ARTES CÊNICAS
Ato, do Magiluth, é a zebra do Janeiro
Publicado em 05.02.2009
Ato, do Magiluth, é a zebra do Janeiro
Publicado em 05.02.2009
Peça feita com apenas R$ 3 mil desbancou Rasif e Anjos
de fogo e gelo e levou troféu Melhor Espetáculo em cerimônia da Apacepe
Com o ator Bobby Mergulhão como mestre-de-cerimônias e interpretando uma de suas mais famosas personagens, Dona Verinha, a cerimônia de premiação dos melhores do Janeiro de Grandes Espetáculos, na noite da terça, foi um verdadeiro festival de prêmios. Trinta e nove estatuetas foram entregues aos indicados, sendo a mais disputada entregue ao grupo Magiluth, que levou o troféu de melhor espetáculo (eleito pela comissão julgadora) com Ato, desbancando o favoritismo de Rasif e a arrasa-quarteirão Anjos de fogo e gelo. O resultado surpreendeu os integrantes do grupo, uma das revelações do cenário artístico local dos últimos anos. Ato foi realizada com um orçamento baixíssimo (principalmente em relação a Rasif e Anjos..): R$ 3 mil. A peça levou ainda levou o prêmio Melhor Figurino, conquistado por Júlia Fontes.
Com o ator Bobby Mergulhão como mestre-de-cerimônias e interpretando uma de suas mais famosas personagens, Dona Verinha, a cerimônia de premiação dos melhores do Janeiro de Grandes Espetáculos, na noite da terça, foi um verdadeiro festival de prêmios. Trinta e nove estatuetas foram entregues aos indicados, sendo a mais disputada entregue ao grupo Magiluth, que levou o troféu de melhor espetáculo (eleito pela comissão julgadora) com Ato, desbancando o favoritismo de Rasif e a arrasa-quarteirão Anjos de fogo e gelo. O resultado surpreendeu os integrantes do grupo, uma das revelações do cenário artístico local dos últimos anos. Ato foi realizada com um orçamento baixíssimo (principalmente em relação a Rasif e Anjos..): R$ 3 mil. A peça levou ainda levou o prêmio Melhor Figurino, conquistado por Júlia Fontes.
Roger como Rimbaud
Jornal do Commercio
Destaques
do Janeiro são premiadosPublicado em 03.02.2009
O
15º Janeiro de Grandes Espetáculos entrega hoje o troféu Apacepe de Teatro e
Dança para os destaques do festival. A cerimônia, que acontece às 19h, no Teatro
de Santa Isabel, é aberta ao público.
As peças
indicadas ao prêmio de melhor espetáculo
adulto são: Anjos de fogo e gelo, Ato e Rasif. A árvore de Julia,
Historinhas de dentro e Outra vez, era uma vez concorrem ao prêmio de melhor
espetáculo de teatro infantil. Enquanto que, na categoria dança, Tempo
fragmentado e Imagens não explodidas disputam a preferência do júri.
Jornal do Commercio. 1 fev 2009»
ENTREVISTA
A ATRIZ DE ANJOS
DE FOGO E GELO
PERSONA/STELLA
MARIS
Entre o palco, o jornalismo
Publicado em 01.02.2009
Entre o palco, o jornalismo
Publicado em 01.02.2009
Dentro de uma rotina corrida e estressante, Stella
Maris, que há cerca de 20 anos estava afastada dos palcos, encontrou na arte o
equilíbrio necessário para enfrentar o dia a dia. Integrando o elenco de Anjos
de fogo e gelo, ela planeja para 2009 uma turnê pelas capitais nordestinas.
Apaixonada pelo teatro e pelos livros, Stella conta à repórter Manuella Antunes
sua trajetória no jornalismo, na vida e no tablado.
JC – Há quanto tempo não fazia teatro?
JC – Há quanto tempo não fazia teatro?
STELLA MARIS
– Voltei para os palcos depois de 20 anos. Nesse meio tempo, fiz duas Paixões
de Cristo, mas nenhum espetáculo de temporada no teatro convencional.
JC – Qual o
motivo de ter parado?
STELLA MARIS
– Na época, houve uma mudança no cenário local, pois fazer teatro é caro e difícil.
Aliado a isso, minha vida como jornalista engolia meu tempo. Todo ano eu dizia
que voltaria a atuar, mas não conseguia.
JC – E qual
o motivo da retomada?
STELLA MARIS
– Faltou equilíbrio na minha vida. O jornalismo é comunicação acima de tudo. E
o teatro é a criação e estava em falta com o exercício criativo, ficou difícil
até respirar. Tinha que voltar, surgiu o convite para Anjos de fogo e gelo e
aceitei na hora.
JC – Como
você descreve sua relação com o teatro?
STELLA MARIS
– Depois de nove espetáculos e duas Paixões de Cristo, posso dizer que, antes
de tudo, sou uma apaixonada pelo teatro.
JC – Qual
desses espetáculos é a menina dos seus olhos?
STELLA MARIS
– Os fuzis da Senhora Carrar. Foi uma
montagem belíssima onde, com 18 anos, interpretei uma mulher de 40. Era época
de ditadura no Brasil e a peça pôde, com metafóras, discutir o regime.
JC –
Professora, jornalista e atriz. Como administra tudo?
STELLA MARIS
– Trouxe a rotina da televisão para minha vida. Priorizo o que é mais
importante e faço cada minuto render o máximo.
JC – Quando
consegue parar, o que gosta de fazer?
STELLA MARIS
– Sou apaixonada por literatura. Perto da cama, tenho um pilha de livros e,
sempre que tenho tempo, pego um deles. Ler é a primeira coisa que faço quando acordo,
antes do dia começar.
JC – E o
teatro em 2009?
STELLA MARIS
– Começaremos uma turnê que, inicialmente, passará pelas principais capitais do
Nordeste.J
Foram três semanas intensas para organizadores,
técnicos, júri, diretores e atores. E público, claro, parte fundamental para
a manutenção e desenvolvimento do Janeiro de Grandes Espetáculos, cuja 15ª
edição encerra nesse fim de semana. Hoje, no Santa Isabel, a ousada história
de amor dos poetas Arthur Rimbaud e Paul Verlaine ganha o palco com “Anjos de
Fogo e Gelo”.
O espetáculo coloca em cena momentos decisivos da
vida dos dois poetas; a crise do casamento de Verlaine, a incompreensão da
mãe de Rimbaud com relacionamento. A apresentação é às 21h. Já no Teatro
Apolo, às 19h, Ivaldo Mendonça em Grupo apresenta “Tempo Fragmento”,
espetáculo de dança contemporânea.
Amanhã, último dia da maratona, é dia de rever
“Rasif - Mar Que Arrebenta”, do Coletivo Angu de Teatro. Baseada no livro
homônimo de Marcelino Freire, a peça traduz em linguagem cênica doze contos
que revelam as fissuras do tecido social brasileiro contemporâneo.
Personagens obscuros se cruzam com figuras cômicas para traduzir emoções e
dissabores.“Rasif” está no Teatro Hermilo Borba Filho, às 19h.
Também no sábado o publico vai poder assistir de
novo “As Andanças do Divino”(às 21h, no Santa Isabel), do Balé Popular do
Recife. O espetáculo celebra os 30 anos da companhia, completados ano
passado, unindo teatro e dança em cima da história de um mamulengueiro que
sai do Sertão rumo ao litoral. E fechando a programação infantil,
“Historinhas de Dentro” (às 16h30, no Barreto Junior), do Grupo de Teatro
Quadro de Cena, narra a trajetória de uma menina que descobre, numa viagem ao
interior do seu corpo, um grande circo. Os ingressos para os espetáculos no
Santa Isabel custam R$ 15 e R$ 7,50. Demais teatros, R$ 10 e R$ 5.
