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sábado, 20 de setembro de 2025

FRANKENSTEIN Texto Teatral de Moisés Monteiro de Melo Neto Dramaturgia brasileira

 

 

 

 

 

FRANKENSTEIN

 

(texto de  Moisés Monteiro de Melo Neto)

 

 


(o fantasma da mãe de Victor o acalenta. Passa a mão no cabelo dele. O põe no colo. O VICTOR está deitado, assiste TV, mexe muito no celular; seu rosto reproduz  emojis bebe coca-cola como se fosse uísque. O fantasma da mãe tenta protegê-lo. Aparentemente Victor está estranho. O fantasma da mãe sai lentamente. Entra o monstro, com pacotes; Victor  boceja e demonstra pouca ansiedade)

 

VICTOR – Mamãe, a senhora sabe os que são emojis? Emoji é uma palavra derivada da junção dos seguintes termos em japonês: e + moji. Com origem no Japão, os emojis são ideogramas e smileys usados em mensagens eletrônicas e páginas web, cujo uso está se popularizando para além do país.

 

(fantasma da mãe parece não ouvir/ interagir com certas coisas; nada responde sobre emojis, por exemplo; tipo  inalterada; Victor continua explorando o fone, que talvez  tenha contato direto com imagen do datashow/ ou TV tela grande;  houve os passos do Monstro que se aproxima; olha para mãe; ela sacode a cabeça num abuso triste e faz gesto de recusa absoluta ao Monstro, abraça o filho e sai))

 

VICTOR – Mamãe não gosta de você.

 

MONSTRO – Velha chata, problema dela. Preconceituosa, isso que ela é. Jamais aceitaria uma criatura como eu. Mas mãe a gente não escolhe, não é?

 

VICTOR – Conseguiu comprar alguma coisa. (Victor tem um olho no fone outro nos lances da cena) O quê? Não. Não me diga: me daria enjôo estas porcarias que você come. E não vou nem chamar você de monstro, pois eu fiz você, não é?

 

MONSTRO – Eu sou um amor de monstro, não sou, não? Olha: recargas!

 

VICTOR – Uau! Pelo menos isso. É, ainda bem! E esses troços aí? Remédios? Comida?  (olha o conteúdo dos sacos de papel do tamanho grande; decepciona-se com o conteúdo deles)  Estamos mesmo em guerra! Todos estão se mobilizando, de novo. Maldito século XXI, já vai tarde, talvez, pois, no século XXII. E esses escândalos.

 

MONSTRO – Uma coisa realmente mons-tru-o-sa! (sacode sua roupa que inclui barulho de guizos, acende em parte e brilha.) Arrepiante. Essa vida é mesmo uma grande comédia. E quando a vida parece uma comédia, temos que saber como rir dela, não é, Doc? Ninguém suspeita de nós. Culparam um empregado da fazenda.

 

VICTOR – Não é assim que eu penso. E de acordo com o que li na net... (pega algo dentro do saco que o monstro trouxe, joga às pressas na boca e tem dificuldade para engolir, o monstro o ajuda; Victor zomba dele). Vixe! sua pele está horrível! Seus olhos estão fora do lugar (corrige o ombro e a cabeça do bicho) não conseguiu comprar carne?

 

MONSTRO – A coisa está terrível! Todos estão correndo como doidos. A qualquer minuto estoura vem o pior da guerra. Foi por isso que hoje ninguém notou que sou um monstro e me confundiram com um humano monstruoso qualquer. Tá assim deles no meio da rua. O caos. Recife será alvo de várias explosões. Estão evacuando os prédios mais altos e...

 

VICTOR – Uma matéria sobre nós no Recife SKY FALL, de hoje. Escute: um famigerado monstro vem atacando lojas e supermercados enchendo de admiração e repulsa alguns cidadãos; a galerinha jovem está curtindo de montão; virou tendência nas baladas; o monstro lembra aquela descrição do que foi visto na cena de um crime que chocou tudo e todos; o dos dois jovens encontrados mortos na semana passada, na fazenda de Victor Frankenstein, um era o capataz da fazenda, tinha 21 anos, era irmão da outra vítima, Judite, que morreu, inexplicavelmente,  vestida de noiva no dia do casamento dela com Victor  (olha o monstro, os dois riem. Fake news! KKKKKKKKKKKKKKKK! (Victor para e faz um número de palhaçaria com o monstro). Mentiras!

 

MONSTRO – O essencial é invisível aos olhos, não é? É melhor ser do que ter!

 


VICTOR – Meus planos foram por água abaixo. Jamais pensei que você tivesse coragem de cumprir suas promessas assassinas! (bebe mais) A única coisa boa, neste exato momento é este refrigerante, acredite. Mesmo sendo vagabundo... é  refrigerante! (pausa) E o dinheiro? Conseguiu no cartão falso?

 

MONSTRO –  (rindo feito doido) Sim. Nas intermitências da rede. Eles estão temendo um colapso financeiro em grande escala, de novo. Palhaçada!

 

VICTOR – Você  é tão sabidinho. (O monstro se deita) Conseguiu comprar uma boa quantidade?

 

MONSTRO – Oh, sim!  E meus suplementos, também.

 

VICTOR – Não durma! Precisamos conversar.

 

MONSTRO – Eu já lhe contei tudo.

 

VICTOR – Eu quero  escutar tudo novamente.

 

MONSTRO – Matei as duas únicas pessoas que lhe amavam e podiam lhe ajudar. Porque você fugiu de mim, traiu nossos princípios! Deixou-me só, abandonado à minha própria sorte. (música dramática, monstro caricatura o sofrimento) Na minha mente tudo é desordem... lembro-me de ter morrido.

