por Moisés
Monteiro de Melo Neto*
Qual a
relação do escritor com a política, com a literatura, com o teatro? É a relação
do escritor com o mundo democrático. Não permitir o silêncio do pensamento analítico
e ao mesmo tempo atuar no mundo. Falar de políticos, por exemplo, é falar sempre
de mãos sujas? Falar de liberdade e
da quase impossibilidade de fuga em relação a isto, exceto para a alienação,
fugir às responsabilidades. Daí a necessidade do engajamento. O papel dos intelectuais, do povo, na definição de
políticas públicas. O papel do pensador democrata. O texto politizado mostrando ao
cidadão sua análise mais apurada do ser no mundo, resistindo a qualquer domínio
tirânico.
Vivemos hoje, segunda década do século XXI, um
clima muito quente de incertezas geladas pelas não-modificações necessárias que deveriam ter sido feitas há muito
tempo e nós não as fizemos de modo radical, nem de modo algum.
Fronteiras,dinheiro, sexo, afetos, evolução mental não-tecnológica etc. O que aconteceu em Paris na sesta-feira 13 de
novembro de 2015 é apenas um pedaço da ponta do iceberg descolado da calota
polar pela alta temperatura dos fatos. A crise de identidade que o Brasil
atravessa, estereotipando em vez de aprofundar estudo sobre nosso caráter de
negociação com a corrupção desde 22 de abril de 1500, em nome da permanência no
Poder.
O neocolonialismo praticado há um século por
Hollywood é só um pequeno exemplo, a indústria de armas, o domínio cibernético “inquestionável”,
o comunismo agonizante será enterrado vivo levando momentaneamente o seu
enigma.
Precisamos de textos politizados que não rompam com
questão da ética, desmascarem sempre a má-fé, nos seus conchavos egoístas sem
se preocupar com os outros.não temos o direito de despolitizar nada, nem
sempre a ironia ou o excesso de “seriedade”
, separados pelo ódio ou amor (?) são
suficientes para combater a opressão.
Nossa luta deve passar pelo prazer coletivo, pela
exposição das nossas mazelas também no texto dramatúrgico. Como o dramaturgo
Cláudio Aguiar o faz em várias das suas obras, como Suplício de Frei Caneca, A Última Noite de Kafka, e tantas outras agora lançadas neste livro
de quase mil páginas que reúne sua dramaturgia completa. Pernambuco é cenário-
Ágora em boa parte do Teatro aguiariano; sobre isto ele afirma: “os
cenários geográficos de minhas histórias, via de regra, estão ligados à região
onde nasci: o Nordeste do Brasil. Ceará e Pernambuco congregam o maior número
de personalidades e situações elegidas por mim como referências fundamentais de
meus livros. Se, por um lado, eu creia que esse requisito não seja decisivo
para a eleição de temas abordados em livros, por outro, sou de opinião que ele
não deve ser desprezado. A vivência em determinados locais parece sempre
concorrer para se compreender melhor a experiência de tipos e personagens,
embora eu entenda que tal afirmação não deva constituir regra geral. Ao
escritor cabe uma responsabilidade de pensar livremente sobre todos os aspectos
da humanidade e do próprio mundo, revisitando-os quando lhe aprouver. Da mesma
forma, o localismo e o regionalismo não podem ser tomados como uma espécie de
guarda-chuva obrigatório para abrigá-lo de chuvas ou temporais. Esse foco não
poderá, nunca, abandonar a dimensão universal, que, aliás, pode ter como ponto
de partida ou de chegada a própria aldeia.”
Produzindo um texto que é, também, ética (que deve
perpassar a política e até os afetos). Não o heideggeriano ser para a morte, angustiado,
e sim o partir para a ação, sartriano. Nem sempre o inferno são os outros. Sempre podemos mudar tudo, ou pelo menos
questionar e propor algo. Isso se liga ao caráter
trágico do não podermos fechar uma
ideia definitiva sobre nenhuma pessoa até o momento da morte dela.
Albert Camus, argelino afrancesado, e Jean-Paul
Sartre, além de outras áreas, penetraram a seara
da dramaturgia engajada com alguns textos, digamos assim, inquietantes. O
Calígula de Camus é ímpar.
Abaixo o cartaz da peça de Cláudio Aguiar:
Abaixo o cartaz da peça de Cláudio Aguiar:
Escritor tcheco, Franz Kafka, tem sua última noite dramatizada
peça é escrita em versos
por Cláudio Aguiar
finalista do Prêmio Jabuti
É inescapável: a ação vai nos definir (o não agir,
também) . Não combater a alienação é fortalecê-la! Temos que pensar a política trabalhar
novelhos meios de unir teatro, filosofia, ética, democracia, comédia, drama,
tragédia.... o que vier.
O resto é silêncio que precede tempestades...
Simone Beauvoir, Sartre e Guevara, Cuba 1960: a problemática do engajamento do escritor
Nenhum comentário:
Postar um comentário