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domingo, 29 de setembro de 2024

Os novos cordéis de Moisés Monteiro de Melo Neto Safra 2024


 

 

Uma palavra ou duas sobre os Cordéis de Moisés

Por Robson Silva

 Há outros modos de se referir ao exercício poético do cordelista Moisés Monteiro de Melo Neto, mas preferi este que tateando a fortuna artística do poeta pode apresentar, modestamente, uma visão honesta de sua escrita com a literatura de cordel. A proposta não é esgotar o assunto, uma vez que seria impossível acompanhar a veloz versatilidade desse poeta. Moisés é um consagrado escritor recifense e ninguém, ligado à arte, o desconhece. Entretanto, o que podemos dizer de suas produções cordelescas?

 

Embora antigamente o cordel tenha se restringido ao universo familiar dos terreiros das fazendas nordestinas, na atualidade esse hábito mudou e também ocupa os espaços urbanos. Assim, também tem sido os cordéis do cordelista Moisés. Ultrapassou as fronteiras e vem

sendo consumido por diversos públicos, desde estudantes à indígenas, pois o alcance de trabalho tem dimensões territ0riais geograficamente indefinidas.

 

Ligado às tendências contemporâneas da arte, mas sem deixar de lado a tradição do cordel o escritor lança uma estética que explora com segurança uma linguagem culta (seguindo na maioria das vezes: a norma padrão) na qual permite possibilidades em que esse gênero literário não perca suas características próprias.

 

Os principais temas abordados nas narrativas de seus cordéis exploram desde universos vivenciados por ele como aqueles que o mesmo toma de empréstimo para cristalizar experiências de outrem. Essa capacidade traduz não apenas sua ferrenha tarefa de aproximar-se dos mais variados temas, mais também seu compromisso ético com as transformações sociais. Mesmo que isso a ele escape. Seus folhetos versam sobre: personalidades, causos populares, teatro, língua portuguesa, visão indígena sobre a língua portuguesa entre outros.

 

Considerado por Luyten como símbolo da cultura popular brasileira no mundo inteiro, o cordel é composto por rimas e versos que o diferencia de outros gêneros. Escrito em rígidas regras rímicas que proporcionam uma precisão métrica desfila pelas páginas dos folhetos do escritor Moisés um tom crítico e humorístico (um tanto irônico) muito peculiar a personalidade deste. Ora apresentando ruptura na sua métrica, ora mostrando dinamicamente nos versos; alguns de seus cordéis estão divididos em duas partes apresentando quase sempre estrofes de 6 versos, sextilhas heptassilábicas.

 

Por muito tempo procurou-se compreender como se dá o processo criativo dos escritores, o que se vê em Moisés é que a incumbência de escrever vem quase como um ato involuntário. A ideia chega, e ele logo transfere para o papel o que a imaginação ousa inculcar. Uma obsessão. Aferido de uma cadeia de imagens, sonoridades e movimentos, vai escrevendo aquilo que julga elementar para o cordel. Assim, tomado pela inspiração, não se contenta apenas pela intuição e revisa sua escrita como quem debulha feijão verde para logo encaminhar a uma das editoras de cordéis mais conhecidas do país.

 

Mas, seria cedo demais para falar sobre a polissemia de sua escrita? Discorrer sobre a voz narrativa e poética requer uma pesquisa aprofundada e aqui tenho apenas a intenção de criar uma tessitura abertas para possíveis reflexões e ecos de sua obra. Refiro-me, evidentemente, a sua lírica, que ao meu ver ainda não estou convertido de explorar, uma vez que seu vocabulário (léxico) é muito diversificado e sua intertextualidade já nos é conhecida. Cabe, então, uma investigação maior à cerca de sua lírica.


CORDEL RITA LEE 

PARTE UM  

 1 Rita Lee era cantora

compositora, escritora e ativista

acima de tudo temos

nossa Rita Lee amiga, artista

amostrada que só ela

nos deu de tudo uma pista

 

 Grande estrela essa mulher

Da música nacional

Rainha do rock Brasil

Foi também mito fatal

Ela se achava quase santa

Vejam que sensacional

 

3 Eu mesmo sou seu fã

Ela muito me ajudou

Quase operou milagre

É um toque que lhe dou

Cumpriu aqui sua sina

Verdade, ela barbarizou

 

4  Ah, milhões de álbuns

Na sua carreira vendeu

Sua música em novelas

Isso assim sucedeu

Filha de Charles Romilda

Em São Paulo, cresceu

 

5 Ela  começou com rock

 Esteve na psicodelia

 Foi da Tropicália

Música Pop, new wave, eu diria

Na Bossa Nova esteve

Na eletrônica  fervia

 

6  Misturava muito a branquinha

em hibridismo pioneiro

internacionais e nacionais

nem tudo era só dinheiro

era top no Brasil

som com algo tão faceiro

 

7 Os que vieram a usar guitarra

A ela muito devem

Rita valorizou o rock

Poucos na história se atrevem

De meia meia a sete dois

Nos Mutantes conservem

 

8 No Tutti-Frutti que fundou

Sete três a sete oito

Ovelha negra danada

A melhor, eu me afoito

A dizer: ah, que viagem

Ela a Lee, molhou o biscoito

 

 Das Entradas e Bandeiras

Outro álbum querido

10 Veio então o  Babilônia

Onde encontrou seu marido

Eita, som tão potente!

Seu parceiro preferido

 

10 Importantes revoluções

 no mundo, na sociedade

esta mulher incrível

de intensa sonoridade

Rita Lee suas canções

Teatral realidade

 

11 Com sua ácida ironia

De tudo ela falou

Do pobre, do rico

muito reivindicou

independência feminina

a paulista ajudou

 

12  Tornou-se onipresente

 nas paradas musicais

 "Mania de Você", "Lança Perfume"

"Baila Comigo", coisas tais

 "Banho de Espuma", "Desculpe o Auê"

E mil flertes fatais

 

13 ""Doce Vampiro”, ela era vegana

 três filhos, e netos, sim

e falava várias línguas

jovem quis ser atriz, assim

 ser atriz de cinema

em meia três criou banda, enfim

 

14 Noutra banda, os Mutantes,

Cantou, tocou flauta e percussão

 Foi  letrista, em seis álbuns

 

gravou dois discos solo (ou não)

já que seu grupo a acompanhou

não foi boa solução

 

15 Ela diz que foi expulsa pelo marido

Arnaldo disse que não

cita novo interesse da banda

ficou no ar interrogação

a esposa foi a última a saber

não foi boa a sensação

 

16  Ela sai, silenciosa e elegante

Lança Atrás do Porto tem uma cidade

em sete quatro, “Mamãe Natureza” e

 “Menino Bonito”, trazem celebridade

Em sete cinco a obra-prima:

“Fruto Proibido”, felicidade

 

17 “Agora Só Falta Você", sucesso

"Esse Tal de Roque Enrow"

"Ovelha Negra", um clássico

O disco, então, bombou

em turnê pelo Brasil

Saquarema, sete meia, estrelou

 

18 Terceiro  álbum álbum

Entradas e bandeiras

Traz "Coisas da Vida", "Corista de Rock"

 "Com a Boca no Mundo", certeiras

"Bruxa Amarela", e veio  o estresse

ficou afastada, sem brincadeiras

 

19 Em sete e meia  foi presa

 porte e uso de maconha

 a ditadura a perseguia

justiça sem vergonha

 exemplo à juventude

coisa que nem se sonha

 

20  Abalada e sem dinheiro

lançou em sete sete a polêmica

 "Arrombou a Festa", vendeu muito

Criticando a MPB “autêntica”

Nasce o filho Beto Lee

Influência sistêmica

 

21 Na sequência nascem dois filhos

João e Antônio, que alegria

Com Gil faz show Refestança

Rock, raiz, fantasia

Em sete banda lança Babilônia

Êxtase e energia

 

22 Tutti Frutti se desfez

Ela tem desgosto pelo rock e  MPB

 E com Roberto faz um superpop

Ai, que “Mania de você”, bebê

 "Chega Mais" na sonoridade

500 mil cópias, sem dendê

 

23 Em  oitenta viram hits "Lança Perfume"

"Baila Comigo", "Nem Luxo, Nem Lixo"

950 mil cópias no Brasil e Argentina

 "Ôrra Meu", "Shangrilá", bicho

sucesso na França e Estados Unidos

Charles da Inglaterra gostou, não picho


24 Em 10, nova turnê

 em Belô que estreou

 passou por Buenos Aires, até

fragilidade física a aposentou

dos shows, da música nunca

a gente logo sacou


25 Em janeiro de 12, no último

Show, Sergipe foi ruim

O Projeto Verão, foi mau

Rita expressou raiva, sim

Com a polícia militar

Com atitude chinfrim

 

26  Desacato à autoridade

a lei lhe sentenciou

a cantora encaminhada à delegacia

pra depor após o show

 para prestar depoimento

isto muito Lee irritou

 

27 Liberada em seguida

Alega o "calor das emoções"

E a polícia "truculenta ".

Mencionou aberrações

E no carnaval de 12,

Vejam bem, ela aguenta

 

28 Desfilou na Águia de Ouro

escola de samba paulista

o tema foi Tropicália

Caetano e Gil, também, ah, que vista!

 Ela  homenageou Leila Diniz

 Aquilo é que era artista!

 

29 Alguns anos sem inéditas

lança então o álbum, Reza

música entrou em novela

Rita atinge sucesso que preza

Tantos  downloads no iTune

O brilho não a enfeza

 

30 Em novembro de 12, faz show

que marcou sua volta à cena

no Green Move Festival

A senhora estava plena

 E causou nova polêmica

Mostrou o bumbum pro público

Qual seria o estratagema?

 

31E em janeiro de 13

Show do niver de Sampa

Arrasou no Anhangabaú

E felicidade  à pampa

"Daqui eu não saio", disse ela

Sua cidade é tampa!

 

32 Sobre a cidade em que nasceu.

Em abril de 13, disse

Em  uma rara entrevista

 à revista Marie Claire, visse?

 o grande tabu da mulher?

O envelhecimento. Não atiçe!

 

33 "Envelhecer bem, é complexo!"

 Em 14, não pintou mais

os cabelos vermelhos, ficou grisalha

 "Quero ficar anônima", assaz

E em sua homenagem estreia

Musical. (Mel Lisboa faz)

 

34 Em 15, caixa com vinte

álbuns da discografia

 Em 16, sua autobiografia 

Reclusão," bichos e horta”, alegria!

best seller, prêmio APCA

Prêmio por sua obra: pop seguia...


35 Velha hippie comunista

 A diaba na poltrona

Foi fã de James Dean

Era forte tal Madonna

Que artista ela era!

Mais zoeira que um Mamona!

 

36 Sob holofotes da mídia

Meio deusa do exagero

A novela da raça

Mais uma dose e mais dinheiro

Chazinho da meia-noite

Cheia de som matreiro

 

37 Sem selo de garantia

Uma vitrine, a sua vida

Vocação e talento, foi a Lee

Era fraude, a lida?

Fantasia de Eva

Venenosa, desabrida?

 

38 Desfile, teatro, show

Tinha a chave do tamanho

Deus lhe livre, guarde

Aquilo era estranho

Não crescessem pra ela

Seu golpe não era tacanho

 

39 Para lá de Bagdá, era

Se hospedava em hospício

Gênio indomável, assim

Ah, infinito precipício

Mistérios do além, sabia

Fazia rir, sem sacrifício...

 

40 Era ruim, de tão boa

Ia a Atlântida sem mapa

Entrou em almas sem esforço?

Sem licença, sem tapa

Qual o barro do seu santo?

Cantou na chuva sem capa

 

41 Esquizofrenia pública

Impropérios e palavrões

Sem Kardec sem candomblé

Tinha medo de aviões

Não de discos voadores

Sim e não às ilusões

 

42 Crème de la crème

Das delícias humanas

Suprassumo dos prazeres

almas entre frio e flamas

fãs e artistas são esquisitos

solidões de muitas camas

 

43 Fã é cúmplice ignorado

É amar sem ser amado

O inconsciente coletivo

Quase coisa de tarado

Rouba fogo dos deuses

Fã: bezerro desmamado?

 

44  Prazer com ela entorpece

Quem não viajou, vacilou

Eita, branquinha aloprada!

Sex, drugs and rock’n’ roll

Desacatou autoridades

Viveu muito, sofreu, amou

 

45 Primadona brasileira

Escambau a quatro, né?

Dava o dedo do ‘fuck you!

Fã-clube sem mané, pois é...

