De Manuel Bandeira
Desencanto
Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto..
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
- Eu faço versos como quem morre.
NOVA POÉTICA
Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
Poeta sórdido:
Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.
Sai um sujeito de casa com a roupa de brim
[branco muito bem engomada, e na primeira
[ esquina passa um caminhão, salpica-lhe o
[paletó ou calça de uma nódoa de lama:
É a vida.
O poema deve ser como a nódoa no brim:
Fazer o leitor
satisfeito de si dar o desespero.
Sei que a
poesia é também orvalho.
Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas,
[as virgens cem por cento e as amadas
[que envelheceram sem maldade.
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