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domingo, 13 de julho de 2014

MAS NÃO DEMORES TANTO (Poema de Lucila Nogueira)

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O corpo - dizem - já não será mais o mesmo
em seu reflexo exterior,
mas alguma coisa se diga das cavernas fosforescentes
que navegam a fome do demônio
na hora do seu resplendor


Olha o meu corpo antigo na curva do chafariz
ou no leme do navio.
Eu sou um pássaro noturno perturbado.
Eu te ofereço os meus seios muito brancos
numa escada secreta do mar Cáspio.


Alguém falou de um modo descuidado
e as gárgulas de Notre Dame
contornaram os mamilos
como breves e clandestinos fogo-fátuos.


O corpo - dizem - já não será o mesmo,
desesperadamente eu te desejo
enquanto navego rochas subterrâneas
à beira da consciência humana
e o racha da atmosfera interfere na faixa luminosa
bem no centro da tela da televisão que se quebrou.


Porque naquele tempo
o amor era como um príncipe bêbado e forçosamente hindu
ele era como a voz rouca de Dioniso
fazendo soar as teclas do piano austríaco
abandonado na passarela vermelha
de um carnaval de plumas na rua do Bom Jesus.


Saí pelo ancoradouro embriagada
arrastando candelabros escarlates
no rio de letreiros luminosos
enquanto a chuva batia no bico duro daqueles seios
ardendo sempre de tanto amor.


Todos eram demais e não sabiam
mas quando tu me pegaste forte
eu me surpreendi tímida
e até hoje estou fugindo entre palmeiras
pelas estradas líquidas do vinho e do neon.


Digo que continua urgente a ilusão desse momento
acometido de inenarráveis confissões.
Utopia presa na cartilagem úmida,
quando tua boca recobrir o seio
seremos então as duas outras faces
de uma mesma única possessão,
como uma estória colada na outra
enquanto se lambe o lacre da carta escrita na infância
que uma água subitamente morna quase apagou.


Como dizer, sem te estranhar: recusa-me
que a dama nua ao telefone pode estar no transe
a que tanto aspiras sob o vermelho das lanternas
enquanto a chuva cobre os telhados à beira-mar.
Tudo agora se tornou tão urgente
que dói a espera imemorial das bonecas
sobre a madeira escura
imóveis mas não inertes
a aguardar seu número de magia
quebrando a banalidade dos noticiários da televisão.


A blusa de cetim verde tem um decote de princesa judia
assassinada nua em campo de concentração
esplêndido violinista, vamos enlouquecendo devagar.
A blusa de cetim verde deixa entrever
a parte morta da carne branca
sob a luz do globo fosforescente
girando sobre os dançarinos
amanhã invisíveis do bar Royal.


Fecha os olhos e pensa no que quiseres
enquanto as mãos e as bocas
cumprem roteiros de miragens desérticas,
enquanto eu toco novamente
o meu piano austríaco na calçada do cais
e o mar quase arrebenta as janelas dalinianas
do Armazém XIV.


Porque o espírito há-de ser sempre o mesmo
eu desafio a tua preferência
e a blusa de cetim verde sem meu corpo dentro
tem ainda um oceano de lantejoulas
refletindo a vibração da pele
que por alguns momentos a habitou.


Dragão gigante
língua demoníaca
união clandestina
avesso encantamento
abismo vulcânico
onde a partitura se desfez em notas a cobrir a pauta
que guia o violoncelista ao Palácio de Cristal.


Fecha os olhos e beija-me de modo frágil
porque tudo se tornou mais urgente
desde o Museu Serralves
e os desenhos rosa do mármore
revelam caminhos recifenses da pele emparedada
sonhando o êxtase da ressurreição.


O teu olhar tem o mesmo brilho de um atirador de facas
enquanto giro na roda sobre mim mesma
dramaticamente presa nas cordas
ao som de Tchaicovski na Abertura 1812.