Fã-tasma, não ia a cemitério

Foi cremada, por isso,  até

 

46 Em 21, lançou "Change", a canção

a primeira em oito anos

em  22, homenagem do Grammy

23? Outra autobiografia, dos planos

Seu tratamento de câncer

Sem saúde, desenganos

 

47 A metástase a levaria

A quimio não a salvou

Chamou de "Jair", seu câncer

Em 23, seu estado piorou

cercada pela família

 velório 10 de maio, anunciou

 

48 Foi aberto ao público

Presidente Lula, decretou

Luto oficial de três dias

30 milhões de reais, ela deixou

 divertidamente provocativa

sabedoria sagaz nos legou

 

49 Longe da autopiedade

 ou mesmo da tristeza

essa mulher fantástica

 nos deixa a certeza

 "Pra que cara de enterro

Se humor também é fortaleza?

 

50 Tinha o amor dos que a cercavam

Sensação de despedida

fascínio pelo desconhecido

força pra Grande Partida

ao jardim maravilhoso da Luz

 microátomo do Todo, querida

 

51 Lugar de estrela é no céu

Tchu biru dau daus!

Foi rainha da mídia

Sem sobremesa pros maus

Viúva de tempos passados

Ela agora nos dá mil tchaus!



CORDEL DE SÃO JOÃO

Por Moisés Monteiro de Melo Neto

 




1 O Dia de São João

 é comemorado assim

 na data em que nasceu

primo de Jesus, enfim

é 24 de junho

 João Batista mininim

 

 2 Foi o profeta do Messias

 da pessoa de Jesus

Cristo, nosso senhor

Que por nós morreu na cruz

Mas que vive para sempre

E vem dele a minha luz

 

3 Tive tanto noite boa

Na fogueira do amor

Que dedico a João Batista

O primo do Salvador

Vou agora dizer d´umas

valei-me, meu redentor

 

4 A origem dessa festa

 de São João vem do passado

da idade média, bem sei

é coisa de acalentado

em noite fria longe

fazendo friozinho danado

 

5 A fogueira e os milhos

a canjica, o casaquinho

eu menino, irmã e irmã

dançando lá no clubinho

fantasia de matuto

era bonito, o  Clubinho

 

6 As estrelinhas no céu

tão longe, tão perto

iluminava, eu pequeno

o meu prazer era certo

havia garoazinha

era urbano meu deserto

 

7 Às vezes no interior

Havia uma luazinha

Havia traque de massa

Até rojão que lá tinha

E um veio sanfoneiro

em cantoria só minha

 

8 Essa festa lembra a Igreja

 Católica europeia

Nunca vi mais brasileiro

O jeito que tem essa ideia

Afrodescendentes logo

Disse não era ateia

 

9 Veio o sincretismo e assim

Noutro nome se encantou

O sabor da gente do campo

Tudo Nosso Senhor, eu vou

louvando nesse cordel

aquele que nos salvou

 

10 Tem uma gente fofoqueira

Que fala de solstício

 de verão lá nas Europa,

mas pra que esse suplício?

 o culto à natureza

esse troço, estrupício

 

11 Falam em plantações, colheitas

De um tal de Adônis, que é mito

É grego, foi disputado

por Afrodite, não acredito

e uma tal de Perséfone

não acho isso bonito

 

12 Aí veio um tal de Zeus

disse Adônis ia passar

 metade do ano com uma

a outra ia esperar

na luz do Sol ou nas trevas

isso é de arrepiar

 

13 São os ciclos naturais

 da vegetação no mundo

 que morre no inverno

 mas renasce do profundo

 O culto a Adônis, é no São João

 Da “boa-nova” oriundo

 

 14 São João tá em tanta música

Que ouço e fico feliz

Gosto muito do forró

É bom, o povo diz

Dá vontade de viver

Tristeza tu não sorris?

 

15 João Batista, traz “boa-nova”

(boa notícia) do filho de Deus

 salvador da humanidade

 “renova todas os seus”

.dai-me força de vontade

Para mim e todos os meus

 

16 João que batizou Cristo

Nas águas do rio Jordão

Ah, como é tão bonita

Essa história de São João

Aplaudo de pé a cultura

 Que faz essa louvação

 

 17 Que símbolo é a fogueira

Que linda a crepitar

Diga, professora Fátima

Se num é lindo de olhar

Rafa Miguel e Victor

Leo e Alice a brincar

 

18 Dizem que Isabel

Muito amiga de Maria

 costumavam visitar-se

era sempre uma alegria

 Uma tarde lhe contou: ia nascer

seu filho e gente amaria

 

19 Maria então perguntou:

— Como poder saber disso?

— Acendo fogueira bem grande

Assumo esse compromisso

 Você assim vê de longe

Então venha. Faça isso

 

20 E saberá João nasceu

Isabel cumpriu a promessa

Maria viu ao longe

Pensou a noite é essa

 Foi à casa de Isabel

e foi lindo à beça

 

21 encontrou o menino João

que mais tarde foi sagrado

 por tanta gente seguido

e perseguido, coitado

jesuíta traz ao Brasil

esse costume arraigado

 

22 E assim dos bailes da França

 “anarriê”, “alavantú”, “balancê”,

Eram bailes populares

Amor, eu amo você

Nessa noite tão bonita

Tem igual? Cadê?

 

23 Só por brincadeira, eu digo

"simpatia, adivinhação,

Coisas de casamento

Mas não acredito, não

A faca na bananeira

A letra aparece ou não?

 

24 E assim vou acabando

Esse cordel no colégio

Só digo que no nordeste

Essa festa é privilégio

Vem logo, vamos dançar

Isso, sim é sortilégio!

 

 

 

 

 

 

 

HISTÓRIA DA COMUNIDADE DE SÃO PEDRO

 

Autor: Moisés Monteiro de Melo Neto

Depoimento: Maria José de Nona

Transcrição: Guilherme Gomes

 

 

1 Esta vila teve início

Dezoito nove cinco

construída uma igreja

numa rua, com afinco

os primeiros habitantes

bela forma, forte vinco

 

2. Isidoro Souza, Cândido

de Garanhuns, Zé Luís

Feliciano de Lima

Messias Nazário, é matriz

os primeiros habitantes

os Vasconcelos, assim se diz

 

3 São informações passadas

Pelo meu tio avô, sim

 tio do meu pai Jonas Bernardo

em entrevista disse assim

das famílias Acioli, Carvalho

Ferreira, Tenório, enfim

 

4 Primeiro nome? Itacatu

 que quer dizer pedra boa

por que tem esse nome?

e São Pedro não é à toa

 primeiro padre foi Pedro

e trouxe a imagem, nossa proa

 

5 Isso há 102 anos

As pedras? Boas para trabalhar

depois vem nome: São Pedro

foi e assim vai ficar

no início eram oito casas

cresceu muito o lugar

 

6 Galdino e o primeiro carro

o primeiro rádio? De Tonho chofer

Ali ouviam A Hora do Brasil

E piadas engraçadas, quem quiser

primeiro vereador

Amilcar Mota Valença, se quer

 

7 E a primeira professora?

Maria Ivo se chamava

a primeira farmácia?

Paula Valença, lá estava

E o Cine Antônio de Lima

primeira loja Galdino, inaugurava

 

8 E outras diversões? Carnaval

 animado por Severino Peixe

e por Miranda de Lima, também

 trabalhadores da Pedreira, deixe

trabalhavam o ano inteiro

 na folia, ferramentas eram um feche

 

 9 E os feitores de serenata

 Grupo com Zé de Peba, sim

 Zito, Nide, Lula de Liberato

Antônio de Dino, enfim

Luiz Tourinho e entre outros

Músicas que ecoam em mim

 

10 Ah, sanfona, pandeiro

 cavaquinho, triângulo, violão

Tantas lembranças boas

 época para tocar e cantar de montão

e os cantores? difusora de Garanhuns

alguns vivos, ainda, que emoção!

 

11 Primeiro comissário da vila

Foi José Luiz de Lima

 e o atendimento médico

de Garanhuns, o Pompeu, no clima

salve nosso distrito!

carro de Miguel, buzina anima

 

12 Nazário doou terreno,

E o prefeito de Garanhuns, é

Constrói igreja, em 37

Monsenhor Callou, com fé

 

Pronta só em 40

em 2019, 82 anos, até

 

13 Construída de trás para frente,

No altar do Santíssimo está São José

 na lateral, o padroeiro São Pedro

 manto verde até o pé

A festa com banda de pífano

 zabumba, quadrilha e mais, né?

 

14 Ciranda, forró e coco de roda

A iluminação sobre estacas

 pedaços de bambu, com algodão

 com azeite de mamona, pacas

o encarregado a acender e apagar

os homens? azeite, mulheres desfiam algodão na estaca

 

15 Com tempo a energia de carbureto

energia a motor, depois, eletricidade

em 1927 com 32 casas.

Para a construção da igreja da cidade

moradores ajudaram

materiais, mutirão, muita capacidade

 

16 em carros de bois, carroças de burros

 enfeitadas de flores cantando e rezando

o templo se ergueu, o padre orientou

mulheres água e pedras carregando

 no percurso cantavam

e iam rezando, légua ou caminhando

 

17 Surge o apostolado de Nossa Senhora

  mulheres com fita azul e marrom

sagrado coração de Jesus

fitas eram vermelha e branca, bom

Com a chega imagem de Aparecida

 a outubro tem novena, bento som

 

18 Em 98 Maria José de Nona,

Lourdes de Nilton, Maria de Lon

 e Armando Domingos de Melo,

vereador devoto de São Pedro, bom

procissão motorizada saindo de Garanhuns,

senhor Antônio de Lima, no tom

 

19 Louva São Pedro, imagem num

 caminhão, não tenho certeza

com jovens como pescadores

redes e tarrafas na mão, que beleza

andor com cetim ouro e verde

            mas que lindeza!

 

20 Hoje, em nossa capela

 temos um altar de pedra, sim

temos água e eletricidade

 mas foi uma luta danada, enfim

 muita pedra, muita argila

nos fortaleceram, assim

 

21 Guerreiros nas bênçãos de Deus

Temos tecnologia

Nosso lugar pode crescer

São vitórias noite e dia

Nossa luta pro futura

Salve São Pedro! Alegria!

 

CORDEL GERALD THOMAS

 

Moisés Monteiro de Melo Neto

 

1.Por interesse pessoal

ou por exigir o ofício

 escrevo esse cordel pra ele,

mestre do teatro artifício

 o que para mim é prazer

Também não é sacrifício.

 

2. Ali nos anos 80

 Vi teatro do diretor

que também é dramaturgo

 isso eu digo ao leitor.

Ele não era de um grupo,

 era só tal criador

 

3. De individualismo, entende

estética bem apurada.

Produto estético em cena,

com uma precisão danada.

Gerald traz um novo gás

Atitude preservada

 

4.Antunes Filho, abriu caminho

 A cena a avançar.

 abril de 85.

 Electra concreta é ar.

Homem não era brinquedo.

Oito sete é pra ficar

 

5. Sem histórico psicológico

Truques da luz desnudava

 de luz  tão entrecortada

 que assim me abismava

 movimentos como náusea.

Incidências iluminava

 

6 Misturando o som e luz

Tudo espetacular

Minha pai, meu mãe, nem sei

Formas fora do lugar

Cenas se embaralham

Neuras, tudo a borbulhar.

 

7 Panos de boca transparentes.

Sobrepostos, nada encobrir.

No fundo, figuras escuras

Encurvadas sem luzir

Ópera seca se. anunciava

 As cenas como um carpir

 

8. Meus sentidos explodiam ação

luz em cena com tudo, é

 mais o texto e a música

 negócio meio punk, até

teatro extasiante

 eu no Rio. Ônibus, táxi a pé?

 

9 Nordestino sem destino?

Deus ex machina estava

da cena tão recifense

 que então estagnava?

O ano de 87

 Pernambuco atrasava

 

 10. Gerald Thomas acusava

teatro local mentirinha

 Tanta dramaticidade extra

Suas teias de filó retinha.

Eu via e compreendia

 sentia a cena como minha

 

11. Seu conceito de teatro?

 Pode, Aristóteles lembrar?

 Traz luz, suas imagens

cena, em mim, explorar

conceito imagens em cena

 mudez movimento fragmentar

 

12 polifonia insensatez

 não fala com espectador

 ele que o sinta de outro modo

 E aguente do chão o clamor

Wagner, Dante, Joyce, Proust e até

Tal estranho, que furor

 

13, Vai um Shakespeare também

Chupa, chupa, super descarado

 

 

 

De modo algum eu direi

Em Cena o mundo sagrado

cadeias de leit motif

desconstrução, desesperado

 

 14 texto dramático não

Qual o núcleo da peça

texto cênico bem regido

 Registro de Fronteiras, nessa

mistura de artes

Visual, Daniela Thomas, à beça

 

15  Palco italiano mudava,

Londres, New York, Brasil

 Unglauber, 94, fecha o ciclo

Que o cordel o devore, viu?

 artista tão radical no teatro

alguém  já o sentiu?

