Artigo apresentado no curso de licenciatura em letras,
da Universidade de Pernambuco. UPE- Campus Garanhuns, com o referido artigo,
concluindo o trabalho da disciplina de literatura brasileira.
Professor: Prof. Dr. Moisés Monteiro de Melo Neto
GARANHUNS-PE
2023
RESUMO:
O artigo proposto explora a interseção
entre a história do Barroco Europeu, a Inquisição Portuguesa e a obra teatral
de Antônio José da Silva, conhecido como "o Judeu". Iniciando com um
contexto histórico do surgimento do Barroco em meio à ruptura da igreja
católica e a subsequente implementação da Inquisição, o artigo destaca como
esses eventos moldaram a sociedade da época. A peça "A vida de Dom Quixote de la Mancha e do gordo
Sancho Pança" é analisada como uma forma de resistência e crítica social.
Antônio reinterpreta a obra de Cervantes para denunciar o fanatismo religioso e
o sistema político degradante que prevalecia em Portugal. Através do riso e da
sátira, ele expõe as contradições e injustiças da sociedade, oferecendo uma voz
aos oprimidos e uma crítica aos poderosos. Cada cena da peça é analisada como
uma expressão da luta de Antônio contra a opressão, desde os devaneios
delirantes de Dom Quixote até as zombarias de Sancho Pança sobre a justiça
falha e as relações sociais distorcidas. O artigo em questão evidencia as
marcas de uma profunda humanidade em suas críticas, mostrando o sofrimento e a
resistência daqueles que lutavam contra um sistema corrupto e injusto.
Palavras-Chave: Barroco. Inquisição. Quixote do
Judeu
INTRODUÇÃO:
Diante
da construção histórica do barroco Europeu, que surge no século XVI, na Itália,
em meio à ruptura da igreja católica, que estava perdendo o seu poder diante da
sociedade da época, criando uma verdadeira perseguição, para todos aqueles que
se opusessem às suas leis/dogmas.
Neste
período da história surge o movimento da contra-reforma com Martin Lutero, que
cria as 95 teses, que desencadearam debates teológicos e disputas sobre a
interpretação da bíblia e tudo aquilo que a igreja ensinava. Levando a igreja a
implementar leis severas, para aqueles que não se encaixarem nas suas regras. A
instituição por sua vez, tomavam as riquezas e executavam as pessoas das mais
diferentes etnias, tomando o poder através do temor.
A
família do referido escritor e dramaturgo, Antônio José da Silva (1705-1739),
que morava na cidade do Rio de Janeiro, eram judeus, prática abominada pela
igreja católica da época, que intensificaram as atividades inquisitoriais da
colônia. A família do escritor foi obrigada a retornar a Portugal em 1711,
quando tinha apenas 7 anos de idade, para o julgamento da sua mãe que estava
sendo acusada de judaísmo, pelo santo ofício em 1728. Foram criados Tribunais
em Lisboa, Coimbra, Évora, Tomar e Porto. Os três últimos foram abolidos por
causa dos grandes abusos e corrupção de sua administração. Podemos dizer que a
Inquisição lusitana ultrapassou em ferocidade e violência a Inquisição
espanhola, contrariamente ao que se tem escrito. (NOVINSKY, p. 36, 1990)
Entretanto estas
configurações históricas levaram o judeu, alcunha atribuída ao
escritor/dramaturgo; a desenvolver uma percepção mais apurada, de fatos que
permeavam a sociedade portuguesa do século XVI, que se encontravam descontentes
com os posicionamentos do clero e da monarquia.
Portanto, procura-se
explorar neste artigo os aspectos sociais e culturais da sociedade portuguesa
do século XVI, desenvolvendo uma ponte entre o período do barroco que é
marcado pela dualidade da visão de mundo. Perpassando pelo tribunal do santo ofício
da santa inquisição e explorando a primeira grande obra do
escritor/dramaturgo, Antônio José da Silva. “A vida do grande D. Quixote de la
mancha e do gordo Sancho Pança”.
DO
BARROCO A SANTA INQUISIÇÃO
No final do século XVI, surge um
estilo denominado rococó, nome atribuído ao aclamado barroco, que
desenvolve um estilo único de expressar as artes plásticas, arquitetônicas e
literárias. O barroco é caracterizado pelas influências religiosas, devido ao
contexto histórico da reforma protestante com Martim Lutero, das figuras de
linguagem exageradas e das contradições.