 

VICTOR – Sim, e eu o ... (pausa) ressuscitei.Eu ressuscitei  você! (abre um frasco; toma uns comprimido; ri)

 

MONSTRO – Eu lembro pouco, já faz um ano.

 

VICTOR – Um ano que eu sofro incessantemente. Eu devia ter ficado na Fazenda.  Nunca devia ter vindo para a universidade. Ter criado você.

 

MONSTRO – Eu já sei de tudo sobre sua vida. Está no meu cérebro.

VICTOR – Minha mãe não se recuperou, morreu ontem, depois de muito tempo,  naquele tão  hospital (canta um música absurda e dança com glamour inusitado). Ela é sua terceira vítima.

 

MONSTRO – Desculpe.

 

VICTOR – Ah! como se pudesse se desculpar uma coisa destas! Era a minha chance de ser feliz! E Judite! A ... única mulher que eu amei.

 

(monstro deita; no plano da alucinação é reconstituída  quando o monstro tenta beijar Judite, que experimentava o vestido de noiva; ela usa o véu e grita “Nelson Rodrigues! Nelson Rodrigues!”. O monstro tenta estrangular, mas ela já é um fantasma que se retira com um riso estranho nos lábios e gestos de desdém)

 


MONSTRO – Você me desafiou! Antes do casamento lhe dei uma chance e o que você fez? ah! Você me desprezou! Me ridicularizou. Eu sempre vivi escondido por sua causa, porque você me fez esta caricatura grotesca de um homem!

 

VICTOR – Eu busquei a perfeição!

 

MONSTRO – Não me conte! Eu já sei de tudo. Matei Judite sim, com toda a raiva que eu tinha, e, mataria mil vezes aquela  menininha impertinente. (ruge) Sabe? (pausa dramática) Eu me tornei mais humano depois daquele assassinato!

 

VICTOR – Eu não vou conseguir emprego como cientista, nunca mais, em lugar nenhum.

 

MONSTRO – Podíamos ir para uma ilha distante.

 

VICTOR – Que ilha? Aonde nós chegamos, somos escorraçados! Você podia ser apenas um projeto! Mas não! Eu tinha que construir você.

 

MONSTRO – Eu não pedi para nascer!

(o monstro canta uma música brega  originalmente feita para a peça)

 

VICTOR – Pare já com esse número ridículo!

 

MONSTRO – Não podemos ter tanto medo assim do ridículo, não é, doc?

 

VICTOR – Matou Judite (começa a andar em círculos) Matou... o irmão dela!... e fingiu o tempo todo que...

 

MONSTRO – Se feche pro meu lado! Hum! Já disse: eu não fingi nada!

 

VICTOR – Fingiu sim!

 

MONSTRO – Nunca! Pelo menos isso eu tenho.

 

VICTOR – O quê? O que é que você tem de seu? De só seu? Hein?  Eu reconstruí o seu corpo. (pega na cabeça do monstro que está sentado e indefeso) o seu cérebro! Ah! Como um matemático... um  diretor  de cinema... Mas você reagiu de forma estranha à  sua formação... é isso que eu digo: você não deu certo!

 

(NÚMERO DE PALHAÇARIA: dá um  murro  na cabeça do  monstro)

 

MONSTRO – Morra de falar. Vá, seu ridículo! Uhu! (estica a boca e faz munganga de palhaçaria)  Uh! KKKKKKKKKKKKK: eu não sofro! Eu sou apenas um monstro. (faz pose de galã de vitrine) Um amor de monstro. Se eu tivesse um canal no youtube, eu ia virar tendência!

 

VICTOR – Estrangular minha noiva Judite... uma garota fantástica!

 

MONSTRO –O capataz de 21 anos também era um (zomba)  garoto... fantástico . Não era?

 

VICTOR – Sua mente é pior do que eu pensava. Parece aquele seriado americano pra fazer idiota rir de porcaria!  (chora como num drama de circo) Eu os amava como se fossem meus irmãos...

 

MONSTRO – Dois matutos. Animaizinhos  do interior!

 

VICTOR – Eu também sou “matuto”... Um animal do interior...este verniz acadêmico nada significa.

 

MONSTRO – Tolice sua, você exagerou na Coca-Cola! Foi isso!

 

VICTOR – Viver de golpes! Ah,se eu pudesse vender você  (pausa irônica) ...para um circo, ou talvez para um laboratório, sei lá...

 

MONSTRO – (geme profundamente) Ahhhhhhhhh...! (pausa atormentada e obviamente ridícula) De que me valeu levantar dos mortos? (muda para erótico doido) Me sinto tão... tão... tão fragmentado... pós-modernidade líquida! Tão... Tão... digital... to muito doido com isso tudo...

 

VICTOR – (vai até uma mesinha, senta-se numa cadeira e olha-se num espelho que está voltado para a plateia) Palavras. Palavras. Palavras. Palavras  não podem descrever... o horror! (afasta-se do espelho). Desde que resolvi me dedicar aos estudos sobre o ser humano, fui me afastando cada vez mais... do povo, da no Hellcife...

