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segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Fundamentos da Crítica Literária

 


Prof. Dr. Moisés Monteiro de Melo Neto

 

O que é Crítica Literária? É a apreciação fundamentada do méritos e das falhas, qualidades e defeitos de uma obra literária; inclui vetores distintos que também entram em tensão e até se contradizem

Critica-se o Humano

Crítica não é interpretação, apenas.

Crítica precisa ser publicada. Ela tem função social.

Crítica Literária no Brasil do século XIX até a 1ª metade do século XX foi fundamental para a construção da Identidade Nacional (por exemplo: o Indianismo, a Semana de 22 etc.). Hoje ela está ligada (a jornalística) à mídia da Indústria Cultural.

Crítica Literária pode ser:

ACADÊMICA: rigorosa, não visa um público mais amplo, nem se preocupa com espaço (tamanho); é mais difícil (sua compreensão por um público leigo (por exemplo).

JORNALÍSTICA: Cada vez mais enxuta, mais superficial, parece propaganda, às vezes.

BLOG: cada vez mais difícil de se qualificar (cada um diz o que quer), sem fundamentação, na maioria.

A Crítica Literária busca a neutralidade? Emite um valor?  (a ausência de valores é também um VALOR?)

A Crítica Literária pode ser NORMATIVA (compromisso com a moral, com o social, o bom, o belo, faz as pessoas melhorarem/ valor, não é fácil excluir a normatividade, perde-se assim o aspecto valorativo da crítica? O crítico não pode abrir mão de um conceito forte de Literatura?) ou IMANENTE (que está inseparavelmente contido na natureza de um ser ou de um objeto; inerente).

A crítica Imanente pede apenas coerência interna. Hoje é essa que os críticos preferem; a obra criticada é considerada a partir de si mesma e não segundo padrões da Poética tradicional, por exemplo. Hoje ela se aproxima da lógica da Indústria Cultural.



 II

Seria toda crítica valorativa? É o que nos parece. Por mais subjetiva que seja (visão do sujeito singular), ela projeta um “deve-ser”, que vai da minúcia textual até uma visão diferente de mundo, como nos sugere Fábio Ackcelrud Durão no seu livro O que é Crítica Literária? São Paulo: Nankin Editorial, 2016, p. 19)

Erudição e conhecimento técnico são fundamentais para a crítica, assim como imaginação formuladora de hipóteses/experiência. Não é apenas descritiva nem “paráfrase do enredo”, lista dos atributos e/ou defeitos da obra. Mas o que é pode a crítica? Ela destrincha enredo, analisa personagens, organiza linha do tempo, mapeia o espaço, observa traços recorrentes, estilo etc., formula hipóteses apontando algo despercebido, sugere Durão.

Crítica e obra = a uma relação complexa. A primeira também é ambiciosa e, às vezes, quer a palavra final, mas no futuro surgem outras com o mesmo propósito (de querer desvendar o que há de interessante na obra.

A crítica literária não é subserviente à literatura, da qual ela é agente transformador (do conceito de Literatura). Ela também pode ter algo de literária, como sugere Roland Barthes nos capítulos de Fragmentos de um Discurso Amoroso (Rio de Janeiro: Francisco Alves Editora, 1991), seria quase como se pudesse ser lida como objeto literário em si.

A crítica literária tem que dar atenção extrema ao texto, ter familiaridade com ele. Lembrando que não há nada garantido na Literatura. Ela deve observar que, dentre tantas outras coisas, o que é, por exemplo, estereotipia ali, o que são fórmulas aprovadas pelo público, “pré-moldados discursivos de eficácia garantida” (DURÃO, p. 22).

Há várias escolas críticas: a psicanalítica, a sociológica, também a filosófica (estabelecimento da filosofia como saber que explica o mundo, ao contrário da mitologia).

A crítica pressupõe alguma estigmaticidade das obras.

O passado não é algo estanque. Ele pode ser desconcertante e até insólito.

As dobras ideológicas podem estar em locais quase insuspeitos. Vejamos o caso da demarcação de tempo do calendário gregoriano (calendário de origem europeia, utilizado oficialmente pela maioria dos países. Foi promulgado pelo Papa Gregório XIII a 24 de fevereiro do ano 1582, por uma bula, em substituição do calendário juliano implantado pelo líder romano Júlio César em 46 a.C.): ele é Cristocêntrico, e foi superado pela marcação E.C. (era comum, substitutivo dos tradicionais a. C. / d. C).

A origem da literatura vem do culto e da magia, mas seu caminho tem sido o da secularização.

Toda obra ambiciosa tem caráter enigmático. Ex.: “Por que esta história está sendo contada deste modo?”.

A crítica literária é contra o utilitarismo, que só reconhece a finalidade imediata das coisas, diz que a literatura não serve para nada, assim como os estudos sobre ela.

É interessante observarmos também a história da alegoria (alegoria: figura de linguagem de uso retórico, ela sugere a virtualização do significado, ou seja, sua expressão comunica um ou mais sentidos além do literal), que se confunde com a da crítica (Platão diz que a poesia nada tem a contribuir a alma do indivíduo, ao contrário, traz malefícios prejudicando a alma. Sendo que é a alma que deve conduzir o homem ao conhecimento. O filósofo estudou a poesia de Homero no Livro X da República, e tentou excluir totalmente a poesia do sistema educacional grego. Esse ataque crítico de Platão à poesia de Homero apresenta argumentos para excluir a poesia do sistema educacional grego, mas não podemos esquecer a importância da educação homérica para a formação da Grécia Antiga, a Ilíada como base para a formação do indivíduo, bem como o ideal de homem grego e a forte influência da arte/ literatura na formação do homem e as contribuições de Homero para a formação do homem grego. Para Platão, a poesia destruía a parte mais valiosa do indivíduo, a racionalidade).



A República reproduz a narrativa feita por Sócrates a um interlocutor (anônimo) sobre a conversa de que participou no dia anterior, na casa de um estrangeiro que conheceu a prosperidade em Atenas. É a última parte da investigação à procura da definição do que é a justiça e dos seus benefícios que esta traz em si mesma; isso se dá no decorrer de um diálogo, conclui também as questões a respeito da poesia. O livro X encerra a República.

Tanto a alegoria quanto a crítica acrescentam nova carga de sentido (o texto diz mais do que aparenta.

 

 

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