Ademais foi o
barroco que estabeleceu uma grande ostentação e extravagância dos grupos que
lucravam com as riquezas exploradas pela colonização. Estes aspectos eram
perceptíveis, através das pinturas de Caravaggio, caracterizando um lado rude
nas suas obras, estes contrastes de luz e sombra, deixava evidente como estava
se estabelecendo a sociedade do momento.
Neste período
estabelecia a ascensão de diversos artistas em diversas áreas; pintura,
Caravaggio (1571-1610), Diego Velázquez (1599-1668), Paolo de Matheus
(1662-1728) e Alcoforado (1640-1723). Na dramaturgia; Antônio José da Silva
(1705-1739). Estes artistas personificaram a forma como era vista e moldada à
sociedade e as pessoas.
Diante desses
processos de mudanças surge em meio ao renascimento português a contra reforma,
fator de extrema importância no decorrer da construção do barroco e da
história, estabelecendo um embate entre o antropocentrismo e o teocentrismo,
esta dicotomia entre o homem e Deus. Reforça a ideia de que a igreja denota
poderes pré-estabelecidos para a formação de um discurso social que permeariam
por diversos séculos. A partir desta crise que assolava a igreja
católica, nasce a inquisição, revestindo o tribunal de fé de poderes
absolutos, que por sua vez exerceu o poder durante os séculos XVI a
XVIII, passando a perseguir diversos artistas que subvergiam os
dogmas/imposições, feitas a sociedade da época.
Temos, portanto, um artista que soube tecer as mais
diversas influências na composição de seu teatro: óperas italianas, zarzuelas
espanholas e modinhas brasileiras. Mas o que importa mesmo é que o Judeu
conseguiu, ainda em vida, com essas operetas jocosas, ganhar o respeito da
crítica e o aplauso do público. Com maestria e perspicácia, Antônio José soube
extrair, como nenhum outro teatrólogo de sua época, os efeitos cômicos dos
trocadilhos e dos quiproquós, estes últimos, aliás, considerados por Henri
Bergson (1987) como uma das faces mais geniais e engraçadas que a comédia pode
nos proporcionar. (PEREIRA, 1998, p.121).
O referido autor e
dramaturgo, Antônio José da Silva, em sua breve e avassaladora vida, marcada
pela perseguição da santa inquisição. E sua luta contra esta instituição e
o sistema que maltratou, acusou e desviou recursos dos presos pelo santo
ofício. Com a intenção de elevar os níveis financeiros da igreja, além de levar
muitos a morte em praça pública.
Viveu
apenas 34 anos e na biografia abreviada pela intolerância só constam
Sufocos e asfixias: não teve direito a uma identidade,
viveu abafado pelo anonimato e, para vencer a insignificância de um nome tão
corriqueiro que parece homônimo de joão-ninguém, só conseguiu ser reconhecido
depois de esganado pela Santa Inquisição – graças à alcunha convertida em
pseudônimo. Infamante, por sinal. (DINES, ELEUTÉRIO, 2005, p.17).
A partir do retorno
da família do judeu a Lisboa, realçando a veia artística do teatrólogo. Que
surge após a sua formação em advocacia, profissão exercida pelo seu pai, o qual
o expirou logo de início, posteriormente se encontrando na dramaturgia,
escrevendo obras que os levaram à denuciar, o controle que a igreja exercia
diante de uma sociedade amedrontada pela subversão de uma instituição que
refletia o medo a indignação e o pavor da época.
No teatro do Judeu, o gracioso é o fio condutor das ações,
representa a consciência social e serve para pôr em ridículo os poderosos do
tempo. Todos os graciosos são propositadamente cômicos dominados por um senso
prático da vida, simbolizada na linguagem corrente, que contrasta com a
artificial, de estilo afetado, utilizada por seus senhores. (PEREIRA, 2007,
p.43).
Portanto, Antônio percebe uma construção injusta
na formação familiar. Pois, a imposição exercida pela igreja. Os
colocaram numa situação a se sentirem obrigados a se converterem aos
dogmas do catolicismo. Apesar deste disfarce religioso, criado pelo próprio e
seus familiares, a essência judaica jamais foi abandonada. E através da sua
arte torna-se referência na luta e resistência contra as imposições da igreja
em Portugal, dando voz e vez a todos aqueles que estavam sendo perseguidos e
torturados física e mentalmente, pelo tribunal do santo ofício.