 

MONSTRO – (dopado, repete mecanicamente)  Mmmaaallldittto  Recife! (cai na cama no primeiro andar, a gargalhar)

 

VICTOR – Meu nariz está sangrando! A minha fazenda, meu lugar,meu país,minha casa (pega um lenço) esta cidade, minha cultura (assoa o nariz). Eu não aguento mais este... carnaval de falsidades. ( tenta parar a peça, dirige-se à plateia). Se Leidson Ferraz estivesse vivo, pelo menos... pelo menos ele... Ah, sei lá! Ou fosse na época dos grandes críticos de São Paulo m e do Rio de Janeiro... (procura  os biscoitos) Nem a porra de um biscoito tem aqui (pega uma garrafa de coca-cola). Meus inimigos estão no poder (olha o monstro). Seu desgraçado! (bate violentamente no monstro) Devolva!

 

MONSTRO – Pare com isso!

 

VICTOR – Devolva tudo (como um ator caricato de Hollywood)  para mim... para o povo... para o Senhor do Cosmos.

 

MONSTRO – Você? (como cego) é você o Senhor do Cosmos? Que veio me visitar? (cai)

 

VICTOR – (delira comicamente)   Eu quis mais... Agora cheguei à  beira do abismo. O país está em chamas e todos têm de se redimir para encarar o espírito nacional. O povo... as favelas... os prostitutos... e as crianças famintas, e a minha mãe morrendo e as minhas terras e os camponeses e os assassinos de aluguel e esses dias  todos. E eu?

 

MONSTRO –  (ri) KKKKKKKKKKKK! Você é um péssimo ator!

 

(fazem um número musical)

 

VICTOR – Você também não é nenhum  Johnny Depp!

 

MONSTRO – (levantando-se um pouco) Me dê um gole disto. (bebe) Ah! Como é terrível não ter paladar. Não sentir gosto!

 

VICTOR – (tomando o copo) Então não beba. Não é bom para sua constituição. A bebida vai corroer suas entranhas. (pega na cabeça do monstro) Tanta coisa boa eu coloquei no seu cérebro. Você seria o homem perfeito para governar esse país. Onde foi que eu errei?

 

(soa primeiro o alarme)

 

MONSTRO – O alarme! Temos que ir para o abrigo! Avisaram que todo mundo vai fazer isso. Abrigos subterrâneos. E o preconceito contra sujetos como eu? Vão me esquartejar, de novo!

 

VICTOR – Canalhas! Todos! Nos espremer em bu-ra-cos. Como ratos , embaixo do chão. Nunca mais poder desfrutar da luz do sol. Eu sou um condenado...um prisioneiro condenado. Numa masmorra terrível: eu mesmo!(bebe mais coca-cola falsificada) Tanto que eu lutei por uma situação melhor! E quando não tiver mais desse refrigerante para beber?! O que vai ser da minha vida?

 

MONSTRO – O senhor é um homem exemplar, professor.

 

VICTOR – Não se atreva a repetir isto.

 

MONSTRO – Não sei o que dizer para lhe agradar.

 

VICTOR – Eu preciso falar, conversar com alguém nem que seja com você. Diga qualquer coisa. (pega mais uma lata no pacote que o monstro trouxe; bebe mais refrigerante; olha dentro do pacote e pega uma lata de carne) legal essa carne basta comer uma colher por dia e qualquer outra coisa, até papel para formar fezes...

 

 

MONSTRO – (deitado no divã, como no psicanalista) Judite e o irmão dela; ele era um belo rapaz, eu, que fui criado este traste que você fez de mim, mas que sei me truquear, às vezes. Percebi logo que o senhor era apaixonado pelos dois.

 

VICTOR – E o que é que você tinha com isso?

 

MONSTRO – Pra que você me criou?

 

VICTOR – Minhas intenções foram boas.

 

 (número curto com o monstro dublando DON'T LET ME BE MISUNDERSTOOD , com o Santa esmeralda)

 

Baby, do you understand me now
Sometimes I feel a little mad
Well don't you know that no-one alive
Can always be an angel
When things go wrong I seem to be bad

I'm just a soul who's intentions are good
Oh Lord, please don't let me be misunderstood

Baby, sometimes I'm so carefree
With a joy that's hard to hide
And sometimes it seems that
All I have to do is worry
And then you're bound to see my other side

I'm just a soul who's intentions are good
Oh Lord, please don't let me be misunderstood

If I seem edgy, I want you to know
That I never mean to take it out on you
Life has it's problems and I get my share
And that's one thing I never mean to do

Cause I love you
Oh, oh, oh, baby, don't you know I'm human
Have thoughts like any other one
Sometimes I find myself alone and regretting
Some foolish thing, some little simple thing I've done

I'm just a soul who's intentions are good
Oh Lord, please don't let me be misunderstood

Yes, I'm just a soul who's intentions are good
Oh Lord, please don't let me be misunderstood

Yes, I'm just a soul who's intentions are good
Oh Lord, please don't let me be misunderstood

Yes, I'm just a soul who's intentions are good
Oh Lord, please don't let me be misunderstood

 

 

MONSTRO – Eu não tinha emoções. (pausa chorona) Naquele  dia, surpreendi o irmão de Judite, no banheiro. Era o dia do casamento do seu casamento com a irmã, dele. Ele tentou gritar. Eu queria apenas conversar com ele. Me explicar! Daí as coisas se confundem na minha cabeça. O beijo, as fezes... o sangue...

 

VICTOR – Beijo? Mas que beijo?

 

MONSTRO-  Um beijo... as fezes... o sangue, o grito sufocado, eu batendo a cabeça dele na pia.

