasil, fúria e fulgor de
nossas ruas, avenidas, becos. CulturAÇÕES.
Sejamos ERRANTES, aprendizagem
dos gregos às navegações de Oriana Duarte.
Pela HISTÓRIA do Desenho/Designer
labirintos, volúpias, diferenças.
Impossível não enfrentar contaminações
do mais kitsch, cafona mesmo, ao desejo
de racionalidades construtivas.
Sejamos experimentadores da
WWW.museologia.
Ventanias marítimas. Corporalidades.
Sem rimas. Sem carismas. Sem devoções.
Nosso ambientalismo fragmenta ampliando
mistérios do inteiro ambiente.
De AROEIRA no Pátio de São Pedro aos
confins do VIVENCIAL por São Bento,
Frei Beto e Papa Francisco de todos e
ninguém. AROEIRA: madeira resistente.
Sejamos berrantes do barroco ao rococó.
Se nossa, vossa corrupção continua sendo
“uma senhora bastante idosa”, todos
os beijos serão benditos e globalizantes.
Todas as rimas sorrindo pelas Academias.
Os MALFEITOS serão tão achacadores
quanto triunfalistas. Sem temor nem tremer.
Pelo melhor tudo pode ser lido e reinventado
no ÓCULOS BLUE de João Henrique Souza.
Do azul celeste celestial da Caetanave ao
Maquiavel sem máscaras nem misericórdias.
Ventos de Março em Agosto de G. Mascaro.
Abril relendo as Confissões de Agostinho.
Nossa Senhora de Santana jubilando por
NÓS: Real, Simbólico, Imaginário.
Entrelugares de Lucas dos PRAZERES
às dissipações cognitivas.
Sejamos errantes sem medo de errar.

sexta-feira, 20 de março de 2015

Salomé, de Fernando Pessoa (adaptado por Moisés Neto)



SALOMÉ – Eu farei para mim um sonho, e esse sonho será uma história. Irei contando alto essa história, e vós ouvireis e sonhá-la-eis comigo. Uma ou outra de vós, quando a história lhe for ensopando a alma, me irá dizendo o que vê na alma dessa história, e que eu me esquecesse de contar. Será como um canto em que cantemos juntas num sentido, e cada uma por sua vez na voz. Dizei-me que pode ser assim, para que eu possa sonhar a história que há-de ser... se a história for bela será pena que fosse apenas sonho; se não for bela, será pena que se houvesse contado... Se a contarmos bem e for bela, e por isso a sonharmos bem, será mais que um sonho, nalgum lugar, algum momento, ela terá de ser, porque as coisas que acontecem não são senão como são narradas depois. O que aconteceu ninguém o sabe, porque ninguém sabe o que está acontecendo; os olhos têm a venda de ver e os ouvidos estão tapados com o ouvir. Os livros grandes que lemos contam coisas maravilhosas do passado. Essas coisas são narradas, porém talvez nunca se dessem. Mas as coisas deram-se porque foram narradas. Que temos nós com o que foi? O que foi é morto e como se não fora nunca. O que é do que foi é verdadeiramente hoje foi antes. O mais é pensar de loucos ou de crianças, que querem a verdade ou a lua nas grandes noites de verão, como esta em que a alma é ampla e triste. Havia, no deserto para além do deserto, entre a parte dos desertos que é rochedos, e a solidão é mais dura do que nas areias e a alma mais triste que ao pé das palmeiras, um homem que queria um deus, porque nao havia deus dos homens que habitassem naqueles desertos nem naquela alma. Queria um deus com mais sede que a da água, e mais fome que a dos frutos que são como água e são doçura, e para os quais as crianças estendem o olhar e a mão. Esse homem chamava-se João, porque no meu sonho se chama João. É um nome de entre os hebreus, mas não há felizmente profeta ou rabino de entre eles que ainda usasse deles. Esse homem clamava-a porque a queria e não porque ela houvesse de ser. Mas ele clamava tanto que sem dúvida o ouviria esse deus que ele estava criando. E o deus viria em sua hora, porque para quem sonha não há hora, nem se desencontra a alma com o seu destino. Tragam-me a cabeça dele. Quero vê-la, mas não quero vê-la bem. Afasta mais ainda. Aí, onde está, a luz do luar dá-lhe como um malefício. Quantos luares mais lhe não darão no sonho que outros terão do meu! Leva-a mais para longe. Estou cansada. Sonhei demais. Que homem era esse? Era a cabeça de um santo que andava nos desertos? Deixem-me vê-la de perto. (Ajoelha ao pé dela) (Toma-a nas mãos) Faz medo e nojo, como os deuses. É a cabeça de um monstro porque é a de um morto. Tenho sono. Pai, tenho sono. Pai, quero dormir. Deixai a salva aí no chão, com a cabeça. Pai, ide-vos também daqui. Eu bem sabia. Eu bem sabia. Não se pode sonhar sem Deus saber. A minha mentira era verdade. Era certo que nos desertos havia um santo que chamava por um deus novo, um deus triste como as rochas e sozinho como as grandes planuras. Eu bem sabia que alguém haveria de querer um deus que conhece os sonhos e tem pena do que não têm nada. Vou fazer como se estivesse num festim. Vou bailar à roda da tua cabeça até cair sem vida. Vou dançar no funeral das coisas que morreram com a tua vida. Vê, vou fazer um bailado ao luar, para dizer tudo. (Fernando Pessoa)

