Pesquisar este blog

segunda-feira, 13 de julho de 2020

ENTREVISTA/ ARIANO SUASSUNA, JARBAS MACIEL E CLÓVIS PEREIRA Armoriais defendem seu ideário



Publicado em 17.03.2007
JOSÉ TELES O que seria uma simples coletiva, convocada pelo escritor Ariano Suassuna, ocorrida na semana passada no Teatro Arraial, para anunciar o início de sua segunda gestão na secretaria de Cultura de Pernambuco, com uma de suas célebres aulas-espetáculo, realizada ontem à noite no Teatro Santa Isabel, acabou tornando-se um anúncio oficial da retomada do Movimento Armorial. Idealizado por Suassuna, e posto em prática em 1970, a estética armorial esteve no auge naquela década, com uma larga abrangência, reunindo em torno do escritor músicos, poetas, artistas plásticos, tendo por base a idéia de se fazer uma cultura erudita a partir da arte popular. Ariano estava em companhia do regente da recém-reunida Camerata Armorial, Rafael Garcia, e de dois fiéis escudeiros armorialistas, os maestros Clóvis Pereira e Jarbas Maciel, que defenderam o movimento e reforçaram com veemência as teses de seu ex-professor (de quem foram alunos de estética na universidade). Diante de uma pequena platéia, Ariano, Clóvis e Jarbas explicaram, analisaram, e defenderam o armorial, enquanto Rafael Garcia preferiu comentar sobre a Camerata Armorial, e sua trajetória musical. Os dois pupilos do secretário, chegaram a ser polêmicos, nas críticas (antigas) ao tropicalismo (Jarbas Maciel), ou na definição de quem é ou não armorialista (Clóvis Pereira). A seguir trechos da “coletiva armorial”.

O MOVIMENTO
Não é por está em nossa frente não, mas o Movimento Armorial foi realmente um movimento, pois abrangeu diversas artes. Você teve, e tem, no Movimento Armorial, romancistas, poetas, dramaturgo, pintores, escultores, gravadores, músicos, tapeceiros. No Movimento Armorial havia quatro artistas mais velhos. Eu, Capiba, Guerra Peixe, Gilvan Samico. A esta geração seguiu-se a destes dois que estão aqui, Clóvis Pereira e Jarbas Maciel. Depois veio uma terceira geração, a de Antônio Madureira e de Antônio Nóbrega, e depois uma quarta geração aqui representada por Carlos Newton Júnior, romancista, poeta e dramaturgo. Da mesma geração de Romero de Andrade Lima, Dantas Suassuna, e outros artistas (Ariano Suassuna).
TROPICÁLIA
De repente, na Bahia, um sujeito de um talento extraordinário, aliás dois, o atual ministro da Cultura, Gil e Caetano, lançam um movimento chamado Tropicália. Este é um tipo acabado do movimento, que anda, anda, daqui a pouco, ele acabou, seca o pneu, não anda mais. É um pseudomovimento. Aí vou demonstrar a vocês que o Movimento Armorial não é pseudo, como se precisasse! Fui para os Estados Unidos,voltei na década de 60. Ao terminar a década, Ariano disse: vamos fazer um movimento sério, que ele já estava trabalhando desde acadêmico de direito. Não é Tropicália não! É pedra sobre pedra, sem açodamento, com a cabeça no lugar, com orientação estética. Destas preocupações é que nasce o Movimento Armorial. Veja como é diferente. Não é moda. Vamos lançar uma moda aí, todo mundo andando com uma jaca na cabeça, é muito bonito! Um movimento tem que ter uma história. E o Movimento Armorial tem uma história. Ele só se acaba se o pessoal achar que ele é feio. Quem é louco pra achar feio uma coisa linda destas (mostra a ilustração na capa do programa da aula-espetáculo No Reino da Pedra Verde). (Jarbas Maciel)
GUERRA PEIXE
Quando ele (Guerra Peixe) conheceu a verdadeira música popular brasileira, nordestina, ele se converteu. Foi assim que, depois desta conversão dele, no momento em que resolvi fundar o Movimento Armorial, chamei Guerra Peixe e Capiba, e eles prestaram um serviço inestimável. Guerra Peixe quando aqui chegou era adepto da linha de Koellreutter. Não fomos nós, foi o Nordeste que converteu Guerra. Justiça seja feita, quem contribuiu muito para isto foi a amizade dele com Capiba. Em virtude da música européia que se fazia na época ele tinha preconceito contra a melodia ,por exemplo. E foi Capiba que convenceu ele. (Ariano Suassuna)
Na época em que lançamos o Movimento Armorial, a música brasileira tinha se dividido em dois campos. Um que tinha como patrono Villa-Lobos, outro que tinha como patrono Koellreutter. A tese dele era a seguinte. O Brasil é um país subdsenvolvido, como conseqüência disto, a nossa cultura também é subdesenvolvida, o que já é um sofisma. O subdesenvolvimento econômico, quem está atrelado a ele é o desenvolvimento técnico. Um país pobre do ponto de vista tecnológico é inferior a de um país rico, desenvolvido, mas culturalmente não. Você pode dizer que cultura indiana é diferente da cultura americana mas não que é inferior. (Ariano Suassuna)
REACIONÁRIO
Toda vez que o pessoal muito avançado diz você é reacionário, ou você ficou reacionário, eu digo: estas músicas muito avançadas, estes Stockhausen da vida eles não justificam nada, o que eles fazem é puro subjetivismo, dentro de uma filosofia relativista, completamente suicida. Tanto que não dá em nada, ninguém ouve. Duvido que alguém aqui tenha comprado nos últimos cinco ou dez anos um disco de Stockenhausen.
Eu era muito garoto, estudava com Guerra Peixe e ele dizia: leia Mário de Andrade, e eu fiquei fascinado por Mário de Andrade. Li o Manifesto Regionalista, de Gilberto (Freyre), não sabia que aquilo era quase um grito de repulsa às loucuras modernistas e pós-modernistas. Vivo trabalhando e juntando elementos para fazer explodir tudo isto pelos ares. Um dia Clóvis me disse tenho aqui uma publicação que Hermilo Borba Filho fez publicar na secretaria de Educação e Cultura da prefeitura sobre os maracatus de Capiba, chama-se É de Tororó. Ele me deu e quando cheguei em casa, cai duro. A mesma coisa que Mário de Andrade pensava estava lá, como era possível fazer uma música autêntica, nacional, um artigo de Ariano, ainda acadêmico de direito, em 1952 (Jarbas Maciel).
QUEM É ARMORIAL
A força do Movimento Armorial, e as sementes que ele deixou para serem novamente replantadas foram grandes, mas ficou um pouco esquecida porque o mestre (Guerra Peixe) se afastou. Jarbas foi para outro lugar, Sivuca foi para outro lugar, Capiba ficou afastado. Tem que unir as pessoas que têm a mesma idéia, o mesmo pensamento, para que esta coisa cresça cada vez mais... Depois de gravar o primeiro disco, as rádios começaram a tocar os temas armoriais, as grandes companhias, Petrobras, companhias de eletricidade, secretárias do governo acharam aquele som nordestino bonito e começaram a usar. Depois começaram a parecer os cantores com sotaque nordestino. Alceu Valença é uma pessoa que seguiu esta temática nordestina armorial. Porque há duas temáticas. Há uma que não é armorial, porque não usa as escalas, e os modos que caracterizam o som armorial. O armorial tem um som diferente, uma harmonia diferente. Pelo fato de ser nordestino não quer dizer que é armorial. O frevo é armorial? Não, é outra escala, outro ritmo. O maracatu é armorial? Não porque o maracatu vem da África e aqui nunca se modificou. Talvez um dia se modifique e passe a usar elementos da cultura regional. Luiz Gonzaga, o músico pernambucano do século, tem coisas com base na harmonia e na melodia européia, e tem coisa armorial tiradas do folclore, de caráter modal. O armorial é modal. (Clóvis Pereira)
Aula marca início da gestão de Ariano
Publicado em 17.03.2007
Centenas de pessoas lotaram as dependências do Teatro de Santa Isabel, no bairro de Santo Antônio, área central do Recife, ontem à noite, para acompanhar a aula-espetáculo O reino da pedra verde, que inaugurou oficialmente a nova gestão do escritor Ariano Suassuna como secretário estadual de Cultura. Nem os cerca de 30 minutos de atraso que marcaram o início do espetáculo foram capazes de tirar o brilho da noite.
Ariano Suassuna falou por aproximadamente meia hora. Como de costume, conseguiu arrancar gargalhadas do público, que se divertiu com os causos contados por ele. Na hora de falar sério, ele comentou sobre os princípios da Secretaria da Cultura e defendeu “a estética armorial como antídoto contra a vulgarização e descaracterização da cultura brasileira”.
Para finalizar sua fala, o secretário reforçou um recado que já havia sido dado aos artistas: “Aqueles que não estiverem em sintonia com a estética armorial devem procurar a Fundarpe para poder viabilizar os projetos.”
Após a fala do secretário Ariano Suassuna, foram iniciadas as apresentações. A primeira foi A pedra do reino, de Jarbas Maciel. Em seguida, quem subiu ao palco foi Clóvis Pereira com No reino da pedra verde. O maestro Clóvis Pereira apresentou Mourão. Em seguida, espetáculos de Capiba deram o tom, como Sem lei nem rei e Bolero. Encerrando, foi a vez de A onça, os guinés e os cachorros, composto de música (do maestro Clóvis Pereira) e narrativa (de Ariano Suassuna). O espetáculo nasceu de uma pesquisa feita por ambos com os ternos de pífanos. “Nesses grupos folclóricos acontece um fato muito comum: é que cada grupo tem um certo número de músicas que todos executam. Todos eles dizem que são os autores, e que aquela versão que eles apresentam é a legítima, todas as outras são falsas”, finalizou Ariano






Nova sagração armorial de Ariano Suassuna
Publicado em 19.03.2007
O escritor e professor lotou o Teatro Santa Isabel no espetáculo inaugural de sua nova gestão à frente da secretaria de Cultura do Estado, reafirmando sua convicção estética

JOSÉ TELES
O escritor e professor Ariano Suassuna pode até ser conservador, mas não é nem um pouco convencional. Tumulto na entrada do teatro (onde trombavam convidados e pessoas que haviam pego os ingressos na bilheteria e outras tantas que queriam entrar, mas não tinham convite), crítica aberta na platéia, sessão de autógrafos improvisada para crianças, citação de uma música da banda Calypso (sic), e um atraso de quarenta minutos. Tudo isto teve a aula-espetáculo No reino da Pedra Verde (Sagração nº 1), com a qual ele deu início à sua segunda gestão à frente da Secretaria de Cultura, do governo do Estado, sexta, à noite, no Teatro de Santa Isabel.
Na platéia, o governador Eduardo Campos (que chegou meia hora atrasado, retardando o início da apresentação), o secretário de Cultura do Recife, Roberto Peixe, o rabequeiro Mestre Salu, muitos admiradores e uma única voz discordante. Um rapaz, não identificado, que de uma das frisas chamou o secretário de “simplista”, depois que este tachou de “imbecil” o autor da composição Pra me conquistar (Chimbinha), da banda brega Calypso, que usou (declamando o refrão) como exemplo de música de má qualidade, instrumento da “vulgarização e descaracterização da cultura brasileira” que o Movimento Armorial procura combater.
Ariano Suassuna, imperturbável, retrucou: “Quando uma coisa é branca digo que é branca, quando é preta digo que é preta”. Mais tarde reafirmaria que não pretende implantar o armorial no governo, mas que o rapaz discordante deveria procurar outra secretaria (no caso, a Fundarpe) se por acaso tivesse algum projeto.
Com a Camerata Armorial e o maestro Rafael Garcia no palco, o secretário, falou por meia-hora (“Falar muito é uma coisa que eu e Fidel Castro temos em comum”, brincou). Explicou pela enésima vez e fez a exegese do Movimento Armorial, elogiou os dois companheiros de movimento que se encontravam numa das frisas, os maestros Clóvis Pereira e Jarbas Maciel. Citou matéria recentes de jornais sobre ele e o movimento que idealizou, lembrou que há exatos 60 anos, esteve ali naquele mesmo teatro para ocupar um cargo de secretário de cultura, aos 19 anos: “Desde então assumi não apenas um cargo, mas a defesa da cultura brasileira”, afirmou.
VIVO E BULINDO – Contra aqueles que se manifestam dizendo que o Movimento Armorial não existe mais, apresentou vários CDs de artistas e grupos do Sudeste que se valem de elementos armorialistas (Anima, Gesta, o violeiro Roberto Correa, entre outros), e reforçou a asserção apresentando alguns volumes de teses sobre o movimento defendidas, em universidades européias e dos EUA.
O concerto da Camerata Armorial (formada por jovens músicos do Centro de Criatividade Musical, na Rua da Aurora), passeou por meia dúzia de peças que foram apresentadas, há 37 anos, no Pátio de São Pedro, pela Orquestra Armorial, no concerto que deflagrou o movimento. A gênese de cada composição foi explicada de forma didática pelo secretário. No Reino da Pedra Verde, por exemplo, de Clóvis Pereira, foi baseada num aboio do repentista Zé Vicente da Paraíba. Sem lei nem rei, de Capiba, é título de uma obra de Maximiano Campos (pai do governador Eduardo Campos). O bolero, de Capiba, teve a participação dos bailarinos Maria Paula da Costa Rêgo (do Grupo Grial de Dança), e Gilson Santana (do Daruê Malungo), que fazem parte da equipe da secretaria de Cultura). Apesar de a coreografia ter sido feita num espaço exíguo, a dupla foi bastante aplaudida, e depois cumprimentada, com beijos nas mãos por Ariano Suassuna, que pela primeira vez levantou-se da mesa, forrada de cambraia, onde permaneceu sentado durante as mais de duas horas da aula-espetáculo.
A onça, os guinés, e os cachorros, texto inédito, que Suassuna leu pela primeira vez em público apresenta, em forma de parábola, esquemática, o seu ideário. Lido, com música incidental de Clóvis Pereira, cujo leit motiv é A briga do cachorro com a onça, tradicional tema dos ternos de pífanos. Cangati, o vira-latas, com cuja ajuda é capturada a onça, que comia os guinés da fazenda, é o mesmo João Grilo do Auto da Compadecida, que representa o Brasil real. O pedante e frouxo cão de raça, Twinkle, metáfora dos integrantes do outro Brasil.
Depois da leitura do texto, que acaba com um “Para a grandeza do povo brasileiro, agora e para todo o sempre, amém”, Ariano Suassuna declarou a aula por encerrada, e sua gestão por iniciada, sob aplausos da platéia, que lotou o vetusto teatro.


Vídeo pernambucano do DocTV 3 tem première
Publicado em 19.03.2007
Programa é lançado no Recife com exibição do vídeo Uma cruz, uma história e uma estrada

MARCOS TOLEDO
A terceira edição do DocTV, o bem-sucedido Programa de fomento à produção e teledifusão do documentário brasileiro, já está no ar na Rede Pública de Televisão (RPTV). No entanto, quem não quiser esperar até o dia 6 de maio para conferir na TV Universitária ou na TV Pernambuco/Rede Cultura o representante pernambucano da série, tem a chance de assistir hoje, em primeira mão.
O lançamento no Estado da terceira temporada da série acontece hoje, às 19h, no Cinema da Fundação, no bairro do Derby, com a exibição do vídeo Uma cruz, uma história e uma estrada, de Wilson Freire. Rodada na Zona da Mata, no Agreste e no Sertão pernambucanos, a produção resgata a história de anônimos que têm em comum o destino trágico da morte à beira da estrada.
Inspirado no livro Anubis e outros ensaios, do pesquisador Luís Câmara Cascudo, além de Os sertões, de Euclides da Cunha e até a Bíblia, Wilson Freire (co-roteirista do longa-metragem As três Marias e do curta Conceição) realizou um road movie que tem como foco a tradição – de origem ibérica – de identificar com cruzes os lugares onde as pessoas morrem.
O roteiro da viagem tem início no Marco Zero onde, no marco propriamente dito, curiosamente, há uma cruz desenhada. A primeira personagem é dona Rita de França, mãe do cantor Chico Science, morto em um acidente de carro em fevereiro de 1997. No poste onde houve o impacto que vitimou o artista, em Olinda, há uma cruz pintada. “A cruz é a dor da perda que eu tenho”, compara dona Rita.
Em cada região são contadas histórias que narram um pouco as características próprias de cada local. As imagens, o texto (freqüentemente a literatura de cordel recitada por poetas populares) e a música (cantoria) reforçam o olhar sobre a diversidade do modo de vida do Estado. As imagens, os versos e a cantoria chegam a se sobrepor aos relatos das mortes, algo que acaba sendo coerente. Os depoimentos são dolorosos, caem bem dosados, arrastados, passando como em um cortejo fúnebre. Artistas famosos como os músicos Siba e Antônio Nóbrega, e o xilogravurista J. Borges fazem participações especiais.
O DocTV 3 vai ao ar todos os domingos, sempre às 23h.
Lançamento da série DocTV 3 com a exibição do documentário Uma cruz, uma história e uma estrada, de Wilson Freire


Experimentalismo em Peixinhos
Publicado em 19.03.2007
O Centro Tecnológico da Cultura Digital de Peixinhos promove de hoje a quarta o workshop Experimentações rítmicas, com a participação de Sérgio Ramos Cebrián, Xavier Turull Piera e Maxwell Moya Wright, músicos do grupo espanhol Ojos de Brujo, além dos pernambucanos Hélder Aragão (DJ Dolores) e Toca Ogan (Nação Zumbi).
O workshop é dirigido a bandas e grupos de Peixinhos e da Região Metropolitana do Recife que trabalhem com percussão. As atividades acontecem das 14h às 18h20, no auditório do Nascedouro de Peixinhos.
Na quarta, para marcar o encerramento, haverá apresentação dos músicos convidados, com acesso gratuito ao público, a partir das 21h.
Ele viu um mundo que começava no Recife
Publicado em 05.03.2007
BRUNA CABRAL e DARIO BRITO
No dia exato em que Cícero Dias completaria cem anos de vida, há um caso de amor para contar entre ele e o Recife. E como todo bom romance, a história carrega um certo toque de mágoa. O pintor irrequieto viajou o mundo, conheceu escolas, discutiu com grandes mestres e experimentou novas formas, mas nunca esqueceu a capital pernambucana que o fascinou quando criança, com suas cores mágicas, seu mar deslumbrante e sua luz peculiar. A ironia é que, por desconhecimento de quem realmente foi esse apaixonado confesso, os recifenses não corresponderam a esse amor como deviam.
E talvez por isso, o sentimento tenha sido vivido quase sempre à distância. Apesar de ser tema recorrente em toda a obra do pintor, o Recife foi sua morada por pouquíssimo tempo. E Escada, terra natal, somente na infância. A maior parte de sua vida, Cícero decidiu passar na Europa, com a esposa, Raymonde, embora nunca tenha deixado de fazer visitas freqüentes a Pernambuco. Nessas ocasiões, cumpria à risca um roteiro obrigatório: jantava sempre no restaurante Maxime, visitava amigos e parentes, principalmente o irmão Pedro Filho, que morava no Cabo, e nunca abria mão de ver o mar. “Lembro que ele disse certa vez enxergar somente em Pernambuco uma linha amarela separando o mar do horizonte”, recorda um dos arquitetos que trabalhou com Cícero Dias no projeto da Rosa dos Ventos, Reginaldo Esteves.
Já os parentes recordam principalmente o jeito bonachão e descontraído do pintor, que era um exímio contador de histórias e estava sempre de bom-humor. “Nunca o vi triste ou aborrecido”, diz a prima de terceiro grau, Clotilde Bezerra, 82. “Era carinhoso com todos, dos familiares aos empregados. E tinha vários amigos”, lembra outra prima, Filonila Regueira, 61.
Mas o motivo que sempre o levava de volta à Europa, nem Raymonde sabe ao certo. Amigos próximos, como Francisco Brennand, arriscam algumas teorias. “Lembro de uma exposição que Cícero fez na Faculdade de Direito, em 1948, com algumas obras abstratas. Os estudantes não entenderam nada. Talvez tenha sido por essa imcompreensão dos recifenses com relação à sua obra que ele sempre decidia ir embora.”
O poeta César Leal, que afirma ter conhecido Cícero como ninguém, é feliz ao lembrar a importância do Recife na produção artística do amigo. “Por mais que as pessoas digam que a obra de Cícero Dias é plural ou que ele tem muitas fases, devemos enxergar uma grande coerência, até poética mesmo, em seu trabalho. O fato é que ele tem como ponto de partida o Recife, com sua primeira obra de impacto (Eu vi o mundo...Ele começava no Recife) e termina também na capital pernambucana, com outra grande contribuição: a Rosa dos ventos.” Importante registrar que Eu vi o mundo... é o painel mais famoso do pintor, concluído em 1929, faz parte do acervo particular de um colecionador carioca e permanece inédito na cidade que homenageia.
Mas os recifenses têm motivos de sobra para conhecer e apreciar a obra de Cícero. Mesmo morando fora por toda a vida, o artista fez questão de deixar na cidade um acervo enorme e bastante representativo na história da arte mundial, mas pouco prestigiado. Os principais trabalhos estão expostos na Casa da Cultura, no prédio da Secretaria da Fazenda e, embora muitos não saibam – mas pisem em cima ou andem de skate de vez em quando – na Praça do Marco Zero.
De todos esses, o único que ainda conserva quase intactos os traços originais do pintor é o mural da Casa da Cultura. Pintada em 81, a obra feita em óleo sobre tela, da fase pós-abstrata, em que as formas reconciliam-se com as figuras, retrata Frei Caneca e as revoluções de 1817, que aconteceu há exatos 190 anos, e de 1824. Mesmo explorando com freqüência e naturalidade a temática social, Cícero passou meses estudando para conceber o mural, que é quase um paradoxo para um menino de engenho, herdeiro de uma ideologia familiar mais tradicionalista.
Bem anteriores a isso, os murais pintados no prédio da Secretaria da Fazenda são o mais fiel retrato de seu namoro com o abstracionismo geométrico. E do descaso do Recife com relação à sua obra. Pra começar, foi Cícero Dias que se ofereceu a adornar as paredes do prédio, concluído em 1944 e considerado um feito da arquitetura modernista, entregando quatro anos depois um conjunto de nove murais, os primeiros do gênero na América do Sul.
Não se sabe ao certo quando, nem por que, seis desses murais foram cobertos com massa corrida e várias camadas de tinta, entre as décadas de 50 e 60. Pior destino tiveram os outros três: dois foram destruídos numa reforma e o terceiro ficou completamente deteriorado. “Fala-se em motivações políticas ou moralistas, mas nada disso pode ser confirmado”, diz a restauradora Simone Arruda, que participou dos mais recentes trabalhos de conservação dessas pinturas. Segundo Simone, os murais ficaram encobertos até o ano de 1982, quando foi feito um grande esforço arqueológico para descobrir a localização exata de cada pintura.
Outros trabalhos de restauração foram feitos em 90 e de 2002 a 2004, a pedido do próprio Cícero, que havia visitado o prédio no ano 2000 e ressentido-se do que viu. “Enfrentamos grandes dificuldades, porque na maior parte dos murais, o percentual de perda da pintura original era de 60%”, diz Simone. E conta também que num deles, localizado no nono andar, descobriu-se um prolongamento do mural no teto, formando um semi-círculo. “Naquela época, ele já conseguia ser inovador a esse ponto.”
MUSEUS – Do acervo aberto ao público em museus e outras instituições da cidade, existem 12 telas pertencentes à coleção do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam), uma tela na Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), e algumas obras no Museu do Estado, sobretudo pertencentes à primeira fase do pintor.
Isso sem falar nas mais de cem telas pertencentes a dezenas de colecionadores e compradores locais. O marchand Carlos Ranulpho contabiliza sete individuais de Cícero que organizou entre 1968 e o fim da década de 80. “Cada mostra dessa apresentou de 15 e 20 quadros, todos comercializados com sucesso, mesmo com um preço relativamente alto para os padrões locais”, lembra Ranulpho.

Última obra de Cícero se finca no ponto de partida da cidade
Publicado em 05.03.2007
O mundo de Cícero Dias, ele pintou e declarou aos quatro cantos que começava no Recife. E foi justamente à praça que guardava o marco zero da formação da cidade, que o artista emprestou seus últimos suspiros criativos. No final da década de 90, quando o pintor já ostentava rarefeitos cabelos brancos e mais de nove décadas de vida dedicada a todo tipo de experimentação pictórica, foi convidado a encarar um desafio de dimensões gigantescas: criar uma rosácea com 40 metros quadrados de diâmetro para adornar o piso da Praça do Marco Zero.
Depois de alguns meses de idas e vindas ao Recife, Cícero concebeu a Rosa dos ventos, em que reuniu elementos astrológicos, geográficos e, claro, sentimentais. Além de sua paleta ímpar de cores, da qual nunca saíram o verde esmeralda, dos canaviais e do mar, nem o encarnado da terra e o azul do céu, Cícero impregnou seu projeto de recordações que tinha da área portuária do Recife, por onde a cidade se entregava ao resto do mundo, assim como ele mesmo e quase todos os artistas plásticos de projeção nacional da sua geração fizeram um dia. Foi de lá que ele saiu de navio para estudar no Rio de Janeiro, na década de 20.
“A idéia do projeto era celebrar a virada do século e os 500 anos de descobrimento do País”, diz o arquiteto Reginaldo Esteves, que ajudou o artista a projetar a rosácea. E lembra de histórias peculiares, como a decisão do piso que seria utilizado. “Pensávamos em granito e chegamos a levar mais de 30 amostras de diferentes cores para ele, mas Cícero foi irredutível na escolha do ‘terazo’, que é uma mistura de cimento, areia e pigmento”, lembra. Assim como não abriu mão do verde esmeralda, “cor cantada por grandes poetas brasileiros” e que inspirou muita gente, como fez questão de frisar em correspondências que trocou com Reginaldo. As cores, aliás, foram escolhidas com tanto cuidado, que os pigmentos tiveram que ser importados da Alemanha, da empresa Bayer. “E, no caso do amarelo, foram necessárias duas remessas, porque a primeira era inadequada para pisos e a ação do sol apagou a cor do terazo em apenas um dia”.
Nas mesmas cartas, Cícero explicou sua Rosa dos ventos em três anéis: o primeiro, divino, representado pelo verde das águas claras de onde se origina o Recife, o segundo, de formas geométricas com as cores fortes típicas da cidade, e o terceiro, do traçado geométrico em que aparecem os nomes dos astros. César Leal lembra a relação estreita que a obra tem com A divina comédia. “A Rosa dos ventos é a reprodução do paraíso de Dante e traz uma feliz homenagem ao Recife, fazendo uma relação com o sistema pitlomaico do Universo, no qual a Terra era o centro de tudo”, comenta.
Mas no projeto original do pintor havia um elemento que foi descartado: uma enorme pedra no centro da rosácea, fato que deixou Cícero desgostoso, ainda segundo César Leal. “A importância da pedra, só ele mesmo entendia”, diz o poeta. Mas até que ele tentou explicar. Numa das cartas enviadas a Reginaldo Esteves, ele adverte: “a obra que planejei tem como princípio ser executada geometricamente, a partir do centro de uma circunferência como ponto de gravidade. Assim, é absoluta a necessidade de dar início a partir da pedra”, segundo ele, “testemunha do Marco Zero, colocada por seus filhos, mostrando ao mundo sua existência”.
Em outra carta, ele volta a falar da pedra, rogando aos arquitetos que não gravem texto nenhum nela. “A pedra, por si só, em seu glorioso silêncio, já é um grito de liberdade. Viverá por ela própria.” E só não viveu, segundo Reginaldo, porque a idéia de Cícero era colocá-la em cima de uma estrutura de aço de sete metros. “Seria arriscado demais.”
Na inauguração da Rosa dos ventos, em 2000, a pedra parecia estar no sapato dos idealizadores e executores do projeto. A equipe teve que enfrentar uma resistência enorme por parte da população, que deixou bem claro preferir as castanholas que viviam há décadas no local à rosácea de Cícero Dias. Pelo menos naquele momento.
A polêmica em torno da última obra oficial de Cícero Dias não acabava aí. No ano passado, o piso já muito deteriorado, foi “recuperado” pela Prefeitura do Recife. O problema é que a obra não respeitou todas as características originais do projeto. O piso foi elevado em oito centímetros e o terazo, substituído por cristais de quartzo e granito. Já os pigmentos foram trazidos também da Alemanha, mas em tonalidades mais claras. Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria de Serviços Públicos, tudo foi feito com consentimento prévio da família do pintor, morto há quatro anos.