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FOLHA
DE PERNAMBUCO. CADERNO PROGRAMA.
PÁGINA 5 EM 04/11/2008.
Teatro nordestino pede paradaem São Paulo
A programação é variada, e vai até o dia 3
de dezembro.
Teatro nordestino pede parada
A
Talles Colatino
Não soa estranho que São Paulo seja a maior
cidade nordestina do País. E para exercer uma proximidade ainda maior entre a
região e a metrópole, tem início hoje, lá na terra do céu cinza, a Mostra
Paulista do Teatro Nordestino. Até o dia 3 de dezembro, uma série de atividades
gratuitas relacionadas à produção teatral da região ocupa o Centro Cultural
Banco do Brasil (CCBB) e o Centro Cultural São Paulo (CCSP), incluindo peças,
leituras dramáticas e demonstrações de trabalho. A mostra também recebe a 6ª
Semana do Teatro Nordestino, reunindo dramaturgos de São Paulo e do Nordeste em
mesas de debates e lançamentos de livros.
O fato de abrir as portas de dois dos mais
importantes centros culturais do País (o CCBB e o CCSP) à Dramaturgia
Nordestina é um ato de reconhecimento do valor de autores e de criadores
cênicos, abundantes nessa região, que tornam o Brasil um dos lugares do planeta
onde o teatro está mais vivo do que nunca. Se o evento conseguir abrir um pouco
mais o diálogo entre Nordeste e Sudeste, em meio às luzes e às sombras da cena,
terá cumprido importante papel”, afirma Sebastião
Milaré, curador da Mostra.
As quatro montagens selecionadas para se
apresentar no evento homenageiam o pesquisador e dramaturgo alagoano Altimar
Pimentel, falecido esse ano. Pimentel é autor de “A Construção”, uma das peças
emblemáticas do final dos anos 60, encenada em 1969, pelo Grupo A Comuna,
de Amir Haddad, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. De autoria do
dramaturgo, a mostra traz ao palco “Como Nasce um Cabra da Peste”, com a
companhia paraibana Agitada Gang.
Pernambuco vai representado pela companhia
Arte-em-Cena, com seu já clássico “Deus Danado”. “Lesados” (CE) e Sinhá Flor
(PB) completam o time de espetáculos.
SEMANA
Como parte da programação da Mostra, pela primeira vez São Paulo é palco da Semana do Teatro Nordestino, evento que acontece anualmente em Natal (RN) desde 2003, por iniciativa da Associação dos Dramaturgos do Nordeste. A programação da Semana inclui lançamento de livros e palestras com dramaturgos nordestinos e paulistas. “A idéia principal foi dar acesso aos criadores cênicos paulistas, aos estudiosos e ao público interessado de São Paulo a obras dramatúrgicas produzidas no Nordeste. Essa idéia ia ao encontro da proposta básica da Associação de Dramaturgos do Nordeste, que é difundir essa produção dramatúrgica”, conta Sebastião Milaré, mediador das mesas.
Como parte da programação da Mostra, pela primeira vez São Paulo é palco da Semana do Teatro Nordestino, evento que acontece anualmente em Natal (RN) desde 2003, por iniciativa da Associação dos Dramaturgos do Nordeste. A programação da Semana inclui lançamento de livros e palestras com dramaturgos nordestinos e paulistas. “A idéia principal foi dar acesso aos criadores cênicos paulistas, aos estudiosos e ao público interessado de São Paulo a obras dramatúrgicas produzidas no Nordeste. Essa idéia ia ao encontro da proposta básica da Associação de Dramaturgos do Nordeste, que é difundir essa produção dramatúrgica”, conta Sebastião Milaré, mediador das mesas.
Para as palestras, os dramaturgos convidados são: Cleise Furtado Mendes
(BA); Oswald Barroso, José Maria Mapurunga, Rafael Martins, Yuri Yamamoto (CE);
Tácito Borralho (MA); Eliézer Rolim, Elpídio Navarro, Paulo Vieira, Celly
Albuquerque (PB); João Denys(autor de “Deus Danado”), Moisés Neto (autor de “Anjos de
Fogo e Gelo”), Romildo Moreira (PE);
Ací Campelo (PI); Racine Santos, Paulo Dumaresq (RN); Lindolfo Amaral (SE);
Luis Alberto de Abreu, Márcio Aurélio e Newton Moreno (SP). Lá, toda a
programação é gratuita.
» BARRETO JÚNIOR
Anjos de fogo e geloem
DVD
Publicado em 31.10.2008
Anjos de fogo e gelo
Publicado
A apresentação de
Anjos de fogo e gelo de amanhã tem sabor especial. A peça, que traz o polêmico
relacionamento entre os poetas Rimbaud e Verlaine, foi gravada em um DVD que é lançado
amanhã. Com cinqüenta e cinco minutos de duração e legendas em francês e
inglês, o material traz depoimentos do elenco e do diretor da peça, José
Francisco. O plano de direção e os desafios enfrentados pela produção para
montagem do espetáculo são comentados ali. A peça está em cartaz no Teatro
Barreto Júnior, sábados e domingos às 20h.
George Meireles, como Verlaine e Ivonete Melo como Vitalie
ANJOS DE FOGO E DE GELO
Saturday, October 11, 2008
O
CICLISTA vai ao teatro
O ator Rogério Bravo, mui generosamente, me franqueou entradas para o espetáculo ANJOS DE FOGO E GELO. Confesso que temi – não pelo Rogério, que é um ator sensível e competente, mas pela onda (eterna, meu Deus!) de “travestismo” que ocupa os palcos recifenses; ando tão cansado do exagero, de atores berrando abobrinhas...
Mas encontrei um elenco afinado, uma luz que funciona, marcações perfeitas, um figurino impecável – destaque para Rogério Bravo, que dá conta de um personagem difícil, e a atuação poderosa de Stella Maris Saldanha – que sequer aparece no cartaz - a todo momento roubando a cena – sua mão, delicadamente dobrando o vestido ao descer do palco, é a mão de uma mulher do século XIX. “Deus está no detalhe”, reza o ditado alemão. A atuação dos grandes atores, também.
Vão ver o quanto antes, porque o teatro, meus queridos, é fugaz como a vida e não está para os indecisos.
Sábado, 13 de Setembro de 2008
ANGES
DE FLAMME ET DE GLACE - Pièce de théâtre
"[...] L'arrivée de Rimbaud en enfer".
"Rimbaud : La lune blanche luit dans le bois. De chaque branche part une voix sous la ramée… Ô bien-aimée ! L’étang reflète, profond miroir, la silhouette du saule noir où le vent pleure… Rêvons, c’est l’heure. Un vaste et tendre apaisement semble descendre du firmament que l’astre irise…"
"Rimbaud : La lune blanche luit dans le bois. De chaque branche part une voix sous la ramée… Ô bien-aimée ! L’étang reflète, profond miroir, la silhouette du saule noir où le vent pleure… Rêvons, c’est l’heure. Un vaste et tendre apaisement semble descendre du firmament que l’astre irise…"
Verlaine: Pâle étoile du matin, tourne devers le poète [...]".*
Sempre foi dito que tanto ao dramaturgo quanto ao poeta se deve consentir liberdade de espírito e de texto e Moisés Neto, autor da peça Anjos de Fogo e Gelo, usou e abusou dessa liberdade.