 

16 Nos anos 70, Gerald

 ilustra o New York Times, é

vendeu muitos posters também

 Vanity fair, Harper ilustrou até

em 23 jogou certo acervo seu

no lixo, cansa guardar, né?

 

17  Nasceu em New York

Do 7 aos 14, no Rio

 aos l 8 vem cocaína

com Oiticica bem no cio

 ou tudo isso é mentira?

ao cordel digo fiu fiu

 

18 Com Beckett em 85

 Carmen com filtro, 86

 85 Electra concreta

 87 Navio fantasma, eis

Fino trato pra vocês

 87 Trilogia Kafka pra vocês

 

19 Em 90 Flash and crash days

 Gala e Traidor espetáculos

peças dele com o mesmo fim

em 23, tais cenáculos

carioca dos EUA? É assim

com filha de Ziraldo show cálculos

 

20  Viu Zé Celso em 69

Balcão de Victor Garcia

Mamberti o ajudou

a entrar no que queria

aos 18, Londres, nos 70

O que o Ge3ral fazia?

 

21  Intelectual com prazer

O sonho de uma noite, 80

New York, London, Brasil

notícias de Grotowski, tenta

postura mais que palavras

ato e som: Colônia, 70

 

22 Antiteatro? Nunca, talvez

subverte a cena burguesa

76 na Anistia Internacional

Brasil de chumbo, incerteza

com Helen Stewart, o La Mama

Off Broadway, com certeza

 

23 Sim, presenciou, atenção

o Living Theater e  mais

dirigiu no La  mama, demais

conversava com Beckett

obra desse irlandês, tais

pra falhar de novo e melhor.

 

24 Condenado, o homem, vejam

 busca o som., o pensamento

Ato psicológico, talvez?

 pausas exasperantes, tratamento

 Espaço temporais em Carmen

Carmen, com filtro, distanciamento

 

25 Trabalhando com Fagundes,

hermético, estético.no cartaz

Confuso e verborrágico

Recebeu  más críticas, demais?

Encantamento plástico formal

Extrema lentidão ao andar, assaz

 

26 Suas peças, interrompem-se

As falas rompem , bruscamente

 aos gritos como vômitos saem

cenas expressionistas, gesto demente

pede irônico escutar

 estímulo estético se sente

 

27 Usa abstrata música

estímulos estéticos se toca

teatro total, bem assim

eis aí o que a música provoca

cenas de artes plásticas

induzem... o  cosmopolita choca

 

28. No Brasil, ciranda constante

Tessitura da memória segue

Mais estilo do que técnica

 bruma, elegância, sutileza, negue!

 Mais estilo do que técnica.

Cia da Ópera Seca, pegue!

 

29 Ator fixo e  continuidade

Ácida, crítica, que beleza...

Mineira Beth Coelho Estrela.

óperas, musicais :  firmeza

 tal  Pina Bausch., Denise Stoclos

até fundamento orgânico, certeza

 

30 Em GT, não é excessivo o expressionismo

Há espaços inusuais

figurinos de aspecto envelhecido.

E algo mais objetos soltos e mais

Figuras retorcidas, difícil locomoção

no palco, quase nu quais? fatais, fractais

 

31. Lugares contextualizados

como na Grécia mítica

 fêmeas assassinas ...Terra de ninguém

crimes, o diretor, situação crítica

tal poema, verbivocovisual

 poesia concreta esquinas crítica

 

32. Hermetismo falso ou o quê?

A reinventar teatrão de vanguarda?

Xingavam GT, os neófitos em fúria

 Ele em navio fantasma, Aramada

escandalizaria a todos?

Rio, Janeiro 1987? Nada

 

33. No  Municipal: vaia de 5 minutos.

Diante da eminência parda

Fritz Lang, Pina Bausch, cantor(a)

 encantou, crítico? Não tarda

 não poderiam defini-lo

pântano de vícios,  ele aguarda

 

34. Não! Teve tempo? Qui-lo?

Leitura surpreendente

 da ópera de Wagner:

sem nem navio...nem Porto presente

Errância. Como vagão de carga

Espaços, Mendigo demente

 

35. Vazios, ânsia. Um novo

muro de Berlim? Drama da danação

A intolerância, tal Guerra fria

 prossegue Bob Wilson, paixão

que impacto causou

Teatro de visões, foto de Kafka? Não

 

36. Com O Processo, Metamorfose, fusões

Leitura semiótica do diretor

Com A Tempestade sensações...

 Parece ilha do naufrágio, vinga a dor?

Joseph K: é Próspero? Ãh?

Enquanto Grego Sansa? Ator...

 

37. Submisso. A família malsã

 leituras da situação

Tcheco judeu, em cenário alto

Biblioteca gigante vão

7m, Gerald  exagera na estrutura?

Daniela dá o cenário da ação

 

38. Discurso à parede de livros

pensamento ocidental da razão

obsoleto arquivo,  parece

concreto, imenso esqueleto, não

Rádio antigo, cubos com fotos

em vez de livros, cubos sobre chão

 

39.   Assim foi figurino, também

 Dani clima de cinema?

 Sombrio, sim,  em Praga

Nada de Brasil Ipanema

Que visão tão arretada

cabarés alemães, anos 30 sistema

 

40. Desafio do ser inseto

Mais música/  múmia cortou

 Gerald  a frase inicial do livro

Gregor Samsa acordou

certa manhã de sonhos intranquilos

 em sua cama se metamorfoseou

 

41. Ó inseto monstruoso

Gerald também trouxe Joseph k

Do livro O processo, assim

Preso na teia da justiça, lá

num dormir e acordar infindo

atrás da teia de filó, já

 

42. Acusações/ culpas. Vácuo

 Impenetrável silêncio e pó

Um Chaplin. Luz a esquadrilhar

Estado de sítio cênico só

Os próprios fantasmas

K, seus investigadores, sem dó

 

43. Juízes, culpa inevitável

não é catarse, o que fez???

 indefinido, mal, no palco

lugar mutante vórtice, talvez...

 Imagens intermitentes, moral.

filme mudo, escudo, altivez...

 

44. Marca, tempo a passar

mudança de cenário, ação

entrelaçar estilhaçar luz

 do alto e dos lados, solidão

 sem traço naturalista, Kafka,

sob refletor de milha, desrazão. A

 

45. Nula qualquer defesa

 Rígidas faces glaciais, oh!

gestos repetitivos, mãos

pelo cabelo em riste, nó

final com carcereiros

pavor, triste, dó

 

46. Submissão final, mordaça

morte do Sr. K?  emoção.?  Não

isso não é comum ao diretor

primeira vez, empatia com plateia, ação

ele limpa tal melodrama

sem abrir brechas,  escapa sem chão

 

47. O julgamento de Samsa e de K

(in) consciência na invasão shakespeariana?

Síntese do fim da ciência

culpabilidade atroz, demência insana.

Mediocridade exposta

Roupa do juiz que se dana

 

48. De funcionário exemplar ao pó

Isso cheira a Beckett, numa ponte

 Analógica inteireza do outro

O íntimo : ameaçador horizonte

 Blackout :2 segundos característicos

 Alçapão: domínio muscular, fonte

 

49. O pai de Sansa na cadeira

Mãe fuma, ri K, nos livros, some

Thomas entra em cena

 Entre Gregor e o pai, fome

 Desajeitado ser cênico

 nesse teatro vago, que consome

 

50. Gerald dirigiu dezenas de peças

O inusitado é denominador comum.

Espectador às cegas: corpo-palavra

O Cordel vai acabar, fim nenhum

absurdo! Nem vale acreditar.

Até logo, foi incomum!

 

 

 

CORDEL DO PAI MESSIAS

 

1 Candomblé Nação Nagô

Agora conta a vocês

na Tenda do Pai Francisco

Umbanda é da vez

foi fundada em meia oito

Babalorixá Messias, vem dos Reis

 

2 Yalorixá de seu Santo

Senhora Antônia Queiroz

Mãe Tonha do Sapoti de Oxalá

Vô de Santo, Manoel Mariano após

Babalorixá Zé Messias

Acalma já com sua voz

 

3 Leva adiante como zelo

a Matriz Africana que Deus deu

no estado de Pernambuco

São Jorge lhe concedeu

Atender todos seus filhos

Cada um é filho seu

 

4 A caminhada de São Jorge

Um dos marcos do Terreiro

Também vem de meia oito

os toques algo muito certeiro

calendário orixás

é tudo tão verdadeiro

 

5 A procissão de São Jorge

Um dos marcos dessa tenda

para gente é Ogum

esse santo oferenda

de tanta demanda ruim

Oxalá que nos defenda

 

6 Arrastando multidão

público a conferir

caboclinhos Carijós

da Mangabeira  e clarins, a sair

A romaria começou, lhes digo

Explico logo a seguir

 

7 O esposo de uma filha

do Terreiro ficou doente

ela quis melhora do esposo

fez promessa tão ardente

para o santo e Pai Messias

sugeriu, mas não de repente

 

8 Que fizesse uma romaria

em agradecimento ao Santo

muita gente apareceu

olha só: foi quase um espanto

para agradecer e pedir

novas graças, até hoje há canto

 

9 O candomblé e a umbanda

Tantos anos do cortejo
são centenas de fiéis

do santo guerreiro, o ensejo

É São Jorge, é Ogum,

acompanharam tal festejo

 

10 O Pai ao lado da imagem

seguidos por carro de som

cavalaria de devotos

ai, meu Deus, é muito bom

Por onde passava essa gente

Espalha alegria no tom

 

11 E é incrível o que se vê

O cortejo chama a atenção

Da gente toda do entorno

Muita fé e devoção.
Pai Messias vai na frente

Dizendo: “Violência, Não!”

 

12 É a bandeira de Oxalá, também

É o símbolo da paz

intolerância religiosa

não triunfará, jamais!

O momento de união

Vamos em frente, rapaz

 

13  Um dia escutei de um deles

Quem é que me acuava?

 Agora, eu mais velho, vejo:

 Relembro o que pensava

naquele tempo era assim

 eu doido perdido girava

 

14 Leve demais, e assoprado

 Deus deixou, ora essa

Ele é supremo, eu bem sei

 Deus é urgente sem pressa

Mas Pai Messias, meninos

Dá muitas bênçãos, não cessa

 

15 Ele nasceu em Água Fria

Lá no Alto do Pascoal

Ladeira dos Anjos, assim

Em quarenta e sete, eis o tal

Estudou em Beberibe

Católico sem igual

 

16 Comunhão, Crisma, coroinha

D´Imaculada Conceição

Na Várzea ele ficou

Seminarista, atenção

Externo, vestiu batina

Até os dezessete, a questão

 

17 Os espíritos chamaram

Influências da Umbanda

No Colégio Alfredo Freyre

Incorporou, isso anda

Com uma senhora descobriu

Que era forte a sarabanda

 

18 Incorporou Preto Velho

Pai Francisco se mostrou

Teve que ir às sessões

Isaías Gomes ajudou

Depois ficou no “cubico”

Foi assim que se passou

 

19 Sofreu até preconceito

Trabalhou no Ipsep, sim

Desde os quinze, pois é

Aos dezoito soldado, enfim

Recebeu lá um Canindé

Um caboclo esperto assim

 

20 Em meia sete, em serviço

De guarda, lá no Quartel

Sentiu-se mal, ai, Jesus!

Acordou em terreiro sem fel

De Isaías e Zefinha

Sargento Marivaldo, fiel

 

21 Pra brincar veio o Caboclo

O Curumim Canindé

O cabo disse: “dou folga!”

De voltar pro Quartel, é

Num Jeep do Exército

Messias manteve a fé!

 

22 Dom Helder falou com ele

Na Rui Barbosa, Manguinhos:

“Filho, Deus dá o dom

Que sejam bem direitinhos!”

Messias é Sacerdote

Mas isso foi aos pouquinhos...