ENTREVISTA/ RAYMONDE DIAS
“Cícero pintava como respirava”
Publicado em 06.03.2007
Dizem que por trás de todo grande homem, há sempre uma grande mulher. Verdade ou não, com Cícero Dias foi assim. Esposa do pintor por mais de 60 anos, a francesa Raymonde Dias acompanhou com afinco o trabalho do marido, pelo qual zela até hoje. É por isso que não podíamos deixar de entrevistá-la. Ainda bem que ela topou falar ao JC, por telefone, de Paris, onde mora. E respondeu com paciência as perguntas de quatro jornalistas, em conversa com Olívia Mindêlo. Detalhe: o português dela é ótimo.
JORNAL DO COMMERCIO – Quando e como a senhora conheceu Cícero Dias?
RAYMONDE DIAS – Eu conheci Cícero em plena ocupação de Paris pelos alemães nazistas. Então, eu o encontrei numa reunião com amigos. Ele conhecia umas pessoas que eram amigas minhas e aí eu o encontrei. Fazia dois anos que ele estava em Paris. Ele chegou em 37 a Paris, fugido da ditadura de (Getúlio) Vargas.
JC – O que a atraiu: a arte ou o jeito dele?
RD – Foi o jeito dele, à primeira vista. Uma pessoa simpática, com aquela personalidade dele, sempre muito calorosa. Ele me convidou para tomar um café, eu estava com alguém da minha família, acho. A gente freqüentava os mesmos lugares, convivia com as mesmas pessoas, então a gente se encontrou. Foi a simpatia. Agora, a arte dele eu vi quando fui à sua casa, enquanto ele estava pintando. Mas nessa época da ocupação alemã, ele não tinha verdadeiramente a cabeça para pintar, porque ele era contra os alemães nazistas. E, nessa época, ele já convivia com as pessoas de Paris que estavam resistindo ao nazismo, então ele não pintava como o vi pintar depois.
JC – E como se casaram?
RD – Nos casamos em Lisboa. Bom, a história é muito comprida, mas ele saiu da França e eu fui com ele. Era para ele voltar ao Brasil, mas não voltou. E ele já era conhecido como um grande artista brasileiro. E encontrou todo o grupo de artistas portugueses – Negrera, Antônio da Costa... Aí, ele foi convidado para expor em Lisboa, e nós ficamos lá por causa disso. Isso foi a partir de 1942, aí passamos o resto da guerra em Lisboa. Ele pintou, trabalhou muito, fez muito sucesso lá e na cidade do Porto.
JC – E quando voltaram a Paris?
RD – Logo que a Segunda Guerra acabou nos instalamos definitivamente em Paris, no ateliê em Montparnasse. Ele reencontrou os amigos dele, reatou com os artistas de Paris e entrou para a Escola de Paris. Ele pintou muito abstrato nessa época.
JC – Como era a relação dele com vanguardistas como Pablo Picasso?
RD – Picasso ele conheceu logo que chegou a Paris. Ele morava em Montparnasse, um lugar onde moravam os espanhóis que estavam fugindo da Guerra da Espanha. E, no meio deles, tinha Picasso. Eles fizeram logo amizade, os dois, e daí foi uma amizade muito constante até o fim da vida. Eles se encontravam muito, falavam muito de pintura, ele (Cícero) ia muito ao ateliê de Picasso, eu também fui muito depois. Eles trocavam idéias. Cícero mostrava os quadros dele. Aliás, quando ele levou uma tela para mostrar a Picasso, Paul Éluard viu o quadro e começou a amizade com Cícero. Éluard escreveu muita poesia sobre ele.
JC – Então ele não sofreu nenhum preconceito por ser um pintor brasileiro em Paris?
RD – Pelo contrário. Ele foi aceito, completamente. Na primeira exposição de 1938, ele foi até convidado para expor em outros lugares, em outros países, mas foi a guerra que interrompeu. Graças a Deus, quando a guerra acabou, em 1945, ele voltou a ter o mesmo prestígio na cidade.
JC – Como Cícero Dias lidava com a saudade do Recife?
RD – Ele trocou o Brasil pela França, para dizer a verdade, porque ele se acostumou a viver aqui como artista, mas ele tinha uma saudade enorme do Brasil, sobretudo de Pernambuco. A terra dele não saía do coração dele, absolutamente. Se você ver o ateliê aqui é um ambiente de Pernambuco. Tem rede, tem os bonecos de Pernambuco. A cabeça e o coração dele não deixaram Pernambuco. Ele passou a vida toda indo e voltando, viajando duas vezes por ano ao Brasil, principalmente a Pernambuco. E a última coisa que ele pintou, que ele fez, foi a Praça do Marco Zero. E depois que ele parou de pintar, ele teve tanta saudade, tanta saudade de sua terra que ele escreveu uma coisa muito bonita que se chama Ode a Recife. Quando ele parou de pintar, ele começou a escrever e era só sobre o Recife. Ele falava muito do Engenho Jundiá, onde ele nasceu, como “a capital da minha infância”.
JC – A senhora acha que a obra dele foi toda uma saudade a esta terra?
RD – Tem uma parte de saudade na fase figurativa, e mesmo na fase abstrata. O colorido é completamente pernambucano, tem muito verde.
JC – Por que vocês nunca vieram morar aqui?
RD – (silêncio). Aaaah, isso é uma coisa que eu não sei te explicar. Ele estava acostumado, agora ele precisava de duas coisas: tanto de Paris quanto do Recife. Então, a gente ficava trocando: ia uma ou duas vezes por ano a Recife e ficava o resto da vida aqui.
JC – Como era a rotina dele aí na Europa?
RD – Bom, a gente viajava muito por toda a Europa. Quando éramos mais jovens, viajamos à Itália, à Grécia, à Espanha, todos esses países. Quando estava em Paris, ele pintava o dia inteiro, todo o tempo. Ele nunca deixou de pintar. Ele pintava como respirava. Também íamos a exposições sem parar. Em Paris, tem tanta coisa para fazer que a vida fica cheia. Ele também recebia muito os brasileiros. Todos os brasileiros que passavam por Paris visitavam Cícero. Ele recebia todos os amigos e os amigos dos amigos, além da turma de franceses pintores.
JC – Paris está preparando algo para o centenário? Além de Pernambuco, vai haver alguma comemoração na Europa?
RD – Agora mesmo teve uma grande exposição no Grand Palais que foi reaberto agora, depois de dez anos fechado, com desenhos dos anos 20 completamente inéditos. Foi em outubro, no fim do ano passado. E agora deve ter outra, estamos preparando.
JC – A senhora falou sobre o ateliê dele, que faz referências a Pernambuco. Como era a relação dele com o espaço? Deixava que todo mundo entrasse? Ou não?
RD – O ateliê era um segredo para ele. Ele não deixava todo mundo entrar, não. Era o local sagrado.
JC – Por que tantas mulheres permeavam o imaginário do artista?
RD – São figuras pernambucanas, todas elas. Agora, não sei por que (risos). Ele gostava de mulher, gostava de vê-las, as apreciava, com certeza. Tem mulher, sim, mas muita paisagem de Pernambuco também, principalmente o mar, que ele achava verde e não azul. Ele falava muito desse mar verde de Pernambuco. Maravilhoso. E ele insistia muito para explicar que era verde, não azul.
JC – Uma outra marca do artista foi ver o mundo com um olhar infantil, de um menino de engenho que colocava a sua imaginação nos quadros. Esse olhar o acompanhou até o fim da vida?
RD – Sim, ele foi jovem até o fim da vida. Jovem e alegre, graças a Deus. Por isso que a vida com ele foi tão maravilhosa.
Acervo está espalhado pelo mundo
Publicado em 06.03.2007
BRUNA CABRAL
Foi fora de Pernambuco que Cícero Dias conseguiu sua consagração. E é longe do Estado que permanece boa parte do enorme acervo deixado pelo incansável pintor. No Brasil, há quadros de Cícero espalhados por todo canto: no Recife, em Fortaleza, Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba, cidade onde foi realizada no ano passado a maior exposição jamais feita sobre o artista.
O curador da mostra Cícero Dias, oito décadas de pintura, realizada no museu Oscar Niemeyer, foi o galerista Waldir Simões de Assis Filho, ele próprio um ávido colecionador de “cíceros”, com quase 20 obras em casa, sem falar de pelo menos mais 10 que compõem o acervo de sua galeria de mesmo nome. “O que Cícero Dias tem de mais peculiar é o fato de nem ter precisado partir do rigor acadêmico para chegar ao modernismo, como Portinari e Anita Malfatti. Ele já surge moderno e tratando de temática nacional”, diz.
Mesmo assim, garante, sua obra teve ótima aceitação fora do País. Em Paris, onde o pintou morou por mais de 60 anos, pelo menos duas galerias até hoje têm trabalhos seus no acervo e, mais que isso, exibem sempre essas obras em mostras internacionais: a Galeria Denise René e a Marwan Hoss. Colecionadores particulares também não faltam na capital francesa, especialmente de suas obras abstratas, as mais valorizadas no Velho Continente. “Até hoje as telas de Cícero movimentam os leilões internacionais”, diz Waldir Simões Filho. E o martelo nunca é batido por cifras inferiores a US$ 50 mil. “A média é U$$ 100 mil.”
No Brasil, também há vários colecionadores particulares. Alguns célebres, como a família Roberto Marinho e Ivo Pitanguy. No caso de outros, como Luiz Antônio de Almeida Braga, célebre é a obra: o painel Eu vi o Mundo...Ele começava no Recife, que projetou Cícero no País, em 1931.
As obras do pintor pernambucano que não temia experimentar técnicas e cores também estão disponíveis em vários museus Brasil afora, como o de Arte Moderna, no Rio de Janeiro e os de Arte Brasileira da Fundação Armando Álvares Penteado e de Arte Contemporânea da USP, ambos em São Paulo, cidade à qual Cícero entregou também, em 91, um painel público, com 20 metros, que fica na Estação Brigadeiro do metrô.
ENTREVISTA/ SYLVIA DIAS
“Ele era o pintor e eu nem ousaria pintar”
Publicado em 07.03.2007
Filha única do pintor pernambucano Cícero Dias com a francesa Raymonde Dias, ela era chamada carinhosamente de Silvoca pelo pai, de quem herdou o gosto pela pintura. Em visita ao Recife, para as comemorações do centenário do artista, Sylvia Dias recebeu o repórter Paulo Sérgio Scarpa para conceder uma entrevista exclusiva. Confira abaixo o resultado da conversa, que traz várias revelações.
JORNAL DO COMMERCIO – Qual a lembrança que você tem de seu pai falando sobre Pernambuco?
SYLVIA DIAS – A emoção dele, a pintura dele. Ele sempre pintou Pernambuco e Pernambuco sempre ficou no coração dele. No final da vida, ele estava cada vez mais emocionado com a memória que tinha sobre o Estado. Ele escreveu um romance-poético que chamou de Ode ao Recife, que é um livreto, uma poesia sobre Pernambuco.
JC – Já foi publicado?
SD – Não, ainda não, permanece inédito.
JC – A família pretende publicá-lo?
SD – Pode ser, um dia. Nós temos muitas coisas ainda a publicar pela frente.
JC – Escritos?
SD – Sim, escritos.
JC – O romance Jundiá foi escrito por Cícero Dias e só um trecho foi publicado numa revista em Portugal. Continua inédito?
SD – Sim, o romance continua inédito. Estamos trabalhando com todos esses documentos.
JC – Você também é pintora. Sua arte carrega elementos da pintura de seu pai?
SD – A história de minha pintura começa quando eu vivia com meu pai em Paris. Nunca me passou pela cabeça, quando estudante de Ciências Políticas, que poderia pintar. Ele era o pintor, ele era uma personalidade muito forte e eu nem poderia ousar pretender pintar. No dia em que me casei e fui morar com meu marido no Panamá, isto é, muito longe de meu pai, que foi uma maneira de cortar o cordão, que nunca foi cortado, enfim, me veio uma inspiração do céu para eu começar a pintar. Eu me liberei da presença dele, daquela presença forte. Mas eu não me liberei, não, eu não estou ainda liberada. Ele está sempre comigo. Não é uma prisão, ao contrário, é uma coisa maravilhosa.
JC – Ele nunca levou você a pintar?
SD – Quando criança, sim, como todas as crianças sentadas no chão pintando. Eu vivia muito no ateliê dele. E lá havia uma rede, onde eu ficava deitada enquanto ele trabalhava. E eu ouvia um barulho, a música de Chopin, ele gostava muito de música clássica, e o barulho dos pincéis que ele mexia no copo.
JC – O ateliê de Cícero Dias ficará em Paris ou poderá vir para o Recife?
SD – Existem muitas idéias para o ateliê, mas é tudo muito difícil de organizar. Talvez, se achássemos um lugar em Paris, ficasse mais fácil. Tem a placa no prédio onde ele viveu em Paris, seria então mais fácil. Mas pode ser em Paris, pode ser aqui (Recife), não se sabe ainda. Têm muitas coisas ainda para se fazer. Os projetos ainda estão no ar. Há muito trabalho pela frente.
JC – O que são aquelas cordas que seu pai colocou de um lado para o outro no ateliê?
SD – (Rindo) Meu pai tinha a mania de guardar tudo. Caixinhas de fósforo, rolhas velhas, caixas de charutos e guardava também o que ele chamava de “meus barbantes”. E meus filhos brincavam muito com ele por causa disso. E havia os barbantes que tinham várias utilidades. E havia os que serviam para amarrar o pijama.
JC – Como é que é?
SD – Uma vez, quando ele estava mais velho, levei meu pai ao médico. Ele estava muito elegante, mas quando começou a tirar as calças de lã, muito chique, descobri que ela estava amarrada com barbante (risos). Ele montou os barbantes no ateliê para pendurar os bonecos, os móbiles que construía e os cabides onde pendura o casaco. Existem muitos objetos no ateliê. Dentro das caixas de charuto, ele costumava desenhar e pintar. Está tudo lá, até a poeira porque ele não deixava “a portuguesa” (empregada doméstica) limpar. Está tudo lá. Até a poeira.
JC – Ele permanecia muitas horas no ateliê?
SD – Ele ficava horas trabalhando, ele deixava tudo o que era desagradável para a minha mãe. E ele ficava livre para pintar, com a cabeça livre. Hoje, minha maior dificuldade para pintar é não ter uma pessoa – estou separada de meu marido – para cuidar das coisas e me deixar cuidar de minha pintura.
JC – Como foram os últimos anos de vida do seu pai? Devem ter sido de sofrimento para alguém que sempre foi muito jovem durante a vida.
SD – Foi um grande sofrimento, mas não quero comentar, porque não quero expor esse sofrimento. Ele não teria comentado. Mas, no meio do sofrimento, havia sempre o humor, aquela loucura toda da vida. A gente ria muito junto.
JC – Ele conversava com você em francês ou em português? Ou misturava as línguas?
SD – Ele só falava português em casa. Quando tinha alguma obrigação oficial, falava em francês, mas fora de casa. Quando menina, fui criada em Paris, agia como toda criança gostava de ser, como todas elas. Então, não queria ser aquela que falava duas línguas, tinha vergonha de ser diferente. Aí, eu fazia a greve do português. E meu pai me prometia presentes se eu falasse português e fizesse reverência quando tinha recepção na Embaixada do Brasil. “Fala português, menina, faz reverÊncia, menina”, dizia. E me prometia uma recompensa.
JC – Seu pai lhe deu apelidos?
SD – Chamou-me de várias coisas. Silvoca. Conservo cartas dele, muito poéticas e bonitas, que ele enviou ao Panamá, quando ele me chamava de Silvoca. Cartas muito poéticas e ilustradas. “Silvoca, essas asas levam as minhas saudades...”.
JC – E como você o chamava?
SD – Papá... sempre de papá.
JC – Ele pintou sempre?
SD – Não. No fim da vida ele parou de pintar e escreveu bastante. Eu sempre vi meu pai ler. Depois do almoço e da sesta, via meu pai lendo. No final, ele tinha insônia e lia muito durante a noite. Meu pai tinha uma grande cultura e inteligência. Ele sabia de tudo: história, literatura, política. Uma vez perguntei qual seria o futuro da humanidade e ele me disse: “Haverá superpopulação e faltará de tudo”. Pode até parecer que eu esteja louca, mas tenho a sensação de que ele está comigo. E quando o evoco, sempre o evoco feliz e ele rindo comigo.
JC – Qual a fase de que você mais gosta da pintura de Cícero Dias?
SD – De toda a fase abstrata, as aquarelas surrealistas, os temas brasileiros. Mas há uma fase que as pessoas não conhecem ainda, que é a menos comercial e que não é alegre. É a fase que ele pintou durante a guerra (Segunda Guerra Mundial), que é muito trágica, os horrores da guerra, os horrores do nazismo.
JC – Em branco e preto?
SD – Muito branco e preto e em nanquim. É muito forte, muito trágica. Fizemos agora uma exposição em Paris de desenhos inéditos sobre papel, que ainda não foram exibidos no Brasil. No meio deles, alguns desenhos trágicos de mulheres sangrando. Tudo em nanquim.
JC – Qual a maior lembrança dele de Pernambuco?
SD – Quando se vê as suas pinturas, as cores, a luminosidade. E esse mar que não é tradicionalmente azul, é verde. O mar de Pernambuco é verde. Tem um poeta que escreveu que o verde dos canaviais se funde com o verde da terra que se confunde com o verde do mar. Pernambuco, porém, é o início da vida dele, da vida artística também, em Jundiá, que teve uma grande importância.
JC – Quais histórias ele contava sobre a infância?
SD – Eu ouvi todas as histórias sobre Pernambuco durante a minha infância. Mas houve também uma fase trágica em Jundiá, uma fase de mistério que ele não falava, uma fase de drama com a chegada dos cangaceiros, que mataram uma prima ou tia.
JC – E sobre a tia Angelina, que o ensinou a pintar?
SD – Ele me contou que a tia Angelina lhe ensinou três coisas: a pintar, a tomar vinho e a trapacear no jogo (risos).


CICERO DIAS - 100 ANOS III
Ateliê ainda ficará na Cidade Luz
Publicado em 06.03.2007
DARIO BRITO e
OLÍVIA MINDÊLO
Uma extensa biblioteca de livros de arte, muitos vidros de tinta, barbantes ligando estantes, peças de artesanato brasileiro por toda parte e uma rede. Num rápido apanhado de descrições, é possível perceber que o ateliê de Cícero Dias, ainda instalado em Paris, vai além do próprio conceito de ateliê. Aliás, poderia ser definido como uma instalação de arte contemporânea, na visão do artista plástico Paulo Bruscky. Para ele, o ateliê do pintor é a materialização de quem sempre estava criando, fazendo de seu local de ofício uma obra de arte.
“Não raro ele chegava em casa com um livro velho ou outro objeto na mão e arrumava um local especial para colocá-lo no ateliê. Lembro de uma história que Raymonde (Dias) contou de um porta-ovo que sumiu da cozinha. Cícero adorava comer ovo cozido no café-da-manhã e, determinado dia, esse objeto sumiu. Dias depois, ela encontrou o porta-ovo pendurado num dos muitos barbantes colocados entre os objetos do ateliê”, lembra Bruscky, que visitou o ateliê de Cícero pela última vez em 2005.
Ele, por sinal, seria um dos poucos a quem a viúva do pintor confiaria o trabalho de transposição da oficina de trabalho do pintor para o Recife, até porque o próprio Bruscky já transpôs seu ateliê (não menos rico que o de Cícero) para a 26ª Bienal de São Paulo, em 2004. Bem, depois de muitos capítulos dessa novela de traz ou não traz o ateliê para a capital pernambucana, Raymonde afirmou ao JC que prefere, por enquanto, manter o lugar sagrado de seu marido perto dela, por “razões sentimentais”.
A própria Prefeitura de Paris já instalou uma placa em seu apartamento, onde está o ateliê do artista, com os dizeres: “Aqui viveu o pintor Cícero Dias”. A filha, Sylvia Dias, concorda com a mãe que o relicário do modernista deve ficar ainda na capital francesa.
Uma pena, afinal seria um ganho turístico e cultural para o Recife, que guarda referências a Cícero, mas nenhuma dessa natureza. O Banco Real/ABN Amro Bank , aliás, chegou a investir R$ 52 mil nessa vinda, mas com a decisão de Raymonde, a verba acabou sendo utilizada para a realização do Centro de Documentação Cícero Dias, espaço informatizado do Museu do Estado, que receberia o ateliê.
19/03/2007 - 09h59
Quadro de Andy Warhol comprado por US$ 250 vai a leilão em NY
da Folha Online

Um retrato de Marilyn Monroe feito por Andy Warhol em 1962 e comprado por um colecionador norte-americano por US$ 250 será levado a leilão em 16 de maio deste ano. Segundo a Christie's, responsável pela venda, a expectativa é de que a obra chegue aos US$ 15 milhões.

"Lemon Marilyn" foi um dos 13 retratos que o artista obcecado por celebridades fez de Marilyn Monroe depois de ela ter se suicidado em agosto de 1962. Uma outra pintura da série, "Orange Marilyn", foi vendida por US$ 16,3 milhões em 2006.

A Christie's não revelou a identidade do colecionador, apenas informou que ele comprou o quadro na galeria Eleanor Ward's Stable, em Nova York. Foi lá que Warhol fez sua primeira exibição individual.

As obras de Andy Warhol sempre alcançam preços milionários em leilões. Em um realizado no dia 8 de fevereiro deste ano, em Londres, um retrato de Brigitte Bardot, de 1974, foi vendido por US$ 10,6 milhões.

No final de 2006, um retrato do líder comunista chinês Mao Tse-Tung feito por Andy Warhol foi vendido por US$ 17,376, estabelecendo um recorde mundial para o artista americano conhecido como o rei da pop art.

POLÊMICA
Banda Calypso fica surpresa com ataque de Ariano Suassuna
Publicado em 21.03.2007
Empresário diz que secretário de cultura deveria se orgulhar da banda, ao invés de criticá-la

JAMILDO MELO

Do Blog de Jamildo
O produtor da banda Calypso, Pedro Mota, não gostaria de polemizar com Ariano Suassuna, pelo fato de o escritor ter chamado de “um idiota, um imbecil” o autor da música Pra te conquistar, um dos maiores sucesso da banda, durante a aula-espetáculo que marcou a sua volta à secretaria de Cultura de Pernambuco, na sexta-feira, no Teatro Santa Isabel. Mesmo evitando o confronto, o produtor defendeu o dono da banda, o guitarrista e empresário Chimbinha. No Blog de Jamildo, o assunto está causando polêmica entre os leitores.
“Enquanto Ariano Suassuna falava de Coca-Cola, tudo bem. A gente admite. Ele é nacionalista e é uma coisa americana. Agora, a banda é um produto tipicamente nordestino, que ganhou o Brasil, faz sucesso nacional. Ele deveria era se orgulhar da gente. Se a gente ainda cantasse em inglês... (caberia a crítica, como as críticas que o escritor já fez ao cantor Michael Jackson)”, disse Paulo Mota.
O produtor disse que a banda ficou surpresa com as colocações de Ariano. “Achamos estranho que sejamos tratados desta forma. No meu caso, mais ainda, uma vez que meu pai é pernambucano e minha mãe é paraibana. Fui criado na Paraíba e lá me ensinaram que a gente devia respeitar todo mundo”, afirmou, numa referência indireta à terra natal do escritor, nascido em Taperoá, na Paraíba.
Na conversa com o blog, o produtor revelou algum receio com o patrulhamento ideológico da intelectualidade local. “O melhor era deixar o Ariano quieto. As celebridades deste Estado vão dizer que ele está certo. Vai aparecer um monte de intelectual dizendo que ele está certo. Então, é uma briga desnecessária. Ele não sabe mais do que todo mundo?”, questionou, como que reclamando alguma falta de humildade. “Além disto, é uma pessoa idosa. Merece todo o nosso respeito”, afirmou.
O produtor também usa a vendagem de discos para ironizar o secretário e escritor. “Somando toda nossa discografia, já vendemos mais de 8 milhões de CDs. O último CD vendeu mais de 1,170 milhão de cópias. A gente tá tão preocupado”, ironizou. No final da conversa, o produtor aproveitou para esclarecer que o escritor está mal informado. “A música não é da banda. Ela foi composta pelo músico paraense Edilson Moreno”, explicou o produtor da Calypso.
A assessoria de imprensa da Secretaria Especial de Cultura que o escritor não se pronuncia sobre o assunto.

Fundaj apresenta suas prioridades culturais
Publicado em 21.03.2007jc


ALAN LUNA
Buscar uma integração entre as diversas coordenações que compõem a Diretoria de Cultura da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), trabalhando por meio de quatro vertentes: compra de acervo, realização de mostras, fomento e formação de público e de artistas. Em linhas gerais, é por esses pressupostos que tem procurado se guiar a coordenadora de Cultura da instituição, Isabela Cribari. A meta foi reforçada em entrevista coletiva concedida à imprensa ontem pela manhã.
O motivo oficial da conversa era divulgar que a professora da UFPE Maria do Carmo Nino foi oficialmente convidada para assumir o cargo de coordenadora de artes plásticas – vago desde que a ex-titular, Cristiana Tejo, foi para a diretoria do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam) (ver matéria abaixo). Mas Isabela aproveitou a ocasião também para expor os principais projetos da Diretoria de Cultura para este ano e início do próximo.
Mesmo na desfalcada coordenação de artes plásticas, há uma série de projetos encaminhados. “Ano passado se deu prioridade a comprar o acervo nacional de videoarte. Em 2007, a idéia é dinamizar o acervo, com mostras e concursos”, revelou Isabela. “Já começamos a promover encontros a cada primeira segunda-feira do mês, trazendo convidados para ver e debater a videoarte”, completou Jeanine Toledo, coordenadora do Espaço Cultural Mauro Mota.
Quanto ao fomento, será lançado no Cine PE um edital que contemplará o vencedor com R$ 3 mil mais infra-estrutura para realização de um projeto de videoarte. No âmbito da formação, o desejo é promover um curso com um profissional ligado à videoarte fora do País, previsto para este ano ou início do próximo.
Há ainda o projeto Trajetórias, principal evento no calendário de exposições da instituição e cujo edital já está aberto, disponível no site www.fundaj.gov.br. Além disso, está no prelo um catálogo com todas as mostras do Trajetórias desde 2003, que deve ser lançado ainda este semestre pela Editora Massangana.
Por falar na editora, ela está com um novo perfil. “Quando chegamos, a Massangana era editora, gráfica, livraria, distribuidora. Cada área dessa é um campo de atuação específico, então definimos que o foco seria editorial. O resto a gente vê como terceiriza”, conta Isabela Cribari. Entre os projetos da editora, o mais robusto é a série Os grandes pensadores na educação, que resultará em 60 livros, cada um de um autor diferente, perfazendo uma tiragem total de dois milhões de exemplares. Há ainda projetos mais modestos, mas não menos importantes, como a publicação das poesias completas de Joaquim Cardozo (no prelo) e o livro A história da assessoria de imprensa de JK a Lula.
Para o audiovisual as pretensões não são menores. Na área, há projetos já implantados, como o Sessão bossa mestra, que concede entrada gratuita, todas as quartas-feiras, a professores que vão ao Cinema da Fundaj, o equipamento de projeção digital, inaugurado este mês e – novidade – a cafeteria do cinema, que reabre na quinta-feira, dia 29, sob a coordenação do cineasta Leonardo Lacca. Vencedor da licitação, Lacca fez curso de barista no Centro de Preparação de Café de São Paulo e recebeu consultoria da badalada rede de lojas Suplicy Cafés, também em São Paulo.
Está previsto ainda o lançamento da série de quatro documentários Poetas do repente, kits com DVDs e CDs analisando o ritmo, da origem a sua relação com o hip hop. Outra novidade é o Doc em pauta, projeto previsto para agosto, com mostra, curso e exibição de documentários nas comunidades. Na área de fomento, será lançado, também no Cine PE, o Edital Rucker Vieira, que este ano premiará um só realizador com R$ 40 mil para a produção de um videodocumentário. A grande novidade, no entanto, é a homenagem aos 80 anos do cineasta Fernando Spencer que está produzindo um filme próprio com o apoio da instituição.
Há ainda um projeto da própria Diretoria de Cultura: a realização, em julho, do seminário de Economia da Cultura e, a partir de agosto, do curso de especialização em Economia da Cultura, com duração prevista para um ano
Preparação de Café de São Paulo e recebeu consultoria da badalada rede de lojas Suplicy Cafés, também em São Paulo.
Está previsto ainda o lançamento da série de quatro documentários Poetas do repente, kits com DVDs e CDs analisando o ritmo, da origem a sua relação com o hip hop. Outra novidade é o Doc em pauta, projeto previsto para agosto, com mostra, curso e exibição de documentários nas comunidades. Na área de fomento, será lançado, também no Cine PE, o Edital Rucker Vieira, que este ano premiará um só realizador com R$ 40 mil para a produção de um videodocumentário. A grande novidade, no entanto, é a homenagem aos 80 anos do cineasta Fernando Spencer que está produzindo um filme próprio com o apoio da instituição.
Há ainda um projeto da própria Diretoria de Cultura: a realização, em julho, do seminário de Economia da Cultura e, a partir de agosto, do curso de especialização em Economia da Cultura, com duração prevista para um ano.

Medéia revisto com Augusta Ferraz
Publicado em 26.03.2007
Atriz fez um “ensaio geral aberto” de espetáculo que remixa clássico da tragédia grega

A atuação da atriz pernambucana Augusta Ferraz (Guiomar, a filha da mãe) é garantia de qualidade em cena. Seus trabalhos são sérios, suas interpretações no palco, uma entrega. Mas ainda é difícil analisar a sua nova peça Medéaponto, que estreou no último sábado no Teatro Hermilo Borba Filho para uma platéia de cerca de 30 pessoas, a maioria da própria classe teatral recifense. Ela mesma, depois de mais de uma hora na pele da trágica Medéia, fez um discurso, agradecendo a presença de todos em seu “ensaio geral aberto”, e se desculpou pelos atropelos na fala do texto.
O trabalho, dirigido por Marcondes Lima, fica em cartaz só até o próximo fim de semana no mesmo teatro, mas promete cumprir temporada a partir de julho, na cidade, caso consiga o apoio do Fundo Estadual de Cultura, o Funcultura. Trata-se de uma adaptação da tragédia grega de Eurípides, Medéia, que traz uma das personagens mais loucas e dramáticas da história do teatro – essa que depois de saber da traição de seu marido, Jasão, resolve assassinar os próprios filhos como uma forma de vingança.
O tratamento dado à encenação é contemporâneo, mas é marcado, sobretudo, pela força dramática e melancólica da cultura portuguesa, muito pelo fato de o texto ser da poetisa lisboeta Sophia Mello Breyner Andersen. “Estávamos desde o ano passado pesquisando várias traduções, mas nenhuma trazia a poesia do grego como essa da portuguesa”, explicou Marcondes Lima, depois da apresentação de sábado. O drama além-mar é reforçado principalmente pelos fados, que ganharam novos arranjos por Henrique Macedo e são interpretados ao vivo, e com maestria, por Augusta, que é formada em licenciatura em música pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), além de ter feito aulas de canto no Conservatório Pernambucano de Música.
Mas o espetáculo ainda precisa amadurecer. Apesar da interpretação veemente de Augusta para um papel tão árduo, ainda há um pouco de insegurança. Falta uma familiaridade com o personagem, principalmente no que diz respeito ao espaço em que o monólogo está sendo encenado. O Hermilo é uma prova de fogo para todo ator de teatro, porque o público está muito dentro do palco e o ator, completamente desnudo. Para ser estréia, no entanto, Augusta mandou muito bem.
Só é um pouco estranha a escolha pela atuação de Jasão numa televisão. A gravação de vozes radiofônicas e o próprio uso de um celular em plena Grécia Antiga ainda se encaixam na encenação, mas a TV extrapola um pouco. Se a tecnologia veio como solução cênica na peça, com a televisão ela passa a ser uma escolha estética arriscada. A interpretação de Jasão foi feita pelo jovem ator Lano de Lins, que poderia regravar a cena. Mas a peça está só começando e tem potencial para comover platéias e ser um marco do teatro local. (O.M.)
Cartas do dia 26 de março de 2007
Publicado em 26.03.2007
Críticas
O dramaturgo Ariano Suassuna criticou o autor da música Pra te conquis- tar. É de conhecimento público que Ariano não gosta de rock e de outras coisas. O saudoso Chico Ciência, por exemplo, como Ariano o tratava ironicamente, fora vítima do secretário de Cultura. Ariano Suassuna, nunca se manifestou em prol das realizações locais, baseadas nos livros dos autores nordestinos. Ele preocupa-se apenas com ações assistencialistas como fez, por exemplo, na Ilha de Deus, entregando R$ 10 a um ilhéu. Como também nas encenações de suas peças teatrais (Armorial/Aula-espetáculo). Já foi vaiado em 1998 em plena apresentação de sua peça A Pedra do Reino e fortemente criticado pelos especialistas locais e do Sul do País, durante abertura do 1º Festival Recife do Teatro Nacional. O senhor Ariano deveria respeitar os nossos artistas seja de onde for. Será que ele só respeita os artistas da TV Globo?
José Calvino de A. Lima -Campo Grande - calvinolima@yahoo.com.br
Estou acompanhando essa discussão de segunda categoria entre Ariano Suassuna e o Chimbinha, da Banda Calypso. Na realidade, nós que fazemos cultura no Sertão do Pajeú estamos pouco preocupados com toda essa história. Existe muita bobagem no cotidiano do povo pernambucano que não vai ser Ariano que consertará. Enquanto a mídia foca os holofotes para essa pendenga que, não passa de fuleragem, estamos preocupados com a nossa produção cultural. Rica culturamente, mas historicamente escanteada pelos governos de todos os naipes. Enquanto se discute o que é porcaria cultural, nossos mestres pifeiros estão passando por sérias dificuldades. Serra Talhada é um exemplo. Apenas duas bandas de pífanos se apresentam nos períodos religiosos. Não há estímulo local e nem uma política cultural para inserir os artistas populares. Precisamos de mais ação e menos discurso. Não interessa taxar o que é bom ou ruim quando lutamos a duras penas em nossa aldeia por dias melhores da cultura popular. O momento é de maturidade e ir além das fronteiras armoriais. Sertão também tem cultura e quem duvidar pode cantar o mote do cachorro com a onça que a gente dança.
Giovanni Sá- Serra Talhada -giovanniduarte_4@hotmail.com
Apoio (28.3.07)
Achei ótimo o comentário do sr. José Calvino sobre o dramaturgo paraibano Ariano Suassuna. O senhor Ariano, pelo que li a respeito da crítica à música Pra te conquistar, da Banda Calypso, foi deveras preconceituoso. Não gostei da posição do secretário de Cultura, que agora, fazendo parte do governo do Estado de Pernambuco, está cada vez mais arrogante. Parabéns, Calvino.
Arnaldo Madeiro- Dois Unidos - oriedam@bol.com.br


Parque
Muito se tem falado sobre o projeto e o nome do Parque de Boa Viagem. Com relação ao nome, nada mais há a ser dito. O nome imposto foi um afago pessoal de João Paulo a Lula. O povo esquecerá e chamará Parque de Boa Viagem. Com relação ao projeto, o arquiteto Oscar Niemeyer, apesar de sua genialidade, cometeu um equívoco. Possivelmente, esse equívoco decorreu da forma errada com que lhe foi feita a encomenda. Brasília, a obra que projetou Niemeyer internacionalmente, tem também um grande engano: a maioria dos prédios foi projetada com grandes áreas envidraçadas e, para serem habitados, necessitam de pesadas cortinas e de condicionadores de ar. O recifense e, principalmente moradores da Zona Sul, desejavam apenas um parque arborizado, uma pista para caminhadas, uma academia da cidade, bancos para descansar e ler, sanitários e alguns quiosques com refrigerantes. Será que para isso os arquitetos tupiniquins não teriam competência? Claro que sim. Havia necessidade de a PCR desembolsar R$ 2 milhões com o projeto do famoso arquiteto? Claro que não. Além do mais, no Brasil sempre há recursos para a construção de obras públicas, mas sempre falta para a sua manutenção. O exemplo mais recente é o parque Memorial Arcoverde.
Horácio Fittipaldi Sênior - Espinheiro - hfitti@terra.com.br
Comparação
O Brasil transformou-se numa imensa Granja do Solar quando o presidente Lula recebeu o ex-presidente Collor e chamou de heróis seus novos amigos usineiros e se concedeu um aumento de 26% no salário. George Orwell, o autor do livro A Revolução dos Bichos, sentiria-se em casa no Planalto Central. Pois Collor é o nosso sr.Jones. O presidente Lula nos recorda Napoleão. O velho Major são os intelectuais que lutaram pela nossa democracia, porém não sobreviveram para ver a realidade atual bem diversa dos seus sonhos.Os cães ferozes são os militantes sempre prontos a silenciar a oposição. Garganta são os marqueteiros sempre bem remunerados. E quem será Bola-de-Neve? Acho que José Dirceu. Mas não imagine que você e eu estamos na platéia, nós somos os que assistimos no lado de fora da casa ao banquete. Somos Sansão e Quitéria.
Roberto Vieira - Camaragibe - robervieira@uol.com.br
Paulo Bruscky Um herdeiro de Duchamp
Publicado em 28.03.2007
Artista plástico ganha o primeiro livro-catálogo ao completar 40 anos de carreira, com ensaios de Cristina Freire

OLÍVIA MINDÊLO
Controverso, incansável, à frente do seu tempo. Paulo Bruscky ainda está longe de ser compreendido pelos espectadores brasileiros comuns. Se, na década de 70, o artista multimídia pagava o preço da marginalidade no Brasil – e sobretudo em Pernambuco – por produzir uma arte para além dos cânones dos conceitos artísticos, hoje a aceitação do seu trabalho caminha a passos lentos no País. É claro que agora a realidade é outra. Artistas visuais contemporâneos têm muito mais o respaldo das instituições, mas é no mínimo sintomático que apenas a partir dos 2000 o artista tenha, por exemplo, ganhado uma sala especial na Bienal das Artes de São Paulo (2004) e vendido suas primeiras obras de arte (2006) a museus. E, olhe, são 40 anos de carreira.
Hoje, às 19h, no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam), surge mais uma dessas surpresas: o lançamento do primeiro livro sobre sua trajetória. Assinado por Cristina Freire, pesquisadora e curadora do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (USP). Paulo Bruscky: arte, arquivo e utopia foi feito com recursos do Fundo Estadual de Cultura (Funcultura) e apoio da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe).
“Descobri Paulo Bruscky pesquisando o acervo de arte conceitual do Museu de Arte Contemporânea da USP. Essa pesquisa já dura mais de dez anos e um aprofundamento na sua obra foi uma necessidade pela lacuna total de referências sobre o artista. O trabalho foi bastante exaustivo, pois envolveu o levantamento de obras desconhecidas para um público maior, ou mesmo de especialistas”, atesta Cristina, autora também do livro Poéticas do processo – arte conceitual no museu (1999), cuja capa é ilustrada com a peça de arte postal Confirmado: é arte, feita pelo próprio artista pernambucano.
Com edição bilíngüe (português e inglês) e tiragem de 1.500 exemplares, o livro foi, sim, uma conseqüência natural da linha de pesquisa de Cristina, mas foi possível também porque o próprio Bruscky fez um convite à autora. Foram dois anos de trabalho intenso, que terminou em 2003 e só agora pode ser impresso. Das mais de 200 páginas, cerca de 60 são de textos escritos pela curadora, incluindo uma extensa cronologia biográfica, o que torna a publicação muito mais convidativa. A grande quantidade de imagens ilustra a criativa e interminável produção do artista, que pode ser compreendida em seu todo, apesar de tão “vasta quanto múltipla”. Um livro para passar dias fuçando e descobrindo coisas novas a cada virada de página.
“Não procurei esgotar o conjunto de uma obra tão extensa e multifacetada, mas principalmente dar instrumentos para que possa ser compreendida dentro do contexto da história da arte contemporânea (nacional e internacional). É uma maneira de preservá-la de uma maneira íntegra. Conferir sentido é revelar a importância de uma obra. Não baste dizer que é importante, mas mostrar por quê. Foi isso que eu procurei fazer nesse livro”, explica Cristina Freire.
Cristiana Tejo, diretora do Mamam, atenta para o fato de Paulo Bruscky ter sido a única pessoa, nesses anos todos, com preocupação de documentar a própria obra. Isso deve ter ajudado a própria autora do livro em sua pesquisa e na sua tarefa de tornar esse “arquivo vivo” mais acessível no Brasil. Hoje, na ocasião do lançamento, Cristina Freire conversa um pouco sobre o seu processo de trabalho e, em setembro, realiza no MAC-USP uma exposição individual e antológica desse artista pouco convencional.


