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segunda-feira, 24 de março de 2014

Luís Vaz de Camões, lírico



Alma minha gentil, que te partiste



Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,

Quão cedo de meus olhos te levou.

domingo, 16 de março de 2014

Analise O Casamento Desigual

'O Casamento Desigual', óleo sobre madeira, do século 15


Que tal fazer uma análise de "O Casamento Desigual", tela atribuída a um discípulo do pintor flamengo Quentin Matsys, no século 15, que está no acervo do MASP?

Subgêneros da Lírica e do Gênero Dramático

Subgêneros da Lírica

Ode: Composição verso lírico, de alguma extensão e tema nobre e sublime.

Elegia: composição lírica.

Écloga: composição de gênero da poesia bucólica.

Sátira: composição lírica em verso ou prosa, que individual ou coletiva censura serviços.

Letra de música (isso não é ponto pacífico)




Subgêneros dramáticos:

Tragédia
Comédia
Drama
Ópera

Farsa (texto onde os personagens principais podem ser duas ou mais pessoas diferentes e não serem reconhecidos pelos feitos dessa pessoa.)

Os subgêneros narrativos

O que são subgêneros narrativos? Essa expressão significa as subdivisões do gênero narrativo, tais como epopeia (menos rígidas do que as epopeias clássicas), romance, novela, conto etc. São variedades de tipos narrativos. 


Capa do romance A incrível noite, de Moisés Neto


     O termo subgênero não contém sentido pejorativo. Dentro da narrativa, podemos classificar subgêneros, e dizer que pertencem a mesma "classe" todos, mesmo apresentando entre si diferenças; novela, conto,  crônica, por sua vez os contos, novelas e romances podem também classificar-se em policiais, ficção científica, fábulas, lendas, históricos, policiais etc.


sábado, 8 de março de 2014

A auréola do poeta

Baudelaire descreve a perda de sua auréola:  "Meu caro, sabe do medo que me causam cavalos e veículos. Há pouco estava eu atravessando o bulevar com grande pressa, e eis que ao saltar sobre a lama, em meio a este caos em movimento, onde a morte chega a galope de todos os lados ao mesmo tempo,
minha auréola, em um movimento brusco, desliza de minha cabeça e cai no lodo do asfalto. Não tive coragem de apanhá-la. Julguei menos desagradável perder minhas insígnias do que me deixar
quebrar os ossos"