 

VICTOR – Pare! (pega na cabeça, tentando não ouvir, põe as mãos no ouvido. Entra o fantasma de Judite)

 

MONSTRO – Corri para o quarto de Judite. Ela já estava pronta para o casamento. Se perfumava quando eu entrei. Quis fugir, eu a  detive. Ela notou o sangue nas minhas mãos sujando seu vestido branco, depois eu lembro dos olhos dela nas minhas mãos... ela perdendo a consciência, eu rasgando os peitos dela, o pescoço... Ela caindo, eu caindo, eu com as jóias, na casa de um empregado, ninguém me viu. Aí surgiram minhas primeiras emoções.

 

VICTOR – Seu monstro!

 

MONSTRO – Você me criou.

 

VICTOR – Desgraçado!

 

MONSTRO – Você me criou.

 

VICTOR – Porque você não vai embora?

 

MONSTRO – Porque você é tudo que eu tenho. O meu elo com o mundo. Porque é que você não desiste de mim? Mate-me! Mas não me trate sempre como se estivéssemos diante de um tribunal onde expurgássemos todas as nossas culpas. Você não é meu juiz!

VICTOR – Você acabou com a minha vida.

 

MONSTRO – Você acabou com a sua vida. Seu trouxa! Seu bunda mole!

 

VICTOR – Monstro assassino!

 

MONSTRO – A única coisa que eu sabia fazer era matar... o mundo era estranho pra mim ... eu não sabia fazer nada, fui aprendendo tudo lentamente. Até o sol me assustava. Por sua vez, o povo também me desprezava. Onde eu passava era apedrejado, vaiado, cuspido, (olha para o VICTOR)  podiam ter me dado um corpo melhor, um rosto bonito, mas não! Eu assusto as pessoas só de olhar para elas! Esses meus olhos...(pega o espelho) Você tem obrigação de me dar uma vida melhor.

 

VICTOR – Onde foi que eu errei? (acende um cigarro)

 

MONSTRO – Nós não erramos, eles é que não entraram na viagem.

 

VICTOR – Que viagem? (soa o segundo toque)

 

2ª ATO


MOISÉS MONTWIERO DE MELO NETO dirigindo os atores Felipe Mendonça (MoNSRO) E Júlio Adriano (Dr. Victor Frankenstein), auditório da UNIVERSIDADE ESTADUAL DE ALAGOAS (UNEAL)
Dia 18 de setembro de 2025


 

MONSTRO – É o sinal da bomba! (bate com a cabeça no chão depois de  se ajoelhar-cai) me sinto como Lúcifer... expulso da casa de Deus-pai... eu originei o perdão... Tive que refazer a terra... quis criar um novo lugar... mas este lugar é o Recife ... sou um anjo repugnante! Eu não dei certo. Sua experiência é o que eu sou! Você não sabe explorar meus  potenciais nem eu tenho como explicar! E eu o sigo mesmo assim... não quero fugir! Sou um escravo!

 

VICTOR – Lá vem você com esta história. (pausa) Você é livre. Vá embora. Fuja! Ai! (simula câimbras) como dói!

 

MONSTRO – (um pouco indiferente, um pouco cuidadoso) São... (pigarreia) as ...câimbras? As câimbras voltaram? (inclina a cabeça)

 

VICTOR – Sim! Depois daquele acidente, nunca mais fui o mesmo.

 

MONSTRO – Está vendo? Foi tentar fugir... deu nisso. Deixe-me massagear...

 

VICTOR – Nunca! (pausa) Eu não me arrependo de ter saído pelo mundo! Devemos sempre viajar... tenho minhas mãos... meu cérebro, minha fé. E sobrou algo em mim que a ciência não pode destruir! (olha para um horizonte imaginário) É essa minha vontade... uma fonte de energia que vai brotando à medida que dela me conscientizo! A vontade de acima dos vícios e virtudes! A vontade de mudar...

 

MONSTRO – Do Recife?

 

VICTOR – (pausa)   De  vida!

 

MONSTRO – No Recife?(começa a tocar uma melodia bem suave)

 

VICTOR – Na minha infância havia um lugar... era lindo! O areial...o vento na campina...as pequenas flores do campo...a imensidão...O trenzinho apitando...os livros...As vaquinhas...os gansos,as ovelhas...o mel...as comidas de São João. E agora que estou assim... sinto que  a inveja e a incompreensão destruíram tudo pelo poder, que eles juram que será do povo. (bebe) Descubro horrorizado que somos nós, que de nada usufruímos, que vamos pagar a conta!

 

MONSTRO – Façamos a  revolução, mestre ! (curva-se)

 

VICTOR – Já houve a “Revolução” no Recife! Mas por causa das alianças políticas, o processo é... lento..

 

MONSTRO – Não sinto os efeitos da revolução.

 

VICTOR – É gradual. Mas veja: já nos cuspiram pra longe, só por que somos... quer dizer; você, é um monstro.

 

MONSTRO – Maldito Recife! Não há lugar para pessoas como  nós, aqui. Não é? (ri) Você teme a opinião dos outros  a nosso respeito? Você tem vergonha de mim?

 

VICTOR – Se você desaparecesse de repente, seria ótimo! Não agüento mais carregar você para cima e para baixo. Você é  como se fosse o meu câncer!  (som  alarmante)

 

MONSTRO –  (monstro coloca a mão na boca,para evitar grito de horror, que explode de repente)  Carrasco! (esbofeteia o cientista). Dane-se ,com sua mania de onipotência! Mate-me! Mas você não tem o direito de me julgar! Homem oco! Suas entranhas, são de palha! (pausa) Uma vez, tive um sonho! Estava num campo.(pausa) Perdido. Desesperado. Sozinho... sem saber que direção tomar; pois todas levavam a lugar nenhum... até que na linha do horizonte, apareceu  o senhor,mestre, em cima de um cavalo muito bonito, rápido,  vindo  em minha direção, e , ao ver-me triste naquela imensidão de agonia, puxou-me para cima do cavalo e seguimos. Eu me acalmei, não queria nem saber aonde íamos!