Influência do dadaísmo marca a sua obra
Publicado em 28.03.2007
Arte postal, xerox arte, vídeo, performance, livro de artista, arte classificada, instalação, art-door. O universo múltiplo de Paulo Bruscky, 58 anos, converge numa só direção: reinventar o cotidiano, “através do seu estranhamento”. Essa reinvenção é que ousada, inesgotável, inclassificável. Como bem coloca Cristina Freire em seu livro, “qualquer definição é insuficiente para definir esse artista”.
Na verdade, estamos falando não apenas de alguém que é filho de um fotógrafo russo com uma ilhéu de Fernando de Noronha, mas de uma cria autêntica das vanguardas modernistas do início do século 20, sobretudo do dadaísmo, e protagonista desse limite que separa a arte moderna da contemporânea.
“Eu sou tudo que veio antes de mim: futurista, dadaísta. Não existe ninguém que não tenha influências. Eu sou um conjunto de informações”, se define Bruscky. As referências, no entanto, não impediram Bruscky de ser original. Não é à toa que ele ganhou, logo no início da carreira, a consagração internacional que não teve por aqui. Ganhou uma bolsa, em 1982, da Guggenheim Memorial Foundation, para morar em Nova Iorque, e expôs em vários lugares do mundo, a exemplo da 57ª Bienal de Veneza, em 1976.
Mas foi através do grupo Fluxus, rede de artistas ligados à distância através da troca de arte pelo correio, que Paulo Bruscky rompeu ainda mais as fronteiras geográficas. Foi ele, inclusive, o responsável por realizar, em 1975, no Recife, a 1ª Exposição internacional de arte postal – com interferências de textos, imagens e carimbos – e, em 1981, a 1ª Exposição internacional de arte em outdoor (art-door), junto a Daniel Santiago, parceiro seu entre as décadas de 70 e 90. Na época da ditadura militar, também protagonizou ações, performances e formas de arte engajadas, que lhe renderam três prisões.
A hostilidade em relação à sua obra, no entanto, nunca o incomodou. É tanto que optou por morar no Recife grande parte da vida, com salário de funcionário público. “Eu crio em qualquer lugar. Entendo a desinformação das pessoas e respeito”, diz o artista. (O.M.)
Lançamento de Paulo Bruscky: arte, arquivo e utopia, hoje, às 19h, no Mamam – Rua da União, 88, Boa Vista. Aberto ao público. Preço médio do livro: R$ 100.

GRÃ-BRETANHA
Pernambucana em foto polêmica com príncipe
Publicado em 28.03.2007
Ana Laíse Ferreira, 18 anos, vendeu ao The Sun imagem em que aparece com William encostando a mão em seu seio direito

WILFRED GADÊLHA
O que não passaria de mais um na lista de incontáveis escândalos da família real britânica acabou mudando a vida de uma pernambucana – e de sua família. Uma foto, tirada em frente à casa noturna Elements, na cidade inglesa de Bornmouth, catapultou à fama instantânea a estudante Ana Laíse Ferreira, 18 anos. Tudo porque, na imagem (publicada primeiro pelo tablóide sensacionalista inglês The Sun e depois multiplicada em sites mundo afora), o príncipe William, segundo na linha de sucessão da rainha Elisabeth II, aparece com a mão direita em um local, digamos, inadequado para um quase rei: o seio direito de Laíse.
A fotografia foi tirada no dia 22 por uma amiga de Laíse, que está na Inglaterra para aprender a língua do país, desde o dia 12 de fevereiro. A estudante vendeu a imagem para o jornal, que a estampou na capa da edição de ontem. A repercussão foi imediata. A pernambucana concedeu entrevista ao The Sun e disse que “sentiu algo perto dos seios. O príncipe sabia muito bem onde estava com a mão”.
No Recife, a família de Laíse perdeu a tranqüilidade. Segundo a mãe da estudante, Claudete Ferreira, o telefone não parou de tocar. “Eu não agüento mais. É uma situação muito desagradável. Porque isso tudo está acontecendo aqui. Lá, não há essa repercussão toda”, disse a dentista, que tem outras duas filhas, Diana e Luana.
A mãe conta que Laíse foi para o Reino Unido estudar inglês. “Era o sonho dela aprender a língua lá. Ela havia passado no vestibular da Faculdade Integrada do Recife (FIR) e ia cursar relações internacionais. Como a viagem estava marcada, ela trancou a matrícula”, prossegue.
A dentista conta que o visto de estudante da filha é de 9 meses. E que ela vai continuar na Inglaterra. “Por que ela voltaria? Se alguém fez algo de errado, foi ele. Nós investimos para que ela pudesse continuar a sua carreira”, diz Claudete, defendendo a tese de que William não pegou no seio da filha. “Ele não está apalpando. Apenas segurou mais em cima. É uma foto estática, num local público. Daí dizer que ele está se aproveitando, que ela é prostituta, é um pouco demais. Ela não fez nada, não vejo por que isso tudo”.
Claudete Ferreira disse que sabia que a filha freqüentava bares e casas noturnas em Bornmouth. “Ela está distante, longe do seu núcleo familiar. Fez novas amizades para não ficar isolada. É natural.”
Uma das irmãs de Laíse também conversou com o Jornal do Commercio. “Laíse é uma adolescente. Ela não seguiu os nossos conselhos para não vender a foto. Ela disse que quem a aconselhou a fazer isso foi a professora de inglês”, revela a técnica em enfermagem Luana, 26. O valor das fotos – supostamente duas mil libras – não foi confirmado nem pela mãe nem pela irmã. “Não sabemos quanto foi”, disse Claudete.

Os oitenta anos do escritor e dramaturgo Ariano Suassuna serão comemorados nesta quinta-feira no Centro de Convenções da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

O quarto evento em comemoração ao aniversário de Ariano está marcado para as 16h. Na ocasião haverá uma mesa-redonda sobre o tema “Artes Visuais e Música”, coordenada pela professora Thereza Didier, com a participação do compositor Antônio Madureira.

O cineasta Douglas Machado, também integrante da mesa, vai exibir seu documentário “O Sertãomundo de Suassuna” com entrevistas do próprio escritor e outros artistas como Antônio Nóbrega, Wilson Martins, Sábato Magaldi e Rachel de Queiroz. O encontro é organizado pela Pró-Reitoria de Extensão (Proext) e também faz parte das comemorações dos 60 anos da UFPE.
A entrada é franca.

Da Redação do PERNAMBUCO.COM



Lula se encanta com a Paixão
Publicado em 30.03.2007
Apesar da chuva fina, presidente acompanha a todo o espetáculo e, no final, reclama dos flashes: “As máquinas dos fotógrafos atrapalham”

CECÍLIA RAMOS

Enviada Especial
FAZENDA NOVA – Pouco à vontade e sem disposição para falar de política. Foi assim a passagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela cidade teatro de Nova Jerusalém, no município de Brejo da Madre de Deus, no Agreste. O petista, emocionado e encantado, assistiu pela primeira vez ao espetáculo da Paixão de Cristo, encenado há 40 anos. Protegido por forte esquema de segurança, Lula teve pouco contato com os convidados e durante a apresentação evitou a imprensa, que ficou confinada em um cordão de isolamento durante as três horas de duração da peça.
O presidente resistiu à chuva fina que caiu e evitou usar a capa de plástico, oferecida pela produção do espetáculo. Só se queixou dos flashes. “As máquinas dos fotógrafos atrapalharam. Eu vou ver melhor quando eu não for mais presidente, for um cidadão comum e me sentir parte disso aqui (do cenário)”, disse Lula, em rápida fala de dez minutos, ao final da peça. O petista agradeceu ao produtor da Paixão e administrador do teatro, Róbson Pacheco, a disposição em realizar uma apresentação exclusiva para ele, em função da viagem para os Estados Unidos, hoje, onde se encontrará com o presidente George W. Bush.
Lula falou do alto do cenário da “Ascensão” de Jesus Cristo, onde posou para fotos com atores, anônimos e figurantes. Apenas os governadores de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e de Sergipe, Marcelo Déda (PT), tiveram acesso ao espaço – e só Eduardo Campos fez um pequeno discurso. O prefeito do Recife, João Paulo, e os deputados federais pernambucanos foram barrados no meio do caminho. Dizendo-se encantado com o espetáculo e enaltecendo a “esperança” do povo nordestino, Lula ressaltou a grandeza da encenação. “Se alguém tinha dúvida que Deus nasceu aqui, eu acho que foi aqui que ele nasceu”, falou.
Durante os nove atos da Paixão, o presidente esteve ladeado por Eduardo Campos e Róbson Pacheco, na primeira fileira das cadeiras dispostas em frente a cada cenário – onde também estavam a primeira-dama do Estado, Renata Campos, a mãe do governador, a deputada Ana Arraes (PSB), o ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, e o prefeito João Paulo. Quem também marcou presença foi o ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti. Pouco antes de começar o quinto ato da peça, ele se dirigiu ao presidente Lula e já ia se sentando ao lado do petista, quando foi retirado da cadeira. Lula, por sua vez, fez que não viu e o ex-deputado saiu de fininho para sentar-se na segunda fila.
Nem mesmo diante dos insistentes apelos da imprensa para conceder entrevista, o presidente cedeu. “Vocês não vão querer falar de política aqui não é, gente”, disse o petista, antes de deixar o teatro ao ar livre. Lula seguiu, de carro, direto para a Pousada da Paixão, ao lado do teatro, onde foi oferecido um coquetel regional aos convidados. O presidente deixou Fazenda Nova às 22h50, de helicóptero, junto com Eduardo Campos, em direção ao Recife.

CUBA
Fidel critica Bush em artigo
Publicado em 30.03.2007
No jornal oficial Granma, o líder responsabiliza o americano pela morte futura de 3 bilhões de pessoas por fome, em decorrência do incentivo ao uso de etanol

HAVANA – O líder cubano, Fidel Castro, responsabilizou ontem o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, por provocar futuramente a morte prematura de 3 bilhões de seres humanos, caso siga adiante com seu plano de converter alimentos em combustíveis.
A longa mensagem de Fidel Castro, a primeira desde que transferiu o poder a seu irmão, Raúl, em 31 de julho do ano passado, para se submeter a uma cirurgia intestinal, foi publicada pelo Granma, jornal do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba.
O dirigente não utiliza o artigo de 1.566 palavras para informar sobre seu real estado de saúde ou sua possível intenção de ainda reassumir o poder.
Ele toma como pivô de seu raciocínio a reunião de George W. Bush, na última segunda-feira, com os presidentes das três grandes montadoras americanas, na qual exortou a indústria automobilística a aumentar a produção de veículos movidos a álcool ou biodiesel.
Fidel diz acreditar que, “por trás da sinistra idéia, há o estímulo à utilização de terras agrícolas para a obtenção de combustíveis, em detrimento da produção de alimentos”.
Em janeiro, o presidente americano propôs a redução nos próximos 10 anos de 20% do volume da gasolina consumida pelos veículos automotores nos Estados Unidos.
Pelas contas de Fidel Castro, isso representaria a necessidade anual de 132 bilhões de litros de álcool extraídos do milho. Para tanto, seriam necessárias 320 milhões de toneladas do produto, quantia elevada, já que, segundo a FAO, a agência das Nações Unidas para a agricultura, a colheita do produto nos EUA em 2005 foi de um volume bem menor, 280 milhões de toneladas.
Fidel não leva a sério a promessa de Bush de não centrar a demanda no milho e procurar outras fontes capazes de fornecer álcool combustível.
O dirigente cubano, que está internado em local não divulgado pelo governo da ilha, dá a entender que os americanos tendem a entrar no mercado de grãos dos países mais pobres, e com isso inevitavelmente forçar a queda na produção de alimentos.
Ele elogia a excelente tecnologia brasileira para produzir álcool e diz que a Venezuela, governada por seu aliado Hugo Chávez, não exportará álcool, mas misturará o produto à gasolina por questões ambientais.
Em Cuba, no entanto, as terras separadas para a produção direta de álcool podem ser muito mais úteis na produção de alimentos para o povo e na preservação do ambiente.
ÁGUA – A ligação entre esse diagnóstico e a suposta morte prematura de 3 bilhões de pessoas aparece de modo confuso no texto do ditador.
Ele cita telegrama da Telam (a agência oficial argentina), que por sua vez resume estudos da FAO e do Conselho Mundial da Água. Os dados: em 2015 a escassez de água afetará entre 2 bilhões e 3,5 bilhões de pessoas.
Nos dois últimos parágrafos, Fidel cita o derretimento de geleiras na Antártica e os efeitos do aquecimento global. Mas o líder cubano não chega a fechar o raciocínio pela qual a responsabilidade do presidente americano seja claramente apontada.
Abril2007: Após censura, Dolce & Gabbana lança campanha de amor gay
da Ansa, em Milão

Depois da campanha publicitária acusada de machismo, retirada de circulação na Espanha e na Itália, a grife Dolce & Gabbana lança nesta quinta-feira (8) uma nova campanha para a marca: um homem deitado no chão com uma cobra é admirado por três outros rapazes.

A assessora de moda da prefeitura de Milão, Tiziana, diz que "essas mensagens não são coisa de macho, mas de amor gay".

"A cobra é certamente um símbolo sexual, que, neste caso, tenta o homem. Mas essa imagem não me preocupa. Na verdade, fiquei indiferente, porque o que ela mostra é o mundo gay: os dois estilistas são gays e, supõe-se, os modelos da propaganda também", explicou a assessora.

Para ela, a última campanha publicitária da marca, que foi censurada por mostrar uma mulher segurada pelos pulsos por um homem diante de outros homens que assistem à cena indiferentes, "não parece a representação de um abuso sexual". "A moça não está aterrorizada, aliás, parece ser cúmplice de tudo", afirma.

Talvez, ainda segundo Tiziana, "mais que um abuso, poderíamos falar da condição da mulher que, nessas imagens, é mais um manequim que uma mulher".

08/04/2007 - 10h10
Papa Bento 16 lamenta violência no Iraque em mensagem de Páscoa
da Folha Online

Em sua mensagem de Páscoa neste domingo, o papa Bento 16 fez um chamado pela paz no mundo e lamentou a "matança contínua" no Iraque, assim como a crescente violência no
Afeganistão.

O papa, 79, apareceu hoje para fazer o apelo em sua mensagem "Urbi et Orbi" (para a cidade e para o mundo) de Páscoa a dezenas de milhares de pessoas que se reuniram na praça São Pedro. Bento 16 concluiu a segunda estação de Páscoa de sua jovem liderança na Igreja Católica.



Em seu discurso, televisionado para milhões de espectadores em 67 países no final da missa de Páscoa, ele listou suas maiores preocupações no mundo, com destaque para o Oriente Médio e a África.

"Nada de positivo vem do
Iraque, dividido pela matança contínua enquanto a população civil foge", disse o pontífice.

Bento 16 também lamentou a "crescente violência e instabilidade" no Afeganistão, que se prepara para uma provável primavera sangrenta depois que a insurgência taleban se fortaleceu e provocou o ano mais violento desde que o regime foi derrubado em 2001.

Ele condenou o terrorismo e o uso da religião para justificar "milhares de faces da violência". "A paz é dolorosamente necessária", disse.

O papa leu seu discurso da mesma varanda central da basílica de São Pedro onde ele apareceu para o mundo pela primeira vez como pontífice, depois de sua eleição há quase dois anos.

Em vestimentas douradas, Bento 16 fez cumprimentos de Páscoa em 62 línguas, incluindo hebreu e arábico.

Diálogo israelo-palestino

Em outra parte de seu discurso, o papa disse que o futuro do Oriente Médio está ameaçado pela paralisação política no
Líbano, onde o governo está sendo desafiado por grupos de oposição, incluindo o Hizbollah.

Bento 16 destacou também "alguns sinais de esperança no diálogo entre Israel e a Autoridade [Nacional] Palestina". Seus comentários chegam pouco depois da formação do governo de coalizão palestino no último mês.


Voltando-se para a África, o pontífice lamentou a violência na República Democrática do Congo e disse que a luta na Somália afastou a perspectiva de paz e piorou a crise regional.

"Em
Darfur (Sudão) e nos países vizinhos, há uma situação humanitária catastrófica e, infelizmente, subestimada."

A Páscoa o primeiro dos muitos eventos importantes que Bento 16 realizará em Abril.

Ele celebrará seu aniversário de 80 anos no dia 16, e três dias depois, comemorará o segundo aniversário de sua eleição como papa.



O espetáculo, baseado no livro homônimo de Antoine de Saint Exupéry, tem direção do pernambucano João Falcão.
"Eu costumo dizer que esse Pequeno Príncipe é quase exclusivamente pernambucano", afirmou Luana, referindo-se aos outros profissionais do Estado envolvidos na montagem: a preparadora corporal Duda Maia, o ator Felipe Koury e os músicos Rico Vianna e Robertinho do Recife, responsáveis pela trilha sonora.
A passagem da atriz pela cidade, no entanto, será breve.
Apaixonada confessa por Fernando de Noronha, Luana embarca amanhã para a ilha, onde fica até o início da temporada:
"Eu já vou há muitos anos pra Noronha. É um dos lugares onde eu me sinto mais próxima a Deus", afirmou.
E como "praia" é um dos seus assuntos preferidos, a musa aproveitou a ocasião para acabar de vez com as esperanças de quem imaginava um dia poder vê-la pelos mares do Recife: "Em Boa Viagem não há Cristo que me faça entrar. Eu gosto mais dos tubarões de Noronha. Sou mais amiga dos tubarões de lá", brincou.

Caseiro mata garoto em Vitória
Publicado em 09.04.2007
Vítima e dois amigos tinham entrado em sítio para pegar frutas, em Vitória de Santo Antão. Revoltados, moradores tentaram linchar o acusado

JOÃO VICTOR ROCHA
Especial para o JC
Um punhado de frutas motivou o assassinato de um menino de apenas 11 anos no município de Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata do Estado. Por volta de 12h30 de ontem, o estudante Nathanael dos Santos Marinho foi morto a golpes de foice quando tentava, com dois amigos, colher serigüelas e acerolas de um pequeno sítio localizado no Loteamento Santana, subúrbio de Vitória. Revoltados com o crime, centenas de moradores do loteamento tentaram linchar o caseiro Agrinaldo Teixeira da Silva, 30, que confesou o crime. A casa onde o acusado vivia foi destruída.
O caseiro foi preso e admitiu friamente o assassinato, afirmando que matou Nathanael por prazer, porque as frutas do sítio onde morava costumavam ser roubadas por crianças. De acordo com os dois meninos que foram com Nathanael ao sítio, o caseiro havia permitido a entrada dos três na propriedade, mas logo depois pegou uma foice para tentar matá-los. “A gente pediu para pegar as serigüelas e ele deixou. Quando estávamos em cima da árvore, ele veio com uma foice e Nathanael não conseguiu correr”, relatou um dos colegas da vítima, de 12 anos.
Ao prestar depoimento à polícia, Agrinaldo revelou detalhes da morte do estudante. Ele contou que golpeou Nathanael primeiro nas pernas, depois no pescoço (quase degolando o menino) e, finalmente, na cabeça, por pelo menos três vezes. O estudante morreu no local e não chegou a ser socorrido. O caseiro ainda confirmou que tinha permitido a entrada dos meninos na propriedade com a intenção de assassiná-los.
Após matar o estudante, Agrinaldo correu cerca de dois quilômetros em direção ao Rio Tapacurá, onde tomou banho e lavou a arma utilizada no crime. Logo depois, foi localizado e espancado por seus vizinhos. O caseiro só não foi linchado porque três policiais militares intervieram.
A população revoltada ainda tentou linchá-lo novamente no Hospital Regional João Murilo, onde Agrinaldo foi atendido, e até na Delegacia Municipal de Vitória, que chegou a ser cercada por dezenas de mototaxistas. “Foi um crime muito chocante e isso revoltou as pessoas. Os PMs agiram com muita coragem quando impediram que a população matasse o caseiro e tivemos que reforçar a segurança na delegacia para que ela não fosse invadida”, afirmou o delegado Marciano Bezerra.
Vizinhos de Agrinaldo denunciaram que ele já teria ameaçado outras crianças com uma foice e andado sem roupas pelo loteamento. Familiares do caseiro disseram à polícia que ele sofre de problemas mentais, mas nunca chegou a ser internado em um hospital psiquiátrico. Agrinaldo foi autuado em flagrante por homicídio duplamente qualificado, sendo encaminhado ao Presídio de Vitória na noite de ontem.

O intelectual e a Hello Kitty
Publicado em 08.04.2007
Galeria de fotos
Veja imagens
O professor e escritor Jomard Muniz de Britto completa hoje 70 anos e mostra que a iconoclastia ainda é uma de suas inteligentes armas

FABIANA MORAES
Dia desses, o escritor, poeta, dramaturgo, cineasta, professor (etc, etc, etc) Jomard Muniz de Britto caminhava pela rua. Dois garotos, meio de longe, observavam o homem distinto, cabeleira branca, camisa de mangas compridas e óculos de aros escuros. Logo, reconheceram nele um elemento que entregou a verdade: não, aquele senhor não podia ser tão comum assim. Aproximaram-se e perguntaram as horas. Tudo para ver mais de perto o relógio de pulso rosa escuro com a cara da Hello Kitty, assessório utilizado pelo eterno iconoclasta que, hoje, completa 70 anos. Mas, fiu-fiu, com uma cacholinha de 25.
Jomard não envelheceu nada: continua com olhos, ouvidos e língua extremamente ágeis e em total sintonia. Escreve seus atentados poéticos (o mais novo publicado aqui, em primeira mão), tem vídeo no You Tube, é objeto de estudo de trabalhos acadêmicos, estuda, ensina, lê muito, toma seu uísque num quiosque perto do Teatro do Parque. Nascido em 1937, o mesmo ano em que o famoso Zepelim Hindenburg explodiu em Nova Jérsei – “e se não tivesse Zepelim, não haveria Aerolula” – Jomard tem como característica-chave um bom humor impressionante, sua peça de resistência, que ele diz ter herdado do pai. “Ele dizia que, sem o mínimo consenso de humor, a tragédia brasileira seria muito mais insuportável”, lembra, evocando o ex-caixa do Banco Econômico, na Bahia. Jomard apressa-se e corrige a frase: pede para tirar consenso. “Não gosto, de jeito nenhum. O pensamento homogêneo, único, o politicamente correto, tudo isso vem do nosso capitalismo tardio e onipresente”, fala o homem que acumulou vários rótulos ao longo de sua existência: tropicalista, iconoclasta, agitador, maluco, marginal e até baiano. Tudo por causa de sua conhecida e íntima relação com figuras como Glauber Rocha e Caetano Veloso, entre outros.
Falando em íntimo, “Caê”, como Jomard chama o cantor e vampiro de óculos escuros, manda recado para o amigo recém-septuagenário: “Ele é uma grande cabeça e um grande coração. Esta data é um acontecimento muito importante. Ele foi tropicalista de primeira hora, entendeu de imediato o que a gente estava propondo, mas na verdade só me aproximei de Jomard nos anos 70, quando voltei de Londres. Sempre o vejo quando vou ao Recife. Dialogo, converso com ele”, comenta Caetano sobre o amigo intelectual.
Intelectual? Apesar de declarar-se dono de uma “inteligência mediana”, Jomard é sim um dos melhores exemplos do “nicho” no Estado. Melhor: sem se deitar em berço esplêndido ou cerrar-se em torres de marfim. O poeta, formado em filosofia pela Universidade do Recife (mais tarde, Universidade Federal de Pernambuco) é autor de mais de dez livros, escreveu peças para o deliciosamente indecente Vivencial, foi professor da Universidade Federal da Paraíba e integrou a equipe do programa de educação de Paulo Freire. É um dos poucos pernambucanos citados na coleção História da inteligência brasileira, do crítico e professor Wilson Martins. Generoso, ensinou francês ao colega de cela, Gregório Bezerra, quando foi preso durante o regime militar, nos anos 60.
“Mas eu não fui torturado, não apanhei, como já foi publicado. O mais chato era ficar respondendo às perguntas de um major que enviaram especialmente para nos entrevistar, já que éramos intelectuais”, conta, fazendo graça. No dia em que finalmente saiu da prisão, no Forte das Cinco Pontas, após um mês de confinamento, Jomard correu pra casa, viu os pais e saiu rapidinho pra rua. Era o último dia de Deus e o diabo na terra do sol, e ele jamais perderia aquele filme-acontecimento que mudou a cinematografia nacional.
Além da prisão, outro fato da vida de Jomard tornou-se conhecido além dos limites do Estado: a briga com seu ex-professor de estética, Ariano Suassuna. Uma contenda realizada através de artigos na imprensa, o último deles denominado Resposta a um Professor de Bestética. Foi a gota d’água: Ariano não gostou da história e tascou dois murros em Celso Marconi, que também havia assinado o Manifesto Tropicalista no Recife. Um para Celso, outro para Jomard. Décadas depois do perrengue, os dois seguem em linhas ideológicas bastante díspares. Hoje, no entanto, Ariano adota outra postura em relação ao ex-aluno. Questionado sobre a importância intelectual de Jomard para o Estado, ele simplemesmente declara: “Eu não vou falar sobre isso”.
CELEBRIDADE – Passado é passado. Ariano vai chegando aos seus 80 anos, Jomard comemora os 70. Sete décadas onde, vez ou outra, continua adubando a cabeça em espaços como a sala de aula. Recentemente, voltou a estudar, pagando algumas cadeiras da pós-graduação em comunicação da UFPE. Ex-professora de Jomard, Ângela Prysthon pontua sua inquietude intelectual e disposição em buscar e criar novidades. “Ele encarna de modo muito direto o significado de vanguarda. Literalmente, com tudo o que há de risco, de margem, de radicalidade no termo. O que acaba, decerto, diminuindo a possibilidade de seu reconhecimento pela cultura hegemônica.”
Os riscos assumidos por JMB e sua intensa participação na vida cultural da cidade lhe renderam uma fama que às vezes o incomoda. “Estou lá, fazendo as minhas caminhadas pelo Parque 13 de maio, aí o pessoal me pára, quer conversar, eu fico sem poder andar. Dia desses, disseram na farmácia perto da minha casa que eu era antipático, não falava com ninguém. É difícil”, comenta o poeta pop. Durante esta entrevista, perto da Praça Maciel Pinheiro, um homem o aborda, alegre: “Eu não me lembro do seu nome, mas o senhor é um grande homem da cultura!”, exclamava, apertando a mão de um Jomard que olha para esta repórter com cara de “Eu não te disse?”.
Colaborou José Teles

POLÊMICA
Parque Dona Lindu todos contra projeto de Niemeyer
Publicado em 08.04.2007
Infográfico
Moradores de Boa Viagem criticam excesso de concreto e exigem mais área verde

CLEIDE ALVES
A proposta do Parque Dona Lindu, em Boa Viagem, Zona Sul do Recife, elaborada pelo arquiteto Oscar Niemeyer e apresentada à cidade no último dia 12 de março, continua arrebanhando desafetos. Em tempos de aquecimento global e mudanças climáticas, as pessoas temem a construção de um centro cultural e de lazer que contempla metade do terreno como área construída.
“Boa Viagem não pode abrir mão de um espaço verde. Se a comunidade perder essa oportunidade, é lamentável”, diz a engenheira florestal da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Isabele Meunier. O presidente da Associação dos Amigos do Parque, Petrônio Martins, prepara um abaixo-assinado para validar a rejeição dos moradores ao projeto. “Pretendemos recolher 20 mil assinaturas até o fim deste mês”, informa Martins.
Ao mesmo tempo, o grupo tem feito consultas ao Ministério Público. “Vamos buscar todos os recursos que nos garantam a legitimidade da proposta”, afirma. Em audiência pública, a associação apresentou à prefeitura o parque que os moradores querem. “As pessoas solicitam uma área parecida com o Parque da Jaqueira, na Zona Norte. Pedimos dois terços da área como solo natural, mais arborização, pista de cooper, lanchonete, quadra esportiva. Nunca pedimos teatro, lojas e restaurantes.”
Segundo Petrônio Martins, os moradores sugeriram uma concha acústica para um público estimado em mil pessoas, biblioteca, sala para leitura e vídeo. Com cerca de 33 mil metros quadrados, os terrenos do parque são separados pela Rua Setúbal. Pertenciam à Aeronáutica e foram cedidos ao município pelo governo federal.
Na avaliação do engenheiro aposentado José Carlos Dias de Freitas, vizinho da área do parque, eventos para 20 mil pessoas no terreno, como foi anunciado pelo escritório de Niemeyer, terá impacto negativo no trânsito do bairro. “É preciso que se faça um estudo medindo as conseqüências desses equipamentos na região”, diz.
Ele acrescenta que a luta iniciada há três anos pela comunidade tinha como finalidade resguardar a última área disponível na localidade para implantar um espaço verde. “A proposta apresentada tem muito concreto, é árida. O empenho do prefeito em conseguir os terrenos é inegável e nós reconhecemos isso, mas não queremos concreto.”
Para José Carlos Freitas, a prefeitura deveria ter humildade para reconhecer que o projeto é bonito, mas inadequado ao bairro. “Não questiono o nome Dona Lindu, a homenagem é justa”, reforça. A bancária Astenilsen Paiva, moradora da mesma região, também esperava mais área verde.
“Sem desmerecer o projeto de Niemeyer, a sensação é que tem mais concreto. Porém, concordo com o parque com o teatro e sala para exposições. Desde que não sejam realizados shows de rock, barulhentos. Podia ter apresentações gratuitas da Orquestra Sinfônica. A proposta privilegia toda a cidade, não só Boa Viagem. Isso é bom.”
O professor da Universidade Federal de Pernambuco Clóvis Corrêa, que mora na região, questiona “a insistência da prefeitura em fazer uma obra que não tem o respaldo do povo.” Ele afirma, ainda, que o projeto sugerido pelos moradores poderia ter sido elaborado pelos próprios técnicos do município. “Por que tanta teimosia em gastar dinheiro quando as pessoas se contentam com um parque mais simples? Não é obra arquitetônica o que queremos.”
Na opinião do administrador de empresas Fernando Cunha, morador de Boa Viagem, a questão não é ser contra o projeto. “Trata-se de ser a favor de uma vida real, com espaço para liberdade, para brinquedos comuns, simples, onde possamos valorizar o contato humano.”
Conforme o arquiteto Jair Varela, assistente de Niemeyer, a proposta da concha acústica provocaria mais ruído no bairro. “Optamos pelo teatro, por ser mais confortável. A idéia do palco abrir para a área externa (abrigando um público maior) pode ser usada ou não. Podemos chegar a 60% de área verde, mas discordo que tenha muito concreto. Os prédios do teatro e da sala de exposições estão afastados, dando visibilidade para o mar”, defende.
DEBATES – A vereadora Priscila Krause (PFL) formulou um pedido de informações sobre o Parque Dona Lindu, para ser entregue ao prefeito João Paulo Lima e Silva. No documento, ela elenca oito perguntas. “São informações imprescindíveis para que a Câmara possa cumprir seu dever de atuar em defesa dos interesses da cidade”, justifica.
A vereadora quer cópias do processo de contratação do escritório de Oscar Niemeyer e do anteprojeto. Solicita, ainda, o orçamento básico que demonstre a aplicação dos R$ 18 milhões na execução da obra, cópia do estudo do impacto de vizinhança, parecer do setor de estudos viários da Secretaria de Planejamento sobre os transtornos no trânsito em função da implantação do projeto.
Ela pede documento que mostre se há compatibilidade entre o que a comunidade sugeriu e o projeto apresentado. “A implantação do parque é unanimidade, mas a proposta destoa de tudo o que foi discutido.” Ela está agendando audiência pública no plenarinho da Câmara de Vereadores, no próximo dia 18. O projeto será debatido no próximo dia 16, na sede do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-PE), no Derby, área central do Recife, às 19h30.

PATRIMÔNIO
Abandono de imóveis ofusca Rua da Aurora
Publicado em 08.04.2007
Estado de conservação de prédios é precário

O estado de conservação de três imóveis da Rua da Aurora, no Centro do Recife, destoa do cenário que se imagina para um dos principais cartões-postais da cidade. Os casarões de número 245, 257A e 277 estão fechados, com a fachada pichada, parte do reboco destruído, janelas quebradas e a madeira podre. Todos estão localizados entre a Avenida Conde da Boa Vista e a Rua do Riachuelo. Os três são tombados pelo governo do Estado e pela Prefeitura do Recife.
O imóvel de número 245 é um dos mais precários. As portas estão trancadas com pedaços de madeira, a moldura das janelas está destruída e as paredes, descascadas e com a pintura envelhecida. Fechado há anos, o casarão era ocupado pelo caseiro Aprígio Barbosa de Lima, 73, que tomava conta para não deixar o prédio cair. Em setembro do ano passado, ele faleceu e o imóvel ficou vazio.
“Os donos nunca cuidaram do prédio. Se não fosse meu pai, acho que aquilo já tinha caído. No inverno, ele morria de medo do teto desabar em cima dele. A madeira lá dentro está toda podre”, conta a comerciante Cícera Maria Barbosa, 35 anos. Ela diz que o telhado de um dos quartos chegou a cair, mas, felizmente, o pai não estava na hora do desabamento. “Agora, que não há mais ninguém tomando conta, eu quero ver como vai ficar a situação do prédio”, diz a comerciante.
No casarão de número 277, a fachada está com o reboco caindo. Foi colocada uma tela de proteção que também está em estado precário. Informada pela reportagem sobre a situação dos prédios, a presidente da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), Luciana Azevedo, decidiu enviar ofícios para a Codecipe, Codecir e Diretoria de Preservação da Secretaria de Cultura do Recife, solicitando uma fiscalização conjunta para verificar se os prédios oferecem risco de desabamento e quais as providências que devem ser tomadas para que os imóveis sejam recuperados. Todos pertencem a proprietários particulares.
O documento será enviado amanhã e a vistoria deverá ocorrer na próxima sexta-feira. De acordo com a Fundarpe, a inspeção deverá incluir outros dois prédios – os de número 237 e 265, também localizados na Rua da Aurora. Os cinco fazem parte da Zona de Preservação Rigorosa (ZPR-3). “É preciso verificar imediatamente a situação e traçar um plano de recuperação desse patrimônio”, explicou a presidente da Fundarpe
Paissandu agora é bairro comercial
Publicado em 08.04.2007
Infográfico
Um lugar onde vivem apenas 531 pessoas e que mantém refúgios para passarinhos, apesar da proximidade com um dos mais movimentados corredores viários da cidade, a Avenida Agamenon Magalhães. Assim é Paissandu, tema da 38ª reportagem da série sobre os bairros do Recife, iniciada em julho de 2006. A comunidade, na área central, faz limites com Boa Vista, Derby e com as Ilhas Joana Bezerra, do Leite e do Retiro. Texto é de Cleide Alves.

