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terça-feira, 13 de outubro de 2015

HAMLET: Cena dos atores

Ato III, Cena 2

Entram Hamlet e três dos atores.

* Hamlet. Diz a fala, rogo-te, como a pronunciei a ti, festivamente na língua; mas se a alardeares, como muitos de vós atores o fazem, preferiria eu que o anunciador da cidade dissesse minhas linhas.
Nem tampuco serres o ar demais com tua mão, assim, mas usa tudo suavemente: pois na própria torrente, tempestade, e, como posso dizer, redemoinho de tua paixão, deves adquirir e gerar uma temperança que lhe possa dar suavidade. Oh, ofende-me até a alma ouvir um robustoso sujeito de cabeça emperucada rasgar uma paixão em trapos, em farrapos mesmo, fender os ouvidos daqueles ao chão, os quais, em sua maior parte, não são capazes de nada além de inexplicáveis apresentações mudas e barulho. Eu faria açoitar a tal sujeito por exagerar em Termagant, é mais Heródico do que Herodes: rogo-te que o evites.

* Primeiro Ator. Eu garanto a vossa honra.

* Hamlet. Não sejas contido demais também, mas que tua discrição seja teu tutor: adequa a ação à palavra, a palavra à ação, com esta observação especial, que não vá além da modéstia da natureza: pois qualquer coisa em demasia se afasta da proposta de atuar, cujo fim, tanto no início quanto agora, era e é segurar, como fora, o espelho para a natureza, mostrar à virtude seu próprio aspecto, desdenhar sua própria imagem, e mesmo à idade e ao corpo do tempo sua forma e impressão. Agora, isso em demasia, ou ficando aquém, ainda que faça rir ao incapaz, não pode senão fazer o judicioso lamentar, o julgamento do qual deve, em teu reconhecimento, pesar mais que todo um teatro dos outros. Oh, há atores que vi atuar, e ouvi otros elogiarem, e isso efusivamente, para não dizer profanamente, que, nem tendo sotaque de Cristãos, nem trejeito de Cristão, pagão, nem homem, de tal forma pavonearam-se e rugiram que pensei que alguns viajantes da natureza fizeram homens, e não os fizeram bem, tão abominavelmente imitavam eles a humanidade.


* Primeiro Ator. Espero que tenhamos reformado isso consideravelmente em nós.

* Hamlet. Oh, reformai totalmente. E que aqueles que representam vossos palhaços mais não falem do que está escrito para eles: pois os há que farão a si mesmos rir, para incitar uma quantidade de estultos expectadores a rir também, embora entrementes alguma necessária questão da peça deva então ser considerada: isso é uma vilania e mostra uma mui lamentável ambição no tolo que o usa. Ide preparar-vos. [Saem os atores. Entram Polônio, Rosencrantz, e Guildenstern.] Pois bem, milorde! Irá o rei ouvir a esta obra?

* Polônio. E a rainha também, e isso imediatamente.

* Hamlet. Pede aos atores que se apressem. [Sai Polônio.] Vós dois ajudareis a apressá-los?

* Rosencrantz. [com Guildenstern] Nós o faremos, miolrde.

[Saem os dois.]

* Hamlet. Ora, olá, Horácio!

Entra Horácio.

* Horácio. Aqui, doce lorde, a teu serviço.

* Hamlet. Horácio, és mesmo o mais justo homem com que jamais minha conversação deparou.

* Horácio. Oh, meu caro lorde...

* Hamlet. Não, não penses que lisonjeio,
pois que benefício posso esperar de ti, que nenhuma renda tens, que não teus bons espíritos para alimentá-lo e vesti-lo? Por que se deveriam lisonjear os pobres? Não, que a língua adocicada lamba a pompa absurda, e dobre as juntas prenhes do joelho onde a vantagem pode-se seguir à adulação. Ouves-me? Desde que minha cara alma é mestra de sua escolha, e pode dentre homens distinguir, sua escolha selou a ti para ela mesma: pois tens sido como alguém, que ao tudo sofrer, nada sofre, um homem que os golpes e recompensas da Fortuna tomaste com igual gratidão: e abençoados são aqueles cujo sangue e julgamento são tão bem conjuminados que não são uma flauta para o dedo da Fortuna tocar o tema que preferir. Dá-me o homem que não é 'scravo da paixão, e eu o usarei no cerne de meu coração, sim, no coração do coração, como faço a ti. Isto 'stá algo excessivo. Há uma peça esta noite perante o rei, uma cena dela se aproxima da circunstância, da qual te falei, da morte de meu pai; rogo-te, quando vires este ato em cena, e com toda agudeza de tua alma observa meu tio. Se sua culpa oculta não se revelar por si mesma em uma fala, é um fantasma maldito aquilo que vimos, e minhas imaginações são tão malévolas quanto a forja de Vulcano. Nota-o atentamente, quanto a mim meus olhos se fixarão em sua face, e, depois, iremos ambos nossos julgamentos juntar na apreciação de sua aparência.

