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segunda-feira, 30 de maio de 2016

O Fantasma da Ópera



                                     
por Moisés  Monteiro de Melo Neto

No romance O Fantasma da Ópera, de Gaston Leroux (Ediouro, RJ, 2005, 254 p.), encontramos um homem misterioso que espalhava terror pelas catacumbas e corredores da ópera de Paris. Quando lançou o “Fantasma” em 1910, Leroux acreditava que seu corpo era habitado por um ser “espectral”, que ele não conhecia bem, insinuando que este romance seria uma “reportagem”. Vários ingredientes pululam neste romantismo tardio francês que já ganhou 18 versões para cinema e 4 para o teatro (3 musicais). O triângulo amoroso Erik (fantasma, anjo da música, uma caveira que dorme num caixão de defunto e faz coisas inverossímeis), Christine (cantora, filha de violinista, acredita em anjos, consegue sucesso com ajuda de Erik, por quem sente repulsa) e Raoul de Chagny (visconde, seu irmão, conde, quer impedir sua união com a heroína): um jogo com poucas cenas ao ar livre.
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 Foi aqui que assisti a este musical, no Majestic, New York





CRISTINE DAAÉ é a jovem cantora lírica que ao substituir a já aclamada Carlotta num importante recital na Ópera de Paris, impressiona a todos e se revela o grande triunfo da noite. A jovem acredita que o seu sucesso é obra do “Anjo da Música”, uma voz que a visita todos os dias em seu camarim para dar-lhe aulas de canto.


Brega, mas envolvente...



Enquanto isso, os novos diretores da Ópera de Paris, Armand Moncharmin e Friman Richard, recebem de seus predecessores um livro de regulamentos da casa que inclui estranhas exigências atribuídas a um tal “Fantasma da Ópera”; entre elas, extravagantes e caras necessidades financeiras. Imaginando se tratar de uma brincadeira, os Srs. Moncharmin e Richard resolvem ignorar todos os avisos que recebem para manter os caprichos do Fantasma.

A partir daí, eles se envolvem numa sequência de trágicos acontecimentos, entre os quais o estranho rapto de Christine. Torturado pela dor do amor não correspondido e pelo abandono, o Fantasma se revela uma criatura assustadora.

Com grande habilidade na construção do suspense. Gaston Leroux mistura acontecimentos reais e ficção para criar um ambiente realista e dotar o seu romance de caráter investigativo.

O Fantasma da Ópera, que em pouco tempo se tornaria sua principal obra, foi fonte de inspiração para diversas versões cinematográficas e se tornou mais conhecida por meio da adaptação de Andrew Lloyd Webber para o que viria a ser um dos mais famosos musicais da Broadway. Assisti à versão norte-americana, e4m New York,  e fiquei impressionado com a técnica.

Em 2004, a versão cinematográfica da obra de Webber estreou nos EUA e em 2005, nas telas brasileiras sem público e com críticas negativas. Paradoxalmente é o musical mais caro produzido para os palcos de São Paulo, tendo estreado em 21/05/2005 no Teatro Abril, com ingressos entre 65 e 200 reais. O Webber já foi montado em 48 países!

Giry é a personagem que serve como intermediária ao fantasma e é porteira da ópera. Quer ver sua filha imperatriz, é o que lhe prometeu o fantasma, que já ajudara Lola Montez, a bailarina, a entrar para nobreza. Os diretores de missionários (Poligny e Debienne) e os novos (Richard e Mouncharmin) negociam com o fantasma através dela. Há o misterioso persa que leva Raoul ao fantasma, há golpes teatrais como: o sumiço de Christine diante dos olhos da plateia, a queda do lustre.

O fantasma não tem pátria e sua mãe comprou-lhe a primeira máscara. Seu pai o rejeitou e ele compõe uma ópera “Don Juan Triunfante”, que enfeitiça quem a ouve. Christine é prisioneira por 15 dias. Ele cobra-lhe higiene matinal. Passeiam à noite pelo Bois de Bologne. Ele destrói a voz da diva Carlota, que atrapalhava o estrelato de Christine.



Na montagem do “Fausto” ela é Margarida. Na cena em que pede aos anjos que a carreguem, é carregada. Pânico geral. Consternação, até entrarem ricos preconceituosos que lhe vetavam ascensão social.

Christine vai a um cemitério próximo ao mar. Quer visitar o túmulo do pai sobre a neve, sob a lua, em clima gótico Erik toca o violino do morto e Raoul tenta roubar a cena. Há uma misteriosa rosa deixada pelo fantasma, que vence a luta. Christine volta ao hotel, Raoul desmaia.

