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segunda-feira, 21 de novembro de 2022

NOTÍCIAS DE MANÉ GOSTOSO NETO (Leonardo de Farias Leal)

 


 


                                                        Leonardo de Farias Leal

 

Mané Gostoso Neto (que dentre tantas atividades compôs a maior parte das capas dos cordéis de Moisés Monteiro de Melo Neto) é filho de Floresta-PE, passou sua infância e adolescência em meio ao casario da pequena cidade, perambulando entre o colégio e a praça, o bar da sua avó e a igreja e passando muitas horas na biblioteca municipal, um de seus locais preferidos. Influenciado pelo seu pai (que tinha habilidade em pintura) foi às margens do Rio Pajeú que germinaram suas primeiras experiências artísticas ligadas ao cordel e ao desenho. A cultura popular sempre foi um ponto de grande interesse de Mané Gostoso Neto, que via no cotidiano daquelas pessoas cenas que influenciam sua arte até hoje. Como falou Aderaldo Luciano sobre o artista: “traz na alma e na arte os traços de sua terra”. Mais tarde, adotou a cidade de Juazeiro-BA como nova morada, local que viu desabrochar nele outras formas de expressão cultural, como teatro, xilogravura, escultura, entre outros. Estudou em São Raimundo Nonato-PI, onde se formou em Arqueologia e Preservação Patrimonial pela UNIVASF. Seguindo sua Morena, com quem se casou, foi morar na cidade de João Pessoa-PB. Mané Gostoso Neto é um “alter ego” do artista Leonardo de Farias Leal, que utiliza esse nome não em homenagem ao seu avô (Mané Gostoso) e sim como protesto à forma jocosa e depreciativa que lhe era atribuído o apelido. Na cultura popular o Mané Gostoso é um brinquedo de madeira feito com duas tábuas e uma figura humana que, ao ser apertada, faz um movimento, como se fosse um trapezista.

Fortemente inspirado pelo sertão, a rebeldia e seu povo, é influenciado pelas obras dos mestres Marcelo Soares (por quem tem profundo respeito e amizade), Gilvan Samico, Ciro Fernandes, J. Borges, Dila e José Costa Leite. Sua introdução ao mundo da xilogravura começou a partir do consumo dos livros de literatura de cordel ainda na adolescência, mas, seus primeiros entalhes só vieram a ocorrer no ano de 2018 (aos 32 anos). Depois de diversas exposições coletivas e individuais em Petrolina - PE, Juazeiro - BA, São Raimundo Nonato - PI, Recife - PE, Floresta - PE, Viena (Áustria), Bienne (Suiça), Leme – SP, Evilard (Suíça). De Novembro a Dezembro de 2022 o trabalho de Mané Gostoso Neto esteve em exibição individual pela primeira vez na cidade de João Pessoa – PB.

OS CORDÉIS DE MOISÉS MONTEIRO DE MELO NETO QUE MANÉ GOSTOSO ILUSTROU:




 O CORDEL DA ESTRELA JANIS JOPLIN.........

 CORDEL DO DOM QUIXOTE PARA JOVENS......

 CORDEL DA ILÍADA: POEMA DE HOMERO SOBRE A GUERRA DE TROIA....

 CORDEL DAS BONECAS ENFORCADAS.....

CORDEL DA HISTÓRIA DO TEATRO......

CORDEL DA HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA...........

CORDEL: TRADIÇÃO, RUPTURA E PROPOSTA DE ENSINO........

CORDEL DA LITERATURA BRASILEIRA DE AUTORIA INDÍGENA....

CORDEL DA VISÃO INDÍGENA SOBRE A LITERATURA PORTUGUESA...

CORDEL DO LOBISOMEM NA CORTE DE MAURÍCIO DE NASSAU





domingo, 13 de novembro de 2022

GPLITPOP (Grupo de Pesquisa em Literatura Popular

 

O Seminário Morte e Vida Severina acontecerá no dia 27 de outubro no auditório e trará muito enriquecimento para a UNEAL campus III. Arte e conhecimento acadêmico andando juntamente. Certificados de 10 horas extracurriculares serão entregues aos inscritos. Faz parte das atividades do Grupo TUPI (Teatro Universitário em Palmeira dos Índios), Grupo de Extensão e o GPLITPOP (Grupo de Pesquisa em Literatura Popular), ambos coordenados pelo Prof. Dr. Moisés Monteiro de Melo Neto*, do Campus III, Palmeira dos Índios. A coordenação do evento também está a cargo do Conselho Estudantil da UNEAL (C. E.U.)