sexta-feira, 7 de março de 2014

O CONCEITO DE LITERATURA



O que é Literatura? Uma não aceitação da realidade tal como se apresenta. Literatura é linguagem e também  ideologia (duas faces da mesma moeda). Um jogo de ambiguidades que é proposto a cada leitor. Afinal, somos tecidos pela trama da linguagem. O literário existe na escrita como uma potência, energia, concentração do dizer. A definição sobre o que é Literatura passa por conceitos que envolvem outras ciências humanas como filosofia, história, linguística, sociologia, antropologia.
Literatura é simbolização; é despertar o poder mágico de certas palavras: intensificação ou atenuação do relacionamento do homem com o mundo. Temor e fascínio. Uma ponte entre o original dos seres e o simbólico da linguagem.
A obra literária é um objeto social? (leitor x autor= estética ).
O que faz de um texto ser considerado Literatura? Sua literariedade(termo forjado pelos formalistas), isto é, sua natureza artística. O tipo de linguagem empregada, as intenções do escritor, os temas. É assunto polêmico. Quando um conceito consegue estabelecer-se logo surgem outras formas de poema, romances, contos, peças de teatro trazendo perfis inovadores. A partir daí temos fatalmente que tecer novas teorias que tentarão dialogar com a prática.
As palavras põem realmente definir tudo? Na maior parte das vezes temos a certeza de que as palavras e as coisas constituem uma unidade. A literatura é uma manifestação mais radical da linguagem. Não podemos esquecer que há uma distância entre os símbolos e os seres simbolizados. Há uma frágil aliança aí. Há um limite. Uma irredutibilidade de cada ser.
O que é linguagem literária? A fuga do imediatismo, do estereótipo e da predictibilidade
Qualquer palavra, ou construção linguística, pode entrar em um texto e literalizá-lo? Sim embora algumas Escolas Literárias digam que não. Os parnasianos, por exemplo. A literatura é a porta para um mundo autônomo. Não transmite, cria.As palmeiras e o sabiá de Gonçalves Dias evocam em cada leitor suas palmeiras e seus sabiás. È como a Pasárgada de Bandeira. Na literatura as histórias não precisam ser verídicas ou inverídicas. A história narra o que aconteceu e a literatura o que podia ter acontecido. Há um diálogo também com a tradição literária.
Podemos falar de “Períodos Literários”? Sim.  As obras literárias de um certo tempo são permeáveis ao intercâmbio. Como também vêm as rupturas, as vanguardas. Cabe-nos apontar como a literatura foi concebida em diferentes momentos da história.
O que é teoria da literatura? São como portas para conhecermos melhor as possibilidades de interpretação para um texto. Existem as textualistas, como o Formalismo russo o foi (imanência);  as sociológicas como o existencialismo sartreano que pregava a ação social e até uma que firmou-se no final dos anos 60 chamada Estética da recepção. Os primeiros a delinear alguns conceitos sobre Literatura, especificamente, foram Platão (imitação da imitação) e Aristóteles (Catarse).
Letra de música pode ser considerada como um poema?  Eis aqui mais uma questão que traz a polêmica em seu bojo. Como podemos deixar de lado as Letras de Renato Russo, por exemplo? Se olharmos bem, os primeiros registros da poesia portuguesa, isto é, as nossas origens, são os registros das cantigas medievais. E então? É claro que perderam o acompanhamento musical e toda uma performance que as acompanhavam e enfrentam a exposição fria da impressão.
Quando um texto se torna um clássico? Isso envolve um juízo de valor. Tanto podem ter sido criados para uma elite como podem ter a tingido o povo, como o teatro grego, ou o de Shakespeare. Já o neoclassicismo foi elitista.
E um texto de teatro? Deve virar livro?
Quando a literatura popularizou-se? Romantismo.
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Sintam: “E agora que despi a minha musa saudosa dos véus do mistério do meu amor e de minha solidão, agora ela vai seminua e tímida entre vós, derramar em vossas almas os últimos perfumes do seu coração- ó meus amigos, recebei-a no peito, e amai-a como consolo que foi de uma alma esperançosa, que depunha fé na poesia e no amor- esses dois raios luminosos do coração de Deus.” (Álvares de Azevedo)


quarta-feira, 5 de março de 2014

30 poemas do Romantismo Brasileiro e seus respectivos autores

ANTOLOGIA DE POETAS ROMÂNTICOS NO BRASIL :



Gonçalves Dias - A minha musa, Canção do exílio, Se se morre de amor, A tempestade, Canção do tamoio, Olhos verdes.

Casimiro de Abreu: Canção do exílio. Meus oito anos, A valsa, Amor e medo.

Junqueira Freire: Meu filho no Claustro, Temor, Morte, O canto do galo.

Álvares de Azevedo: Se eu morresse amanhã, Soneto, Crepúsculo nas montanhas, Spleen e charutos, Namoro a cavalo.

Fagundes Varela:  O sabiá, A flor de maracujá, Poema, Cântico do calvário.

Castro Alves:  O gondoleiro do amor, Durante um temporal,Adormecida, Vozes D'áfrica, Navio Negreiro.

Tobias Barreto: A vista do Recife, A escravidão.


Vamos começar:

Gonçalves Dias: Canção do Tamoio I Não chores, meu filho...


Canção do Tamoio

I

Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.

II

Um dia vivemos!
O homem que é forte
Não teme da morte;
Só teme fugir;
No arco que entesa
Tem certa uma presa,
Quer seja tapuia,
Condor ou tapir.

III

O forte, o cobarde
Seus feitos inveja
De o ver na peleja
Garboso e feroz;
E os tímidos velhos
Nos graves concelhos,
Curvadas as frontes,
Escutam-lhe a voz!

IV

Domina, se vive;
Se morre, descansa
Dos seus na lembrança,
Na voz do porvir.
Não cures da vida!
Sê bravo, sê forte!
Não fujas da morte,
Que a morte há de vir!