 

23 Mais nove meses: Quartel

Quartel do Treze de Maio

 Na instrução, área médica

HGR, tal ensaio

No IPSEP, se aposentaria

Rosa e Silva, sem atrapaio

 

24 Dom Helder o encaminhou

Prum Convento Franciscano

Messias se entusiasmou

Com o cartão do “bacano”

E um Frei o recebeu

Em Salvador, eis o Plano

 

25 O enxoval: cama e banho

Roupa branca ele comprou

Com o dinheiro do Exército

E a coisa se encaminhou

Na maleta guardou tudo

Mas o Destino mudou

 

26 Messias fez oferendas

Em meia oito: Providência

Sua mãe não era “de dentro”

Hoje é A Tenda, era a residência

Zefinha e Isaías, ajudam terreiro, ali

Em meia oito, evidência

 

27 Em setenta e um, casou

Duas filhas e um filho, é

Nove netos, treze bisnetos

Aposenta em nove e cinco, com fé

Sempre ativo e produtivo

Dois mil e um, Itamaracá chalé

 

28 Veio a primeira filha, emoção

Multiplica seu amor

Sua força não vacila

Tudo é filho, meu irmão

Orixás e Guias protegem

Isso não é só opinião

 

29 quando abriu terreiro

Família viveu aí

Pai, mãe, irmãos, tudo

Mãe ficou viúva, luto ali

Nas festas tiravam os móveis

Cerimônias afro-tupi

 

 

 

30 Também alugaram casa

Mãe disse: “cuide da Tenda”

Meu filho, nunca se esqueça

Se quer mesmo, sempre aprenda

Que os Santos e os Outros

Não há razão que entenda

 

31 Messias morou em Cajueiro

Ainda em Água Fria

Vem Márcio Paiva e diz:

“Meu comércio traz alegria

Patrocino o Terreiro

Messias faz mais do que fazia

 

32 Uma pessoa da Alemanha

Completou a ajuda

Pra esse filho de Ogum

Não há a quem Deus não acuda

Messias bisavô em dias

Importantes com família sortuda

 

33 Ser avô é sempre ser Pai

Orixá Ogum que proteja

Ogum Famila Ó

Está onde ele esteja

Homenagens se sucederam

Teatro, Universidades, salões, veja!

 

34 Doutor Honoris Causa

Nosso Mestre nem liga

Prefere fazer um brinde

Que se afaste toda a briga

Numa Brahma fora dali

Pra longe toda a intriga

 

35 Troféus, certificados, fotos

Espalham-se aos borbotões

José da Silva Messias

Abre portas e portões

Pai Messias do Arruda

Risos, choros, sensações

 

36 Rolam búzios na urupema

Pai Francisco a guiar

Umbanda sempre sagrada

Vem gente de todo lugar

Buscam esse juremeiro

Que sabe muito acalmar

 

37 E Pai Freitas vem e diz:

A Universidade lhe faz Doutor

Pela U F P E

Lhe citaram com louvor

Em vários livros e artigos

Muitos lhe dão valor

 

38 A gente fica por aqui

Dizendo pra quem nos leu

Que tem mistérios no mundo

Nesse mundo meu e seu

Mais vale é se ter fé

No mundo que Deus nos deu.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CORDEL DO PAI MESSIAS

 

1 Candomblé Nação Nagô

Agora conta a vocês

na Tenda do Pai Francisco

Umbanda é da vez

foi fundada em meia oito

Babalorixá Messias, vem dos Reis

 

2 Yalorixá de seu Santo

Senhora Antônia Queiroz

Mãe Tonha do Sapoti de Oxalá

Vô de Santo, Manoel Mariano após

Babalorixá Zé Messias

Acalma já com sua voz

 

3 Leva adiante como zelo

a Matriz Africana que Deus deu

no estado de Pernambuco

São Jorge lhe concedeu

Atender todos seus filhos

Cada um é filho seu

 

4 A caminhada de São Jorge

Um dos marcos do Terreiro

Também vem de meia oito

os toques algo muito certeiro

calendário orixás

é tudo tão verdadeiro

 

5 A procissão de São Jorge

Um dos marcos dessa tenda

para gente é Ogum

esse santo oferenda

de tanta demanda ruim

Oxalá que nos defenda

 

6 Arrastando multidão

público a conferir

caboclinhos Carijós

da Mangabeira  e clarins, a sair

A romaria começou, lhes digo

Explico logo a seguir

 

7 O esposo de uma filha

do Terreiro ficou doente

ela quis melhora do esposo

fez promessa tão ardente

para o santo e Pai Messias

sugeriu, mas não de repente

 

8 Que fizesse uma romaria

em agradecimento ao Santo

muita gente apareceu

olha só: foi quase um espanto

para agradecer e pedir

novas graças, até hoje há canto

 

9 O candomblé e a umbanda

Tantos anos do cortejo
são centenas de fiéis

do santo guerreiro, o ensejo

É São Jorge, é Ogum,

acompanharam tal festejo

 

10 O Pai ao lado da imagem

seguidos por carro de som

cavalaria de devotos

ai, meu Deus, é muito bom

Por onde passava essa gente

Espalha alegria no tom

 

11 E é incrível o que se vê

O cortejo chama a atenção

Da gente toda do entorno

Muita fé e devoção.
Pai Messias vai na frente

Dizendo: “Violência, Não!”

 

12 É a bandeira de Oxalá, também

É o símbolo da paz

intolerância religiosa

não triunfará, jamais!

O momento de união

Vamos em frente, rapaz

 

13  Um dia escutei de um deles

Quem é que me acuava?

 Agora, eu mais velho, vejo:

 Relembro o que pensava

naquele tempo era assim

 eu doido perdido girava

 

14 Leve demais, e assoprado

 Deus deixou, ora essa

Ele é supremo, eu bem sei

 Deus é urgente sem pressa

Mas Pai Messias, meninos

Dá muitas bênçãos, não cessa

 

15 Ele nasceu em Água Fria

Lá no Alto do Pascoal

Ladeira dos Anjos, assim

Em quarenta e sete, eis o tal

Estudou em Beberibe

Católico sem igual

 

16 Comunhão, Crisma, coroinha

D´Imaculada Conceição

Na Várzea ele ficou

Seminarista, atenção

Externo, vestiu batina

Até os dezessete, a questão

 

17 Os espíritos chamaram

Influências da Umbanda

No Colégio Alfredo Freyre

Incorporou, isso anda

Com uma senhora descobriu

Que era forte a sarabanda

 

18 Incorporou Preto Velho

Pai Francisco se mostrou

Teve que ir às sessões

Isaías Gomes ajudou

Depois ficou no “cubico”

Foi assim que se passou

 

19 Sofreu até preconceito

Trabalhou no Ipsep, sim

Desde os quinze, pois é

Aos dezoito soldado, enfim

Recebeu lá um Canindé

Um caboclo esperto assim

 

20 Em meia sete, em serviço

De guarda, lá no Quartel

Sentiu-se mal, ai, Jesus!

Acordou em terreiro sem fel

De Isaías e Zefinha

Sargento Marivaldo, fiel

 

21 Pra brincar veio o Caboclo

O Curumim Canindé

O cabo disse: “dou folga!”

De voltar pro Quartel, é

Num Jeep do Exército

Messias manteve a fé!

 

22 Dom Helder falou com ele

Na Rui Barbosa, Manguinhos:

“Filho, Deus dá o dom

Que sejam bem direitinhos!”

Messias é Sacerdote

Mas isso foi aos pouquinhos...

 

23 Mais nove meses: Quartel

Quartel do Treze de Maio

 Na instrução, área médica

HGR, tal ensaio

No IPSEP, se aposentaria

Rosa e Silva, sem atrapaio

 

24 Dom Helder o encaminhou

Prum Convento Franciscano

Messias se entusiasmou

Com o cartão do “bacano”

E um Frei o recebeu

Em Salvador, eis o Plano

 

25 O enxoval: cama e banho

Roupa branca ele comprou

Com o dinheiro do Exército

E a coisa se encaminhou

Na maleta guardou tudo

Mas o Destino mudou

 

26 Messias fez oferendas

Em meia oito: Providência

Sua mãe não era “de dentro”

Hoje é A Tenda, era a residência

Zefinha e Isaías, ajudam terreiro, ali

Em meia oito, evidência

 

27 Em setenta e um, casou

Duas filhas e um filho, é

Nove netos, treze bisnetos

Aposenta em nove e cinco, com fé

Sempre ativo e produtivo

Dois mil e um, Itamaracá chalé

 

28 Veio a primeira filha, emoção

Multiplica seu amor

Sua força não vacila

Tudo é filho, meu irmão

Orixás e Guias protegem

Isso não é só opinião

 

29 quando abriu terreiro

Família viveu aí

Pai, mãe, irmãos, tudo

Mãe ficou viúva, luto ali

Nas festas tiravam os móveis

Cerimônias afro-tupi

 

 

 

30 Também alugaram casa

Mãe disse: “cuide da Tenda”

Meu filho, nunca se esqueça

Se quer mesmo, sempre aprenda

Que os Santos e os Outros

Não há razão que entenda

 

31 Messias morou em Cajueiro

Ainda em Água Fria

Vem Márcio Paiva e diz:

“Meu comércio traz alegria

Patrocino o Terreiro

Messias faz mais do que fazia

 

32 Uma pessoa da Alemanha

Completou a ajuda

Pra esse filho de Ogum

Não há a quem Deus não acuda

Messias bisavô em dias

Importantes com família sortuda

 

33 Ser avô é sempre ser Pai

Orixá Ogum que proteja

Ogum Famila Ó

Está onde ele esteja

Homenagens se sucederam

Teatro, Universidades, salões, veja!

 

34 Doutor Honoris Causa

Nosso Mestre nem liga

Prefere fazer um brinde

Que se afaste toda a briga

Numa Brahma fora dali

Pra longe toda a intriga

 

35 Troféus, certificados, fotos

Espalham-se aos borbotões

José da Silva Messias

Abre portas e portões

Pai Messias do Arruda

Risos, choros, sensações

 

36 Rolam búzios na urupema

Pai Francisco a guiar

Umbanda sempre sagrada

Vem gente de todo lugar

Buscam esse juremeiro

Que sabe muito acalmar

 

37 E Pai Freitas vem e diz:

A Universidade lhe faz Doutor

Pela U F P E

Lhe citaram com louvor

Em vários livros e artigos

Muitos lhe dão valor

 

38 A gente fica por aqui

Dizendo pra quem nos leu

Que tem mistérios no mundo

Nesse mundo meu e seu

Mais vale é se ter fé

No mundo que Deus nos deu.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Indígenas versejam mulheres na literatura Brasileira

 

Organizador: Prof. Dr. Moisés Monteiro de Melo Neto (CLIND-UNEAL/ NEAB-UPE)

 

Danielle Moacir dos Santos/ Karapotó Terra Nova

Celia Lima dos Santos/ Karapotó Terra Nova

Letícia Lima dos Santos/ Karapotó Terra Nova

Zilene Murá de Moura/ Kariri-Xocó

Aruana Ricardo da Silva/ Kariri-Xocó

Suzana Alves dos Santos/ Kariri-Xocó

Renata Campos Alves Lima/ Kariri-Xocó

Manoela Suíra de Souza/ Kariri-Xocó

Cinthya Santos Correia/ Kariri-Xocó

Thiago Tononé de Aquino/ Kariri-Xocó

Viviane Pirigipe Rosendo/ Kariri-Xocó

Nayrí Silva Cruz/ Kariri-Xocó

Marcela Marques Lima/ Kariri-Xocó

 

 

 

 

 

 

 

 

1. Quando chegaram aqui

Começou a invasão

Portugal ganancioso

veio com má intenção

Olharam pras indígenas

Aí, meu Deus, que confusão!

 

2. Desembarque alucinado

As mulheres estava lá

De olho na novidade

Que nunca se viu por cá

Teve canção e dança

Para alegrar o pessoá.

 

3. Vamos falar das mulheres

Seu importante papel

Na sociedade sempre

Tanta coisa foi cruel.

Conseguir dignidade

E ficaram quase ao léu

 

4.Desde de ontem até hoje

Foi uma luta danada

Para conseguir destaque

Para ser valorizada

E nas letras brasileiras

Venceram as paradas

 

5. Vamos ver lá no barroco

Como se via a mulher

Bonitinha ou atrevida

Gregório diz o que quer

Leitor preste atenção

Você ler o que quiser.

 

6. A igreja condenou

 Malícia ela dizia

Mulher serve ao homem

E a mulher nem reagia

Isso não ficou assim

Veio então assim a primazia

 

7. Se falasse muito é: bruxa!

Tacar fogo, heresia

Proibida de escrever

Ler ela não podia

Era massacrada em tudo

Estão vendo tal agonia?