domingo, 15 de março de 2015

Arte e política: domingo com 50 tons de vermelho, amarelo, azul, verde e branco

Não é tomar o Poder que interessa  à arte, e sim modificá-lo, desafiá-lo (esta parece ser uma das possibilidades para o papel estratégico dos artistas). 






Entre lebres e tigres: Lembrem-se que o registro da cultura também é o do barbarismo!

Vai para o trono ou não vai? Impeachment às cegas ou Por que dizem amor quando querem dizer interesse?

Ah! E esta celeuma em torno de Dilma, promovida por interesses óbvios e "forças ocultas nos moldes janioquadristas"?
Tentaram uma onda pré-agendada, em forma de "marcha cívica com conotações discretamente golpistas", mas repleta/ investida de boas intenções, para hoje.


No Recife a tal onda pró-impeachment  formou-se na praia de Boa Viagem
os tubarões de plantão estão de olho



 (risos e sisos): alguém sugeriu entregar de vez a Pátria amada, salve, salve, ao grupo de países ricos e/ou aos corruptos nacionais ou transnacionais, de plantão (não eleitos pelo povo). É bom termos em mente um bom conceito sobre o que é IDEOLOGIA, pois não?

Sartre visita Elsinor: A práxis imaginária e a práxis real no trabalho do ator dramático e do ator social

Cena da morte do Rei Cláudio. 
Moisés Neto em Hamlet, em segundo plano aparecem o ator Paulo Barros (Horácio) e Ana Célia Bandeira (Gertrudes), em montagem recifense, 1988, direção Alberto Gieco e Paulo Falcão




O exemplo de Sartre em “Questão de método” é estonteante: 
quando um ator, interpretando Hamlet, cruza a cena indo matar Polônio, no quarto de Gertrudes: que verdade da práxis imaginária está na práxis real
“É justamente esta síntese que permite descobrir uma ação imaginária em cada um, ao mesmo tempo como sua réplica e como matriz da ação real e objetiva”, diz o francês.

sábado, 14 de março de 2015

OS DRAGÕES NÃO CONHECEM O PARAÍSO, conto de Caio Fernando Abreu (trecho)

“ [...] para os dragões nada mais inconcebível que dividir o espaço- seja com outro dragão, seja com uma pessoa banal [...] eles são solitários, os dragões [...] decidi que não passaria mais um dia sem contar essa história de dragões [ninguém é capaz de compreender um dragão [...] ele não permite corrigir-se [...] cheirava a alecrim e hortelã [...] cheiro verde [...]esse é o mês dos dragões [...] um dragão vem e parte para que seu mundo cresça [...] são apenas anunciação de si próprios. Eles se ensaiam eternamente, jamais estreiam [...] os aplausos seriam insuportável para eles [...] fico cansado do amor que sinto [...] no meio de uma cidade  escassa de dragões [...] só existe o sonho [...] que seja doce...” (OS DRAGÕES NÃO CONHECEM O PARAÍSO, conto de Caio Fernando Abreu). Seleção: Moisés Neto.