ANTÔNIO JOSÉ
O Quixote cervantino nas mãos de o
judeu, se converteu em uma dramaturgia, estruturada em uma opereta joco-séria,
ou seja, a peça apresenta cenas ora faladas, ora cantadas, além de árias, coros
e minuetos. O escritor judeu elabora sua própria versão do Quixote, utilizando
elementos da segunda parte da obra de Cervantes. Ele reinterpreta e paródia
algumas das cenas memoráveis desse romance. A vida de Dom Quixote de la Mancha
e seu fiel Sancho Pança é apresentada em duas partes: a primeira composta por
nove episódios, e a segunda, por oito.
Em 1733, Antônio José apresentou sua estreia
teatral, "A vida de Dom Quixote de la Mancha e do gordo Sancho
Pança", nos palcos do Bairro Alto, em Lisboa. O espetáculo foi recebido
com entusiasmo por um público ansioso pelas divertidas façanhas do já renomado
Antônio José, carinhosamente conhecido como "o Judeu". Assim como foi
citado acima, ele enfrentou severos castigos e torturas nas prisões da
Inquisição. Sua primeira detenção ocorreu aos 22 anos de idade devido à
acusação de praticar o judaísmo, sendo considerado herege por manter práticas
relacionadas a Moisés, apesar de já ter se convertido ao catolicismo. De tal
forma, várias cenas e diálogos na peça "A vida de Dom Quixote"
criticam tanto a Inquisição quanto denunciam um sistema político-social degradante
que prevalecia em Portugal no século XVIII.
QUIXOTE
CERVANTINO
Entretanto, antes
de adentrarmos na dramaturgia de Antônio José, é imprescindível que seja
abordado uma breve recordação do enredo “Dom Quixote de la Mancha”, escrito
pelo espanhol Miguel de Cervantes. A obra foi dividida em dois momentos, a
primeira parte em Madrid em 1605 e a segunda anos depois em 1615.
A obra nos apresenta Alonso Quijana, um fidalgo de
50 anos, no qual era completamente apaixonado e encantado por alimentar o seu
cérebro com novelas de cavalaria, então, resolveu sair pelo mundo, montado em
seu magro Rocinante, tentando colocar em prática as lições medievais dos
cavaleiros andantes. Ele parte em aventuras com seu fiel escudeiro, Sancho
Pança, em busca de justiça e nobreza, lutando contra moinhos de vento que ele
imagina serem gigantes, defendendo donzelas em perigo que são, na verdade,
camponesas comuns, e assim por diante. Durante suas viagens, Dom Quixote se
envolve em várias situações cômicas e absurdas, muitas vezes causadas por sua
visão distorcida da realidade. Ele encontra personagens como o falso cavaleiro
de espelhos, o jovem pastor Cardênio e a bela Dulcinéia del Toboso, por quem
ele nutre uma paixão idealizada. Durante suas viagens, Dom Quixote se envolve
em várias situações cômicas e absurdas, e então, Dom Quixote finalmente
encontra Dulcineia, mas descobre que ela não é a nobre donzela que ele
imaginava. Isso leva a uma crise de identidade e reflexão sobre a natureza da
realidade e da ilusão. A obra termina com a reconciliação de Dom Quixote com a
realidade e sua morte pacífica, onde ele renuncia à sua persona de cavaleiro
andante e retorna ao seu nome original, Alonso Quijana.
QUIXOTE DO JUDEU
Adentrando na recriação de Dom Quixote,
escrito por Antônio José, o dramaturgo luso-brasileiro, tece seu Quixote
utilizando o seu espaço no teatro para falar aos criptojudeus e alertá-los
sobre a necessidade de resistir à opressão e ressuscitar a religiosidade
judaica. Assim como foi apresentado ao início deste artigo, Antônio José foi
vítima da santa inquisição, fazendo com que sua readaptação da obra de
Cervantes fosse elaborada de maneira que fizesse denúncias ao século que
reduziu Portugal ao fanatismo religioso como também ao sistema político que
imperava naquele momento. O historiador Roger Chartier, comenta que seria
possível que os tormentos vividos por Antônio José “tenham deixado marcas em
suas peças” (Chartier, 2012, p.169).