O teu olhar é como um sino milenarmente gigante
rondando os patamares da Régua
até a calçada de Copacabana,
o teu olhar é como um barco viking pedindo enseada
desde os coqueiros do Recife
até os verdes pinheiros galegos
que deram sombra ao romance dos meus bisavós.


Sei que hás de vir sob a neve enluarada
conduzindo lanterna no pescoço do cavalo branco
e me tomarás a galope em tua capa de veludo escuro
enquanto no circo abandonado
a trapezista continuará dormindo
completamente nua
na jaula dos leões.


Sei que hás de vir ferozmente enfeitiçado
nesse rapto anunciado para cruzar as águas do Capibaribe ao Douro
e dançaremos à luz de um candelabro de sete braços
até o sol secar as sete saias
tiradas ao som de sete violinos
durante as sete noites da encantação.


Mas não demores tanto.
Que amar é a arte
de se fazer presente
e tudo aquilo que precisamos
é de poesia
loucura e ênfase
no ato heroico de reabrir as portas
da carne mansa que se equivocou.


Que o corpo - dizem - já não será o mesmo
e o que era assédio pode retemperar-se em fuga
e até nós – dizem – não seremos os mesmos
no estranho instante de raio laser
em que chegar sem aviso o prazer da manhã.


Do livro: Poesia em Medellin, 2006. Arte e editoração:  
  

JMB: "tudo na Bahia pode tornar-se deflagrador"

PORQUE SOMOS e NÃO SOMOS P E B A S
Jomard Muniz de Britto, jmb


 
Ignorando o legítimo significado de palavra tão
minúscula, decidimos encarar o Dicionário HOUAISS
da Língua Portuguesa.
Tendo origem tupi o vocábulo PEBA pode até
nos desorientar entre “o sem valor e/ou sem importância;
reles, ordinário, plano, liso, largo...”
Porém na década dos 70 do passado século nas
Jornadas de Cinema do Guido Araújo na Bahia
para o mundo, os mais gozadores superoitistas
começaram a designar produções cinematográficas
entre o Recife e Salvador de PEBA: no plural.
Pernambuco/Bahia sem barras.
Ironia amorosa? Sarcasmo constrangedor?
Hoje podemos até admitir, segundo o multiartista
Sérgio Lemos, que se trata bem e mal de uma idiotia.
Idiossincrasias? Impertinências?
Sejamos então os eternos idiotas das mais fecundas
famílias entre o conservadorismo dos rituais e a
irreverência deflagradora em performatividade.
Denomina-se PEBA para indiciar sob e sobre a
pele das imagens, ora documentários “valente como o galo”,
ora palhaços degolados em transe memorial.
Mas talvez a palavra-chave-sem-clichê
para reaproximar, libidinosamente, essas duas
culturações seja o verbo DEFLAGRAR: o mais usado
entre a Sorveteria CABANA e uma Livraria na Praça
Castro Alves. Deflagrações. Conflagrações.
De Gregório de Mattos e Guerra a João Carlos
Teixeira Gomes, nosso JOCA dos amigos e outros,
poeta e biógrafo do vulcânico GLAUBER, tudo nele
e através deles se irradiaria assumindo dilacerações.
Porque tudo na Bahia pode tornar-se deflagrador.
Entre Vivaldo da Costa Lima, dos santos Cosme e
Damião e o Pai de O Tempo no Pelourinho.
Tudo na Bahia faz a gente querer mais Dedé Gadelha,
TRANSmusa dos Tropicalismos. Artes Expandidas.
SER PEBA é continuar experimentando sem a pré-
ocupação de ser experimental pela reinvenção de
linguagens atravessando contemporaneidades.
 
Recife, julho de 2014.

Barthes e o fetichismo no ato de ler

Roland Barthes aponta como errado encarar a leitura como sendo dever, quando deveria ser liberdade, tanto quanto não ler.