Paissandu surgiu na segunda metade do século 19 e chegou à década de 90 do século 20 com 744 habitantes (Censo 1991 do IBGE). A população despencou para 531 pessoas no ano 2000, o que significa um crescimento anual negativo, de 3,68%. Casas residenciais cedem espaço para clínicas e consultórios médicos. Basta dar uma circulada pelo bairro e observar a quantidade de imóveis com placas de vende-se ou aluga-se, para medir as transformações na localidade.
Há ruas com praticamente todas as edificações ocupadas por serviços, quase sempre ligados à área médica. Uma das exceções é a Rua Pintor Manuel Bandeira, um cantinho bucólico do bairro, com dez residências, junto da Avenida Agamenon Magalhães, mas resguardado do barulho da via. “A rua é silenciosa, sempre aparecem gavião, jandaia e anum. Estamos próximos do Centro, mas conseguimos manter uma certa distância”, define o diretor de teatro Carlos Bartolomeu.
Ele mora numa das simpáticas casas da Pintor Manuel Bandeira, construída no fim dos anos 30 do século passado. “Era um terreno grande, que foi loteado. Adoro esse lugar, a única coisa que não temos é padaria. Para comprar pão, é preciso atravessar pontes”, comenta Carlos Bartolomeu. A advogada Renata Carvalho vive no único prédio residencial da Rua Pacífico dos Santos e considera Paissandu uma área “tranqüila e com boa segurança”, garantida pelos vigilantes das clínicas e hospitais.
“Realmente, não temos padaria, é uma deficiência do bairro. Mas, em compensação, o funcionário de uma padaria traz o pão fresquinho todos os dias para os moradores do prédio. Como a clientela é antiga, a gente nem precisa pedir”, diz Renata Carvalho. Ela elogia as facilidades de locomoção no bairro. “O acesso é fácil para Boa Viagem, Olinda, Centro e para a região da Avenida Caxangá.”
O taxista Oto Dourado, que trabalha na área há 25 anos, lamenta a falta de conservação do imóvel onde funcionava a Casa da Estudante da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), na Avenida Portugal. O casarão de dois pavimentos, desativado, está sem telhado, portas e janelas. Até mesmo o piso de taco foi roubado. De acordo com a reitoria da UFPE, está em andamento um processo interno, para colocar a casa à venda.
Na outra extremidade do bairro, há a Praça Chora Menino, onde antigamente existia um orfanato. Edifícios empresariais começam a despontar na paisagem. Segundo o arquiteto José Luiz Mota Menezes, a origem do bairro está ligada à construção do Hospital Português, nas terras do Sítio do Cajueiro. “O lugar passou a ser mais percorrido e surge um arruado de casas, na segunda metade do século 19”, afirma.
“O bairro se forma a partir do caminho de passagem para a Madalena. Na época, a Rua do Intendente (atual Avenida Manoel Borba), na direção da praça, não era de todo aberta. Com a estrada ligando essa área até a Ponte Grande da Madalena (caminho do Benfica, que leva para o Sport), a locomoção torna-se mais fácil e ricos proprietários se estabelecem em sobrados no lugar”, explica José Luiz Menezes. O nome veio da Batalha de Paissandu (Uruguai, 1864), disputada entre brasileiros e uruguaios.
O arquiteto Mílton Botler, assessor da Secretaria de Planejamento do Recife, observa que Paissandu é o bairro do Centro com maior renda per capta, R$ 1.881,3 em 2000. “Pelas características, pode ser considerado um nicho na área central. É preciso preservar a qualidade de vida, para se manter um percentual mínimo de habitações”, diz.

09/04/2007 - 16h02
"Beatle esquecido", Pete Best, quer reencontrar Paul McCartney

da Ansa

Depois de 40 anos de silêncio, Pete Best, o "Beatle esquecido" que John Lennon, Paul McCartney e George Harrison substituíram por Ringo Starr em 1962, quer mostrar que não guarda rancores e anunciou que gostaria de reencontrar McCartney.

Em uma longa entrevista ao jornal "Daily Mail", o baterista de 65 anos contou que conheceu os três Beatles no Casbah, um bar para adolescentes fundado por sua mãe. Lennon, McCartney e Harrison precisavam de um baterista que fosse com eles para a Alemanha e chamaram Best para entrar na banda.

Mas, em 16 de agosto de 1962, quando as coisas começavam a ir bem para os Beatles, quando receberam uma proposta de contrato da gravadora EMI e produziam seu primeiro disco, o empresário Brian Epstein chamou Best e avisou que seus companheiros de banda tinham decidido substituí-lo por Ringo Starr.

"Fomos covardes. Passamos o trabalho sujo para Epstein", recordou muitos anos depois Lennon. Desde então, Best nunca mais falou com nenhum dos Beatles.

No entanto, ele afirma que hoje estaria pronto para falar com McCartney. "Não ficamos mais jovens com o passar do tempo. Sabemos aquilo que fizemos e, se conversássemos hoje, não correríamos o risco de ficar pensando mal um do outro. Deus abençoa a todos e já se passaram mais de 40 anos", declarou Best.

Mesmo tendo ficado deprimido depois de ter sido expulso da banda, chegando ao ponto de tentar suicídio, o ex-baterista explica que se sente uma pessoa com sorte e que não guarda rancores.

"As pessoas esperam que eu seja ácido e enraivecido, mas não é assim. Me sinto sortudo. Só Deus sabe quantos problemas os Beatles enfrentaram. Quando me expulsaram, nenhum de nós sabia o que iria acontecer. É verdade que as pessoas diziam que nós seríamos mais famosos que o Elvis, mas eu não acreditava e acho que eles também não", concluiu.
09/04/2007 - 08h31
Pintura chinesa é leiloada por preço recorde de US$ 9,2 milhões
Publicidade
da Efe, em Pequim

Uma pintura a óleo de 1939 que retrata a invasão japonesa à China, obra do considerado pai da arte moderna chinesa, Xu Beihong, foi leiloada pelo preço recorde de US$ 9,2 milhões, informou hoje a imprensa local.


Kin Cheung/AP
Homem olha pintura à óleo chinesa entitulada "Put Down Your Whip"
Homem olha pintura à óleo chinesa entitulada "Put Down Your Whip"
O novo recorde supera o estabelecido por um outro quadro do mesmo artista em novembro do ano passado. Sua pintura intitulada "Escravo e Leão", que data da década de 1920, foi vendida em Hong Kong a um colecionador anônimo por US$ 6,92 milhões.

A obra que bateu o novo recorde é a única que Xu pintou sobre a invasão japonesa, ressaltou Evelyn Lin, responsável pelo Departamento de Arte Contemporânea Chinesa da casa Sotheby's, em Hong Kong, onde aconteceu o leilão.

Vendido a um colecionador anônimo, o quadro mede 144 centímetros de altura por 90 de largura. Xu fez o quadro em apenas dez dias, durante sua estadia em Cingapura.

Segundo especialistas, Xu é reconhecido como um dos principais introdutores das técnicas do óleo ocidental na pintura tradicional chinesa, técnica que aprendeu em 1919, quando foi para a École nationale supérieure des beaux-arts, em Paris.


Discurso da periferia invade Abril pro rock
Publicado em 12.04.2007
Leia Mais
Grupo de rap e hip hop Êxito d’Rua é uma das atrações do palco alternativo 3 no domingo

CONCEIÇÃO GAMA
“Vamos fazer um discurso de paz. Hoje, Recife está muito violenta e todos os moradores, sejam pobres, de classe média ou ricos, querem dar um fim a essa situação”. O discurso do MC Galo di Souza, integrante do coletivo Êxito d’Rua, que se apresenta no último dia do Abril pro rock, certamente é um argumento suficientemente forte para desnudar o público do festival de qualquer preconceito contra o grupo.
Ao contrário da maioria das atrações do evento, o Êxito d’Rua não é uma banda de rock e faz música para uma classe social muito específica. O rap entoado pelos MCs Galo, Alado e Anêmico, com discotecagem dos DJs Charles e Novato, é voltado, sobretudo, para a conscientização dos moradores da periferia, público que não freqüenta o APR. “Mas não estamos preocupados com isso para o show de domingo. Sabemos que o recifense escuta muitas coisas diferentes e esperamos que o público do Abril pro rock aceite bem nosso trabalho, que é um rap com um lado bem forte de hip hop. Mas, acima disso, temos algo a dizer e esperamos que as pessoas entendam”, torce Galo.
O Êxito d’Rua vai aproveitar o show do APR para fazer um pré-lançamento do seu primeiro CD, Manifesto musicado de improviso, que será lançado oficialmente no dia 4 de maio, pelo selo independente In-bolada Records. No repertório, músicas que já fazem parte do setlist do grupo há tempos, algumas canções novas e outras do APS. “O APS é um grupo de rap que faz parte do movimento Êxito d’Rua. Três integrantes da banda Êxito d’Rua também fazem parte da APS”, explica Galo. Inclusive, o MC Carlinhos, que faz parte da APS, fará uma canja com o Êxito d’Rua no show.
Mesmo com a participação de Carlinhos já definida, Galo afirma que o grupo ainda não fechou o repertório e as performances do show: “A gente não tem idéia da dimensão do palco, aí fica difícil decidirmos se vamos fazer roda de break, essas coisas”. Por esse mesmo motivo, o MC afirma que o grupo optou por fazer um show sem as backing vocals. “Mas no show de lançamento oficial do CD, que vai ser no Armazém 14, elas estarão lá”, revela.
O grupo musical nasceu há sete anos, a partir da organização não governamental de mesmo nome, que tem por missão a luta pela cidadania nas periferias do Recife. A ONG acredita na arte como forma de conscientização social, inspirada pela doutrina da pedagogia do oprimido de Paulo Freire. O grupo ficou conhecido na cidade, sobretudo, pelas intervenções e oficinas de grafite que fizeram em diversas partes do Recife.
Esta é a primeira vez que o Êxito d’Rua se apresenta como atração musical no Abril pro rock. Em anos anteriores, integrantes do coletivo (inclusive o próprio Galo di Souza) estiveram presentes nos estandes do festival, realizando trabalhos de street art, como grafitagem e estêncil.
O grupo musical Êxito d’Rua é, atualmente, um dos mais importantes da cena rap e hip hop de Pernambuco. Apesar de nunca ter lançado CD, o grupo já fez turnê em outros Estados do Brasil para participar de festivais de rap e hip hop.
Em 2004, o movimento Êxito d’Rua serviu de inspiração para a cineasta Cecília Araújo, que realizou um documentário sobre o grupo, apresentado em primeira mão no Cine PE Festival do Audiovisual de 2005. Na ocasião, houve apresentação musical do Êxito d’Rua, aclamado calorosamente pelo público presente.
Shows
Confira a programação do Abril Pro Rock 2007
Sexta (13)
Palco 1
Nação Zumbi
Mutantes
Palco 2
Ronei Jorge
O Quarto das Cinzas
Moptop
Palco 3
Canivetes
Os Bonnies
Sábado (14)
Palco 1
Ratos de Porão
Marky Ramone e Tequila Baby
Sepultura
Korsus
Palco 2
Carbona
Dance of Days
Udora
Mechanics
Palco 3
Fiddy
Rabujos
Domingo (15)
Palco 1
Mestres do Forró
Lee Scratch Perry
The Film
Los Alamos
Palco 2
The Playboys
Rebeca Matta
Monomotores
Canto dos Malditos na Terra do Nunca
Orquestra Contemporânea de Olinda
Palco 3
Êxito de Rua
Valentina
SERVIÇO:
ABRIL PRO ROCK – 15 ANOS
Data: dias 13 (sexta), 14 (sábado) e 15 (domingo) de abril de 2007
Sexta-feira - 20h (abertura dos portões); Sábado e Domingo - 17h (abertura dos portões)
Pavilhão do Centro de Convenções – Complexo de Salgadinho, S/N, Olinda/PE
Ingressos: R$ 50 (inteira + CD do APR 2007), R$ 30 (social + 1 kg de alimento não-perecível), R$ 25 (meia) e R$ 70 (passaporte para os 3 dias + CD do APR 2007), à venda nas lojas Seaway. O ingresso social só pode ser adquirido na bilheteria do Centro de Convenções de Pernambuco.

O lado B da Nação Zumbi
Publicado em 11.04.2007
Na noite em que divide o palco com os Mutantes, a Nação Zumbi põe para tocar um repertório voltado para canções pós-Rádio S.Amb.A

MARCOS TOLEDO
Uma das atrações mais presentes nas 14 últimas edições do Abril pro rock, a Nação Zumbi retorna ao palco do festival na próxima sexta-feira com a proposta de fazer um show delimitador na carreira – pelo menos para o público do Recife. A idéia é mostrar um repertório exclusivamente com temas de seus três últimos álbuns: Rádio S.Amb.A (2000), Nação Zumbi (2002) e Futura (2005).
Ao todo, a NZ já se apresentou oito vezes no APR: os quatro primeiros anos do evento, ainda com Chico Science, depois, em 1999, 2001 e 2003, e, em 2005, formando com a Mundo Livre S.A. a Orquestra Manguefônica. Por telefone, de São Paulo, onde mora parte da banda, o guitarrista Lúcio Maia fala do melindre que é tocar na terra natal. “É f... para a gente tocar no Recife, porque tem uma galera muito exigente”, conta.
O músico explica que, dependendo do lugar, o grupo tenta ser ou não um pouco mais experimental, sem ter que reviver os antigos hits o tempo inteiro. Mas, em eventos abertos no Recife, como o Carnaval, por exemplo, é difícil. “A gente já tentou e não deu certo”, lamenta.
Mesmo as canções mais conhecidas, a banda prefere executar com arranjos diferentes. Entretanto, quando fazem, digamos, uma versão reggae de A praieira (sucesso ainda com Chico Science que virou até tema de novela), parte da platéia acha ruim. “A gente tem muito esse caráter de revisitação. (Senão), é você virar as costas para tudo o que rolou de lá (desde o início do movimento mangue) para cá”, acredita o guitarrista. “E é bom como exercício musical nunca repetir a fórmula.”
Em eventos como o APR, porém, no qual no momento do show a atenção vai estar voltada apenas para a banda no palco, a situação fica mais favorável para a NZ mostrar o trabalho conforme idealizado por seus integrantes. Daí, a ocasião ideal para colocar em prática a proposta de fazer uma repertório apenas pós-2000. “Até agora a gente só ficou jogando com o time titular. Está na hora de tirar os reservas do banco”, brinca Lúcio, que, mesmo indagado diversas vezes, não soltou o que iria entrar no repertório. “Vamos fazer um apanhado do Rádio S.Amb.A para cá e também celebrar o (DVD) Propagando.”
ELO PERDIDO – Na primeira noite do Abril pro rock deste ano a Nação Zumbi vai, pela terceira vez, dividir o mesmo palco com outra banda que, a exemplo da pernambucana, foi considerada um marco revolucionário na música pop brasileira: a Mutantes (a primeira vez foi no Barbican, em Londres, em maio de 2006, a segunda, no aniversário de São Paulo, em janeiro último).
“Nós (NZ e Mutantes) fomos a ignição da guinada, não só da música, mas também da cultura. Porém, diferente do tropicalismo, no mangue não havia estética. Era se movimentar para melhorar seu lugar e sem abrir mão de onde nasceu, de onde passou toda sua vida”, lembra Lúcio Maia.
O guitarrista ainda avisa que o show da Nação vai ser “corrido”. “A gente vai mais como abertura para aquecer a galera para os Mutantes chegarem contudo”, diz, numa mistura de humildade e reverência.
Uma orquestra-laboratório no APR
Publicado em 11.04.2007
Vitrine natural para os novos artistas da cena local, o festival Abril pro rock traz este ano um conjunto que promete ser uma das revelações, sobretudo no aspecto de apresentar uma proposta um pouco diferente. A Orquestra Contemporânea de Olinda (OCO), que toca no palco 2, no próximo domingo, conta em sua formação com um time misto de músicos experientes da cena, além de conceituados aspirantes de um dos grupos mais tradicionais da Cidade Patrimônio da Humanidade.
A idéia surgiu quando o percussionista Gilson Filho (Bonsucesso Samba Clube) passou a freqüentar os ensaios da Orquestra Henrique Dias (OHD), grupo representativo do grêmio recreativo de mesmo nome, que funciona como uma escola de música sem fins lucrativos há mais de meio século. “Via talento enorme, mas faltava direcionamento musical”, lembra o instrumentista, que convidou músicos da OHD e colegas da cena local para trocar idéias e experiências em relação ao mercado de música. “Nosso papel está sendo também esse, social, de mostrar o que está rolando no mundo.”
Junto com Hugo Gila (contrabaixo), Juliano Holanda (guitarra), Maciel Salu (rabeca e voz), Rafael Beltrão (bateria) e Tiné (voz e percussão), Gilson, que assumiu a direção musical do projeto, convocou seis dos 20 integrantes da OHD para formar a primeira versão da Orquestra Contemporânea de Olinda: Adriano Babá e Bode (trombones), Alex (tuba), Lúcio (saxofone tenor) e Luiz (trompete), além do maestro Ivan do Espírito Santo, que toca saxofone barítono e assina os arranjos de sopro. “São grandes músicos que precisam de oportunidade”, diz o diretor.
Gilson fala em primeira versão porque, após a gravação do primeiro álbum da OCO – que vai ganhar o título de Volume 1 –, o projeto pode ter continuidade com membros de alguma outra orquestra popular.
Desde seu surgimento, em novembro passado, a Orquestra Contemporânea fez apenas três apresentações: em uma festa no Clube Vassourinhas (Olinda) e nos projetos Abre-alas (Casa Forte) e Arsenal da música (Bairro do Recife). “Queremos nos concentrar mais no disco”, explica o percussionista.
O repertório da orquestra inclui temas de Fábio Trummer (Eddie), Tiné, Maciel Salu e Erasto Vasconcelos, releituras de canções pesquisadas por Gilson em antigos discos de vinil, como Canto da sereia (Oswaldo Nunes) e O samba é bom (João Grilo & Zé Cobrinha), além de composições inéditas.
Apesar de contarem com um tempo limitado de apenas meia hora, os membros da OCO apostam no concerto do Abril pro rock como o principal difusor do projeto. “É um momento especial, uma grande vitrine. Estamos preparados para fazer um grande show”, anuncia Gilson.
A Orquestra Contemporânea de Olinda pretende gravar o álbum Volume 1 em agosto e lançar em setembro. (M.T.)
O Abril pro Rock – festival de música já consagrado no calendário de grandes eventos do estado – está debutando. Em sua 15ª edição, um pouco de tudo: descobertas, atrações de peso nacional que valem a pena conferir a festa e apagar a vela do bolo e ainda o mais do mesmo, que também faz parte. Neste ano, teremos Mutantes, na formação original - os irmãos Serginho e Arnaldo Baptista e o baterista Dinho – sem a musa Rita Lee, mas com Zélia Duncan; Marky Ramone, baterista do Ramones e o jamaicano Lee "Scratch" Perry.

Mas, também Sepultura, que já virou habitué do festival, surpresas internacionais, como sempre reservadas ao domingo da programação - a banda francesa The Film (algo assim, estilo The Strokes) e os argentinos do Los Alamos, referência do novo rock latino – e as descobertas locais do cenário indie, que, neste ano festivo, ganharam o terceiro palco reservado só para elas.


A realização do evento está por conta do Governo do Estado e da Petrobras. E isso pode explicar a falta de atrações já tão sonhadas pelo público como Bad Religion e Motorhead. “É dinheiro demais para aplicar em uma banda só”, justifica Paulo André. Neste ano, a banda mais cara é o Mutantes, viabilizada através da dobradinha com a pernambucana Nação Zumbi, banda que abriu o show dos tropicalistas em Londres, da qual Paulo André também é produtor.

E é através dessa problemática financeira que os produtores do Abril justificam as ausências de bandas locais como Devotos. “Se o público pode assistir a eles de graça, por que vão pagar para ir ao Abril?”, questiona Paulo André. Mesmo assim, o público pode desvendar atrações interessantes ainda não-lançadas no grande circuito de shows. Entre as atrações que abrirão a programação, há Canivetes (PE), Os Bonnies (PE), Fiddy (PE), Rabujos (PE), Valentina (GO) e Êxito de Rua, esta última resultado de um trabalho social nas comunidades carentes do estado, com direito a uma grife criada por jovens em situação de risco.

A Orquestra Contemporânea de Olinda também poderia se encaixar no palco 3, mas devido a um número bem maior de integrantes que a estrutura pode abrigar – 12, ao total – apresenta-se no palco 2. No palco 1, uma outra atração vale ser descoberta: Mestres do Forró. A essa aqui, os produtores reservam um carinho especial. Trata-se do resgate de cantores esquecidos pelo investimento público, como os pernambucanos Azulão, Walmir Silva, o cearense Messias Holanda e ainda Bitu de Campina, com o seu forró de trocadilho na raiz.

Outros bailes - E nessa onda de festividade de debutante, o Abril Pro Rock também terá a sua versão carioca no Circo Voador, e paulista, no Via Funchal, nos dias 14 e 17 de abril, respectivamente. Nos dois estados, haverá shows de Lee Perry e de mais quatro bandas, ainda a serem divulgadas.

Os produtores ainda estão tentando captar verba para dois presentes para o público: a exposição com fotos (imperdível o primeiro figurino do cantor Otto envergado no festival) e todo o acervo do que compõe o APR nesses 15 anos (incluindo aí as ultrapassadas fitas demo) e um livro de depoimentos de anônimos que participaram da história do festival. Não custa nada chorar: somados os dois projetos devem custar: R$ 190 mil. Ainda está nos planos o DVD com imagens de shows antológicos, como o da apresentação em que Gilberto Gil tocou com Nação Zumbi.

Para lamentar: A produção do Abril pro Rock revelou que:

Caetano Veloso foi sondado para tocar com os Mutantes. O cachê chegou a ser acertado, mas o baiano tem uma apresentação no seu estado na mesma data;

Mano Chao mais uma vez disse não ao APR;

Cansei de ser Sexy também não pôde vir: excursiona pela Europa.

Para não perder um segundo de música

O festival deste ano será nos dias 13, 14 e 15 de abril, no Pavilhão do Centro de Convenções, em Olinda. Na sexta-feira, começa às 20h, no sábado e no domingo, às 17h.

Os shows começam meia hora após a abertura dos portões. Os shows do palco 1 duram cerca de 50 minutos, os do palco 2, 25, e os do palco 3, 20. Quem fecha a programação são Mutantes, Lee Perry e Sepultura – esses aí, sorria internauta, têm tempo livre para se apresentar.


No ano em que comemora 15 anos, o Abril Pro Rock - um dos principais festivais do gênero do Brasil - promete fazer uma das maiores edições do evento. Na primeira noite, nesta sexta (13), a atração mais esperada será Mutantes, de São Paulo, estreando a nova fase com Zélia Duncan. A Nação Zumbi também vai levar o ritual de sua performance aos palcos do Pavilhão do Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda. Ronei Jorge (BA), O Quarto das Cinzas (CE) e Moptop (RS) se apresentam na segunda plataforma, enquanto os pernambucanos Canivetes e Os Bonnies sobem ao palco 3, montado para receber bandas novas, a fim de projetá-las nacionalmente, uma novidade em 2007.
Depois de 30 anos de silêncio, a banda Mutantes se reinventa e apresenta o terceiro show no Brasil, depois da reestréia no Barbican Theatre, em Londres, em maio do ano passado. Na versão século 21, os artistas da formação original Arnaldo Baptista (voz, orgão e leslie vox), Sérgio Dias (voz, guitarras, violão, trompa e produtor do projeto) e Dinho Leme (bateria) juntaram-se à cantora Zélia Duncan e mais seis músicos. O grupo se apresenta às 24h, sem hora para terminar o show.
Pela terceira vez, os Mutantes vão dividir o mesmo palco com outra banda também considerada um marco revolucionário na música pop brasileira: Nação Zumbi. O show Futura, do sexto álbum, é uma espécie de síntese dos treze anos de carreira do grupo, e marco de sua consagração como banda internacional. No repertório, A ilha, Voyager, a mística Vai buscar, Na hora de ir, inspirada pelo frevo e por Roberto Carlos, o baião-blues psicodélico Pode acreditar e Memorando, com influência do afrobeat e da ciranda.
MAIS ROCK - No segundo palco, o grupo baiano Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta trazem seu som que mescla influências da canção pop brasileira ao vigor do rock. As canções introspectivas e vibrantes de Ronei (vocal e guitarra) são acompanhadas por Edson Rosa (guitarra), Sergio Kopinski (baixo) e Mauricio Pedrão (bateria). Já o Quarto das Cinzas (CE) une música eletrônica, brasileira, experimental, pop, poesia, artes plásticas e dança. O trio Laya Lopes (voz), Carlos Eduardo Gadelha (guitarra) e Raphael Haluli (baixo) absorve sonoridades contemporâneas e as redesenha com elementos tipicamente brasileiros. Representando a música gaúcha, a Maptop - que disponibiliza todas as músicas para download - tem como grande aliada a internet. As canções O rock acabou, Paris, Sempre igual e Bem melhor aproxima a Maptop das bandas de indie rock.
Os Bonnies (RN) e Canivetes (PE) mostram seu trabalho no terceiro palco. A primeira banda tem uma formação rocker clássica: duas guitarras plugadas diretamente no amplificador (sem pedais), baixo e bateria, comandados por Arthur Rosa (guitarra e voz), Thiago Araújo (guitarra e voz), Olavo Luiz (baixo e voz) e Rafael Barros (bateria). Enquanto a segunda surgiu nas ruas do Recife e vai mostrar ao público do APR o novo disco Ninguém tem nada com isso, que mistura pegadas básicas dos primordiais anos 50, a calmaria melódica sessentista, soul, psicodelia, até as fortes batidas do hard rock dos anos 70.
Publicado em 13.04.2007Lenda do rock brasileiro e agora com Zélia Duncan nos vocais, a banda é a principal atração da primeira noite do Abril pro rock, que tem ainda Nação Zumbi

SCHNEIDER CARPEGGIANI Para uma banda ganhar o status de lenda do rock, sua música não pode ser um fim em si mesma. São necessários boatos, exageros, algum escândalo sexual. Enfim, ingredientes que a faça parecer maior que a vida. Deuses devem ser inacessíveis, num lugar acima das nuvens, ainda que sofram as alfinetadas do destino comum a todos os mortais aqui embaixo. O que seriam dos Rolling Stones sem o amor/ódio de Mick Jagger & Keith Richards, ou dos Beach Boys sem as paranóias e os nervos em frangalhos de Brian Wilson sob o sol da Califórnia? E nem precisamos ir tão longe com os exemplos... O Abril Pro Rock inicia hoje sua temporada 2007 com a lenda maior do rock brasileiro - Os Mutantes, que retomaram a carreira ano passado após infinitos e, até então, improváveis boatos de retorno, com Sérgio Dias, Arnaldo Baptista, Dinho e o sanguinho novo (parafraseando o título de uma música da banda) e a voz rouca de Zélia Duncan, substituindo a galhardia de Rita Lee.
A menção ao nome do grupo por si só é capaz de desenrolar um novelo de imagens do que foi a conturbada virada entre as décadas de 60 e 70 do século passado: Um período marcado por liberação sexual, psicodelia, repressão e cores berrantes brincando com as barreiras entre os sexos (e não apenas em nossa imaginação cheia de clichês do que foi, ou poderia ter sido, o passado). “A força da nossa música transcendeu os boatos e todas as histórias que nos cercam. Deixamos um trabalho bonito o suficiente para colocarmos na parede”, explica o mutante Sérgio Dias, em entrevista por telefone. “Mas sei que essa mitologia de exageros faz parte da história do rock”, completa.
Na década passada, Os Mutantes não ficaram livres de histórias envolvendo seus anos de ouro. A biografia da banda, A divina comédia dos Mutantes, escrita pelo crítico musical Carlos Calado, incitou uma tremenda discussão entre o biógrafo e o guitarrista. No auge da polêmica, o guitarrista esbravejava que Calado teria exagerado o já exagerado passado do grupo. “Aquilo não é biografia. Não faço comentários sobre esse assunto”, encerra a conversa Sérgio Dias.
Procurado pela reportagem do JC, Carlos Calado também preferiu não remexer na sua discussão com o guitarrista: “Esse é um assunto antigo, que eu não quero voltar. O Sérgio Dias dizer que não quer tocar no assunto foi a coisa mais branda que ele disse sobre o meu livro. É frustrante você vê um trabalho feito com tanta seriedade, tratado dessa forma. O Sérgio Dias concorda com você até o ponto que recebe elogios”. “A imprensa inventou muitos boatos sobre nós, sobre as brigas e excessos”, aponta Dias.
Apesar do retorno e da declaração de Dias, nem tudo é paz & amor na legendária trajetória do grupo. Não é fácil enterrar o passado, mesmo que ele esteja protegido pela segurança de anos e anos, décadas e décadas. Num depoimento para a revista Bizz, Rita Lee disparou: “Não sou chegada a nenhum tipo de revival. Corre-se o risco de desencantar uma época. Acontece que a minha máquina do tempo está voltada para o futuro”.
“O caso da Rita Lee é especial, porque ela foi casada com o meu irmão, mas essa é uma história tão velha, é quase uma história da carochinha. Não estou deixando de andar pra trás, porque mesmo antes dos Mutantes retornar eu tinha uma carreira sólida. Não entendo o porquê da Rita ter tanta mágoa, seria melhor você perguntar isso a ela”, destaca Sérgio.
O retorno dos Mutantes não fica desfalcado apenas por Rita Lee. Liminha também não participa da nova fase. Quando o grupo começou a ensaiar (ou “tirar um som”, nas palavras de Sérgio Dias), o produtor participou dos primeiros ensaios, mas saiu fora por problemas de agenda. A inclusão de Zélia Duncan, que dividiu os fãs a princípio. “Eu tinha conhecido a Zélia Duncan uns dois meses antes da gente entrar no grupo, e a sedução foi imediata. O legal da Zélia é que a voz dela não é parecida com a Rita. Não queríamos um clone”.

 

Preparação para Abril Pro Rock começa com Marky Ramone abrindo o verbo:

Começa na noite desta sexta-feira (13.04.07), no Recife, a 15ª edição do Abril Pro Rock, um dos festivais de música mais importantes do país. Marky Ramone, o último integrante vivo do lendário Ramones, é uma das principais atrações do evento este ano, acompanhado da banda gaúcha Tequila Baby. Com apresentação marcada para o sábado, dia dedicado aos headbangers, ele abriu o verbo durante a coletiva de imprensa realizada na manhã desta sexta no Hotel Recife Palace, comentando assuntos da política dos EUA, como a Guerra do Iraque.

- Sempre que tenho uma oportunidade eu toco no assunto da guerra. Tenho um programa de rádio que possui cerca de 200 mil ouvintes por semana. Eu acho que a decisão de invadir o Iraque foi influenciada também pelo nacionalismo americano, mas que não foi acertada, assim como também foi na Guerra do Vietnã. Acho que todos deviam arrumar as malas e ir embora, porque tem muita gente morrendo.

Apesar de ser ícone do punk rock, Marky se pronunciou a favor do Emo, o que pode não agradar muito os fãs do Ramones.

- Eu prefiro escutar esse estilo do que musicas totalmente digitalizadas, produzidas meramente por computador. Acho que o Emo é uma espécie de extensão do punk, transmitindo emoção. Prefiro eles às música totalmente digitalizadas ou àquelas boys e girls bands que são lançadas pela mídia e muitas vezes não tem um bom conteúdo.

Durante a entrevista, ele afirmou ainda não entender muito bem o fascínio que os Ramones ainda exercem na América Latina.

- Não sei explicar o sucesso que bandas como The Ramones atingiu em países como o Brasil e a Argentina. Arrisco dizer que é porque fazemos tudo com honestidade e a nossa letra tem conteúdo, mas, tentar explicar o sucesso que a banda teve por aqui realmente não posso dizer ao certo.


Mas ele não se faz de rogado quando o assunto é manter o legado da banda que o consagrou:

- Eu levo o som dos Ramones por onde eu passo com o objetivo de que a nova geração que conheceu a banda e não teve a oportunidade de ver o som ao vivo tenham a oportunidade de ouvir. No entanto, há também outras maneiras de manter o legado dos Ramones vivo. O meu programa de rádio, por exemplo, é uma alternativa.

Marky falou ainda sobre o show do APR, em que pretende dividir o palco com João Gordo, do Ratos de Porão, em uma participação especial.

- Sempre que tenho a oportunidade chamo o Gordo. E como vamos fazer um show no mesmo dia, é bem provável que isso aconteça. Para mim é sempre uma diversão - concluiu.

MAIS APR

Veteranos no Abril Pro Rock, os pernambucanos da Nação Zumbi também participaram da coletiva, representados por Lúcio Maia e Jorge Du Peixe. Eles disseram que tocar no evento é, mais do que tudo, a chance que grupo tem de tocar em assuntos que nunca foram tocados.

- A nossa produção é muito maior da fase sem Chico do que a fase que estivemos junto com ele. Muita gente ainda não conhece esse trabalho e vamos aproveitar para mostrar - comentou o guitarrista Lúcio Maia, enfatizando que não será por isso que os grandes sucessos ficarão de fora da seleção musical para o show desta sexta à noite.

Jorge Du Peixe contou que o próximo trabalho da banda já está preparado e sendo finalizado, com previsão de lançamento para maio. Eles afirmam que a Nação está preparando algumas surpresas para 2007, focando principalmente na profissionalização dos projetos paralelos do grupo.