A fala inicial, transcrita acima, é um
trecho do magistral “La Lune Blanche ”,
do poema “La Bonne Chanson ”,
de Paul Verlaine, colocado na boca de Arthur Rimbaud, no que o autor imaginou
ser o momento da chegada do poeta ao inferno e com o qual inicia a descrição de
parte da vida e da obra de Rimbaud, ambas patrimônios da humanidade. No dia 30
de agosto passado fui ao Recife, entre outras coisas para assistir, como
convidado, à estréia da peça referida acima e, confesso, não me arrependi. Revi
amigos que não encontrava há muito tempo, refleti, debaixo de uma árvore do
fruta-pão toda florida, a respeito dos Rimbauds, Verlaines, Mathildes e
Vitalies existentes em cada um de nós e fiquei feliz com o que o diretor de
“Anjos de Fogo e Gelo”, o consagrado José Francisco Filho, conseguiu fazer com o bizarro
texto colocado em suas mãos. Trabalho muito difícil, tenho a certeza.
O texto, como podem deduzir da abertura, é um coletânea não só de poemas de Rimbaud, mas também de alguns de Verlaine, juntamente com uma descrição livre, feita pelo autor, de fatos da vida dos dois, inseridos para facilitar a compreensão dos assistentes. Os poemas também foram livremente adaptados à prosa, tentando tornar o texto mais perceptível.
O texto, como podem deduzir da abertura, é um coletânea não só de poemas de Rimbaud, mas também de alguns de Verlaine, juntamente com uma descrição livre, feita pelo autor, de fatos da vida dos dois, inseridos para facilitar a compreensão dos assistentes. Os poemas também foram livremente adaptados à prosa, tentando tornar o texto mais perceptível.
Se o resultado está sendo
conseguido, deixo a resposta ao público e à crítica.
O diretor, esse sim, deve ter feito das “tripas coração” para prender a platéia - como de fato prende - durante a quase uma hora de duração da peça, já que Rimbaud, o poeta, é denso e Arthur, o homem, complexo demais, para serem - poeta e homem - facilmente compreendidos pelo público do meu querido Recife, nem sempre aberto à poesia, ao teatro ou a comportamentos humanos. De minha parte, ainda que não sendo crítico teatral, captei uma certa insegurança dos protagonistas masculinos, bastante natural em estréias impactantes, talvez fruto do natural receio da reação que o texto e as marcas poderiam gerar nos assistentes. Receio desnecessário, ao menos naquela estréia. Considero um dos destaques da peça - não sei se fruto do texto criado pelo autor, se do trabalho do diretor - a força das duas mulheres presentes no palco: Vitalie, mãe de Arthur Rimbaud e Mathilde, mulher de Paul Verlaine, que conseguem ser protagonistas de uma narrativa na qual seriam coadjuvantes. Mathilde, numa excelente interpretação de Stela Maris Saldanha, conduz linearmente todo o texto, tornando-se no elo de ligação entre as narrativas. Graças à atriz, o texto ficou bem mais fácil para os leigos. Vitalie, também muito bem interpretada, transforma em momentos de comicidade a dispensável maldade que lhe tentaram atribuir. Discordo, data venia, de quem pensou mostrar Vitalie Rimbaud como um mulher amarga, ambiciosa e cruel na relação com o filho.
O diretor, esse sim, deve ter feito das “tripas coração” para prender a platéia - como de fato prende - durante a quase uma hora de duração da peça, já que Rimbaud, o poeta, é denso e Arthur, o homem, complexo demais, para serem - poeta e homem - facilmente compreendidos pelo público do meu querido Recife, nem sempre aberto à poesia, ao teatro ou a comportamentos humanos. De minha parte, ainda que não sendo crítico teatral, captei uma certa insegurança dos protagonistas masculinos, bastante natural em estréias impactantes, talvez fruto do natural receio da reação que o texto e as marcas poderiam gerar nos assistentes. Receio desnecessário, ao menos naquela estréia. Considero um dos destaques da peça - não sei se fruto do texto criado pelo autor, se do trabalho do diretor - a força das duas mulheres presentes no palco: Vitalie, mãe de Arthur Rimbaud e Mathilde, mulher de Paul Verlaine, que conseguem ser protagonistas de uma narrativa na qual seriam coadjuvantes. Mathilde, numa excelente interpretação de Stela Maris Saldanha, conduz linearmente todo o texto, tornando-se no elo de ligação entre as narrativas. Graças à atriz, o texto ficou bem mais fácil para os leigos. Vitalie, também muito bem interpretada, transforma em momentos de comicidade a dispensável maldade que lhe tentaram atribuir. Discordo, data venia, de quem pensou mostrar Vitalie Rimbaud como um mulher amarga, ambiciosa e cruel na relação com o filho.
Vitalie era uma mulher da burguesia rural do
interior da França na época de Napoleão III, no rígido século XIX, e o filho
era um gênio, que poderia ter nascido em qualquer lugar ou em qualquer época.
Impossível, portanto, para uma mulher comum como Vitalie, entender as
idiossincrasias de Arthur sem as criticar, aceitar e conviver com os seus atos
sem se magoar, sem os recriminar. Daí, porém, a ser uma mãe sem amor, só
interessada, anos mais tarde, nos lucros nascentes de Le bateau Ivre e dos demais poemas,
eu não concordo. Ainda bem que Ivonete Melo conseguiu minimizar (mostrando
ingenuidade) a suposta ambição de Vitalie Rimbaud. A música (muitíssimo bem
escolhida) e a iluminação completam o texto e a direção. Parabéns ao autor, ao
diretor, aos quatro atores e a toda a equipe, que estão levando ao Recife um
momento mágico da vida de pessoas mágicas, em um espetáculo que poderá alçar
vôos ainda mais altos.
Aos que estejam no Recife e leiam esta postagem, sugiro que vão ao teatro Barreto Júnior e apreciem o espetáculo, pois vale a pena sim senhor.
Por puro diletantismo, para matar o tempo, resolvi colocar na língua mãe
dos quatro personagens o texto de Moisés Neto, tarefa difícil devido ao "melting pot textual" que
ele é, mas tenho me distraído bastante e o “trabalho” contribuído para que
possa melhor conhecer a obra dos dois poetas. O título em francês - Anges de Flamme et de Glace
- não é meu, mas emprestado de Arthur Rimbaud, mesmo assim, por se tratar da
versão em outro idioma de uma obra teatral, é bom estar registrado (na versão
em francês, é claro), para evitar constrangimentos ulteriores.
____________
Captado
em 5-out-2008
http://lugardosouto1.blogspot.com/2008/09/anges-de-flamme-et-de-glace-rimbaud.html
Poetas e amantes, Paul Verlaine e Arthur Rimbaud estão tendo suas vidas
encenadas em Anjos de fogo e gelo. A peça estreou sábado (30), às 20h, no
Teatro Barreto Júnior, e conta com a participação da professora do curso de
Jornalismo da Católica Stella Maris Saldanha, no papel de Mathilde, esposa de
Verlaine. A direção do espetáculo é de José Francisco Filho, ex-integrante do
Teatro da Universidade Católica de Pernambuco (Tucap).
Na fase liderada por José Francisco Filho e
Carlos Borba, entre 1973 e 1975, o Tucap se tornou um dos melhores grupos de
teatro amador de Pernambuco, conquistando mais de 30 prêmios. Durante a sua
trajetória no grupo, que durou até 1984, José Francisco Filho dirigiu as
montagens Torturas de um coração (1972), A revolta dos brinquedos (1972),
Prometeu acorrentado (1973), Os escolhidos (1974), A barca d’ajuda (1975) e A
farsa do Mestre Pathelin (1984).
O retorno aos palcos da professora Stella Maris
também era aguardado com expectativa.“Volto para o teatro depois de muitos anos
de ausência. Nesse intervalo, que começou no final dos anos 80, interpretei
Maria por duas vezes na Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, mas não atuei por
nenhuma temporada maior”, contou Stella Maris.