 

VICTOR – (bebendo,distraído) Não sabia que você tinha sonhos.

MONSTRO – Esse foi o único. (baixa a cabeça)

 

VICTOR – Muito fácil de decifrar, este seu sonho, os arquétipos...

 

MONSTRO – Estou acima dos arquétipos da “psicologia doentia” do Dr. Freud e de outros canalhas que não fizeram mais do que emporcalhar a cultura humana! Estou acima da “moral” dos homens! Sou um soldado! Não sou uma vítima como você, Victor: Que faço mestre?

 

VICTOR – Isto é teatro ou vida real?

 

MONSTRO – Não sei.  Me deixe desacordado, enquanto o senhor encontra a solução. Ou enquanto não explode ...a bomba!

 

VICTOR – Não acredito na... bomba !!!

 

MONSTRO – Eu gostaria de ficar congelado (pausa) até amanhecer de uma nova raça.

 

VICTOR – Eu o manterei drogado até que possa achar uma solução.

 

MONSTRO – Talvez, hoje quando acabar o espetáculo, alguém nos procure e, juntos, poderíamos...quem sabe? É!  Encontrar uma resposta, que sirva para sair deste labirinto...

 

VICTOR – Sim, talvez atrás do palco, hoje, esteja a minha chance, ou talvez no camarim quando eu estiver retirando minha maquiagem, eu veja através do espelho, o fio que nos guiará para fora deste...labirinto...e sabe qual é ele? O clarão atômico...o som da destruição em massa! Talvez amanhã...O fim sempre está mais próximo do que imaginamos...  (um som de explosão, vidros estilhaçando-se, gritos de crianças tiros. Alguém grita: “larga o que é meu!” Latidos) Será o fim?

 

MONSTRO – É a guerra!

 

VICTOR – O pacato povo do Recife foi obrigado a fazer guerra! Os zumbis malvados na essência escondida até deles mesmos, se revoltaram, não assistem mais  à  televisão, estão nas ruas!

 

MONSTRO – No meio de uma guerra... ninguém vai nos notar... sim! Podemos desenvolver milhões de projetos! Imagine a quantidade de  miseráveis ,dispostos a qualquer coisa...

 

VICTOR – Cala a boca! Idiota!

MONSTRO – Você me fez assim!

VICTOR – Não meu filho!

MONSTRO – Sim: seu filho! (explosão mais próxima). Diga-me VICTOR: o senhor vai imortalizar-me na sua obra? Eu sou sua obra prima?

VICTOR – Sim. Você é minha obra-prima! Meu ...melhor aluno! Você, será imortal. Mas não sei se algum dia...  alguém vai lhe entender... sabe? É muito difícil... (bebe) De que adianta viver assim? Você é igual a merda! (bebe, completamente indiferente ) Não serve para nada.

 

MONSTRO – Sua vaca!

 

VICTOR – (levanta-se) E você é uma girafa no Polo-Norte!

 

MONSTRO – Alienado! Estamos nos últimos dias do Recife, talvez, desta vez a gente consiga... e você ainda se dá o luxo de delirar...

VICTOR – Nunca haverá um fim para o Recife. Porque Recife é como uma Fênix. Das cinzas do Recife se erguerá sempre uma nova folia da e vai ter cachaça e sangue quente, fertilizará a terra atômica e uma nova raça surgirá.

 

MONSTRO – Eu sou o protótipo de uma nova raça.

 

VICTOR – Você é nada! É fruto de um “alienado” flor de uma frágil planta parasita, talvez (bebe mais Coca-cola) nunca, por mais que você tente me destruir...você não vai conseguir...

MONSTRO – Nunca... eu tentaria destruir o senhor...meu...pai... quer dizer ...o  mestre que eu sempre imaginei...

 

VICTOR – Um pai? Um mestre? (está confuso). Que horas são?

 

MONSTRO – O tempo parou.

 

VICTOR – O tempo nunca pára ... só quando é para olhar o boi voador (ri)  ...vendedor de caranguejo, comedor de lixo, explorador do povo (ri assustadoramente para a platéia)  Vampiros! Lobisomens! E lá  de um  tempo bem distante,vêm as beatas... sagradas! Anjos, demônios ...do sertão...  do litoral! De todo o lugar. Todos  curvam-se e olham para cima e alguém  grita: “Olha  a guerra!”

 

MONSTRO –  (atento) Eu escutei um barulho.

 

VICTOR – Como assim?  (batem na porta)

 

MONSTRO – Assim (batem mais forte).  Quem será?

 

VICTOR – Não abra. Pode ser a política! Esconda-se!

 

MONSTRO – A polícia?

 

VICTOR – Se não é a polícia... quem será?

 

(entra uma dançarina de programa de TV, muito nervosa, olhar e modos de quem pede abrigo; chega perto do doutor, ela tem um aparelho de som que toca música de pastoril eletrônico; insinua-se sexualmente, mas quando vê o monstro, grita apavorada e sai correndo por onde entrou)

 

MONSTRO – (entediado)  Odeio vedetes, toda vitrine do Recife agora tem uma, ou tinha antes da grande crise de 99; uma vedete seminua? Pedindo socorro...  que horror... só falta eu quebrar o pescoço dela para ela e o público aqui presente saber o que é bom pra tosse...