MONUMENTO
A cruz das promessas
Publicado em 15.04.2007
Nova proposta de reordenamento será apresentada no dia 8 de maio

A proposta de revitalização da Cruz do Patrão, monumento federal no Bairro do Recife, anunciada pela prefeitura há três anos, continua em projeto. Com exceção da pesquisa arqueológica realizada no local, em 2005, nenhuma intervenção prevista foi executada. “Tivemos de alterar o projeto em função do resultado do trabalho dos arqueólogos”, justifica o arquiteto César de Barros, coordenador do Projeto Turístico-Cultural Recife-Olinda.
Segundo ele, a nova proposta de reordenamento da Cruz do Patrão será apresentada no próximo dia 8 de maio. A idéia inicial era instalar no terreno lojas para venda de artigos turísticos. “Agora, vamos fazer algo mais ligado ao movimento negro, um centro de referência da cultura afro-brasileira”, diz César de Barros. Haverá auditório e sala para exposições temporárias e permanentes.
O projeto do centro está sendo desenvolvido pela Empresa de Urbanização do Recife (URB), em conjunto com a Secretaria de Turismo da cidade e o valor é R$ 4 milhões. O município está em busca de linhas de financiamento com o Ministério da Cultura, para execução da obra. Paralelamente, está sendo detalhado o projeto de infra-estrutura, que prevê a construção de um calçadão margeando o Rio Beberibe, da Ponte do Limoeiro até o monumento, e uma esplanada no entorno da cruz.
Essa outra parte está estimada em US$ 1 milhão, com recursos do Programa de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur). O calçadão funcionará como novo acesso público ao monumento. O único caminho, hoje, é a Rua Ascânio Peixoto, que passa pela área portuária, onde encontra-se a cruz. A prefeitura pretende iniciar as obras até novembro deste ano.
Na opinião do babalorixá Manoel Papai, presidente da Associação de Babalorixás e Ialorixás dos Cultos Afro-Brasileiros do Estado de Pernambuco, a demora na execução da obra reflete a forma como os negros são tratados no Brasil. “Sempre com um pé atrás, é tudo difícil, demorado”, comenta. Segundo ele, fragmentos de louça e pedra encontradas por arqueólogos da Universidade Federal de Pernambuco podem ser associados à presença negra no lugar.
Provavelmente, diz ele, são vestígios do axexê, ritual fúnebre nagô para colocação do espírito do pai-de-santo em lugar sagrado (sete dias após o enterro), realizados ali a partir do fim do século 19. “Os pertences do morto eram deixados no local”, informa.
Manoel Papai acrescenta que não há, no Recife, terreno mais apropriado para construção do centro. A Cruz do Patrão era um balizador de navegações, erguida no século 19.
TRANSPORTE
Desconforto e precariedade
Publicado em 15.04.2007
Usuários que dependem da Linha Centro sofrem com lotação, defeitos no sistema e calor nos trens. Para a maioria deles, os problemas fazem parte de uma difícil rotina

ROBERTA SOARES
Metrô do Recife, 6h da terça-feira passada. Plataforma lotada. Estação Jaboatão dos Guararapes, uma das extremidades da Linha Centro, no Grande Recife. Parte dos 195 mil passageiros que diariamente andam no sistema aguarda o próximo trem. A composição chega e os usuários ocupam os lugares nos vagões. O calor já é grande. Por mais de cinco minutos, o sistema permanece parado. “Estamos aguardando liberação”, explica o maquinista. O trem parte e a sensação é que ele trafega a menos de 20 quilômetros por hora. Na estação seguinte, Cavaleiro, o metrô pára. E de vez. Alguns minutos depois, o maquinista orienta para todos desembarcarem, porque o equipamento será recolhido. Indignação entre os usuários. Suados, irritados e, principalmente, atrasados, muitos esmurram os vagões, outros gritam palavrões. Crianças choram com medo da confusão. Mais empurra-empurra para sair. O calor é sufocante.
Para a reportagem do JC, momentos de sufoco no metrô do Recife. Para os passageiros, rotina. “Isso acontece sempre. O metrô não tem mais nenhuma qualidade. Quebra quase todo dia, anda devagar e é muito quente. Só a limpeza permaneceu. Ando nele, porque não tenho outra opção. De ônibus sairia muito caro e levaria o dobro do tempo”, critica a empregada doméstica Jane Pereira da Silva, 39 anos.
Os problemas atestam que a Linha Centro está perdendo o padrão de qualidade típico do sistema metroviário. Dispõe de estações limpas, sistema de iluminação e comunicação razoáveis, oferta de bilheterias e segurança. Também conseguiu livrar-se de problemas como a presença de ambulantes nas plataformas. Mas, atualmente, o metrô paga um preço alto por anos de descaso na manutenção do sistema e inversão de prioridade, quando a administração decidiu priorizar as obras da Linha Sul, que tenta entrar em operação desde 1998. Devido à omissão de várias gestões, não consegue ofertar o principal: trens e conforto nas viagens. Das 15 composições em operação, apenas quatro têm ar-condicionado.
Na terça-feira passada, os passageiros acompanhados pela reportagem levaram 1h25 entre as Estações Jaboatão e Recife, percurso que deveria ser feito em menos de 30 minutos. Ainda em Cavaleiro, depois que o trem quebrou, foi necessário esperar a segunda composição passar para chegar ao destino final. Na primeira, era impraticável alguém entrar devido à lotação. Poucos ousaram a encontrar um lugar nos trens superlotados. A viagem no segundo trem foi insuportável. Espremidos e molhados de suor, os passageiros repetiam, aborrecidos, que enfrentavam aquilo quase todos os dias. Algo impensável para um sistema que está em funcionamento há 22 anos. Grávida de sete meses, Manoela Guerra, 20 anos, não suportou a via-crúcis. Foi parar no hospital e o médico, prudentemente, recomendou que ela ficasse durante dois dias de repouso por causa do esforço físico.
“Os grandes problemas da Linha Centro são a ausência de frota e a sinalização antiga, que não permite a leitura em alguns trechos. Falta respeito com o passageiro. A manutenção é precária e a reforma dos trens está atrasada. Usamos os mesmos de 22 anos atrás”, enumera o novo presidente do Sindicato dos Metroviários (Sindmetro), José Inocêncio de Andrade. Cirano Lopes, ex-presidente da entidade, é mais duro nas críticas. “Falta gestão, sempre faltou. A direção do metrô deveria pedir desculpas aos usuários pelo péssimo serviço que vem oferecendo. A demanda aumenta a cada dia e não há estrutura para recebê-la. Os gestores estão brincando de ferrorama e ainda querem operar outra linha (numa referência à Linha Sul)”.
Técnico em transporte, Oswaldo Lima Neto lembra que o sistema do Recife atende a algumas exigências do padrão metroviário, mas a falta de investimento comprometeu a confiabilidade e o conforto do serviço. “O nosso sistema não passa de um trem de subúrbio adaptado para operar como metrô.” Números do Metrorec comprovam essa realidade. Há quatro meses, os casos de quebra dos trens chegavam a 28 por mês. Hoje, são 16. Índice ruim para quem tem no metrô a melhor ou a única opção de transporte.
SAÚDE
A sabedoria que vem do índio
Publicado em 15.04.2007
Índios xucurus resgatam conhecimento sobre remédios naturais para repassá-los aos mais jovens

Banho de rosa branca, lambedor de casca de jatobá, banha de gia, chá de louro do reino... A receita indígena para males do corpo e da alma, incorporada à rotina dos miscigenados pernambucanos ao longo dos últimos 507 anos, não se perderá na era do consumo exagerado de medicamentos industrializados. Iniciativas para preservar a cultura das ervas e as práticas de cura dos pajés estão brotando em diferentes etnias que se perpetuam no Estado, com apoio da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Na terra do ororubá, nas montanhas do Agreste, grupos de 24 aldeias xucurus se dedicam desde o ano passado a uma pesquisa para catalogar os remédios naturais.
O saber dos pajés, parteiras e curandeiros mais antigos está sendo registrado pelos jovens índios. Em breve, deve ser conteúdo de uma publicação que apoiará a troca de experiência com outras etnias e servirá de fonte na educação dos curumins, as crianças indígenas. “Queremos preservar a cultura e a identidade, que foram se perdendo ao longo dos séculos com a colonização e a introdução dos hábitos de outros povos”, explica Ednaldo dos Santos Rodrigues, 28 anos, jovem envolvido no projeto.
Um dos líderes xucurus, Naldinho (como é chamado na região) estuda serviço social, atua na equipe de saúde da Funasa e é membro do Conselho Indígena de Saúde. Foi exatamente no colegiado que surgiu, em 2004, a discussão sobre a necessidade de resgatar as tradicionais práticas de cura da etnia.
Atuando com as equipes médicas da Funasa, os profissionais de saúde xucurus estavam impressionados com os irmãos da aldeia, que chegavam aos postos de saúde pedindo comprimidos para qualquer mal-estar passageiro. “Me dê um ASS (analgésico)!”, “Quero um ultra-som!”, eram as frases que a parteira xucuru Maria José Martins (Lica), 52, estava acostumada a ouvir num dos pólos-base da fundação de saúde, onde trabalha como auxiliar de enfermagem. Ela aprendeu desde criança a forma correta de colher e usar folhas, raízes e frutos para remédio. Irmã de pajé, não despreza os rituais e as práticas de cura do seu povo. Mas isso não é regra geral na reserva.
SAGRADO – Lica e o irmão estão entre os experientes índios ouvidos durante o trabalho de pesquisa. O primeiro encontro ocorreu em fevereiro do ano passado, com 60 líderes, curandeiros e agentes de saúde. Para a troca de experiências, eles escolheram um lugar sagrado, onde se dança o toré. É que a sabedoria indígena não se restringe à ação da substância presente na planta ou no tecido animal, mas abrange a fé na cura e o respeito aos antepassados e à natureza. O produto usado como remédio tem que ser coletado com pedido de licença e segredos que os mais experientes preferem não revelar. “É preciso ter fé para acontecer”, ensina Francisco de Assis Jorge de Melo, um dos líderes xucurus.
O trabalho de resgate se desdobrou em outros encontros e pesquisa de campo, na mata, com auxílio dos mais experientes. Além das pajelanças, estão sendo listadas plantas selvagens (as da mata) e as domésticas, já popularizadas, que os índios classificam de mansas. Entre essas últimas, estão as conhecidas hortelã (graúda e miúda) e a erva cidreira, que florescem nos quintais nordestinos.
“A idéia é agrupar as plantas por tipo de doença”, conta Ednaldo Rodrigues. A publicação também vai contar um pouco da história dos xucurus e dos pajés da etnia. A pedido dos líderes religiosos, o título inicial (medicina indígena) será substituído. Aliás, todas as informações, antes de publicadas, serão submetidas ao crivo dos mais experientes. “Não é só o homem branco que tem inteligência. Temos a nossa sabedoria, aprendida com a natureza e com nossos antepassados”, diz o xucuru José Correia da Silva, 54, fonte de informação do grupo.
SAÚDE III
Hábitos urbanos deixam os xucurus hipertensos
Publicado em 15.04.2007
Mata, canto de pássaros, estradas para andar a pé e a cavalo e uma tranqüilidade de matar de inveja qualquer cidadão urbano. A reserva xucuru, em Pesqueira, a 202 quilômetros do Recife, é um convite à boa saúde. Mas nem por isso os índios estão livres de doenças.
Como outros povos que tiveram suas terras tomadas pelo branco invasor e desde a colonização foram obrigados a assumir outros hábitos, os xucurus também herdaram problemas de saúde típicos dos pernambucanos que vivem no centro das cidades.
Segundo profissionais do pólo-base da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), na aldeia São José, hipertensão, diabete e infecções respiratórias são freqüentes. Os índios também não estão livres das verminoses, infecção associada aos problemas de saneamento.
“As condições sanitárias são precárias. Não há rede de esgoto nem água encanada na maioria das casas”, conta Ednaldo Rodrigues dos Santos, líder xucuru e integrante do Conselho Indígena de Saúde. Segundo ele, obras realizadas pela Funasa diminuíram os problemas de abastecimento, com a perfuração de poços próximos das residências. Antes os índios dividiam poços com animais. O projeto, no entanto, ainda não alcançou todas as 24 aldeias distribuídas nos 27.555 hectares, num raio de 90 quilômetros. O banheiro também não é um cômodo presente em todas as residências.
Os xucurus somam mais de dez mil e têm uma trajetória de luta, que ficou conhecida no País com a atuação do cacique Francisco de Assis Arapujo, Chicão, assassinado no dia 20 de maio 1998, aos 48 anos de idade. Chicão integrava a comissão coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo e liderava a luta pela demarcação das terras indígenas em Pernambuco.
HABITAÇÃO
Casa em ruínas abriga 70 pessoas nos Aflitos
Publicado em 15.04.2007
O imóvel, localizado na Rua Neto de Mendonça, apresenta infiltrações e rachaduras nas paredes e corre risco de desabar. Famílias vivem em condições subumanas e cobram providências

Localizado na Rua Neto de Mendonça, nos Aflitos, um dos bairros nobres da Zona Norte da capital pernambucana, o casarão nº 88 esconde uma realidade bem diferente da vivida pelos abastados moradores do lugar. O imóvel, que se encontra em ruínas, dá abrigo a 23 famílias, que vivem em condições subumanas, sem água encanada e saneamento básico. Moradores da área denunciam que a construção, abandonada há 25 anos, não oferece a mínima segurança e temem que o cortiço venha a desabar, provocando uma tragédia, a exemplo do que já ocorreu em outras partes da cidade. Infiltrações, paredes sem reboco, telhado descoberto e rachaduras evidenciam o péssimo estado de conservação da edificação, que hoje se resume a um esqueleto de concreto de três pavimentos, cujo proprietário ninguém sabe quem é.
Os 70 moradores não sabem o porquê do abandono do imóvel. “O dono saiu e deixou a casa intacta. Primeiro, as pessoas vieram e tiraram portas, piso, tudo que pudessem levar. Depois, começaram a ocupá-la”, conta o desempregado Márcio da Silva, 20 anos. “Minha mãe foi a primeira. Ela vivia em um quartinho perto de um supermercado e veio morar aqui, que foi onde nasci. Depois apareceram outras famílias.”
Valéria Maria de Almeida, 35 anos, vive no casarão há 15 anos, na companhia da mãe e da filha. “Faz tempo que eu não sei nem o que é um banho de chuveiro ou água quente”, revela. Para conseguir dormir, ela cobriu com plástico o cômodo que ocupa no imóvel, onde dispõe de geladeira, fogão e um banheiro improvisado. “Tem muita goteira e sem as lonas a chuva inunda tudo”, justifica.
Há quatro anos no imóvel, a faxineira Marilúcia Souza, 21, comprou o quarto onde vive por R$ 300. “Não agüento o mau cheiro daqui, o esgoto passa logo ao lado. Queria mesmo era uma casinha, onde teria mais dignidade”, diz. Ela está levantando um banheiro ao lado da cama. “Hoje, a gente tem que improvisar, fazer no balde e jogar direto na canaleta”, conta.
O empresário José Artur Paes Vieira de Melo, morador de um prédio vizinho ao casarão, lamenta a condição das famílias. “Há várias crianças brincando ao lado do esgoto, podendo pegar alguma doença grave. É necessário que alguma providência seja tomada, porque a situação é muito triste e o imóvel está em situação de risco. Queremos que esta questão seja sensibilizada.”
Vivendo no mesmo prédio, que se isola do nº 88 por cercas elétricas, a diretora da organização não-governamental Arraial Intercultural de Circo do Recife (Arricirco), Armia Escobar Duarte, 87, reclama do barulho. “Às vezes, os ruídos ficam bastante altos, mas mesmo assim, as famílias que moram ali são tranqüilas, não temos problemas”, diz.
A Prefeitura do Recife, por meio de sua assessoria de comunicação, informou que enviará, na próxima semana, técnicos da Coordenadoria de Defesa Civil (Codecir) para realizar uma vistoria e verificar as condições estruturais do casarão. A partir do laudo técnico, uma intervenção e possível relocação das famílias poderá ocorrer.
Scliar abre o livro para falar da vida
Publicado em 15.04.2007
Autor gaúcho Moacyr Scliar aproveita sua chegada aos 70 anos para lançar livro em que conta detalhes da sua biografia e homenageia o ato de escrever

SCHNEIDER CARPEGGIANI
O escritor gaúcho Moacyr Scliar detesta que o adjetivo prolífico venha junto ao seu nome. Mesmo negando, não há como deixar de associá-lo ao autor. O dono da cadeira de número 31 da Academia Brasileira de Letras conta em seu currículo com 75 títulos, abarcando as mais diversas áreas. São romances, contos, crônicas, ensaios e até títulos sobre medicina. Com exceção da poesia, Scliar escreveu de tudo um muito.
Para marcar seu aniversário de 70 anos, o autor resolveu trafegar por um território inédito: a autobiografia O texto, ou: a vida – uma trajetória literária. Antes de detalhar pormenores da sua vida, o livro presta homenagem à sua grande obsessão, que é contar histórias.
“Palavras, palavras. São tudo – para os escritores, não para as pessoas em geral. Isso explica a amarga ponderação de Franz Kafka: ‘É um absurdo trocar a vida por palavras’. Ou o dilema proposto por Pirandello: ‘Ou se vive, ou se escreve’. Ou a poética afirmação de Pablo Neruda: ‘Livro, quando te fecho, abro a vida’. Apesar da suposta oposição entre texto e vida, todos os escritores sabem que não há outra forma de produzir literatura. É preciso, por assim dizer, suspender a existência, ainda que momentaneamente, para criar outras existências, virtuais, ficcionais”, pondera Scliar logo nas primeiras páginas.
Um dos principais trabalhos do autor, nos últimos anos, foi o longo ensaio Saturno nos trópicos, que numa linguagem clara, próxima ao leitor (uma de suas características), ele traça a chegada da melancolia ao Brasil, o grande produto de exportação de uma Europa recém-saída da Idade Média. Ao contar sua trajetória literária, Scliar retorna ao formato ensaístico, transformando sua autobiografia num longo tratado sobre o texto como sedução.
“Todos queremos ser imortais. A literatura é uma promessa neste sentido, uma dupla promessa, aliás. De um lado, o autor tem a esperança da permanência: ‘Fulano não morreu, permanece vivo em suas obras’. De outro lado, a história sempre pode continuar. ‘Casaram e foram felizes para sempre’. Este ‘sempre’ é uma gama infinita de possibilidades: os filhos, alegres e rechonchudos, os netinhos... De divórcio ninguém fala ao final de um conto de fadas. Não faz parte do final feliz”, escreve o autor, fazendo clara referência à sua ruidosa entrada na Academia Brasileira de Letras, que ajudou a estancar a mágoa gaúcha pela derrota do poeta Mário Quintana na disputa pela imortalidade.
Ao longo das quase 300 páginas de O texto, ou: a vida – uma trajetória literária, Scliar explica como os livros técnicos de medicina influenciaram sua escrita, detalha a polêmica envolvendo o romance Max e os felinos, que ficou famoso por ter seu enredo plagiado por um vencedor do Booker Prize, e reedita textos antigos, todos com forte apelo emocional. É o caso da crônica Voltando à vida, publicada na Folha de São Paulo, em que relata o grave acidente de carro do qual foi vítima em 1993, que o fez trocar de lugar: de médico para paciente, numa questão de instantes. É a vida como roleta-russa, imprevisível, que o autor tenta descrever aqui.
“Vida é assim. Um dia de manhã você pega seu carro, na praia, para ir a Porto Alegre, onde tem assuntos a resolver. À tarde, você estará de volta, como muitos, como todos, você acredita que a vida pode ser planejada e que as coisas acontecerão conforme o previsto. Você então vai dirigindo seu carro, nesta manhã agradável, conversando com a amiga, a quem você está dando carona. E, então, um estrondo, e um segundo depois você está jogado no asfalto, o sangue correndo de vários ferimentos, dores lancinantes pelo corpo”.
No finalzinho do seu ensaio, Scliar traça um longo percurso sobre o perigo de se guardar textos, sentimentos. “Melhor mostrar”, receita. Textos guardados são perigosos: fermentam, produzem emanações emocionalmente tóxicas que adoecem ou fazem sofrer seu autor, e os possíveis destinatários. Nesse capítulo, ele, como um antiKafka, reedita uma carta escrita para o seu pai, publicada num jornal gaúcho quando seu autor tinha apenas 18 anos, o que rendeu um prêmio literário (o primeiro da sua carreira). Kafka não viveu para ver seu acerto de contas com a figura paterna publicado. Scliar fez questão que todos o vissem. Ao encerrar sua autobiografia resolvendo pendências dos seus anos de formação, o gaúcho diz adeus ao leitor, voltando ao princípio de tudo. Mais uma vez.
Lendário Lee “Scratch” Perry fecha 16ª edição do festival, que tem ainda Os Mestre do Forró

CONCEIÇÃO GAMA
O último dia do Abril pro rock, como já é de praxe, será marcado pelo ecletismo musical. Hoje, no pavilhão do Centro de Convenções, será possível ouvir ritmos completamente distintos, como reggae, hard rock e eletrônica.
A maior atração da noite, o jamaicano Lee “Scratch” Perry, é um dos pais do reggae e do dub. Para se ter uma idéia, Lee, de 71 anos, é tão importante musicalmente quanto Bob Marley. Ainda no palco 1, se apresentam os também gringos Los Alamos e The Film.
Os primeiro, argentinos, fazem uma excelente mistura de rock, country e surf music. Já os últimos se enquadram na categoria pop francês e prometem fazer um show para agradar aos fãs dos indie rock.
Em contraposição às atrações principais, todas estrangeiras, o domingo é o dia mais pernambucano do APR. No palco 2, os divertidíssimos The Playboys, o hard rock da Monomotores (banda vencedora da última edição do festival Microfonia) e a Orquestra Contemporânea de Olinda. O público ainda pode conferir o rap da Êxito d’Rua, no palco 3 e, no palco principal, os Mestres do Forró.
Entre as atrações brasileiras vindas de outros estados está a banda goiana Valentina, que faz um som com fortes influências de bandas de pop britânico dos anos 80, como The Smiths e The Cure. Mas, como os próprios se definem na página do grupo no site MySpace, são mesmo “filhos bastardos do Placebo”.
Outra atração interestadual da noite é a baiana Rebeca Matta, que leva para o público sua música eletrônica com pitadas de new age.
Também da Bahia, o grupo Canto dos Malditos da Terra do Nunca, que apresenta seu rock com letras melosas pela primeira vez no Recife. A banda é mais uma da vertente de rock-adolescente-baiano-feito-por-mulheres-bonitas encabeçada pela cantora Pitty. A marca registrada do grupo é a voz grave e um tanto descompassada de Andréia Martins, que absolutamente não agrada aos ouvidos de gregos e troianos. Os fãs da banda idolatram os dotes vocais da moça mas, nas páginas de armazenamento de clipes da banda no Youtube, é possível ler alguns (muitos) comentários como “Que voz horrível!” ou “A loira é gostosa, mas deveria ficar calada”.
Mas é fato que, polêmicas à parte, o CMTN conquistou muitos fãs em Pernambuco. “Recife é uma cidade que tínhamos muita vontade de conhecer porque a consideramos a capital do rock no Nordeste. A gente sempre recebe mensagens pelo (site de relacionamentos) Orkut e pelo (site de armazenamento de fotos) Fotolog de fãs pernambucanos, pedindo shows da gente. Estamos felizes e, ao mesmo tempo, ansiosos”, revela o guitarrista Danilo Castor.
No show que apresenta na noite de hoje, a CMTN mostra canções do seu primeiro álbum, incluindo o sucesso das paradas da MTV Olha minha cara. “Rebeca Matta dará uma palhinha no nosso show. A gente já fez isso em Salvador e foi muito legal”, revela.

Cultura americana perderá hegemonia
Publicado em 15.04.2007
O historiador de Cambridge Peter Burke acredita que a cultura americana pode perder espaço no mundo globalizado

Agência Estado
O historiador inglês Peter Burke acredita que a cultura americana pode perder espaço no mundo globalizado das próximas décadas. “É simples demais traduzir globalização por americanização do mundo”, afirmou em breve passagem por Porto Alegre, onde concedeu entrevista coletiva e falou sobre globalização da cultura para os 500 participantes do curso Fronteiras do pensamento, na terça-feira, e autografou seus livros na quarta.
Aos 69 anos, Burke é professor titular de História da Cultura na Universidade de Cambridge e autor de diversos livros conhecidos internacionalmente, entre os quais O que é história cultural? e Hibridismo cultural.
Como evidência de sua percepção, Burke considerou interessante analisar as exportações culturais de diversos países, inclusive o Brasil, e previu que a China incluirá valores, hábitos e crenças no imaginário internacional em 20 anos. “Os filmes de Taiwan e Hong Kong já exportam a cultura local com êxito senão global, mas pelo menos internacional”, destacou.
Segundo o historiador, o Brasil coloca no mercado mundial novelas e música, mas não é conhecido em outras áreas culturais. “O impacto da MPB é grande, mas o impacto das ciências sociais (do País) é quase nada que eu possa ver, ao menos na Inglaterra, onde quase ninguém conhece o nome de um intelectual brasileiro que não seja um político, como Fernando Henrique Cardoso”, comentou.
Ligado ao Brasil pelo casamento com a historiadora Maria Lúcia Garcia Palhares, pelo ano que passou como professor visitante da Universidade de São Paulo, entre 1994 e 1995, e pela observação atenta da tolerância nacional à diversidade cultural, Burke está disposto a colaborar com a difusão do que os cientistas sociais já produziram no País. Para isso, vai escrever um livro, em conjunto com a mulher, analisando a obra de Gilberto Freyre.
Burke vê no Brasil um espaço incomum para a hibridização. Lembra que na Europa há tolerância no convívio pacífico de diversas crenças, mas não imagina um católico freqüentando um templo de outra religião, enquanto, por aqui, “um fiel vai à missa, ao centro espírita e ao terreiro”.

Cartas revelam amor platônico entre Hemingway e Marlene Dietrich
Publicidade
da Folha Online

Cerca de 30 cartas, um telegrama e cartões agora expostos na Biblioteca Presidencial John F. Kennedy, em Boston, revelam um intenso romance por correspondência entre o escritor Ernest Hemingway (1899-1961) e a atriz alemã Marlene Dietrich (1901-1992).

Após se conhecerem em um transatlântico rumo aos Estados Unidos, em 1934, Hemingway e Dietrich se viram envolvidos em uma história de amor platônica.

Segundo o conteúdo da correspondência, os dois nunca mantiveram relações sexuais.

As correspondências, que incluem sete cartas escritas à mão, 18 datilografadas, quatro telegramas e um cartão de Natal, foram trocadas entre 1949 e 1959, quando o escritor tinha 50 anos e a atriz, 47.

"Nunca fomos para a cama (...). Fomos vítimas de uma paixão dessincronizada", escreveu Hemingway para o escritor A.E. Hotchner.

Entre eles, Hemingway e Dietrich usavam palavras como "papai", "filha" ou "minha pequena alemã".

Dietrich dizia ao escritor: "Penso em você com freqüência e releio suas cartas às vezes".

Ele escreveu: "Você quer destruir o coração de todos por dez centavos? Sempre pode destruir o meu por um, e esse centavo, eu o darei".

Hemingway escreveu para Dietrich de lugares como Veneza, Paris, Málaga e Nairóbi (Quênia).

As cartas foram doadas em 2003 à biblioteca pela filha da atriz, Maria Riva, sob a condição de que elas fossem mostradas ao público somente em 2007.
Papeiro da Cinderela aporta na Paraíba
Publicado em 15.04.2007
Atração humorística da TV Jornal será exibida pela TV Tambaú, diariamente, às 11h30. A personagem já é querida pelos paraibanos

A partir de amanhã o Estado da Paraíba vai contar com o humor escrachado do Papeiro da Cinderela. A TV Tambaú, afiliada do SBT, exibirá diariamente a atração para todo o Estado, que já é fã da personagem. O programa será exibido às 11h30, mesmo horário que é transmitido ao vivo pela TV Jornal para Pernambuco. A primeira edição, que vai ao ar amanhã, foi totalmente gravada em João Pessoa.
“Cinderela visitou vários pontos turísticos da cidade e gravou chamadas dos quadros do programa. Os paraibanos assistirão ao mesmo programa que é exibido no Recife, com a inclusão da Paraíba nos quadros. Não pretendemos fazer dois programas diferentes”, explica o diretor do Papeiro da Cinderela, Rodrigo César.
Para Rodrigo, o programa será enriquecido com a participação dos telespectadores e humoristas paraibanos. “Os moradores da Paraíba farão parte da nossa lista de vítimas das pegadinhas, além de procurarmos personagens em João Pessoa para participar da Escolinha da Cinderela. Os quadros Tá valendo e Cantando no chuveiro terão duas versões: uma pernambucana e outra paraibana. O nosso objetivo é promover o intercâmbio humorístico”, completa o diretor da atração.
O público paraibano já conhece a personagem Cinderela há mais de 10 anos, pelas temporadas das peças de teatro. “Desta vez, todos vão poder conferir diariamente o humor da Cinderela. A união da personagem com a Paraíba já tinha acontecido quando ela casou com Zé Lezin na peça de teatro e agora é a consolidação desse casamento. Esse é o primeiro passo para a expansão do programa para os outros estados do Nordeste”, pontua Rodrigo.
Para o diretor executivo da TV Jornal, Luiz Carlos Gurgel, a exibição do Papeiro da Cinderela pela TV Tambaú é importante para firmar a parceria entre as afiliadas. “Essa é uma experiência inédita no Nordeste. Um programa produzido fora do eixo Rio-São Paulo ser exibido em mais de um estado. Já tivemos oportunidades anteriores com a transmissão de eventos, como a Missa do Vaqueiro, que foi uma experiência piloto. O evento foi transmitido, ao vivo, por todas as afiliadas do SBT do Nordeste. Desta vez, temos uma parceria regular, com um programa diário. Essa parceria foi facilitada por ambas emissoras serem afiliadas ao SBT”, diz.
A gerente comercial da TV Tambáu, Aline Felipe, explica, que a exibição do Papeiro da Cinderela na Paraíba é uma oportunidade que a emissora viu para fortalecer e agregar valor à programação local. “A partir do sucesso do programa no Recife, vimos que havia espaço para um programa humorístico na grade da TV Tambaú. Estamos com as melhores expectativas de audiência e comerciais também. Cinderela tem muito carisma e uma grande identificação com o público paraibano, desde os espetáculos de teatro. A nossa expectativa é que a população receba o programa da mesma forma que recebe a peça”, conclui.
O Papeiro da Cinderela é a única atração humorística da programação local e já conquistou o público pernambucano. “O programa é vice-líder de audiência no horário e conta com uma média de 107 mil telespectadores por dia, atingindo todas as faixas etárias e classes sociais”, explica o supervisor de marketing da TV Jornal, Antonio Faria.
QUADROS – As novidades do Papeiro não acabam por aí. O programa passou por uma reformulação e já está com novos quadros, como o Quartel da Cinderela, a volta da Engraçadinha Araújo, com o telejornal TV Jornal meia-noite, o Tá Valendo e o Cantando no chuveiro. “No Quartel, a Cinderela é um soldado que, junto com outros personagens, bagunçam o quartel do Sargento Belfort. No Tá Valendo, o público ‘paga micos’ nas ruas e recebe R$ 5 de prêmio. Já no Cantando no chuveiro, levamos um banheiro para as vias públicas e quem passa solta a voz para ganhar prêmios”, explica o diretor, Rodrigo César.
O Abril pro rock foi dos velhinhos, mas furiosos
Publicado em 16.04.2007
A noite dos camisas pretas, no sábado, mostrou que bandas experientes continuam acendendo o público com rock competente: Marky Ramone fez apresentação inesquecível, assim como Korzus e RDP

WILFRED GADELHA

Da Editoria Brasil/Internacional
A geração “das antigas” mostrou que ainda dá conta do recado e, na segunda noite do Abril pro rock, botou a meninada no chinelo. No tradicional sábado das camisas pretas do festival, saiu-se melhor quem tinha mais anos de estrada. Ponto para Korzus, Sepultura, Ratos de Porão e Marky Ramone, que fizeram bons shows no Palco 1 e animaram um público sedento por algo mais que as canções bregas que emanavam do Palco 2. Sobraram pose e dor-de-cotovelo nas apresentações de Mechanics, Dance of Days (talvez a mais equivocada), Udora e Carbona. No novo Palco 3, Rabujos e Fiddy tiveram propostas distintas: uma engajada até o talo, a outra pensando que estava no fundo da sala de aula jogando bolinhas de papel.
À exceção de Marky Ramone, todas as bandas do palco principal deram ênfase aos seus trabalhos mais recentes. O Korzus, lenda viva do thrash metal nacional, tascou músicas do Ties of blood a torto e a direito. Resultado: como o disco é muito bom, surtiu efeito. Guilty silence, What are you looking for e Respect fizeram um bem danado. As músicas em português também foram bem recebidas, principalmente Catimba. Mas o melhor momento foi, sem dúvida, a mais significativa composição do quinteto paulista: Agony, do Mass illusion (1991).
Tocando como se estivesse na esquina de casa, o Ratos de Porão começou com muita energia e pouca “entendibilidade”. Também pudera: Gordo vocifera, balbucia, verbaliza grunhidos, qualquer coisa menos pronunciar as palavras que canta. E o som tava embolado demais. Mas quem se importava com isso? E tome música do Homem inimigo do homem, o disco do ano passado. O momento irônico foi quando Gordo baixou o pau nas bandas emo e anunciou O equivocado, música nova cujos versos, entre outras coisas, dizem que Good Charlotte e Simple Plan (as top bandas do emocore) são excremento. Isso, poucos minutos depois do show do Dance of Days (quantas letras bregas em uma banda que se diz rock’n’roll...). Mas RDP velho é RDP bom: Amazônia nunca mais, Crianças sem futuro, Beber até morrer e a datada mas ainda excelente Plano furado.
Andreas Kisser anda dizendo em tudo quanto é canto que é hora de olhar para o futuro. Um artista do seu calibre tem todo o direito e até mesmo o dever de dizer isso. Mas a reação do público que estava no Centro de Convenções foi de que esse negócio de futuro pode até ser legal, mas bom mesmo é um passadozinho de leve. Com o repertório clássico que tem, o Sepultura já começa qualquer jogo ganhando de dez a zero. Mas, quando prefere a retranca, dá no que deu anteontem: músicas do Dante XXI demais, da fase Derrick demais, experimentações demais, todas gerando uma reação apática do público. Sorte que o time é bom e resolveu ir ao ataque. Até quando o insosso Derrick Green (sábado, definitivamente, não foi o dia do vocalista: quase não se comunicou com a platéia e quando o fazia era com frases decoradas, chavões e palavrões que aprendeu nos estádios de futebol) brincou perguntando se o povo queria o “Sepultura old school”. Ele mesmo respondia: “Lógico, né?”. Então por que cargas d’água os caras não chegaram tocando logo Escape to the void, Troops of doom, Refuse/resist, Desperate cry e outras do gênero?
Uma nota especial para o novo baterista. Jean Dollabella não tem o status nem o carisma de Iggor Cavalera, mas segura as pontas que é uma beleza. Mais: ele realmente trouxe uma dose extra de energia para os velhinhos, coisa que o irmão de Max não fazia nos últimos tempos.
Mas o melhor show da noite foi de Mr. Marky Ramone. As camisas dos Ramones eram vistas a rodo no Centro de Convenções. Para variar, vez ou outra no meio do show das outras bandas, a galera soltava uns “Hey, ho, let’s go!”. Quando MR e Tequila Baby foram anunciados, o povo se ouriçou. Até ver que o lendário baterista dos Ramones não estava sentado à bateria. Uma ou outra vaia, um resmungo, mas nada que atrapalhasse. A banda gaúcha é boa mesmo. Trinta minutinhos depois, Marc Bell (o nome verdadeiro do figuraça) adentrava o recinto, ovacionado. E, sem choro ne vela, mandou uma saraivada de clássicos que tocava com Joey, Johnny e Dee Dee: Rockway beach, Teenage lobotomy, She’s the one, The KKK took my babe away. Em Pet cemetary, foi a roda de pogo mais instigada desde a época que os Devotos ainda tocavam no APR. O show ficou ainda mais porrada quando João Gordo entrou e também detonou. A participação dele foi de apenas duas músicas, mas sabe quando você presencia um momento histórico? Com o vocalista do RDP, a Tequila Baby tocou I don’t care e Commando. A despedida de MR foi em grande estilo: Blitzkrieg bop de bandeja para uma turma ensandecida.

Para ver e ler Maximiano Campos
Publicado em 16.04.2007
Sem lei nem rei - Maximiniano Campos é o nome do documentário que o diretor e roteirista Marcelo Peixoto lança hoje, em DVD, na sede do Instituto Cultural Lula Cardoso Ayres.
Produzido pela Massangana Multimídia Produções, da Diretoria de Cultura da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), o vídeo tem roteiro do próprio Marcelo e procura resgatar particularmente a faceta escritor de Maximiano.
Durante os cerca de 15 minutos de projeção, dez personalidades brasileiras falam sobre o biografado, entre elas o Secretário de Cultura do Estado, Ariano Suassuna, os escritores Raimundo Carrero e Jaci Bezerra e o pintor João Câmara. “É o pessoal da Geração 65. O terraço de Maximiano era o terraço da Geração 65, onde o pessoal se reunia para conversar sobre literatura, poesia...”, conta o diretor Marcelo Peixoto, referindo-se à forma como os depoimentos foram captados: todos os entrevistados em volta de um terraço, contando fatos da vida do escritor.
Uma das dificuldades foi colocar o próprio homenageado na tela: as únicas imagens do escritor em movimento foram digitalizadas a partir de originais do Acervo da Fundação Joaquim Nabuco.
Entre pesquisa, produção e elaboração, o vídeo consumiu quase dois anos para ficar pronto. Sobre o processo de produção da obra, Peixoto revela ainda uma curiosidade: “Eu era muito amigo do homenageado, então eu pedi para meu editor (Hélio Moura Filho) que não me deixasse ‘amolecer’, porque eu queria dar um distanciamento, mas foi muito difícil pra mim, por causa das lembranças. Em vários momentos, deixei a ilha de edição em lágrimas”, revela.
Ainda assim a estratégia deu certo e Peixoto acredita ter atingido o que queria. “Eu acho que consegui meu objetivo. Mostrei o vídeo para dois cineastas de diferentes gerações e eles me falaram que dava vontade de ler os livros de Maximiano. Era essa minha vontade: que as pessoas descobrissem ou redescobrissem esse escritor. É um vídeo feito para se ler. E eu acho que é um vídeo de conteúdo”, afirma.
Após a exibição, o advogado Antônio Campos (filho de Maximiano) fará palestra sobre o homenageado. O DVD estará à venda por R$ 20.