O evento será iniciado por um sarau com discentes da instituição. Uma chance de mostrarem sua sensibilidade artística. Seguidamente, uma palestra com o professor Prof. Dr. Moisés de Monteiro de Melo Neto sobre a obra de João Cabral de Melo Neto. Outra palestra, proferida pelo Prof. Luciano José Barbosa da Rocha tratará do célebre autor e também fará um confronto com o pensamento do filósofo franco-argelino Albert Camus, especificamente no que trata da sua visão sobre o Mito de Sísifo, em cotejo com o estigma do sertanejo retirante.  A seguir o graduando em Geografia João Victor Fernandes, UNEAL Campus III, falará sobre a geografia humana e a filosofia em MORTE E VIDA SEVERINA, Auto de Natal Pernambucano. Após isso, o espetáculo "Morte e Vida Severina", estrelado por universitários da UNEAL, será apresentado ao público.




O centenário do recifense João Cabral de Melo Neto foi em 2020, mas a pandemia adiou nosso evento, que acontece agora, de modo presencial, exclusivamente, no Campus III da Uneal.

Nas palestras sentido da morte no poema “Morte e vida severina”: reflete a difícil vida dos sertanejos, principalmente os que habitam o sertão nordestino, além de apresentar para os leitores a figura de Severino, sujeito pobre e sofredor, que tem sua vida marcada pela miséria e pela dificuldade. Refletiremos sobre o fim da vida, discutindo teoricamente algumas definições e mostrando algumas hipóteses sobre o porquê do espanto demonstrado pelos indivíduos quando a morte é tema de alguma conversa, destacando as principais características que tornam o poeta João Cabral um engenheiro no campo das palavras. Falaremos também dos estigmas e estereótipos que cercam as representações da classe dos menos favorecidos, dentre esses fatores pode-se destacar o sofrimento, a pobreza e a miséria.

Na parte da noite, a peça "Caetés", inspirada no primeiro romance de Graciliano Ramos (1933), com dramaturgismo Prof. Moisés Monteiro. A romance original que retrata como era Palmeira dos Índios há 90 anos, pela visão do Mestre Graça. abrilhantará o evento. Após a apresentação, uma breve roda de conversa encerrará a noite.

Parte da equipe da nossa peça "Caetés"


Eis um trecho da peça CAETÉS, quando o personagem-narrador expressa sua visão de mundo:

O tempo passou e eu continuei na firma como se nada tivesse acontecido, com os amigos de sempre, em Palmeira dos Índios, na mesma pensão. Uma tarde, girando por estas ruas, parei na beira do açude, lembrei-me da estrela vermelha que contemplamos, eu e Luísa Como aquilo ia longe! Passeei pela cidade numa onda de recordações. Parei na calçada da igreja. Da paisagem admirável apenas se divisavam massas confusas de serras cobertas de sombras. A estrela vermelha brilhava à esquerda. Pareceu-me pequena, como as outras, uma estrela comum. Comum, como as outras. E estive um dia muito tempo a contemplá-la com respeito supersticioso, contando-lhe cá de baixo os segredos do meu coração. E lamentei não ser um índio, como os do livro que eu queria escrever, para colocá-la entre os meus deuses e adorá-la. Ah! Não ser selvagem! Que sou eu senão um selvagem com verniz por fora? Quatrocentos anos de civilização, outras raças, outros costumes. E eu disse que não sabia o que se passava na alma de um índio caeté! Provavelmente o que se passa na minha, com algumas diferenças. Um caeté branco que sabe contabilidade e lê jornais, ouve missas. Ou pensam que sou ateu? Engano. Não há ninguém mais crédulo que eu. Ateu! Não é verdade. Tenho passado a vida a criar deuses que morrem logo, ídolos que depois derrubo — uma estrela no céu, algumas mulheres na terra...


 