 

VICTOR –  Vamos ficar em silêncio. Pensarão que não há ninguém aqui e irão embora... (ficam em silêncio por um tempo) Devem estar convocando todos para os abrigos...

 (batida na porta e uma voz em OFF diz: “último aviso: sigam para o quartel mais próximo, de lá sairão as conduções para os abrigos. “Atenção! Última chamada”)

 

MONSTRO – Acho que foram embora... (pausa)

 

VICTOR –  É. (ri) Nesta hora, todas as lojas, bancos, supermercados, devem estar sendo saqueados... as procissões vindas do interior deparam com o horror e vão logo se integrando à festa... porque hoje também é carnaval, é São João... São Pedro... fim de ano... é ciranda à beira mar. Tem canjica, pamonha... galinha assada... piquenique ... e todos que colocarem uma moeda terão seus desejos atendidos (bebe mais Coca-cola)

 

MONSTRO – Devo estar ficando cego... este calor... abafado... não consigo respirar;

 

VICTOR – Eu vou encontrar uma saída. No final via dar tudo certo.

 

MONSTRO – Não acredito mais. Nunca acreditei.

 

VICTOR – Vamos voltar para a fazenda, viver ao lado dos camponeses! (pausa). Esqueça. (pausa) Você acredita em Deus?

 

MONSTRO – Agora eu acredito.

 

VICTOR – Eu acredito em mim e no que faço. Se pelo menos Judite estivesse aqui!

 

MONSTRO – Sim. Ela bem que podia estar conosco!

 

VICTOR – Como?

 

MONSTRO – Você me usou para matar Judite! Me criou para isso: para demonstrar sua superioridade à maioria dos humanos...

 

VICTOR – (tentando não escutar) Não!

 

MONSTRO – Eu sou a muralha que lhe protege!

 

VICTOR – Não preciso de defesa! (ri)

 

MONSTRO – Está rindo do quê? Hein?

 

VICTOR – Você tem razão. Estamos repetindo a mesma história há anos!

 

MONSTRO – E qual a solução?

VICTOR – Tem que haver um final decente. Chega de sangue! Chega de horror! Eu quero rir! Recife foi a terra do teatro de revista! Eu quero sacanagem!

 

MONSTRO – Explique isso aos outros. Não a mim.

 

VICTOR – Eu não preciso explicar nada! Você é minha explicação a tudo!

 

MONSTRO – Não fico contente em ouvir isso.

 

VICTOR – Também não consigo ficar alegre. A plateia também não. Aí esse negócio afunda que nem o Titanic...

 

MONSTRO – Vamos fazer um número bem animado! Contrarregra! (pausa; olha a plateia de modo provocativo). Vocês sabem até que ponto o serviço de um contrarregra no teatro? Um técnico responsável pelo acompanhamento do desenrolar de uma encenação teatral, show, filmagem cinematográfica, programa de rádio ou TV, providenciando o necessário aos cenários, indicando cada entrada e saída de cena dos atores, supervisionando a equipe técnica etc. É caros espectadores…Teatro tem dessas coisas...

 

VICTOR – Você é uma conserva! Seu cérebro é como um legume dentro de uma lata! Mas... que entre a Contrarregra!

 

(número musical que inclui a atriz que fez os outros papeis femininos; depois da música , ela sai gargalhando)

 

 

MONSTRO – É bom sentir-me assim! Eu sou um homem!

 

VICTOR – Você é uma máquina feita de carne pelo homem! Um zumbi! É o que você é!

 

MONSTRO – (sonoplastia: som de tiro e vidro quebrando; uma mulher grita: “Não! Por favor, pelo amor de Deus não! Ela só tem doze anos! Não”(pausa). “Rapazes! Por favor! E... eu sou uma velha! Não! Ai! Ai!Ahhhhhhhh!”.

 

VICTOR – Eles entraram no hotel. E agora? (pausa) Daqui a pouco, estarão aqui, no quarto! Seremos torturados! Vão pensar que somos conspiradores! Não tenho advogado.

 

MONSTRO – É o efeito deste refrigerante! Este hotel é muito mal freqüentado. Essas piranhas trazem todo tipo de homem pra cá! E as pobres criancinhas.

 

VICTOR – Onde estamos? Estou tão bêbado que nem sei mais!

 

MONSTRO – Entre o mar e esse refrigerante.

 

VICTOR – Que calor! (olha como se fosse pela janela). Tá tudo se acabando... (bebe). Mas tem que ser assim para o povo poder construir algo novo. O problema daqui é que o povo morre de saudade... É verdade! Somos sentimentais ao extremo! Temos que explodir! Temos que... (bebe) Guerra é paz! Vamos fazer a guerra antes que a população inteira passe pro lado dos... dos... imperialista! (bebe)

 

MONSTRO – Quando acabará esta guerra?

 

VICTOR – Está só começando. Ah! Eu juro! Esta guerra veio no momento certo. (levanta-se) Vamos! Vamos nos alistar!

 

MONSTRO – Ninguém aceitaria uma criatura como eu.

 

VICTOR – Então companheiro! Adeus! (abraça o monstro cordialmente) Tenho que ir. O país... tenho que cumprir... o dever... a missão... de... divertir... (toca um frevo, vassourinhas, talvez, é um carro de som na rua) Agora é carnaval... tudo num disquete... dinheiro no computador... Adeus!

 

MONSTRO – Eu lhe acompanho até o posto de alistamento. (os dois rodam o palco em 180º graus) Atenção! Descansar armas! Soldados! Levantar armas! Ombros...

 

VICTOR – Não agüento mais repetir essa cena!

