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segunda-feira, 25 de abril de 2022

LITERATURA, (AUTO)BIOGRAFIA, BIOFICÇÃO E HISTÓRIA EM ENTRELAÇAMENTOS VIVENCIAIS

 

 


Prof. Dr. Moisés Monteiro de Melo Neto

UNEAL e UPE

 

 

A vida que eu levava não era a minha. Eu tentava fazer com que se tornasse minha, essa era a minha luta (Karl Ove Knausgärd)

As biografias são como a interpretação de uma peça musical. As pessoas confiam muito no retrato, mas é apenas uma maneira de contar, é a minha forma, minha história, e não a própria pessoa (Benjamin Moser)

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            Literatura para mim é paz e êxtase, dor extrema, perdição e redenção. É um caminho longo para quem está só. Minha vida sempre me pareceu que estava escrita numa potencial euforia de um desejo não correspondido. Agora, que estou bem entrado no século XXI, concluindo o primeiro quarteirão, mutação cultural tão acelerada, no processo de pandemia e o que ele permitiu que fizéssemos de nós mesmos, resta-me definir a literatura hoje, de modo essencial e intemporal e isto significa estar ligado à história literária, autores, obras, contexto, manuais que tratam disto. Resta a quem é professor a prática pedagógica através do diálogo. No caso da literatura enquanto reflexo do fator social, do que tratarei agora, é preciso, talvez, distanciá-lo sem o prejuízo da forma, cabe à literariedade e seus variados vieses, adentrar veredas ainda mais complexas, da história e da vida, por mais aparentemente simples que pareça ou até a mais grandiosa delas. Hoje, quando gênero, etnocentrismo, movimentos sociais dão lugar a uma nova prosa de ficção. Impressos ou on-line os livros de agora trazem novas tendências? E se pensarmos Homero como fundador de literatura europeia e Goethe como o último autor universal, estaremos ainda como prisioneiros do cânone? Devemos aqui pensar como Derrida e transgredir, transformar, investigar desconstruindo tais formas discursivas (mesmo as canonizadas)? A vida só é possível reinventada?  Como alguns escritores transformaram história e vida comum em ficção? Esta experiência entre fundo e forma, ainda parece um tanto amarga, chocante? A banalização da literatura? Pensemos com Sartre, que passou anos estudando a vida de Gustave Flaubert, ou Proust na ânsia de revelar a sociedade à clef na sua Busca do Tempo perdido.  Lembremos que quando se trata da arte literária: falar é agir, toda coisa nomeada já não é exatamente a mesma. Será que o real se revelava à contemplação e transcrição em forma literária? Podemos fazer da vida real, até da nossa, uma obra de ficção, como fizeram autores como Jack Kerouac, um beatnik?

            Penso na literatura como um generoso pacto entre o autor e o leitor, mas acredito que escrever é transformar o real, num mundo que pode passar bem sem a literatura e melhor ainda (risos e sisos) sem o homem.  Que civilização é esta que nós alimentamos direta ou indiretamente?  Lembro Blanchot ao afirmar que livros correspondem às coisas para as quais ainda não temos nomes. Literatura não pode imobilizar o futuro na tradição das velhas estruturas quando estamos assistindo, vivenciando, o fim da arte pós-moderna. Roland Barthes sugeriu até a morte da literatura. Mas a pela literatura como mito vivo estaria em vias de morrer, naqueles anos 70? Será que agora neste portal do século XXI, mais viva do que nunca?  Iuri Tynianov, em 1923 a destrinchar o fato literário e sua heterogeneidade, em constante evolução dialética, por etapas: diante de uma construção automatizada, outra oposta, se delineia (dialeticamente), lembra que o “novo” pode ser repetitivo, principalmente dentro da arte mais comum, hoje, a arte industrializada, consumida vorazmente, não que eu seja tão ortodoxo quanto Horkheimer e Adorno, mas tenho ojeriza ao  modo como se dá a mistificação das massas para  glória da unificação de gosto para os consumidores acústicos do atual sistema capitalista.

        A indústria de entretenimentos apela para o consumo fácil, e o livro está (ainda bem?) no rol das coisas que “vendem” (às vezes) bem. Longe vão os dias em que Kant anunciou que o juízo estético é um juízo particular que almeja à universalidade. Os novos autores privilegiarão cada vez mais o eu e suas experiências, mesmo as menores e farão sucesso com isso, como é o caso, agora mesmo, de Patti Smith e suas autobiografias instantâneas (mutação de gêneros e subgêneros?). O futuro nos absorva e absolva, pois nossa herança literária ainda nos intima à fidelidade.