POLÊMICA
Sugerida outra área para obra de Niemeyer
Publicado em 17.04.2007
Professora da UFPE apresentou, ontem, em debate sobre o Parque Dona Lindu, de Boa Viagem, que projeto seja implantado na Vila Naval, incluída no Complexo Turístico Cultural Recife-Olinda

Numa tentativa de resolver a polêmica que envolve o projeto do Parque Dona Lindu, em Boa Viagem, Zona Sul do Recife, duas propostas foram defendidas, ontem à noite, no debate promovido pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sobre o tema: a implantação do projeto elaborado pelo arquiteto Oscar Niemeyer em outra área da cidade e o agendamento de uma audiência entre professores da UFPE e técnicos do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-PE) com o prefeito do Recife, João Paulo.
A idéia de levar o projeto para outro terreno é da professora do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano (MDU) da UFPE Circe Monteiro. Ela sugeriu a área da Vila Naval, que está incluída no Complexo Turístico-Cultural Recife-Olinda. “Seria uma forma de a cidade ter a obra de Niemeyer e o parque verde em Boa Viagem’”, diz Circe Monteiro.
Segundo ela, a região da Vila Naval é mais adequada para um projeto de caráter metropolitano, como pretende a prefeitura. “A localização é boa, o entorno é privilegiado, de frente para o mar e próximo do Centro Cultural Tacaruna, que está sem execução”, elenca a professora. Outra opção, apresentada no debate, seria o Cais José Estelita, inserido no Complexo Recife-Olinda.
A proposta da audiência partiu do vereador Luiz Helvecio (PT) e do arquiteto Luiz Quental, da Agência Condepe-Fidem. Eles argumentam que seria interessante a prefeitura ouvir pontos de vista contrários, de técnicos da área. O arquiteto Luís Vieira, da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas, propôs o plantio de vegetação de restinga nos terrenos do parque, até que se faça um projeto de consenso, caso a polêmica se prolongue. Por decreto, a prefeitura tem até setembro de 2008 para fazer o parque.
“Com vegetação nos terrenos e a população assumindo o lugar, já se forma um parque”, declara Luís Vieira. O presidente da Empresa de Urbanização do Recife (URB), Amir Schvartz, informa que o projeto apresentado pela prefeitura no mês passado é uma versão preliminar. “Enviamos ao escritório de Niemeyer toda essa discussão e estaremos recebendo uma nova proposta, em breve, que pode chegar a 60% de área verde.”
O presidente da Associação de Amigos do Parque, Petrônio Martins, reforça que a comunidade não aceita o parque com 50% de área construída. Eles preparam um abaixo-assinado em defesa da área verde no local. Os terrenos medem 33 mil metros quadrados e são delimitados pelas Avenidas Boa Viagem e Visconde de Jequitinhonha e pelas Ruas Jean Mermoz e Engenheiro Zael Diógenes. O debate foi realizado no IAB-PE, no Derby.

A veia artística de Gilberto Freyre
Publicado em 17.04.2007
Livro do antropólogo Raul Lody apresenta as pinturas do sociólogo de Apipucos tendo a casa como o foco principal de sua atenção

]OLÍVIA MINDÊLO
Gilberto Freyre ficou famoso pela extensa obra sociológica que deixou ao País, legado este que imprimiu versatilidade e contribuiu para mudar o nosso olhar sobre a formação da sociedade brasileira. Mas, além de tudo isso, foi o escritor também um artista plástico e poeta? O antropólogo carioca Raul Lody responde que sim. E a resposta é defendida hoje com o lançamento do seu livro Do mucambo (sic) à casa-grande – desenhos e pinturas de Gilberto Freyre (Companhia Editora Nacional), às 17h, na Livraria Cultura. A publicação integra as comemorações dos 20 anos da Fundação Gilberto Freyre (FGF), inaugurada em março de 1987, poucos meses antes de o sociólogo falecer. Na ocasião, aberta ao público, um quarteto de músicos da cidade apresenta concerto com composições de Bach e Mozart, em referência à festa inaugural da FGF.
Mais do que um livro cujo miolo apresenta uma abordagem inédita sobre a produção iconográfica de Gilberto Freyre, o novo trabalho de Raul Lody é um recorte hipertextual sobre o tema que ele considera de maior importância no legado freyriano: a casa. “A obra dele é ampla, mas todo o foco é a casa, que está na literatura e na iconografia também. Então, resolvi juntar as duas pontas”, justifica o antropólogo, que trabalha com o universo sociológico do pernambucano há mais de 30 anos. Lody já escreveu diversos artigos e ensaios que pontuam temas como o açúcar, o cotidiano, o Nordeste e a ecologia na obra de Freyre.
Em Do mucambo à casa-grande, um texto ensaístico assinado por ele, guia o leitor pelos elementos que estão nos alicerces culturais da construção das moradias do Nordeste, em especial do Recife. O rio, a flora local, a cultura afro, o Carnaval, as festas religiosas, as influências arquitetônicas holandesas e portuguesas se encontram para formar um “hábitat” muito particular. “Para Gilberto, a cidade, o Recife, é uma casa ampliada, tão bem-interpretada e vivida por ele”, escreve Lody em seu ensaio. E que casa é essa que une a estética de sobrados e mocambos? “Essa casa chama-se homem, homem no sentido de associar questões relativas à cultura, à vida, ao cotidiano, ao trabalho”, explica o antropólogo.
Lido o ensaio, é hora de chegar à parte mais curiosa do livro: os 58 desenhos, aquarelas e óleos sobre tela produzidos por Freyre, particularmente na juventude e idade senil, cujo hiato da vida adulta foi preenchido pelas letras. Não é preciso ir muito longe para entender a necessidade do sociólogo em traduzir, por meio da iconografia, aquilo que escreveu nas páginas do livro. São contribuições que dialogam entre si. Como bem observou Lody, as pinturas e desenhos freyrianos são reflexo dessa leitura sobre a vida privada, sobre a casa, bastante cara à sociologia do pernambucano – tão literária quanto imagética. Além disso, Freyre sempre foi um amante das artes plásticas. O pintor conterrâneo Cícero Dias, por exemplo, foi seu grande amigo. Ambos trocaram idéias e é possível que Dias tenha influenciado os traços de Freyre – e vice-versa. As pinturas do morador de Apipucos carregam uma ingenuidade e uma variedade de cores intensas como acontece também com o pintor modernista. Lody, no entanto, prefere comparar Cícero Dias a Chagall, deixando para o autor de Casa-grande & senzala a influência vinda dos expressionistas europeus. Mas é inegável a cumplicidade que Dias e Freyre travaram profissionalmente.
Além das páginas iconográficas, o livro traz ainda um poema inédito escrito pelo sociólogo e que, mais uma vez, remete ao tema da morada. Chama-se Recife dos mocambos. De fato, uma relíquia até então escondida.
Fundação mantém vivo o legado do Mestre de Apipucos
Publicado em 17.04.2007
Além de escrever ensaios e livros sobre a obra freyriana, o antropólogo carioca Raul Lody gosta de ressaltar: foi um dos fundadores da instituição que leva o nome de Gilberto Freyre, inaugurada no dia 11 de março de 1987. Hoje, atua na fundação como curador, além de organizador de seminários, publicações e grupos de estudo, como é o caso do Grupo de Antropologia da Alimentação Brasileira. Ao ser um estudioso das “tecnologias tradicionais”, ou seja, das manifestações culturais que estão no alicerce da identidade brasileira, e sobretudo nordestina, Lody pôde se aproximar do sociólogo pernambucano, no início dos anos 70. O próprio Freyre escreveu o prefácio de seu livro Santo também come, publicado em 1979.
Agora, com a publicação Do mucambo à casa-grande, Lody volta a estreitar novos laços com a contribuição freyriana e manter a relação com a Fundação Gilberto Freyre (FGF), cujo trabalho faz questão de difundir. “Eu peguei o início, o momento de juntarmos o acervo dele, os objetos, os livros. E fiz também o vídeo sobre a fundação, em 1987”.
A FGF foi criada com a missão de “contribuir para o desenvolvimento político-social, científico-tecnológico e cultural da sociedade brasileira, tendo como referencial a obra freyriana e sua influência para a compreensão e interpretação da sua realidade, na perspectiva da superação das desigualdades sociais.” Quem preside atualmente a instituição é Sônia Freyre, filha de Gilberto. É ela, aliás, a autora do texto de apresentação do livro com lançamento hoje à tarde, na Livraria Cultura. Tão lírica quanto informativa, a abertura de Sônia para o ensaio de Lody é, na realidade, um convite para visitar a FGF. Lugar, por sinal, imprescindível aos que se interessam não só pelo sociólogo, como também pela cultura pernambucana e nordestina, em geral.
Situada em Apipucos, na Avenida Dois Irmãos, a fundação criada e mantida pela família tem como centro das atenções uma casa-museu, que abriga livros, objetos pessoais, fotografias e obras de arte que contam um pouco da vida e do legado freyriano. Além disso, a instituição possui núcleos de ação segmentados, um centro de documentação, bibliotecas virtuais, um espaço cultural onde são ministradas oficinas e realizadas palestras, um sítio ecológico e outros campos de atividades. Manter reunido, preservado e à disposição do público o acervo de Gilberto Freyre, estudar, promover e difundir as diversas manifestações da arte, da cultura e da ciência nordestina, promover estudos tropicológicos e intercâmbio com universidades e instituições e patrocinar o amplo conhecimento da região nordestina estão entre os objetivos da jovem fundação. (O.M.)
Lançamento do livro Do mucambo ao sobrado, hoje, às 17h, na Livraria Cultura – Paço Alfândega, Bairro do Recife. Preço médio não informado. Aberto ao público.
Ecletismo do começo até o fim no Abril pro rock
Publicado em 17.04.2007
Galeria de fotos
Reveja imagens do evento
Teve de tudo no domingo, último dia do festival: reggae, forró, rock e muito escracho

CONCEIÇÃO GAMA
O último dia do Abril pro rock foi marcado pelo ecletismo de atrações e de público. A maioria dos presentes compareceu ao pavilhão do Centro de Convenções para conferir o show da lenda viva do reggae Lee Perry, mas era possível encontrar na multidão pessoas ansiosas para ver as apresentações de outras atrações, como The Film, Los Alamos, Rebeca Matta e The Playboys.
O lendário cantor jamaicano fez um show com pouco mais de uma hora de duração para regueiro nenhum botar defeito. Com uma voz forte e composições próprias de reggae e dub, Lee “Scratch” Perry, de 71 anos, fez os sobreviventes do último dia do APR (parte das pessoas não agüentou o cansaço e foi embora) entrarem em êxtase. O artista mostrou que, apesar da idade, está em plena forma. Nem as falhas no som apagaram o brilho (literalmente – o figurino do cantor era repleto de adereços reluzentes) do artista. Lee Perry dançou, conversou com o público (apesar de pouquíssima gente entender o sotaque jamaicano) e ganhou a simpatia dos recifenses.
O deslumbramento da platéia por estar diante de tal lenda viva do reggae contrastava com a falta de apelo comercial do músico: ninguém, nem quem estava colado na grade, sabia cantar as músicas de Lee. Apenas quando o jamaicano entoou canções do seu pupilo mais famoso, Bob Marley, os regueiros de plantão cantaram em coro.
Os outros gringos da noite, os argentinos Los Alamos e os franceses The Film, também fizeram bons shows. O sexteto argentino apresentou sua competentíssima mistura de country, folk e rock de forma magistral. Os músicos têm excelente presença de palco e carisma, e primam por execuções tecnicamente perfeitas. Já o trio verde The Film apresentou seu indie rock com letras em inglês de forma competente, mas sem grande impacto.
Artistas locais também não fizeram feio no APR, mostrando que santo de casa faz milagre, sim. O som altamente competente made in Pernambuco da Orquestra Contemporânea de Olinda botou todo mundo para dançar. O show foi uma excelente surpresa para quem compareceu ao evento a fim assistir a apresentações de outras atrações. As irmãs Laura e Luiza Morgado, de 18 e 15 anos, respectivamente, adoraram o show dos olindenses. “Vim ver Los Alamos e The Film, mas me surpreendi com a Orquestra Contemporânea de Olinda. Sem dúvida, eles foram uma revelação”, opinou Laura.
Os mais que escrachados The Playboys também fizeram um dos melhores shows da noite. O engraçadíssimo vocalista João Neto arrancou gargalhadas da platéia com sua imitação de João Gilberto na canção que fala do desejo (frustrado) de ser um acadêmico. “Desliga o ar-condicionado, ele está fora do tom”, brincou o vocalista antes da execução.
Outro ponto alto do show foi a entrada do rebolativo vocalista da banda Le Bustier en Decadence, Henrique Brandão, fantasiado de Drica, uma das vocalistas do grupo As Barbis, com uma faixa pendurada no corpo com os dizeres “Miss Paulo André 2008”, em solidariedade às bandas locais que ficaram de fora do APR este ano. Depois, os meninos da The Playboys fizeram uma “singela” homenagem a Chico Science, antes de tocarem o Pancadão armorial. “Antes eu era moda, mas agora a moda é ser indie. Indie-ota”, declarou João Neto fantasiado de mangueboy.
Os Mestres do Forró também fizeram uma boa apresentação, apesar de destoarem completamente do restante da programação da noite, fato confirmado pela dispersão da platéia na hora do show. Na frente do palco, alguns casais transformaram o pavilhão do Centro de Convenções em uma verdadeira pista de dança. O recepcionista Thiago Rafael e a estudante Mariana Miranda eram um dos que curtiram o show dos mestres dançando juntinho. “A gente veio para ver Lee Perry, mas gostamos de forró também. O importante é a diversidade”, declarou Thiago.
Outros pernambucanos que agradaram em cheio à platéia do APR foram os meninos da Monomotores. O grupo, muitíssimo bem-ensaiado, mostrou no palco um amadurecimento musical relevante desde que faturaram o Microfonia. “Não conhecia a banda e me surpreendi. Os caras são carismáticos e mandam ver no rock’n’roll. Virei fã”, declarou extasiado o administrador Hélio Fernandes.
Colaborou Marcos Toledo
PATRIMÔNIO
Lâmpadas especiais dão novo visual a pontes
Publicado em 17.04.2007
Novos refletores mostram à noite os contornos das Pontes Buarque de Macedo e da Boa Vista, no Centro do Recife, com reflexo no Rio Capibaribe. Obra é parceria da prefeitura com a Chesf

Novos projetores luminosos dão, desde ontem à noite, maior visibilidade às Pontes da Boa Vista e Buarque de Macedo, no Centro do Recife, reforçando o atrativo turístico da cidade e valorizando a arquitetura das construções. A nova iluminação, inaugurada pelo prefeito João Paulo Lima e Silva, custou mais de R$ 352 mil, e é resultado de parceria entre a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) – responsável pela implantação e elaboração do projeto – e a prefeitura, que cuidará da manutenção do sistema.
Na Ponte Buarque de Macedo, que liga a Praça da República ao Bairro do Recife, a iluminação está direcionada aos guarda-corpos (estrutura que une o corrimão à base), considerada a principal marca da arquitetura. Ao todo, foram instalados 88 projetores. Já na da Boa Vista, que liga as Ruas da Imperatriz e Nova, os 46 projetores implantados dão mais realce à estrutura metálica.
Sistema de alarme e gradeamento especial foram instalados para evitar que aparelhos e refletores sejam roubados, como aconteceu na Ponte Maurício de Nassau, uma das primeiras a ganhar nova iluminação. “Ao tentar cortar os projetores o alarme soará nas cabeceiras da ponte, alertando a polícia”, disse o presidente da Chesf, Dilton da Conti.
Segundo o prefeito do Recife, a escolha pelas construções levou em consideração fatores histórico e turístico. “Vamos continuar nessa parceria com a Chesf até que todas as outras sejam iluminadas.” Os novos refletores decorativos também são adequados para suportar ações químicas proporcionadas pelas águas do Rio Capibaribe.
A Ponte Buarque de Macedo é a maior em extensão do Recife, com 283 metros. O nome de batismo é uma homenagem ao engenheiro e político Buarque de Macedo, que ergueu várias construções na cidade. A Ponte da Boa Vista é a mais antiga da capital. Foi erguida em 1644, durante o período de domínio holandês. Maurício de Nassau mandou construi-la para ligar a então Ilha de Santo Antônio ao continente.
PATRIMÔNIO II
Basílica da Penha pede doações para obra
Publicado em 17.04.2007
Fiéis e religiosos lançam, às 10h de hoje, campanha pela restauração da Basílica da Penha, localizada no bairro de São José, Centro do Recife. O templo católico, que teve a construção finalizada em 1870, passa por dificuldades. Há infiltrações de água e rachaduras nas paredes, pedaços de ornamento se desprendendo do teto e infestação de cupins.
A solenidade começa com um abraço simbólico ao prédio da igreja. “Vamos rezar um Pai-Nosso, pedindo a proteção de Jesus”, diz a coordenadora-geral da campanha, Telma Liege. Ela informa que o projeto de restauração do imóvel foi aprovado pelo Ministério da Cultura, na Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet).
“Isso significa que nós temos autorização para captar recursos e os parceiros poderão deduzir o valor no Imposto de Renda. Por isso, estamos lançando a campanha. É uma forma de sensibilizar as pessoas”, destaca Telma Liege. A proposta de restauração da basílica foi elaborada pelo Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada (Ceci).
A obra está estimada em R$ 3,6 milhões. Além de captar recursos pela Lei Rouanet, o grupo abriu uma conta no Banco do Brasil, para receber doações. Os valores podem ser depositados na Agência 1850-3, conta corrente nº 12.771- X. “Vamos vender uma camiseta com a fotografia das torres da igreja, símbolo da campanha, para arrecadar verba para as obras”, diz. Os interessados podem entrar em contato com Telma Liege pelo telefone (81) 9966-1681.
Conforme Frei João da Paz, reitor da basílica, a igreja está parcialmente interditada há quase dois anos. As laterais foram isoladas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), por segurança, porque adornos do teto estavam caindo. A nave central continua funcionando.

TRAGÉDIA
Massacre em escola dos EUA: 33 mortos
Publicado em 17.04.2007
Ataque na Universidade Virginia Tech foi o mais letal a uma instituição de ensino americana

BLACKSBURG (EUA) – Um homem abriu fogo ontem num dormitório e numa sala da Universidade Virginia Tech, em Blacksburg, matando 32 pessoas, no incidente mais letal do tipo da história dos EUA. A maior parte das vítimas era estudantes, alvejados em dois momentos distintos – num alojamento estudantil e numa sala de aula – com intervalo de cerca de duas horas entre eles.
A polícia acredita que o ataque tenha sido realizado por um único atirador, que teria se suicidado após o massacre, mas até a noite de ontem não conseguiu identificá-lo. Ele foi descrito por alguns estudantes como “um asiático de 20 e poucos anos usando boné marrom e jaqueta de couro preta”.
“A universidade foi abalada por uma tragédia que consideramos de proporções monumentais”, afirmou o reitor Charles Steger. “A universidade está em choque, todos estamos chocados.”
Testemunhas descreveram cenas nas quais os alunos foram alinhados contra uma parede e fuzilados. Algumas pessoas tiveram de pular pela janela para escapar e muitos feridos foram carregados para os hospitais das proximidades por alunos e funcionários da universidade.
“Todos estão em pânico”, disse à emissora de televisão CNN o estudante Shaver Deyerle. “No começo, ninguém sabia o que estava acontecendo.” O estudante disse que o massacre lembrava a matança da Escola Columbine, quando os alunos Eric Harris e Dylan Klebold mataram 12 colegas e uma professora no Estado do Colorado. A matança completa oito anos na sexta-feira. “Isso é muito pior que Columbine”, afirmou Justin May, 19 anos.
Os ataques começaram logo de manhã, quando os estudantes estavam se preparando para ir às aulas. Por volta das 7h15 locais (8h15 de Brasília), a polícia recebeu uma ligação telefônica denunciando um ataque que deixou dois alunos mortos no alojamento, onde vivem 865 pessoas.
Segundo os alunos, não houve nenhum pronunciamento público sobre esse ataque até duas horas depois de ele ter ocorrido, quando foi enviado um e-mail pela diretoria da universidade. A essa altura, porém, cerca de 11 mil estudantes já se encaminhavam para as salas de aula.
“O que aconteceu foi ridículo. Enquanto eles enviavam e-mails para os alunos, mais de 30 pessoas morreram”, afirmou o estudante Jason Piatt .
Steger se defende explicando que pensou que os assassinatos nos dormitórios se tratassem de um crime passional e o atirador já teria fugido do campus. “Não tínhamos razão para suspeitar que qualquer outro incidente iria ocorrer”, disse o reitor da universidade.
Mais tarde, porém, o atirador reapareceu numa sala da Faculdade de Engenharia Norris Hall, a alguns quilômetros, onde fez mais vítimas antes de se matar. Ele trancou as portas do prédio com correntes. Um segurança da universidade revelou que o assassino carregava duas pistolas e cartuchos de munição. A polícia ainda não divulgou informações sobre o possível motivo do crime.
Essa foi a segunda vez desde 2006 que a universidade é fechada por causa da violência. Em agosto, o câmpus foi isolado quando o fugitivo da polícia William Morva matou um segurança e se refugiou num prédio da universidade. Ele será julgado.
Várias células de apoio psicológico foram instaladas num hotel perto do câmpus. A universidade deve reabrir suas portas hoje para uma cerimônia de luto prevista ao meio-dia. As aulas não recomeçarão antes de amanhã.
A recifense Flávia Borges Bastos, que mora em Maryland, Estado vizinho à Virgínia, disse que o clima na região é muito tenso. “A gente se sente inseguro. Vai e vem, um doido desses invade uma escola. As informações ainda são muito desencontradas. Por causa da tempestade que ocorreu ontem, muita gente ficou sem eletricidade e não soube direito o que tinha acontecido”, salientou Flávia, que mora nos EUA há 20 anos.
No último sábado, teve início a turnê pelo Nordeste do novo show de Caetano Veloso, , na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador. A Concha, espaço onde cabem 5.000 pessoas, é ocupada tradicionalmente por shows que convidam à dança, mas este não foi o caso de . Apesar de contar com uma formação típica de banda de rock, com músicos de formação majoritariamente roqueira, pede concentração na audição das canções, o que não desmerece, pelo contrário, valoriza o novo trabalho de Caetano.
Depois de fazer discos e shows com ênfase na justaposição de percussão afro-baiana e música harmonicamente sofisticada, com bandas grandes, Livro e Noites do norte, e de gravar songbooks de música latino-americana (Fina Stampa) e norte-americana (A foreign sound), Caetano dá outra volta pra nos surpreender, como bem atesta o que diz sua canção O quereres: "onde queres uma coisa, eu sou outra, onde queres outra, sou aqueloutra". Tudo pra continuar sendo o mesmo artista que, a partir de 67, abriu os caminhos da canção popular no Brasil.
Pois Caetano agora simplificou-se, reduziu a banda ao mínimo, e a própria feitura das canções foi influenciada por esta atitude, como disse o próprio artista na coletiva em Salvador: "o que marca o como diferente é uma determinação por um tratamento muito nítido de banda de rock, desde a composição das canções. São canções feitas como canções pra banda de rock".
Porém, ao reinterpretar suas próprias canções antigas, o que poderia ser óbvio dá lugar ao inaudito, ainda segundo Caetano: "tem Desde que o samba é samba e Sampa, mas não tem Podres poderes e Eclipse oculto (canções mais roqueiras). O critério de pertinência das canções do passado é mais profundo, mas sutil, entendeu?".
Nesse sentido, o arranjo pra Sampa é exemplar. Aos primeiros acordes da música, o público se preparava pra entrar naquela comunhão típica de shows prá grandes multidões, quando todos levantam os braços e acenam em conjunto, mas o arranjo está tão radicalmente diferente do original, que desautomatizou as expectativas da platéia que, simplesmente, sentou e ouviu atentamente.
As diferenças, porém, não param aí: "têm um tratamento peculiar, original, dentro desse universo (do rock) porque são canções minhas, que tem o meu jeito diferente. E, depois, eu não canto como um cantor de rock".
No tocante às idéias, Caetano também não se coloca numa posição confortável. Ao responder uma pergunta sobre axé-music, ele se deteve na definição do termo e norteou o discurso na direção de outras questões: "você não sabe direito onde é que começa e onde é que termina aquilo que se pode chamar de axé-music. Prá mim, axé-music é tudo isso que acontece no carnaval da Bahia moderno, que veio desde que eu escrevi Atrás do trio elétrico e, sobretudo, desde que o Moraes Moreira passou a fazer frevos pra serem cantados, e passou a cantar em cima do trio.
E depois então é que apareceu o Ilê-ayê, o Olodum, que são coisas mais recentes e mais pop, imitando coisas do pop de língua inglesa. O nome do primeiro negócio que caracterizava aquilo é samba-reggae. E com o que mais o Olodum se parece é com as bandas de universitários americanos que tocam funk em instrumentos de percussão marcial.
(...) Esse fingimento de que axé-music é uma coisa do trio elétrico, que é artificial e comercial, e não é raiz, e que os blocos-afro são raízes... Tudo mentira! Tá tudo errado.(...) O meu bloco favorito é o Ilê-ayê, é o único bloco no Brasil, na Bahia pelo menos, que tem racismo institucionalizado, não pode entrar quem não seja preto, é o único. Mas é o tal negócio, Sartre chamava o racismo dos pretos americanos de racismo anti-racista, que, aliás, apareceu na declaração dessa ministra da Igualdade Racial.
(...) Os blocos-afro, com todo aquele negócio, esse próprio racismo é imitação do racismo americano, que não é o nosso modelo. Nunca houve isso no Brasil antes. Não que não seja um enriquecimento para a discussão, entendeu? (...) Meu bloco de coração é o Ilê-ayê, mas eu não sou burro, eu sou lúcido, eu percebo nitidamente o que tá se passando. (...) Parece que o Ilê-ayê é uma coisa de raiz e que a Ivete Sangalo é um negócio inautêntico. Mentira.
(...) A música O herói é engraçada porque ela passa por essa retórica neo-racista e americanizada e termina numa afirmação meio escandalosa dos mitos da democracia racial e do homem cordial, o que torna as duas partes da canção irônicas... Eu perco o controle... Bom, é uma canção... Aquilo diz mais que o que você pensa, eu nem sei mais o que aquilo diz direito. Aquilo vai além do que eu penso. O que eu penso é isso que eu tô falando aqui.
Eu acho que a ministra ter falado isso é um sinal de que no Brasil até a ministra da Igualdade Racial precisa insuflar um pouco de racismo. Nos Estados Unidos, nenhuma ministra faria nem de longe nada parecido, nem poderia, nem deveria, nem precisaria fazer. Eu acho até que isso é um bom sintoma que confirma a nossa tradição de democracia racial e incrementação da miscigenação. (...) Essas pinceladas diferentes podem contribuir para enriquecer o nosso caminho, mas eu acho que é o caminho natural do Brasil".
Após a coletiva, ainda perguntei a Caetano o que achava do compacto duplo de vinil que gravou ao vivo com os Mutantes em 68, muito pouco citado como referência roqueira do seu trabalho, e que só agora foi lançado integralmente em cd por sua gravadora na caixa que contém toda a sua obra até 74: "eu adoro esse disco. E o show foi um dos acontecimentos mais importantes da história do rock no Brasil, das relações do Brasil com o rock (...) O Gil toca também, e canta um pouco também. O show era eu, Gil e os Mutantes na Sucata. Era um show independente, protesto contra o Festival Internacional da Canção.(...) Aí foi um estouro no Rio de Janeiro, foi um escândalo e terminou que a boate foi fechada."
Em seguida, perguntei se a Philips (atual Universal) não havia gravado o show inteiro, ao que ele respondeu: "Só gravou quatro canções comigo no estúdio (1), com a platéia... Levou uma platéia e gravou numa sala do estúdio, porque não tinham como levar aquele equipamento ainda naquela época pra lá".
Caetano declarou também se sentir identificado com nomes como John Lennon e Mick Jagger em oposição a Bob Dylan, a quem considera um gênio, mas de quem é diferente. Disse que, como Jagger, é leonino, explícito e tem um "lado meio viado", e que se identifica com Lennon pela "lucidez, inteligência, responsabilidade e coerência".
Assim é Caetano Veloso, um compositor que atua na condição de intelectual, como nunca houve antes no Brasil, além de agir também como agente transformador, por ser um artista popular de competência multifacetada, que altera comportamentos e faz pensar. Como dizem os versos de Força estranha: "eu vi muitos homens brigando/ ouvi seus gritos/ estive no fundo de cada vontade encoberta".
(1)     As faixas do disco são A voz do morto, Baby e Saudosismo, todas de Caetano, além Marcianita, versão que foi sucesso na voz de Sérgio Murilo no início dos anos 60.


19/04/2007
O mau selvagem
O homem é originalmente bom; é a sociedade que o corrompe. Trata-se sem dúvida de uma das maiores bobagens já proferidas na história da humanidade. O problema não é tanto que o bom Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) tenha concebido mais essa idéia maluca, mas sim que pessoas importantes nos meios intelectuais tenham acreditado nela ao longo de mais de dois séculos. Pior, ainda há quem ache que o cidadão genebrino está certo.

Não me considero um pessimista --muito pelo contrário, como se verá--, mas basta dar uma olhadela à nossa volta para chegar empiricamente à conclusão oposta: o homem é um bicho naturalmente ruim. Como ocorre com a maioria dos animais, coloca seus interesses acima de tudo e não hesita em usar a violência para impor sua, digamos, visão-de-mundo aos demais. Se há um rival no seu caminho para copular com uma fêmea, tende a aplicar a solução mais simples, que é eliminar fisicamente o comborço _desde que tenha, por suposto, os meios para tanto. O mesmo vale em relação a uma carniça de cabrito, uma framboesa madura ou qualquer outra iguaria pré-histórica.

E não parece haver muitas dúvidas de que essa seja uma disposição natural. Para prová-lo, basta observar duas crianças brincando (especialmente se forem dois meninos). Elas se provocam continuamente. Muitas vezes, a sucessão de desafios atinge o ponto crítico e degenera em pancadaria. Garotos podem ser terrivelmente cruéis uns com os outros, para não dizer sádicos mesmo. Rousseu, é claro, não tinha como saber disso, pois entregou os cinco filhos que gerou para a adoção (pelo menos é o que diz), no que constitui evidência adicional da perversidade, senão humana, ao menos rousseauniana.

Antes de prosseguir, peço que não me interpretem mal. Individualmente, somos todos capazes de atos de profundo e vil egoísmo, mas também de gestos daquilo que alguns chamariam de amor desinteressado. Acredito até que mesmo o pior facínora tenha tido seus momentos, talvez não de grandiosidade, mas de compaixão. No acumulado da espécie, entretanto, o balanço é negativo, como o atestam Auschwitz, os gulags, a Revolução Cultural e vários outros genocídios, passados, presentes e futuros.

Nesse contexto algo sombrio, onde encontro razões para o otimismo que mencionei algumas linhas atrás? A boa notícia é que, apesar de nossa natureza maligna, estamos aprendendo a nos conter. Há cerca de um mês, o psicólogo evolucionista Steven Pinker publicou na revista norte-americana "The New Republic" o artigo intitulado "Uma História da Violência" (o texto pode ser acessado no site da
Fundação Edge), no qual pincela evidências de que, considerada a série histórica, estamos nos comportando melhor. Este é um tema caro a Pinker, que também o aborda em seu livro "Tabula Rasa" (este disponível em português).

Muito provavelmente por influência de Rousseau e alguns outros pensadores de esquerda, o "establishment" científico costumava ver as guerras do passado como menos mortíferas do que as modernas. Alguns pesquisadores chegaram a afirmar que os conflitos na Idade da Pedra eram apenas "simbólicos", e antropólogos "encontraram" povos que não "conheciam" a violência. Bobagem, é claro. Convicções podem facilmente nos cegar para a realidade.

Novos dados e análises, produzidos por autores como Lawrence Keeley e Stephen LeBlanc, mostram que os homens se massacram desde sempre e que antes o faziam com muito mais afinco.

Como bem observa Pinker, "na década de Darfur e do Iraque e logo após o século de Stálin, Hitler e Mao, afirmar que a violência está diminuindo pode parecer algo entre a alucinação e a obscenidade". E poderíamos muito bem acrescentar aqui um "na semana do massacre de Blacksburg". É evidente que, pelos números absolutos, o século 20 é, como o meu Corinthians, "o campeão dos campeões". Calcula-se que os conflitos deste período tenham matado algo em torno de 100 milhões de pessoas. Ocorre, entretanto, que os confrontos tribais do passado eram não apenas mais freqüentes que as guerras modernas como também matavam porcentagens muito maiores das respectivas populações. Se as taxas de morticínio verificadas entre os "bons selvagens" fossem aplicadas ao século 20, o saldo de óbitos excederia facilmente aos 2 bilhões.

De resto, com a evolução dos meios de comunicação, hoje registramos e damos destaque a qualquer escaramuça entre vizinhos. Até dois séculos atrás, povos inteiros podiam ser eliminados numa razia e ninguém jamais tomaria conhecimento. Ou melhor, ninguém senão antropólogos do século 21. É graças ao trabalho de alguns deles que estamos aprendendo que os selvagens não eram tão bons assim.

As cifras quase astronômicas do século 20 ao lado do bombardeio diário de notícias de guerra são o que basta para nos transmitir a falsa sensação de que estamos piorando em velocidades próximas às da luz.

É claro que não é assim. Provas extras de que estamos nos saindo melhor incluem a virtual extinção da escravidão e do sacrifício humano. Também estão em baixa em praticamente todos os sistemas jurídicos do mundo a tortura e mutilações. A própria pena de morte, embora ainda esteja longe de acabar, já não é em nenhum lugar aplicada para delitos menores ou crimes de opinião, ao contrário do que ocorria até um passado recente. As próprias guerras deixaram de ser vistas como meio legítimo de conquista de território ou propriedade.

