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domingo, 20 de outubro de 2013

Quem matou Norma Bengell?

Poema para Norma Bengell
 (por Moisés Neto)

Viverás para sempre
Na tela de vários formatos
Desceste ao Hades
Mas teus Orfeus cantarão tua glória
Estás aonde poucos podem ir
Uma eternidade feita de dor e gozo, éter e sangue teatral
Nós , artistas, somos condenados a querer o novo, sempre
Rir e chorar é o que fazem
Com o que oferecemos
Num Olimpo improvisado
Este tupiniquim tablado de desespero e êxtase bandido
Prestando contas a um governo podre
Que não leva em conta nada além de um projeto pontuado
Numa era digital
A enfiar, deslizar e futucar
Dedos gordurosos de um falso interesse
Em downloads que levarão a outro NOWHERE
Restam os filmes, Norma, restam os filmes...
 A tua história...
O resto, como sempre, é silêncio...



Norma Bengell queria ver sua vida nas telas antes de morrer (morreu aos 78 anos, no dia 9 de outubro de 2013) e numa cadeira de rodas, a estrela de O Pagador de Promessas (de 1962), único filme brasileiro a vencer a Palma de Ouro em Cannes, lembrou sucessos da carreira iniciada aos 17 anos como corista, deu sua entrevista que vai ao ar em canal pago. Luciana Vendramini, da série "Elas", foi sua interlocutora. Norma tinha câncer no pulmão, sabia que iria morrer logo e entregou um projeto antigo que não conseguira levar adiante: a sua cinebiografia. Queria realizar logo o velho sonho e ligava todos os dias para Luciana. Um dos possíveis realizadores seria o diretor e produtor Aníbal Massaini, mas é um filme caro, várias épocas, cenas na Europa etc. Sabe quem assina o roteiro? Syd Field, mestre de Hollywood.  Norma, o filme, era o canto do cisne de uma atriz que desistiu de lutar pela vida,  não quis tratar o câncer, prolongar o modo como estava vivendo; sobrevivia com pensão de R$ 3.100 de como anistiada política,  o plano de saúde era R$ 1.516 (cantor Milton Nascimento pagava o convênio médico. 
Carlos Manga, pagou gastos hospitalares. 54 filmes no currículo e uma das líderes da retomada da produção nacional, com  O Guarani (1996) morreu humilhada, com medo  de ser jogada no Retiro dos Artistas. Negaram a ela até a aposentadoria do INSS. Ficava triste por não poder andar e também por não ser mais tão procurada. Ney Latorraca foi um dos poucos da classe artística no velório, ao lado de Barretão e dos cineastas Silvio Tendler, Carla Camurati e Roberto Farias. Mataram Norma, disse Latorraca. Sem herdeiros diretos (afirmou ter feito 16 abortos), a atriz deixou um testamento que ainda não foi aberto. Proibida de produzir por causa das dívidas.



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