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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

A última batalha de um Mestre

Soube agora da morte de um professor querido; senti-me meio assim, como neste poema que fiz para ele...
“Velho professor” (poema de moisesmonteirodemeloneto)
Tu és, velho mestre, Luar solidificado,
fogo congelado de um saber que me deste
és para mim, um barco
a me conduzir firme nestes mares da vida.
Com sangue escreveste no quadro da minha memória
a teia de homens,truques da alma em animal e flor
Falaste-me do sonho da vida de sonho
Ensinaste-me a combater o monstro feito de ignorância
Ès, bom professor, melodia que não posso traduzir
Que me leva de volta às fontes e ao porvir
Velho-moço
Mostraste-me que o livro é corvo e pomba branca casando
Mostraste como é simples tateá-lo penetrando-o
Mestre querido és buquê magnífico
Luz atravessando até o meu último recôndito
Papel,quadro, tinta na minha memória
Vários dias e noites numa só história
Que faz os vencedores se curvarem
Pavão perder suas cores,desnudando-se até a essência
Contigo eu consegui atravessar o túnel do medo
Hoje levo uma vida normal, quase sem segredo
Ninguém me intimida, conheço minhas cicatrizes
E aqueles que promovem a ignorância, são infelizes
Quiseram privar-me dos prazeres e alegrias
Passou-se o tempo, findaram-se tais fantasias
Tu me mostraste a alegria do saber, a dor do saber, a vontade de lutar
Creio que onde estejas agora, amado professor,
Ali haverá um Deus misericordioso
Ou Marx protetor,
Que não estando nem um pouco incomodado
com as pessoas que não acreditam mais nele
Ou bem menos do que aqueles
Que se arrogam o direito de falar em seu nome
E que lutam contra a mudança a favor do homem.
Que te acolhe em lugar seguro, ó preciosos educador!
O separatismo, o fundamentalismo
tudo é precário e perigoso, tudo isso irrita.
És lembrança sempre benévola
Que dobra a humanidade aos seus pés, incrédula
Do chão que pisaste brota a fúria e a paz.
Se o dinheiro quer falar mais alto, ensinaste-me uma vez,
Dobra esta vontade espúria.
Disseste para não ter preconceito entre a cultura popular e a erudita.
Que a torre de marfim já fez muito mal
Que precisávamos igualar o mundo todo
Chineses, europeus, americanos, todos
Se provocaste polêmica, paciência
Não o fizeste com esta intenção, fizeram leitura tirânica de ti.
Aposentaram-te com o salário tão ínfimo.
Resististe, como velha árvore frondosa que és, às interpéries.
Minha raiz brotou da tua semente.
Estás também nesta chuva fina que agora cai.
Estás na minha lembrança...
Teus cabelos que em vez de brancos, na minha lembrança, parecem empoados pelo giz do tempo...
És presente-presente-futuro...
A me lembrar que enquanto fizermos papel de oprimidos, vai ser difícil resistir.
Bom mestre, obrigado por me mostrares que podemos construir o sonho com nossas próprias mãos.
Que a fé nos proteja e nos mantenha juntos na memória da nova aurora que já se anuncia...



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