V

E pois que és meu filho,
Meus brios reveste;
Tamoio nasceste,
Valente serás.
Sê duro guerreiro,
Robusto, fragueiro,
Brasão dos tamoios
Na guerra e na paz.

VI

Teu grito de guerra
Retumbe aos ouvidos
D'imigos transidos
Por vil comoção;
E tremam d'ouvi-lo
Pior que o sibilo
Das setas ligeiras,
Pior que o trovão.

VII

E a mão nessas tabas,
Querendo calados
Os filhos criados
Na lei do terror;
Teu nome lhes diga,
Que a gente inimiga
Talvez não escute
Sem pranto, sem dor!

VIII

Porém se a fortuna,
Traindo teus passos,
Te arroja nos laços
Do inimigo falaz!
Na última hora
Teus feitos memora,
Tranqüilo nos gestos,
Impávido, audaz.

IX

E cai como o tronco
Do raio tocado,
Partido, rojado
Por larga extensão;
Assim morre o forte!
No passo da morte
Triunfa, conquista
Mais alto brasão.

X

As armas ensaia,
Penetra na vida:
Pesada ou querida,
Viver é lutar.
Se o duro combate
Os fracos abate,
Aos fortes, aos bravos,
Só pode exaltar.



José Maria Ferreira de Castro e A selva : intersecções da literatura portuguesa com o Brasil


Vale a pena ler A Selva, um romance escrito por Ferreira de Castro e publicado pela primeira vez em 1930, A Selva talvez seja a obra mais importante do autor. O entrecho se resume no seguinte: Alberto, português e estudante de Direito de 26 anos, é obrigado, por causa de suas ideias políticas, a emigrar para Belém do Pará. Depois de morar com seu tio algum tempo, embrenha-se na floresta amazônica a fim de viver como seringueiro. E no seringal "Paraíso", às margens do rio Madeira, vive uma série de aventuras propiciadas pela mata virgem e pelo açodamento (precipitação descuidada) do sexo.

O autor
 
José Maria Ferreira de Castro aos 12 chega em Belém, depois, durante quatro anos viveu no seringal Paraíso, em plena selva , junto à margem do rio Madeira. Depois de partir do seringal Paraíso, viveu em precárias condições, tendo de recorrer a trabalhos como, colar cartazes, embarcadiço em navios do Amazonas etc. Volta a Belém, em 1914, e inicia ali sua vida literária. Ele mesmo distribuía os fascículos do seu livro. Frequentava o Cinema Olympia e os cafés do centro. Volta a Portugal e em 1926, lança, dentre outros livros, Sangue negro (1923), Emigrantes (1928) e A selva (1930), onde transformou sua em experiência vivida em experiência  imaginada e rememorada, dados concretos surgem modificados pela memória; o fundo verídico dá espaço à criação literária e a imagem do Brasil é refletida  numa espécie de neorrealismo português que Alves Redol, depois de uma temporada em Luanda,  afirmaria  em 1940, com seu romance Gaibeus. Emigrante, homem do jornalismo, mas sobretudo ficcionista, é hoje em dia, ainda, um dos autores com maior obra traduzida em todo o mundo, podendo-se incluir a sua obra na categoria de literatura universal moderna, precursora do neorrealismo, de escrita caracteristicamente identificada com a intervenção social e ideológica.

 
Obras:

·           Criminoso por Ambição

·           Alma Lusitana

·           Rugas Sociais

·           Mas ...

·           Carne Faminta (1922)

·           O Êxito Fácil (1923)

·           Sangue Negro (1923)

·           A Boca da Esfinge (1924)

·           A Metamorfose (1924)

·           A Morte Redimida (1925)

·           Sendas de Lirismo e de Amor (1925)

·           A Epopeia do Trabalho (1926)

·           A Peregrina do Mundo Novo (1926)

·           O Drama da Sombra (1926)

·           A Casa dos Móveis Dourados (1926)

·           O voo nas Trevas

·           Emigrantes

·           A Selva

·           Eternidade

·           Terra Fria

·           Sim, uma Dúvida Basta  -publicado em 1994

·           O Intervalo )- publicado em 1974

·           Pequenos Mundos, Velhas Civilizações

·           A Volta ao Mundo

·           A Tempestade

·           A lã e a neve (47)