 

8. Retomando os indígenas

Nas letras apareceram

Não foi fácil lhes digo

Mas barreiras se romperem

Era até submisso

Os árcades escreveram

 

9. Caramuru, Uraguai,

Épicos, literatura

Paraguaçu e Diogo

Eita, que belezura!

Lindóia e Cacambo

Feiticeira Tanajura

 

10. Nas construções de cidades

há mulheres também

Salvador e Vila Rica

Foi Toré, mas teve amém

Os sinos badalavam

Foi aquele vaivém

 

11. Musas de tantos poetas

Tem Maria de Dirceu

É a mulher tal bibelô

Isso não lhe convenceu

Não era protagonista

Digo o que as sucedeu

 

12. Época do romantismo

Tinha até a prostituta

Lucíola é uma delas

Foi muito amor e a luta

Paulo era namorado dela

Teve seda e teve juta.

 

13. Também teve A Moreninha

Na Ilha de Paquetá

A viagem do Amor

Ti, ti, ti, tá, tá, tá.

O mistério do coração

 romance aqui está.

 

14. Mulher idealizada

Tanto coração feriu

Ultrarromantismo, é

Coisa de qual eu que se viu

Suicídio era mote

Tem herói e gente vil.

 

15. Vamos ver no realismo

Como a mulher está,

Machado velho escritor

Trouxe o estilo para cá

O realismo vem de França

Não tem umbu nem cajá

 

16. É o pecado da maçã

Brás Cubas a anunciar

Psicologia, burguês

O Brás foi arrasar

Rio de Janeiro, Brasil

Muito leitor a comprar

 

17. - Não tive filho, o Brás disse

Não transmiti para ninguém

A desgraça que era a vida

Por isso eu vim do além

Outro livro Dom Casmurro

E ai, Capitulo vem.

 

18. Traidora ou não, hein.

O filho é de Bentinho

Ou será do Escobar

O amigo espertinho

Mistério, literatura

Visível, escondidinho.

 

19. Naturalista O Cortiço

Rita Baiana danada

Tem Pombinha e tem outras

Parece até revoada

Mas mulher não é bem vista

Destaca-se a sexuada

 

20 Bertoleza e Piedade

Ah, quanta complicação

Também tem a Léonie

É a prostituição

Desse jeito é que não vale

Mulher não é bem assim, não

 

21. Parnasianismo, vê

Mulher como escultura

Cultura greco-latina

Impassível, criatura

Bilac era o poeta

Isso é aventura?

 

22. Aí vem o simbolismo

Tem a história da alma

Trancada dentro do corpo

Ela não ficava calma

Cruz e Sousa negro poeta

Será isso um trauma?

 

23. Sofreu tanto preconceito

O genial escritor

Já Alphonsus Guimarães

Com sua Ismália? louvor

Loucura e suicídio

A mulher viveu horror

                                                             

24. No pré-modernismo, sim

Lima Barreto expôs

Mulher para casar e

Ismênia tá louca, depois

Largada com o enxoval

Noivo fugiu, sem arroz

 

25. Isso é o livro Policarpo

Ali, outra mulher, Olga

Libertária, diferente

Com ela, homem não folga

A irmã do personagem

Adelaide, se empolga

 

26. Nos Sertões, Deus lhe tenham

Euclides diz: Conselheiro

“mulher é tentação, o cão!”

Canudos, tiro certeiro

Política e fé, é fogo

O chão virou braseiro

 

27. Na poesia de Augusto

 Esse período se expressa

Funesto que só ele

Sem futuro nem promessa

Lobato traz Negrinha

Racismo danado, essa

 

28. Modernismo de primeira

 Oswald e Manuel

  Fizeram um carnaval

  Que virou um escarcéu

  Foi uma risada geral

  Um escambau, um beleléu

 

29. Semana de vinte dois

Tem mulher presente lá

Pintora é Anita Malfatti

Que não tinha blá, blá, blá

Usou vanguarda Europa

Espantou muitos de cá

 

30. Brasil profuso: branco

índio e negro, ai meu Deus!

Vem Tarsila do Amaral

Para mim e para os seus

Eita, quadro tão famoso!

O Abaporu sem breus

 

31. Vamos falar de Pagu

Comunista que ela só

Foi presa e torturada

Botaram no xilindró

Engajada que só ela

Que Getúlio quis ver pó

 

32. Vamos pra Macunaíma

Que o Mário escreveu

Tem uma mulher tão forte

Sí, e todo mundo leu

Índia guerreira era

A tribo a elegeu

 

33. Segunda fase moderna

Tem mulher pra arrebentar

Do Ceará vem Raquel

Com O Quinze estraçalhar

E da Bahia Gabriela

Retirante de pirar

 

34. Jorge Amado era assim

Que escrita saborosa

Mulher era Dona Flor

Que mulher maravilhosa

E também criou Tieta

Prostituta orgulhosa

 

35. De Alagoas, Graciliano

Duas mulheres destaco

Uma é Sinhá Vitória

Vidas secas não empaco

Eita, mulher arretada

Vencedora eu destaco

 

36. Enfrentando a seca

Com os dois filhos e o marido

Tem a cachorra Baleia

 Eita, sertão comprido!

E O menino de engenho

Zé Lins escreve no livro

 

37.  E a mulher em Zé

 É bonita como a cana

Cuja palha corta a gente

Trabalhador engana

poetisa chega, desde

Francisca Júlia, flana

 

35. Cecília, menina triste

Vaga música e viagem

Neossimbolista, talvez

Chegou na vida passagem

Efemeridade ela é

Em que espelho a miragem?

 

36.  Drummond cantou a mulher

Objetivo ele era

Sem o sentimentalismo

Itabirana esfera

Gauche que só ele

 Ali não tinha quimera

 

36. E Vinícius de Moraes

Tem Garota de Ipanema

A casa é muito engraçada

Criança sorrir, não tema

Que poetinha danado

Pra desmontar o sistema!

 

37. Sem esquecer o cordel

Literatura tão forte

Escapando a tirania

Mulheres de todo porte

Leandro Gomes e tantos

Histórias de vida e morte

 

38. Água viva é Clarice

Tem A Hora da Estrela

Macabea de Alagoas

Rio de Janeiro a entretê-la

Incompetente ela era

Para quem quisesse vê-la

 

39. Quero falar João Cabral

Do Recife esse poeta

Engenheiro o chamavam

Na verdade era esteta

Será que a perfeição

Era simples sua meta?

 

40. O Rosa do Guimarães

Criou o Grande Sertão

Uma mulher que era homem

Diadorim coração

Riobaldo ficou doido

Depois dessa paixão

 

41.  Agora para encerrar

Esse cordel fica assim

Indígenas Kariri-Xocó

Karapotó luz sem fim

Seu leitor preste atenção

Homem e mulher em mim

42. Nova Literatura Indígena

Se espalhando no país

Munduruku, Jekupé,

Yaman, Pataxó, diz

Kithaulu, Potiguara, fala

Terena, Guará, raiz

 

43.  Haki'y, Wapixana, Yaguakãg

 Makuxi, Kerexu Mirim

e autores sem preconceitos

conteúdo cognitivo, sim

valor próprio de sedução

arte importante é assim

 

44. Função simbolizadora

 que ela possa situar-se

tendo um espaço próprio

e presentificar-se

cada vez mais estudada

local de fala, ela faz-se

 

45. Autorias indígenas

É Literatura forte

Erroneamente escondida

Era entregue à própria sorte

questões indígenas, sim

bem marcado suporte

 

46.  Letras diferenciadas

Pelo brilho furta-cor

direito de expor sua arte

um universo em vetor

propriedade intelectual

coletivo/ individual primor

 

47. Oralidade e escrita

Oratura ou impressa

saberes, fazeres e crenças

adotada na Europa, essa

sobre crise ambiental

a muitos ela interessa

 

48. Mulheres autoras brasileiras

Tem muitas, cada vez mais

Enaltecem a nação

Crítica assim se faz

Maria Firmina dos Reis

Carolina de Jesus, uma ás

 

49.  Conceição Evaristo

      Cora Coralina são

       Hilda Hilst todos leiam

       Ruth Rocha, sim, meu irmão

       Ana Maria Gonçalves

       Defeito de cor, lerão

 

                   

50. Dias de hoje a mulher

No romance Torto arado

Exerce o local de fala

Negro viver estampado

Itamar, o seu autor

Que livro iluminado

 

51. Até logo eu lhe digo

Você leitor que me lê

O cordel que acaba aqui

Adiante você vê

Preste atenção meu amigo

Em Literatura crê.

 

52. Mas antes que eu me despeça

Dessa peculiar fantasia

Esse cordel ainda tem fôlego

Mistura dor e alegria

Estudar é sempre bom

O resto é maresia

 

53. Dos mil e quinhentos pra cá

Se avistou cada mulher

Escrevendo e sendo escrita

É coisa que a gente quer

Saudar essa força infinita

Que gera Letra que vier

 

54. Salve, salve independência

Sai pra lá, assombração

De jogo Maria da Penha

Pra tua má intenção

Literatura Brasil

Retrata nossa nação!

Autores desse cordel

 

 

 

 

Três vezes Teatro: Besame, Aurora, Trate-me!

 

Felipe Damião de Melo

Moisés Monteiro de Melo Neto

 

 

 

 

Besame Mucho

 

1 A peça de Mário Prata          

Nunca mereceu castigo

Lutou contra repressão

Sem se importar com perigo;

Mostrando a amizade

De bom e velho amigo

 

2 Besame Mucho, seu nome

Inspirada em uma canção

Bem famosa no seu tempo,

Até hoje como nunca, não

Tão gostosa que até fica

Grudada em meu coração

 

3Vou te explicar esse caso

É história engraçada

Escrita de trás pra frente

É mostrada e encenada

A vida de dois casais

Que vai mal encaminhada

 

4 Essa história assim começa

Já com uma confusão

O Xico briga com Olga

Terminando a relação

Enquanto do outro lado

Maria quer Lampião

 

5 São dois casais complicados

Um gelado e outro quente

Xico e Olga esfriando;

Tuca e Dina fogo ardente,

Que no auge da paixão,

Matou Dina de repente!

 

6 Dina, era reprimida

Orgasmo, não tinha não

Só com uma fantasia

“Resolveu-se” essa questão

Pena que por causa disso

Foi morta por “Lampião”.

 

7 Xico era escritor

Talento era com aquele,

Mas depois de um tempinho

Olga escrevia pra ele

Ela ficava com prêmio,

Só que a fama era dele.

 

8 Tuca era bem danado

Só pensava em transar

Se não fosse com a Dina

Outra moça ia buscar

Mal sabia que com sexo

Sua amada ia matar!

 

9 Olga era mulher séria

O seu sonho, viajar

Ir morar lá na Europa

Saindo do seu lugar

Acabou fazendo isso

Mas pra Xico foi voltar.

 

10 A relação de Tuca e Xico,

Tem grande definição,

Vai além da amizade,

Chega lá no coração,

É carinho e ternura,

Está aqui é a razão:

 

11 Não é homoafetivo,

Bem, deixe-me explicar

É sim homoternurismo;

É perdido procurar

Que não está no dicionário,

Mas bem deveria estar.

 

 

 

 

A aurora da minha vida

 

12 Aurora da minha vida

Tem um tom especial,

Mostra essa juventude

Em pleno colegial

Resgatando as memórias,

Dando aporte emocional

 

13 Escrita por Naum Alves,

Ano de oitenta e dois

É aquela história conhecida,

Tipo até feijão com arroz.

Do aluno na escola

E a junção desses dois

 

14 Os alunos são diversos

Cada um bem rotulado

Puxa, Gorda, Bobo e Órfão

O quieto bem trajado,

Adiantada, amostrada.

Só as gêmeas, lado a lado

 

15 Cheia de humor, sarcasmo

Faz uma crítica social

Ensino conservador

No seu modo original

Sendo o aluno passivo

E o professor maioral

 

16 Traz também a ditadura

Resgatada do passado,

O danado militar

De pensamento fechado

A liberdade é perigo

E pensar por si, errado.

 

17 Nem tudo está acabado

A história continua

Você pode ler a peça

Ou até escrever a sua;

O importante é manter

Viva esta literatura!

 

Trate-me Leão

 

18 Asdrúbal Trouxe o Trombone

Trouxe grande transgressão;

Ao mostrar a juventude

Em toda libertação;

Era beijo, sexo, droga,

Rock ´n’ roll e diversão.

 

19 Dividida em oito blocos

Cada um em si fechado

Cada personagem distinto

Parecem diferenciados?

Tem rico, pobre, triste,

Feliz e desempregado

 

20 O nome da peça em si

Demonstra ferocidade;

Trate-me Leão, seu nome;

Pra mostrar a realidade

Da juventude do Rio,

Agora com liberdade!