O Judeu costuma representar a consciência social e
por em ridículo os poderosos do tempo, assim, suas obras há a presença dessa
figura bufa, que seria representado de maneira boba, tal qual louca,
aproveitando da sua condição de excluído, para fazer, nas palavras de Bakhtin,
a “denúncia de toda espécie de convencionalismo pernicioso, falso, nas relações
humanas” (Bakhtin, 1998, p.278). Percebe-se, então, que, em Dom Quixote, Sancho
faz esse papel, tranformando-se em bobo da corte, um gracioso divertido, da
mesma maneira como Ian Watt sugere e chama a atenção para o fato de que “Sancho
é um labrego cômico, que assume a profissão de escudeiro pensando desde o
início em tirar proveito dela” (Watt, 1997, p.73-74).
“A
vida de Dom Quixote e do gordo Sancho Pança”
A
seguir, serão analisadas algumas cenas da peça A vida de Dom Quixote e do gordo Sancho Pança que são vistas como
uma forma de denunciar o sistema degradante que havia em Portugal, em um
entrelaçamento de risos e reflexões. Conforme Patrícia Cardoso (2008), foi pelo
riso que o Judeu conquistou identidade, emergindo da
insignificância na qual estava aprisionado.
A peça se inicia de maneira
similar a obra de Cervantes, com os devaneios de Dom Quixote, após mergulhar
nas novelas de cavalaria, e mesmo com muitos apelos para que ele não siga atrás
de viver aventuras de maneira perigosa, ele segue sua viagem montado em seu
magro Rocinante, ao lado do seu fiel escudeiro, Sancho Pança. Assim como fora
evidenciado, essa dramaturgia é formada por uma opereta joco-séria, ou seja,
ambos se despedem, mas sempre justificando de forma jocosa a decisão tomada:
Sancho:
Pois adeus, que me vou a armar cavaleiro (quero dizer, burriqueiro, porque eu
monto em burro, e não em cavalo) e a desperdir-me de minha Tereza Pança, y lo
dicho, dicho (Vai-se) (Silva, 1957, p.28).
Quixote:
Não tem remédio: hei-de ir, que não é justo que fique sem fim minha memorável
história. E juntamente vou a fazer muitas obras pias, pois quantas donzelas
estarão em necessidade de que um cavaleiro andante lhes defenda o crédito e a
honra? Quantos pupilos estarão sem justiça? Quantos cavalheiros honrados
estarão encantados por falta de andantes cavaleiros? Enfim, não tenho mais que
dizer, vou a castigar insolentes e a endireitar tortos (Silva, 1957, p.29).
Em
contrapartida, ao mesmo tempo em que se é visto essas falas que nos fazem achar
os personagens engraçados e eventualmente sem qualquer conteúdo significativo,
fazem nos surpreender com as críticas que são expostas por esses mesmos
personagens ao longo da peça. Por exemplo, houve um trecho original do teatro
de o Judeu, onde Quixote, em delírios, tenta abraçar e beijar Sancho Pança,
acreditando ser ele sua Dulcinéia querida, transformada pelos feiticeiros e
encantadores. Uma cena bastante insurgente para o século XVIII visto
que, naquela época, seria algo a ser visto de maneira abominável pela
sociedade, entretanto, esse era o intuito de Antônio. Se contrapuser à
sociedade Portuguesa. Como se pode perceber nesse trecho:
D.
Quixote: E, se bem reparo agora nas feições deste Sancho, lá tem alguns laivos
de Dulcineia; porque sem dúvida Sancho às vezes o vejo com o rosto mais
afeminado, que quase me persuado está Dulcineia transformada nele.
Sancho:
Meu amo está no espaço imaginário! (À parte). Ah, Senhor, toca a cavalgar, que
o rocinante está selado e o burro albardado. Senhor, vossa mercê ouve? (Silva,
1957, p.61).
Em
outro momento, o personagem Sancho Pança vestindo o seu papel de bobo da corte,
aproveita para zombar das relações sociais existentes em Portugal, evidenciando
como realmente funcionava a justiça do estado português:
Sancho:
Que me faça bom proveito! Dai-me atenção, Meirinho. Sabei, primeiramente, que
isto de Justiça é coisa pintada e que tal mulher não há no Mundo, nem tem
carne, nem sangue, como v. g. a Senhora Dulcineia del Toboso, nem mais, nem
menos; porém como era necessário haver esta figura no Mundo para meter medo à
gente grande, como o papão às crianças, pintaram uma mulher vestida à trágica,
porque toda a justiça acaba em tragédia... (Silva, 1957, p.90).
