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sexta-feira, 14 de julho de 2017

Entrevista sobre Prince, the artist. Brazil (?)...


O que fez você, um escritor mais ligado ao jazz, querer escrever sobre Prince?
Eu acho que eu escrevi mais sobre jazz do que qualquer outro tipo de música, mas isso não reflete com precisão o que eu escuto, que é bem amplo em termos de estilos e períodos. Ainda lembro do dia em que ouvi o primeiro álbum do Prince, e era um tanto óbvio que ele ia ser um artista muito grande (se você entende o que quero dizer!). Mas talvez o que me remeta a certos músicos e se conecte com o jazz é uma espécie de liberdade 'improvisacional' que existe mesmo em uma música tão afiada quanto a das suas primeiras gravações.

anel que Prince usava muito...  ring Prince liked a lot!


Como foram seus contatos com ele? E o quão difícil (e útil para o livro) foi conversar com as pessoas ao seu redor dele?
Encontrei Prince duas vezes, mas não consegui muito do que você poderia chamar de útil do ponto de vista jornalístico. Assim que ele se via diante de uma pergunta direta, ia para outro lado. Mas era um cara legal, que ficava muito contente em falar sobre a música que ele amava. Seus músicos também não me ajudaram muito, alguns deles estavam obviamente seguindo instruções de não falar nada. Alguns, creio, ficaram ressentidos com o fato de que Prince tinha toda a atenção e eles não. E outros só queriam mesmo era me pregar peças.

As condições em que o Prince morreu (overdose de drogas) de alguma forma alteraram seu mito, ou apenas o reforçaram? Isso mudou suas opiniões sobre ele?
Ele tinha uma reputação como um artista limpo, que não se metia com drogas, e que parecia ser uma parte importante de quem ele era e do que ele fazia. Saber que esse não era o caso foi bem mais uma decepção do que choque para mim. Para mim foi algo pungente saber que ele estava com tanta dor, mas ainda assim determinado a compor e tocar como ele o fez.
Como você se sentiu com a morte do Prince?
Isso tudo fez com que sua morte parecesse a interrupção de algo, e não uma grande tragédia. A morte é sempre uma mistura do mítico e do banal e a sua certamente foi assim. Ela só apareceu nas manchetes como parte daquele ano aparentemente amaldiçoado (que provavelmente não pior do que qualquer outro ano) e a primeira reação foi “Oh, não!” e a segunda foi... não um alívio, mas uma pausa significativa em uma produção que parecia superar até mesmo a capacidade do fã mais apaixonado em acompanhá-la.
O que mais o surpreendeu com a reação geral, do público, e com a reação dos jovens ao falecimento de Prince?
Acho que ela me lembrou como eu sou velho e mostrou como duas gerações distintas de fãs, com formações musicais bastante diferentes, se formaram enquanto eu não estava realmente prestando atenção. Mas foi bom descobrir que eu poderia falar com alguém com idade inferior a 30 anos sobre algo de que gostávamos!Você acha que ficaremos surpresos com o que vai sair do arquivo musical de Prince?
Sim, e acho que se você escolher um gênero, do jazz baseado em bebop à música folclórica suave, Prince terá algo que caiba nesse gênero.
Agora a maior parte de seu trabalho clássico, para a Warner, está de volta ao streaming. O que você acha que a nova geração de ouvintes pode desfrutar e aprender com ele?
Eu acho que a melhor coisa que eles podem aprender é que a música pode ser puro prazer, sem muita necessidade de contextos intelectuais, estilos, personalidades ou qualquer outra coisa. Gosto de dizer aos meus alunos para não “estudar” a poesia, e sim lê-la. É assim que eu ouço Prince agora. Primeiro uma canção, depois outra, mais outra e então apenas ir seguindo. Essa é a única maneira de chegar perto da verdade do cara.
Você ainda pensa, como escreveu então, que Prince é um artista que não teve ou pouca influência teve no trabalho de outros artistas?
No sentido de que não há nenhum imitador convincente de Prince, sim, definitivamente. Mas, além disso, você tem que aceitar que Prince mudou a música e, portanto, ele teve uma influência sobre todos e sobre tudo, mesmo no modo como ouvimos a música. Pode levar mais dez anos para ouvir e apreciar tudo o que ele deixou, mas não se engane: sua morte foi uma parada completa. Os registros são importantes, mas tê-lo por perto era mais, e isso se foi.

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