       Como a geração digital trata o entrelaçamento da literatura com a história? A obra literária sempre será uma pergunta ao mundo. Estaria a literatura, agora, nesta segunda década do terceiro milênio, num barco no centro de um mar terrível?  Literatura seria nave resistente comparada às insignificâncias que assombram a História contemporânea?

            Precisamos ler enfrentando lutas, como quem domestica irracionais voluntariosos, se for necessário. Não há literatura sem umas boas doses de sacrifício. Quem reescreve o presente ou investiga o passado, dá voz ao futuro? O poder decisivo de uma obra singular é o chamado à ação. E não falo apenas em termos de critérios estéticos universalizantes: não acredito que o estudo da literatura, hoje, está se acabando, porque poderia ser politicamente incorreto analisar, em termos técnicos, uma literatura que tem apenas função política (politicamente correta).

          Busco sempre os efeitos sociais e culturais do literário e não só o que é estético e linguístico na literariedade. Literatura está no eixo principal da experiência humana, por isso acho interessante, quando há reflexos biográficos numa obra literária, tendo eu mesmo escrito peças teatrais sobre Padre Cícero, Bento Teixeira, Delmiro Gouveia, dentre outros personagens históricos.  Ou será que Literatura e História só podem ser salvas por elas mesmas? A fusão das duas pode ser uma faca de dois gumes, mas, de certo modo, útil, facilita o girar dos prazeres (sem fetichizar base teórica e a terminologia específica, nem a esquecer). Dar sentido à vida parece uma tarefa cada vez mais supérflua no processo da transmodernidade líquida, sólida ou gasosa que nos abate em números avassaladores. Presos a smartphones, vivemos num mundo de siglas, códigos, novidades que nos cerceiam e alucinam com sua velocidade inessencial.  Há muito tempo que não adianta ser realista. Penso aqui, também, nas distopias de Orwell, no horror kafkiano, nas revoltas de J. D.  Salinger, no erotismo intelectualizado (e até biográfico) de Marguerite yourcenar (Memórias de Adriano).

            Parece que a ficção está no mundo para as pessoas que querem uma vida diferente da que vivem. Em toda obra literária lateja um desejo insatisfeito. Seria a literatura um sonho lúcido? Provavelmente não. Uma fantasia sobre existência?  Lembrando aqui que os meios audiovisuais não podem substituir a literatura, no que se trata das possibilidades que a língua escrita oferece no sentido de ampliação lexical, por exemplo (a exceção seria a literatura oral de alto nível). E aqui não estamos nos referindo ao livro de papel. Para ser político um escritor só precisa mostrar bem uma situação e deixar que o leitor reflita sobre ela. O escritor tem que resistir ao desencanto?  Possivelmente.

       As novas tendências como a autoficção pululam (vide Karl Oven Knäusgard). A que conclusão eu chego? A arte é o absoluto mais possível e ela não tem que ser engajada, o mesmo em meio a esta época de desprezo e esquecimento e à literatura cabe suprir o que não é dito pelos outros textos. Ela não precisa mostrar o mundo e nem acrescentar algo a ele.  O que a literatura pode é fazer saber que não há verdade absoluta e sim verdades relativas (que se contradizem recheadas de incertezas em meio a alucinação coletiva produto da cultura de massa da indústria cultural etc.), só aí é que a literatura pode ser crítica e resistência, trazendo, se necessário for, a História para dentro de si, desconstruir o “não pensamento” das ideias recebidas nos smartphones e computadores, quando ela tentar esmagar o pensamento original e individual.

        Como continuarmos humanos diante dos mais terríveis verdades sobre nós num mundo múltiplo que a literatura tenta abarcar e onde a ontologia, política, religiosidade, moral estão a girar numa espiral caótica de tantos textos digitais? Mesmo assim a literatura, no que trata da sua produção e consumo, caminha pelo século 21: apesar de tantas incertezas e da fragmentação excessiva do saber, e trabalha a autobiografia ficcional ou autoficção, metaficção, que os grandes autores da literatura fizeram, Cervantes, Machado de Assis, Julia Kristeva criou o termo intertextualidade a partir dos conceitos de polifonia e dialogismo, de Mikhail Bakhtin (1920). Hoje, talvez estejamos ligados a uma grave crise ontológica. O racismo exposto na morte do negro americano George Floyd, desencadeando a maior onda de protestos de os anos 60; a COVID 19 e suas consequências nos mostram também que todo escritor é um leitor que escreve e isso pode incluir resistência ética. Se os professores de literatura e história perguntarem a si mesmos se devem cultuar radicalismos trágicos, eles deverão levar em consideração o alto grau de cabotinismo de quem se aproveita de tais coisas para se projetar numa sociedade cada vez mais artificial. Entre a informação e a invenção irá uma parte a lembrar que nunca haverá a palavra final.