* Moisés Monteiro de Melo Neto possui graduação em Letras (1992), mestrado e doutorado em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco (2011). É professor da UNEAL (Universidade Estadual de Alagoas) e da UPE (Universidade Estadual de Pernambuco). Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Literatura, nas seguintes Áreas: Dramaturgia, Literatura Comparada, Estudos Culturais, Produção Textual, Literaturas em Língua Portuguesa, Cordel, Literatura Indígena, Representações dos Gêneros na Literatura, Bioficção, Literatura e História, Literatura e Cinema. É professor desde 1992. Autor de vários livros, dentre os quais: Abismos da Poeticidade, publicado pelo SESC, LITERATURA DE AUTORIA INDÍGENA E A REPRESENTAÇÃO DO ÍNDIO EM OUTRAS LITERATURAS, CIRCO MÁGICO ALAKAZAM (publicado pelo Governo de Pernambuco), Anticânone: literatura em Pernambuco, Movimento Mangue: Chico Science e outros artistas (2021). Autor de peças teatrais que receberam menções honrosas e prêmios, Foi dramaturgista da peça Um minuto para dizer que te amo, vencedora de vários prêmios; atuou como colaborador do Suplemento Literário do Jornal do Commercio, Recife, nos anos 1990. Está na Academia Palmeirense de Letras. É pesquisador no grupo de pesquisa NEAB: Identidades culturais: preservação e transitoriedade na cultura afro-brasileira, da Universidade de Pernambuco. Faz parte do Programa de Mestrado em Letras (ProfLetras), oferecido em rede nacional, integra o Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Estadual de Alagoas e também da Pós-Graduação em História, na mesma Universidade. Em 2019 lançou o livro Shakespeare: um ensaio dramático. Colaborou de 2018 a 2020 com os jornai O SÉCULO, A Gazeta, dentre ouros. É membro da Academia Palmeirense de Letras, Ciências e Artes. Em pesquisa e extensão: NÚCLEO DE ESTUDOS POLÍTICOS, ESTRATÉGICOS E FILOSÓFICOS: NEPEF, É coordenador do GPLITPOP: Grupo de Pesquisa em Literatura Popular. xperiência Profissional: 30 anos de Magistério. Líder do Projeto TUPI Formação do Teatro Universitário em Palmeira dos Índios - Pesquisa e atuação: Teatro como instrumento pedagógico na prática do ensino de Literatura. Lançou no final de 2020 os livros 'Biografia, Autobiografia e Ficção: Literatura e História em Entrelaçamentos Vivenciais', e "Literatura africana de língua portuguesa. Tem participado de congressos, colóquios e encontros, mesmo durante a pandemia nos anos 2020/ 2021. Publicou vários dos seus cordéis. Suas peças tem sido transmitidas pela Rádio Folha de Pernambuco. Teve publicados artigos científicos com os seus alunos. Ministrou o minicurso Literatura africana de língua portuguesa, pela UNEAL, integrando forças com o projeto do Lepdic, pelo Grupo. Professor no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC).Atua no Curso de Licenciatura Intercultural Indígena de Alagoas/CLIND-AL. Vem apresentando trabalhos em encontros nacionais como o 5º Congresso Nacional de Educação, junho de 2021. Sua peça Shakespeare e os Atores ganhou versão no Youtube, com apoio da Lei Aldir Blanc, estreando dia 6 de junho de 2021. Em julho de 2021 organizou o livro Literatura africana de língua portuguesa: uma prática de ensino. Seus orientandos vêm defendendo seus trabalhos através de plataformas digitais. A convite do IFPE ministrou palestra Literatura Africana. Compôs Banca Avaliadora no VII CONGRESSO INTERNACIONAL SESC DE EDUCAÇÃO (UFPE/SEBRAE)/2021

 

O Livro X é o último livro de A REPÚBLICA, do pensador grego antigo Platão (427-347 a.C.)

 

. Platão quer a verdade, o verdadeiro, aquilo que é puro, e que não se confunde com os sentidos mundanos, precários e falhos da existência. A alma, que está em nós como essência, é o ponto que liga esta à eternidade de onde veio. A educação, conforme Platão, consiste em fazer com que se aprenda a buscar a profundidade de nossa alma (logos) e entender como ela se conecta às essências verdadeiras que estão na Ideia (o Mundo Ideal). Toda República é um texto sobre a justiça e os melhores valores para se construir um governo justo.




