Everardo
Ramos escreveu sobre José Camelo de Melo
Resende: ele nasceu
em 20 de abril de 1885, em Pilõezinhos, na época distrito de Guarabira (PB).
Vai à escola e, jovem, parece aspirar a grandes voos, mas as precárias
condições de seu meio frustram seus sonhos, fazendo-o simples marceneiro e
carpinteiro. A poesia torna-se, então, válvula de escape para sua inteligência
e extraordinária imaginação. Começa a escrever folhetos no início dos anos
1920, versejando numa língua perfeita, com precisão da métrica e da rima que o
distingue da maioria dos poetas populares. o mesmo tempo, faz-se cantador,
compensando seu pouco talento para improvisar com uma astúcia: decora romances
que ele mesmo compõe, criando tramas ou adaptando-as das histórias que correm
de boca em boca. No fim dos anos 1920, mete-se em complicações e foge para Rio
Grande do Norte, onde se esconde por uns tempos. É nessa época que João
Melquíades Ferre Pavão misterioso. É nessa época que João Melquíades Ferreira da Silva publica na
Paraíba, em seu nome, o romance Pavão
misterioso, obra criada por José Camelo. Este denuncia o golpe, mas o
romance continuaria a ser atribuído a João Melquíades (N.E.: até hoje se
discute a verdadeira autoria desse romance). Seja como for, a história de Pavão misterioso torna-se um dos maiores sucessos da
literatura de cordel, sendo reeditada inúmeras vezes, além de inspirar peças de
teatro, canção, novela de televisão e filme de animação. Outros romances de
José Camelo também têm enorme repercussão, como As grandes aventuras de Armando e
Rosa conhecidos por Coco Verde e Melancia; Entre o amor e a espada; História de Joãozinho e
Mariquinha; O monstro do
Rio Negro e Pedrinho e Julinha, todos
editados por João Martins de Ataíde, no Recife, e reeditados por José Bernar
Martins de Ataíde, no Recife, e reeditados por José Bernardo da Silva e seus
herdeiros, em Juazeiro do Norte. No fim da vida, porém, quase octogenário, o
poeta se deixa ganhar pela frustração e amargura, destruindo - segundo seus
contemporâneos – umas cinquenta obras de sua autoria. Morre em Rio Tinto (PB),
em 28 de outubro de 1964, passando à posteridade como um dos maiores autores da
literatura de cordel brasileira.
Referências bibliográficas: ALMEIDA, Átila de; ALVES SOBRINHO,
José. Poetas populares
paraibanos. Campina Grande: UFPB, 1984, p. 227-237 [mimeografado].
Roberto Benjamin nos ensina: João Melquíades
Ferreira da Silva nasceu em Bananeiras, no brejo da Paraíba, em 7 de
julho de 1869, e faleceu em João Pessoa em 10 de dezembro de 1933. Foi cantador
e poeta de bancada, segundo Francisco das Chagas Batista, seu amigo e principal
editor. É considerado um dos grandes poetas da primeira geração da literatura
de cordel. Sentou praça no Exército. Participou das campanhas de Canudos em
1897 e do Acre em 1903. Em 1904, já promovido a sargento, deu baixa do
Exército, fixando residência na capital do Estado da Paraíba, onde se casou e
teve quatro filhos. Manteve vínculo com a região rural de sua origem e escreveu
diversos poemas com descrições da Paraíba, especialmente da Serra da Borborema.
Adotou o título de cantor da Borborema. É dele o folheto A besta de
sete cabeças, em que usa, em epígrafe, textos do Apocalipse como profecia
relativa à Primeira Guerra Mundial. Escreve u, também, A guerra de Canudos (identificado por José Calasans).
Utiliza material religioso da Igreja Católica da época em folhetos como As quatro moças do céu – fé,
esperança, caridade e formosura e A rosa branca da castidade(versificação
de um exemplo típico da literatura catequética), além de vários poemas contra o
protestantismo (dentre eles, a Quinta
peleja dos protestantes com João Melchíades). A ele é atribuída a autoria
de 36 folhetos. Átila Almeida afirma que a titularidade de autoria de Melchíades
no folheto Pavão misterioso foi plágio de um original de José
Camelo de Melo Resende. A opinião não é partilhada por outros estudiosos,
considerando que os dois poetas tinham o tal romance como parte do repertório
comum de suas cantorias. Ruth Terra destaca que Melchíades é dos poucos que não
louva como valentes apenas pobres vaqueiros e, sim, homens de riqueza, como é o
caso de Cazuza Sátiro, Belmiro Costa e Zé Garcia.
Referências bibliográficas
▪
ALMEIDA, Átila Augusto F. de; ALVES SOBRINHO, José.Dicionário
bio-bibliográfico de repentistas e poetas de bancada, 2 vols. João
Pessoa: Editora Universitária-UFPB / Campina Grande: Centro de Ciências e
Tecnologia-UFPB, 1978.
▪
BATISTA, Francisco das Chagas. Cantadores e poetas
populares, 2ª ed., João Pessoa: UFPB, 1997. 233p.
▪
CALASANS, José. A guerra de Canudos. Revista
brasileira de folclore. Rio de Janeiro: CDFB, n. 14, jan-abr 1966, p.
53-64.
▪
FUNDAÇÃO CASA DE RUI BARBOSA. Literatura
popular em verso – catálogo. Tomo I. Rio de Janeiro: Casa de Rui
Barbosa, 1961, 399p.
▪
TERRA, Ruth Brito Lemos. Memória
de lutas: a literatura
de folhetos do Nordeste (1893-1930). São Paulo: Global, 1983. 190p. il.