O espetáculo Anjos de fogo e gelo retrata o
período no qual Verlaine, poeta já renomado, convida Rimbaud para morar com ele
e sua mulher, Mathilde. A peça mostra momentos decisivos da vida dos dois
poetas, a partir da cumplicidade e da paixão entre eles. A crise no casamento
de Verlaine, a incompreensão da mãe de Rimbaud e reprovação da sociedade
francesa diante do amor entre os poetas são alguns dos temas abordados.
Dono de uma poesia lírica e singular, Paul
Verlaine se casou com Mathilde Mauté de Fleurville numa tentativa de
acomodar-se a uma vida familiar. Mas tudo mudou quando o poeta conheceu
Jean-Nicolas-Arthur Rimbaud, jovem que o fascinava e se tornou seu amante.
Rimbaud começou a escrever poemas quando tinha apenas 12 anos e aos 19 deu por
encerrada sua obra literária. Precoce e cheio de inquietações, o poeta
desenvolveu uma obra incomum, densa e delicada. Admirador de Verlaine, em 1871
Rimbaud escreveu sua primeira carta para aquele que seria seu maior
companheiro.
A união dos poetas causou uma mágoa profunda em
Mathilde, a esposa traída, levando Verlaine a se afastar de Rimbaud.
Hostilizados pelo meio intelectual francês, Verlaine e Rimbaud se aventuraram
pela Europa, numa viagem na qual escreveram poemas que modificaram para sempre
a poesia ocidental. De volta ao continente europeu, Verlaine
trabalhou em "Romances sem Palavras",
enquanto Rimbaud publicou "Uma temporada no inferno". Depois de
várias rupturas e reconciliações, em 1873, Verlaine deu um tiro de pistola em
Rimbaud, em Bruxelas.
A montagem Anjos de fogo e gelo tem texto de Moisés Neto e atuações de George
Meireles, Roger Bravo, Stella Maris Saldanha e Ivonete Melo. O espetáculo fica
em cartaz no Teatro Barreto Júnior até o dia 16 de novembro, aos sábados e
domingos, sempre às 20h.
Em busca do tom
Escrito por Alexandre Figueirôa
O espetáculo Anjos
de fogo e gelo não chega a ser a redenção de uma cena na qual as comédias de
gosto duvidoso dão o tom, mas nos faz ver que nem tudo está perdido
Um espetáculo para marcar múltiplos retornos. Assim é Anjos de fogo e gelo, peça em cartaz até novembro no Teatro Barreto Júnior. Ela assinala a reabertura, devidamente reformada, de uma das poucas salas municipais exclusivas para as artes cênicas no Recife. Traz de volta, também, um encenador – José Francisco –, que andava afastado dos palcos; uma atriz – Stella Maris Saldanha –, cuja carreira ficou adormecida pela necessidade de enfrentar a ribalta do jornalismo; um autor – Moisés Neto –, que afirma ter voltado à adolescência de leitor voraz de poemas de Rimbaud; e, ainda, um tema, cuja mística enfeitiça o Ocidente e já inspirou outras tantas peças, filmes e livros: a turbulenta relação entre os poetas Arthur Rimbaud e Paul Verlaine, no final do século 19, na França.
Um espetáculo para marcar múltiplos retornos. Assim é Anjos de fogo e gelo, peça em cartaz até novembro no Teatro Barreto Júnior. Ela assinala a reabertura, devidamente reformada, de uma das poucas salas municipais exclusivas para as artes cênicas no Recife. Traz de volta, também, um encenador – José Francisco –, que andava afastado dos palcos; uma atriz – Stella Maris Saldanha –, cuja carreira ficou adormecida pela necessidade de enfrentar a ribalta do jornalismo; um autor – Moisés Neto –, que afirma ter voltado à adolescência de leitor voraz de poemas de Rimbaud; e, ainda, um tema, cuja mística enfeitiça o Ocidente e já inspirou outras tantas peças, filmes e livros: a turbulenta relação entre os poetas Arthur Rimbaud e Paul Verlaine, no final do século 19, na França.
Numa cidade onde as comédias de gosto duvidoso dão o tom, não deixa de
ser animador ver mais um grupo de pessoas se debruçar sobre um projeto teatral
que tenta escapar das fórmulas previsíveis do humor fácil e afirmar: o teatro
pernambucano permanece vivo. Por isso acho ser obrigação da crítica não baixar
a voz e, mais uma vez, buscar estabelecer um diálogo sereno e propositivo com
esta cena que resiste. Na troca de impressões, talvez consigamos recuperar um
espaço que, infelizmente, vem sendo ocupado, cada vez mais, pelas manifestações
artísticas massivas onde qualidade e apuro estético pouco importam.
Isto não significa que Anjos de fogo e gelo consiga ser a redenção de tantos conflitos, mas nos faz ver que nem tudo está perdido. Em primeiro lugar, é preciso ressaltar o cuidado da produção, equilibrando os recursos materiais disponíveis a partir de uma coerente articulação entre a proposta de encenação e os elementos cenográficos. No figurino, predominam as cores marrom e bege e, junto com a iluminação, em tom amarelo cobre, temos a impressão de que folheamos as páginas envelhecidas de um livro esquecido na estante. As plataformas por onde circulam os atores, com degraus decorados com sinais de escrita, também conseguem dar unidade ao drama que se desenrola diante do espectador e funcionam de forma precisa como elementos para definição do jogo dramático proposto.
Isto não significa que Anjos de fogo e gelo consiga ser a redenção de tantos conflitos, mas nos faz ver que nem tudo está perdido. Em primeiro lugar, é preciso ressaltar o cuidado da produção, equilibrando os recursos materiais disponíveis a partir de uma coerente articulação entre a proposta de encenação e os elementos cenográficos. No figurino, predominam as cores marrom e bege e, junto com a iluminação, em tom amarelo cobre, temos a impressão de que folheamos as páginas envelhecidas de um livro esquecido na estante. As plataformas por onde circulam os atores, com degraus decorados com sinais de escrita, também conseguem dar unidade ao drama que se desenrola diante do espectador e funcionam de forma precisa como elementos para definição do jogo dramático proposto.
Alex Alencar, na sua
coluna do JC, Caderno C
Publicado em 26.09.2008:
Publicado em 26.09.2008:
Não diria que o relacionamento homo tornou-se
algo absolutamente natural. Pela evolução no mundo, pelas propostas das novas
religiões, bem poderosas, ou de novas maneiras de acreditar e ter fé num Deus.
As várias igrejas que partem de um país e vão atravessando pacificamente outras
fronteiras mudaram as idéias e posicionamentos. A liberdade e os novos direitos
que surgiram permitiram que atrizes famosas, ou pessoas com elevado nível
social e financeiro, até militares tomaram a decisão de posar para fotos de jornais
confessando que são do mesmo sexo mas que se amam. Atitude forte. Claro que
muitos não aceitam, mas que fiquem apenas com seu direito. Não persigam, não
matem nem maltratem aqueles que fizeram a opção. Tenho um DVD que narra o
relacionamento amoroso de dois dos maiores poetas franceses em toda história da
literatura francesa, são Arthur Rimbaud e Paul Verlaine. No filme quem
interpretou Rimbaud foi Leonardo De Caprio, que vem se revelando bom ator, o
Verlaine teve como intérprete um ator francês. Não vou comentar o filme. Mas a
história amorosa e dramática dos dois poetas está sendo representada no teatro
Barreto Júnior aos sábados e domingos com o título de Anjos de fogo e gelo,
dirigido por José Francisco. Tenho ouvido muitos depoimentos sobre a peça. Vera
Brandão achou colossal, e tem bom gosto. O tema é insólito, mas deve ser visto.
