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sexta-feira, 30 de junho de 2017

José Saramago e o romance "Todos os nomes"



Eis a epígrafe do romance “Todos os nomes”, do português José Saramago: “conheces o nome que te deram, não conheces o nome que tens.”


Jorge Amado e José Saramago


 Esse livro, Todos os Nomes, saiu em 1997. Sabemos que esse autor, é o único Nobel de Literatura de Portugal, e que traz com sua intrigante prosa, verdades universais.  Saramago gosta de transformar pequenos questionamentos e situações cotidianas em narrativas intensas. Consegue ver o extraordinário dentro do simples. Escreve de modo bem próprio, marcando diálogos com vírgulas e quase não separa os parágrafos, e torna o que seria bem comum num faísca que detona uma incêndio emocional.
Em Todos os Nomes,  o Sr. José  (que conversa com o teto do seu quarto como se fosse com amigos numa mesa de bar, se ele  tivesse amigos...) é quase o único personagem que tem um nome. Todos os outros são chamados pela função ou localização. Qual é o significado do nome José? Vale lembrar  que José em hebraico significa “Deus acrescenta”; já o personagem de Saramago, José trabalhador comum, também, e na sua jornada de vida vai  descobrir-se como pessoa.  Ele  coleciona recortes de notícias sobre celebridades do país, pessoas famosas (talvez ele sofra de uma angústia metafísica, por não conseguir suportar a ideia do caos como regedor único do universo, por isso, com suas poucas forças e sem ajuda, vai colecionando para dar sentido à sua vida).  Os personagens de Saramago dificilmente têm nomes, e quando têm são nomes tão simples como o Sr. José. Um nome comum. Um José sem sobrenome, que pode ser qualquer um , como ele,  José Saramago.
Ele é um funcionário da Conservatória Geral, onde os todos os nomes estão registrados, onde estão arquivadas as certidões de nascimento e morte. Na parte da frente do prédio ficam os nomes dos vivos,  e atrás “se aprofundam os mortos, na escuridão e vastidão quase infinita de montes de papéis” , verdadeiro labirinto onde José entra conduzido por um cordão preso à mesa do chefe.
São os nomes – e a busca deles – que guiam toda a narrativa.
A rotina burocrática, rígida e fria, faz desse lugar, algo bem estranho para um sujeito trabalhar (José está ali há 26 anos – ele tem cerca de cinquenta anos e mora ali mesmo,  num anexo da Conservatória, o que sobrou do antigo conjunto de anexos que foram demolidos para a ampliação constante do edifício. Tem  uma chave para a repartição).
À noite ele passeia pelos arquivos à procura de recortes sobre celebridades. Descobre algo que o intriga; é sobre uma mulher de 36 anos, divorciada. Meio confuso ele está com dúvidas e então,  uma mudança  o faz abandonar sua coleção e procurar descobrir mais sobre a tal mulher desconhecida. Além de José, Ariadne é o outro nome que é citado (ela que na mitologia grega dá a Teseu o fio para ele encontrar a saída do labirinto, depois de matar o Minotauro). José começa a sentir uma espécie de amor por aquela mulher-ninguém , ser humano comum, como ele é.  
Sem família e nem ninguém, deixaram a ele que ele morasse num anexo da  Conservatória, desde que não usasse mais a chave que dava acesso direto ao interior do prédio. pobre José...
Como forma de preencher seu tempo ocioso, José cria uma coleção de recortes sobre personalidades famosas: artistas de cinema, esportistas, cantores.
Ele nutre então uma obsessão por essa mulher desconhecida  (cuja ficha veio grudada à de um dos famosos, na sua "pesquisa") dá razão à suja vidinha; ele quer encontrá-la. Quem é aquela mulher por quem se apaixonara sem mesmo conhecer?
José enfrenta seus medos do dia-a-dia, mente ao chefe para poder sair à procura daquela mulher desconhecida e fingir ser outra pessoa para encontrar respostas.

Uma mulher forte, um personagem que se perde (metaforicamente ou não) e o cotidiano, o romance nos chega como um fluxo de consciência jorrando de forma engajada com os problemas do ser humano universal, trazido até numa espécie de prosa poética politizada.


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