Electra, filha de Agamenon e Clitemnestra, na mitologia grega, incita o irmão, Orestes, a matar a mãe porque
esta assassinou o pai deles, este assim o faz, mas a seguir é crivado por remorso. A morte simbólica de Dilma também não vai ser fácil
de ser digerida pelo Brasil. Talvez não seja nem assassinato, nos moldes de Julio Cesar, seja uma pena de
morte, ajuste de contas...
Lembremo-nos do vacilo da corte da Revolução Francesa para levar Maria Antonieta e Luiz XVI à guilhotina. O ritual é complicado e o luto é um processo complicado cujo desenvolvimento depende da estrutura psicológica de cada indivíduo. Dizia Freud que é mais fácil matar do que seguir com a culpa. São dias estranhos, caríssimos. Totem e Tabu, esse mal estar na nossa civilização. Vi muitos dos discursos, ontem, no senado. Como não lembrar da peça Júlio Cesar, de Shakespeare?
Lembremo-nos do vacilo da corte da Revolução Francesa para levar Maria Antonieta e Luiz XVI à guilhotina. O ritual é complicado e o luto é um processo complicado cujo desenvolvimento depende da estrutura psicológica de cada indivíduo. Dizia Freud que é mais fácil matar do que seguir com a culpa. São dias estranhos, caríssimos. Totem e Tabu, esse mal estar na nossa civilização. Vi muitos dos discursos, ontem, no senado. Como não lembrar da peça Júlio Cesar, de Shakespeare?
Electra e Orestes, em filme grego
Eis a versão do discurso de Antônio, diante do cadáver de Cesar, no funeral deste último (na peça de William Shakespeare):
"Amigos, romanos, cidadãos deem-me
seus ouvidos.
Marlon Brando, no papel de Antônio (momento do famoso discurso)
Vim para enterrar Cezar, não para
louvá-lo. O bem que se faz é enterrado com os nossos ossos, que seja assim
com Cezar.
O nobre Brutus disse a vocês que Cezar era
ambicioso. E se é verdade que era, a falta era muito grave, e Cezar pagou
por ela com a vida, aqui, pelas mãos de Brutus e dos outros. Pois Brutus é
um homem honrado, e assim são todos eles, todos homens honrados.
Venho para falar no funeral de Cezar.
Ele era meu amigo, fiel e justo comigo. Mas Brutus diz que ele era
ambicioso. E Brutus é um homem honrado.
Ele trouxe muitos prisioneiros para Roma
que, para serem libertados, encheram os cofres de Roma. Isto parecia uma
atitude ambiciosa de Cezar? Quando os pobres sofriam Cezar chorava. Ora a
ambição torna as pessoas duras e sem compaixão. Entretanto, Brutus diz que
Cezar era ambicioso. E Brutus é um homem honrado.
Vocês todos viram que na festa do
Lupercal, eu, por três vezes, ofereci-lhe uma coroa real, a qual ele por
três vezes recusou. Isto era ambição? Mas Brutus diz que ele era
ambicioso, e Brutus, todos sabemos, é um homem honrado. Eu não falo
aqui para discordar do que Brutus falou.
Mas eu tenho que falar daquilo que eu
sei. Vocês todos já o amaram e tinham razões para amá-lo. Qual a razão que
os impede agora de homenageá-lo na morte?"
Neste momento Marco Antônio faz uma pausa
no discurso, e as pessoas do povo começam a refletir sobre o que ele
disse, e a questionar se Cezar tinha afinal merecido a morte que teve.
Passado este interlúdio retorna
Marco Antônio a falar:
"Ontem, a palavra de Cezar seria
capaz de enfrentar o mundo, agora, jaz aqui morta. Ah! Se eu estivesse
disposto a levar os seus corações e mentes para o motim e a violência, eu
falaria mal de Brutus e de Cassius, os quais, como sabem, são homens
honrados. Não vou falar mal deles.
Prefiro falar mal do morto. Prefiro
falar mal de mim e de vocês do que destes homens honrados. Mas, eis aqui,
um pergaminho com o selo de Cezar. Eu o achei no seu armário. É o seu
testamento. Quando os pobres lerem o seu testamento (porque, perdoem-me,
eu não pretendo lê-lo), e eles se arrojarão para beijar os ferimentos de
Cezar, e molhar seus lenços no seu sagrado sangue."
O povo reclama de Marco Antônio e exige que
ele o leia.
"Tenham paciência amigos, mas eu não
devo lê-lo. Vocês não são de madeira ou de ferro, e sim humanos. E, sendo
humanos, ao ouvir o testamento de Cezar vão se inflamar, ficarão furiosos.
É melhor que vocês não saibam que são os herdeiros de Cezar! Pois se
souberem... o que vai acontecer? Então vocês vão me obrigar a ler o
testamento de Cezar? Então façam um círculo em volta do corpo e deixem-me
mostrar-lhes Cézar morto, aquele que escreveu este testamento.
Cidadãos. Se vocês têm lágrimas, preparem-se
para soltá-las. Vocês todos conhecem este manto. Vejam, foi neste lugar
que a faca de Cassius penetrou. Através deste outro rasgão, Brutus, tão
querido de Cezar, enfiou a sua faca, e, quando ele arrancou a sua maldita
arma do ferimento, vejam como o sangue de Cezar escorreu.
E Brutus, como vocês sabem, era o anjo de
Cezar. Oh! Deuses, como Cezar o amava. O golpe de Brutus foi, de todos o
mais brutal e o mais perverso. Pois, quando o nobre Cezar viu que Brutus o
apunhalava, a ingratidão, mais que a força do braço traidor, parou seu
coração.
Oh! Que queda brutal
meus concidadãos. Então eu e vocês e todos nós também tombamos, enquanto
esta sanguinária traição florescia sobre nós.
Sim, agora vocês choram. Percebo que
sentem um pouco de piedade por ele. Boas almas.
Choram ao ver o manto do nosso Cezar
despedaçado.
Bons amigos, queridos amigos, não
quero estimular a revolta de vocês. Aqueles que praticaram este ato são
honrados. Quais queixas e interesses particulares os levaram a fazer o que
fizeram, não sei. Mas são sábios e honrados e tenho certeza que
apresentarão a vocês as suas razões.
Eu não vim para roubar seus corações.
Eu não sou um bom orador como Brutus. Sou um homem simples e direto, que
amo os meus amigos."
Seguem-se novamente comentários das
pessoas, já agora lamentando o assassinato e condenando os assassinos.
Volta Marco Antônio:
"Aqui está o testamento, com o selo
de Cezar. A cada cidadão ele deixou 75 dracmas. Mais, para vocês ele
deixou seus bens. Seus sítios neste lado do Tibre, com suas árvores, seu
pomar, para vocês e para os herdeiros de vocês e para sempre.
Este era Cezar. Quando aparecerá outro
como ele?"
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