Por que essas coisas estão acontecendo? Ninguém sabe ao certo, mas podemos pelo menos especular. Dá para, desde já, descartar mudanças naquilo que se convencionou chamar de natureza humana. Elas podem até estar ocorrendo, mas seus efeitos só seriam perceptíveis na escala das muitas dezenas de milhares de anos, não na de séculos. Parece mais fácil acreditar que outras propensões humanas, muito provavelmente de base biológica, estejam atuando para moderar nosso apetite pela barbárie. Eu mesmo já arrisquei alguns palpites nesse terreno na coluna "
Cultura da violência", de 2003.

A linha de explicação que me parece mais convincente é aquela pela qual estamos equipados não apenas com meios de matar nossos semelhantes mas também com instrumental para colaborar com eles. Num contexto de anarquia, no qual o pressuposto é o de que todos tentarão a todo instante tomar o que é meu, a lógica recomenda que eu me antecipe a esses ataques, lançando-me contra meus vizinhos antes que eles o façam. Se, por outro lado, eu consigo estabelecer com meus próximo uma política de cessação mútua de hostilidades, nós podemos facilmente evoluir para uma situação de cooperação. Aqui, cada um de meus vizinhos deixa de ser uma ameaça para tornar-se aliado potencial na hora de construir um açude ou criar um sistema de defesa contra outras tribos. Redes cooperativas são tão eficientes que atingem muito rapidamente o ponto de fixação.

Ao que parece, cada vez mais grupamentos humanos estão conseguindo passar da barbárie para um estado de relativa organização social. Um bom indicativo disso seria a constante queda das taxas de criminalidade nos países desenvolvidos. Para que possamos viver sem tanto medo, concordamos todos em abrir mão do direito de atacar primeiro em favor de uma autoridade maior --o Estado--, que passa a ser o único autorizado a usar da violência de forma legítima. Hobbes, e não Rousseau, estava certo. Esse raciocínio começa aos poucos a valer não apenas no âmbito dos indivíduos como também dos Estados. Neste caso, entretanto, não há um poder neutro que faça as vezes de Estado dos Estados. Não obstante, vai se desenvolvendo uma espécie de sensibilidade da comunidade internacional, que, quando gravemente ultrajada, até despacha uma espécie de polícia internacional que são as tropas que atuam sob auspícios da ONU.

A prosseguir a tendência atual, dentro de mais alguns séculos, pessoas e países estariam tão acostumados com o novo "modus operandi" das sociedades que poderíamos cogitar de reduzir drasticamente o tamanho de nossas polícias e exércitos. Eliminar essas instituições, contudo, parece um sonho impossível, pois sempre haverá alguns (pessoas e países) dispostos a romper o acordo de convivência pacífica. É preciso ter meios de reagir a eles, ou a situação de anarquia poderá facilmente reinstalar-se.

Seria importante, como quer Pinker, tentar descobrir com mais detalhe o que fizemos de certo ao longo dos últimos séculos para reduzir a violência. Saber exatamente o que está acontecendo seria uma forma de nos conhecermos melhor, além de aumentar nossa capacidade de preservar a paz. Seja como for, podemos desde já descartar a idéia rousseauniana de que é a sociedade quem corrompe o homem. As evidências disponíveis apontam exatamente o contrário: é a civilização que está conseguindo tornar o homem um bicho menos ruim.

Culturas que saem da invisibilidade

por João Pacheco

Para alguns os povos indígenas do nordeste não se enquadrariam na representação genérica de “índios”, onde lhes é sempre atribuída a condição de primitivos e de coletividades absolutamente estranhas as instituições ocidentais e ao modo de vida moderno. Os habituais sinais diacríticos que são utilizados para demarcar os limites de uma cultura – como língua, tecnologia, modos de apresentação individual (adornos, vestimentas) ou coletiva (casas, rituais), tipo físico - não permitiriam estabelecer uma descontinuidade flagrante e óbvia entre esses indígenas e os seus vizinhos não indígenas.

Isso significa que no nordeste não existem “índios verdadeiros”? Que esses apenas habitariam nas fronteiras remotas da Amazônia, como se pode ver nos filmes e na TV? Claro que não! O que ocorre é que, ao aceitar pensar assim, a pessoa se torna refém de instrumentos de pensamento que foram moldados em outros contextos históricos e que respondiam a finalidades hoje inaceitáveis segundo a ordem jurídica e os valores contemporâneos. Embora ela se julgue livre e seja sincera, quem está afirmando e decidindo isso não é ela, mas parâmetros estabelecidos séculos atrás e que estão em contradição com os valores e o mundo atual.
Nos primeiros contatos dos navegadores europeus com as populações autóctones as diferenças culturais eram fortemente marcadas, como se fossem a água e o óleo, substâncias distintas que não se misturam. Seguiram-se contudo séculos de relacionamento social, onde os elementos da cultura ocidental (como o cristianismo, o uso de roupas, a adequação das casas ao modelo de família monogâmica e, por último – mas talvez mais importante - o trabalho regular, seja como obrigação, seja como mercadoria) foram impostos como condição para que os indígenas permanecessem vivos nas antigas colônias portuguesas da América.
Recusar-se frontalmente a manter relações sociais que pudessem ser vistas como fugindo ao espelho do europeu era arriscar-se a sofrer guerras e perseguições, permitindo que a escravização de pessoas e famílias indígenas fosse considerada legal e até meritória (pois justificada como pedagógica). As instituições que foram mantidas desses povos deveriam necessariamente limitar-se ao interior da vida doméstica e a práticas locais que eram rigorosamente protegidas pela lei do segredo. As culturas indígenas foram transformadas em clandestinas dentro de seus antigos territórios, que eram agora apropriados pelos não índios em nome do direito de conquista.
No processo de formação de Estado e de construção de identidade nacional que resultou da Independência os critérios estabelecidos na Colônia foram virados de ponta cabeça. No segundo reinado enquanto eram confiscadas e colocadas à venda as terras dos antigos aldeamentos missionários sob a alegação de que ali viviam apenas “descendentes” e “índios misturados”, no plano das representações o índio passou a ser reconhecido como ancestral e valorizado enquanto naturalmente diferente. A inversão dos sinais não favoreceu os índios do nordeste, que permaneceram à margem do indigenismo brasileiro, delineado para atender a expansão da fronteira amazônica no século XX e salvar do extermínio os pequenos bolsões de “índios bravos”. A criação do SPI e do indigenismo republicano veio apenas dar seguimento às concepções elaboradas no Império.
Contra tudo isso, em uma situação de invisibilidade e sem receberem o apoio de políticas públicas, os indígenas mantiveram-se vivos e hoje surpreendem a opinião pública e as autoridades pela extensão de sua presença e pela intensidade de sua luta por direitos. O censo de 2000 do IBGE veio mostrar que existem índios na maioria dos municípios do nordeste e que estão presentes em todos os estados, mesmo nas capitais. O critério jurídico hoje reconhecido internacionalmente para dizer quem é (ou não é) índio está pautado de modo exclusivo na auto-identificação (identificação feita pelas próprias coletividades). Cabe aos Estados-Nacionais garantir, através de políticas específicas de assistência, o bem estar das populações que se reconhecem enquanto descendentes das populações autóctones.

No mundo contemporâneo para nada conta mais a imitação dos padrões europeus nem uma pureza (artificialmente destilada). O tempo da vergonha e da clandestinidade para essas culturas passou, não há mais necessidade de referenciar-se a padrões exteriores (assimilacionistas ou românticos). As culturas indígenas não são uma expressão do passado, mas resultam da produção dos indígenas atuais. Os quais agora podem enfim manifestar com liberdade e de maneira publica a sua condição étnica, assumindo abertamente seus valores e suas tradições. Tudo isso para nós, ao invés de acarretar perplexidades e desconfianças, deve constituir-se em um fator de orgulho, pois concorre para a ampliação e fortalecimento da maravilhosa diversidade cultural brasileira.

Ariano Suassuna agora só falta entrar em cena
Publicado em 20.04.2007
Secretário anunciou oficialmente a equipe e seu projeto, ainda sem data para começar

OLÍVIA MINDÊLO
Passado o momento de nomeações e estruturação física da Secretaria de Cultura do Estado, instalada no prédio da Fundarpe, o secretário Ariano Suassuna se reuniu com a imprensa, na tarde da última quarta, para divulgar oficialmente a lista completa dos assessores e artistas que compõem a equipe da sua atual gestão. Aproveitou também para reforçar a filosofia de sua política à frente da secretaria, quase um slogan de luta: “Valorização em defesa da cultura brasileira”.
Para isso, reiterou que vai lançar mão de aulas-espetáculos didáticas, que vão itinerar em lona de circo pela Região Metropolitana e pelo interior de Pernambuco, como principal ferramenta do projeto de sua secretaria, intitulado A onça malhada, a favela e o arraial – Novo projeto cultural Pernambuco-Brasil. A data para o início das apresentações, no entanto, não foi anunciada na ocasião, porque ainda não está definida. O orçamento da iniciativa, em construção, e o roteiro detalhado do espetáculo, que tem assinatura do escritor e vai mesclar música, canto, teatro e dança, também não foram divulgados. O que se sabe é que o grupo dos 13 artistas da equipe foi batizado de Arraial, em analogia ao arraial de resistência de Canudos. Sobre se a estética das aulas-espetáculos vai ser armorial, ele preferiu não rotular, chamando o trabalho que está dirigindo apenas de “cultura brasileira”.
Apesar de a sua gestão ter sido associada a uma marca de “nova era armorial”, Ariano Suassuna fez questão de responder que “A secretaria não foi criada para defender o Movimento Armorial, mas o fato de querer defender a cultura brasileira coincide com um dos objetivos do movimento”.
Os demais projetos da secretaria, como as oficinas, por exemplo, serão elaborados a partir das demandas da proposta central, que são as apresentações. Porém, ainda estão em fase de elaboração.
Secretário de Cultura convoca 13 artistas para sua equipe
Publicado em 20.04.2007
Desde que assumiu a Secretaria de Cultura, há quatro meses, Ariano Suassuna tem anunciado alguns nomes de sua equipe. Na coletiva de quarta, a lista completa foi comunicada: são seis músicos e cantores, dirigidos por Antônio Madureira, um diretor de teatro, Carlos Newton Júnior, e três bailarinos, coordenados por Maria Paula Costa Rêgo, do Grupo Grial de Dança, e pelo mestre Meia-noite (Gilson Santana), do Daruê Malungo.
Violonista, compositor, musicista e pesquisador, Antônio Madureira dirige Eltony Pereira (flauta e picollo), Reginaldo Maciel (percussão), o austríaco Sebastian Poch (violoncelo), Sérgio Ferraz (violino), Isaar (canto) e Edinaldo Cosmo de Santana (canto), que Ariano dá a alcunha de “príncipe”. Já Maria Paula e Meia-noite coreografam os bailarinos Ana Paula de Santana, do Daruê, Pedro Salustiano, filho do mestre Salustiano, e Jaflis Nascimento, filho de Nascimento do Passo.
Além deles, formam o time de diretores, assessores e coordenadores mais sete pessoas: Amaro Ferraz (diretor de projetos), Diana Moura Barbosa (coordenadora de projetos especiais), Suely Perruci (diretora administrativa), Josafá Mota (diretor de apoio cultural), Daniela de Lacerda (coordenadora de comunicação), Simone Monteiro (assessora) e Marlene Nascimento (assistente de gabinete). A secretária-adjunta é Adriana Victor. Toda a equipe, incluindo artistas, é assalariada. (O.M.)

Cenário da tragédia do vôo 1907 está intacto; veja fotos
daFolhaOnline

Seis meses após o maior acidente da aviação brasileira, os destroços do Boeing 737-800 da Gol permanecem no local da queda, na floresta amazônica em Mato Grosso, revela Folha de S.Paulo.

"Parte do cenário da tragédia que matou 154 pessoas e catalisou a crise aérea pela qual passa o país continua intacta. São restos de poltronas, remédios, peças da fuselagem, roupas, calçados e querosene", descreve o texto. O Boeing caiu em 29 de setembro de 2006, depois de bater no ar contra um Legacy da Embraer comprado pela empresa norte-americana ExcelAire. Enquanto o Boeing caiu na terra indígena Capoto-Jarinã, em Peixoto de Azevedo (741 km de Cuiabá) --matando todos que estavam a bordo--, o Legacy conseguiu pousar.

"Para chegar ao local, são três horas de barco e outras três horas por uma trilha aberta por índios logo após o acidente, a partir da margem do rio Jarinã."

"Quando chega ao local, venta, tem nuvens e escurece. Depois que voltamos, abre [o tempo]. Toda vez que vamos fica assim. Já vi espírito vagando lá", afirmou o cacique caiapó Bedjay Txucarramãe, 62, à Folha. Os caiapós ajudaram a resgatar os corpos.

A reportagem constatou que a natureza se encarregou de acabar com o mau cheiro no local, mas não com os destroços que, para os índios, poluem o ambiente (só para assinantes). "Nós precisamos que o dono tire logo os pedaços do avião para não ter problema com o pessoal meu. Isso aí está poluindo a água. Contamina peixe. Pessoa come e adoece", afirmou o cacique.

Outro lado

Procurada pela Folha, a Gol diz que os destroços ainda não foram recolhidos porque o Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), ligado à FAB (Força Aérea Brasileira), não concluiu seus trabalhos.

Contudo, a Aeronáutica diz, em nota, que os trabalhos foram, sim, finalizados.



22/04/2007 - 00h49
"Bebê sereia" peruana já caminha e faz aulas de balé
Publicidade
da Efe, em Lima

A menina peruana Milagros Cerrón, que nasceu com a "síndrome de sereia" ou "sirenomelia"-- com suas pernas unidas por uma membrana como uma cauda de peixe --, já caminha e dá seus primeiros passos de balé.

Dez meses depois da operação para separação de suas pernas, a menina de quase três anos de idade vai todos os dias à escola, acompanhada por uma enfermeira, e participa com entusiasmo de suas lições de balé.

O doutor Luis Rubio, que comandou a equipe médica que separou suas pernas, em junho de 2005, disse que ainda resta reconstruir seus quadris, genitais e aparelho urinário, afetados pela má-formação congênita.

Ela estará sob o cuidado do Hospital de la Solidariedad, em Lima, até cumprir 13 anos, quando se estima que as cirurgias pendentes poderão ter sido concluídas.

Os pais de Milagros, que se mudaram da cidade de Huancayo a Lima especialmente para o tratamento de sua filha, surpreenderam ao anunciar à imprensa que esperam seu segundo filho.

"A jovem mãe tem o temor natural que seu filho tenha alguma má-formação, mas a estatística aponta que isto é praticamente impossível", expressou Rubio.

Milagros tem um desenvolvimento mental de 90% para uma menina de sua idade, é muito ativa e sociável com seus companheiros de sala de aula e se mantém saudável, com permanente controle médico.

A menina vive neste hospital de Lima desde que uma reportagem jornalística revelou seu nascimento, em 2004, e que tinha sido abandonada por seus pais em Huancayo.

No entanto, dias após sua mudança a Lima, seus pais apareceram no hospital para atendê-la e apoiar sua recuperação.



22/04/2007 - 11h30
Evanescence "pára" garoa e arremata 25 mil em SP

DIÓGENES MUNIZ
da Folha Online

Quando a pianista, vocalista e líder da banda norte-americana Evanescence, Amy Lee, 25, entrou no palco do Parque Antártica, por volta das 21h do sábado (21), uma garoa fina e incômoda caía sobre zona oeste de São Paulo.

Após a primeira música, "Sweet Sacrifice", a chuva cessou. Até a última canção, "Your Star", 1 hora e 20 minutos depois, nada ficou entre o olhar vidrado de fãs, adolescentes em sua maioria, e os trejeitos de Amy --rodar a saia de tule bufante, jogar o punho fechado para o alto e balançar o cabelo para baixo e para trás.

Na terceira música e primeiro hit da noite, "Going Under", o público já estava seco --de tanto pular e gritar.

John LeCompt (guitarra), Terry Balsamo (guitarra), Tim McCord (baixo) e Rocky Gray (bateria) --também conhecidos como o resto da banda-- só ganharam mais atenção que Amy após a apresentação, quando retornaram ao palco para arremessar palhetas e baquetas ao público. Amy, com alguns quilos a mais do que no início do sucesso, não voltou. Precisava?

Para os fãs da neogótica, sim. "O show foi curto demais", disse Célia Oliveira, 18, camiseta preta. Caroline Petrasso, 20, saia de tule rosa, concordou. "E também faltou 'Missing', que é linda". Outra reclamação do público foi o som. Baixo para quem estava na pista, baixíssimo para quem estava na arquibancada.

"Não acredito que têm tantos de vocês aqui", disse Amy. Na verdade, havia 10 mil a menos do que o esperado ali. Dos 35 mil ingressos à venda, 25 mil vingaram. Quem chegou em cima da hora conseguiu ver tudo a poucos metros dos que acamparam durante uma semana fora do estádio.

Menos da metade da pista foi ocupada. Nas arquibancadas, também não houve lotação. O ingresso para a pista (R$ 140) saiu por até $ 60 na mão de cambistas.

"Tive que escolher entre este e o do Aerosmith, sendo que os dois eram caros", explicou o estudante universitário João Maria, 22, que viajou de Caraguatatuba a São Paulo, após escolher o Evanescence.

Surpresas, só dos fãs

Se a banda seguiu à risca o programado (
confira set list), os fãs revelaram surpresas. Em uma comunidade dedicada Evanescence no Orkut ("Evanescence Brazil", com "z" mesmo), adolescentes planejaram alguns "happenings".

Um deles era soltar bexigas brancas durante a música "Lithium", quando Amy vai ao piano. A outra surpresa era cantar "Missing" entre "Lacrymosa" e "My Immortal", forçando assim a banda a ir no embalo.

A primeira movimentação foi escassa, mas existiu. Alguns levaram camisinhas cheias de ar em vez de bexigas. Quanto ao plano de fazer 25 mil pessoas cantarem juntas uma mesma música, sem acompanhamento instrumental, nada feito.

Na platéia, a camiseta preta, traje obrigatório de metaleiros, ganhou o revestimento plástico das capas de chuva (R$ 6), sobretudo nos shows de abertura. Dois grupos prepararam a entrada do Evanescence: os brasileiros do Luxúria e os uruguaios do Silicon Fly.

Os colegas latino-americanos já tinham sido vaiados nos shows anteriores no Brasil, em Curitiba e Porto Alegre. Em São Paulo, tentaram se proteger gritando "Evanescence" entre uma música e outra, o que funcionou. No começo.

Após quinze minutos de apresentação, o vocalista Guillermo Savoi arriscou: "Vocês querem uma última?". "Nãããããoo", respondeu o público, aos gritos e com as mãos. Os uruguaios tocaram assim mesmo. Vaias.

Eles ainda terão uma chance de se redimir, amanhã, no Rio, quando o Evanescence fecha a passagem da "EV World Tour" pelo país.

21/04/2007 - 19h03
Tom Cavalcante faz homenagem a Nair Bello; leia texto do humorista

da Folha Online

O humorista Tom Cavalcante vai dedicar seu programa deste sábado (21) à atriz Nair Bello, que morreu na última terça-feira (17). Ele fará a homenagem a sua amiga no encerramento da atração, que vai ao ar às 23h na Record. O texto que fechará o programa foi escrito pelo próprio Tom, segundo a Record.

Na Globo, o "Zorra Total" também faz uma homenagem a Nair Bello, exibindo um quadro inédito de Santinha, personagem da atriz no humorístico. O esquete, o último gravado pela atriz, é uma sátira ao "Dança dos Famosos", apresentado no "Domingão do Faustão", e conta com a participação especial de Lucimara Parisi. O "Zorra Total" é exibido aos sábados, logo após "Paraíso Tropical".

Confira a íntegra da mensagem de Tom Cavalcante.

"Minha querida Nair,

O Show do Tom desta noite é dedicado a você. Um registro rápido, simples, mas que vai carregado de um sentimento profundo de amor e agradecimento.

"Vamos sentir falta da telespectadora ilustre do Show do Tom e dos comentários tão generosos da mestra. Deus é quem sabe do nosso destino. Não é verdade, querida? Mas, se pudéssemos tê-la, Nair, por muito, muito mais tempo, seria show, amiga!

E aquela gargalhada com sabor de quero mais, e aquele sorriso. O palavrão sonoramente agradável. Esses traços da sua inconfundível personalidade ficarão marcados naqueles que continuarão te amando.

Que no exemplo da nossa estrela Nair, possamos refletir sobre a figura de quem, com tanta dignidade, dedicou-se a manter acesa a chama de humor de que tantos necessitamos.

É de pé, meu país, que se aplaude uma estrela.

Bravo, Nair"



24/04/2007 - 09h25
Recife inaugura 11º Cine PE e acentua regionalismo
FERNANDA CRANCIANINOV
da Folha Online

Na noite da última segunda-feira, a cidade de Recife (PE) inaugurou oficialmente a 11ª edição do Festival do Audiovisual Cine PE (que acontece entre os dias 23 e 29 de abril) consolidando o cenário cultural da região.


Sergio Lobo/Divulgação
Vilar e Suassuna apresentaram longa
Vilar e Suassuna apresentaram longa
Na abertura, um bloco de frevo animou o Cine-Teatro Guararapes, que contou com a participação massiva do público --que pagou R$ 8 pelo ingresso. Em seguida, foram exibidos dois curtas e dois longas, abrindo oficialmente a competição.

O curta "O Jumento Santo e a Cidade que se Acabou Antes" trouxe, em tom de paródia, uma reinterpretarão bíblica, em que Adão e Eva são tentados por uma lagartixa e comem o fruto proibido, um caju.

A noite foi encerrada em clima de homenagem ao escritor Ariano Suassuna com o documentário "O Senhor do Castelo" (fora de competição), do paraibano Marcus Villar. O filme traz Suassuna --nascido no Estado da Paraíba e autor de "Auto da Compadecida"-- contando incidentes marcantes de sua vida e falando sobre sua vocação pela literatura. O escritor, que estava presente na platéia, arrancou risadas do público ao defender com paixão a língua portuguesa.
Indignado, Suassuna cita como exemplos da dominação estrangeiras em nossa cultura o centro de comércio "Macambira's center", cujo nome traz uma planta de regiões secas do nordeste, e até mesmo o nome de Chico Science --cantor e compositor recifense que morreu em 1997.

"Eu gosto do que você tem de Chico, mas não gosto do que você tem de Science", disse o escritor ao falar de sua relação com o músico. "Quando você se chamar Chico Ciência eu subo no palco com você."

Na maratona cinematográfica serão exibidos 51 filmes --sendo 22 curtas-metragens, 16 longas e 13 vídeos digitais. Os vencedores da mostra competitiva receberão o troféu "Calunga" --boneca carregada pela sacerdotisa dos cultos afro-brasileiros durante a apresentação do maracatu. A estatueta tem criação da artista plástica Juliana Notari.

Confira a programação dos filmes:






Segunda-Feira, 23/4

Curtas-Metragens
-"O Jumento Santo e a Cidade que se Acabou Antes" (Dir.: William Paiva e Leonardo Domingues, 11', PE)
-"Shenberguianas" (Dir.: Sérgio Oliveira e William Capela, 20', PE)

Longas-Metragens
-"Atabaques Nzinga" (Dir. Otávio Bezerra, 84' , RJ)

Terça-Feira, 24/4

Curtas-Metragens
-"Eu Sou Como um Polvo" (Dir.: Sávio Leite, 5', MG)
-"Pixinguinha e a Velha Guarda do Samba" (Dir.: Ricardo Dias e Thomaz Farkas, 10', SP)

Longas-Metragens
-"O Mundo em Duas Voltas" (Dir.: David Schürmann, 92', SP)
-"O Côco, a Roda, o Pnêu e o Farol" (Dir. Mariana Fortes, 80', PE).

Quarta-Feira, 25/4

Curtas-Metragens
-"Além do Café, Petróleo e Diamantes" (Dir.: Marcelo Trotta, 15', SP)
-"Stela do Patrocínio - A Mulher que Falava Coisas" (Dir.: Márcio de Andrade, 14', RJ)
-"Ruínas" (Dir. Emílio Gallo, 13', RJ)
-"A Peste da Janice" (Dir.: Rafael Figueiredo, 15', RS)
-"Vida Maria" (Dir. Márcio Ramos, 8', CE)
-"A Chuva nos Telhados Antigos" (Dir.:Rafael Conde, 15', MG)
-"Sete Minutos" (Dir.: Cavi Borges, Julio Pecly e Paulo Silva, 7', RJ)
-"Dia de Folga" (Dir.: André Carvalheira, 13', DF)

Longas-Metragens
-"5 Frações de uma Quase História" (Dir.: Amando Mendz, Cris Azzi, Cristiano Abud, Guilherme Fiúza, Lucas Gontijo e Thales Bahia, 95', MG)

Quinta-Feira, 26/4

Curtas-Metragens
-"Rapsódia do Absurdo" (Dir.: Cláudia Nunes, 15', GO)
-"Chorume" (Dir.: Hélio Vilela Nunes, 21', SP)
-"Na Corda Bamba" (Dir.: Marcos Buccini, 5', PE)
-"Até o Sol Raiá" (Dir.: Fernando Jorge e Leandro Amorim, 11', PE)
-"Beijo de Sal" (Dir.:Felipe Gamarano Barbosa, 18', RJ)
-"Cabaceiras" (Dir.:Ana Bárbara Ramos, 16', PB)
-"Noite de Sexta, Manhã de Sábado" (Dir.: Kleber Mendonça, 15', PE)

Longas-Metragens
-"Os 12 Trabalhos" (Dir. Ricardo Elias, 90',SP)

Sexta-Feira, 27/4

Curtas-Metragens
-"O Sapo" (Dir.: Adolfo Sarkis, 17', RJ))
-"A Encomenda do Bicho Medonho" (Dir.: André da Costa Pinto, 16', PB)
-"Joyce" (Dir.: Caroline Leone, 14', SP)
-"No Rastro do Camaleão" (Dir.: Eric Laurence, 17', PE)
-"O Homem-Livro" (Dir.: Anna Azevedo, 14', RJ)
-"Einsenstein" (Dir.: Leonardo Lacca, Raul Lena e Tião, 19', PE)

Longas-Metragens
-"Não Por Acaso" (Dir. Philippe Barcinsky, 96', SP)

Sábado, 28/4

Curtas-Metragens
-"Fúria" (Dir.: Marcelo Laffitte, 18', RJ)
-"O Homem" (Dir.: René Sampaio, 11', DF)
-"Identidades em Trânsito" (Dir.: Márcio Câmara e Daniele Ellery, 19', CE)
-"Trecho" (Dir.:Helvécio Martins e Clarissa Campolina, 16', MG)
-"Yansan" (Dir.:Carlos Eduardo Nogueira, 17', SP)

Longas-Metragens
-"Cão Sem Dono" (Dir.: Beto Brant e Renato Ciasca , 82', SP)

Domingo, 29/4

Cerimônia de Encerramento e Premiação
-Premiação dos Vídeos
-Premiação dos Curtas-Metragens
-Premiação dos Longas-Metragens / Homenagem a Fernando Solanas
-Show de Antônio Nóbrega

A literatura como purificação
Publicado em 24.04.2007
Jornalista pernambucano radicado em São Paulo, Fernando Portela lança hoje o segundo livro de contos O homem dentro de um cão

É velha aquela história que divide o mundo entre os que acreditam em alguma força suprema chamada Inspiração (com maiúscula, é claro), e os que que não perdem tempo invocando fadinhas e deuses e se debruçam num trabalho árduo. Aconteça o que acontecer. O jornalista e escritor Fernando Portela é um orgulhoso membro desse segundo grupo. Tanto é que em 2001 ele se dedicou a uma empreitada estranha, para dizermos o mínimo.
Muitas vezes cansado da rotina da redação de jornal onde trabalhava, ele acabava deixando de lado uma das grandes paixões da sua vida, o fazer ficcional. Durante seis meses, Portela fez a promessa que escreveria uma página de ficção por dia - no mínimo -, não importando as circunstâncias. O autor se revestiu do pragmatismo que rege o jornalismo: A página tem de rodar, mesmo que o repórter tenha a “maldição da página branca” à sua frente, custe o que custar.
“Comigo não tem isso de página em branco, não. Tudo é uma questão de esforço. O curioso é que nos dias mais difíceis, mais atarefados, eu tinha muito mais assunto para escrever. Eu sempre tive muito interesse em orientalismo, em budismo, e acredito que é possível ‘limpar’ a mente. Escrever para mim era um exercício de limpeza dos meus pensamentos”, lembrou.
O primeiro livro desse esforço - Allegro - saiu há três anos, com 91 textos. O segundo, O homem dentro de um cão, foi lançado no começo deste ano. A idéia do autor é que sua declaração de liberdade em relação à inspiração (e a qualquer outra mitologoia cercando o ato de escrever) resulte numa “trilogia”, em que o importante não é o tema, mas a motivação.
Radicado em São Paulo, o pernambucano retorna hoje ao recife para lançar O homem dentro de um cão. A noite de autógrafos rola, às 19h, no Bar Seu Cafofa. Com selo da editora Terceiro Nome, o romance foi um das escolhidas pelo júri do Programa de Ação Cultural (PAC), da Secretaria Estadual de Cultura de São Paulo no final do ano passado. “Este programa(PAC) é um estímulo muito importante para a política cultural brasileira e traz a possibilidade real de um autor vir a publicar sua obra”, explica.
Apesar de ter se especializado em publicidade, é estreita a relação de Portela com o jornalismo. Ele foi um dos fundadores do Jornal da tarde, de São Paulo, onde trabalhou boa parte de sua vida como jornalista, sempre que possível procurando levar um pouco da liberdade literária para o rigor da imprensa. Em outro período, foi responsável pela comunicação do grupo Fiat. Embora tenha atuado por toda a vida como jornalista, Portela se deu conta, em determinado momento, que a sua essência é a ficção.
“Desde pequeno, eu gostava de inventar história, numa época em que escrever era uma atividade muito mais marginal do que hoje em dia. Primeiro fui estudar psicologia, depois publicidade. Com o golpe militar de 64, as coisas ficaram delicadas no Recife, então fui para o Rio de Janeiro, depois para São Paulo, onde participei das inúmeras edições de número ‘zero’ do Jornal da tarde”, lembrou.
Esse contato inicial com a imprensa foi uma armadilha: de um estágio na redação de jornal, para a vida inteira fazendo reportagens. Dessa experiência, Portela leva uma máxima que inverte a lógica de muitos aspirantes à literatura: “A redação de jornal não é um lugar legal para quem quer ser escritor. O texto do jornal prende muito você. Nas minhas matérias, eu não podia criar histórias, tinha de ser coerente com a realidade. Acho que para quem deseja criar, a publicidade é um exercício bem mais interessante”, sugere.
Atualmente, Portela resolveu deixar de vez a redação de jornal. Trabalha, atualmente, como escritor profissional, em livros que exigem mais uma vez a precisão do repórter. Seu mais recente trabalho nessa área é uma obra em que desvenda os mitos cercando os fatos históricos.
Ainda assim, sua grande paixão continua sendo a literatura propriamente dita, bem longe das restrições jornalísticas que acompanharam a sua vida. Por isso, talvez, muitas das histórias de O homem dentro de um cão comecem banais e explodam, no final da trama, para longe de qualquer amarra da realidade.
RÚSSIA
Morre Boris Yeltsin
Publicado em 24.04.2007
Conhecido por ter decretado o fim da URSS e pelas bebedeiras em público, ex-presidente russo morreu ontem, aos 76 anos, de problemas cardíacos

MOSCOU – O primeiro presidente russo do período pós-comunismo, Boris Yeltsin (1991-1999), morreu ontem aos 76 anos, de insuficiência cardíaca, às 15h45 locais (8h45 em Brasília) no Hospital Clínico Central, em Moscou. Yeltsin foi o primeiro líder eleito da história da Rússia, na primeira metade da década passada, e o único a deixar o cargo por vontade própria, em 1999. Sua biografia foi marcada pelo fim do regime soviético, que ele ajudou a enterrar, e por sua paixão pela vodca, que embalou bebedeiras que divertiam o então presidente americano Bill Clinton e os jornalistas que cobriam o Kremlin.
Seu sucessor e ex-protegido, o presidente Vladimir Putin, decretou luto oficial amanhã, quando Yeltsin será sepultado num cemitério moscovita. O ex-presidente vivia recolhido a uma casa de campo próxima à capital, desfrutando de uma fortuna de valor desconhecido e cuja origem não será jamais apurada, em razão da imunidade judicial que Putin lhe deu, ao receber dele a presidência, em dezembro de 1999, antes da conclusão de seu segundo mandato.
Yeltsin foi um produto da política de seu antecessor, Mikhail Gorbachev, que assumiu a direção da União Soviética, em 1985, lançando dois conceitos reformistas: o de perestroika (“reconstrução”, a reestruturação econômica) e o de glasnost (“transparência”, a abertura política). Yeltsin passou dois mandatos à frente da Rússia. Jurou levar o país rumo à democracia, mas governou como um déspota, impedindo o nascimento de uma sociedade civil. No fim, sua presidência acabou sendo quase tão totalitária quanto a dinastia comunista.
Seu governo também não conseguiu criar na Rússia um estado de direito e os anos Yeltsin foram marcados pela violência. Cresceram as taxas de mortalidade e de suicídio, o desemprego, a inflação, a atividade da máfia e os crimes violentos. Lentamente a Rússia foi entregue a uma geração de empresários, conhecidos como oligarcas, criminosos protegidos pelo Kremlin, que colocaram no próprio bolso boa parte do erário público.
Yeltsin foi um líder de contradições desmedidas. Em 1991, durante uma tentativa de golpe de comunistas linha-dura, subiu no alto de um tanque e discursou para uma multidão arrebatada pelo patriotismo, salvando o emprego do então presidente e aliado Mikhail Gorbachev. Entretanto, em 1993, quando a oposição desafiou sua autoridade, mandou os mesmos tanques bombardearem o prédio do Parlamento.
Como presidente, libertou a maioria das repúblicas soviéticas, criando 15 novas nações que mudaram a geopolítica regional, mas invadiu a Chechênia quando os rebeldes reivindicaram o mesmo direito separatista.
Criticou duramente Gorbachev por não avançar nas reformas e por nomear comunistas conservadores para cargos-chave. No entanto, concentrou poder em suas mãos e acabou indicando como sucessor seu último primeiro-ministro, o ex-chefe da KGB Vladimir Putin.
Com a saúde debilitada, ele jamais cumpriu a promessa de construir uma nação estável. Seus programas econômicos fracassaram – a terapia de choque, de 1991, e as privatizações, de 1992 a 1994. As desvalorizações do rublo deixaram os russos sem suas economias. Em 1998, veio golpe de misericórdia, quando o país sofreu um ataque especulativo que o levou à ruína. Yeltsin sucumbiu junto com a Rússia.
Durante oito anos, manteve-se no poder de maneira histriônica e, muitas vezes, vulgar. Costumava aparecer em entrevistas coletivas embriagado – uma delas, na cúpula russo-americana de 1995, levou o ex-presidente americano Bill Clinton às gargalhadas. Outros gestos comuns em sua cartilha eram beliscar as secretárias e deixar ministros de Estado esperando no aeroporto enquanto cochilava no avião. Certa vez, Bill Clinton definiu da seguinte forma o fenômeno Yeltsin ao então secretário de Estado Strobe Talbott: “Não podemos nos esquecer de que Yeltsin bêbado é melhor do que muitos outros sóbrios”.
24/04/2007 | 20h03  |  Universo Achado planeta habitável fora do sistema solar
PARIS – Cientistas de três centros de pesquisa – um francês, um português e outro suiço – descobriram o primeiro planeta fora do sistema solar que, por suas características de temperatura e composição, pode ser habitado. Oestudo será divulgado nesta quinta-feira na revista "Astronomy and Astrophysics".