* Horácio. Bem, milorde: se ele algo roubar enquanto esta peça é representada, e escapar de detecção, pagarei eu o roubo.

[Soa um clarim. Entram Trumpetes and Tímpanos. Entram Rei, Rainha, Polônio, Ofélia, Rosencrantz, Guildenstern, e outros lordes acompanhantes, com a Guarda carregando tochas.]

* Hamlet. Eles estão vindo para a peça. Eu
devo me mostrar louco; toma um lugar.

* Cláudio. Como passa nosso primo Hamlet?

* Hamlet. Excelente, garanto, do prato do camaleão: eu como o ar, abarrotado de promessas. Não podes alimentar galos assim.

* Cláudio. Não tenho nada com esta resposta, Hamlet, estas palavras não são minhas.

* Hamlet. Não, nem minhas agora. [A Polônio] Milorde, representaste uma vez na universidade, dizes?

* Polônio. Isso fiz eu, milorde, e fui tido em conta de bom ator.

* Hamlet. O que encenaste?

* Polônio. Eu encenei Júlio César, fui morto no Capitólio, Brutus me matou.

* Hamlet. Foi um bruto papel dele matar
lá um bezerro tão capital. Estão os atores prontos?

* Rosencrantz. Sim, milorde, aguardam teu consentimento.

* Gertrudes. Vem aqui, meu bom Hamlet,
senta ao meu lado.

* Hamlet. Não, boa mãe, aqui 'stá
metal mais atrativo.

* Polônio. [ao Rei] Oh, ho! Escutas isso?

* Hamlet. Senhorita, posso deitar em seu colo?

[Senta-se aos pés de Ofélia.]

Cena dos atores
HAMLET, montagem recifense
com Moisés Monteiro de Melo Neto (Hamlet)
e Simone de Figueiredo Lima (Ofélia)
direção: Paulo Falcão (Brasil) e Alberto Gieco (Argentina)
Teatro Valdemar de Oliveira
Adaptação do original de Shakespeare: 
Moisés Monteiro de Melo Neto 
e Ricardo Valença Monteiro
Figurinos : Walter Holmes
Cenário: Mozart Guerra


* Ofélia. Não, milorde.

* Hamlet. Digo, minha cabeça sobre teu colo?

* Ofélia. Sim, milorde.

* Hamlet. Pensas que me referia a assuntos do campo?

* Ofélia. Eu nada penso, milorde.

* Hamlet. Este é um pensamento justo para estar entre as pernas de uma donzela.

* Ofélia. O que é, milorde?

* Hamlet. Nada.

* Ofélia. Estás divertido, milorde.

* Hamlet. Quem, eu?

* Ofélia. Sim, milorde.

* Hamlet. Ó Deus, apenas teu fazedor de comédias! Que deve um homem fazer que não ser divertido? Pois olha quão contente parece minha mãe, e meu pai morreu nestas duas horas.

* Ofélia. Não, é duas vezes dois meses, milorde.

* Hamlet. Tanto tempo? Então não, que o diabo use preto, pois eu usarei um traje de martas. Oh, Céus! Morrer há dois meses e ainda não esquecido? Então há 'sperança que a memória de um grande homem possa viver mais que sua vida meio ano; mas, por nossa senhora, ele deve construir igrejas então, ou senão sofrerá não ser mais pensado, com o cavalinho, cujo epitáfio é Ole lê, Ole lê, o cavalinho foi 'squecido!

[Soa o Oboé. Entra a apresentação muda.]

[Entram um Rei e uma Rainha muito amorosamente; a Rainha abraçando-o e ele a ela. Ela se ajoelha, e faz mostras de declaração a ele. Ele a ergue e repousa sua cabeça sobre o pescoço dela. Ele se deita sobre um arranjo de flores. Ela, vendo-o adormecido, deixa-o. Logo vem um sujeito, tira sua coroa, beija-a, derrama veneno no ouvido do adormecido, e o deixa. A Rainha retorna, acha o Rei morto, e age apaixonadamente. O envenenador com três ou quatro mudos, entra novamente, parece consolá-la. O corpo é levado embora. O Envenenador atrai a Rainha com presentes; ela parece rude e recalcitrante por um tempo, mas no fim aceita seu amor.]

[Saem.]

* Ofélia. Que significa isso, milorde?