Nesse
trecho, justifica a fala de Sancho em dizer que “a justiça acaba em tragédia”,
pois Antônio sentiu isso na pele, tendo sido convertido à força pela Inquisição
e tendo que enfrentar todos os maus que o santo ofício os trouxe. Portanto, é
claramente evidente que o autor quis expressar através do teatro a sua maneira
de falar com aqueles que mantinham de forma secreta as práticas judaicas, de
tal forma que eles resistissem à opressão que estava sendo imposta.
CONCLUSÃO
Diante
da complexa teia histórica que envolve o surgimento do Barroco Europeu e sua
influência na sociedade portuguesa do século XVI, é possível observar um
cenário marcado por conflitos religiosos, políticos e culturais. A ascensão do
movimento da Contrarreforma, liderado por Martinho Lutero, desencadeou debates
teológicos e contestações às doutrinas da Igreja Católica, levando-a a reprimir
severamente qualquer forma de dissidência. Este contexto culminou na
instauração da Inquisição, uma instituição temida e implacável, que se
utilizava o poder absoluto para perseguir e punir aqueles que desafiavam suas
leis e dogmas. É importante reconhecer que por trás dos eventos históricos e
das obras de arte, existem pessoas reais, com sonhos, medos e esperanças.
Nesse
cenário conturbado, a família do dramaturgo Antônio José da Silva, conhecido
como "o Judeu", enfrentou as consequências da intolerância religiosa,
sendo obrigada a enfrentar o julgamento do Santo Ofício devido às suas raízes
judaicas. A trajetória de Antônio José foi marcada pela perseguição, pela luta
contra a opressão e pela resistência aos padrões impostos pela sociedade e pela
igreja. Através de sua arte, Antônio José da Silva denunciou as injustiças e as
arbitrariedades do sistema inquisitorial, utilizando-se do humor e da sátira
para expor as contradições e os abusos de poder. Sua obra "A vida de Dom
Quixote de la Mancha e do gordo Sancho Pança" é um exemplo emblemático
desse engajamento, recriando de forma criativa e crítica a célebre história de
Cervantes.
Ao
analisarmos "A vida de Dom Quixote" sob essa perspectiva, percebemos
que ela vai além do entretenimento. Ela se torna um veículo para a expressão
das lutas e aspirações de um povo oprimido, refletindo os desafios enfrentados
por Antônio e sua comunidade diante da Inquisição e das injustiças sociais da
época. Através do humor e da sátira, Antônio não apenas critica as estruturas
de poder, mas também oferece uma mensagem de esperança e resistência. Em cada
cena, vemos os personagens de Dom Quixote e Sancho Pança enfrentando desafios
absurdos e enfrentando suas próprias ilusões. Essas situações cômicas não são apenas
fonte de riso, mas também de reflexão sobre a natureza da realidade e das
injustiças enfrentadas por aqueles que se atrevem a desafiar o status quo. Ao
mesmo tempo, a peça nos lembra da importância de manter viva a chama da
esperança e da luta por um mundo mais justo e igualitário. Portanto, ao
considerarmos tanto a vida de Antônio José da Silva quanto sua obra teatral, é
confrontada com a poderosa capacidade da arte de transcender as barreiras do
tempo e do espaço. Esta peça não é apenas uma mera recriação da famosa obra de
Cervantes, mas sim um espelho da realidade vivida por Antônio e seu tempo.
Referências
Bibliográficas
NOVINSKY, Anita. Inquisição. São Paulo: Brasiliense, 1983.
PEREIRA, Kênia Maria de Almeida. A poética da resistência em Bento Teixeira
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EUSTÁQUIO, Arlene, Rosa, ANTÔNIO JOSÉ
DA SILVA: UM JUDEU HEREGE NA DRAMATURGIA PORTUGUESA. Uberlândia, 2013.
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Introdução, seleção e notas de Paulo Roberto Pereira. São Paulo: Martins, 2007.
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Uberlândia, EDUFU, 2017.
COSTIGAN, L. H. Vida do grande Dom Quixote e do gordo Sancho Pança, de António José da
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DOS REMÉDIOS, M. Antonio José da Silva.
In: Da Silva, António José. Vida do
grande D. Quixote de la Mancha e do gordo Sancho Pança: opera jocosa.
Coimbra, França Amado, 1905.
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