Sob a lua etérea da ópera, do cemitério, das catacumbas, Erik age. Mexe-se com destreza e é vítima do amor. Anda com capa, máscara, chapéu. Tem um cavalo branco, roubado dos da ópera, cujo nome é César.

Metáforas em excesso, como o sapo que sai da garganta de Carlota no seu clímax do “Fausto”, rebuscam um texto que propõe instantes terríveis e que parecem intermináveis, deixando a sensação de medo. Mas, quem tem medo de fantasma? Seria o este personagem em si, apenas uma metáfora? Quem eram aquelas garotinhas da ópera que tomavam cerveja, copinhos de cassis e rum. O que faziam antes que o toque da sineta as chamasse à cena? Podemos quase sentir o seu bafejo. Elas temiam, pensavam em fugir? Não ousavam. A pobre Christine é uma espécie de Wendy às avessas. E o caráter de Erick, sua inverossimilhança é patente. A fantasia é marcada como num palco. O prédio da ópera, com mais de oito andares, é um chamariz para leitores/espectadores hipnotizados por um cenário de sonho/pesadelo. Conseguirá nossa Cinderela terminar feliz ao lado do seu noivo (por um dia, ela ganhou um beijo no teto da ópera, sob a mira dos olhos de fogo de Erik, que tudo espiava, desta vez dor entre a lira da estátua de Apolo, sobre o prédio).

Bruxaria? Heresia? O quarto dele é vermelho e negro. As paredes dos seus aposentos, forradas de caros tecidos. Ele desfruta de um lago, ele parece maléfico, ele é assassino, é “feio”, o que quer da jovem “honrada” (virgem)? Ele a faz atravessar espelhos (metáfora). Um baile de máscaras o monstro circula: é a morte vermelha pressionando e dividindo o primeiro amor do mocinho Raul na festa que precede o carnaval.

O final do romance segue com empolgação quando Christine Daaé é raptada para a catacumba do fantasma. Raoul e o persa vão tentar salvá-la e terminam em um alçapão que o fantasma Erik usa como câmara de torturas. Ela aceita casar-se com o “monstro”, porém este, comovido com suas sinceras lágrimas, solta-a com a condição que ela use sempre a aliança dele, mesmo quando case com Raoul (o que aconteceu). Pede que o enterre quando ele morrer. Quem conta o final da história de Erik é o persa. Erik era tão feio que foi rejeitado até pela própria mãe (que nunca o beijara, o primeiro beijo, na testa, ele receberá de Christine, nos subterrâneos da ópera de Paris, que ele, com seus dons, ajudou a construir. Vemos aqui o avesso de Quasímodo, ou, um arremedo do romance de Hugo, “O Corcunda de Notre Dame”). Ainda jovem fugira e aprendera a ser arquiteto e ilusionista, planejou e supervisionou a construção de palácios no Oriente médio, foi então que conheceu o persa, que o salvou quando um poderoso queria assassiná-lo para manter um segredo de construção. Ao chegar em Paris participou das obras da Ópera e em suas entranhas alojou-se até a morte dramática.

Trata-se de um libelo do Romantismo tardio (1910), agonizante, este...Fantôme de l´opéra!


GASTON LEROUX nasceu em Paris, em 1868. Após a morte de seu pai, trabalhou como correspondente no jornal Le Matin. Publicou o primeiro livro em 1903, mas foi com o sucesso de O mistério da casa amarela, de 1907, que decidiu deixar o jornalismo para se dedicar somente ao romance. No entanto, sua prática em reportagem lhe permitiu criar em seus livros uma atmosfera de grande verossimilhança através do uso de fatos reais, “documentos” e “depoimentos”. A sua principal obra, O Fantasma da Ópera, foi publicada em 1910 e sua primeira adaptação de sucesso para o cinema, em 1925, um clássico do cinema mudo, contou com a colaboração do autor. Gaston Leroux faleceu em 1927, em Nice.


             

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Análise da peça BENTO TEIXEIRA, de Moisés Monteiro de Melo Neto, dia 21 de maio, na Livraria Jaqueira, Recife, às 17h


Bento era judeu, autor da primeira obra do Barroco na Literatura do Brasil, o poema épico Prosopopeia. Foi preso pela Inquisição por práticas judaicas. Assassinou a esposa, Felipa Raposo, uma dentre os que o denunciaram. A peça de Moisés Neto traça um perfil psicológico do escritor.


