Experiência orgiástica no Recife
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Dizem que o Recife é uma cidade sensual, erótica. Que acende a libido. E que inspira até a promiscuidade. Talvez não para todos, mas para o professor argentino Túlio Carella foi um pavio de pólvora num celeiro de palha. Despertou paixões até então inimagináveis. No início da década de 1960 o poeta, ensaísta, dramaturgo, crítico e roteirista Carella, um dos escritores mais celebrados de Buenos Aires, recebeu um convite dos dramaturgos e professores Hermilo Borba Filho e Ariano Suassuna para dar aulas curso de Arte Dramática/Formação de Ator, da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Aceitou. E no Recife experimentou tórridas aventuras. Levou uma vida orgiástica na cidade. E não nos esqueçamos que o país vivia à beira do golpe militar.
Suas peripécias eróticas foram anotadas nas páginas dos seus diários. Aulas disputadas na UFPE, aversão dos seus pares e uma trilha paralela de encontros homoafetivos incendiários. A passagem do argentino pela capital pernambucana é motivo hoje, às 20h, da leitura Orgia:Túlio Carella e o Teatro do Insólito, do dramaturgo Moisés Neto, com direção de Breno Fittipaldi e realização do Grupo Cênico Calabouço. A dramatização integra a segunda edição do projetoSegunda com Teatro de Primeira, realizado pelo Espaço Cênicas e a Cênicas Cia de Repertório.
Bem a produção promete Sexo, Paixão e Teatro como você nunca viu ou ouviu. Mas lembrem-se são palavras. “O latejante erotismo pulsa no verbo teatral”. O dramaturgo recifense Moisés Monteiro de Melo Neto indica um mergulho no absurdo existencial à partir do episódio Carella e propõe criar teias com o teatro do absurdo para discutir terror e êxtase.
“O que leva um intelectual casado e bem estabelecido a largar tudo e cair na orgia com outros homens?” Boa pergunta. Se a leitura não responder à questão vai instigar reflexões sobre subjetividades, os labirintos do ser e os valores ditos “morais” da sociedade. A peça é inspirada nos diários de Túlio Carella. Ele viveu em arrebatamento sexual. Amou e foi amado por “homens com ar de cisnes que usavam seus farrapos com uma majestade indescritível”.
Na criação do texto, o dramaturgo buscou algumas ideias de Artaud e outros autores. “Discute-se o erotismo verbal em intersecção com o insólito, ‘incomum’, como o teatro de Ionesco, Beckett e Pirandello, talvez ao de Qorpo Santo. Uma discussão sobre as palavras de amor e registro da afetividade”, atesta Moisés.