O escritor e jornalista Raimundo
Carrero escreve sobre ANJOS DE FOGO E
GELO no SUPLEMENTO CULTURAL DO DIÁRIO OFICIAL do Governo do Estado de
Pernambuco (Editado pela CEPE em Setembro de 2008):
SOBRE O AMOR MAGOADO
O
que mais importa na arte: o artista ou a obra?
A pergunta nem sempre tem resposta segura. Em
princípio pode-se dizer,
simplesmente, a arte. O que seria
o ideal, claro. Mas nem sempre é assim. Há
vidas que superam o objeto
artístico e se impõem pela forma,
pela qualidade. Pela
loucura, talvez. E há casos em que arte e artista se
confundem tanto, que uma coisa jamais
será separada da outra. É o caso das vidas de Rimbaud e Verlaine? Ou seria mais apropriado dizer das duas em uma só?
Os dois se transformaram em símbolos do amor gay,
embora cheios de violência, sofrimento e dor. E não somente para
eles; também para as esposas e, lógico,
para os parentes e amigos. E é justamente para refletir sobre essa turbulência que está
em cartaz, no Teatro Barreto Júnior, a peça “Anjos
de fogo e gelo”, de Moisés
Neto, som e direção de José
Francisco. Um espetáculo difícil,
que exige o máximo do elenco,
sobretudo de George Meireles e Roger Bravo.
Além da natural e óbvia
responsabilidade de encarnarem personagens-símbolos de toda uma geração e de
toda uma época, enfrentam um texto
exigente naquilo que a peça de teatro tem de
mais significativo: o condicionante
humano no tratamento do mundo
gay. Algo que provoca sempre
divergências profundas e gestos desmesurados. É claro que não é atributo
apenas de pessoas do mesmo sexo. As
atribuições estão em todos.
Mas , no caso especial dos dois, que também geraram obras de artes extraordinárias, a paixão e a
convivência causariam, como
causaram, muitas inquietações.
Basta lembrar o tiro
que Verlaine deu em Rimbaud, na Bélgica,
e que por isso TVE de pagar pena de prisão. É claro que o tratamento
agressivo pode ocorrer entre casais os mais diversos, do mesmo sexo ou
não. Violência não tem
particularidade. O efeito da luta, porém, recebe hábil tratamento no texto do
experimentado Moisés Neto, através de referências e alusões. Até porque um tema que começa a entrar na
infalível lista do lugar-comum é a
violência.
A direção da peça
não conseguiu evitar outro lugar-comum da arte contemporânea: as cenas de sexo. A arte contemporânea
terá que superar esse impasse – seria
mesmo um impasse? – de tratar o sexo e a violência em todas as manifestações
artísticas. Sobretudo no caso do amor entre pessoas do mesmo sexo. É algo que
está beirando o óbvio e, por isso mesmo, precisa ser repensado. O sexo ainda
causaria, mesmo, estranhamento artístico?
É um elemento artístico de qualidade?
Ou ainda provoca escândalo e,por ser escandaloso, geraria o fator artístico? É o caminho?
Uma das questões da contemporaneidade,
em que a violência e o sexo estão terrivelmente presentes, precisa
receber outro tratamento, que não seja apenas pela beleza ou pelo escândalo.
No entanto, o que mais se ressalta no texto de Moisés
Neto é o equilíbrio cênico, o que também é um atributo do diretor. Dentro
de um cenário leve, também com ótimo equilíbrio de luz, pode-se acreditar,
sinceramente, naqueles dois seres dilacerados, na pele de George Meireles e
Roger Bravo, sem esquecer as duas atrizes Stella Maris e Ivonete Melo. As duas,
aliás, fazia tempo que não pisavam no
palco. E estão ótimas. Seguras, firmes.
Trabalhando este lado mais inquietante do drama teatral que, no entanto, não
tem nada de teatral – na origem são duas
mulheres que se debatem entre a dor e o
amor. E nada mais intranqüilo do que o amor magoado. O amor que se debate
entre o choro e o soluço.
JORNAL DO COMMERCIO:
Anjos e fogo e gelo grava DVD no Barreto
Publicado no CADERNO C em 19.09.2008
Publicado no CADERNO C em 19.09.2008
Iniciando a quarta
semana de exibição, Anjos de fogo e gelo, peça que mostra o conturbado
relacionamento entre os poetas franceses Rimbaud e Verlaine, será gravada em
DVD amanhã, às 20h, no Teatro Barreto Júnior. Quatro câmeras captarão as
imagens e microfones direcionais serão instalados nas coxias do teatro
garantindo a qualidade do som. O DVD será legendado em inglês e francês. O
material será usado também para divulgar o espetáculo nos principais festivais
cênicos do País. Com texto de Moisés Neto e direção de José Francisco Filho, a
peça traz George Meireles (Verlaine), Roger Bravo (Rimbaud) Stella Maris
Saldanha (Mathilde) e Ivonete Melo (Vitalie). O ingresso custa R$ 20, inteira,
e R$ 10 (estudante).
JORNAL DO COMMERCIO
Coluna social
DIA-A-DIA. Segunda-feira, 01/09/08:
Estréia de sucesso: Arrebentou a estréia da peça Anjos de fogo e
gelo, no Barreto Júnior, sábado. O teatro teve lotação esgotada, com direito a
muitos conhecidos na platéia. Por lá: Turíbio e Zezinho Santos, Carlos Trevi,
Paula Ribeiro... que gravaram depoimentos sobre a peça. Detalhe: para o
espetáculo de ontem, mais de 100 ingressos já haviam sido vendidos até a noite
de sábado.
Publicado no DIÁRIO DE PERNAMBUCO
Em 01.09.08
Rimbaud e Verlaine:
Anjos de fogo e gelo estréia com teatro lotado
Para o diretor José
Francisco Filho, fazer teatro é como andar de bicicleta. Você pode passar anos
sem ter contato com o palco, mas quando decide retornar, esta volta transcorre
naturalmente. A julgar pela interpretação do elenco de Anjos de fogo e gelo,
que fez sua estréia neste final de semana, no Teatro Barreto Júnior, o diretor
tem razão. Quatro atores estão em cena - Roger Bravo, George Meireles, Stella
Maris Saldanha e Ivonete Melo.Os três últimos não encaravam os espectadores
numa peça adulta há anos e defenderam com dignidade seus papéis.
Apesar da atuação correta e da produção impecável, a história do amor conturbado entre os poetas Paul Verlaine (George Meireles) e Arthur Rimbaud (Roger Bravo),em plena
Europa do século 19, carece de mais emoção. Não sei se esta
impressão persiste por estarmos acostumados a textos mais lineares. A peça
inova e coloca os personagens mergulhados em seu próprio fluxo de consciência.
Da acolhida de Rimbaud pelafamília de Verlaine, ao fim do casamento entre este
e a aristocrata Mathilde, ou a passagem de Rimbaud pela África, somos
apresentados a situações-limite, e há instantes, como na primeira cena, em que
a poesia se confunde com os diálogos.
O texto, de autoria de Moisés Neto, também evita o caminho mais fácil ao apenas pincelar os fatos mais conhecidos do relacionamento tempestuoso dos poetas. Os dois tiros que Verlaine deu em Rimbaud, e que o levaram a ficar um ano e meio numa prisão da Bélgica, são apenas citados, ficando tudo nas entrelinhas.