10 MANDAMENTOS PARA BEM-VIVER NA TERRA DOS PAPAGAIOS


  1. É preciso saber dar presentes com generosidade e sem parcimônia, porque os gentios que lá vivem encantam-se com qualquer coisa, trocando sua amizade por um guizo e sua alma por umas contas.


  2. Quando aparecer alguma dificuldade, mesmo que seja de simples solução, é preciso fazer alarde, espetáculo e pompa, pois nesta terra mais vale o colorido do vidro que a virtude do remédio.


  3. As gentes da Terra dos Papagaios são muito crentes e de fácil convencimento. Por isso, têm em alta conta os feiticeiros, os falsos profetas e vai a coisa a tanto que não há patranheiro que lá não enriqueça e prospere. E assim é, senhor, que por serem tão crédulos aqueles gentios, pode-se-lhes mentir sem parcimônia nem medo de castigo.


  4. É aquela terra onde tudo está à venda e não há nada que não se possa comprar, seja água ou madeira, cocos ou macacos. Mas o que mais lá se vende são homens, que trocam-se por qualquer mercadoria e são comprados com as mais diversas moedas.


  5. Desde o primeiro, são os funcionários daquela terra um tanto madraços e preguiçosos, e, se na frente de seus superiores parecem retos, quando esses lhes dão as costas, revelam-se muito astutos e só nos atendem se lhes damos algo em troca. Portanto, senhor conde, se fordes para lá não se esqueça de ser generoso com eles, pois lá as portas não são abertas com chaves de ferro, mas com moedas de prata.


  6. Naquela terra de barganhas fazem muito sucesso e não há quem resista a um pequeno regalo. Por isso, é preciso dar sempre um afago aos que podem comprar, pois entre dois mercadores, naquela terra não se escolhe o mais honesto, mas o que oferece mais mimos.


  7. Naquele pedaço de mundo, senhor conde, não se deve confiar em ninguém, pois se no sábado nos juram eterna fidelidade, no domingo nos enfiam uma espada pela garganta. A verdade é que lá tudo se rege pela conveniência, e sendo preciso, troca-se de bandeira como as mulheres trocam de pano em dia de regra.


  8. Na terra que se chama dos Papagaios, cada um cuida de si e Deus que cuide de todos, pois pouco se faz por um irmão, nada por um primo e menos coisa nenhuma por um amigo, de modo que cada um só quer saber do seu nariz e, se alguém faz algo por outrem, é a troco de paga ou medo.


  9. Naquelas paragens, quando se alevantam alguns, o melhor modo de quietá-los é dar-lhes emprego ou título, porque os daquela terra muito prezam serem chamados de senhores e não há um que troque honradez por honraria.


  10. E o resumo de meu entendimento é que naquela terra de fomes tantas e lei tão pouca, quem não come é comido.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

INÚTIL A CHUVA sobe ao palco do Teatro de Santa Isabel: 15 de maio de 2016

por moisesmonteirodemeloneto



Imaginem barco de dez metros de comprimento  no palco do meu querido Teatro de Santa Isabel, Recife, às margens do rio Capibaribe, perto da Capela Dourada, bem ali, na praça da República, tão neoclássica, mas que serve de base para a escultura representando Augusto dos Anjos, que Abelardo da Hora fez. Cito Abelardo porque a peça que vou comentar trata de arte e de uma espécie de poesia que se entrelaça com uma lógica bem peculiar. Falo de “Inútil a chuva”, da companhia Armazém, do Rio de Janeiro. 
Ah! como é bom assistir a uma apresentação artística deste quilate.
Eles já vieram várias vezes ao Recife. Os vi e me satisfiz sempre, com eles. O recurso cênico do pessoal da Armazém é ao mesmo tempo prático e sugestivo. O texto bastante instigante é feito para quem já é traquejado com jogos linguísticos e tem certo conhecimento das possibilidades do texto para cena. Às vezes me lembrava de Woody Allen, aquele humor amargo, ou mesmo de certo tipo de dramaturgia que mistura TV, teatro e cinema. Esse  novo espetáculo tem como eixo principal a metadiscussão (risos e sisos: digamos assim, certo?) sobre arte.  Já na primeira cena somos convidados a apreciar, com um crítico nos explicando (ou até fazendo uma superinterpretação, no sentido mais ou menos cruel do termo literário, o primeiro de um conjunto de oito quadros impactantes, num crescendo; o tempo é bem controlado nessa encenação; já a iluminação, a cargo do eficiente e poético Maneco Quinderé, nos mostra, ou pelo menos sugere bem, o que seria o mundo e a expressão deste mundo de acordo com certa mundivisão, do misterioso personagem central, que me lembrou muito um amigo meu, Marco Hanois, cineasta, artista plástico notável, que na peça não aparece, mas que é muito bem sugerido, mas principalmente ele está ali através da sua pintura, que a gente não vê, mas espalha-se pela cena de maneira notável. Trata-se da pintura.