 

21 Feita por Hamilton Vaz

Junto com os outros artistas

Como Regina Casé

Evandro Mesquita, pistas

Que no grupo do Asdrúbal

Tiveram muitas conquistas

 

22 Ano de setenta e seis,

Lá no Rio de Janeiro,

No tempo de gravidez

produção, deles, o terceiro

Fizeram famosa peça

Mexeu com teatro inteiro!

 

23 A criação coletiva

Feita diariamente,

Envolvendo os artistas

De imaginação latente,

Fez com que a obra feita

Fosse mais que transcendente!

 

24 A peça mudou os rumos

De toda uma geração,

Talvez pela realidade

Cativando a multidão,

Ou até a liberdade

Que deu pra nossa nação!

 

 

 

 

 

 

CORDEL COM LAMPIÃO

 

 

Antônio Lourenço Melo

Felipe Damião de Melo

Moisés Monteiro de Melo Neto

 

1

Sobre esse velho Chico

Eu estou a caminhar

Não sobre as suas águas

Mas num barco a passear

Se essa viagem acabasse

Do que iria adiantar?

 

2

Por isso que no cordel

Vamos o eternizar

Na mente e no papel

Não tem como não lembrar

Desse maior cangaceiro

Hoje uma estrela a brilhar.

 

3

Nessa trilha de Lampião

Lá em Angicos chegou

Na dita grota maldita

Tanta cabeça rolou

 Esse caminho tão íngreme

A gente presenciou.

 

4

Desde a morte Virgulino

De alcunha Lampião

Pra alguns é um herói

para outros, um vilão

Na sua história tem tudo

Amizade e traição.

 

5

Bem no meio do descanso

O bando foi surpreendido

Tiro aqui, tiro acolá

Não esperavam o ocorrido

Quase todos ali morreram

outros saíram feridos.

 

 

6

Como em sagas de heróis

A peleja foi ardente

talvez eu lhes diga o estranho

Mas procure ser valente

Pois não se pode escapar

Do real sobrevivente.

 

7

Agora vou lhe contar

Coisa feroz é viver

Cabra que for muito frouxo

Aqui não pode crescer

E na grota do Angico

Não vai se fortalecer.

 

8

Pra chegar lá nessa grota

Espinho no calcanhar

Um calor do meio dia

Que eu quero lhe passar

Com esse meu sangue quente

Vou lhe fazer transpirar.

 

9

Safadeza dessa gente

Você num vá se iludir

E nossa literatura

Ensombrece e faz luzir

Eternizando histórias

Para a mente expandir.

 

10

Nas águas do Velho Chico

Vai descer e vai subir

Em cada redemoinho

Que não se pode fugir

Seja qual for o seu gênero

Pras águas não te engolir.

 

11

Eita, sertão meu querido!

Eu do agreste litoral

Esse lugar perigoso

Tanto feroz, mas não mau

O bom mesmo meu sertão

É que és em mim vital.

 

12

Eita, vida resistência!

Do campo ao arranha-céu

Eu que vivo nessa vida

Tão querido e tão ao léu

Quanto a você que tá lendo

Eu lhe tiro meu chapéu.

 

13

Mas não pense que com isso

Esse ardor que agora sinto

Imaginado ou real

É verdade e eu não minto

É tão viva a assombração

Que eu escrevo e pressinto.

 

14

Eita, força sertaneja

Está em todo lugar!

Seja na terra ou no céu

Ou toda extensão do mar

Tem Felipe e Lourenço

E Moisés pra reclamar.

 

15

Segue esse desafio

Tal figura brasileira

De cabeças degoladas

Uma série na trincheira

Mataram Maria Bonita

E Virgulino Ferreira.

 

16

Nesse dia de manhã

De sangue o sertão banhou

O bando de lampião

Macacada o matou

Restou apenas Corisco

E Dadá, o seu amor.

 

17

Foi de uma brutalidade

A morte de Lampião

Com uma chuva de bala

Que estremeceu o sertão

Mas pior foi de Maria

Degolada com um facão.

 

18

Para servir de exemplo

Tantas cabeça cortada

Foram expostas na cidade

De uma forma descarada

 Chocou a população

Que passava na estrada.

 

19

As metralhadoras prontas

Três e estava morto o rei!

Maria degolada viva

Não sabia agora sei

Dessas mortes tão cruéis

Que na mente presenciei.

 

20

Alpercatas do sertão

Meus pés a me carregar

Metonímia do absurdo

No ar a concretizar

Vida bandida, essa nossa

No céu estrelas a brilhar.

 

21

Lourenço, Damião e Moisés

Danados pelo sertão

Vão assim tirando loa

De viva assombração

Angicos ou Nova Iorque

Em Gaza eles passarão.

 

 

 

22

Mas que coisa tão incrível

A vida de Virgulino

De Serra Talhada, ao mundo

O São João natalino

Tal um batismo de fogo

Um espelho cristalino.

 

23

Bonnie e Clyde que não tentem

Driblar forte sertanejo

Sem estereótipo, não vi

Aproveito o ensejo

Pra te lembrar, meu amor

O som do meu realejo.

 

24

Nosso grande trio fez

Viagem ao passado,

Visitou seu Virgulino

E seu bando desgarrado.

Que no mundo fez história

Pra sempre será lembrado.

 

25

Foi pela manhã cedinho

Partimos da Universidade

Garanhuns estava tão fria

Neblina tanta, é verdade

Fomos até Piranhas, sim

Cantando e rindo, saudade

 

26

Lampião teve seu sucesso

Brutal ladrão, tal humano

simbolizava doença social

não se passe aqui o pano

seria heroísmo ou honra?

Meu Deus, que desengano...

 

 

 

 

27

Nossa vida acadêmica

Se misturando assim

Com essa poesia brava

Até parece que é o fim

Mas esse é só o começo

Ai, meu Deus: que bom, que ruim!

 

28

Na grota em Angicos, pensamos

Literatura da gente

Breve vamos nos formar

Isso deixa a turma contente

Cruzamos o São Francisco

Foi um dia excelente!

 

 

 

Cordel do assum preto

Moisés Monteiro de Melo Neto

 

1 Todo dia arrepiava

pensando na velha canção

sempre auscultava

batendo forte coração.

mas chegou o dia, enfim

Que calmamente...Anunciação!

 

2 Foi um jogo bem armado

 este que lhe aconteceu

desconhecendo certas coisas

algo disso assucedeu

furaram os 2 oi do bicho

dentro 0 olhar sobreviveu

 

3 Pelas serras da 232

o bicho vivia a voar

sobe desce no agreste

assombração foi achar

nem metade do que era

seu voo não conseguiu alçar

 

4 Espaço, gaiola, cruel

bicho com outros sentidos

seu canto não era o mesmo

parado, ecoa cantos gemidos

seu dono, e observava

terríveis olhos compridos.

 

5 Alimentado de álcool

 Seu dono é tão danado

em noites de lua cheia (ou não)

casa sombria, desconfiado

olhar firme e seco

de animal desconfiado

 

6 Amigos  estranhos e

sempre lugar para o frio

eita, cama misteriosa!

Leito sem ele, tão vazio

Agosto, qualquer mês, seja

Ocupadíssimo vadio

 

7 Aqui começa a alquimia

 me prendeu no seu feitiço.

Ossanha! em zumba estou eu?

preto canto  chocalho  mortiço

Meu bico, meu corpo

Sangue de alagadiço

 

8 Amiga dele, de longe

há muita emanação

ele busca contra-axé

bruxa  não perde oração

por defeito ou acerto

ela jura viração

 

 

9 Deixe continuar a história

deste triste episódio

 preto sou pássaro cansado

tanto amor.., tenta-me o ódio

longe habitat, sofro muito

nesta vida, opróbrio

 

10 Que sina nessa gaiola

ouvir  blues, não, nunca, para

o cara bebe e fica olhando para mim.

sua voz escancara

It´s all over now, baby blue

Nunca pensa nada odara?

 

11 Roubaram-lhe o amor,

Semente do seu viver

dor, mas gosto de ouvir

Eu, nas grades a fenecer

Nesta masmorra pendurada

Comida, água, sobreviver

 

12 Na estrofe de uma dúzia

Eu estou a delirar

Giramundo, mundo gira

E o tédio a crucificar

Passa vídeo, telefone.

cara chato de amargar

 

13 Um dia chegou aqui

um tipinho esquisito

fumou, cheirou, caiu

soltou até um periquito

minha companhia, adeus

escapou pro infinito

 

14 E o tipinho? nunca mais!

 assum preto que se vire

desse vigésimo andar

pra casa do sítio tire

a viagem, sem enxergar

Ele viaja comigo

 Tenho medo que me mire

 

15 Fico aqui nessa gaiola

a paz nasce dormindo

o malfeito acalma o louco

O céu é fluído? Só rindo...

Não farei o que não devo

Suicídio? Não findo

 

 16 Que Sertão é o Recife!

prudência não é medo

dentro de nós? Hades

imperfeição sem segredo

vida é linha finita

coisa de Deus né brinquedo

 

17 Nunca mais pensei naquilo

Me acabar contra a parede

nem no céu, nem no inferno

Sigo, sinto a minha sede

saciada por meu dono

preso que fui na tal rede

 

18 Prudente diz o sábio

da substância infinita

aqui tudo foi criado

do bem vem terra maldita

fica assim ressabiado

nessa jaulinha bendita

 

19 Ai, que grande provação!

em parente nesse mundo

Minha mestiçagem grita

Da superfície ao fundo

O canto foi-me um castigo

Meu prazer tão profundo

 

20 Obturo meu ouvido

Entretenho-me só comigo

amo, odeio desejo

não olho só meu umbigo

nem sei mais o que quero

Avante sem ânimo, prossigo

 

21 Prossigo na minha arte

Prossigo no meu martírio

é realidade, o pensar?

Me deixe com meu delírio

Jesus! blackbird, sem abrigo

o cordel, meu colírio...

 

22 E pra rematar de vez

Uma coisa logo lhe digo

Você quer se safar dessa?

Não correr nunca perigo

Feche assim esse cordel

E corra pra outro abrigo

 

 

Cordel do assum preto

Moisés Monteiro de Melo Neto

 

1 Todo dia arrepiava

pensando na velha canção

sempre auscultava

batendo forte coração.

mas chegou o dia, enfim

Que calmamente...Anunciação!

 

2 Foi um jogo bem armado

 este que lhe aconteceu

desconhecendo certas coisas

algo disso assucedeu

furaram os 2 oi do bicho

dentro 0 olhar sobreviveu

 

3 Pelas serras da 232

o bicho vivia a voar

sobe desce no agreste

assombração foi achar

nem metade do que era

seu voo não conseguiu alçar

 

4 Espaço, gaiola, cruel

bicho com outros sentidos

seu canto não era o mesmo

parado, ecoa cantos gemidos

seu dono, e observava

terríveis olhos compridos.

 

5 Alimentado de álcool

 Seu dono é tão danado

em noites de lua cheia (ou não)

casa sombria, desconfiado

olhar firme e seco

de animal desconfiado

 

6 Amigos  estranhos e

sempre lugar para o frio

eita, cama misteriosa!

Leito sem ele, tão vazio

Agosto, qualquer mês, seja

Ocupadíssimo vadio

 

7 Aqui começa a alquimia

 me prendeu no seu feitiço.

Ossanha! em zumba estou eu?

preto canto  chocalho  mortiço

Meu bico, meu corpo

Sangue de alagadiço

 

8 Amiga dele, de longe

há muita emanação

ele busca contra-axé

bruxa  não perde oração

por defeito ou acerto

ela jura viração

 

 

9 Deixe continuar a história

deste triste episódio

 preto sou pássaro cansado

tanto amor.., tenta-me o ódio

longe habitat, sofro muito

nesta vida, opróbrio

 

10 Que sina nessa gaiola

ouvir  blues, não, nunca, para

o cara bebe e fica olhando para mim.

sua voz escancara

It´s all over now, baby blue

Nunca pensa nada odara?

 

11 Roubaram-lhe o amor,

Semente do seu viver

dor, mas gosto de ouvir

Eu, nas grades a fenecer

Nesta masmorra pendurada

Comida, água, sobreviver

 

12 Na estrofe de uma dúzia

Eu estou a delirar

Giramundo, mundo gira

E o tédio a crucificar

Passa vídeo, telefone.

cara chato de amargar

 

13 Um dia chegou aqui

um tipinho esquisito

fumou, cheirou, caiu

soltou até um periquito

minha companhia, adeus

escapou pro infinito

 

14 E o tipinho? nunca mais!

 assum preto que se vire

desse vigésimo andar

pra casa do sítio tire

a viagem, sem enxergar

Ele viaja comigo

 Tenho medo que me mire

 

15 Fico aqui nessa gaiola

a paz nasce dormindo

o malfeito acalma o louco

O céu é fluído? Só rindo...

