Eis a epígrafe do romance
“Todos os nomes”, do português José Saramago: “conheces o nome que te deram,
não conheces o nome que tens.”
Jorge Amado e José Saramago
Esse livro, Todos os Nomes, saiu em
1997. Sabemos que esse autor, é o único Nobel de Literatura de Portugal, e
que traz com sua intrigante prosa, verdades universais. Saramago gosta de transformar pequenos
questionamentos e situações cotidianas em narrativas intensas. Consegue ver o
extraordinário dentro do simples. Escreve de modo bem próprio, marcando
diálogos com vírgulas e quase não separa os parágrafos, e torna o que seria
bem comum num faísca que detona uma incêndio emocional.
Em Todos os Nomes, o Sr. José
(que
conversa com o teto do seu quarto como se fosse com amigos numa mesa de bar,
se ele tivesse amigos...) é quase o
único personagem que tem um nome. Todos os outros são chamados pela função ou
localização. Qual é o significado do nome José? Vale lembrar que José em hebraico significa “Deus
acrescenta”; já o personagem de Saramago, José trabalhador comum, também, e na sua jornada de vida vai descobrir-se como pessoa. Ele
coleciona recortes de notícias sobre celebridades do país, pessoas
famosas (talvez ele sofra de uma angústia metafísica, por não conseguir
suportar a ideia do caos como regedor único do universo, por isso, com suas
poucas forças e sem ajuda, vai colecionando para dar sentido à sua
vida). Os personagens de Saramago dificilmente
têm nomes, e quando têm são nomes tão simples como o Sr. José. Um nome comum.
Um José sem sobrenome, que pode ser qualquer um , como ele, José Saramago.
Ele é um funcionário da Conservatória Geral, onde os todos os
nomes estão registrados, onde estão arquivadas as certidões de nascimento e
morte. Na parte da frente do prédio ficam os nomes dos vivos, e atrás “se aprofundam os mortos, na
escuridão e vastidão quase infinita de montes de papéis” , verdadeiro labirinto
onde José entra conduzido por um cordão preso à mesa do chefe.
São os nomes – e a busca deles – que guiam toda a narrativa.
A rotina burocrática, rígida e fria,
faz desse lugar, algo bem estranho para um sujeito trabalhar (José está ali há
26 anos – ele tem cerca de cinquenta anos e mora ali mesmo, num anexo da Conservatória, o que sobrou do
antigo conjunto de anexos que foram demolidos para a ampliação constante do edifício.
Tem uma chave para a repartição).
À noite ele passeia pelos
arquivos à procura de recortes sobre celebridades. Descobre algo que o
intriga; é sobre uma mulher de 36 anos, divorciada. Meio confuso ele está
com dúvidas e então, uma mudança o faz abandonar sua coleção e procurar descobrir mais sobre a tal mulher desconhecida. Além
de José, Ariadne é o outro nome que é citado (ela que na mitologia grega dá a Teseu o fio para
ele encontrar a saída do labirinto, depois de matar o Minotauro). José começa a sentir uma espécie de amor por aquela mulher-ninguém , ser humano comum,
como ele é.
Sem família e nem ninguém, deixaram
a ele que ele morasse num anexo da Conservatória, desde que não usasse mais a
chave que dava acesso direto ao interior do prédio. pobre José...
Como forma de preencher seu
tempo ocioso, José cria uma coleção de recortes sobre personalidades famosas:
artistas de cinema, esportistas, cantores.
Ele nutre então uma obsessão por essa mulher
desconhecida
(cuja ficha veio grudada à de um dos famosos, na sua "pesquisa") dá razão à suja vidinha; ele
quer encontrá-la. Quem é aquela mulher por quem se apaixonara sem mesmo
conhecer?
José
enfrenta seus medos do dia-a-dia, mente ao chefe para poder sair à procura daquela
mulher desconhecida e fingir ser outra pessoa para encontrar respostas.
Uma mulher forte, um
personagem que se perde (metaforicamente ou não) e o cotidiano, o romance nos
chega como um fluxo
de consciência jorrando de forma engajada com os
problemas do ser humano universal, trazido até numa espécie de prosa poética
politizada.
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sexta-feira, 30 de junho de 2017
José Saramago e o romance "Todos os nomes"
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