O enigmático sumiço de um pintor, a carta de despedida (suicídio?); a discussão sobre o que seria a arte em si.  A sina do autor, meio Van Gogh, meio Fernando Pessoa. A intertextualidade, com Hamlet, que o texto sugere sobre um dos filhos, que tenta resgatar a veia artística do pai (“Ah! Se essa carne sólida, tão sólida, se dissipasse e se fundisse com o orvalho...”). Temos também essa louvável discussão sobre as relações familiares, como cada membro lida com o “desaparecimento” do pai, do marido. Dois filhos e uma filha; homossexualismo em nuances entre o escracho e discreto, se é que isso é possível. Jogo de interesses, pequenos escândalos, o eminente suicídio da jovem fêmea. Os quadros vão se superpondo em velocidade sacolejante. As pinturas do artista começam a ganhar vida com o primeiro quadro “Verão em família” (que vai se repetir no final, numa espécie de eterno retorno freudiano), e vão se interligando uns aos outros em um encadeamento não causal. Paulo de Moraes, que dirige a peça e assina o texto com o filho Jopa Moraes desenvolveu uma dramaturgia, que tem muito a ver com o american way of life, como o pensamento de São Paulo e uma parte menor do Rio de Janeiro, mas na essência, o que temos é um texto inteligente,  mesmo se desconstruirmos as piadas infames que permeiam seu desenvolvimento (o episódio em que se sugere a mais estranha interpretação do momento em que Jesus Cristo anda sobre as águas, Uau! Não foi fácil engolir aquela). Encontros e desencontros da atual cena teatral brasileira: trama fragmentada e de elegante estrutura. Diegese requintada, onde cada elemento cênico exerce sua função de modo satisfatório e profícuo. Mãe  e filhos, a problemática do pai. A arte e  a vida entrelaçando-se num projeto teatral bom. A interpretação dos atores, numa sincronia justa, vai do grande momento a deslizes perdoáveis. Adorei ter encontrado meus alunos do Curso de Interpretação Teatral, do SESC Piedade. Com beijos e abraços nos meus amados. 
Ah! Sim. A Companhia Armazém é patrocinada pela Petrobrás. Houve um discurso, vindo o som amplificado dos bastidores, contra o fim do Ministério da Cultura.

Inútil a Chuva

Conceição nos Bastidores a morte e a morte do glamoroso Cauby.


Aconteceu algo triste e mágico, Cauby Peixoto morreu ontem à noite, aos 85 anos, no Hospital Sancta Maggiore, no Itaim Bibi, na zona sul de São Paulo, cidade que esse carioca amava. Encantou-se, com o perdão até do trocadilho. Estava internado desde 9 de maio. 




Uma lenda viva; próximo a minha casa, no Recife, até uns dez anos atrás, havia um apartamento na Rua do Riachuelo, que ele frequentava e o vi, certa vez, saindo do edifício em direção ao carro, e seus fãs seguindo-o como em cortejo. Inesquecível, dedicado, um dos bambas. Deus o tenha. Faz falta gente assim, mitos, circulando entre nós, vivos, neste planeta

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Sobre Dilma, Freud, Shakespeare, Electra e Júlio Cesar

Electra, filha de Agamenon e Clitemnestra, na mitologia grega, incita o irmão, Orestes, a matar a mãe porque esta assassinou o pai deles, este assim o faz, mas a seguir é  crivado por remorso. A morte simbólica de Dilma também não vai ser fácil de ser digerida pelo Brasil. Talvez não seja nem assassinato, nos moldes de Julio Cesar, seja uma pena de morte, ajuste de contas... 
Lembremo-nos do vacilo da corte da Revolução Francesa para levar Maria Antonieta e Luiz XVI à guilhotina. O ritual é complicado e o luto é um processo complicado cujo desenvolvimento depende da estrutura psicológica de cada indivíduo. Dizia Freud que é mais fácil matar do que seguir com a culpa. São dias estranhos, caríssimos. Totem e Tabu, esse mal estar na nossa civilização. Vi muitos dos discursos, ontem, no senado. Como não lembrar da peça Júlio Cesar, de Shakespeare?