sexta-feira, 13 de março de 2015


"Poemeu para uma mulher nesta sexta à Robinson Crusoé do Recife"(moisesneto)


Comunico o que sou, sem horror, simples, apenas
na tarefa de cumprir-me (em abismo), cenas?
risco o tempo com o giz do meu amor
em meio à densa neblina


quinta-feira, 12 de março de 2015

O LEITOR, CÚMPLICE SECRETO


   Logo na primeira página de um livro de ficção, o leitor faz, com freqüência, um pacto secreto com as palavras: por alguns dias ou horas, ele finge que está lendo uma história que realmente aconteceu. É como se os personagens e o trançado de eventos que aparecem no tempo e no espaço da narrativa existissem, ao menos no momento da nossa adesão ao mundo imaginado. (...) Cada texto cria vários tipos de leitor: do mais ingênuo ao mais arguto, do que crê em tudo ao que desconfia de tudo. 


   Há os que se interessam apenas pela história ou trama, e nela esgotam outras possibilidades de interpretação. E há leitores que esquadrinham com olhos de lince todos os recantos e ângulos da arquitetura ficcional. O leitor que se configura no ato da leitura pode ter a liberdade de imaginar situações, traçar relações, preencher lacunas e desvelar sentidos ocultos. Pode, enfim, mediar, compreender, interpretar. Ao dialogar com o texto, o leitor pode aceitar ou recusar as regras do jogo lúdico de que
participa a ficção. De certo modo, o leitor torna-se cúmplice desse espelho deformador da realidade, que reflete e abre espaço à singularidade da literatura. O leitor é um cúmplice secreto que compartilha os segredos, os desregramentos, as fantasias, os delírios e as idéias do narrador, o outro que lhe sussurra nos ouvidos. O leitor participa desse ato de busca: sondagem de si mesmo e do outro, numa tentativa de elucidação do mundo.



(Milton Hatoum. Revista EntreLivros, Ano I, nº 8, p.26. Adaptado).

segunda-feira, 9 de março de 2015

Morre uma estrela: Inezita e alguns dos meus domingos (antes de sair)

Com meu notebook na cozinha, domingo pela manhã, eu, àsvezes curtia Inezita Barroso e pensava: puxa! dia desses essa mulher não vai aguentar; bom, chegou a hora  daquela música de raiz ser arrancada da vida e se acabar em sua matéria física.
Eu gostava dela, e sim, vou sentir falta daquela verve histórica; quando eu era adolescente achava aquilo de uma caretice extrema, aprendi mutio com a vida e com o tempo, nosso mestre mais implacável.
Assisti ainda agora a cenas do funeral da nossa estrela que primeiro gravou RONDA, de Vanzolini (num lado B, de repente), escutei-a cantar sua MODA DE PINGA (hilária, incrível).
Ela foi a primeira mulher a gravar Modinha.
Viva Inezita!
Segurou a onda até o fim, brilhando!
Salve, salve!

domingo, 8 de março de 2015

Rocco Ritchie: strange days (o estigma da acne)

Qual foi a brilhante ideia que teve Rocco Ritchie? 
Um dos herdeiros  da americana mais famosa do planeta, com quem ele já trabalhou na condição de... dançarino, intrigou alguns fãs brasileiros da mamãe dele (que está prestes a lançar um álbum e uma turnê), pois é, não é?  Em 06/03/15,  este adolescente,filho do diretor de Sherlock Holmes (dizem que fez a produção com a grana do divórcio) postou uma foto (em sua conta no discutível "Instagram") e escreveu assim:

 "A primeira pessoa que comentar 'Brasil' vai levar um chute". 

Que gentil,..

Aos 15 anos, pálido como se tivesse consumido algo que lhe fez mal (ou será só tédio, brincadeira e problemas "pessoais"?), ele com o rosto marcado pelo estigma da acne,  aparece com uma bandeira do Brasil enrolada na cabeça.

                                                                        Dias fúteis...

Poema para o dia da mulher

(poemazinho mínimo de moisesneto para todas)

 Se a coisa estiver por um dia: Virgem Maria!
Se foi traído, não sai da inércia: foi Lucrécia!
Por uma que sempre lhe acompanhe? amiga, esposa, mãe!
Flor, dor-amor qualquer: doce mulher!
Se artista? Protagonista!
Em seu ventre por meses o humano habita!
Mesmo sem filho, estranho brilho!