Verdade, para Platão, é a contemplação da perfeição que surge quando alma enxerga para além do trivial e dos sentidos. A sabedoria no sentido platônico implica reconhecer a verdade que está fora de nós, mas que dá sentido àquilo que nós somos. “Fora de nós” significa fora dos sentidos, fora da imadiatez da visão audição....A verdade é uma Essência com vida própria, e que não depende de nossas interpretações filosóficas. Como lembra o comentador, “O Livro X contém uma refutação do ateísmo baseada, em última análise, no fato de a alma existir antes do corpo”. [1]A filosofia é o exercício da contemplação e da descoberta da verdade que se encontra no mundo das Essências. Sábio é quem chega à iluminação e percebe que o mundo dos sentidos e da razão humana são enganadores porque fazem o ser humano crer que ele próprio é autor de seu destino e criador de suas imaginações. Perceber que somos apenas cópias falhas de um outro mundo – o mundo real ou mundo das Essências – é o centro da filosofia deste pensador ateniense. Nesse sentido, muitos consideram que a filosofia de Platão assemelha-se a uma religião, pois não busca outra coisa do que reconhecer que a transcendência fundamenta todo o ser (Ver narrativa de Er, aquele que ressuscita e conta como funciona a migração das almas – Útima parte do livro X). Igual uma religião, a filosofia platônica pressupõe o reconhecimento da Autoridade (Ideia, Essência) – de onde tudo provém – e a recordação ou o reconhecimento de há algo além de nós – algo que não é apenas uma imaginação e subjetividade, mas objetivamente existente. Cada nova descoberta da razão humana é apenas uma recordação do que já está nas Essências. Segundo seus pressupostos, não existe propriamente algo com a imaginação criadora. Por isso condena a arte e a poesia. Elas produzem impressões falsas para a educação das pessoas. Pois as pessoas só são capazes de imaginar algo que já lhes está dado a priori. Basta fazer o exercício da contemplação. Assim, o conhecimento está em nós como uma revelação daquilo que já existe como Essência, e o processo de conhecimento nada mais é do olhar para o interior da própria pessoa e perceber os valores eternos e prefeitos já dados, sem a necessidade da intervenção do ser humano. Os valores morais, para Platão, não são circunstanciais e consequências de nossas ações sociais, relacionais e de convivência, como a filosofia moral os entenderia atualmente. São Essências verdadeiras – independentemente de nossas vontades ou do modelo cultural do contexto em que se vive. De modo que quando descobrimos algo, apenas estamos desvendando, reconhecendo, vendo, percebendo aquilo que já sempre existiu, a eternidade que sustenta todas as coisas que vemos. Imaginação e reflexão, para o filósofo de Atenas, é recordação e contemplação e elevação da alma para o lugar de onde ela veio.

O livro X, grosso modo, possui 3 partes, mais ou menos distintas, mas que se interligam com a alma e a verdade essencial, que Platão defende para o Governo da Cidade Justa. A primeira parte é formada por um diálogo entre Sócrates e Glauco, os atores principais desse texto platônico, e constitui mais da metade do livro X. Nesse diálogo Platão põe-se a atacar a arte da imitação (Mímese) e também poetas. A segunda parte, conforme entendo, situa-se em elaborar uma maneira de falar dos valores ideais e de como a alma pode se perder. E a última, constitui o desfecho do livro X, em que Platão, valendo-se da narrativa de uma pessoa que esteve morta por dez dias, propõe o que passaria com a alma quando o corpo morre. Nesse caso, trata-se de uma pessoa, um armênio chamado Er, que esteve por vários dias entre os mortos de uma grande batalha. Voltando à vida, Er narrou as peripécias da alma, sua migração, seu sofrimento, sua salvação ou condenação.

O livro X de A República é um livro estranho para quem está acostumado com a filosofia moderna e também com a cultura secular de nossos dias. É preciso se afastar do mundo secularizado e de nossas concepções científicas modernas. Se não o fizermos, corremos o risco de não entender Platão. Os antigos ainda não conheciam a moderna separação entre religião e ciência praticada entre nós hoje. A separação entre filosofia e teologia é algo que só se deu no Renascimento europeu. Estão certos, assim entendo, todos aqueles e aquelas que consideram Sócrates, Platão e Aristóteles, também teólogos. Não teria sido por isso que a teologia cristã valeu-se tanto deles? O que seria de Agostinho sem Platão e de Tomás de Aquino sem Aristóteles?

O que nos diz Platão no Livro X de A República? Muitas coisas, mas, sobretudo, duas: a) que o governo ideal e a boa educação precisam conhecer o que a alma nos revela; b) que a arte praticada por artistas e poetas não ajuda para a edificação de uma cidade justa e ideal. Por que a Mímese (arte de imitar; daí vem a palavra mímica) deve ser condenada? As coisas que vemos são cópias de ideias, mas os sentidos não sabem disso. Só alma o saberá se for educada para isso. Platão quer uma educação ideal, ou seja, uma educação que se sirva dos valores que estão nas essências eternas. Para Platão, ao homem não cabe a criação de valores novos, mas encontrar os valores que alma perdeu, quando veio para o mundo existencial. Mas por que a alma veio para esse mundo então? Platão não é claro sobre isso. Pelo menos, não no livro X. (Mas eu sei meus alunos...eu sei...Direi em aula). A imitação só causa mais confusão à medida que não ensina a buscar fundamento algum e imitar o que já é cópia. Desse modo, a alma não aprende o valor verdadeiro e nem aprende a buscar na razão, na alma, os fundamentos de toda a existência.  Desse mesmo modo, os poetas valem-se das coisas existências, percebidas pelos sentidos. Quando narram as grandes epopeias, o fazem sob o crivo do visível, dos sentidos e defendem valores medíocres. Os verdadeiros valores da Cidade Justa não estão na vontade e no desejo humano, mas na capacidade de alma elevar-se e ver que a justiça e bondade, que deve ser o centro do governo de Atenas, não está nas coisas e sim na alma humana quando ela medida profundamente sobre o sentido de tudo que há. Só a razão pode nos fazer ver que o mundo justo existe longe de nós. A justiça e a bondade não são valores deduzidos das práticas da existência. O que os homens acham bom e justo, varia de acordo com o lugar, a região e a cultura. Platão quer valores que ultrapassem a relatividade histórica de lugar e momento cultural. Os valores ideias de cidade justa precisam ser encontrados na alma e suas manifestações. Todo o livro X é uma análise da função da alma como fundamento do que é eterno, duradouro em contraposição à existência, sempre cambaleante e precária.