Electra e Orestes, em filme grego



Eis a versão do discurso de Antônio, diante do cadáver de Cesar, no funeral deste último (na peça de William Shakespeare):
"Amigos, romanos, cidadãos deem-me seus ouvidos.


Discurso de Marco António em Júlio César de Shakespeare

Marlon Brando, no papel de Antônio (momento do famoso discurso)



Vim para enterrar Cezar, não para louvá-lo. O bem que se faz é enterrado com os nossos ossos, que seja assim com Cezar.
O nobre Brutus disse a vocês que Cezar era ambicioso. E se é verdade que era, a falta era muito grave, e Cezar pagou por ela com a vida, aqui, pelas mãos de Brutus e dos outros. Pois Brutus é um homem honrado, e assim são todos eles, todos homens honrados.
Venho para falar no funeral de Cezar. Ele era meu amigo, fiel e justo comigo. Mas Brutus diz que ele era ambicioso. E Brutus é um homem honrado. 
Ele trouxe muitos prisioneiros para Roma que, para serem libertados, encheram os cofres de Roma. Isto parecia uma atitude ambiciosa de Cezar? Quando os pobres sofriam Cezar chorava. Ora a ambição torna as pessoas duras e sem compaixão. Entretanto, Brutus diz que Cezar era ambicioso. E Brutus é um homem honrado. 
Vocês todos viram que na festa do Lupercal, eu, por três vezes, ofereci-lhe uma coroa real, a qual ele por três vezes recusou. Isto era ambição? Mas Brutus diz que ele era ambicioso, e Brutus, todos sabemos, é um homem honrado. Eu não falo aqui para discordar do que Brutus falou.
Mas eu tenho que falar daquilo que eu sei. Vocês todos já o amaram e tinham razões para amá-lo. Qual a razão que os impede agora de homenageá-lo na morte?" 
Neste momento Marco Antônio faz uma pausa no discurso, e as pessoas do povo começam a refletir sobre o que ele disse, e a questionar se Cezar tinha afinal merecido a morte que teve.
Passado este interlúdio retorna Marco Antônio a falar:
"Ontem, a palavra de Cezar seria capaz de enfrentar o mundo, agora, jaz aqui morta. Ah! Se eu estivesse disposto a levar os seus corações e mentes para o motim e a violência, eu falaria mal de Brutus e de Cassius, os quais, como sabem, são homens honrados. Não vou falar mal deles.
Prefiro falar mal do morto. Prefiro falar mal de mim e de vocês do que destes homens honrados. Mas, eis aqui, um pergaminho com o selo de Cezar. Eu o achei no seu armário. É o seu testamento. Quando os pobres lerem o seu testamento (porque, perdoem-me, eu não pretendo lê-lo), e eles se arrojarão para beijar os ferimentos de Cezar, e molhar seus lenços no seu sagrado sangue." 
O povo reclama de Marco Antônio e exige que ele o leia. 
"Tenham paciência amigos, mas eu não devo lê-lo. Vocês não são de madeira ou de ferro, e sim humanos. E, sendo humanos, ao ouvir o testamento de Cezar vão se inflamar, ficarão furiosos. É melhor que vocês não saibam que são os herdeiros de Cezar! Pois se souberem... o que vai acontecer? Então vocês vão me obrigar a ler o testamento de Cezar? Então façam um círculo em volta do corpo e deixem-me mostrar-lhes Cézar morto, aquele que escreveu este testamento. 
Cidadãos. Se vocês têm lágrimas, preparem-se para soltá-las. Vocês todos conhecem este manto. Vejam, foi neste lugar que a faca de Cassius penetrou. Através deste outro rasgão, Brutus, tão querido de Cezar, enfiou a sua faca, e, quando ele arrancou a sua maldita arma do ferimento, vejam como o sangue de Cezar escorreu. 
E Brutus, como vocês sabem, era o anjo de Cezar. Oh! Deuses, como Cezar o amava. O golpe de Brutus foi, de todos o mais brutal e o mais perverso. Pois, quando o nobre Cezar viu que Brutus o apunhalava, a ingratidão, mais que a força do braço traidor, parou seu coração.
Oh! Que queda brutal meus concidadãos. Então eu e vocês e todos nós também tombamos, enquanto esta sanguinária traição florescia sobre nós. 
Sim, agora vocês choram. Percebo que sentem um pouco de piedade por ele. Boas almas.
Choram ao ver o manto do nosso Cezar despedaçado.
Bons amigos, queridos amigos, não quero estimular a revolta de vocês. Aqueles que praticaram este ato são honrados. Quais queixas e interesses particulares os levaram a fazer o que fizeram, não sei. Mas são sábios e honrados e tenho certeza que apresentarão a vocês as suas razões.
Eu não vim para roubar seus corações. Eu não sou um bom orador como Brutus. Sou um homem simples e direto, que amo os meus amigos." 
Seguem-se novamente comentários das pessoas, já agora lamentando o assassinato e condenando os assassinos.
Volta Marco Antônio:
"Aqui está o testamento, com o selo de Cezar. A cada cidadão ele deixou 75 dracmas. Mais, para vocês ele deixou seus bens. Seus sítios neste lado do Tibre, com suas árvores, seu pomar, para vocês e para os herdeiros de vocês e para sempre.
Este era Cezar. Quando aparecerá outro como ele?"