Não farei o que não devo

Suicídio? Não findo

 

 16 Que Sertão é o Recife!

prudência não é medo

dentro de nós? Hades

imperfeição sem segredo

vida é linha finita

coisa de Deus né brinquedo

 

17 Nunca mais pensei naquilo

Me acabar contra a parede

nem no céu, nem no inferno

Sigo, sinto a minha sede

saciada por meu dono

preso que fui na tal rede

 

18 Prudente diz o sábio

da substância infinita

aqui tudo foi criado

do bem vem terra maldita

fica assim ressabiado

nessa jaulinha bendita

 

19 Ai, que grande provação!

em parente nesse mundo

Minha mestiçagem grita

Da superfície ao fundo

O canto foi-me um castigo

Meu prazer tão profundo

 

20 Obturo meu ouvido

Entretenho-me só comigo

amo, odeio desejo

não olho só meu umbigo

nem sei mais o que quero

Avante sem ânimo, prossigo

 

21 Prossigo na minha arte

Prossigo no meu martírio

é realidade, o pensar?

Me deixe com meu delírio

Jesus! blackbird, sem abrigo

o cordel, meu colírio...

 

22 E pra rematar de vez

Uma coisa logo lhe digo

Você quer se safar dessa?

Não correr nunca perigo

Feche assim esse cordel

E corra pra outro abrigo

 

INDÍGENAS COMENTAM LITERATURA BRASILEIRA

Autores: IEDO RAMOS DE ARAÚJO, NIRÃNIK WANAKIDZÉ DE LIMA SILVA, VIVIANE SILVA DE LIMA, Moisés Monteiro de Melo Neto (professor orientador)

 

1 O Brasil foi invadido

Chegou aqui Portugal

Eu só não sei direito

Se isso foi bom ou mal

Uma coisa eu lhe digo

Pra nós índios foi fatal.

 

2 Eram então os quinhentos

Quando se deu a invasão

Isso nos deixou maluco?

Ei, você: preste atenção!

Veio sífilis gripe

E a globalização

 

3 Foram padres e cronistas

Veio o teatro também

E assim muitos navios

Vinheram lá do além

Queriam que a gente

Todos dissessem amém.

 

4 Se estabeleceu aqui

Uma cultura diferente

Barroco foi expressão

Que arrebatou muita gente

Não tinha ainda esse nome

Era um troço diferente.

 

5 Da Bahia vem Gregório

Com um papo tão estranho

Poesia incomodou

Tanto padre e tacanho

O bicho sentou a peia

E pouco foi seu ganho.

 

6 Teve também o Vieira

Ai, Tupã, quanto sermão!

Veio transformar o índio

Mas virou assombração

Perseguido ele foi

Pela tão inquisição.

 

7 Acabado esse estilo

Veio assim o Arcadismo

Clássico está de volta

A razão, o terrorismo

Arcádia era um “clube”

Com norma, sem preciosismo.

 

8 E Marília de Dirceu

Poema e natural lirismo

Vila Rica era o lugar

Viu o Neoclassicismo

Colônia a afundar

Épico obscurantismo.

 

9 Veio assim o Romantismo

Ai “Jisus” que aventura

Fuga da realidade

Muito amor que se procura

Tô perdendo o juízo

Ó que estranha procura!

 

     10 Quebrou todas as regras

Exaltou o Brasil

O índio como o herói

Ai, que homem tão viril!

Teve aí O Guarani

Nunca se mostrou serviu.

 

11 E poetas tão bonitos

Castro Alves que lutou

Contra nossa escravidão

Esse cabra arrasou!

Com seu Navio Negreiro

Que Betânia até cantou.

 

12 Quiseram até a morte

Álvares de Azevedo

Gonçalves Dias, no Exílio

Que frenesi dá até medo

A moreninha? Que frege

É vida ou é brinquedo?

 

13 O Realismo de Brás Cubas

Negro Machado de Assis

Psicologia humana

Da dondoca à meretriz

Novo estilo se instalava

Na cultura do país.

 

14 Dom Casmurro tão estranho

Já a amada Capitu

Traiu o marido ou não?

Parece flor de caju

Escobar é o suspeito

É fortão, que buruçu!

 

15 Aqui, em Palmeira dos Índios

Hoje ainda a gente lê

Quincas Borba, Cartomante

Realismo que se crê

E depois Naturalismo

Em O cortiço a gente vê.

 

16 Determina zoomorfismo

E nunca o livre arbítrio

Sociologia nas letras

Parece um precipício

E o Brasil é exposto

Com todo o seu suplício.

 

17 Daí país quer ser branco

Vem o Parnasianismo

Tanto Grego e Romano

Poesia, artificialismo

Tem o incêndio de Roma

Com Bilac, historicismo.

 

18 Poetas queriam a alma

Isso não acaba assim

Simbolismo surge, enfim

Também só poemas

Cruz e Souza e Alphonsus

Pó de pirlimpimpim.

 

 

19 O Pré-Modernismo é

Uma nova geração

Tem bagunça na cidade

Que chega até o sertão

Lima, Lobato, Euclides

Ah, foi tanta agitação!

 

20 E tem Augusto dos Anjos

Que da Paraíba veio

Com morcegos, versos íntimos

Ele acertou em cheio

A,i que coisa mas sombria!

Disseram que era feio.

 

21 Lima Barreto é o cara

Subúrbio, corrupção

Falou do índio ideal

E terminou na prisão

Literatura pro povo

Pro Brasil salvação.

 

 

22 Lobato soltou o verbo

Na crítica-conto que fez

Do matuto preguiçoso

“Trabalhando” em Urupês

Racista no Pica-pau

Isso eu digo a vocês.

 

23 Semana de Arte Moderna

São Paulo, deitou, rolou

Com a cara dos burgueses

A plateia não gostou

Mário, Oswald, Manuel

Carnaval Brasil mostrou

 

24 Na Segunda Geração

Dividimos verso e prosa

Tem poemas e romances

Drummond, Cecília se goza

Vinícius também tá dentro

Poesia vigorosa.

 

25 Vou falar dos romancistas

Da Segunda Geração

Amado, Rachel, Zé Lins

Graciliano, boa opção

Zé Lins cana-de-açúcar

Rachel com O Quinze, sertão

 

 

26 Amado foi o cara

De comunismo entranhado

Depois criou grandes mulheres

E eu fiquei viciado

Gabriela, Tereza e Flor

E assim foi aclamado!

 

27 No seu terceiro momento

O modernismo arrasou

Trouxe Clarice, João

De Melo Neto, doutor

Pré- Concretismo de tal

E muito texto ficou.

 

28 Sina lispectoriana

A Hora da estrela, meu bem

Somos todos Macabéa

Tanto aqui como no além

Nossa estrela nordestina

E Severino também.

 

29 Nonada: Grande Sertão

De Guimarães meu amor

É a poesia em prosa

Deste grande escritor

Terceira marguem do rio

Tanto mistério e valor.

 

30 Agora eu digo uma coisa:

Índio, negro, mulher

Muita gente foi calada

Foi uma briga danada

Pra ser da literatura

Ter uma chance qualquer.

 

31 Negro como foi Machado

Cruz e Souza, o simbolista

Machado se disfarçou

Preconceito dá na vista

Sofreu Solano Trindade

E Luiz Gama na lista.

 

 

32 E o Concretismo, ó leitor?

São Paulo nos enviou

Haroldo, Augusto e Décio

Poema em pôster, mudou!

Ferreira Gullar se ergueu

Poema sujo lançou.

 

33 Ariano Suassuna

Romance, poema, teatro

Compadecida mostrou

E botou o diabo a quatro

Movimento armorial

Do altar até o átrio.

 

34 Vou falar do Torto Arado

Júnior, Itamar Vieira

Negra cultura, cês leiam!

Isso sim que é brasileira

Ficou famoso? Isso é pouco!

Nada ficou pela beira.

 

 

35  Ambígua, híbrida

é local e nacional

resultado a longo prazo

escrita sensacional

é assim tão fascinante

essa literatura: uau!

 

36 Nova Literatura Indígena

Se espalhando no país

Munduruku, Jekupé,

Yaman, Pataxó, diz

Kithaulu, Potiguara, fala

Terena, Guará, raiz

 

37 Haki'y, Wapixana, Yaguakãg

 Makuxi, Kerexu Mirim

e autores sem preconceitos

conteúdo cognitivo, sim

valor próprio de sedução

arte importante é assim

 

38 Função simbolizadora

 que ela possa situar-se

tendo um espaço próprio

e presentificar-se

cada vez mais estudada

local de fala, ela faz-se

 

39 Autorias indígenas

É Literatura forte

Erroneamente escondida

Era entregue à própria sorte

questões indígenas, sim

bem marcado suporte

 

40 Letras diferenciadas

Pelo brilho furta-cor

direito de expor sua arte

um universo em vetor

propriedade intelectual

coletivo/ individual primor

 

40 Oralidade e escrita

Oratura ou impressa

saberes, fazeres e crenças

adotada na Europa, essa

sobre crise ambiental

a muitos ela interessa

 

41 Vou parando por aqui

Quem quiser continuar

Que continue sozinho

O que eu quis foi falar

Literatura brasileira

Essa história contar.

 

 

Autores:

 Iedo Ramos de Araújo

Nirãnik Wanakidzé de Lima Silva

Viviane Silva de Lima

Moises Monteiro de Melo Neto

 

Cordel da literatura infantil e juvenil

 

Autores: Moisés Monteiro de Melo Neto

Nogueira Netto

 

 

1.      Tudo é um aprendizado

Na constância das mudanças

Sem nenhum sonho frustrado

Destruindo as esperanças

A atmosfera é outra

No planeta das crianças

 

2.      Eu Duvido logo existo

Disse Descartes uma vez

Literatura uma fonte

Que desconhece escassez

E o livro é matéria-prima

Que a mente humana fez

 

3.      A ficção nos ajuda

Em nosso hábito de ler

Ela nos faz Dom Quixotes

Em um mundo a percorrer

Fora da realidade

Que estamos a viver

 

4.      A realidade física

É fácil de adquiri-la

Porém na terra abstrata

Que nossa mente desfila

A ficção é moeda

Que ajuda adquiri-la

 

5.      Neste esferoidal planeta

A ficção faz alarde

Desrealiza o real

Encoraja o mais covarde

E quem não a busca cedo

Ela o achará mais tarde

 

6.      Infantil e juvenil

Sempre é literatura

Na escola casa ágora

Juntar o mal e a cura

O longe, o impessoal

Com a busca e a procura

 

7.      Aprender refletir vale

Para mim e para ti

Sabemos mais de exatas

E o que se tira dali

Do que acerca do amor

Como afirmou Rita Lee

 

8.      Enxergando o outro apenas

Pela nossa experiência

Infantil ou juvenil

Ficção não é ciência

Constrói-se a realidade

Com marcas da existência

 

9.      Quando se mostra na sala

Um pouco de poesia

Seja encenando ou narrando

O professor é o guia

Mas pai e mãe têm também

Compromisso todo dia

 

10.  Peter Pan ou Dona Benta

Um Minotauro gentil

A borboleta e cigana

Figuras do pastoril

São personagens presentes

Dentro do mundo infantil

 

11.  Linguagem para a criança

Não é como para adulto

As lições que elas trazem

Num pensamento resulto

Não preciso ser complexo

Para precisar ser culto

 

12.  Existe a idade certa

Para tratar certos fatos

Mas literatura fala

Em momentos inexatos

Sendo a matéria

Que registra esses relatos

 

13.  Ensinar a arte aos jovens

A palavra não é tudo

Roda gira, gira roda

Com verdades não me iludo

A literatura é séria

Mas ela também é ludo

 

14.  Tem livros só com imagens

Para o neném não lê

Tem menino maluquinho

Salve o coco e o dendê

Além das danças dinâmicas

Feitas por Maculelê

 

15.  O público-alvo é assim

Com jovens assim começam

A viajar nas estórias

Não se afastam, nem se estressam

E quando mais ela é lida

Mais os mesmos se interessam

 

16.  É um trabalho danado

Que na escola se faz

Professores e alunos

Sabem de frente para trás

Imaginação comanda

E a arte é muito mais

 

