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segunda-feira, 28 de outubro de 2013

José Melquíades e José Camelo


Everardo Ramos escreveu sobre José Camelo de Melo Resende: ele nasceu em 20 de abril de 1885, em Pilõezinhos, na época distrito de Guarabira (PB). Vai à escola e, jovem, parece aspirar a grandes voos, mas as precárias condições de seu meio frustram seus sonhos, fazendo-o simples marceneiro e carpinteiro. A poesia torna-se, então, válvula de escape para sua inteligência e extraordinária imaginação. Começa a escrever folhetos no início dos anos 1920, versejando numa língua perfeita, com precisão da métrica e da rima que o distingue da maioria dos poetas populares. o mesmo tempo, faz-se cantador, compensando seu pouco talento para improvisar com uma astúcia: decora romances que ele mesmo compõe, criando tramas ou adaptando-as das histórias que correm de boca em boca. No fim dos anos 1920, mete-se em complicações e foge para Rio Grande do Norte, onde se esconde por uns tempos. É nessa época que João Melquíades Ferre Pavão misterioso. É nessa época que João Melquíades Ferreira da Silva publica na Paraíba, em seu nome, o romance Pavão misterioso, obra criada por José Camelo. Este denuncia o golpe, mas o romance continuaria a ser atribuído a João Melquíades (N.E.: até hoje se discute a verdadeira autoria desse romance). Seja como for, a história de Pavão misterioso torna-se um dos maiores sucessos da literatura de cordel, sendo reeditada inúmeras vezes, além de inspirar peças de teatro, canção, novela de televisão e filme de animação. Outros romances de José Camelo também têm enorme repercussão, como As grandes aventuras de Armando e Rosa conhecidos por Coco Verde e Melancia; Entre o amor e a espada; História de Joãozinho e Mariquinha; O monstro do Rio Negro e Pedrinho e Julinha, todos editados por João Martins de Ataíde, no Recife, e reeditados por José Bernar Martins de Ataíde, no Recife, e reeditados por José Bernardo da Silva e seus herdeiros, em Juazeiro do Norte. No fim da vida, porém, quase octogenário, o poeta se deixa ganhar pela frustração e amargura, destruindo - segundo seus contemporâneos – umas cinquenta obras de sua autoria. Morre em Rio Tinto (PB), em 28 de outubro de 1964, passando à posteridade como um dos maiores autores da literatura de cordel brasileira.

Referências bibliográficas: ALMEIDA, Átila de; ALVES SOBRINHO, José. Poetas populares paraibanos. Campina Grande: UFPB, 1984, p. 227-237 [mimeografado].

Roberto Benjamin nos ensina: João Melquíades Ferreira da Silva nasceu em Bananeiras, no brejo da Paraíba, em 7 de julho de 1869, e faleceu em João Pessoa em 10 de dezembro de 1933. Foi cantador e poeta de bancada, segundo Francisco das Chagas Batista, seu amigo e principal editor. É considerado um dos grandes poetas da primeira geração da literatura de cordel. Sentou praça no Exército. Participou das campanhas de Canudos em 1897 e do Acre em 1903. Em 1904, já promovido a sargento, deu baixa do Exército, fixando residência na capital do Estado da Paraíba, onde se casou e teve quatro filhos. Manteve vínculo com a região rural de sua origem e escreveu diversos poemas com descrições da Paraíba, especialmente da Serra da Borborema. Adotou o título de cantor da Borborema. É dele o folheto A besta de sete cabeças, em que usa, em epígrafe, textos do Apocalipse como profecia relativa à Primeira Guerra Mundial. Escreve u, também, A guerra de Canudos (identificado por José Calasans). Utiliza material religioso da Igreja Católica da época em folhetos como As quatro moças do céu – fé, esperança, caridade e formosura e A rosa branca da castidade(versificação de um exemplo típico da literatura catequética), além de vários poemas contra o protestantismo (dentre eles, a Quinta peleja dos protestantes com João Melchíades). A ele é atribuída a autoria de 36 folhetos. Átila Almeida afirma que a titularidade de autoria de Melchíades no folheto Pavão misterioso foi plágio de um original de José Camelo de Melo Resende. A opinião não é partilhada por outros estudiosos, considerando que os dois poetas tinham o tal romance como parte do repertório comum de suas cantorias. Ruth Terra destaca que Melchíades é dos poucos que não louva como valentes apenas pobres vaqueiros e, sim, homens de riqueza, como é o caso de Cazuza Sátiro, Belmiro Costa e Zé Garcia.

Referências bibliográficas

▪ ALMEIDA, Átila Augusto F. de; ALVES SOBRINHO, José.Dicionário bio-bibliográfico de repentistas e poetas de bancada, 2 vols. João Pessoa: Editora Universitária-UFPB / Campina Grande: Centro de Ciências e Tecnologia-UFPB, 1978.

▪ BATISTA, Francisco das Chagas. Cantadores e poetas populares, 2ª ed., João Pessoa: UFPB, 1997. 233p.

▪ CALASANS, José. A guerra de Canudos. Revista brasileira de folclore. Rio de Janeiro: CDFB, n. 14, jan-abr 1966, p. 53-64.

▪ FUNDAÇÃO CASA DE RUI BARBOSA. Literatura popular em verso – catálogo. Tomo I. Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 1961, 399p.

▪ TERRA, Ruth Brito Lemos. Memória de lutas: a literatura de folhetos do Nordeste (1893-1930). São Paulo: Global, 1983. 190p. il.

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