Ou em outra TRADUÇÃO:
Marco António:
Amigos, compatriotas, escutai-me! Venho para sepultar César, não para elogiá-lo. O mal que os homens fazem sobrevive-lhes. O bem costuma ser sepultado com os seus ossos. Que seja assim com César. O ilustre Brutus disse que César era ambicioso. Se assim foi, tratava-se de uma grave falta, e ele pagou, gravemente, pela ambição. Com a autorização de Brutus, que é um homem honrado, como também o são os demais, venho falar-vos no funeral de César. Era meu amigo, sempre leal e justo comigo. Mas Brutus diz que era ambicioso, e Brutus é um homem honrado. Muitos cativos trouxe para Roma cujos resgates encheram os cofres públicos. Era isso ambição? Se os pobres se lamentavam, César chorava. A ambição devia ser mais dura. Contudo, Brutus disse que era ambicioso. E Brutus é um homem honrado. Todos vós vistes, nas Lupercais apresentei-lhe, por três vezes, uma coroa real. E por três vezes a recusou. Era isto ambição? Contudo, Brutus disse que era ambicioso e ele é um homem honrado. Não desaprovo as palavras de Brutus! Mas estou aqui para dizer o que sei! Todos o amastes alguma vez, e não sem uma razão. Que razão, então, vos impede de chorá-lo? Ah, julgamento! Deves cobiçar os irracionais, porque os homens perderam a razão. Perdoai! O meu coração está ali, junto de César, e tenho de deter-me até que retorne a mim.
Povo de Roma:
Tem muita razão no que diz.
Penso que se cometeu uma grande injustiça com César. Terá sido assim? Temo que venha outro pior para o lugar dele.
Ouviram o que ele disse? Não aceitou a coroa, portanto não era ambicioso.
Se isso se comprovar, a alguém lhe pesará a consciência.
Não há em Roma ninguém mais nobre que António. Escutemo-lo. Dispõe-se a falar.
Tem os olhos avermelhados pelas lágrimas.
Marco António:
Ontem a palavra de César teria feito tremer o mundo. Hoje jaz na terra e não há ninguém que o reverencie. Senhores! Se eu quisesse incitar à rebelião e à cólera as vossas mentes e corações, seria injusto com Brutus e com Cássio, que como sabeis, são homens honrados. Não quero ser injusto com eles. Prefiro ser injusto com o morto, comigo e convosco, antes, do que com esses homens honrados! Mas tenho aqui um pergaminho com o selo de César. Trouxe-o de casa dele: é o seu testamento. Quando o povo lhe conhecer o testamento, que, perdoai-me, não me proponho ler, irá beijar as feridas abertas de César. Ensoparão os lenços no seu sangue sagrado. Reclamará um cabelo seu como relíquia e, ao morrer, o legará como herança para a posteridade!
Povo de Roma:
Queremos ouvir o testamento! Lê-o, Marco António! Queremos ouvir o testamento!
Marco António:
Tende paciência, nobres amigos! Não devo lê-lo! Não é conveniente que saibais quanto César vos amou! Pois sendo homens, e não leões nem pedras, enfurecer-vos-íeis ouvi-lo, cheios de desespero. Se soubésseis que vos institui herdeiros seus, o que não iria acontecer?
Povo de Roma:
Queremos ouvi-lo! Lê o testamento. Deves ler-nos o testamento de César.
Marco António:
Tereis paciência e calma? Fui demasiado longe com este anúncio. Fui injusto para com os honrados homens que apunhalaram César! Tenho medo disso.