            E há o caso do autor como personagem de sua obra ficcional, e isto é quase certo, teremos aí a autoficção, a metaderivação, autorreferência, aí sugere-se a bioficção, mas a literatura estará ali, se multiplicando à custa de si mesma, indefinidamente; não será explorando espíritos desmesurados que a humanidade vai saber como lidar com sua medida extrema. Os escritores transformam-se em personagens centrais da ficção, em outros casos.  Usarão autores famosos como Saramago fez em O ano de morte de Ricardo Reis (1984) e Ana Miranda o fez em Boca do Inferno (1989), com Gregório de Matos e seu contexto histórico. O que difere estes livros de uma biografia é a sua mistura com a ficção.

          Mas o que seria a autoficção, desdobramentos de um autor, num pacto com o leitor? Que espécie de proposta narrativa é esta, uma autobiografia ficcionalizada?  É o caso literatura séria? Quais são os limites deste gênero? Quais são os limites desta criação? Na autoficcionalidade o escritor constrói um personagem de si mesmo, com traços que podem lhe identificar e que lhe servem para construir livros, artigos. São como autorreferências de um eu desassossegado, confessional. Em seu livro sobre Clarice Lispector, Benjamin Moser insinua que a autora colocava sua vida nos romances e contos, a partir dos romances Perto do Coração Selvagem, O Lustre, A cidade Sitiada e A Paixão segundo G.H., ela teria colocado neles algo das suas raízes judaicas e suas inquietações existenciais particulares. Embora a autora não quisesse ser autobiográfica intencionalmente.

        Em Água viva (o título sugere uma medusa marinha, algo invertebrado e flutuante) ela escreve, introspectivamente, sobre sua mundividência de um modo que transforma sua experiência numa poesia universal. A propósito: o cantor e compositor Cazuza, afirmou que leu este pequeno (grandioso) livro mais de cem vezes. O livro que com cerca de 80 páginas em corpo grande tem na sua brevidade uma aparente simplicidade que mascara vários anos de luta (chamava-se inicialmente Através do Pensamento: monólogo com a vida e também Objeto Gritante até ganhar o seu nome definitivo), traz a tentativa de capturar sua voz cotidiana não lapidada por recursos ficcionais ou literários. São reminiscências, por exemplo: na gênese do livro ela fala sobre um cachorro seu que ela teve que abandonar, Dilermano, que ela foi obrigada a abandonar quando saiu de Nápoles; fala também das suas preferências em relação às flores (aí ela cita o local em que nasceu numa visão pessoal, sugere que o girassol é ucraniano). Quando lemos sobre a feitura deste livro um tom informal. Não há nele um enredo. Parece uma brainstorm sem filtro. Ela fala da sua falta de dinheiro, do conserto do toca-disco e de como tem que trabalhar para ter as coisas que precisa. Diz que sua casa não é metafísica, palavra que ficou grudado à autora e novamente traz seu leitmotiv: a discussão sobre Deus. Talvez Clarice não gostasse tanto da “verdade” e tentasse retoca-la numa luta corpo a corpo, de modo um tanto culpado, com a ficcionalização, num projeto de despersonalização da experiência pessoal, num esforço hesitante, lembrando que arte é mais libertação do que liberdade. É como se a escritora, que se dizia pernambucana, pois morou cerca de doze anos (sua infância e início da adolescência) no Recife, os reinos incomunicáveis do seu espírito, onde o sonho e o devaneio se tornam pensamento, como se quisesse fotografar o perfume, reproduzir em palavras sua vida interior, em dissonância harmoniosa, como se os seus dias fossem um só clímax. Neste livro percebemos a fragmentação do pensamento dela própria, seu cotidiano dialeticamente tratado num caminho que vai das raízes ao cómico.