 

MONSTRO – Os deuses do teatro... Cuidado!

 

VICTOR – Você tem os olhos de Judite nas... mãos... os olhos da justiça que você arrancou. Estou cheio. A culpa que sinto é insuportável! (pausa). Às vezes olho para você e me pergunto: (aperta as bochechas do monstro) Quem é ele?

 

MONSTRO – Veja,Victor: Ninguém suspeita de nós. Em nenhum dos casos. Eles culparam outras pessoas por isso.

 

VICTOR – Inocentes que perderam a liberdade por nossa causa.

 

MONSTRO – Nós também não temos liberdade!

 

VICTOR – Mas não temos o direito de tirar a liberdade dos outros! Você acabou com a vida deles.

 

MONSTRO – Dá no mesmo! Eu era um cadáver e você me ressuscitou.

 

VICTOR – Não é bem assim.

 

MONSTRO – É mais ou menos isso. Tanto fez para mim vida ou morte.

 

VICTOR – Pois para mim é muito diferente. Deixe-me sair daqui!

 

MONSTRO – O senhor está livre. Mas, amanhã: aqui. Certo? Tem espetáculo. E cuidado com as bombas.

 

VICTOR – Não acredito que isto está acontecendo comigo.

 

MONSTRO – E se o senhor fechar os olhos e imaginar: Isto não precisa estar acontecendo. Como quase todo mundo, isto não precisa acontecer nunca. Mas, todo dia acontece... milhões de vezes.

 

Som da bomba. Blackout. Trombetas soam, Trovões. Um coração bate descompassado e a voz do VICTOR em OFF  cita Newton:  “Não sei como pareço aos olhos do mundo,mas eu mesmo me vejo como um pobre garoto que brincava  a praia e  se divertia em encontrar uma pedrinha mais lisa de vez em quando,ou uma concha mais bonita  do que de costume,enquanto o  grande oceano da verdade se estendia totalmente inexplorado diante de mim...”

 

(Ouve-se uma risada. O coração pára de bater: Toca um telefone. Luz sobre a cama. Monstro está só. Atende).

 

 

MONSTRO – Alô? (pausa) Não. Não sei. Talvez nunca mais. Desculpe, não tenho a resposta. (desliga o telefone).

 

FIM




"Poe o fantástico" refere-se a Edgar Allan Poe e sua obra que funde o gênero fantástico com o terror, explorando o medo, a loucura e o sobrenatural de forma psicológica. O termo também pode ser entendido como a introdução do horror no mundo da fantasia e do maravilhamento, que é a essência do fantástico, e a aplicação da literatura de terror em uma experiência de um indivíduo. Ele é considerado o "pai dos contos de terror" por sua forma de narrar a morte, o mistério e o macabro, conectando os personagens de suas histórias ao plano terreno de forma muito pessoal, o que o torna uma figura central para o gênero. Poe usava uma abordagem psicológica do terror, muitas vezes narrada em primeira pessoa, o que criava a sensação de que o leitor estava vivenciando os eventos ao lado do personagem. Suas obras exploram temas de doenças, loucura e atos infames.

·         No contexto literário, o fantástico é um modo narrativo que explora o extraordinário e o sobrenatural, levando o leitor a um estado de hesitação, pois o mundo da história se afasta da lógica do real. 

·         Horror: 

O horror é um gênero que visa causar medo e pavor ao leitor, utilizando elementos macabros, assustadores e sobrenaturais. No entanto, o horror pode ser a experiência de estar diante de um fato que causa repulsa e pavor, e a literatura de terror se apropria disso. 

·         Sinergia ( o todo é maior do que a soma das partes)

 

Quando o fantástico se une ao horror, ele oferece a base para a construção do gênero, que se utiliza dos contos de terror como um modo de produção de literatura que busca o medo. A partir do fantástico é que a hesitação do leitor perante o sobrenatural se manifesta no horror. 

 

o terror é a antecipação e o medo psicológico de algo que vai acontecer, enquanto o horror é a repulsa e o choque físico que se seguem a uma experiência assustadora ou grotesca. O terror envolve a expectativa e a ansiedade pelo perigo, ou seja, o medo do desconhecido, enquanto o horror é o momento em que o desconhecido se revela e choca os sentido

 

Terror (O que é antes) 

·         Sentimento: Pavor, apreensão, expectativa, medo psicológico, ansiedade. 

·         Origem: Desconhecido ou a ameaça iminente de um perigo, antes de ser revelado. 

·         Caráter: Sutil, focado na construção de uma atmosfera e no clima de mau presságio. 

·         Exemplo: Esperar o médico com o resultado de um diagnóstico, ou o medo de um fantasma que se ouve de madrugada. 

Horror (O que é depois) 

·         Sentimento: Repulsa, choque, pavor, asco, paralisia dos sentidos. 

·         Origem: A visão explícita de algo horrendo, grotesco ou violento, como um corpo desmembrado. 

·         Caráter: Explícito, apelativo aos sentidos, que paralisa as faculdades humanas. 

·         Exemplo: A cena de uma decapitação, ou a visão de um ataque violento. 

Para simplificar 

·         Terror: A ansiedade que se sente antes de encontrar o monstro.

·         Horror: O pavor e a repulsa que se sente ao ver o monstro.