* Hamlet. Ave, isto é crime sorrateiro, quer dizer malfeitoria.

* Ofélia. Talvez esta apresentação importe o argumento da peça.

Entra o Prólogo.

* Hamlet. Saberemos por este camarada: os atores não sabem manter segredo, eles dizem tudo.

* Ofélia. Irá ele dizer o que significou esta apresentação?

* Hamlet. Sim, ou qualquer apresentação que lhe apresentares; mostra, ele não terá vergonha de dizer-te o que significa.

* Ofélia. És impertinente, és impertinente: Terei atenção à peça.

Pro. Para nós, e para nossa tragédia, aqui apelando a vossa clemência, imploramos vossa paciente audição. [sai]

* Hamlet. É isso um prólogo, ou a gravação de um anel?

* Ofélia. É breve, milorde.

* Hamlet. Como amor de mulher.

Entram [dois atotres como] Rei e Rainha.

* Rei Ator. Completas trinta vezes a
carruagem de Febo contornou o sal lavado de Netuno e o chão globular de Tellus, e trinta dúzias de luas com lume emprestado em volta do mundo vezes doze trintas 'stiveram, desde que o amor a nossos corações e Himeneu a nossas mãos, uniu recíproco em mui sagrados laços.

* Rainha Atriz. Tantas viagens possam o sol e a lua fazer-nos novamente contar antes que se acabe o amor! Mas, pobre de mim, 'stás tão doente ultimamente, tão longe d'alegria e de seu prévio estado que temo por ti. Ainda assim, embora eu tema, desconfortar-te milorde, isto em nada deve: pois o medo e o amor das mulheres mantêm quantidade, ou em nulo, ou em extremo. Agora, o que meu amor é, provas te fizeram saber, e como meu amor é dimensionado, assim o é meu medo; onde o amor é grande, as menores dúvidas são medo, onde pequenos medos tornam-se grandes, grande amor aí cresce.

* Rei Ator. Por fé, eu devo deixar-te, amor, e em pouco tempo mesmo, meus poderes operantes suas funções cessam de todo; e tu viverás neste belo mundo para além, honrada, amada, e por ventura alguém tão gentil por marido tu...

* Rainha Atriz. Oh, poupa-me do resto! Tal amor deve ser traição em meu peito: em segundo marido que eu seja amaldiçoada! Ninguém se casa com o segundo senão quem matou o primeiro.

* Hamlet. [à parte] Isso é artemísia, artemísia.

Rainha Atriz. As instâncias que segundo casamento movem são chãos respeitos de vantagem, mas não de amor. Uma segunda vez mato meu marido morto quando segundo marido me beija no leito.

* Rei Ator. De fato creio que pensas o que agora dizes, mas aquilo que determinamos com frequência descumprimos. Propósito é apenas escravo da memória, de violento nascimento, mas pobre validade: que agora, como fruta verde, pende da árvore, mas cai sem sacodir quando maduro ficar. Mui necessário é que esqueçamos de pagar a nós mesmos o que para nós mesmos é devido; o que para nós mesmos em paixão propusemos, finda a paixão, o propósito perde. A violência seja de dor ou alegria suas próprias atuações com elas mesmas destróem; onde a alegria mais festeja, mais lamenta a dor, a dor alegra, a alegria dói, em insignificante acidente. Este mundo não é para sempre, nem não é estranho que mesmo nossos amores devam com nossas fortunas mudar, pois é uma questão ainda a provarmos, se o amor conduz a fortuna, ou então a fortuna ao amor. Caído o grande homem, observarás suas moscas favoritas, homens pobres avançados fazem amigos de seus inimigos, e até aqui o amor à fortuna acompanha; pois quem não precisa nunca deixará de ter um amigo, e quem desejoso um amigo oco experimenta, instantaneamente o amadurece em inimigo. Mas, para ordeiramente terminar onde comecei, nossas vontades e destinos tão contrariamente correm que nossas tramas no entanto são desmanteladas, nossos pensamentos são nossos, seus fins não são nada de nosso; então pensa que com segundo marido não casarás, mas morrem teus pensamentos quando o primeiro lorde 'stá morto.

* Rainha Atriz. Nem me dê a terra alimento, nem o céu luz! diversão e repouso retira de mim dia e noite! Em desespero tranforma minha confiança e esp'rança! O júbilo de um anacoreta na prisão seja meu escopo! Cada oponente que descora a face d'alegria encontre o que quero bem e o destrua! Tanto aqui como para além persiga-me tormento duradouro, se, uma vez viúva, eu jamais for esposa!

* Hamlet. Se ela quebrar a promessa agora!

