Carlos Bartolomeu
Ainda pensamos o teatro, o vivenciamos e o fazemos,
com o olho e o desejo voltado para as fontes mais antigas do teatro ou para as
idéias que de longe, dos centros de criação europeus ou americanos (e sulistas)
nos são enviadas.Nós, criadores da metrópole-Recife, já tivemos o tempo
necessário, e mais que o tempo físico, o tempo interior para nos desvincularmos
desse ordenamento, dessa imposição cultural, externa.
Reconhecermos a importância das construções de
outros espaços, de criadores estranhos a nossa cultura e realidade, não implica
necessariamente numa tomada de posição comprometida com a repetição dos achados
teóricos e práticos dessas matrizes. Uma atitude conscientemente pirata é a
origem de nossa canibalizada modernidade. Somos nossa matriz.
Carlos Bartolomeu e Moisés Monteiro de Melo Neto
O
teatro feito por nós precisa menos dessa muleta cultural para se resolver
enquanto arte. Precisamos sim, revelarmos a nós mesmos, o quanto de
subserviente e colonizado existe em nossa artisticidade, quando aquiescemos em
reverenciar a continuidade desse modelo.
É
sempre no outro, no ser ausente, de língua estranha, de costas voltadas pra nós
que apontamos nossa busca, imaginamos nosso acerto. Recriamos sempre a ilusão,
que tudo é mais próximo quando instalado na casa vizinha, na sala do
adversário, no quarto das babás importadas. Estripemos as babás e envenenemos
os seus chás.
Dificilmente a realidade artística é tomada
sob nossa responsabilidade e assumida como nossa cria. Abrimos mão de sermos
fabricantes de nossa receita. de nossa própria identidade criativa, mesmo
aquela que é pirateada ou híbrida.
O
teatro é um jogo, uma brincadeira (está bem, me proponham a adjetivação:
séria!), onde se faz necessário apenas, parceiros, espaço e toda uma vida...O
dolo é fingirmos acreditar que isso, só é possível no quintal do vizinho.
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