·           A Curva na Estrada

·           A Missão

·           As Maravilhas Artísticas do Mundo

·           O Instinto Supremo

·           Os Fragmentos

segunda-feira, 3 de março de 2014

Oscar 2014 premia os melhores (segundo Hollywood)

Olha aí a lista completa de vencedores:

Melhor filme: "12 Anos de escravidão", de Steve McQueen
Melhor diretor: Alfonso Cuarón - "Gravidade"
Melhor atriz: Cate Blanchett - "Blue Jasmine"
Melhor ator: Matthew McConaughey - "Clube de Compras Dallas"
Melhor ator coadjuvante: Jared Leto - "Clube de compras Dallas"
Melhor atriz coadjuvante: Lupita Nyong'o - "12 anos de escravidão"
Melhor roteiro original: Spike Jonze - "Ela"
Melhor roteiro adaptado: John Ridley - "12 anos de escravidão"
Melhor animação: "Frozen - Uma aventura congelante"
Melhor filme estrangeiro: "A grande beleza", de Paolo Sorrentino
Melhor documentário: "A um passo do estrelato", de Morgan Neville
Melhor documentário em curta metragem: "The lady in number 6", Malcolm Clarke
Melhor curta-metragem: "Helium", Anders Walter
Melhor curta de animação: "Mr. Hublot", Laurent Witz e Alexandre Espigares
Melhor trilha sonora: Steven Price - "Gravidade"
Melhor canção original: "Let it go", de Kristen Anderson-Lopez e Robert Lopez, por "Frozen - uma aventura congelante"
Melhor edição de som: Glenn Freemantle - "Gravidade"
Melhor mixagem som: Skip Lievsay, Niv Adiri, Christopher Benstead e Chris Munro - "Gravidade"
Melhor direção de arte: Catherine Martin e Beverley Dunn - "O Grande Gatsby"
Melhor fotografia: Emmanuel Lubezki - "Gravidade"
Melhor maquiagem: Adruitha Lee e Robin Mathews - "Clube de Compras Dallas"
Melhor figurino: Catherine Martin - "O Grande Gatsby"
Melhor montagem: Alfonso Cuarón e Mark Sanger - "Gravidade"
Melhores efeitos visuais: Tim Webber, Chris Lawrence, Dave Shirk e Neil Corbould - "Gravidade"


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domingo, 2 de março de 2014

Rec Beat 2014

 Programação – Festival – Carnaval Recife 2014

  
Imagem: Divulgação Rec-Beat 2014
Arte Divulgação Rec-Beat 2014 por Fernando Peres
programação do Rec-Beat 2014, já está confirmada. O festival Rec-Beat, que todos anos é realizado no Cais da Alfândega (Recife Antigo), começa no dia 01 de março e vai até o dia 04. Um dos objetivos para a edição deste ano é dar voz a novos talentos.
Bruno Souto (Vocalista da Banda Volver), que no momento está trilhando carreira solo, Guadalupe Plata e Max Capote  foram as primeiras atrações confirmadas para o Rec-Beat 2014.
Antonio Gutierrez, produtor do Rec-Beat, confirmou também um “after” do evento, que vai acontecer em parceria com o projeto  Som na Rural. A programação completa depois de muito espera foi divulgada apenas hoje (19.02).

Programação do Rec-Beat 2014 Oficial

Confira abaixo a programação oficial com todas atrações do Rec Beat 2014. O Festival está na 19° edição.

Rec-Beat Sábado 01.03.2014

19h30 – DJ Cal Jader (Inglaterra)
21h – Juvenil Silva (PE)
22h – DAAU (Bélgica)
23h10 – Bruno Souto (PE). Confira no vídeo abaixo uma de suas atrações de sucesso:
00h30 – Mud Morganfield (EUA)