        Não se trata de fluxo de consciência apenas (Clarice fazia terapia psicanalítica cinco vezes por semana) mas da concretização dos seus pensamentos: luz, sombra e descobertas numa lógica que não é imediatamente evidente, mas é real. Ela queria capturar o tempo e pará-lo ali, num livro sem começo nem fim, que poderia ser iniciado em qualquer uma das páginas, de forma pulsante, fragmentária: transmitir a experiência real de estar viva, movendo-se pelo tempo. Como se fosse um estranho historiador investigando e interpretando, não criticamente, percepção de acontecimentos, resgatando a memória da humanidade, ampliando a compreensão da nossa condição humana. Selecionando, relacionando os dados do objeto gritante no cosmos, encadeando percepções em aparente desordem, tal um profeta, uma sacerdotisa, mas este, também falando sobre como as coisas podem vir a ser. Numa espécie de história à prova de tempo, onde os fatos passam a não ser tanta importância quanto a vivência interior, sem a visão universal acontecimentos. Registro de memória nonsense? Tentativa de resgate do sentido e busca de um novo sentido? Atravessar a trajetória da existência como se fosse um espírito fugindo de qualquer sentido pluralizante? Se é que uma das tarefas do historiador seria fazer o passado deixar de parecer uma coisa que se desdobra no presente, o presente desta autora é a indeterminação da sensibilidade

        Sabemos que a partir dos anos oitenta aumentou os gêneros autobiográficos nas narrativa. As escritas do eu como, por exemplo, diários autobiografias, memórias, correspondências adquiriram força, mas era algo que vinha sendo praticado havia muito tempo como expressão individual, busca de si mesmo. Isabel Allende com seu trabalho em A casa dos Espíritos tornou-se best-seller. Que espécie de epistemologia encontramos num texto deste quilate?   Algo que já vinha de muito séculos antes? Como o indivíduo trabalha a autobiográfica de como trata a “verdade num espaço literário não ficcional projetando novas especulações narrativas, no qual incluímos a autoficção reforça a questão da representação do Eu do autor, mesmo que com certo distanciamento que, de certo modo, seria passar pela história para narrá-la. O que diferiria das obras de cunho puramente (auto)biográfico numa espécie de romance não preso à ficção, simplesmente, isto é, ao mundo criativo de personagens e paisagens. 

        O “romancista” na bioficção fala de si mesmo e das pessoas com quem conviveu descaradamente e não à clef, como se fazia antes. Karl Oven Knausgärd recebeu alguns processos por gente que não gostou de ser retratada daquele modo.  Caberia ao leitor acreditar ou não numa riqueza de detalhes impossível para a memória. O polêmico Fernando Gabeira, quando voltou do exílio em 1979 lançou O que é isso, companheiro, O crepúsculo do macho e Entradas e Bandeiras, livros onde relata suas experiências políticas com a esquerda, dita terrorista, por uma direita assassina, boa parte dos livros se utiliza de gêneros da ficção para prender o leitor, como numa espécie de enredo, diferenciando as suas obras dos simples diários pessoais e até da ficção do real, numa jornada autobiográfica própria. A história e a teoria literária que este veio híbrido de realidade e ficção próximo ao triunfo da persona do autor, do eu, na corda bamba entre autoficção e autobiografia, que remete “claramente” ao autor, diante da complexidade do mundo. Nestes termo é muito interessante ler algumas biografias sobre Clarice e perceber quando falham ao tratar da sua trajetória, que inclui mais o caminho etéreo do que o físico.

        Quando fui convidado a escrever uma biografia do Mágico nordestino Alakazam, que também é empresário de circo em Pernambuco, não tive tanto tempo para a inspiração, inspirado ou não, a gente escreve, pois o cálculo e o jorro criativo são processos distintos. Sacudido na madrugada, atormentado na insônia, eu produzia. Eram pedaços de papéis avulsos, escritos em qualquer lugar, por exemplo: dentro de um veículo. Eu tinha feito pesquisas sobre ele e entrevistados pessoas. Sobrou um amontoado de arquivos em busca da ideia que precisava se concretizar em menos de um ano. Muito pouco num projeto deste porte, uma biografia (era um desafio e que desafio, para mim, que já li tantas). Eu me sentia caindo no abismo do que é uma vida de uma pessoa quando a gente vai falar sobre ela num livro e vê toda a sua trajetória reconstruída, numa linha que divide fato e reconstituição; os vapores do passado me envolveram, o biografado reluzia como se me puxasse de um redemoinho.