* Rei Ator. 'Stá profundamente jurado. Meu doce, deixa-me aqui um pouco, minha energia fenece, e com prazer eu enganaria o tedioso dia com sono.

* Rainha Atriz. O sono embale teu cérebro, e nunca venha infortúnio entre nós dois!

[Ele dorme. Sai a Rainha.]

* Hamlet. Madame, o que achas da peça?

* Gertrudes. A mulher protesta demais, penso eu.

* Hamlet. Oh, mas ela manterá a palavra.

* Cláudio. Ouviste o argumento? Não há ofensa nele?

* Hamlet. Não, não! Eles apenas gracejam,
veneno em gracejo, não há ofensa alguma.

* Cláudio. Como chamas a peça?

* Hamlet. "A Ratoeira". Ave, como? Tropicalmente. Esta peça é a imagem de um assassinato cometido em Viena. Gonzago é o nome do duque, sua esposa, Batista, verás logo logo, é uma desonesta peça; mas e daí? A vossa majestade, e a nós que temos almas livres, ela não toca; que o pangaré alquebrado se assuste, nossos cangotes não 'stão torcidos. [Entra Lucianus.] Este é um Lucianus, sobrinho do rei.

* Ofélia. És um bom coro, milorde.

* Hamlet. Eu poderia interpretar entre
ti e teu amor, se pudesse ver as marionetes se agitando.

* Ofélia. És agudo, milorde. És agudo.

* Hamlet. Custaria-te um gemido
para tirar meu gume.

* Ofélia. Tanto melhor, e pior.

* Hamlet. Então tendes que tomar vossos maridos. Começa, assassino, varíola, deixa tuas faces danadas, e começa. Vem: "O corvo crocitante vocifera por vingança."

Luc. Pensamentos negros, mãos aptas, drogas apropriadas, e tempo combinando, momento aliado, de mais criatura alguma vendo, tu mistura fétida, de ervas da meia-noite coletadas, com a maldição de Hécate três vezes acometida, três vezes infecta, tua mágica natural e temível propriedade, a vida íntegra usurpa imediatamente.

Despeja o veneno em seu ouvido.

* Hamlet. Ele o envenena no jardim por seu patrimônio. Seu nome é Gonzago: a história ainda existe, e é 'scrita em mui rebuscado italiano, verás em breve como o assassino consegue o amor da esposa de Gonzago!

* Ofélia. O rei se levanta!

* Hamlet. O que, assustado com fogo falso!

* Gertrude. Como passa milorde?

* Polônio. Interrompei a peça!

* Cláudio. Dai-me um pouco de luz. Vamos embora!

* Todos. Luzes, luzes, luzes!

Saem todos menos Hamlet e Horácio.

* Hamlet. Ora, que a gazela atingida vá chorar, o cervo indene brinque, pois uns devem velar, enquanto outros devem dormir: assim prossegue o mundo. Não iria isto, senhor, e uma floresta de plumas se o resto de minhas fortunas bancarem o Turco comigo, com duas rosas Provençais em meus sapatos enfeitados, conseguir para mim uma sociedade em uma trupe de atores?

* Horácio. Meia participação.

* Hamlet. Uma inteira, eu. Pois tu sabes, ó caro Damon, este reino desmantelado foi de Jove em pessoa, e agora reina aqui um mui, mui pavão.

* Horácio. Podias ter rimado.

* Hamlet. Ó bom Horácio, eu tomo a palavra do fantasma por mil libras! Percebeste?

* Horácio. Muito bem, milorde.

* Hamlet. Ao se falar em envenenamento?

* Horácio. Eu o observei muito bem.

* Hamlet. Ah, ha! Vamos, um pouco de música! Vamos, as flautas! Pois se o rei não gostar da comédia, pois então, talvez ele não goste, pardieu. Vamos, um pouco de música!

[Entram Rosencrantz e Guildenstern.]

* Guildenstern.Meu bom lorde, cencede-me
uma palavra contigo.

* Hamlet. Senhor, uma história inteira.

* Guildenstern. O rei, senhor...

* Hamlet. Sim, senhor, o que há com ele?

* Guildenstern. Está, em seu descanso, tremendamente destemperado.

* Hamlet. Com bebida, senhor?

* Guildenstern. Não, milorde, antes com cólera.

* Hamlet. Tua sabedoria se mostraria mais
rica ao significar isto ao médico. Pois levá-lo eu a sua purgação pode talvez mergulhá-lo em bem mais cólera.

* Guildenstern. Meu bom lorde, põe teu
discurso em alguma estrutura, e não fuja tão insanamente de meu assunto.

* Hamlet. 'Stou controlado, senhor: pronuncia.