Rec-Beat Domingo 02.03.2014
16h – Recbtinho: Espetáculo “Circo de Lampezão e Maria Botina” – Caravana Tapioca (PE)
19h30 – DJ Tropicaza (México)
20h – Jonathan Doll (CE)
21h – Aninha Martins (PE)
22h – Guadalupe Plata (Espanha)
23h10 – Arrigo Barnabé (SP)
00h30 – Mundo Livre S/A (PE). A banda irá realizar uma apresentação especial no Rec Beat 2014 em comemoração aos 20 anos do “Samba Esquema Noise”. Confira abaixo uma da atrações de maior sucesso do grupo:

http://www.youtube.com/watch?v=kIIKAigKNw8

Rec-Beat Segunda 03.03.2014
16h – Recbtinho – Fadas Magrinhas (PE)
19h30 – DJ Felipe Machado (PE)
20h – Projeto Ccoma (RS)
21h – Lulina (PE)
22h – Max Capote (Uruguai)
23h10 – Manoel Cordeiro e os Desumanos (PA)
00h30 – Maite Hontelé (Colômbia)
Rec-Beat Terça 04.03.2014
16h – Recbtinho: Espetáculo “Brincando no Picadeiro “ – Caravana Tapioca (PE)
19h30 – DJ Renato Damata
20h – Boogarins (GO)
21h – Graxa (PE). Escute seu disco completo aqui:
 https://soundcloud.com/graxa
22h – Skip&Die (Holanda / África do Sul)
23h10 – João Donato (RJ/SP)
00h30 – Emicida (SP). Confira um dos clipes de maior sucesso do Rapper com a participação de Criolo

sábado, 1 de março de 2014

Brincantes do carnaval em Pernambuco




             Por Moisés Neto


Todo Carnaval é a mesma coisa: milhares e milhares de pessoas saem às ruas para expurgar suas mazelas, contagiadas por uma explosão de alegria, sensualidade e energia que parece não ter explicação. Mas, na verdade, tem. É remonta ao Brasil Colônia, quando os portugueses trouxeram para cá uma tradição europeia chamada entrudo, uma espécie de despedida dos prazeres da vida antes do período da quaresma.
Durante um outro período de três dias, a regra em aproveitar ao máximo tudo o que ficaria proibido durante a quaresma, especialmente a carne (no sentido literal e também no figurado, obviamente). Daí a origem da palavra carnaval do italiano carne vale, ou carne que vai. Um dos costumes da festa era jogar água e, mas tarde lima-de-cheiro, na famosa brincadeira de mela-mela, que perdurou por décadas.
Mas, até o enredo virar o Carnaval, muita coisa aconteceu. Devido à forte presença dos negros na colônia a festa foi sendo alterada como o tempo herdou da senzala ritmo e ironia. Tendo como álibi a ausência total de regras que caracterizava o período, os escravos começaram a trazer para as ruas manifestações religiosas e profanas típicas de seus países de origem, que eram proibidas em condições normais na vida colonial. E aproveitavam a festa também para ironizar de todas as formas os costumes de seus senhores, pintando os rostos de branco e vestindo-se como eles.
Dessas trelas é que teriam surgido, segundo vários historiadores, manifestações como o maracatu. ‘E da necessidade das senhoras e dos senhores curtirem o entrudo o Carnaval protegidos, surgiram os primeiros blocos’,  garante a música Gabriela Ataíde, que pesquisa o folclore carnavalesco.
Mais uma vez influenciada pelos costumes europeus, a festa incorporou no século 19, época do Brasil Império, o costume francês e italiano dos bailes carnavalescos, com representantes das classes mais altas usando máscaras e roupas elegantes. Outras heranças europeias foram as fantasias e os bonecos gigantes.
Barrado no baile, o povo continuava seus desfiles pelas ruas. Com o tempo, o prestígio dos bailes acabou decaindo e o Carnaval de rua ganhou um importante aliado: o automóvel. Institui-se a época dos corsos na folia momesca recifense, em que moças de família desfilavam suas fantasias e jogavam água por onde passavam, no trajeto que incluía a Rua Nova e a Rua da Imperatriz, entre outras.
Uma tradição originária da Europa, mais especificamente da Itália, é a la ursa chegou ao Brasil trazida por ciganos que vinham apresentar performances circenses no País. Nas horas vagas, para atrair a atenção de populares e conseguir algum dinheiro, esses grupos colocavam os animais para dançar. Atualmente, as apresentações contam com a presença de um caçador e um italiano, além do urso, todos com o mesmo objetivo: lucrar. É como diz a música de domínio público cantada pelos grupos: “A laursa quer dinheiro/ quem não der é pirangueiro”.
Já a tradição dos caboclinhos surgiu, conta-se, em 1897, quando o estivador Antônio da Costa fundou o primeiro grupo. Mas historiadores garantem que o costume foi disseminado entre os índios bem antes, pelo catolicismo, como uma forma de catequese. “A intenção era fazer com que os índios acreditassem em conceitos como ressurreição e vida após a morte”, diz Gabriela Apolônio, pesquisadora. Para isso, diz, eram criadas e encenadas histórias que invariavelmente tratavam de guerras entre tribos, morte e ressurreição dos guerreiros. Nas apresentações atuais, o costume é mantido pelo casal de caciques, que conduz a narrativa, acompanhados pelo porta-estandarte, à sua frente e seguidos por dois cordões de ‘índios’, vestidos com fantasias feitas de pêra de ema. Bastante coloridas, as roupas são compostas de tanga (e bustiê, para as meninas), atacas nos braços e pernas, além de grandes cocares adornando a cabeça. Nas mãos, os bailarinos carregam machadinhos e preacas de madeira, que marcam o rumo. Há também os caboclos de baque, que formam a banda, tocando flauta, tarol, surdos, chocalhos, caracaxá e zabumba.