17.  Lá no íntimo de nós

Desde a gente pequenino

Grita aquele ser adulto

Mesmo dentro do menino

Ó pequena sementinha

És senhora do destino

 

18.  A ficção é conflito

Bonito pra a gente ler

Quando contavam histórias

Encantavam com o saber

Digladiavam-se aos homens

Mentiras pra gente crer

 

19.  A desforra da infância

Em meio à literatura

É mais pura invenção

Feita pela criatura

Mentira que após contada

Se transforma em aventura

 

20.  No correr do tempo vi

Espécies de livros, sim

Quando era criancinha

Ouvi histórias sem fim

De gênio e de desatino

Fui diabo e serafim

 

21.  Na poesia infantil

O humor é delicado

Tem patinho que era cisne

Casa engraçada do lado

Arca de Noé, Vinícius

Tudo assim bem colocado

 

22.  No mundo dos pequeninos

A parlenda é palavrório

Xuxa é uma rainha

O parque é um escritório

E o sorriso uma doença

Que dispensa ambulatório

 

23.  Dos termos vêm a ideia

Como evento se anuncia

Toda lua é a primeira

Eu lembro que parecia

Toda chuva lembra outra

Mas, eu sequer percebia

 

24.  Das situações banais

Com visão crítica talvez

Com sons, ritmos e versos

Desde pequeno se fez

Assim a escrita nasce

E um leitor se satisfez

 

25.  Brincar na educação

Promove o entendimento

No valor da brincadeira

Tem sim um florescimento

Eu vou lhe lembrando bem

Relembrando esquecimento

 

26.  Não é ensinar bons modos

Poesia é diferente

É prazer, encantamento

Chegando como um presente

O gosto do literário

Para o paladar da gente

 

27.  O cabra se esvoaça

Em um portal que nos chama

Começa se enroscar

Nos fios de uma trama

Viaja por muitos reinos

Mesmo deitado na cama

 

28.  Mostrar em vez de contar

Também é literatura

É coisa da nossa gente

Também de muita cultura

Entregando o indizível

Entrelaça a tessitura

 

29.  Prazer desinteressado

De onde venho, aonde vou

Catárticos elementos

Que nos redimensionou

Para o lado do etéreo

São Saruê nos salvou

 

30.  Para criança é melhor

Literatura é folia

É lágrima, não de tristeza

É choro de alegria

Não exige um exercício

Nem sequer as avalia

 

31.  Essencial existência

O teatro pra criança

Faz quase tudo folguedo

É um poço de esperança

Não tema logo menino

Entra logo nessa dança

 

32.  O teatro tem uma força

Que ajuda a esclarecer

É um jogo que se entende

Atrai de tanto querer

A criança e adulto

Se igualam pode crer

 

33.  A magia teatral

É fácil, mas complicado

No tablado uma rainha

Foi a Maria Machado,

Com “Pluft o fantasminha”

Fez sucesso arretado

 

34.  Liberdade do criar

É coisa muito importante

Os livros não são somente

Para ficar numa estante

Dramatização e auxilia

Todos com o livro avante

 

35.  O lúdico e o prazeroso

Para uma ação dramática

Sem querer o pedagógico

A coisa pode ser prática

Magia percorre bem

Desvenda uma problemática

 

36.  Está no conto “Umas férias”

De Machado e ele é

O que retrata um adulto

Incompleto por Javé

Que vem a ser imperfeito

 Podendo ser visto até

 

37.  O Copperfield de Dickens

Muito me impressionou

Do pai, o luto e o tédio

Aos poucos o esmagou

Como um machado afiado

Que algumas fibras cortou

 

38.  No bando de Robin Hood

De criança, histórias temos

Também em Mark Tuan

Emília danada lemos

Estrepolias malvadas

E assim nos entretemos

 

39.  Os apitos do juiz

Guris e adolescentes

Além de João e Maria

Curiosos e valentes

Crianças são terras férteis

E as histórias são sementes

 

40.  Literatura é desvio

Linguagens bem trabalhadas

O estranho e o comum

Curvas certas e erradas

Contam o cotidiano

Como o mercado das fadas

 

41.  A literatura hoje

É algo bem singular

Concorre com instagram

Youtube e celular

Mesmo assim, possui um brilho

Que as telas não sabem dar

 

42.  Fazem leituras nas telas

Mas bom mesmo é no papel

Ser leitor é para sempre

Não vai ficar ao léu

Em companhia dos livros

Seja erudito ou Cordel

 

43.  A leitura é ritual

A crianças se acostuma

Tem o peso do metal

Tem a leveza da pluma

Feita na beira da praia

Passando os pés na espuma

 

44.  O poder de encantamento

Que a leitura produz

Amplia o vocabulário

A novas visões induz

Mas nunca cobra passagem

Nas voltas que nos conduz

 

 

45.  Estudar texto em criança

E adolescente também

Deslizando pelas páginas

Ao estudar vai além

Olha que o livro tem preço

Mas, possui valor também

 

46.  É uma plateia à parte

Público feito por crianças

Línguas sem hipostação

Quixotes e Sancho Panças

Virando leitores críticos

Renovando as esperanças

 

47.  Superar lugar comum

Ser bonzinho pouco importa

Preconceito não aceito

Vá bater em outra porta

Não há um caminho certo

Quando a direção é torta

 

48.  Vamos ler nas entrelinhas

Não trazer só mastigado

Vamos ver o rearranjo

Não vale o mal educado

No plural que é o mundo

Vale tudo ser virado

 

49.  Bruxas, lobos, maravilhas

O folclore verdadeiro

Lida com qualquer idade

Nacional ou estrangeiro

Uma vida ainda é pouco

Viva um bom aventureiro

 

50.  No jogo do faz de conta

Conta o inusitado

Literatura pra jovens

O real reinventado

Faz explodir o fascínio

Perante o interpretado

 

51.  A brincadeira é real

Acontece de verdade

O que vai ser ficção

O que é realidade

Ser criança com a criança

Traz à tona a liberdade

 

52.  Não é moral de história

Pois, isso não é legal

Não vem com resposta pronta

Tal e qual ou nada igual

Para vencer tanta dor

Enfrentemos todo o mal

 

53.  Tristeza vire alegria

Pedagogia pra lá

Ideologia vem não

Leitor, traz sonhos pra cá

Mudando o que não tá bom

Ninguém fica a Deus dará

 

54.  Autor não deve forçar

O imaginar da criança

Porque louvam várias vozes

Fortalece essa aliança

Quem for escritor criativo

Inicia uma festança

 

55.  Continua a brincadeira

Intenso prazer brincar

Nunca experimentado

Faz o mundo rebrilhar

No jogo não resta dúvida

O bom é mesmo viajar

 

56.  Brincar é libertação

Quando os livros se entrelaçam

Os olhos grudam nas letras

Enquanto as páginas se amassam

Os vocábulos dialogam

E os parágrafos se abraçam

 

57.  Ler é viver outra vida

Refazendo a própria história

Quando muda o nosso mundo

Passa a ser uma vitória

Pois na criança uma estante

É posta em sua memória

 

58.  A dúvida sempre se tem

Pelo jovem não se mande

Não há céu só pra criança

Consciência se expande

Deus é o mesmo pra todos

Ignorância se abrande

 

59.  Se quer aprender a voar

A literatura ensina

Aos jovens de toda história

A caretice elimina

A infância perpetua

E jamais se descrimina

 

60.  Não se traia pela língua

Ao fluir o escritor

Na máquina ou no humano

Surge o tom revelador

Pois a criança conhece

Toda linguagem de amor

 

61.  A literatura é

A fantasia ao pensar

As curvas em cada letra

Com o brilho em cada olhar

O sorriso ao escrever

E o prazer ao recriar

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CORDEL DE SÃO FRANCISCO

1

A cidade italiana

De Assis tem na memória

A história de um jovem

Que abriu mão de ter glória

Entregando a vida a Deus

Sua vida fez história

 

2

São Francisco a trajetória

Vai compor este cordel

Sobre um menino doce

De pai amargo igual fel

Com um patrimônio na terra

Sem moradia no céu

 

3

Desde cedo o tabaréu

Teve ternura infinita

Evitando a todo custo

O ódio que nos limita

Dialogou com os pássaros

Como quem a Deus imita

 

4

Como quem fé necessita

Com bases celestiais

A mãe dedicada a fé

O filho voltado à paz

Expôs a humanidade

Abraçando os animais

 

5

Seu pai criticava mais

Os comportamentos seus

Foi rico ao vender tecidos

Viveu como os fariseus

Pois o cobre não encobre

A falta de amor a Deus

 

6

À família deu adeus

Na decisão que ele quis

Ir lutar contra Perugia

Pela cidade de Assis

Por lá foi capturado

Um ano preso infeliz

 

 

7

Antes dessa cicatriz

Que na sua alma enterra

Chegou a conhecer clara

Depois conheceu a guerra

Provando os banhos de sangue

Da raça humana na terra

 

8

Seu pai lucrou com a guerra

Muito dinheiro se diga

Soube explorar quem trabalha

E a criança que mendiga

Ao adotar a ganância

Por sua melhor amiga

 

9

Francisco com isso liga

Não podia suportar

Conheceu os operários

Quis se sensibilizar

Mas a mãe viu que ao pai

Ele não ia imitar

 

10

O pai quis o maltratar

Sem querer o ver no ócio

Porque além de um filho

Quis um sucessor, um sócio

Pois o seu comportamento

Era ruim para o negócio

 

11

Seu amor à natureza

Se fortalecia ao vento

A alegria o cercava

Mas era também lamento

Que o peito batia forte

No rumo ao conhecimento

 

12

Tentando levar alento

Gritou até ficar rouco

Mas dessa forma a cidade

Dizia que era louco

Para dizer a verdade

Isso explica muito pouco

 

13

O seu pai foi ao juiz

Para à igreja agradar

Mas Francisco então orou

Foi a ela se entregar

Ficando longe das trevas

A luz era o seu lugar

 

14

Francisco quis ser feliz

E nada mais importava

Foi trabalhar por amor

Pedia esmola, alguém dava

Para cuidar da igreja

Que ele mesmo reformava

 

15

Mas, aí seu pai falava:

Para casa você vai

Ele abriu mão da herança

Pois isso não lhe atrai

Retirando a roupa em público

Sem levar nada do pai

 

16

A nova paixão crescia

Como seria o futuro

Tava sendo lapidado

Um Diamante tão puro

Que ajudou aos mendigos

E se tornou mais maduro

 

17

Ele falava com Deus

Como um pai ou um irmão

E reformou a igreja

Do santo São Damião

Numa conduta que foi

Mais do que religião

 

18

O seu amigo Bernardo

Ao voltar da Guerra Santa

Viu que Francisco era puro

Em cada gesto que encanta

Tinha fé, exemplo e obras

É o que mais adianta

 

19

Ele após ficar doente

Também ficou transformado

Insistiu em perdoar

E também ser perdoado

Da mesma forma que amar

Para também ser amado

20

O grupo de Francisco

Foi crescendo a quantidade

A todos recomendava

Preservar a castidade

O corpo é casa de Deus

E um lar para a santidade

 

21

Assim seguiu seu caminho

Embora ainda rapaz

Mostrando maturidade

Pedindo a Deus, pais dos pais

Que onde houvesse algum ódio

Ele ali levasse a paz

 

22

Assim foi pedir ao bispo

E ele agiu com violência

Pois, Francisco incomodava

Com a sua transparência

Quis ir a Roma rezando

Para buscar outra essência

 

23

Seguiu Francisco e mais cinco

Para cumprir este plano

Sendo zombados por Paulo

Igual um grupo cigano

Mas foram recompensados

Ao pisar no Vaticano

 

24

Inspirados em Mateus (10:9)

Com sentimentos distintos

Não leveis ouro nem prata

Nem dinheiro em vossos cintos

E alimente com palavras

Vários corações famintos

 

25

O Papa daquela época

Era Inocêncio III

Francisco se ajoelhou

E pediu o tempo inteiro

Para o seu grupo poder

Pregar o Deus verdadeiro

 

 

 

 

 

26

O papa inicialmente

Demonstrou dar um revés

Porém depois de um sonho

Mudou perante os fiéis

E assim que viu Francisco

Chegou e beijar-lhe os pés

 

27

Assim nasceu sua ordem

Que abraçava os leprosos

Sem acumular riquezas

Sendo sempre generosos

Dando um exemplo de fé

A todos os poderosos

 

28

E assim foi a sua história

Merecedora de palmas

Em prol de um mundo melhor

Enfrentaram vários traumas

Com a pobreza dos corpos

Mas, com riqueza nas almas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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