* Guildenstern. A rainha, tua mãe, em mui grande aflição d'espírito, enviou-me a ti.

* Hamlet. És bem vindo.

* Guildenstern. Não, meu bom lorde, esta cortesia não é da lavra certa. Se te agradar dar-me uma resposta razoável, cumprirei o comando de tua mãe; senão... tua licença e meu retorno serão o fim de minha atribuição.

* Hamlet. Senhor, eu não posso.

* Guildenstern. O quê, milorde?

* Hamlet. Dar-te uma resposta razoável,
meu juízo 'stá adoecido; mas, senhor, tal resposta como posso eu dar, tu comandarás, ou antes, como dizes, minha mãe; portanto não mais, mas ao assunto: minha mãe, dizes...

* Rosencrantz. Então assim ela diz: teu procedimento a encheu de surpresa e admiração.

* Hamlet. Ó maravilhoso filho, que
pode assim espantar uma mãe! Mas não há continuação aos calcanhares desta admiração materna? Relata.

* Rosencrantz. Ela deseja falar contigo em seus aposentos antes de ires para a cama.

* Hamlet. Nós obedeceremos, fosse ela dez vezes nossa mãe. Tendes vós qualquer negócio ulterior conosco?

* Rosencrantz. Milorde, já uma vez me amaste.

* Hamlet. E assim ainda faço, por estas punguistas e ladras.

* Rosencrantz. Meu bom lorde, qual é a causa de tua pertubação? Tu, certamente, bloqueias a porta a tua própria liberdade
se negares tuas mágoas a teu amigo.

* Hamlet. Senhor, falta-me preferência.

* Rosencrantz. Como pode isso ser, quando tens a palavra do próprio rei para tua sucessão na Dinamarca?

* Hamlet. Sim, senhor, mas "enquanto cresce a grama" o provérbio é um tanto antiquado.

[Entram os Atores com flautas. ]

Oh, os flautistas: deixa-me ver um. Para encerrar contigo: por que circulas por aí perseguindo-me contra o vento, como se fosses me conduzir a uma armadilha?

* Guildenstern. Oh, milorde, se minha tarefa for por demais enfática, meu amor é por demais descortês.

* Hamlet. Eu não entendo bem isso.
Tocarias esta flauta?

* Guildenstern. Milorde, eu não o posso.

* Hamlet. Eu te rogo.

* Guildenstern. Crê-me, eu não posso.

* Hamlet. Eu te imploro.

* Guildenstern. Eu sei, nunca a toquei, miolorde.

* Hamlet. É fácil como mentir. Governa estes furos com teus dedos, dá-lhe sopro com tua boca, e ela discursará mui eloquente
música. Vê, estas são as chaves.

* Guildenstern. Mas a elas eu não posso comandar nenhuma emissão de harmonia, eu não tenho a habilidade.

* Hamlet. Why, look you now, how unworthy a thing you make of me! Ora, olha agora, quão indigna coisa farias de mim! Tu tocarias a mim, parecias conhecer minhas chaves, pinçarias o coração de meu mistério,
soarias-me de minha mais baixa nota até o topo de meu compasso, e há muita música, excelente voz, neste pequeno órgão, no entanto não podes fazê-lo falar. Sangue de Deus, pensas que sou mais fácil de ser tocado do que uma flauta? Chama-me de qual instrumento quiseres! Muito embora possas me dedilhar, ainda assim, não podes me tocar.

[Entra Polônio.]

Deus te abençoe, senhor!

* Polônio. Milorde, a rainha deseja falar
com o senhior, e imediatamente.

* Hamlet. Vês aquela nuvem que tem
quase o formato de um camelo?

* Polônio. Santa misericórdia, e ela
é como um camelo com efeito.

* Hamlet. Penso eu que parece um doninha.

* Polônio. Tem as costas de uma doninha.

* Hamlet. Ou uma baleia.

* Polônio. Parece bastante uma baleia.

* Hamlet. Então irei a minha mãe num instante. Enganam-me até o fim de minha envergadura. Irei em um instante.

* Polônio. Eu o direi [Sai.]

* Hamlet. Em um instante é facilmente dito, Deixai-me, amigos.

[Saem todos menos Hamlet.]