 

Uma das mais recentes contribuições da cultura afro-brasileira ao Carnaval, o afoxé está ligado ao Candomblé da nação gueto, que até as décadas de 70 e 80 não tinha muita força em Pernambuco, segundo a pesquisadora Gabriela Apolônio. Traz bailarinos vestindo roupas que representam a indumentária de tribos africanas e também de santos e entidades cultuadas pela religião, além de uma banda composta quase que exclusivamente por percussão (atabaques).
Segundo o pesquisador Roberto Benjamim, assim como o afoxé, várias outras manifestações (de cunho religioso ou não) aproveitaram a folia generalizada dos dias momescos para sair, às ruas. Foi o caso, por exemplo, do bumba meu boi e dos pastoris, típicos do período natalino, e da ciranda, da época junina, que acabaram se rendendo à animação da festa.
“O Carnaval de Pernambuco tem sido o desaguadouro de folguedos de outros ciclos, que se desintegram de seus rituais de origem e vivem hoje reintepretados na festa aglutinante e plural”, diz Roberto Benjamim.
Uma das mais bonitas manifestações do Carnaval, reunindo música, dança e encenação, o maracatu é originário dos rituais de coroação dos reis negros, tradição mantida pelos escravos durante o período colonial. Alguns historiadores acreditam que esse ritual, ao contrário de vários outros da cultura africana, era estimulado pela Igreja Católica e pelos senhores de então, para evitar que os negros se rebelassem. “Cada paróquia regia uma determinada área da colônia e o costume era eleger um negro como líder de cada uma dessas freguesas para ‘comandar’ os demais”, conta a pesquisadora Gabriela Apolônio.
Depois da abolição, a coroação dos reis negros, realizada no ciclo de festejos de Nossa Senhora do Rosário, perdeu força. Mas não os desfiles, que acabaram ganhando o nome de maracatu, termo pejorativo criado pelos senhores e pela polícia da época que significava “reunião de pretos”.
A tradição não se perdeu com o tempo, mas se dividiu em duas correntes: a de baque solto ou rural e a de baque virado ou nação. A principal diferença entre as duas é a batida. “O rural, mais antigo e originário da Zona da Mata de Pernambuco, tem claras influências de outros ritmos e manifestações, como a Cambinda, também um cortejo real originário da festa dos reis negros”, diz Gabriela. Tem também forte ligação com a cultura canavieira.
A figura mais importante do maracatu de baque solto é o caboclo de lança, cuja missão é abrir caminho no meio da multidão. Eles vestem pesadas roupas bordadas manualmente com lantejoulas de todas as cores, chapéus com tiras de tecido ou plástico coloridas e carregam pesadas lanças também decoradas, além de chocalhos e badalos presos às costas.
Muitos levam também uma flor presa na boca e, para aguentar o ‘rojão’ das apresentações, alguns bebem uma mistura explosiva feita à base de cana e pólvora. Outras figuras que aparecem nesse maracatu são os caboclos de pena, as baianas, a dama da boneca e o mestre, a quem cabe puxar versos de improviso durante o desfile.
Já no maracatu nação há uma representação da corte africana, com rei, rainha, vassalos, delegado, capitão baianas e lanceiros. A percussão é mais pesada, com tambores e agogô. Entre os grupos mais antigos em atividade no Estado estão o rural Cruzeiro do Forte, de 1929, e os de baque virado Leão Coroado, com 150 anos, e Estrela Brilhante, de Igarassu, criado em 1824.
Rumo que virou sinônimo do Carnaval pernambucano, o frevo nasceu no meio da folia. Originário das marchinhas de Carnaval do século 19, surgiu nas ruas quando a disputa entre as agremiações e a animação dos foliões fizeram com que o compasso das marchas executadas nos desfiles fosse acelerado. A origem do nome teria vindo justamente daí, da efervescência da multidão. Mas isso foi só o começo. Com a contribuição de compositores como Capiba, o ritmo acabou ganhando, melodias mais elaboradas e letras inesquecíveis. Ganhou também as ruas e os bailes de Carnaval, além de muitas variações de rua, canção, de bloco.
As disputas entre as agremiações originou também os passos de frevo. “Era comum os blocos contratarem capoeiras para irem à frente, abrindo caminho”, conta Roberto Benjamim, pesquisador com vários estudos sobre o folclore brasileiro. Contagiados pela batida, eles acabaram transformando os golpes da luta em passos de dança. E o frevo nunca mais parou de animar o até hoje ‘fervido’ Carnaval do Estado.