Leite, mel, deleite até no fel!

Sobre a mulher oprimida, em Shakespeare

Otelo (fragmento)
William Shakespeare


ATO V. Cena II
Um quarto de dormir, no castelo. Desdêmona dorme, no leito. Uma candeia acesa. Entra Otelo.

OTELO - Esta é a causa, minha alma. Oh! Esta é a causa! Não vo-la nomearei, castas estrelas! Esta é a causa! Não quero verter sangue, nem ferir-lhe a epiderme ainda mais branca do que neve e mais lisa que o alabastro. Mas é fatal que morra; do contrário, virá ainda a enganar mais outros homens. Apaga a luz! Depois... Apaga a luz! Se te apagar, ministro flamejante, poderei restituir-te a luz primeira, se vier a arrepender-me. Mas extinta que seja tua luz, ó tu, modelo primoroso da excelsa natureza! de onde o fogo trazer de Prometeu, para dar nova luz à tua chama? Se tua rosa colher, é-me impossível o vital crescimento restituir-lhe: fatal é que feneça. Vou aspirá-la no próprio galho. (Beija-a.) O hálito perfumado, que quase a convencer chegaste a própria Justiça a espedaçar a sua espada! Mais um! Mais um! Se assim ficares, morta, quero tirar-te a vida, e, após, amar-te. Mais outro; será o último; um tão doce jamais foi tão fatal. Chorar preciso lágrimas impiedosas; é celeste meu sofrimento, pois castiga ao que ama. Vai acordar!
DESDÊMONA - Quem está aí? Otelo?
OTELO - Sim, Desdêmona.
DESDÊMONA - Não vindes para o leito, meu senhor?
 OTELO - Desdêmona, rezastes esta noite?
DESDÊMONA - Oh, decerto, senhor!
OTELO - Se vos lembrardes de alguma falta não perdoada ainda pelo céu e sua graça, cuidai logo de tê-la redimida.
DESDÊMONA - O meu senhor! Que pretendeis dizer com isso?
OTELO - Bem; fazei o que vos disse e sede breve. Passarei nesse em meio; não desejo trucidar-vos o espírito manchado. Não pelo céu! Não vos matarei a alma.
DESDÊMONA - Quê! Falais em matar?
OTELO - Sim, é isso mesmo.
DESDÊMONA - Então que o céu de mim tenha piedade.
OTELO - Amém, de coração.
DESDÊMONA - Se assim falais, é que não pretendeis matar-me agora.
OTELO - Hum!
DESDÊMONA - Contudo, sinto medo, pois terrível sois sempre, quando revirais os olhos dessa maneira. A causa desse medo, não sei dizê-lo, pois não sou culpada; porém sinto que tenho muito medo.
OTELO - Pensa nos teus pecados.
DESDÊMONA - Só consistem no amor que vos dedico.
OTELO - Pois por ele vais agora morrer.
DESDÊMONA - É contra a natureza dar a morte a alguém por ter amor. Ah! Por que causa mordeis o lábio assim? Toda a postura tendes ora abalada, por alguma sanguinária paixão. E mau agouro; contudo espero, espero que nenhuma ameaça me comine.
OTELO - Paz e aquieta-te.
DESDÊMONA - Estou quieta. Que é que há?
OTELO - O lenço que te dei, que eu tanto amava, a Cássio o deste?
DESDÊMONA - Não, por minha vida, por minha alma, não o dei. Mandai chamá-lo e interrogai-o.
OTELO - Juízo, querida alma, não jures falso, pois estás agora no teu leito de morte.
DESDÊMONA - Sim, no leito, mas não para morrer.
OTELO - Sim, neste instante. Assim, confessa francamente a culpa, pois se com juramentos contestasses ponto por ponto, em nada isso alterara ou sustara o propósito em que me acho e que gemer me faz. Urge que morras.
DESDÊMONA - Que Deus de mim tenha piedade.
 OTELO - Digo amém.
DESDÊMONA - Sede também piedoso. Em toda a vida jamais vos ofendi. Nunca amei Cássio, só lhe tendo dedicado essa amizade que o céu permite, e nunca o presenteei.
OTELO - Pelo céu, vi meu lenço na mão dele. Mulher perjura, em pedra me transmudas o coração e o nome dás de crime ao que eu pensava ser um sacrifício. Vi o lenço! Eu mesmo!
DESDÊMONA - Então, é que ele o achou. Nunca lho dei. Mandai chamá-lo, para vir confessar o que há.
OTELO - Já confessou.
DESDÊMONA - Confessou quê, senhor?
OTELO - Que te possuiu.
DESDÊMONA - Como? Ilicitamente?
OTELO - Sim.
DESDÊMONA - Absurdo! Não dirá isso.
OTELO - Não, porque tapada já tem a boca, pois o honesto Iago tomou suas providências.
DESDÊMONA - Oh! Meu medo tinha razão de ser! Então, morreu?
OTELO - Se seus cabelos todos vivos fossem, minha grande vingança os devorara.
DESDÊMONA - Ai de mim! Foi traído e estou perdida!