Povo de Roma:
São uns traidores! Assassinos, cobardes!
O testamento, o testamento!
Marco António:
O testamento!... Quereis obrigar-me a lê-lo? Rodeai o cadáver e vos mostrarei o que contém o testamento. Dais-me permissão para descer?
Povo de Roma:
- Sim!
Marco António:
Se tendes lágrimas, disponde-vos agora a vertê-las. Reconheceis este manto? Recordo quando César o usou pela primeira vez. Foi numa tarde de verão, no dia em que venceu os Nérvios. Olhai! Por aqui penetrou a lâmina de Cássio! Vede o golpe que lhe abriu o malvado Casca! Com esta outra, o perfurou o seu muito amado Brutus! E ao retirar o seu maldito ferro o sangue jorrou em jacto, para assegurar-se que assim continuava com tal sanha ali a reabriu! Pois, como sabeis, Brutus era o anjo de César. Julgai com que ternura o amava! Este foi o golpe mais cruel de todos! Quando César viu que também ele o feria, a dor da ingratidão, foi-lhe mais pungente do que a da traição! Então, despedaçou-se-lhe o coração, e cobrindo o rosto com o manto, desistiu e aos pés da estátua de Pompeu, inundado em sangue, o grande César tombou morto! Que queda fatal, meus nobres compatriotas! Nesse mesmo momento, eu, vós e todos nós caímos com ele, e triunfou a sangrenta traição! Agora chorais e apercebo-me da compaixão em vós. Essas são lágrimas generosas. Almas compassivas! Não haveis visto mais que o rasgado manto dele. Vede-o bem agora! Aqui jaz desfigurado pelos traidores!
Povo de Roma:
Nobre César. Sangrento espectáculo. Traidores, vilões. Vingá-lo-emos! Que não fique vivo um único traidor! Silêncio! Ouçamos o nobre António.
Marco António:
Bons amigos, estimados amigos, não quero convidar-vos à sublevação. Os que consumaram este acto são dignos. Mas que secretas ofensas teriam para fazê-lo? Eles são sensatos e não duvido que vos darão razões convincentes. Não vim aqui para captar os vossos corações. Eu não sou um bom orador como Brutus. Sou um homem franco e simples que amava o seu amigo. E isto sabem-no bem os que me deixaram falar dele. Não tenho talento, nem eloquência, nem estilo, nem gestualidade. Nem o poder da oratória que embala os homens. Falo de modo franco e só digo o que já todos conheceis. Mostro-vos as feridas do nobre César, pobres bocas mudas, e peço que elas falem por mim. Se eu fosse Brutus, e Brutus, António, esse António provocaria os vossos ânimos e poria em cada ferida uma língua capaz de amotinar a todas as pedras de Roma! Ouvi-me no entanto! Ouvi-me, compatriotas! Não sabeis o que ides fazer! Que fez César para merecer estas provas de afecto? Ignorai-o. E esqueceis-vos do testamento! Aqui está, e com o selo de César. Nele, lega a cada romano, a cada homem, individualmente, setenta e cinco dracmas. E não só isso, também vos lega, além disso, os seus locais de passeio, as quintas e os jardins, nesta margem do Tibre. Deixa-vos, e aos vossos filhos, em perpetuidade como parques públicos, para que neles passeeis e deles desfruteis. Este era um César! Quando tereis outro como ele?
Público:
Nunca! Morte e fogo, romanos! Avante!




