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domingo, 7 de janeiro de 2018

Fui ao Teatro de Epidauro


Moisés Monteiro de Melo Neto, dramaturgo recifense, emoção no Teatro de Epidauro


Sim, aqui estou, matando a sede na fonte. Teatro de Epidauro. O vilarejo de Epidauro, próximo da cidade grega de Corinto, na época da construção do teatro, era um importante entreposto comercial e religioso.

Construído na primeira metade do século IV a.c, pelo escultor e arquiteto grego Policleto, o Teatro de Epidauro se caracteriza pela notável acústica, que permite que um simples e discreto estalo com os lábios ou um pequeno suspiro seja ouvido até a última de suas vinte fileiras, ou, ainda, que os eventuais treze mil espectadores (essa é a capacidade atual do teatro) não perca um único fragmento de tais sons. Exagero? Não! Quando o homem usa sua inteligência para o bem, ele é capaz de feitos grandiosos, onde inúmeras gerações se lembrarão, com nostalgia, de todos os seus maravilhosos feitos.
Os estudiosos atribuem ao formato semicircular e anfiteatral do teatro de Epidauro essa excelente acústica. Os sermões realizados por Jesus Cristo a grandes multidões são capazes de atestar tal feito, visto que eles eram realizados, muitas vezes, em anfiteatros naturais, como encostas de colinas.
O acentuado declive em que as fileiras de assentos são dispostas faz com que a distância do palco às fileiras superiores seja reduzida, não permitindo que o som se enfraqueça até chegar às fileiras superiores. A isonômica dispersão do volume deve-se, também, ao fato de que as fileiras são corretamente distribuídas. A boa qualidade do mármore usado, a propagação do som após bater na superfície dura e compacta da orquestra, o silêncio e a brisa suave também contribuem para a perfeita acústica.
O Teatro é divido em partes: a orquestra, uma área circular e plana, circundada por uma faixa estreita de mármore, onde se realizavam as danças e o coro e, por trás dela, o palco, onde, atualmente, só restam as fundações. O chão é de terra batida e, no seu meio, há um altar. No começo, os atores se apresentavam para a platéia na orquestra e utilizavam, como cenários, pranchas triangulares e giratórias colocadas em todo o perímetro do teatro. Só depois é que o elenco passou a se apresentar no palco, fixando os cenários nas paredes do mesmo.
Festivais da fertilidade comemoravam a colheita, a vindima, a inexorável perspectiva da morte e a renovação da vida e, contemporâneo a esses festivais, surgiu o drama. As orgias, como também eram conhecidas tais festividades, eram consagradas a Dionísio, o mítico deus grego do vinho e da fertilidade. Como parte das celebrações havia as histórias, onde, a partir daí, estabeleceu-se três tipos de narrativa: a tragédia, a comédia e a sátira, as quais tinham forte apoio dos governantes locais com vistas a fortalecer seu poderio político.
As peças, de modo geral, eram compostas por um coro composto por, mais ou menos, 10 ou 15 pessoas e atores que, em cada cena, encarnando seus personagens, não passavam de três. Como sinônimo de "aqueles que respondem ao coro", os atores eram chamados de hipokritay que, como sabemos, passou a adjetivar, metaforicamente, aquelas pessoas que agem de uma forma, mas conduzem suas vidas de forma completamente oposta aquilo que, fervorosamente, defendem.
O Teatro de Epidauro foi, no decorrer do tempo, coberto pela vegetação local, as colinas ondulantes e os oliveirais. Tal fato o fez ficar conservado por todo esse tempo. Nada mais, nada menos, que seis metros de solo o protegeram por esse longo período. Foi apenas no século XIX que um arquiteto grego, chamado Panagis Kavadias, aguçado pela descrição do geógrafo grego Pausânias acerca do monumental esplendor arquitetônico do teatro de Epidauro, o redescobriu sob as já citadas colinas, mais precisamente em 1881.
Após a descoberta, seguiram-se seis anos de escavações e muito trabalho árduo, findos os quais fez ressurgir o imponente teatro, quase intacto.

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