Quem lê com prazer transaria fetichismo...  com a obra (palavras, suspense, gozo  e até... vontade de escrever, quem gosta do que lê deseja o desejo do autor:   o ame-me de toda escritura).

sábado, 12 de julho de 2014

A invasão holandesa: o grande moinho vai girar suas pás



O time laranja reunido no momento da disputa de pênaltis
Essa turma promete, mete, garante?




A poucos minutos da última partida da Copa 2014, no Brasil, volta o temor em relação aos holandeses, que ocuparam parte do Brasil de 1630 a 1654, trazendo muitos progressos ao Recife e recebendo crítica pesada de muitos portugueses, como o então jovem Padre jesuíta Antônio Vieira, barroco até no olhar.
Hoje teremos um jogo icônico, de uma forma ou de outra: é a potência de milhões de brasileiros que está em xeque. Nosso time é apontado como frágil emocionalmente e despreparado como equipe.
Para quem acha tudo isso uma bobagem, Cláudia Raia, que está em Recife com o mega musical Crazy for you, programou uma sessão na mesma hora do início do jogo e declarou na TV Globo local (com os cabelos à Marilyn Monroe): "quem se importa com um terceiro lugar?"
 É  a laranja mecânica na TERRA DOS PAPAGAIOS gaiatos, como disse um amigo meu?

Rebeldes: jovens de ambos os sexos, de 16 a 19 anos, afirmam se recusar a prestar o serviço militar em Israel



Em documento endereçado ao primeiro ministro Binyamin Netanyahu e ao povo de Israel, dezenas de jovens de ambos os sexos, de 16 a 19 anos, afirmam se recusar a prestar o serviço militar porque são contra à ocupação dos territórios palestinos.

Esta é outra onda de recusa ao serviço militar, houve uma bem forte em 2001: muitos soldados da reserva se negaram a participar das ações militares de Israel na Cisjordânia e também na Faixa de Gaza, durante a assim chamada Segunda Intifada, um  levante palestino.

Essa Recusa 2014 foi divulgada em 9 de julho e o número de assinantes está aumentando.
O serviço militar é para quem acaba o Ensino Médio.

 

Recife, receba Crazy for you de braços abertos!

Crazy For You tem Cláudia Raia e Jarbas Homem de Mello interpretando os papeis principais (Polly e Bobby Child). Ele, um riquinho de Nova York que, forçado pela mãe, vai a Pedra Morta, no oeste americano, por uma dívida de família para fechar o teatro local. Mas ele termina se apaixonando por Poppy, filha do dono do teatro.


Que bom ver alguém lutando pelo teatro com tanta garra. Fui cheio de preconceito, eu já tinha assistido uma montagem em Londres e pensei: para que novamente. Foi pura diversão ao som e visual dos mais belos para descansar meus olhos nessa sexta-feira enluarada.
Foi muito bom e aconselho aos recifenses a assistir.
Escutar aquelas canções maravilhosas dos Irmãos Gershwin, George e Ira, traduzidas aqui por Miguel Falabella. Ah, a coreografia é a original da Broadway.
O que importa é ter ao alcance essa obra de arte. Pode parecer algo sem profundidade, esqueça. Vá prestigiar quem vem nos visitar, mesmo que a negócio, com essa arte maravilhosa que é o teatro!
Domingo eu fui assistir a montagem de A Falecida com Lucélia Santos, de quem gosto muito, mas não saí tão satisfeito quanto hoje.
Parabéns, Cláudia, Jarbas e todos os que compõem esse espetáculo!
Detalhe: Cláudia agendou uma sessão para a mesma hora em aque Brasil e Holanda disputarão o terceiro lugar na Copa do Mundo 2014 e disse à imprensa: "quem se importa com esse terceiro lugar?"


sexta-feira, 11 de julho de 2014

Lirismo em Paulo Leminski


 
A lua no cinema


A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.

Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!

Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava pra ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.

A lua ficou tão triste
com aquela história de amor,
que até hoje a lua insiste:
- Amanheça, por favor!