 OTELO - Sai, prostituta infame! Vais chorá-lo na minha frente?

quarta-feira, 4 de março de 2015

Uma crônica para reflexão

Executiva no Céu
Max Gehringer


Foi tudo muito rápido.
A executiva bem-sucedida sentiu uma pontada no peito, vacilou, cambaleou.
Deu um gemido e apagou.
Quando voltou a abrir os olhos, viu-se diante de um imenso portal.
Ainda meio zonza, atravessou-o e viu uma miríade de pessoas.
Todas vestindo cândidos camisolões e caminhando despreocupadas.
Sem entender bem o que estava acontecendo, a executiva bem-sucedida abordou um dos passantes:
-Enfermeiro, eu preciso voltar urgente para o meu escritório, porque tenho um meeting importantíssimo. Aliás, acho que fui trazida para cá por engano, porque meu convênio médico é classe A, e isto aqui está me parecendo mais um pronto-socorro. Onde é que nós estamos?
-No céu.
-No céu?...
-É. Tipo assim, o céu. Aquele com querubins voando e coisas do gênero.
-Certamente. Aqui todos vivemos em estado de gozo permanente.
Apesar das óbvias evidências (nenhuma poluição, todo mundo sorrindo, ninguém usando telefone celular), a executiva bem-sucedida custou um pouco a admitir que havia mesmo apitado na curva.
Tentou então o plano B: convencer o interlocutor, por meio das infalíveis técnicas avançadas de negociação, de que aquela situação era inaceitável. Porque, ponderou, dali a uma semana ela iria receber o bônus anual, além de estar fortemente cotada para assumir a posição de presidente do conselho de administração da empresa.
E foi aí que o interlocutor sugeriu:
-Talvez seja melhor você conversar com Pedro, o síndico.
-É? E como é que eu marco uma audiência? Ele tem secretária?
-Não, não. Basta estalar os dedos e ele aparece.
-Assim? (...)
-Pois não?
A executiva bem-sucedida quase desaba da nuvem.
À sua frente, imponente, segurando uma chave que mais parecia um martelo, estava o próprio Pedro.
Mas, a executiva havia feito um curso intensivo de approach para situações inesperadas e reagiu rapidinho:
-Bom dia. Muito prazer. Belas sandálias. Eu sou uma executiva bem-sucedida e...
-Executiva... Que palavra estranha. De que século você veio?
-Do 21. O distinto vai me dizer que não conhece o termo "executiva"?
-Já ouvi falar. Mas não é do meu tempo.
Foi então que a executiva bem-sucedida teve um insight.
A máxima autoridade ali no paraíso aparentava ser um zero à esquerda em modernas técnicas de gestão empresarial. Logo, com seu brilhante currículo tecnocrático, a executiva poderia rapidamente assumir uma posição hierárquica, por assim dizer, celestial ali na organização.
-Sabe, meu caro Pedro. Se você me permite, eu gostaria de lhe fazer uma proposta. Basta olhar para esse povo todo aí, só batendo papo e andando à toa, para perceber que aqui no Paraíso há enormes oportunidades para dar um upgrade na produtividade sistêmica.
-É mesmo?
-Pode acreditar, porque tenho PHD em reengenharia. Por exemplo, não vejo ninguém usando crachá. Como é que a gente sabe quem é quem aqui, e quem faz o quê?
-Ah, não sabemos.
-Headcount, então, não deve constar em nenhum versículo, correto?
-Hã?
-Entendeu o meu ponto? Sem controle, há dispersão. E dispersão gera desmotivação. Com o tempo isto aqui vai acabar virando uma anarquia.
Mas nós dois podemos consertar tudo isso rapidinho implementando um simples programa de targets individuais e avaliação de performance.
-Que interessante. ..
-Depois, mais no médio prazo, assim que os fundamentos estiverem sólidos e o pessoal começar a reclamar da pressão e a ficar estressado, a gente acalma a galera bolando um sistema de stock option, com uma campanha motivacional impactante, tipo: "O melhor céu da América Latina".
-Fantástico!
-É claro que, antes de tudo, precisaríamos de uma hierarquização de um organograma funcional, nada que dinâmicas de grupo e avaliações de perfis psicológicos não consigam resolver.
-Aí, contrataríamos uma consultoria especializada para nos ajudar a definir as estratégias operacionais e estabeleceríamos algumas metas factíveis de leverage, maximizando, dessa forma, o retorno do investimento do Grande Acionista... Ele existe,certo?
-Sobre todas as coisas.
-Ótimo. O passo seguinte seria partir para um downsizing progressivo, encontrar sinergias high-tech, redigir manuais de procedimento, definir o marketing mix e investir no desenvolvimento de produtos alternativos de alto valor agregado. O mercado telestérico por exemplo, me parece extremamente atrativo.
-Incrível!
-É óbvio que, para conseguir tudo isso, nós dois teremos que nomear um board de altíssimo nível. Com um pacote de remuneração atraente, é claro. Coisa assim de salário de seis dígitos e todos os fringe benefits e mordomias de praxe. Porque, agora falando de colega para colega, tenho certeza de que você vai concordar comigo, Pedro. O desafio que temos pela frente vai resultar em um turnaround radical.
-Impressionante!
-Isso significa que podemos partir para a implementação?
-Não. Significa que você terá um futuro brilhante... se for trabalhar com o nosso concorrente. Porque você acaba de descrever, exatamente, como funciona o Inferno... 