É agora mesmo a hora bruxuleante da noite, quando os cemitérios bocejam, e o próprio inferno exala contágio ao mundo; agora poderia eu beber sangue quente, e realizar tal amargo mister que o dia tremeria ao contemplar. Basta! Agora até minha mãe. Ó coração, não percas tua natureza, não deixes nunca a alma de Nero entrar neste firme peito: que eu seja cruel, não desnaturado, eu falarei adagas a ela, mas usarei nenhuma, minha língua e alma nisto sejam hipócritas: como quer que com minhas palavras ela seja condenada, dar a elas feitos nunca, minh'alma, consinta!


sábado, 10 de outubro de 2015

O russo Anton Tchékhov tem, em A Gaivota, uma das suas maiores peças de teatro

 O texto será tema da palestra  de hoje na BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO EM PERNAMBUCO (com Carlos Santos e Moisés Monteiro de Melo Neto, com mediação de edineide silva, no Ascenso Café, às 19h) e já teve direção de Constantin Stanislávski. 




Na trama, Treplev, o escritor novo, incompreendido está em cotejo com Trigorine, escritor tradicional reconhecido. A desgraça e o desfecho trágico do jovem é o eixo dessa, digamos assim, comédia de costumes que flui para um drama denso em meio a um clima tenso, uma atmosfera de vazio, na vida de cidade do interior, pequena, atrasada, ideologicamente comprometida com o que chega da cidade. Personagens como Arkadina, a mãe de Treplev, é metonímia de um Teatro ultrapassado, mas que representa o sucesso; Nina representa a vontade de ser atriz com textos inovadores mal compreendida pelos valores do establishment. Ela e Treplev são atrofiados, enquanto presos a esse ambiente rural que os limita. O autor trabalha silêncios num texto teatral que explora a metáfora, a ironia, a crítica social, e põe em xeque certa espécie de modernidade.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

ALEGRIA, LOUCURA, MEDO, SEXUALIDADE : MEMÓRIAS DE AMOR & MORTE em Caio Fernando Abreu. Afinal, OS DRAGÕES NÃO CONHECEM O PARAÍSO?



(...) Fico pensando se viver não será sinônimo de perguntar. A gente se debate, busca, segura o fato com as duas mãos sedentas e pensa: “Achei! Achei!” – mas ele escorrega, se espatifa em mil pedaços, como um vaso de barro coberto apenas por uma leve camada de louça. A gente fica só, outra vez, e tem que começar do nada, correndo loucamente em busca dos outros vasos que vê. [...] E começamos de novo, mais uma vez, dia após dia, ano após ano. Um dia a gente chega na frente do espelho e descobre: “Envelheci”. Então a busca termina. As perguntas calam no fundo da garganta, e vem a morte. Que talvez seja a grande resposta. A única. (...)”. 

(Caio Fernando Abreu – fragmento do romance Limite branco)
NESTE SÁBADO, NO AUDITÓRIO DA LIVRARIA JAQUEIRA



Na Livraria Jaqueira (Recife)
Dia 3 de outubro de 2015.
Às 17h
Com Moisés Monteiro de Melo Neto* e Carlos Santos*.
Mediação LULA COUTO.
Sugerimos que os interessados leiam pelo menos o conto OS DRAGÕES NÃO CONHECEM O PARAÍSO, disponível na internet em    http://www.recantodasletras.com.br/contos/2621797
Venha para o debate e discuta.
“ [...] para os dragões nada mais inconcebível que dividir o espaço- seja com outro dragão, seja com uma pessoa banal [...] eles são solitários, os dragões [...] decidi que não passaria mais um dia sem contar essa história de dragões [ninguém é capaz de compreender um dragão [...] ele não permite corrigir-se [...] cheirava a alecrim e hortelã [...] cheiro verde [...]esse é o mês dos dragões [...] um dragão vem e parte para que seu mundo cresça [...] são apenas anunciação de si próprios. Eles se ensaiam eternamente, jamais estreiam [...] os aplausos seriam insuportável para eles [...] fico cansado do amor que sinto [...] no meio de uma cidade  escassa de dragões [...] só existe o sonho [...] que seja doce...” (OS DRAGÕES NÃO CONHECEM O PARAÍSO, conto de Caio Fernando Abreu, em discussão no próximo encontro com PALAVRAS CRUZADAS).

ALEGRIA, LOUCURA, MEDO, SEXUALIDADE : MEMÓRIAS DE AMOR & MORTE em Caio Fernando Abreu. Afinal, OS DRAGÕES NÃO CONHECEM O PARAÍSO?
Na Livraria Jaqueira (Recife)
Dia 3 de outubro de 2015.
Às 17h
Com Moisés Monteiro de Melo Neto* e Carlos Santos*.
Mediação LULA COUTO.