A questão da homossexualidade também poderia ser tratada com menos pudores. Na segunda cena da peça, quando Verlaine e Rimbaud ficam nus e fazem sexo, o palco fica quase na penumbra. Eles atingem o clímax e, instantes depois, já estão discutindo novamente, como se nada de importante tivesse acontecido. Verlaine corre para vestir a roupa de baixo, como se ficasse envergonhado do próprio corpo. Nota dez para os figurinos e adereços de época criados por Aníbal Santiago e para o cenário de Marcondes Lima, com várias escadarias e plataformas de madeira por onde o quarteto se movimenta.
Extremamente pontuais em relação ao teatro local, que costuma atrasar em até meia hora o início de uma peça, Anjos de fogo e gelo começou às 20h05 do último sábado. A platéia do Barreto Júnior estava abarrotada de gente e quem chegou por último precisou se acomodar nos corredores laterais, ficando em pé, enconstado nas paredes. Ao contrário de outras ocasiões, porém, o elenco não agradeceu formalmente à presença do público, nem aproveitou a oportunidade para explicar até quando ficariamem cartaz. Apenas Roger Bravo e Ivonete Melo se
abraçaram ao final do espetáculo, talvez pela tensão da estréia.
Em seguida, as luzes do palco se apagaram e o público começou a deixar a sala. A platéia, aliás, continua mal-educada: os celulares tocaram repetidas vezes durante a encenação. Quem comparecer à temporada, que continua até meados de novembro, aos sábados e domingos, às 20h, pode adquirir o programa da peça junto com um brinde - um CD com poesias de Rimbaud e Verlaine- por R$ 5.
Apesar da atuação correta e da produção impecável, a história do amor conturbado entre os poetas Paul Verlaine (George Meireles) e Arthur Rimbaud (Roger Bravo),
O texto, de autoria de Moisés Neto, também evita o caminho mais fácil ao apenas pincelar os fatos mais conhecidos do relacionamento tempestuoso dos poetas. Os dois tiros que Verlaine deu em Rimbaud, e que o levaram a ficar um ano e meio numa prisão da Bélgica, são apenas citados, ficando tudo nas entrelinhas.
A questão da homossexualidade também poderia ser tratada com menos pudores. Na segunda cena da peça, quando Verlaine e Rimbaud ficam nus e fazem sexo, o palco fica quase na penumbra. Eles atingem o clímax e, instantes depois, já estão discutindo novamente, como se nada de importante tivesse acontecido. Verlaine corre para vestir a roupa de baixo, como se ficasse envergonhado do próprio corpo. Nota dez para os figurinos e adereços de época criados por Aníbal Santiago e para o cenário de Marcondes Lima, com várias escadarias e plataformas de madeira por onde o quarteto se movimenta.
Extremamente pontuais em relação ao teatro local, que costuma atrasar em até meia hora o início de uma peça, Anjos de fogo e gelo começou às 20h05 do último sábado. A platéia do Barreto Júnior estava abarrotada de gente e quem chegou por último precisou se acomodar nos corredores laterais, ficando em pé, enconstado nas paredes. Ao contrário de outras ocasiões, porém, o elenco não agradeceu formalmente à presença do público, nem aproveitou a oportunidade para explicar até quando ficariam
Em seguida, as luzes do palco se apagaram e o público começou a deixar a sala. A platéia, aliás, continua mal-educada: os celulares tocaram repetidas vezes durante a encenação. Quem comparecer à temporada, que continua até meados de novembro, aos sábados e domingos, às 20h, pode adquirir o programa da peça junto com um brinde - um CD com poesias de Rimbaud e Verlaine- por R$ 5.
ESTREIA: Poesia e erotismo em lavagem de roupa
suja
Publicado no JORNAL DO COMMERCIO em 01.09.2008
Publicado no JORNAL DO COMMERCIO em 01.09.2008
Marcos Toledo
mtoledo@jc.com.br
O público recifense lotou o recém-reaberto
Teatro Barreto Júnior, no Pina, anteontem, para conferir a estréia de Anjos de
fogo e gelo, espetáculo dirigido por José Francisco a partir de texto de Moisés
Neto. Apesar do zunzunzum gerado pela polêmica em torno do tema, a relação
amorosa entre os poetas franceses Rimbaud e Verlaine, a peça, com menos de uma
hora de duração, contém apenas uma seqüência de erotismo (a programação visual
do material de divulgação pode gerar expectativa) e foca mais na tensão do
triângulo amoroso formado pelo par central e a esposa de Verlaine, Mathilde.
Mesmo quando não há figurino em cena, Anjos de
fogo e gelo é uma grande lavagem de roupa suja entre os personagens supracitados
e a mãe de Rimbaud, Vitalie. Bem-escolhidos, os atores encarnam bem os papéis
aos quais foram destinados: Roger Bravo, na pele do jovem, arrogante e
desmedido Rimbaud, George Meireles, como o inseguro Verlaine, Stela Maris
encarnando a preterida e rancorosa Mathilde, e Ivonete Melo como a mãe
amargurada Vitalie, responsável por algumas das falas mais engraçadas da peça.
Apesar da tensão da estréia, e até pela larga
experiência dos profissionais envolvidos, o espetáculo se saiu bem em sua
primeira apresentação. O texto, porém, tem uma particularidade: mescla momentos
históricos de uma maneira paradidática, mas necessária, com citações poéticas e
diálogos de conflito dos personagens. Há contudo, um certo desequilíbrio entre
os momentos de mágoa – mais fortes –, os românticos e os líricos.
Em um cenário bem bolado, que segue uma
tendência prática e funcional, o elenco destila os dilemas dos personagens se
movimentando de forma bem coreografada que deixa o trabalho mais dinâmico. A
boa trilha sonora e o belo figurino de época completam os pontos fortes da peça que, tecnicamente, coloca-se acima
da média da produção local.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO
Quinta-feira- 28.08.08
O amor conturbado de Rimbaud e
Verlaine
por Tatiana Meira
Estréia // Anjos de
fogo e gelo inicia temporada sábado no Teatro Barreto Júnior e quebra o jejum
dos atores George Meireles, Stella Maris Saldanha e Ivonete Melo, que estavam
distantes dos palcos
Tatiana Meira // Diário: tmeira@diariodepernambuco.com.br
Tatiana Meira // Diário: tmeira@diariodepernambuco.com.br
Quando assistiu à montagem carioca Pólvora e poesia, sobre o
relacionamento tempestuoso entre os poetas Paul Verlaine e Arthur Rimbaud,
George Meireles gostou do resultado, mas sentiu falta de um enfoque maior na
obra dos artistas cujo romance conturbado movimentou os cafés parisienses no
final do século 19. A
vontade de interpretar este drama amoroso que gerou polêmica acabou tornando
irrecusável o convite feito ao ator - há uma década longe da ribalta - pelo
diretor José Francisco Filho e pelo
escritor Moisés Neto, autor do texto
original de Anjos de fogo e gelo. A
estréia do espetáculo será neste sábado, no Teatro Barreto Júnior, no Pina, com
temporada até 16 de novembro, sempre aos sábados e domingos, às 20h. "A
poesia é a forma do texto, que assume um formato diferente, o que me instigou
muito", destaca George.
Com uma trama enxuta,
de 55 minutos, Anjos de fogo e gelo relata a história dos dois poetas, vividos
por George Meireles (que faz
Verlaine em dois momentos, aos 27 e aos 60 anos) e Roger Bravo (Rimbaud), etambém marca a volta à cena das atrizes Stella Maris Saldanha (a aristocrata
Mathilde Mauté de Fleurville, que viu seu casamento de dois anos com Verlaine
ser esfacelado quando ele se interessou por Rimbaud) e Ivonete Melo (na pele de Vitalie, a mãe de Rimbaud). "O quinto
ator é a luz, que faz com que o público se reporte aos atores e aos planos e
escadarias onde se realiza a ação", diz o diretor José Francisco Filho.
