por Moisés M. M. Neto
Assisti, ontem,
ao espetáculo teatral Incêndios,
dirigido por Aderbal Freire-Filho, é a primeira montagem brasileira do autor
libanês, residente no Canadá onde atua como diretor há muito tempo, Wajdi
Mouawad – hoje tido como um dos grandes nomes da dramaturgia. A peça foi adaptada
para o cinema (direção de Denis Villeneuve, canadense), o filme foi indicado ao
Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Fiquei gratificado com o poder que o teatro
ainda tem de denunciar e comover; o sangue do teatro não para de saciar minha
sede de vida. A situação do Líbano, país que tive acesso através de Israel,
pouco antes dessa última Intifada. Sim, confesso emocionei-me bastante.
A última direção de Aderbal não me deixara satisfeito, o Hamlet, com Wagner Moura. E olha que sou admirador de ambos. Mas é que fui Hamlet e parece que a gente que trabalha com Teatro tem dentro de si personagens que interpretou, dirigiu etc. Uma das leituras que faço da peça é O ESTUPRO DA MÃE-PÁTRIA PELOS FILHOS ALIENADOS em pleno terror e êxatase de uma existência intensa, cheia de lógica matemático, luta de box, maternidade mal resolvida, o poder das fêmeas que castram (foi a avó que obrigou a mãe a jogar o filho fora, ao do macho: os organizadores do Terror no Oriente Médio, dentre outros. Aliás, a expressão MÃE-PÁTRIA já une macho e fêmea, não é? O pátrio poder também é ... ´feminino?
O Santa Isabel agradece, o Recife e o mundo, a classe teatral também aplaude de pé
https://profmoisesneto.blogspot.com.br
A última direção de Aderbal não me deixara satisfeito, o Hamlet, com Wagner Moura. E olha que sou admirador de ambos. Mas é que fui Hamlet e parece que a gente que trabalha com Teatro tem dentro de si personagens que interpretou, dirigiu etc. Uma das leituras que faço da peça é O ESTUPRO DA MÃE-PÁTRIA PELOS FILHOS ALIENADOS em pleno terror e êxatase de uma existência intensa, cheia de lógica matemático, luta de box, maternidade mal resolvida, o poder das fêmeas que castram (foi a avó que obrigou a mãe a jogar o filho fora, ao do macho: os organizadores do Terror no Oriente Médio, dentre outros. Aliás, a expressão MÃE-PÁTRIA já une macho e fêmea, não é? O pátrio poder também é ... ´feminino?
Incêndio é um
drama impregnado pelas tragédias gregas, com todo o processo de mitificação, ou
de reverência ao phatos social
iconizado, amalgamado pelos mitos; quanto a Marieta Severo, que interpreta uma
mulher de origem árabe que migra para o Ocidente com o casal de filhos gêmeos,
para os quais deixa em testamento uma missão: encontrar o pai, julgado morto, e
um irmão de quem eles nunca ouviram falar, eu olhava para aquela mulher a pouco
mais de dois metros de distância de mim fisicamente e respirava seu carisma que
vem de Roda Viva, da mulher que gerou os filhos de Chico Buarque, musa, grande
atriz de papéis como Carlota Joaquina e tantos outros: DIVA. Aquela voz, olhar,
gestos tão precisos e econômicos, sintetizando tanto do que penso sobre a vida
e as coisas do mundo, do cosmos.
As atuaçõesde
Felipe de Carolis, Keli Freitas, Márcio Vito, Kelzy Ecard, Fabianna de Mello e
Souza, Isaac Bernat e Flávio Tolezani, são, para dizer o mínimo, notáveis. Uma
direção ímpar. Todos cumprem com excelência a tarefa da Grande Arte. Sob a
batuta de um maestro que tem tutano bastante para expressar o horror dos nossos
dias, que agora querem traduzir em coisas como Whatsapp, nesses tempos de
desintegração e vazio cibernéticos, que tanto é cura quanto veneno, pharmakon. Então a necessidade de
Incêndios, a urgência desse clamor poético-dramático-épico: transverberação cênica da mais alta qualidade. Édipo e Antiédipo, Troianas e tantas peças e mitos fundem-se com surpreendente habilidade na carpintaria dramatúrgica do autor.
UM ELENCO AFIADO E UM TEXTO INCRÍVEL
Enquanto dramaturgo
fiquei boquiaberto como o autor funde gêneros e entremeia as grandes ideias que
nos chegam através dos milênios da cena teatral. Não gostei de uma coisa. A
repetição do mote central de A Escolha de
Sofia, romance de William Styron, roteirizado e dirigido por Alan J.
