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sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

A metalinguagem na poesia modernista do Brasil, dois exemplos

 De Manuel Bandeira 


Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto..
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
- Eu faço versos como quem morre.






NOVA POÉTICA


      Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
      Poeta sórdido:
      Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.
      Sai um sujeito de casa com a roupa de brim
            [branco muito bem engomada, e na primeira
            [ esquina passa um caminhão, salpica-lhe o
[paletó ou  calça de uma nódoa de lama:
      É a vida.

      O poema deve ser como a nódoa no brim:
      Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.

      Sei que a poesia é também orvalho.
      Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas,
            [as virgens cem por cento e as amadas

            [que envelheceram sem maldade.

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