Só
nos tratam com delicadeza quando nos enterram. Há sempre uma forçada comoção,
uma saudade obrigatória. Às vezes nos dão o líquido sagrado da vista, nos
mandam flores e mensagens em letras de ouro ou de prata, que é mais barata. As
pedradas da vida transformam-se em pedrinhas, ou fina areia, que escorrem
dentre os dedos sobre o nosso corpo. E se cai uma chuva fina, o sacrifício pode
ser maior: molham-se por nós... o retábulo torna-se perfeito e banal. A cena
clássica e vulgar: umbrelas negras, impermeáveis sobretudos... enlameiam-se por
nós, podem até fazer uma oração por nós. De longe a gente enxerga a ternura da
compaixão. A delicadeza desaba de peneiras celestes e todos nós ficamos tão
bons, ótimos mesmo; sem as presenças nem as diferenças, nem o incômodo de
suportar os vivos todos os dias. Tolerar!... Quanta intolerância nestes dias,
meu irmão.
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