Pakula (uma mãe teve que escolher que filhos eriam mortos pelos nazistas, e é uma das histórias contadas pela personagem de Incêndios, que ela diz ter presenciado em outro contexto).; mas isso não tira nada dos ganhos desta montagem. Talvez, não li o texto de Incêndios, que haja mesmo referências,
citações, como na montagem que usa músicas como Logical Song, que cito na íntegra porque ela se integra ao texto da
montagem de modo quse inseparável:
When I was young
It seemed that life was so wonderful
A miracle, oh it was beautiful, magical
And all the birds in the trees
Well they'd be singing so happily
Oh, joyfully, playfully, watching me
But then they sent me away
To teach me how to be sensible
Logical, oh responsible, practical
And they showed me a world
Where I could be so dependable
Oh, clinical, intellectual, cynical
It seemed that life was so wonderful
A miracle, oh it was beautiful, magical
And all the birds in the trees
Well they'd be singing so happily
Oh, joyfully, playfully, watching me
But then they sent me away
To teach me how to be sensible
Logical, oh responsible, practical
And they showed me a world
Where I could be so dependable
Oh, clinical, intellectual, cynical
There are times when all the world's asleep
The questions run too deep
For such a simple man
Won't you, please, please, tell me what we've learned
I know it sounds absurd
But please tell me who I am
The questions run too deep
For such a simple man
Won't you, please, please, tell me what we've learned
I know it sounds absurd
But please tell me who I am
Now watch what you say
Or they'll be calling you a radical
A liberal, oh fanatical, criminal
Oh, won't you sign up your name
We'd like to feel you're
Acceptable, respectable, oh presentable, a vegetable
Or they'll be calling you a radical
A liberal, oh fanatical, criminal
Oh, won't you sign up your name
We'd like to feel you're
Acceptable, respectable, oh presentable, a vegetable
At night when all the world's asleep
The questions run too deep
For such a simple man
Won't you please, please tell me what we've learned
I know it sounds absurd
But please tell me who I am
Who I am, who I am, who I am
The questions run too deep
For such a simple man
Won't you please, please tell me what we've learned
I know it sounds absurd
But please tell me who I am
Who I am, who I am, who I am
e Roxanne:
You don't have to put on the red light
Those days are over
You don't have to sell your body to the night
Roxanne
You don't have to wear that dress tonight
Walk the streets of money
You don't care if it's wrong or if it's right
Those days are over
You don't have to sell your body to the night
Roxanne
You don't have to wear that dress tonight
Walk the streets of money
You don't care if it's wrong or if it's right
Ambas são da segunda metade dos anos 70, que ambienta parte desta trama.
“É o desafio de
fazer um épico, explorar as possibilidades deste gênero e interpretar as
variadas idades e fases da personagem”, diz Marieta. O espetáculo recebeu o
prêmio Shell de Melhor Direção, recordista de indicações ao prêmio APTR, por
meio do qual conquistou quatro das dez categorias nas quais concorreu, e eleito
um dos cinco melhores de 2014 pelo crítico da Veja de São Paulo, Dirceu Alves
Jr.
"Através de mim são
fantasmas que lhe falam" , diz personagem Nawal, vivida por Marieta. A peça cumpriu temporada de nove meses de sucesso no
Rio, daí partiu pelo país em turnê (antes de um temporada em São Paulo, no
Teatro da Faap). Marieta dedicou a peça, de modo delicado, à estilista Zuzu Angel, que viveu o drama da
busca pelo filho desaparecido durante a ditadura militar no Brasil: “convivi
com esse drama, com essa tragédia [da Zuzu] [...] foi difícil construir a
personagem de Nawal e que o processo de ensaio foi avassalador [...] Eu penei,
penei bastante. É um personagem bastante difícil. Ela é uma sobrevivente, então
procurei ir atrás dessa força".
Eis a lista dos prêmios conquistados por Incêndios:
Prêmio Shell –
2013
Melhor Direção: Aderbal Freire-Filho
Prêmio Questão
de Crítica – 2013
Melhor Ator: Marcio Vito
Prêmio Faz
Diferença – O Globo – 2013
Marieta Severo por Incêndios
Cariocas do Ano
– Revista Veja 2013
Teatro: Marieta Severo, pela peça “Incêndios”
Prêmio APTR –
2013
Melhor Atriz: Marieta Severo
Melhor Cenografia – Fernando Mello da Costa
Melhor atriz coadjuvante – Kelzy Ecard
Melhor Espetáculo
Prêmio Botequim
Cultural – 2014
Melhor ator – Isaac Bernat
Melhor atriz – Marieta Severo
Melhor espetáculo
Prêmio CENYM –
2014
Melhor Espetáculo
Melhor Diretor – Aderbal Freire-Filho
Melhor Atriz – Marieta Severo
Melhor Atriz Coadjuvante – Kelzy Ecard
Melhor Texto Adaptado – Angela Leite Lopes
Montagem Brasileira de Obra Original Estrangeira
Prêmio Arte
Qualidade Brasil – 2014
Melhor Drama
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