Vocabulário

1. leverage      alavancar
2. Os benefícios indiretos, conhecidos no meio empresarial como "fringe benefits", no dizer de Max Gehringer, "o enfeite que torna o conjunto mais atraente", é a parte do pacote de remuneração que complementa o salário e os benefícios legais de sócios, diretores, gerentes, administradores e funcionários vitais para a empresa.
3. Telestérico in ancient Greece) a building in which religious mysteries were celebrated.
4  Sinergia ou sinergismo (do grego συνεργία, συν- (syn-) "união" ou "junção" e -εργία (-ergía), "unidade de trabalho"), é definida como o efeito ativo e retroativo do trabalho ou esforço coordenado de vários subsistemas na realização de uma tarefa complexa ou função.
5. Sinergia Quando se tem a associação concomitante de vários dispositivos executores de determinadas funções que contribuem para uma ação coordenada, ou seja o somatório de esforços em prol do mesmo fim, tem-se sinergia. 
6 Downsizing (em português: achatamento ou diminuição de tamanho) é uma das técnicas da Administraçãocontemporânea,que  de acordo com Caldas (2000) surgiu nos Estados Unidos, na década de 70, seu objetivo era a diferenciação competitiva das organizações.  Após uma década chegou ao Brasil com a tentativa de reestruturar as organizações,  a fim de atingir a eficiência de custos e  a tentativa de  eliminação da  burocracia corporativa desnecessária, provocando assim um achatamento na piramide hierárquica. Segundo o autor argentino Rodolfo E. Biasca, o termo começou a vigorar cada vez mais no período de 1987-1989 . Outros termos empresariais em inglês sobre reestruturação empresarial também ficaram conhecidos internacionalmente nessa época tais como outplacement ("recolocação") e turnaround (algo como "dar a volta" no sentido de "revirar a empresa").
Stock Out - Número de vezes ou dias que determinado item controlado no estoque chega ao saldo zero
8 headcount (pessoas na equipe)