REFERÊNCIA

 PLATÃO. A República. Tradução de Leonel Villandro. Edição Especial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014. (Clube do Livro). 

[1]. PLATÃO. Fedro. São Paulo: Martin Claret, 2007.  Comentário de Paul Tannery, A vida, a obra e a doutrina de Platão, p. 11-46. A citação é da página 26.

domingo, 6 de novembro de 2022

SERMÃO DE SANTO ANTÔNIO AOS PEIXES, do PADRE ANTÔNIO VIEIRA

 


 

Vieira defendeu os cristãos-novos contra a Inquisição, condenou a rebeldia do quilombo dos Palmares e reprovou as reformas da capitania de São Paulo que favoreciam a escravização dos índios. Morreu lúcido aos 89 anos de idade, em Salvador, em 1697O Sermão de Santo Antônio aos Peixes foi pregado em 13 de Junho de 1654 em São Luís do Maranhão, em 1654, três dias antes de embarcar escondido para Portugal no auge da luta dos jesuítas contra a escravização dos índios pelos colonizadores, procurando o remédio da salvação dos Índios. O sermão revela toda a ironia, riqueza nas sugestões alegóricas e agudo senso de observação sobre os vícios e vaidades do homem, comparando-o, por meio de alegorias, aos peixes.



Critica a prepotência dos grandes, que, como peixes, vivem do sacrifício de muitos pequenos, os quais “engolem” e “devoram”. O alvo são os colonos do Maranhão, que no Brasil são grandes, mas em Portugal “acham outros maiores que os comam, também a eles”.

Censura os soberbos (= roncadores); os pregadores (= parasitas); os ambiciosos (= voadores); o hipócritas e traidores (= polvos).

Na abertura do Sermão de Santo Antônio aos Peixes, a apresentação do tema de extração bíblica (Vos estis sal terrae) oferece oportunidade para o questionamento das causas da ineficácia da oratória sacra. A argumentação conceptista apoia-se no paralelismo sintático, na repetição anafórica das alternativas que servem de eixo básico do raciocínio: “Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra não se deixa salgar”.

 

Alguns recursos estilísticos de Pe. Antônio Vieira neste sermão

1. Antíteses

“Tanto pescar e tão pouco tremer!”

“No mar, pescam as canas, na terra pescam as varas (…)”

“(…) deu-lhes dois olhos, que direitamente olhassem para cima (…) e outros dois que direitamente olhassem para baixo (…)”

“A natureza deu-te a água, tu não quiseste senão o ar (…)”

“(…) traçou a traição às escuras, mas executou-a muito às claras.”

“(…) António (…) o mais puro exemplar da candura, da sinceridade e da verdade, onde nunca houve dolo, fingimento ou engano.”

“Oh que boa doutrina era esta para a terra, se eu não pregara para o mar!”

2. Comparações

“Certo que se a este peixe o vestiram de burel e o ataram com uma corda, parecia um retrato marítimo de Santo António.”

“O que é a baleia entre os peixes, era o gigante Golias entre os homens.”

“(…) com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge;
com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela;
com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura (…)”

“As cores, que no camaleão são gala, no polvo são malícia (…)”

“(…) e o salteador, que está de emboscada (…) lança-lhe os braços de repente, e fá-lo prisioneiro. Fizera mais Judas?”

“Vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade, pois Judas em tua comparação já é menos traidor!”