Itens do acervo de Caio Fernando Abreu, arquivados no Delfos, Espaço de Documentação e Memória Cultural da PUC do Rio Grande do Sul ***


Sugerimos que os interessados leiam pelo menos o conto OS DRAGÕES NÃO CONHECEM O PARAÍSO, disponível na internet em    http://www.recantodasletras.com.br/contos/2621797
Venha para o debate e discuta.
“ [...] para os dragões nada mais inconcebível que dividir o espaço- seja com outro dragão, seja com uma pessoa banal [...] eles são solitários, os dragões [...] decidi que não passaria mais um dia sem contar essa história de dragões [ninguém é capaz de compreender um dragão [...] ele não permite corrigir-se [...] cheirava a alecrim e hortelã [...] cheiro verde [...]esse é o mês dos dragões [...] um dragão vem e parte para que seu mundo cresça [...] são apenas anunciação de si próprios. Eles se ensaiam eternamente, jamais estreiam [...] os aplausos seriam insuportável para eles [...] fico cansado do amor que sinto [...] no meio de uma cidade  escassa de dragões [...] só existe o sonho [...] que seja doce...” (OS DRAGÕES NÃO CONHECEM O PARAÍSO, conto de Caio Fernando Abreu, em discussão no próximo encontro com PALAVRAS CRUZADAS.

LÁ VÃO ALGUMAS PALAVRAS PESCADAS NA REDE (WIKIPEDIA... ETC.):

Caio Fernando Loureiro de Abreu (Santiago, 12 de setembro de 1948  Porto Alegre, 25 de fevereiro de 1996) foi umjornalista, dramaturgo e escritor brasileiro.
Apontado como um dos expoentes de sua geração, a obra de Caio Fernando Abreu, escrita num estilo econômico e bem pessoal, fala de sexo, de medo, de morte e, principalmente, de angustiante solidão. Apresenta uma visão dramática do mundo moderno e é considerado um "fotógrafo da fragmentação contemporânea".
Caio Fernando Abreu estudou Letras e Artes Cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde foi colega de João Gilberto Noll. No entanto, ele abandonou ambos os cursos para trabalhar como jornalista de revistas de entretenimento, tais como Nova, Manchete, Veja e Pop, além de colaborar com os jornais Correio do Povo, Zero Hora, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo.
Em 1968, perseguido pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), Caio refugiou-se no sítio de uma amiga, a escritoraHilda Hilst, em Campinas, São Paulo. No início da década de 1970, ele se exilou por um ano na Europa, morando, respectivamente, na Espanha, na Suécia, nos Países Baixos, na Inglaterra e na França.
Em 1974, Caio Fernando Abreu retornou a Porto Alegre. Chegou a ser visto na Rua da Praia usando brincos nas duas orelhas e uma bata de veludo, com o cabelo pintado de vermelho [carece de fontes]. Em 1983, mudou-se para o Rio de Janeiro e, em 1985, paraSão Paulo. A convite da Casa dos Escritores Estrangeiros, ele voltou à França em 1994, regressando ao Brasil no mesmo ano, ao descobrir-se portador do vírus HIV. Abreu era declaradamente homossexual em plena época da Ditadura Militar no Brasil.[1]
Em 1995, Caio Fernando Abreu se tornou patrono da 41.° Feira do Livro de Porto Alegre.
Um ano depois, Caio Fernando Abreu voltou a viver novamente com seus pais, tempo durante o qual se dedicaria à jardinagem, cuidando de roseiras. Faleceu em 25 de fevereiro de 1996, Hospital Mãe de Deus em Porto Alegre, no mesmo dia em que Mário de Andrade. Seus restos mortais jazem no Cemitério São Miguel e Almas.[2]
Seu primeiro romance, Limite branco (1970), já possui as marcas que iriam acompanhar sua trajetória literária: a angústia diante do devir e a morte como certeza no final da jornada.[3] Segundo sua perspectiva literária, a vida deve ser buscada continuamente.[3]
Caio Fernando de Abreu viveu intensamente a época da ditadura, em suas obras literárias, o autor buscava inspiração em momentos importantes de sua vida, fazia uma releitura rápida, porém despercebida de seu modo de pensar, a maioria de suas criações e personagens retratavam um modo cinzento e triste de viver, na busca inquietante pela felicidade.
Obras
Contos
·         Inventário do Irremediável
·         O Ovo Apunhalado
·         Pedras de Calcutá
·         Morangos Mofados
·         Os Dragões não conhecem o Paraíso
·         Ovelhas Negras
·         Mel & Girassóis
·         Estranhos Estrangeiros
·         Molto lontano da Marienbad, Ediz. Zanzibar, Milano 1995
·         I Draghi non conoscono il Paradiso, Ediz. Quarup, Pescara 2008
·         Triangolo delle acque, Ediz. Quarup, Pescara 2013
·         Pra sempre teu, Caio F.
Novelas
·         Triângulo das Águas
·         As Frangas, novela infanto-juvenil
·         Bien loin de Marienbad
Teatro
·         A Maldição do Vale Negro
·         O Homem e a Mancha
·         Zona Contaminada
·         Teatro Completo, 1997
Romances
·         Limite Branco, 1970
·         Onde Andará Dulce Veiga?
·         Dov'è finita Dulce Veiga, Ediz. La nuova Frontiera, Roma 2011
Tradução
·         A Arte da Guerra, de Sun Tzu, 1995 (com Miriam Paglia).
·         A Balada do Café Triste, de Carson McCullers, 1991.
Outros
·         Cartas, (Correspondência)
·         Pequenas Epifanias (Crônicas)
Prêmios
·         Prêmio Jabuti de Literatura, 1996, categoria Contos / Crônicas / Novelas - livro "Ovelhas Negras"
·         Prêmio Jabuti de Literatura, 1989, categoria Contos / Crônicas / Novelas - livro "Os Dragões não Conhecem o Paraíso"
·         Prêmio Jabuti de Literatura, 1984, categoria Contos / Crônicas / Novelas - livro "O Triângulo das Águas"[
·         Revista IstoÉ, 1982, Melhor Livro - "Morangos Mofados"


