A reabertura do Museu do Trem na Estação
Central (construída de 1850 a 1856), no bairro de São José, Recife, é motivo para celebração, numa época em que a lei é botar
abaixo em nome da ocupação urbana do solo, reabrir um centro cultural num
prédio histórico tão belo, é uma lufada de ar puro. Lembro quando eu pegava o
trem e ia a Sanharó, visitar o meu avô Moisés Monteiro de Melo, músico, poeta,
barbeiro, filho de um
latifundiário daquela bacia leiteira no interior de Pernambuco. Eu, que lia
aqueles romances russos, ingleses, franceses ou mesmo os nacionais que
envolviam personagens às voltas com trem, adorava aquele clima tenso das estações
ferroviárias. Quando depois tomei um trem em Paris que me levou a Londres,
confesso que uni as pontas do tempo. O nosso recifense Museu do Trem foi o
primeiro inaugurado no Brasil (1972).
Mas agora esse prédio da nossa antiga
Estação Central volta depois de quase uma década, a exibir um acervo
distribuído pelos dois pavimentos do prédio tem até escafandrista (capacete de
ferro, traje usado para execução de obras de engenharia dentro da água, como a
construção das pontes), aferidor de pressão, chaminé de caldeira, além de
sinos, relógio de ponto, balança, prataria dos vagões-restaurantes, faróis,
louça, ferramentas (pá de caldeira, imensas chaves de fenda e de boca), bancos
gerador a vapor e também placas.
Há uma sala chamada A Máquina, onde o visitante vê
e ouve como funcionava um trem movido a vapor, através de recursos diversos:
infográfico (exibindo os compartimentos de uma locomotiva etc.), vídeo,
fotografias. Já a sala didática, diz Aluizio Câmara, foi pensada para se
adaptar às necessidades do público.
Que tal assistir ali a um vídeo com
chegadas e partidas de trens acompanhado por músicas ligadas ao tema, ou dar
uma olhada na placa de sinalização das estradas de ferro (Pare, Olhe,
Escute...) tema até foto com o primeiro trem de passageiros partindo da saudosa
Estação de Cinco Pontas (bairro de São José, Recife) para o Cabo, em 9 de
fevereiro de 1858; tal viagem iniciou-se às 12h, com 400 pessoas. Ah, esse
trem! Na minha adolescência, eu morava em Boa Viagem e pegava este trem na
estação de Setubal, junto com os meus amigos, no sábado ao amanhecer para ir
passar o fim de semana em Gaibu, colônia de pescadores paradisíaca, paraíso dos
surfistas do Recife, eu era um deles. Íamos com as pranchas e mochilas, gaitas
e violões, eu sabia cantar umas músicas de Janis Joplin e o negócio era
animado, pegávamos uma estrada onde havia pastos em meio a uma paisagem
deslumbrante, velhas fazendas e casas antigas, povoados de sapé, era incrível.
Em Boa Viagem eu escutava o barulho do trem em dias de silêncio.
O Museu fica na Praça Barão de Mauá, perto
da Casa da Cultura, foi requalificado pela Fundarpe, está aberto de terça a
sexta-feira, das 9h às 17h, e aos sábados e domingos, das 10h às 17h.
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