Ele explica que os cenários de tom expressionista criados por Marcondes Lima contrastam com os figurinos rebuscados de época pensados por Aníbal Santiago, numa reconstituição rigorosa da indumentária do final do século19. A trilha sonora erudita
proposta por Fernando Lobo, a
maquiagem de Henrique Melo e a
direção de arte de Renato Filho
também ajudam a dar o tom naturalista da montagem, onde os atores foram orientados
a economizar nos gestos e na voz e a focar a interpretação nas expressões
faciais. "Todo o trabalho é fruto de muita pesquisa, do cuidado com os
fatos históricos, para conseguir passar ao público a vida e a obra de Verlaine
e Rimbaud", pontua o diretor.
Stella Maris Saldanha está muito emocionada com este retorno aos palcos. "Tenho uma relação muito visceral com o teatro, mas estava sem atuar desde o final da década de 1980, embora tenha participado duas vezes da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém", recorda Stella. Para ela, Mathilde tem um papel estratégico no triângulo amoroso que acaba formando com Verlaine e Rimbaud, experimentando um processo de muito sofrimento. "Ela fica amargurada, magoada, pois é surpreendida por esta relação tempestuosa, até que a dor fica insuportável", explica. A atriz afirma que também está feliz por perceber um "burburinho", uma chama que se acende novamente na cena teatral pernambucana. "Já fomos a terceira capital em produção teatral no país, atrás apenas do Rio e de São Paulo. Temos um movimento muito generoso na música e no cinema, mas no teatro esta palidez ainda está se desfazendo".
Na opinião de Roger Bravo, os oito meses transcorridos entre a leitura do texto e os ensaios vêm sendo bastante intensos. "É um mergulho no desconhecido, uma experiência libertadora, sem fórmulas a seguir", diz Roger, que fica praticamente o tempo todo em cena como Rimbaud, o que exige um alto nível de concentração.
George Meireles acredita que participar de Anjos de fogo e gelo é ainda mais provocador porque o ambiente é simples e não restam "muletas" para apoiar a interpretação do elenco. "É mais difícil, porque somos levados a passar a alma do personagem", revela George, que havia feito a promessa de só voltar ao teatro com uma peça de conteúdo denso, que possa desafiar o público.
Serviço
Anjos de fogo e gelo
Ele explica que os cenários de tom expressionista criados por Marcondes Lima contrastam com os figurinos rebuscados de época pensados por Aníbal Santiago, numa reconstituição rigorosa da indumentária do final do século
Stella Maris Saldanha está muito emocionada com este retorno aos palcos. "Tenho uma relação muito visceral com o teatro, mas estava sem atuar desde o final da década de 1980, embora tenha participado duas vezes da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém", recorda Stella. Para ela, Mathilde tem um papel estratégico no triângulo amoroso que acaba formando com Verlaine e Rimbaud, experimentando um processo de muito sofrimento. "Ela fica amargurada, magoada, pois é surpreendida por esta relação tempestuosa, até que a dor fica insuportável", explica. A atriz afirma que também está feliz por perceber um "burburinho", uma chama que se acende novamente na cena teatral pernambucana. "Já fomos a terceira capital em produção teatral no país, atrás apenas do Rio e de São Paulo. Temos um movimento muito generoso na música e no cinema, mas no teatro esta palidez ainda está se desfazendo".
Na opinião de Roger Bravo, os oito meses transcorridos entre a leitura do texto e os ensaios vêm sendo bastante intensos. "É um mergulho no desconhecido, uma experiência libertadora, sem fórmulas a seguir", diz Roger, que fica praticamente o tempo todo em cena como Rimbaud, o que exige um alto nível de concentração.
George Meireles acredita que participar de Anjos de fogo e gelo é ainda mais provocador porque o ambiente é simples e não restam "muletas" para apoiar a interpretação do elenco. "É mais difícil, porque somos levados a passar a alma do personagem", revela George, que havia feito a promessa de só voltar ao teatro com uma peça de conteúdo denso, que possa desafiar o público.
Serviço
Anjos de fogo e gelo
Direção de
José Francisco Filho
Onde: Teatro Barreto Júnior (Rua Jeremias Bastos, Pina)
Quando: Estréia sábado, às 20h. Em cartaz aos sábados e domingos, às 20h, até 16 de novembro
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)
José Francisco Filho
Onde: Teatro Barreto Júnior (Rua Jeremias Bastos, Pina)
Quando: Estréia sábado, às 20h. Em cartaz aos sábados e domingos, às 20h, até 16 de novembro
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)
Diario de
Pernambuco - PE
29/08/2008 - 07:32
29/08/2008 - 07:32
Paixão visceral embalada pela poesia
Amor de Arthur Rimbaud e Paul Verlaine é tema da peça Anjos de fogo e gelo, que estréia no Barreto Júnior
Amor de Arthur Rimbaud e Paul Verlaine é tema da peça Anjos de fogo e gelo, que estréia no Barreto Júnior
Tatiana Meira
Um paralelo entre a
vida e a obra poética de Paul Verlaine e Arthur Rimbaud, mostrando as
influências mútuas entre os dois poetas, ajuda a compor o enredo de Anjos de
fogo e gelo, peça que estréia sábado, às 20h, no Barreto Júnior, no Pina. Além
de trazer para o teatro a trajetória pessoal e artística de Anjos de fogo e
gelo dois ícones da literatura francesa do século 19, o espetáculo conseguiu
reunir no mesmo elenco atores que estavam afastados dos palcos há vários anos,
como George Meireles (que vive Verlaine), Stella Maris Saldanha (que estava
longe das artes cênicas desde o final da década de 1980) e Ivonete Melo. Também
faz parte deste time Roger Bravo, que interpreta Rimbaud.
Dirigido por José Francisco Filho e baseado no texto escrito por Moisés Neto, Anjos de fogo e gelo opta por abordar a paixão avassaladora entre Verlaine e Rimbaud, para discutir uma relação amorosa que poderia acontecer independentemente do sexo. No lugar de uma narrativa convencional, são as poesias que costuram os diálogos, onde os atores foram orientados a seguir um gestual minimalista, para ressaltar a força da interpretação individual. "Sabíamos da responsabilidade do projeto e nos dedicamos a ele com uma entrega visceral", garante George Meireles.
Os cenários foram criados por Marcondes Lima, os figurinos são assinados por Aníbal Santiago - que também estava há anos sem trabalhar na composição de figurinos teatrais -, a trilha sonora é de Fernando Lobo e a maquiagem, de Henrique Melo. A peça ficará em cartaz aos sábados e domingos, às 20h, até o dia 16 de novembro. Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada).
A árvore de Júlia - Também em cartaz no Barreto Júnior, a peça A árvore de Júlia é protagonizada pela estreante Olga Ferrário, 16 anos, que é dirigida pela mãe, Lívia Falcão. A peça conta a história de uma jovem que passa a morar em cima de uma árvore, para que ela não fosse derrubada. Em cartaz na sexta, às 20h, e sábado e domingo, às 17h. Informações: 3232-3054. Ingressos: R$ 20 e R$ 10(meia-entrada).
Dirigido por José Francisco Filho e baseado no texto escrito por Moisés Neto, Anjos de fogo e gelo opta por abordar a paixão avassaladora entre Verlaine e Rimbaud, para discutir uma relação amorosa que poderia acontecer independentemente do sexo. No lugar de uma narrativa convencional, são as poesias que costuram os diálogos, onde os atores foram orientados a seguir um gestual minimalista, para ressaltar a força da interpretação individual. "Sabíamos da responsabilidade do projeto e nos dedicamos a ele com uma entrega visceral", garante George Meireles.