https://profmoisesneto.blogspot.com.br

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*Moisés Monteiro de Melo Neto é Doutor em Literatura pela UFPE, professor, pesquisador, escritor/dramaturgo. Autor de vários livros, como Chico Science: A rapsódia afrociberdélica, e de peças teatrais como Anjos de fogo e gelo: a vida atormentada de Arthur Rimbaud, Os abismos da poeticidade em Jomard Muniz de Britto: Do Escrevivendo aos Atentados poéticos (publicado pelo SESC)
Carlos Santos é psicanalista , pesquisador e escritor.

Lula Couto é pesquisador e escritor

Falcatruas no Recife, Brasília em chamas, inflação enchendo bolsos dos banqueiros

Dilma cortando Ministérios costurando parcerias: segue a seca no Bordeste, calor, ainda em outubro anuncia o mais tórrido dos verões brasileiros. Cunha com contas na Suíça.
Isso parece pouco?
Cunha, dizem os jornais e a internet ecoa: tem, sim, contas "secretas" na Suíça.
Parece que a farra é bem maior do que pensávamos?
No Recife fervem os protestos contra as falcatruas no cais José Estelita. Desta vez são fraudes no Leilão da compra do terreno (o óbvio ululante...).
Em cena no Recife desta semana: dois pernambucanos queridos: peça sobre Chacrinha e outra com o ator Marco Nanini.
E esta inflação danada, hein? sabemos quem está lucrando muito com isto. por que não tomamos providências?


OUTUBRO SEMPRE CO-MOVENTE


Jomard Muniz de Britto, jmb


 
Ouvir o canto das sereias em desilusões.
Melodias além de canções e calamidades.
Ouvintes de múltiplas emissoras anunciando
fogo bárbaro de uma civilização brasileira.
Ultimar homenagens sem esquecer o Pai
Adamastor e a Mãe Dona Lúcia Rocha.
Sabendo que a ignorância faz parte dos complexos
edipianos e muitos outros e outras.
Longe perto do Mosaico de Letras até arriscar-se
no ALETRAR da Livraria Jaqueira.
Tudo podendo ser miragem de COISAS e
utopias sangradas. Sintonia experimentadora em
PAF: Pedro Américo de Farias.
Pela cinemateca de Paris os ideários da
Liberdade, Igualdade, Fraternidade.
Urrando pelo precipício dos im-pe-di-men-tos.
Uivando pelos cargos comissionados de-mais.
Berrando pelos aterros e desterros das
comemorações em G: de Gilberto Freyre a
Geneton Moraes Neto em famílias.
Glauber Rocha na CAETANAVE corroendo
psicanálises selváticas?
Porque os dragões não temem o paraíso do
PÓS-TUDO. Brasil EM TRANSE.
Ruídos comunicantes da língua dos 3 PÊS:
poesia / pedagogia / politicidades.
Heranças, errancias dos altos mares aos
febris mangues.
Ontem e agora deflagrados pelo popfilósofo
DANIEL LIMA: - “Outubro se equilibra /
entre os extremos / e se desequilibra /
entre as estrelas”.
Para que e por quem ANISTIAR
o Golpe Civil-Militar de 1964?
Tudo em louvor da historicidade?
Oremos pelos CRISTOS do filme (ainda
inédito para os jovens e idosos)
A IDADE DA TERRA.
OUTUBRO pelo fogo das pulsões revolucionadoras.
Desde que o planeta BR não é um imenso
Shopping Center. Até quando?
 
Recife, outubro de 2015.