Carnaval em Pernambuco (por Moisés Neto)





Carrego pra onde vou
O peso do meu som
Lotando minha bagagem
o Meu maracatu pesa uma tonelada de surdez
E pede passagem
o Meu maracatu pesa uma tonelada...
Sempre foi atômico
Agora biônico, e eletron-sansônico
Alterando as batidas
No azougue pesado
Em ritmo crônico
Tropa de todos os baques existentes
De longe tremendo e rachando os batentes
Mutante até lá adiante
Pois a zoada se escuta distante
Levando o baque do trovão
Sempre certo na contramão
Carrego pra onde vou
O peso do meu som
Lotando minha bagagem
o Meu maracatu pesa uma tonelada de surdez
E pede passagem
o Meu maracatu pesa uma tonelada
(Nação Zumbi)


É CARNAVAL!

O Carnaval do Recife é festa que vem do Brasil Colônia (portugueses trouxeram a Pernambuco a tradição européia: entrudo), um vale-tudo antes do período da quaresma. Em três dias tudo não permitido durante a quaresma. Haja mela-mela. A presença dos negros na colônia (senzala) trouxe novos ritmos. Na ausência de regras os escravos trouxeram para as ruas manifestações religiosas e profanas da África, que eram proibidas em condições normais na vida colonial. E aproveitavam a festa também para ironizar de todas as formas os costumes de seus senhores, pintando os rostos de branco e vestindo-se como eles. Daí o maracatu e da necessidade das damas e cavalheiros apreciarem o entrudo, o Carnaval, protegidos, surgiram os primeiros blocos e na época do Império, o costume francês e italiano dos bailes carnavalescos, com representantes das classes mais altas usando máscaras e roupas elegantes. Outras heranças européias foram as fantasias e os bonecos gigantes. Com o tempo o Carnaval de rua usou o automóvel: os corsos onde a família desfilava suas fantasias e jogavam água por onde passavam, no trajeto que incluía a Rua Nova e a Rua da Imperatriz, entre outras. Os corsos duraram até a segunda metade do século XX.
Uma tradição originária da Europa, mais especificamente da Itália, é a la ursa chegou ao Brasil trazida por ciganos que vinham apresentar performances circenses no país e colocavam os animais para dançar. Atualmente, as apresentações contam com a presença de um caçador e um italiano, além da fantasia de urso, todos com o mesmo objetivo: lucrar. É como diz a música de cantada pelos grupos: “A laursa quer dinheiro/ quem não der é pirangueiro”.
Os caboclinhos surgiram no final do século XIX quando o estivador Antônio da Costa fundou o primeiro grupo, mas já era praticado pelos índios bem antes, incentivado pelo catolicismo, como uma forma de catequese (fazer com que os índios acreditassem em conceitos como ressurreição e vida após a morte) para issoeram criadas e encenadas histórias que invariavelmente tratavam de guerras entre tribos, morte e ressurreição dos guerreiros. Nas apresentações atuais, o costume é mantido pelo casal de caciques, que conduz a narrativa, acompanhados pelo porta-estandarte, à sua frente e seguidos por dois cordões de ‘índios’, vestidos com fantasias feitas de pena de ema. Bastante coloridas, as roupas são compostas de tanga (e bustiê, para as meninas), atacas nos braços e pernas, além de grandes cocares adornando a cabeça. Nas mãos, os bailarinos carregam machadinhos e preacas de madeira, que marcam o rumo. Há também os caboclos de baque, que formam a banda, tocando flauta, tarol, surdos, chocalhos, caracaxá e zabumba.