 

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Todorov define a literatura fantástica em seu livro Introdução à Literatura Fantástica como a hesitação do leitor entre o natural e o sobrenatural, onde o acontecimento narrado pode ser explicado de forma racional ou aceito como sobrenatural, sem resolver essa ambiguidade. Ele também estabelece as categorias do maravilhoso, quando o sobrenatural é aceito como parte do mundo, e do estranho, quando os fenômenos inexplicáveis recebem uma explicação racional no final 

 

Stephen King, um mestre da literatura, equilibra o horror com o fantástico, usando a fantasia para criar um terror mais profundo e psicológico, muitas vezes focado no desenvolvimento de personagens e na sua imersão nos dramas que os levam ao limite. Ele mistura elementos de suspense e ficção científica em suas narrativas, explorando a condição humana através de um medo que vai além do superficial, como visto em obras como "O Iluminado e Carrie, a estranha

A teoria de Foucault sobre a morte do autor. Para se compreender as particularidades do processo de composição da personagem da literatura fantástica, de terror e horror é preciso que voltemos nossos olhos para o que é intrínseco ao homem: o medo de algo que foge do seu mundo natural. Para tal, utilizaremos como corpus a obra FRANKENSTEIN, da inglesa Mary Shelley, início do speculo XIX, e, para o referencial teórico, vamos nos debruçar sobre A personagem de ficção, de Antonio Candido; Introdução à Literatura Fantástica, Tzvetan Todorov; A história do Medo no Ocidente, de Jean Delumeau e outros autores canônicos que se dedicam ao estudo do fantástico, do terror, do medo e do infamiliar, este sob a perspectiva da psicanálise freudiana. 

O ponto de encontro entre o terror e o horror

Nas narrativas, a interseção entre terror e horror ocorre ao explorar profundamente

nossos medos. O terror instiga o medo ao sugerir m elementos assustadores, enquanto o horror busca provocar reações intensas por meio de eventos impactantes. Juntos, esses elementos contribuem para histórias que mergulham nas complexidades dos nossos temores, seja de maneira psicológica ou por meio de momentos visceralmente impactantes.

Stephen King é um mestre em explorar os dois gêmeos juntos. Em obras renomadas

como “It: A Coisa” e “O Iluminado” o autor mergulha de maneira detalhada no horror e no terror, construindo uma trama complexa que além de provocar sustos intensos, também desafia a psique do leitor, revelando os medos ocultos nos recantos mais sombrios daimaginação humana

 

H.P. Lovecraft é um escritor renomado do gênero fantástico e de horror, conhecido por popularizar o horror cósmico. Este subgênero combina fantasia com elementos de ficção científica, explorando o terror da insignificância humana perante divindades cósmicas e entidades indescritíveis do universo. As histórias de Lovecraft exploram o medo do desconhecido, a loucura e a percepção da fragilidade da realidade humana diante de verdades cósmicas aterrorizantes

Características do Fantástico e do Horror em Lovecraft:

·         Horror Cósmico: 

O pavor advém da descoberta de uma realidade onde a humanidade é insignificante e insignificante em um cosmos vasto e indiferente. 

·         Entidades Cósmicas: 

As histórias apresentam criaturas amorfas e divindades antigas, como Cthulhu, que são incomensuráveis e além da compreensão humana. 

·         Loucura e Percepção Distorcida: 

O conhecimento de verdades cósmicas leva à insanidade e à distorção da realidade para os protagonistas. 

·         Conhecimento Proibido: 

Um tema central é o perigo de buscar e desvendar conhecimentos que são além da capacidade da mente humana de assimilar. 

·         Atmosfera Aterrorizante: 

A prosa de Lovecraft cria uma atmosfera sufocante e tenebrosa, utilizando descrições vívidas e oníricas que imergem o leitor em um universo de pesadelos. 

Influência:

O legado de Lovecraft estende-se a outras formas de arte, influenciando escritores contemporâneos como Stephen King e Neil Gaiman , e sendo adaptado em séries de TV, filmes e jogos. Sua obra é um marco no gênero de horror, expandindo os limites do que é considerado assustador. 

 

Teatro do Absurdo é uma expressão criada pelo crítico Martin Esslin na década de 1950 para descrever um conjunto de peças teatrais do pós-Segunda Guerra Mundial que exploram a falta de sentido, a solidão e a incomunicabilidade do homem moderno através de situações ilógicas e diálogos sem nexo. Não é um movimento organizado, mas um termo que abarca obras que usam o ilógico, o trágico-cômico e o estranhamento para questionar a condição humana e a fragilidade da linguagem. Autores como Samuel Beckett e Eugène Ionesco são os principais representantes desse estilo. 

Origens e Contexto 

·         Pós-Guerra Mundial

As peças surgiram num contexto de desolação e vazio, refletindo o impacto do conflito e o questionamento dos fundamentos racionais do mundo.

·         Conceito de Esslin

O termo foi cunhado pelo crítico Martin Esslin para agrupar peças que compartilhavam a mesma essência de representação da condição humana.

·         Influências

O teatro do absurdo bebeu em movimentos de vanguarda como o DADAÍSMO e o SURREALISMO, além da influência do EXISTENCIALISMO, de Camus.

Características Principais

·         Ausência de Lógica

O mundo e a linguagem são apresentados de forma sem sentido e ilógica, evidenciando a falta de comunicação real entre as pessoas. 

·         Incomunicabilidade e Solidão

As peças retratam a atmosfera de isolamento e solidão do homem moderno. 

·         Trágico-Cômico

Há uma união entre o trágico e o cômico, tratando situações cotidianas com estranheza. 

·         Ruptura com o Realismo

Os textos rompem com o realismo psicológico, adotando uma linguagem poética e imagens concretas no palco. 

·         Estranhamento

A obra provoca um efeito de distanciamento no espectador, forçando-o a questionar a realidad

 

 

 


 

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