Os cenários foram criados por Marcondes Lima, os figurinos são assinados por Aníbal Santiago - que também estava há anos sem trabalhar na composição de figurinos teatrais -, a trilha sonora é de Fernando Lobo e a maquiagem, de Henrique Melo. A peça ficará em cartaz aos sábados e domingos, às 20h, até o dia 16 de novembro. Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada).
A árvore de Júlia - Também em cartaz no Barreto Júnior, a peça A árvore de Júlia é protagonizada pela estreante Olga Ferrário, 16 anos, que é dirigida pela mãe, Lívia Falcão. A peça conta a história de uma jovem que passa a morar em cima de uma árvore, para que ela não fosse derrubada. Em cartaz na sexta, às 20h, e sábado e domingo, às 17h. Informações: 3232-3054. Ingressos: R$ 20 e R$ 10(meia-entrada).
FOLHA
DE PERNAMBUCO SÁBADO - 30/08/2008
Encontros e
desencontros clandestinos
“Anjos de Fogo e Gelo” retrata vida dos poetas Verlaine e Rimbaud
“Anjos de Fogo e Gelo” retrata vida dos poetas Verlaine e Rimbaud
por Talles
Colatino
Peça coloca em cena momentos decisivos dos
poetas
Foram dois anos de reformas, e depois da
abertura oficial na última quarta-feira, Recife agora conta com um Teatro
Barreto Júnior apto e seguro a receber peças em seu palco. E para marcar a nova
fase do espaço, acontece hoje a estréia da peça “Anjos de Fogo e Gelo”, que
retrata os encontros e desencontros de dois dos maiores poetas de todos os
tempos, Verlaine e Rimbaud.
A vida e a obra dos dois poetas e amantes
ganham vida cênica com a direção de José Francisco e conta com George Meireles
e Roger Bravo como protagonistas. “Anjos de Fogo e Gelo” retrata um período da
vida dos poetas, no qual Verlaine, entusiasmado com os versos do jovem poeta,
Rimbaud, o convida para morar com ele e sua mulher, Mathilde (vivida por Stella
Maris Saldanha). A partir daí cresce então uma grande cumplicidade entre os
dois artistas e uma intensa paixão.
O espetáculo coloca em cena momentos decisivos
da vida dos dois poetas. Mesclando a história com poemas de ambos, a peça traça
um paralelo entre a vida e a obra poética deles, mostrando como um influenciou
o outro. Fica certo que poesia de Verlaine não é mais a mesma desde seu
encontro com Rimbaud. Assim como esse mergulha no universo poético de Paul
Verlaine, onde sua erudição contribui para que Rimbaud passe a criar uma obra
refinada e profunda.
O texto
da peça é de Moisés Neto e completam o time Renato Filho (direção de arte),
Fernando Lobo (direção musical), Marcondes Lima (cenários), Aníbal Santiago
(figurinos) e Henrique Melo (maquiagem). “Anjos de Fogo e Gelo” fica em
cartaz até o 16 novembro, sempre aos sábados e domingos, às 20h.
Serviço
“Anjos de Fogo e Gelo”
Sábados e domingos, às 20h
Teatro Barreto Júnior
Ingressos: R$ 20 e R$ 10.
“Anjos de Fogo e Gelo”
Sábados e domingos, às 20h
Teatro Barreto Júnior
Ingressos: R$ 20 e R$ 10.
» ESTREIA
Dois homens e um livro aberto
Publicado no JORNAL DO COMMERCIO em 29.08.2008
Dois homens e um livro aberto
Publicado no JORNAL DO COMMERCIO em 29.08.2008
Anjos de fogo e gelo leva o romance entre Rimbaud e Verlaine,
poetas franceses para o novo Barreto Júnior
Fabiana Moraes
Fabiana Moraes
A história de um dos romances mais comentados
de todos os tempos começa a ser encenada amanhã em um Barreto Júnior
novinho em folha: Anjos de fogo e gelo, direção de José Francisco e texto de Moisés Neto, conta o atribulado amor
entre Rimbaud e Verlaine, poetas-chave da França do século 19. O par será vivido
pelos atores George Meireles (Verlaine) e Roger Bravo (Rimbaud), que sobem ao
palco ao lado de Stela Maris e Ivonete Melo (elas vivem Mathilde, a mulher de
Verlaine, e Vitalie, mãe de Rimbaud, respectivamente). O espetáculo marca o
retorno de Meireles, Ivonete e Stella ao palco, além da volta de José Francisco
ao universo das montagens adultas – sua última incursão nesse sentido aconteceu
há oito anos.
“É engraçado, muita gente tem me perguntado
como está sendo volta aos palcos, mas você não volta de onde nunca saiu, não
é?”, brinca o diretor, que durante todo este tempo esteve à frente de peças
infantis (como A revolta dos brinquedos, que volta em breve aos palcos) e
envolvido nas aulas do curso de artes cênicas da Universidade Federal de
Pernambuco. “Também estou montando Apareceu a Margarida com a Trupe do
Barulho”, adianta ele. É de José o projeto que se concretizou em peça, uma
mescla moderna de homoerotismo e poesia. “Não sou um fã de carteirinha da
poesia de Verlaine e Rimbaud, e sim fascinado com o rompimento da linguagem
poética”, conta o diretor. “Rimbaud desafia a alta burguesia francesa quando
diz simplesmente ‘eu não sou assim’, ele quebra as estruturas pelo deboche”,
fala.
A forte presença das mulheres foi determinante
para a encenação poética do relacionamento entre Rimbaud e Verlaine (aliás, o
romance entre os dois poetas foi encenado com sucesso em 2000, quando Pólvora e
poesia recebeu o prêmio Shell de melhor texto). “Rimbaud não era ninguém sem a
mãe”, opina José Francisco. O cenário de Marcondes Lima faz do palco um
verdadeiro livro aberto – é totalmente expressionista, pontua o diretor –,
enquanto os figurinos de Aníbal Santiago, verdadeiro pesquisador de
indumentárias, seguem a linha realista. É século 19 do sapato ao lencinho.
O ator George Meireles – que havia atuado pela
última vez há dez anos em O avarento – pesquisa há quase um ano o papel do
exuberante Verlaine, que larga a mulher e o filho recém-nascido para viver o
tórrido relacionamento com Rimbaud. “Aos 19 anos, ele já era considerado um
grande poeta, tanto que recebeu o título de ‘príncipe’ por parte dos franceses.
Victor Hugo ficou impressionado com seu primeiro poema”, conta Meireles,
lembrando que Verlaine supera Rimbaud em termos de popularidade naquele país –
aqui, é justamente o oposto. A separação de Mathilde, os passeios pelo
boulevard Saint-Michel (lugar de “pegação” onde até hoje michês fazem ponto,
escandalizando os moradores bem-nascidos do 5º e do 6º arrondissement) e os
dois tiros desferidos contra Rimbaud são algumas das passagens vividas pelo
jovem poeta e encenadas em Anjos de fogo e gelo. Vivendo o par trágico e
amoroso de Verlaine está o ator Roger Bravo, que já foi dirigido por nomes como
Carlos Bartolomeu e Marco Camarotti. Um grande trunfo da peça, é claro, é a
participação de Stella Maris (Um deus dormiu lá em casa, 1988) e Ivonete Melo
(seu último trabalho foi Abelardo e Heloísa, criado em 2000).
Quem for conferir o espetáculo leva um
presentinho de Rimbaud e Verlaine: além do programa, será distribuído um CD com
poemas e a trilha sonora do espetáculo. Anjos de fogo e gelo ficará em cartaz
aos sábados e domingos, às 20h, no Teatro Barreto Júnior. O ingresso custa R$
20 (inteira) e R$ 10 (estudante).
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