Já o afoxé está ligado ao Candomblé da nação gueto, que até as décadas de 70 e 80 do século XX não tinha muita força em Pernambuco. Traz bailarinos vestindo roupas que lembram tribos africanas e também de santos e entidades cultuadas pela religião, além de uma banda composta quase que exclusivamente por percussão (atabaques).
Várias outras manifestações, de cunho religioso ou não, aproveitaram a folia generalizada dos dias momescos para sair, às ruas. Foi o caso, por exemplo, do bumba meu boi e dos pastoris, típicos do período natalino.
Misturando reunindo música, dança e encenação, o maracatu é originário dos rituais de coroação dos reis negros, tradição mantida pelos escravos durante o período colonial. Alguns historiadores acreditam que esse ritual, ao contrário de vários outros da cultura africana, era estimulado pela Igreja Católica e pelos senhores de então, para evitar que os negros se rebelassem. Depois da abolição, a coroação dos reis negros, realizada no ciclo de festejos de Nossa Senhora do Rosário, perdeu força. Mas não os desfiles, que acabaram ganhando o nome de maracatu, termo pejorativo criado pelos senhores e pela polícia da época que significava “reunião de pretos”.
A tradição não se perdeu com o tempo, mas se dividiu em duas correntes: a de baque solto ou rural e a de baque virado ou nação. A principal diferença entre as duas é a batida. A figura mais importante do maracatu de baque solto é o caboclo de lança, cuja missão é abrir caminho no meio da multidão. Eles vestem pesadas roupas bordadas manualmente com lantejoulas de todas as cores, chapéus com tiras de tecido ou plástico coloridas e carregam pesadas lanças também decoradas, além de chocalhos e badalos presos às costas. Muitos levam também uma flor presa na boca e, para agüentar o ‘rojão’ das apresentações e (alguns) bebem uma mistura explosiva feita à base de cana e pólvora. Outras figuras que aparecem nesse maracatu são os caboclos de pena, as baianas, a dama da boneca e o mestre, a quem cabe puxar versos de improviso durante o desfile.
Já no maracatu nação há uma representação da corte africana, com rei, rainha, vassalos, delegado, capitão, baianas e lanceiros. A percussão é mais pesada, com tambores e agogô. Entre os grupos mais antigos em atividade no Estado estão o rural Cruzeiro do Forte, de 1929, e os de baque virado Leão Coroado, com 150 anos, e Estrela Brilhante, de Igarassu, criado em 1824.
O frevo nasceu das marchinhas de Carnaval do século XIX, surgiu nas ruas quando a disputa entre as agremiações e a animação dos foliões fizeram com que o compasso das marchas executadas nos desfiles fosse acelerado. A origem do nome teria vindo justamente daí, da efervescência da multidão. Com a contribuição de compositores como Capiba, o ritmo acabou ganhando, melodias mais elaboradas e letras inesquecíveis. Ganhou também as ruas e os bailes de Carnaval, além de muitas variações de rua, canção, de bloco.
As disputas entre as agremiações originou também os passos de frevo. Era comum os blocos contratarem capoeiras para irem à frente, abrindo caminho e o frevo completou cem anos em 2007.

por Moisés Neto