3. Paralelismos e anáforas

“Ou é porque o sal não salga, e os pregadores…;
ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes…
Ou é porque o sal não salga, e os pregadores…;
ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes…
Ou é porque o sal não salga, e os pregadores…;
ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes…”

“Deixa as praças, vai-se às praias;
deixa a terra, vai-se ao mar…”

“Quantos, correndo fortuna na Nau Soberba (…), se a língua de António, como rémora (…)

Quantos, embarcados na Nau Vingança (…), se a rémora da língua de António (…)

Quantos, navegando na Nau Cobiça (…), se a língua de António (…)

Quantos, na Nau Sensualidade (…), se a rémora da língua de António (…)”

“(…) com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge;
com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela;
com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura (…)”

“Se está nos limos, faz-se verde;
se está na areia, faz-se branco;
se está no lodo, faz-se pardo (…)”

4. Ironia

Mas ah sim, que me não lembrava! Eu não prego a vós, prego aos peixes.”

“E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa (…) o dito polvo é o maior traidor do mar.”

5. Metáforas

“Esta é a língua, peixes, do vosso grande pregador, que também foi rémora vossa, enquanto o ouvistes; e porque agora está muda (…) se vêem e choram na terra tantos naufrágios.”

“(…) pois às águias, que são os linces do ar (…) e aos linces que são as águias da terra (…)”

“(…) onde permite Deus que estejam vivendo em cegueira tantos milhares de gentes há tantos séculos?!”

” (…) vestir ou pintar as mesmas cores (…)”

“(…) e o polvo dos próprios braços faz as cordas.”

6. Trocadilhos

“Os homens tiveram entranhas para deitar Jonas ao mar, e o peixe recolheu nas entranhas a Jonas, para o levar vivo à terra.”

“E porque nem aqui o deixavam os que o tinham deixado, primeiro deixou Lisboa, depois Coimbra, e finalmente Portugal.”

“(…) o peixe abriu a boca contra quem se lavava, e Santo António abria a sua contra os que se não queriam lavar.”

 

Leia na íntegra o Sermão de Santo Antônio aos Peixes

Vos estis sal terrae. S. Mateus, V, l3.

 

I

Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma cousa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal! [...]

Mas porque nestas duas ações teve maior parte a omnipotência que a natureza (como também em todas as milagrosas que obram os homens) passo às virtudes naturais e próprias vossas. Falando dos peixes, Aristóteles diz que só eles, entre todos os animais, se não domam nem domesticam. Dos animais terrestres o cão é tão doméstico, o cavalo tão sujeito, o boi tão serviçal, o bugio tão amigo ou tão lisonjeiro, e até os leões e os tigres com arte e benefícios se amansam. Dos animais do ar, afora aquelas aves que se criam e vivem conosco, o papagaio nos fala, o rouxinol nos canta, o açor nos ajuda e nos recreia; e até as grandes aves de rapina, encolhendo as unhas, reconhecem a mão de quem recebem o sustento. Os peixes, pelo contrário, lá se vivem nos seus mares e rios, lá se mergulham nos seus pegos, lá se escondem nas suas grutas, e não há nenhum tão grande que se fie do homem, nem tão pequeno que não fuja dele. Os autores comumente condenam esta condição dos peixes, e a deitam à pouca docilidade ou demasiada bruteza; mas eu sou de mui diferente opinião. Não condeno, antes louvo muito aos peixes este seu retiro, e me parece que, se não fora natureza, era grande prudência. Peixes! Quanto mais longe dos homens, tanto melhor; trato e familiaridade com eles, Deus vos livre! Se os animais da terra e do ar querem ser seus familiares, façam-no muito embora, que com suas pensões o fazem. Cante-lhes aos homens o rouxinol, mas na sua gaiola; diga-lhes ditos o papagaio, mas na sua cadeia[...]; faça-lhes bufonarias o macaco, contente-se o cão de lhes roer um osso, mas levado onde não quer pela trela; preze-se o boi de lhe chamarem formoso ou fidalgo, mas com o jugo sobre a cerviz, puxando pelo arado e pelo carro; glorie-se o cavalo de mastigar freios dourados, mas debaixo da vara e da espora; e se os tigres e os leões lhe comem a ração da carne que não caçaram no bosque, sejam presos e encerrados com grades de ferro. E entretanto vós, peixes, longe dos homens e fora dessas cortesanias, vivereis só convosco, sim, mas como peixe na água. De casa e das portas a dentro tendes o exemplo de toda esta verdade, o qual vos quero lembrar, porque há filósofos que dizem que não tendes memória.