segunda-feira, 9 de maio de 2016

Brasil: chegamos a mais um ponto crucial: Maranhão revoga sua própria decisão



SURPRESA, SURPRESA! 

A delicada equipotência entre os poderes chega ao ponto de quase ruptura. Mesmo tendo vivenciado o choque de observar  que mesmo com indícios insuficientes, exceto a quase falência de alguns setores do país (lojas, restaurantes, pequenas empresas: até que ponto?), o que não constitui um crime, a presidente brasileira seria afastada do Poder e julgada, foi com surpresa que tomei conhecimento de que Waldir Maranhão (com mais de 70% da  casa contra ele, que disse que agia desse modo "pela Democracia") tomou a decisão de anular a decisão parlamentar pelo pedido de impeachment de Dilma Rousseff e da repercussão deste fato ao redor do mundo. O The New York Times “sentenciou” que esta decisão "criou o maior tumulto da história no meio da luta pelo poder no maior país da América Latina". Outros jornais internacionais bombardearam: "legislatura para o caos"; "jogo de cena", " dúvidas sobre se essa decisão pode ser tomada de maneira retroativa". "isso dificilmente salvará o posto de Dilma Rousseff", "é um rumo inesperado", é uma "nova e surpreendente reviravolta na crise política brasileira". A confusão sobre o futuro de Rousseff é, na verdade, sobre todo o sistema político do país! É como se não tivéssemos autonomia, fôssemos bonecos nas mãos de gente mais capacitada. O caminho entre a cozinha e o gabinete está tumultuado por demais, é certo, mas somos nós que devemos ter maturidade de salvar a pátria de uma catástrofe que parece estar no desfecho desta peleja. 
Separemos o joio do trigo. Quem dá aos pobres, empresta a Deus; então podemos dizer que Nosso Senhor não está endividado. As elites continuam esbanjando saúde no jet set de Pindorama e adjacências. 
Nem sempre um novo caminho é a solução, o que precisamos, talvez, seja um novo jeito de caminhar. 
Espero, sinceramente, que seja dado ao povo a chance de manifestar sua opinião através de um plebiscito (com um tempo maior para reflexão, afinal tirarmos e colocarmos pessoas no poder não pode se transformar de um momento para o outro num jogo de interesses) e  gostaria que os juristas desse país nos poupassem de tantos vexames. 
Outra COISA QUE DEVEMOS OBSERVAR COM CAUTELA É ESSA QUANTIDADE DE PARTIDOS POLÍTICOS. PARA QUE TANTOS? São 35 com mais 20 "em estabelecimento".
Ao assistir na segunda -feira (com a mais estranha chuva que vi sobre Recife) a sessão no Senado, ouvi depoimentos coerentes, mas o fator cultural ainda falou mais alto, ali estava o fantasma dos clichês sobre nossa personalidade-mor (que vocês sabem qual é, suponho). 
A seguir recebo a notícia: Maranhão revogou a própria decisão. Parece brincadeira com a Democracia, mas há algo mais sério pairando sobre tudo como uma ave de rapina faminta.
Esperamos agora o parecer do Senado sobre Delcídio Amaral, que com certeza terá o seu mandato cassado, taçlvez por unanimidade. Na quarta seria sobre Dilma.
O Brasil hoje é uma esfinge a devorar os que não conseguirem entendê-lo. 



segunda-feira, 2 de maio de 2016

Nivea Viva Rock Brasil veio ao Recife, Parque Dona Lindu

Minha geração curtiu muito Rita Lee, Raul, Mutantes, os tropicalistas e outros, mas o assim chamado BRock, veio arrasando o nosso quarteirão. Com que prazer consumimos Legião, Lobão Barão, Ultraje, Titãs! Agora o Nivea Viva Rock Brasil veio ao Recife (passando também por Porto Alegre, Rio de Janeiro, Fortaleza, Salvador, Brasília e São Paulo).Fui no sábado 30 (deste abril despedaçado pela política). Foi no Parque Dona Lindu (nome dado em homenagem à mãe de Lula, que querem mudar para Parque Boa Viagem), um local que os ignorantes não queriam que fosse construído nos moldes que o arquiteto Oscar Niemeyer o planejou na gestão do PT (envolto em controvérsias).




Uma apresentação gratuita, realizando uma viagem pela história do BRock, com Paralamas do Sucesso, Dado Villa Lobos, Nando Reis e Paula Toller (dentre outros, como Marjorie Estiano, substituindo Pitty.
Cresci em Boa nViagem e receber um projeto como este é uma alegria. Na metade do show uma chuva rápida deu ainda mais um clima de festival para as massas apreciarem. O repertório incluiu Chico Science, mas esqueceu grupos seminais como os Secos e Molhados.
O começo com Paula Toller (que anunciou, com seus companheiros, o fim do Kid Abelha, semana passada, mas não larga o repertório da banda nem a pau, sempre jovem, mas com o eterno blasé na antiga face) cantando Banho de Lua foi, digamos assim, nostálgico. 
Nando Reis, com seu figurino sui generis, disse que o Brasil agora ia "ficar melhor" (política?). Ah! Sonífera ilha...
Herbert Viana trocou versos da música "Óculos", por "em cima destas rodas também bate um coração"; ele estava com uma cara de poucos amigos que vou te contar...