Prof. Dr. Moisés
Monteiro de Melo Neto
O que é Crítica Literária? É a apreciação fundamentada do
méritos e das falhas, qualidades e defeitos de uma obra literária; inclui vetores
distintos que também entram em tensão e até se contradizem
Critica-se o Humano
Crítica não é interpretação, apenas.
Crítica precisa ser publicada. Ela tem função social.
Crítica Literária no Brasil do século XIX até a 1ª metade
do século XX foi fundamental para a construção da Identidade Nacional (por
exemplo: o Indianismo, a Semana de 22 etc.). Hoje ela está ligada (a
jornalística) à mídia da Indústria Cultural.
Crítica Literária pode ser:
ACADÊMICA: rigorosa, não visa um público mais amplo, nem
se preocupa com espaço (tamanho); é mais difícil (sua compreensão por um
público leigo (por exemplo).
JORNALÍSTICA: Cada vez mais enxuta, mais superficial,
parece propaganda, às vezes.
BLOG: cada vez mais difícil de se qualificar (cada um diz
o que quer), sem fundamentação, na maioria.
A Crítica Literária busca a neutralidade? Emite um valor?
(a ausência de valores é também um VALOR?)
A Crítica Literária pode ser NORMATIVA (compromisso com a moral, com o social, o bom, o belo,
faz as pessoas melhorarem/ valor, não é fácil excluir a normatividade, perde-se
assim o aspecto valorativo da crítica? O crítico não pode abrir mão de um
conceito forte de Literatura?) ou IMANENTE
(que está inseparavelmente contido
na natureza de um ser ou de um objeto; inerente).
A crítica Imanente pede
apenas coerência interna. Hoje é essa que os críticos preferem; a obra
criticada é considerada a partir de si mesma e não segundo padrões da Poética
tradicional, por exemplo. Hoje ela se aproxima da lógica da Indústria Cultural.
Seria
toda crítica valorativa? É o que nos parece. Por mais subjetiva que seja (visão
do sujeito singular), ela projeta um “deve-ser”, que vai da minúcia textual até
uma visão diferente de mundo, como nos sugere Fábio Ackcelrud Durão no seu
livro O que é Crítica Literária? São
Paulo: Nankin Editorial, 2016, p. 19)
Erudição
e conhecimento técnico são fundamentais para a crítica, assim como imaginação formuladora
de hipóteses/experiência. Não é apenas descritiva nem “paráfrase do enredo”, lista
dos atributos e/ou defeitos da obra. Mas o que é pode a crítica? Ela destrincha
enredo, analisa personagens, organiza linha do tempo, mapeia o espaço, observa
traços recorrentes, estilo etc., formula hipóteses apontando algo despercebido,
sugere Durão.
Crítica
e obra = a uma relação complexa. A primeira também é ambiciosa e, às vezes,
quer a palavra final, mas no futuro surgem outras com o mesmo propósito (de
querer desvendar o que há de interessante na obra.
A
crítica literária não é subserviente à literatura, da qual ela é agente
transformador (do conceito de Literatura). Ela também pode ter algo de
literária, como sugere Roland Barthes nos capítulos de Fragmentos de um Discurso Amoroso (Rio de Janeiro: Francisco Alves
Editora, 1991), seria quase como se pudesse ser lida como objeto literário em
si.
A
crítica literária tem que dar atenção extrema ao texto, ter familiaridade com
ele. Lembrando que não há nada garantido na Literatura. Ela deve observar que,
dentre tantas outras coisas, o que é, por exemplo, estereotipia ali, o que são
fórmulas aprovadas pelo público, “pré-moldados discursivos de eficácia
garantida” (DURÃO, p. 22).
Há
várias escolas críticas: a psicanalítica, a sociológica, também a filosófica
(estabelecimento da filosofia como saber que explica o mundo, ao contrário da
mitologia).
A
crítica pressupõe alguma estigmaticidade
das obras.
O
passado não é algo estanque. Ele pode ser desconcertante e até insólito.
As
dobras ideológicas podem estar em locais quase insuspeitos. Vejamos o caso da
demarcação de tempo do calendário gregoriano (calendário de origem europeia, utilizado oficialmente pela maioria dos
países. Foi promulgado pelo Papa Gregório XIII a 24 de fevereiro do ano 1582,
por uma bula, em substituição do
calendário juliano implantado pelo líder romano Júlio César em 46 a.C.):
ele é Cristocêntrico, e foi superado
pela marcação E.C. (era comum, substitutivo dos tradicionais a. C. / d. C).
A origem da literatura vem do culto e da magia, mas seu
caminho tem sido o da secularização.
Toda obra ambiciosa tem caráter enigmático. Ex.: “Por que
esta história está sendo contada deste modo?”.
A crítica literária é contra o utilitarismo, que só
reconhece a finalidade imediata das coisas, diz que a literatura não serve para
nada, assim como os estudos sobre ela.
É interessante observarmos também a história da alegoria (alegoria:
figura de linguagem de uso retórico, ela sugere a virtualização do significado,
ou seja, sua expressão comunica um ou mais sentidos além do literal), que se
confunde com a da crítica (Platão diz que a poesia nada tem a contribuir a alma do
indivíduo, ao contrário, traz malefícios prejudicando a alma. Sendo que é a alma que deve conduzir o homem ao
conhecimento. O filósofo estudou a poesia de Homero no
Livro X da República, e tentou
excluir totalmente a poesia do sistema educacional grego. Esse ataque crítico
de Platão à poesia de Homero apresenta argumentos para excluir a poesia do
sistema educacional grego, mas não podemos esquecer a importância da educação
homérica para a formação da Grécia Antiga, a
Ilíada como base para a formação do indivíduo, bem como o ideal de homem
grego e a forte influência da arte/ literatura na formação do homem e as
contribuições de Homero para a formação do homem grego. Para Platão, a poesia destruía a parte mais valiosa do
indivíduo, a racionalidade).
A
República reproduz a narrativa feita
por Sócrates a um interlocutor (anônimo) sobre a conversa de que participou no
dia anterior, na casa de um estrangeiro que conheceu a prosperidade em Atenas. É
a última parte da investigação à procura da definição do que é a justiça
e dos seus benefícios que esta traz em si mesma; isso se dá no decorrer de um
diálogo, conclui também as questões a respeito da poesia. O livro X
encerra a República.
Tanto
a alegoria quanto a crítica acrescentam nova carga de sentido (o texto diz mais
do que aparenta.
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