"A arte
dramática dirige-se, como as artes representativas, aos nossos olhos, aos
nossos ouvidos, ao nosso entendimento – em suma, à nossa presença integral. Por
que reduzir a nada – e antecipadamente – qualquer esforço de síntese? Saberão os
nossos artistas informar-nos? O poeta, de caneta na mão, fixa o seu sonho no
papel. Fixa o ritmo, a sonoridade e as dimensões. Dá a ler, a declamar, o que
escreveu; e, de novo, fixa-se no aspecto do leitor, na boca do declamador. O
pintor, com os pincéis na mão, fixa a sua visão tal como a quer interpretar; e
a tela ou a parede determinam as dimensões; as cores mobilizam as linhas, as
vibrações, as luzes e as sombras. – O escultor para, na sua visão interior, as
formas e os seus movimentos, no momento exato em que o deseja; depois,
imobiliza-as no barro, na pedra ou no bronze. – O arquiteto fixa,
minuciosamente, pelos seus desenhos, as dimensões, a ordem e as formas
múltiplas de sua construção; depois realiza-as no material conveniente. – O
músico fixa nas páginas da partitura os sons e o seu ritmo; possui o mesmo, em
grau matemático, o poder de determinar a intensidade e, sobretudo, a duração; enquanto
o poeta não poderia fazê-lo senão aproximadamente, pois o leitor pode ler, a
sua vontade, depressa ou devagar.” (Adolphe Appia, 1862-1928)
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