De acordo com o Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS) da França, o planeta está a 20,5 anos-luz da Terra, na constelação de Libra, e gira em volta de uma pequena estrela vermelha, a Gl581, uma das mais próximas de nosso sistema solar. Segundo os modelos usados pelos pesquisadores – que trabalharam em conjunto com o Observatório de Genebra e o Centro de Astronomia de Lisboa -, a temperatura se mantém entre 0 e 40 graus Celsius, compatível com a presença de água líquida na superfície.

O planeta parece ter uma constituição rochosa, coberta por um oceano, como na Terra, e leva 13 dias para percorres sua órbita entorno da estrela Gl581. A gravidade na sua superfície é 2,2 vezes maior que a da Terra, a sua massa é cinco vezes superior à do nosso planeta e o seu raio é 1,5 vez maior.

Diante das condições de temperatura e da proximidade do sistema solar, a equipe que fez a descoberta considera que se trata de um planeta apto a receber missões dedicadas a investigação de vida extraterrestre, em particular com o satélite de Darwin, que tem lançamento previsto pela Agência Espacial Européia para 2015.

Os mesmos pesquisadores já haviam localizado em 2005 outro planeta do sistema dessa mesma estrela, que percorre sua órbita em 5,4 dias. Agora, também perceberam um terceiro, que leva 84 dias para dar uma volta em torno da Gl581.

Para fazer estas descobertas, os astrônomos utilizaram um aparelho de última geração, instalado no telescópio gigante de La Silla, em pleno deserto do Atacama, no Chile.

Da Agência Globo/EFE

Mundo Livre canta o pesadelo americano
Publicado em 28.04.2007
A banda gravou ontem a canção composta por Fred Zeroquatro sobre o massacre na Virginia Tech

JOSÉ TELES
“O sol nunca se põe nos infinitos domínios da Microsoft/Todos sabemos que é uma só inocente e singela corrida/tudo é seguro nos liberais domínios da tecnolife/mas por qualquer razão estranha eu só consigo ver o macrosangue/escorrendo dos dedos tétricos que preparam nossos castos bigmacs”. Esta é a primeira estrofe de Cho Seung Song (réquiem para virtuais vítimas e atiradores), valsinha, com toque lisérgicos, que a Mundo Livre S/A gravou ontem, no estúdio Muzak, e disponibiliza a partir de hoje no site do selo Monstro Discos (www.monstrodiscos.com.br).
Música vérité, canção-reportagem, Cho Seung Song foi composta uma semana depois da tragédia na escola Virginia tech, em Blacksburg, EUA, onde o sul-coreano Cho Seung-Hui matou 32 pessoas, e suicidou-se: “Eu estava em casa, trabalhando umas harmonias no cavaquinho. Dei uma parada e entrei na internet para checar e-mail. A notícia que mais se via era sobre o assunto. Fui lendo mais sobre o caso, pegando mais coisas sobre a personalidade do cara, e saiu a música que é, um pouco, a continuação de Caiu a ficha, feita depois do World Trade Center”, diz Fred Zeroquatro, que a princípio quis gravar a Cho Seung Song com a banda e alguns convidados,: “A música tem uma vocação épica, pede cordas, mas quando a gente foi ensaiar, a banda ficou tão empolgada, apesar de a música ser trabalhosa, não ter harmonias muito simples, que decidimos gravar só a gente mesmo”, conta Fred Zeroquatro.
Ele sempre viu com fascínio o lado oculto do sonho americano. Adolescente, foi fissurado nos livros de Caryl Chessman, assaltante, estuprador, também conhecido como O Bandido da Luz Vermelha. Chessman passou 12 anos em San Quentin, até ser executado, na cadeira elétrica, em 1960. Enquanto isso, tornou-se um self-made man ao contrário, atuando como seu próprio advogado e escrevendo livros autobiográficos que venderam milhões de exemplares mundo afora: “Chessman acabou virando uma espécie de ícone americano. Este tipo de massacre acontece esporadicamente em outros países, mas é comum nos Estados Unidos, onde há esta lógica da competitividade, da fama. Também a coisa de todo cidadão poder se armar. Uma sociedade que vive no medo. Um fenômeno que geralmente acontece em lugares pequenos, fechados”, comenta Zeroquatro.
Ele é igualmente fascinado pelo poder da internet: “Acho sensacional este instrumento, enquanto a gente ainda pode usar livremente, uma forma tão rápida de se dialogar com as pessoas, no mundo inteiro. A gente botou Caiu a ficha no Uol e logo já estava com 54 mil downloads”, comenta Zeroquatro, que não pretende, ao menos por enquanto, lançar Cho Seung Song em CD, “A música tem muito a ver com a minha formação de jornalista, embora a letra não traga muita coisa racional. É uma maneira de expurgar fantasias, e tem também a ver um pouco com anti-psiquiatria”, explica.


30/04/2007 - 08h30
Homem mata 3 e é morto pela polícia em shopping nos EUA
da Folha Online

Duas pessoas morreram neste domingo em um shopping center de Kansas City depois que um assaltante abriu fogo no local, informou a polícia.

O criminoso fugia da polícia após assaltar e matar uma idosa. A violência teve início quando policiais foram até a casa da mulher, que não era vista havia dias, após serem avisados por familiares. Ela foi encontrada morta e seu carro havia desaparecido.

O veículo foi encontrado posteriormente quando o assaltante o abastecia em um posto de gasolina. O criminoso disparou contra a polícia, e um policial ficou ferido no braço.

Os policiais revidaram o fogo, quebrando um dos vidros do veículo do assaltante, que conseguiu fugir do local.




Cerca de 15 minutos mais tarde, ainda perseguido pelos policiais, ele abriu fogo dentro do estacionamento do shopping Ward Parkway, matando duas pessoas. Ao fugir para dentro do shopping, ele disparou novamente, deixando mais dois feridos.

A violência terminou quando a polícia matou o homem a tiros do lado de fora do prédio. "Foi um grande caos, era domingo e o shopping estava lotado", disse o sargento Tony Sanders. O shopping, um dos principais da cidade, foi fechado após o tiroteio.

As identidades do criminoso e das vítimas não foram imediatamente divulgadas.

A funcionária do shopping Cassie Bradshaw, 19, fazia um intervalo no trabalho quando ouviu os tiros. Em seguida, colegas disseram ter visto um homem "atirando para todos os lados".

"A princípio, o som parecia ser de fogos de artifício, mas depois ficou mais e mais alto".

Uma outra testemunha contou à rede de TV CNN que ouviu "três ou quatro disparos" perto de uma loja de departamento, e que seu filho viu um homem no chão com sangue no rosto.

O ataque ocorre quase duas semanas após o ataque no Instituto Politécnico da Virgínia, onde um estudante matou 32 pessoas, e depois se matou, no pior massacre da história americana.

Cinema
Júri do Cine PE elege seus filmes favoritos
Publicado em 29.04.2007, às 22h45Do Jornal do Commercio
O longa paulistano Cão sem dono, de Beto Brant e Renato Ciasca, levou para casa o prêmio mais cobiçado do Cine PE, a categoria melhor longa-metragem. A 11ª edição do festival foi encerrada neste domingo, no Teatro Guararapes, numa noite sem grandes favoritos em meio aos longas da disputa.
Os 12 trabalhos, de Ricardo Elias, arrebatou o maior número de “calungas”, 5. Em segundo ficou Não por acaso, de Philippe Barcinsky, com 4. Os atores Leonardo Medeiros (Não por acaso) e Sidney Santiago (Os 12 trabalhos) dividiram a categoria “melhor ator”. Veterano, Medeiros foi ovacionado pelo público e agradeceu ressaltando “esse ainda eu não tinha”, referindo-se ao Troféu Calunga. O pernambucano O coco, a roda, o pneu e o farol, de Mariana Fortes, levou o troféu Gilberto Freyre, por ressaltar a música como elemento de miscigenação cultural.
Se nas categorias de longa-metragem não houve um grande favorito, com os curtas-metragens a história foi diferente: O cearense Vida Maria abocanhou 4 troféus Calunga, incluindo as categorias melhor curta-metragem e prêmio especial da crítica. O crítico de cinema do JC, Kléber Mendonça Filho, recebeu o prêmio de melhor direção, por Noite de sexta, manhã de sábado.
Exibido na última quinta-feira, o curta-metragem de Kléber Mendonça Filho toma emprestado o título do sucesso do The Specials Friday night, saturday morning para falar de amor à distância. “A minha motivação para realizar esse trabalho foi a percepção que, durante muito tempo na minha vida, eu vivia relações à distância”, explicou Kléber, que em junho levará Noite de sexta, manhã de sábado para o festival Huesca, na Espanha. Ovacionado na sua exibição na noite de quinta, o curta paraibano Cabaceiras, de Ana Bárbara Ramos, levou para casa o prêmio especial do público.
Este ano, a cerimônia foi transmitida, pela primeira vez, ao vivo pelo Canal Brasil. Após a premiação, o cantor Antônio Carlos Nóbrega se apresentou.

Santoro diz que está tentando ser adulto
Publicado em 28.04.2007, às 13h15
Parte do elenco de Não por acaso, durante a coletiva
Schneider Carpeggiani
Do Caderno C / JC
Na manhã deste sábado (28), no Recife Palace, QG do CinePE, rolou a coletiva de imprensa de Não por acaso, reunindo atores e produção do filme. O filme, dirigido por Philippe Barcinski, monopolizou a atenção da mídia por seu elenco estelar, encabeçado por Rodrigo Santoro. Na coletiva, Santoro lembrou da primeira vez que participou do CinePE, em 2001, com Bicho de sete cabeças. "Eu posso ver o amadurecimento que tive ao longo desse tempo, naquela época eu era muito mais menino. Agora, bem, estou tentando ser adulto", explicou.
Rodrigo Santoro, que iria conceder entrevistas individuais para os jornalistas, precisou ir para o aeroporto logo após a coletiva. De lá, seguiria para Fernando de Noronha. O diretor Barcinski lembrou que ficou muito entusiasmado com a recepção do público pernambucano, durante a exibição do filme na noite dessa sexta - "senti que a platéia embarcou mesmo na minha viagem".

Agora é a vez de Caetano Veloso
Publicado em 29.04.2007
Depois do furacão Chico, quem chega ao Recife é o mestre da polêmica, um artista que sempre cutuca a estética com inconformismo

JOSÉ TELES
Em 1967, Caetano Veloso era vaiado no palco onde acontecia o III Festival de MPB da TV Record, em São Paulo. O pivô dos apupos: as guitarras do conjunto Beat Boys, que o acompanharia em Alegria alegria. Há 30 anos, vaias, discussões, agora não restritas a um único palco, mas a vários, País afora. Caetano novamente cutucava a fera do conformismo estético com a vara curta da inquietação, apresentando com a Banda Black Rio a turnê Bicho baile show, rotulada de “alienada”, pelo incentivo à dança, num Brasil que transava a sério a abertura lenta e gradual do presidente Geisel.
Em 2007, mais uma vez a guitarra é centro de atenção na turnê do disco , que estréia amanhã no Recife. No entanto, a platéia não tem estranhado a fartura de decibéis e vem aceitando o rock de matizes indie, que é a base do novo show: “Por coincidência, está fazendo 40 anos que fui vaiado por causa das guitarras no festival da Record, mas até agora vem sendo muito bom. Fiz Brasília, e foi legal, um lugar grande, que dava para ficar de pé. Fiz o Circo Voador, que é um público mais afeito a rock. Mas fiz também o Viva Rio, uma casa dessas que tem mesa, onde as pessoas bebem, um público mais meia-idade, e também foi bom”, comenta o baiano, sobre a nova turnê, em entrevista por telefone.
, lançado no ano passado, é um dos discos de concepção mais simples de Caetano Veloso. É também um dos mais ousados e o que traz suas letras mais confessionais. Foi concebido em meio a um processo de separação e de adaptação a esta separação. Embora tenha uma das mais melancólicas e pungentes canções de todo repertório da MPB, Minhas lágrimas, é basicamente um disco de rock enérgico e nervoso. O acompanhamento resume-se ao essencial: Pedro Sá (guitarras), Ricardo Dias Gomes (baixo e piano Rhodes), Marcelo Callado (bateria) e Caetano Veloso, nos violões.
Certamente pelo fato de a guitarra soar acima do que normalmente se ouve em shows do cantor, a crítica acentuou o “rock” no repertório de . Porém o artista não vem fazendo MPB, nos moldes tradicionais, há quatro décadas.
Alguns do seus maiores sucessos nos anos 80 foram rock. Basta lembrar Podres poderes, ou Shy moon: “Escrevi uma vez que me sentia inseguro compondo em inglês, porque não tinha certeza de que o que escrevia era o exatamente o que queria dizer. Foram os ingleses que me incentivaram a cantar em inglês porque achavam boa a minha pronúncia, e também me levaram a me acompanhar ao violão, quando eu morava em Londres. Porque nas minhas gravações no Brasil, até então, eu também não me acompanhava. Mas ao fazer rock não sinto isso. Desde o tropicalismo que uso elementos do rock. Em uso mais, porém em A Foreign sound tem Nirvana, Elvis, a DNA, do movimento No Wave de Nova Iorque. Em Uns, tem Eclipse oculto, que é rock”, lembra.


“Eles querem se livrar do Brasil”
Publicado em 29.04.2007
Sempre polêmico, Caetano diz que a crítica nacional menospreza nomes como Ivete Sangalo que, na sua opinião, é superior a Madonna

Cê, o novo disco de Caetano Veloso, foi muito bem-recebido pela crítica americana. Mereceu espaços generosos no The New York Times, no Village Voice, na New Yorker, principais publicações dos EUA: “Fiquei um pouco surpreso porque pensei que este disco não teria uma boa receptividade nos Estados Unidos. Tempos atrás, um amigo me enviou umas observações de americanos sobre Noites do Norte. Eles gostaram do disco, mas criticaram Rock and Raul. Não sei bem se foi no My Space, sei que ele me mandou um link que caía na página. Eram comentários de pessoas que gostavam de mim, mas faziam ressalvas por eu estar cantando rock. Achavam que não combinava com a minha voz. Achei que eles não tinham entendido. Foi isto que me instigou a fazer ”, revela Caetano.
A pacífica aceitação por norte-americano de um sul-americano cantando rock, aponta ele, é um débito que se tem com o ex-Talking Heads, David Byrne: “Os ingleses hoje gostam dos Mutantes. Mas quando cheguei em Londres, que mostrava os discos dos tropicalistas, eles não gostavam. Consideram uma cópia malfeita dos Beatles. Preferiam que a gente cantasse bossa nova, samba, música mais brasileira. Foi David Byrne que mudou tudo isso. Ele teve uma visão crítica diferente, deu uma adiantada no mundo inglês. A própria maneira dele entender Tom Zé foi diferente, inclusive dos brasileiros. David Byrne levou a uma nova visão crítica da música brasileira no exterior”.
A guitarra acaba por levar a um questionamento do que é ou não MPB. Lembra Caetano que tem FM que toca MPB, mas que inclui o rock de Titãs ou Paralamas. Ou seja, divisões por compartimentos que se tornaram nebulosoas desde a época das primeiras vaias por causa das guitarras. O que não admite é o que chama de “folhismo”, apontando o alvo para uma crítica influenciada pelo que se faz na Folha de S. Paulo: “O folhismo é uma espécie de profissão de fé contra o que se faz de música brasileira”, dispara, exemplificando: “Quando fui a Londres para uma show naquela homenagem que fizeram ao tropicalismo, falava-se muito no Arctic Monkeys, que ouvi e adorei. Aqueles garotos cantam muito bem, tocam muito bem. Mas ao mesmo tempo, volto ao Brasil, compro discos de Roberta Sá, de Mariana Aydar, também maravilhosos, e não entendo porque o Folhateen não faz matéria com estas cantoras. O que está ali não é a verdade do jovem brasileiro. A música axé, por exemplo, onde tocar os jovens vão atrás, no Rio Grande do Sul, na Bahia, e se tocar em São Paulo uma imensa parte dos paulistas vai lá”.
Da axé, o assunto chega ao novo DVD de Ivete Sangalo, uma megaprodução comparável à de Madonna, Cristina Aguillera, grandes estrelas do pop internacional: “Não só a produção. Ivete é melhor cantora do que Madonna, infinitamente superior. Quero ver Madonna fazer o que fazem estas mulheres na Bahia, que cantam oito horas seguidas, mantendo o nível, a qualidade. Aí vem neguinho e derruba este trabalho com uma penada? Eu desprezo isto. Eles querem é se livrar do Brasil, que é um País grande, interessante e complicado”.
teve uma estréia de última hora no TIM Festival, no ano passado. Caetano diz que os 40 minutos que mostrou no palco do TIM Lab não reflete bem o show que, completo, tem uma hora a mais: “Canto todo o repertório do disco, mais Nine out of ten, London London, You don’t know me. E tem também músicas bem conhecidas, Sampa, Quando o samba é samba, Um tom”. O cenário de Helio Eichbauer é simples, reduzido ao essencial, um fundo roxo (cor da capa do disco), iluminação de Maneco Quinderé (o mesmo do show Carioca, de Chico Buarque).
Cê, show com Caetano Veloso e banda, amanhã e terça, 21h, no Teatro Guararapes (Centro de Convenções). Ingressos: platéia, R$100 (inteira), R$ 50 (meia). Balcão: R$ 80 (inteira) de R$ 40 (meia).

Papamóvel à prova de bala
Publicado em 29.04.2007
Enquanto estiver no Brasil, em maio, Bento XVI contará, além de um forte aparato de segurança, com dois veículos blindados para os deslocamentos que precisará fazer tanto em São Paulo como em Aparecida

JOÃO SORIMA NETO

Agência O Globo
SÃO PAULO – Nos quatro deslocamentos que o papa Bento XVI fará pela cidade com o papamóvel, o público vai ver um veículo que pode ser comparado a uma pequena fortaleza. Os dois papamóveis que serão trazidos do Vaticano para São Paulo são capazes de resistir a explosões de granada, tiros de fuzis e metralhadoras. Os vidros e a lataria do veículo são blindados.
Dentro do carro, o papa conta com sistema de ar condicionado e iluminação especial, que favorece a visão dos fiéis. Por isso, embora os vidros possam descer, na maior parte do tempo eles ficam fechados.
Para quem acompanhou os deslocamentos do então papa João Paulo II nas visitas ao Brasil, a mudança de veículo é radical. O papa polonês usou um Landau ano 1976 com teto solar, de onde acenava ao fiéis. Em outra ocasião, o veículo adaptado como papamóvel foi um Mercedes 608, uma espécie de microônibus, com uma carroceria feita pela empresa Caio. Os antigos papamóveis não tinham a preocupação com segurança dos atuais veículos papais.
Foi o atentado ao próprio João Paulo II, em plena Praça de São Pedro, em maio de 1981, que mudou a história desses carros. Os tiros foram disparados pelo turco Ali Agca quando o pontífice era saudado por uma multidão de 20 mil pessoas.
Agca, que disse fazer parte de um grupo terrorista de extrema direita, atirou exatamente no momento em que o papamóvel – então aberto – passava à sua frente.
Foi após esse episódio que os papamóveis passaram a ser blindados. Para garantir a integridade dos chefes da Igreja Católica.
A versão do papamóvel blindado foi utilizada pela primeira vez em junho de 2002, durante uma aparição de João Paulo II na Praça de São Pedro.
No caso de Bento XVI, existe um motivo a mais para a preocupação. O atual papa fez declarações que confrontaram a Igreja Católica e os muçulmanos.
Embora ele tenha se desculpado, a segurança do pontífice se preocupa com a possibilidade de um atentado por facções radicais.
Os atuais veículos são modelos Mercedes Benz ML 430 adaptados. Eles devem chegar ao país uma semana antes do papa. Um dos papamóveis será utilizado nos deslocamentos pela capital paulista e o outro em Aparecida.
Em São Paulo, o papamóvel será utilizado no dia 9 de maio, data da chegada do pontífice, no deslocamento de Bento XVI pela Avenida Tiradentes, do Campo de Marte ao Mosteiro de São Bento, onde ficará hospedado.
No dia seguinte, Bento XVI vai utilizar o veículo do Memorial da América Latina ao estádio do Pacaembu, onde se encontra com jovens.
Depois, novamente ele poderá ser visto no trajeto do Mosteiro de São Bento à Catedral da Sé e por fim até o Campo de Marte, de onde Bento XVI segue viagem para Aparecida.
Normalmente, o papamóvel é escoltado por policiais, o que deve acontecer também no Brasil. Além da escolta comum, guardas suíços que fazem a segurança do pontífice também acompanham o veículo. Na frente do carro há um escudo papal e nas laterais duas bandeiras são afixadas: uma do Vaticano e outra do país que está sendo visitado.
No esquema de segurança de Bento XVI em São Paulo estão os soldados das Forças Armadas, cuja principal função será controlar a multidão esperada nos eventos.
Além deles, policiais militares, civis e federais, guardas rodoviários e agentes de trânsito estão incluídos na proteção ao pontífice. A preocupação com atentados no Brasil também existe.
Segundo o coronel César Augusto Moura, porta-voz do Comando Militar do Sudeste (CMSE), durante todos os trajetos previstos na visita, membros da infantaria estabelecerão pontos de segurança estáticos, ou seja, locais guarnecidos por militares armados com fuzis e veículos Land Rovers equipados com metralhadoras pesadas antiaéreas.
O comboio de Bento XVI será acompanhado por pelo menos dois helicópteros Pantera e dois modelo Esquilo, do Comando de Aviação do Exército de Taubaté (Cavex). Esses helicópteros também acompanharão o papa quando ele usar um helicóptero C-34 Super Puma para se deslocar entre o Aeroporto de Guarulhos e o Campo de Marte. O espaço aéreo será fechado em corredores aéreos durante a passagem do papa.
Todo o aparato de segurança será coordenado por 60 comandantes das diversas forças na Sala de Comando e Controle do Comando Militar do Sudeste. A Polícia Civil e a Polícia Federal não divulgaram seus efetivos para o evento.
Eterna magia vai explorar a wicca
Publicado em 29.04.2007
GIULIANA REGINATTO

Agência Estado
Admirador da alma feminina, o diretor Carlos Manga não se cansa de dizer que “as mulheres estão a frente dos homens há muito tempo”. E foi por acreditar muito nisso que aceitou o convite para conduzir Eterna magia, a próxima novela das seis da Globo. “O projeto é feminino. E, mesmo se passando na década de 40, se mostra bem atual. Fiquei muito interessado”, conta. O argumento saiu, naturalmente, de uma mente feminina. Trata-se de Elizabeth Jhin, que com muita persistência conquistou espaço entre os rapazes da casa. Afinal, até então, Glória Perez é a única mulher a assinar novelas na emissora. Maria Adelaide, vale lembrar, também está por lá, mas nos últimos anos vem se dedicando exclusivamente à produção de minisséries.
Colaboradora da Globo há 15 anos, Elizabeth enfim conseguiu sair da sombra de outros novelistas. Antes, porém, teve de mostrar muito trabalho: foi parceira de Manoel Carlos três vezes – em Felicidade (1991), História de amor (1995) e Por amor (1997) – e também de Walter Negrão, Euclydes Marinho e Antonio Calmon. “Quando comecei a estudar a cultura celta, descobri que queria escrever alguma história que enfocasse o universo feminino. Aquele povo tinha um apreço enorme pela mulher e pela natureza, que eram para eles os elementos mais sagrados por gerarem a vida”, conta a autora.
Do universo celta, Elizabeth importou para seu texto a wicca, conhecida como a religião das bruxas. Na novela, só as mulheres são dotadas de poderes sobrenaturais. Entre as bruxinhas da história estão Maria Flor, Malu Mader e Eliane Giardini. “A figura da Deusa tem primordial importância entre os celtas. A wicca é uma das poucas religiões em que a mulher figura como destaque”, explica. O tom místico da trama se completa com os mistérios em torno de uma fábrica de essências, local que serve de pano de fundo para a história.
Como uma novela – sobretudo das seis – não sobrevive sem romances, Elizabeth tratou de caprichar no lirismo. “Malu e Maria Flor são irmãs e vão disputar o coração de um mesmo homem” adianta. O eleito é Conrado, personagem de Thiago Lacerda. Além dele, entram em cena Thiago Rodrigues, Cauã Reymond, Paulo José e Aracy Balabanian. “Estou muito feliz, nunca imaginei que logo na minha primeira novela eu teria um elenco deste quilate”, elogia autora.
Além de emplacar sua primeira novela-solo na Globo, Elizabeth conseguiu o aval para mostrar na TV uma região pouco explorada: o interior de Minas Gerais. Mais que fugir do tradicional eixo Rio-São Paulo, ela vai homenagear seu Estado natal. “A influência da cultura irlandesa não é muito marcante em Minas Gerais, por isso criei uma cidade fictícia: Serranias”, diz.
Um dos dilemas femininos mais atuais abordados pela trama é o eterno embate entre profissão e vida pessoal, drama da personagem de Malu Mader, a pianista Eva. “Ao contrário da irmã, que é simples, Eva faz o tipo intelectual, é sofisticada e fria, quer ser bem-sucedida e pouco se dedica às coisas do coração. A história dela provoca uma reflexão: até que ponto vale lutar por um amor? Não vou falar só sobre o amor entre homem e mulher, mas sobre relações de amor entre todas as pessoas.”
Mais uma novelista mineira mineira, Elizabeth Jhin se mudou para o Rio de Janeiro afim de estudar teatro na Uni-Rio. O professor Flávio de Campos recomendou que ela participasse da primeira Oficina de Roteiristas da Globo, em 1991. Nesse ano, foi escolhida para colaborar em Salomé, de Sérgio Marques e se tornou parceira de Manoel Carlos, com quem escreveu três novelas.
A última colaboração de Elizabeth Jhin na Globo havia sido em Começar de novo (2004), ao lado de Antonio Calmon. “Já me sinto pronta para caminhar sozinha há uns quatro anos. A chance, enfim, apareceu”, comemora a dramaturga.

01/05/2007 - 08h30
Obras de Andy Warhol recebem os maiores lances em leilões de arte
da Ansa, em Londres

Foi no estúdio The Factory ("A Fábrica") que Andy Warhol criou suas obras voltadas para as massas utilizando uma produção como a de cadeias de montagem. Apesar de a sua arte ser considerada comercial, o artista é agora dono de uma das obras mais caras do mundo, conquistando o topo com os mais altos lances em leilões de arte.


Reprodução
Obra de 1963 de Andy Warhol "Green Car Crash" bate recorde em leilão na Christie's
Obra de 1963 de Andy Warhol "Green Car Crash" bate recorde em leilão na Christie's
De acordo com uma reportagem do "Times", embora seus quadros não sejam únicos --no mundo, circulam cerca de 100 mil, quase todas reproduções realizadas pelos seus assistentes--, os colecionadores de arte ainda estão dispostos a pagar uma fortuna para ter um Warhol "original".

Em novembro do ano passado, o retrato gigantesco de Mao Tse Tung realizado pelo artista foi vendido pela Christie's por mais de US$ 17 milhões. A casa de leilão prevê bater esse último recorde quando, em maio, venderá uma outra obra de Warhol, "Green Car Crash" (1963), que pode chegar a US$ 35 milhões.

Os preços das obras reunidas dos quadros de Warhol se tornaram uma lenda no mundo da arte: segundo boatos, um xeique árabe teria desembolsado nada menos do que 1,5 bilhão de euros para comprar a coleção de obras do gênio da pop art.

Em Londres, no entanto, uma série de dez retratos de estrelas do mundo do esporte --entre os quais Pelé e Muhammad Ali-- será vendida por um preço inicial de 21 milhões de euros na casa de leilão Martin Summers Fine Art no dia 23 de maio.

Outra casa de arremates, a Bloomsbury Auctions, anunciou que, em breve, leiloará pinturas e desenhos do artista. "Virou moda. Existem muitas pessoas que hoje amam a sua arte", afirmou James Robinson da Martin Summers Fine Arte.
Rita Lee dá uma geral em sua carreira na caixa Biograffiti, com três DVDs dirigidos por Roberto de Oliveira, para a Biscoito Fino. A caixa reúne imagens de shows, programas de TV e depoimentos ao longo de quase quatro décadas de rebeldia, amor e rock´n´roll.O primeiro vídeo, Ovelha negra, destaca as origens de Rita, em sua São Paulo natal Fala de seus pais, visita seu antigo colégio Liceu Pasteur onde costumava horrorizar os menos avisados com sua irresistível tendência à iconoclastia, sem jamais perder a doçura. Dentre os números musicais, estão “Panis et circenses”, registrado em um programa de TV na década de 60 e imagens raras de Rita com a banda Tutti-Frutti “Mamãe Natureza” e “Pé-de-meia”. Recebe o amigo Caetano Veloso no rock jovem-guardista “Eu sou terrível”, de Roberto e Erasmo. Em shows do século XXI, sob a batuta de Roberto de Carvalho, Rita interpreta músicas do repertório dos Mutantes “Balada do louco”, “Top top”, Beatles “A hard day´s night” e hits de diversas fases de sua carreira, com direito a uma palinha da inédita “Eu sou do tempo”.  Este DVD traz o depoimento de Tom Zé.

Baila Comigo, o segundo DVD, enfatiza a vida na estrada. Rita fala sobre o prazer de compor, da sua afinidade com o público e de como surgiram algumas canções. A base do programa é o show realizado por Rita na Praia de Copacabana, no dia 20 de janeiro de 2007, data do padroeiro da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
Além dos sucessos “Orra meu”, “Flagra”, “Mania de você”, “Lança perfume”, “Saúde”, “Baila comigo”, “Papai me empresta o carro”, Rita homenageia os cariocas em “Valsa de uma cidade” de Ismael Neto, acompanhada por um coro de 180 mil pessoas. Neste DVD, está o registro de Rita Lee ao lado de João Gilberto, interpretando “Joujoux et Balagandans”, clássico de Lamartine Babo, gravado para um especial na TV Globo, no início dos anos 80. Há ainda o registro de Rita e Roberto gravando uma demo da nova canção “Dinheiro”, que tem tudo para transformar-se em um novo sucesso, em tempos de pouca grana e muita diversão.

O terceiro episódio, Cor de rosa choque aborda a relação de Rita com o universo feminino. Criada num ambiente onde ‘pra fazer rock tem que ter culhões’, Rita mostrou ser mais trangressora fazendo-o com ‘útero e ovários’. Ao que Rita, bem ao seu estilo, proclama: ‘toda mulher é maluca’.  A abençoada loucura feminina é tema de “Pagu”, “Todas as mulheres do mundo”, “Cor de rosa choque”, “Doce de pimenta” com participação de Elis Regina e “Luz del fuego” com Cássia Eller.
Há ainda imagens de Rita sobrevoando o Rio de Janeiro de helicóptero e momentos de sua apresentação no Morro da Urca, em novembro de 2006. Outros números musicais são “Erva venenosa” outra egressa da Jovem-Guarda “Doce vampiro”, “Bwana”, “Desculpe o auê”, “Baby” (com os Mutantes), “Amor e sexo” e a inédita “Tão”, além dos depoimentos de do filho Beto, da irmã Virginia e de Caetano Veloso – aquele que um dia profetizou Rita como a mais completa tradução da maior metrópole da América Sul.       
02/05/2007 - 13h09
Fotógrafa de celebridades causa polêmica ao retratar rainha Elizabeth 2ª
Publicidade
da Ansa, em Londres

Annie Leibovitz, autora de fotografias com algumas celebridades nuas, como John Lennon e Demi Moore, provocou polêmica ao retratar a rainha Elizabeth 2ª com roupas e de forma tradicional.

Em entrevista à BBC, o crítico do "Washington Post" Henry Allen, que teve acesso à foto, disse que a imagem "parece ter a personalidade de um busto de George Washington".

"Pergunto-me se não existiria uma fila de pessoas querendo fazer a mesma foto, com a mesma cadeira, a mesma roupa, talvez em um daqueles muros no qual você coloca o rosto no buraco", afirmou Allen.

A rainha aparece próxima a uma janela do palácio de Buckingham, na chamada White Drawing Room, com uma expressão serena e pensativa.

O crítico britânico Willian Feaver disse ter dado um "suspiro de alívio" pelo fato de Leibovitz ter optado "pela tradição".

Para o jornal "Daily Mirror", a fotografia foi influenciada pela imagem criada pela atriz Helen Mirren no filme "A Rainha".

O retrato foi comparado também com aquele da rainha mãe, feito por Cecil Beaton. Leibovitz, que se diz influenciada pelo trabalho de Beaton, concorda com essa leitura. "Agrada-me a tradição", disse a fotógrafa, que já retratou Whoopi Goldberg em um banho de leite.

» TEATRO II
Santa Isabel recebe A Pedra do Reino
Publicado em 10.05.2007
Dirigido por Antunes Filho, o espetáculo A Pedra do Reino, que estreou ano passado em São Paulo e consegue, em duas horas, condensar o romance de mais de 600 páginas, estará no Teatro de Santa Isabel de 24 a 27 deste mês, sempre às 20h. De acordo com a diretoria do teatro, o valor dos ingressos ainda não passado pela produção da montagem.
A Pedra do Reino foi recebida pela crítica como a peça que trouxe de volta “o velho” Antunes Filho, que deixava de lado suas tragéias e voltava a investir no universo brasileiro com sua força poética e as ironias que caracterizam sua direção (a pulso de ferro, reza a lenda).
Realizada pelo Grupo de Teatro Macunaíma e o Centro de Pesquisa Teatral (o famoso CPT), A pedra do reino é encenada em uma caixa preta totalmente nua, que remete à própria mente de Quaderna, que vai narrando a história e lembrando de sua própria vida. Preso por subversão pelo Estado Novo, o personagem vai alinhavando épocas-chave da política nacional, como a saga da Coluna Prestes, o cangaço, a Revolução de 30 e a Era Vargas.
Além de política, elementos da cultura do País, como artesanato, literatura de cordel, xilogravura (Samico, J. Borges e o próprio Ariano aí representados) são levados ao palco, além de elementos, à primeira vista, exteriores ao universo armorial, como o gênio de Picasso, Pancetti e Volpi e o cinema de Fellini. Ao vivo, o elenco vai tocando as canções que povoam o imaginário de Quaderna, interpretado pelo elogiado ator Lee Thalor.
Importante frisar que, além de se basear em Romance d"A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, (1971), Antunes Filho também bebeu da obra menos badalada História d"O Rei Degolado nas caatingas do Sertão: ao sol da onça Caetana, de 1976. (F.M.)















Nenhum comentário:

Postar um comentário