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segunda-feira, 27 de abril de 2015

MORRE A POETA DEBORAH BRENNAND, Ficam seus poemas

Poetas Moisés Monteiro de Melo Neto e Deborah Brennand, em Recife 


CRUEL MENSAGEM 

Morto foi o sonho de um jardim
Por um verão servil, de cruel mensagem
E eu vi raízes, a vida agonizando,
Na lâmina acesa de um punhal.
Os musgos, as heras, as papoulas,
Manchavam a grama seca.
E lírios, junto ao sangue das rosas,
Magoados eram o pasto
De cavalos alheios e famintos.
IGUAL A MÃO
Velhas cortinas de renda
Por sonhos bordando brasões
Agulhas trançaram ouro e linha
Em sombras fugazes de flores
Fantasmas de um morto verão.
Cobrindo vidraças, embaçando a vida,
Escondes desvarios, alucinações,
Olhares perdidos de condessas
Caminhos ocultos na distância
E o vento forte, agitando o pano
Com a rudeza de sua mão.



SEMPRE

Assim, além da cerca, eu espero,
O quê? Não sei. Espero.
Embora só o vento chegue
todo arranhado, em gemidos,
caindo e já sem sentidos
Jogue aos meus pés as folhas secas.

DE AMARELO

Hoje devo me vestir de amarelo:
espantar os olhos negros da solidão,
tal a luz do girassol de ouro dourado
que abre pétalas iluminando nuvens.
Quem saberá (nem ela mesma) o artifício
usado para enganá-la? Sonhos? Jardins?
Não digo. Hoje me visto de amarelo
e vou, nos ramos, entoar da ave o canto.
Quero espantar olhos de solidão
que vem das grutas e abandona montes
para comer a relva rubra do meu coração.
Mas hoje, de amarelo, espantarei a fera
Fugindo, à procura de outra vítima:
Quem sabe, a mata?

NÃO É CRIME

O degredo das flores
da umidade da mata
para uma varanda acesa
em arcos verdes
É permitido.
Atar os ramos em sombras?
e desatá-los na colina
ou varrer as cinzas de fogueiras
Na clara tarde de março
Ainda, ainda
Mas aquele pássaro voltando
querendo entrar na gaiola
já do lado de fora, do lado das rosas
é uma afronta às nuvens e à brisa.
Assim, matá-lo não é
Crime.


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