No tempo de Noé sucedeu o dilúvio que cobriu e alagou o Mundo, e de todos os animais quais livraram melhor? Dos leões escaparam dois, leão e leoa, e assim dos outros animais da terra; das águias escaparam duas, fêmea e macho, e assim das outras aves. E dos peixes? Todos escaparam, antes não só escaparam todos, mas ficaram muito mais largos que dantes, porque a terra e o mar tudo era mar. Pois se morreram naquele universal castigo todos os animais da terra e todas as aves, porque mão morreram também os peixes? Sabeis porquê? Diz Santo Ambrósio: porque os outros animais, como mais domésticos ou mais vizinhos, tinham mais comunicação com os homens, os peixes viviam longe e retirados deles. Facilmente pudera Deus fazer que as águas fossem venenosas e matassem todos os peixes, assim como afogaram todos os outros animais. Bem o experimentais na força daquelas ervas com que, infeccionados os poços e lagos, a mesma água vos mata; mas como o dilúvio era um castigo universal que Deus dava aos homens por seus pecados, e ao Mundo pelos pecados dos homens, foi altíssima providência da divina Justiça que nele houvesse esta diversidade ou distinção, para que o mesmo Mundo visse que da companhia dos homens lhe viera todo o mal; e que por isso os animais que viviam mais perto deles, foram também castigados e os que andavam longe ficaram livres.

Vede, peixes, quão grande bem é estar longe dos homens. [...]

III

Este é, peixes, em comum o natural que em todos vós louvo, e a felicidade de que vos dou os parabéns, não sem inveja. Descendo ao particular, infinita matéria fora se houvera de discorrer pelas virtudes de que o Autor da natureza a dotou e fez admirável em cada um de vós. [...]

Ah moradores do Maranhão, quanto eu vos pudera agora dizer neste caso! Abri, abri estas entranhas; vede, vede este coração. Mas ah sim, que me não lembrava! Eu não vos prego a vós, prego aos peixes.[...]

«Os homens com suas más e perversas cobiças, vêm a ser como os peixes, que se comem uns aos outros.» Tão alheia cousa é, não só da razão, mas da mesma natureza, que sendo todos criados no mesmo elemento, todos cidadãos da mesma pátria e todos finalmente irmãos, vivais de vos comer! Santo Agostinho, que pregava aos homens, para encarecer a fealdade deste escândalo, mostrou-lho nos peixes; e eu, que prego aos peixes, para que vejais quão feio e abominável é, quero que o vejais nos homens.

Olhai, peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso o que vos digo. Vós virais os olhos para os matos e para o sertão? Para cá, para cá; para a cidade é que haveis de olhar. Cuidais que só os Tapuias se comem uns aos outros? Muito maior açougue é o de cá, muito mais se comem os Brancos. Vedes vós todo aquele bulir, vedes todo aquele andar, vedes aquele concorrer às praças e cruzar as ruas; vedes aquele subir e descer as calçadas, vedes aquele entrar e sair sem quietação nem sossego? Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão-de comer e como se hão-de comer. Morreu algum deles, vereis logo tantos sobre o miserável a despedaçá-lo e comê-lo. Comem-no os herdeiros, comem-no os testamenteiros, comem-no os legatários, comem-no os acredores; comem-no os oficiais dos órfãos e os dos defuntos e ausentes; come-o o médico, que o curou ou ajudou a morrer; come-o o sangrador que lhe tirou o sangue; come-a a mesma mulher, que de má vontade lhe dá para a mortalha o lençol mais velho da casa; come-o o que lhe abre a cova, o que lhe tange os sinos, e os que, cantando, o levam a enterrar; enfim, ainda o pobre defunto o não comeu a terra, e já o tem comido toda a terra.

Já se os homens se comeram somente depois de mortos, parece que era menos horror e menos matéria de sentimento. Mas para que conheçais a que chega a vossa crueldade, considerai, peixes, que também os homens se comem vivos assim como vós. [...]

A diferença que há entre o pão e os outros comeres, é que para a carne, há dias de carne, e para o peixe, dias de peixe, e para as frutas, diferentes meses no ano; porém o pão é comer de todos os dias, que sempre e continuadamente se come: e isto é o que padecem os pequenos. São o pão quotidiano dos grandes; e assim como o pão se come com tudo, assim com tudo e em tudo são comidos os miseráveis pequenos, não tendo nem fazendo ofício em que os não carreguem, em que os não multem, em que os não defraudem, em que os não comam, traguem e devorem..

