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domingo, 17 de setembro de 2023

Moisés Monteiro de Melo Neto fala sobre o show do Recife de Amy Winehouse

 

Lembro do dia que assisti ao show de Amy no Recife, 13 de janeiro de 2011. Uau! Eram mais de 12 mil pessoas (a quarta apresentação de La Winehouse, no Brasil. Primeiro não acreditei quando soube que ela viria, depois, mesmo estando ali na primeira fila, ainda estava incrédulo, com todos os boatos sobre a fragilidade dela, que queria morrer e estava tomando todas. Amy e aquela banda incrível. Thalita Gadelha Taveira ganhou o prêmio pela melhor caracterização de Amy e estava lá também explodindo de emoção com tudo aquilo que estava rolando à nossa frente. A nossa cantora inglesa tão querida tentando fazer um quatro com as pernas (para provar que apesar de ter tomado uns drinks ainda estava bem) levou um tombo, mas tudo bem. O show, na verdade, começou e durou cerca de uma hora e meia; foi o mais longo em Pindorama; Recife ficou babando. Quando os músicos fizeram a introdução da música Shimmy Shimmy Ko Ko Bop para ela entrar e ela apareceu com aquele vestido amarelo (nossa! E que vestido! Bem decotado, colado no corpo sensual, meio detonado pela estrada felliniana da vida louca daquela diva...) eu fiquei sem fôlego. Ela parecia, sei lá, não estar ali. Foi uma encruzilhada muito doida, e eu fiquei meio zonzo, com o astral dela. Elétrica, como o jazz, blues, vida rock´n´roll, nem sei mais...

 

Moisés Monteiro de Melo Neto apreciando imagem de cera de Amy


Na hora de Black to Black... me deu uma vontade de chorar. Sou assim, sentimental e amo meus ídolos com uma força imensa que deus me dá. E lá vem aquela garota, na casa dos 27, a me matar com suas melodias fascinantes, parecia ler minha alma com aquelas palavras. Como não lembrar de Janis Joplin?  Just Friends me levou às lágrimas, embora eu tentasse manter certo distanciamento crítico. Ela dava sinais de bebedeira...

 

O público urrava, batia palmas, o Centro de Convenções recebia aquela pequena enorme dama da música e eu perdia os sentidos e os reencontrava mil vezes, ali, com ela a uns dois metros de distância, prevendo que em julho ela morreria. Sua quase inevitável caneca, com seu coquetel favorito (da pesada!) ela pegava e tomava um gole entre uma música e outra (little girl blue...), às vezes até gargarejava se deliciando com aquele líquido tão... ambrosia em suas propriedades. Ah! Como eu queria abraçá-la! Lá estava o backing vocal Zanon, que cantou as quinta e sexta músicas em cerca de sete minutos no domínio do show. Amy saíra e volta cheia de gás. Sim, e aí começou a interagir ainda mais com a gente, aqui, em Recife.  Meninos, eu vi e ouvi. Foi incrível. Até hoje me arrepio com a força daquela mulher! E foi nessa reentrada que ela danou Rehab e nós cantamos com toda força, o hino da decadência elegante e atroz dela. Daí ela começou uns lances meio estranhos do tipo dar pausas maiores e  falar mais com os músicos, se escorar em seu querido Zanon, a interromper as músicas, como se estivesse confusa ou com má vontade. A gente entendia e não queria uma máquina. Ela era feita de carne e estava dando um show de talento. Então começou também a não cantar as músicas até o fim. Ulalá! E abraçava Zanon, beijando-o carinhosamente, como irmão, que ele era... naquele palco, no recife, ali pertinho de onde morreu Chico Science, Centro de Convenções, entre Recife e Olinda. Ai, meu Deus. Será que ela iria conseguir ir até o fim do show? Fiquei na torcida; ela parecia estar brincando com a vida. Agradecia aos fãs, ao público e se voltava para os outros músicos da banda dando hiatos à apresentação.

 

Por volta da décima música, Sam and Amy, a cantora mais uma vez saiu do palco e ficou confusa quanto ao local exato da saída na coxia; foi meio patético, meio trágico, meio... nem sei... lances de amor e morte, entendem? Eu estava me despedindo dela, eu sabia, ela era como uma grande amiga, daquelas que a gente vê pouco. Zanon assumiu a cena geral e mandou brasa e a gente ficou pensando se ela ia voltar ou não. Ele ficou fazendo hora e aproveitou para apresentar o grupo. Depois de quase dez minutos, ela voltou ligadíssima e beijou Zanon, como brother, dá um giro e... (parecia uma menina bailarina!) cai, mas levanta-se bem rápido e volta a dançar (deu para ver hematomas, de outras quedas e acidentes assim, nas suas pernas). Foi até o fim e eu saí extasiado com ela. Viva Amy Winehouse! Que descanse em paz e viva para sempre, possibilidade que a arte oferece aos seus sacerdotes!”

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