        Continuei a raspar a memória do meu objeto de estudo: aquele mágico dono de circo, aquele pernambucano, tão brasileiro quanto eu, ali, juntos, em profusão de imagens e palavras que eu ia associando num frenesi quase orgasmático e sensível, como se numa cabala bem particular nós nos comunicássemos (ainda  que isso divirja de afirmações que  fiz  anteriormente sobre o ato da escrita  em mim).

Escrever é, para mim, algo intransparente. Selecionar imagens, além de produzir este texto, não foi tão fácil, eram centenas de fotos. Não pretendia edulcorar o meu objeto de estudo e tampouco queria tratá-lo de maneira fria e necessariamente objetiva. Trata-se de um ícone das artes no Brasil, um nordestino que vive da arte há muitas décadas e mesmo hoje, numa idade na qual muitos desejam aposentadoria ele segue adiante com invejável vigor, mesmo neste momento tão difícil que as artes atravessam, especialmente a arte circensense. 



O jornalista e escritor Valdir Oliveira em entrevista comigo e Alakazam sobre o livro que escrevi sobre ele. TV Universitária de Pernambuco, novembro de 2019 (foto: arquivo da TV Universitária, Recife


As entrevistas com Alakazam forma feitas no circo dele, no Sated PE e pelo Whatsapp. Ele sempre se mostrou solícito, mesmo quando se tratava de um assunto de foro íntimo. Utilizei-me de diversos livros sobre o circo também, além de entrevistar alguns artistas circenses. Assisti a muitos vídeos de apresentações dele, assim como acompanhei as apresentações do seu circo neste período no qual escrevi a sua biografia. O prazo era curto e o material muito vasto. Foram 160 páginas em Word, Times New Roman, tamanho 12, no original, nos livros tivemos uma variação de volume, obviamente, pela nova diagramação. Imprimi à pesquisa um tom um tanto literário, quis tratar a trajetória de Wilson Ribeiro da Silva, seu nome oficial, numa visão artística.

Encontrei uma espinha dorsal: o texto teria o ponto de vista de um espectador que estivesse diante de um espetáculo sobre um garoto de 10 anos que fugiu de casa e muito depois inaugurou o seu próprio circo e seguiu durante muito tempo se apresentando pelo Nordeste do Brasil encarando os altos e baixos de uma carreira icônica. Ele já exerceu praticamente todas as funções pelas quais um artista circense pode passar. É mágico, apresentador, foi contorcionista, trapezista e domador de animais. É ainda um compositor com mais de sessenta músicas gravadas e cerca de duzentas compostas. Além disso, já publicou um livro em que conta, em forma de poesia, sua própria história, experiências e a rica vivência de um artista que dedicou a vida ao circo

Foram seis meses de pesquisa e dois meses na conclusão do texto escrito. O material que produzi envolveu a mão de obra de vários outros profissionais: diagramadores, revisor, designers, dentre outros.

 Alakazam, como é conhecido, adotou este nome em 1968, quando leu uma história infantil protagonizada por um mágico assim chamado. A fantasia da ficção transformou-se em realidade através deste artista, que assim também nomeou o circo do qual é dono desde 1974. O Circo Alakazam é dos mais conhecidos e respeitados do Estado, onde se estabeleceu há vinte anos e, desde então, leva a arte milenar do circo ao público pernambucano.

    O livro foi publicado com o Incentivo do FUNCULTURA, Fundarpe, Secretaria de Cultura, Governo de Pernambuco, sendo o primeiro do lançamento em 26/10/2019 no Instituto Histórico de Caruaru e foram distribuído 250 exemplares. O Livro também, foi lançado na XII Encontro de Literatura Infantojuvenil da UNICAP, “Entre nós: Os Livros”, Homenagem ao Circo Alakazam nos dias 28, 29 e 30 de outubro de 2019, no Auditório G1 – Unicap, com apresentações no hall de entrada do Bloco G1, trezentos exemplares distribuídos. E, posteriormente, no Festival de Circo do Brasil, 15ª edição, com participação, lançamento e distribuição gratuita de 150 exemplares do livro, no Museu do Estado de Pernambuco. Livro e lançamento com produção de Sérgio Muniz.

Busquei assim tecer apontamentos a partir dos pressupostos teóricos e metodológicos citados no entrecruzamento entre história e da biografia. Aproximar as narrativas biográficas do campo do conhecimento histórico através da compreensão dos aspectos biográficos e das suas interfaces com a autobiografia, da bioficção e a memória histórica.

 

 



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