Parece-vos bem isto, peixes? Representa-se-me que com o movimento das cabeças estais todos dizendo que não, e com olhardes uns para os outros, vos estais admirando e pasmando de que entre os homens haja tal injustiça e maldade! Pois isto mesmo é o que vós fazeis. Os maiores comeis os pequenos; e os muito grandes não só os comem um por um, senão os cardumes inteiros, e isto continuamente sem diferença de tempos, não só de dia, senão também de noite, às claras e às escuras, como também fazem os homens.

Se cuidais, porventura, que estas injustiças entre vós se toleram e passam sem castigo, enganais-vos. Assim como Deus as castiga nos homens, assim também por seu modo as castiga em vós. Os mais velhos, que me ouvis e estais presentes, bem vistes neste Estado, e quando menos ouviríeis murmurar aos passageiros nas canoas, e muito mais lamentar aos miseráveis remeiros delas, que os maiores que cá foram mandados, em vez de governar e aumentar o mesmo Estado, o destruíram; porque toda a fome que de lá traziam, a fartavam em comer e devorar os pequenos.

Assim foi; mas, se entre vós se acham acaso alguns dos que, seguindo a esteira dos navios, vão com eles a Portugal e tornam para os mares pátrios, bem ouviriam estes lá no Tejo que esses mesmos maiores que cá comiam os pequenos, quando lá chegam, acham outros maiores que os comam também a eles. Este é o estilo da divina justiça tão antigo e manifesto, que até os Gentios o conheceram e celebraram [...]

Outra cousa muito geral, que não tanto me desedifica, quanto me lastima em muitos de vós é aquela tão notável ignorância e cegueira que em todas as viagens experimentam os que navegam para estas partes. Toma um homem do mar um anzol, ata-lhe um pedaço de pano cortado e aberto em duas ou três pontas, lança-o por um cabo delgado até tocar na água, e em o vendo o peixe, arremete cego a ele e fica preso e boqueando, até que, assim suspenso no ar, ou lançado no convés, acaba de morrer. Pode haver maior ignorância e mais rematada cegueira que esta? Enganados por um retalho de pano, perder a vida?[...]

Por este exemplo vos concedo, peixes, que os homens fazem o mesmo que vós, posto que me parece que não foi este o fundamento da vossa resposta ou escusa, porque cá no Maranhão, ainda que se derrame tanto sangue, não há exércitos, nem esta ambição de hábitos. [...]

Rodeia a nau o tubarão nas calmarias da Linha com os seus pegadores às costas, tão cerzidos com a pele, que mais parecem remendos ou manchas naturais, que os hóspedes ou companheiros. Lançam-lhe um anzol de cadeia com a ração de quatro soldados, arremessa-se furiosamente à presa, engole tudo de um bocado, e fica preso. Corre meia companha a alá-lo acima, bate fortemente o convés com os últimos arrancos; enfim, morre o tubarão, e morrem com ele os pegadores[...]

Considerai, pegadores vivos, como morreram os outros que se pegaram àquele peixe grande, e porquê. O tubarão morreu porque comeu, e eles morreram pelo que não comeram. Pode haver maior ignorância que morrer pela fome e boca alheia? Que morra o tubarão porque comeu, matou-o a sua gula; mas que morra o pegador pelo que não comeu, é a maior desgraça que se pode imaginar! Não cuidei que também nos peixes havia pecado original. Nós os homens, fomos tão desgraçados, que outrem comeu e nós o pagamos. Toda a nossa morte teve princípio na gulodice de Adão e Eva; e que hajamos de morrer pelo que outrem comeu, grande desgraça! Mas nós lavamo-nos desta desgraça com uma pouca de água, e vós não vos podeis lavar da vossa ignorância com quanta água tem o mar. [...]

Grande ambição é que, sendo o mar tão imenso, lhe não basta a um peixe tão pequeno todo o mar, e queira outro elemento mais largo. Mas vedes, peixes, o castigo da ambição. O voador fê-lo Deus peixe, e ele quis ser ave, e permite o mesmo Deus que tenha os perigos de ave e mais os de peixe. Todas as velas para ele são redes, como peixe, e todas as cordas, laços, como ave. Vê, voador, como correu pela posta o teu castigo. Pouco há nadavas vivo no mar com as barbatanas, e agora jazes em um convés amortalhado nas asas. Não contente com ser peixe, quiseste ser ave, e já não és ave nem peixe; nem voar poderás já, nem nadar. A natureza deu-te a água, tu não quiseste senão o ar, e eu já te vejo posto ao fogo. Peixes, contente-se cada um com o seu elemento. Se o voador não quisera passar do segundo ao terceiro, não viera a parar no quarto. Bem seguro estava ele do fogo, quando nadava na água, mas porque quis ser borboleta das ondas, vieram-se-lhe a queimar as asas.