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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Antônio José da Silva: das perseguições da Santa Inquisição, aos delírios de Dom Quixote

 








 

 

Artigo apresentado no curso de licenciatura em letras, da Universidade de Pernambuco. UPE- Campus Garanhuns, com o referido artigo, concluindo o trabalho da disciplina de literatura brasileira.

Professor: Prof.  Dr. Moisés Monteiro de Melo Neto






 

 

 

 

 

GARANHUNS-PE

2023

 

 

 

RESUMO:

O artigo proposto explora a interseção entre a história do Barroco Europeu, a Inquisição Portuguesa e a obra teatral de Antônio José da Silva, conhecido como "o Judeu". Iniciando com um contexto histórico do surgimento do Barroco em meio à ruptura da igreja católica e a subsequente implementação da Inquisição, o artigo destaca como esses eventos moldaram a sociedade da época. A peça "A vida de Dom Quixote de la Mancha e do gordo Sancho Pança" é analisada como uma forma de resistência e crítica social. Antônio reinterpreta a obra de Cervantes para denunciar o fanatismo religioso e o sistema político degradante que prevalecia em Portugal. Através do riso e da sátira, ele expõe as contradições e injustiças da sociedade, oferecendo uma voz aos oprimidos e uma crítica aos poderosos. Cada cena da peça é analisada como uma expressão da luta de Antônio contra a opressão, desde os devaneios delirantes de Dom Quixote até as zombarias de Sancho Pança sobre a justiça falha e as relações sociais distorcidas. O artigo em questão evidencia as marcas de uma profunda humanidade em suas críticas, mostrando o sofrimento e a resistência daqueles que lutavam contra um sistema corrupto e injusto. 

 

Palavras-Chave: Barroco. Inquisição. Quixote do Judeu 

 

INTRODUÇÃO:

  Diante da construção histórica do barroco Europeu, que surge no século XVI, na Itália, em meio à ruptura da igreja católica, que estava perdendo o seu poder diante da sociedade da época, criando uma verdadeira perseguição, para todos aqueles que se opusessem às suas leis/dogmas. 

  Neste período da história surge o movimento da contra-reforma com Martin Lutero, que cria as 95 teses, que desencadearam debates teológicos e disputas sobre a interpretação da bíblia e tudo aquilo que a igreja ensinava. Levando a igreja a implementar leis severas, para aqueles que não se encaixarem nas suas regras. A instituição por sua vez, tomavam as riquezas e executavam as pessoas das mais diferentes etnias, tomando o poder através do temor.

  A família do referido escritor e dramaturgo, Antônio José da Silva (1705-1739), que morava na cidade do Rio de Janeiro, eram judeus, prática abominada pela igreja católica da época, que intensificaram as atividades inquisitoriais da colônia. A  família do escritor foi obrigada a retornar a Portugal em 1711, quando tinha apenas 7 anos de idade, para o julgamento da sua mãe que estava sendo acusada de judaísmo, pelo santo ofício em 1728. Foram criados Tribunais em Lisboa, Coimbra, Évora, Tomar e Porto. Os três últimos foram abolidos por causa dos grandes abusos e corrupção de sua administração. Podemos dizer que a Inquisição lusitana ultrapassou em ferocidade e violência a Inquisição espanhola, contrariamente ao que se tem escrito. (NOVINSKY, p. 36, 1990)

Entretanto estas configurações históricas levaram o judeu, alcunha atribuída ao escritor/dramaturgo; a desenvolver uma percepção mais apurada, de fatos que permeavam a sociedade portuguesa do século XVI, que se encontravam descontentes com os posicionamentos do clero e da monarquia.

Portanto, procura-se explorar neste artigo os aspectos sociais e culturais da sociedade portuguesa do século XVI, desenvolvendo uma ponte entre o  período do barroco que é marcado pela dualidade da visão de mundo. Perpassando pelo tribunal do santo ofício da  santa inquisição e explorando a primeira grande obra do escritor/dramaturgo, Antônio José da Silva. “A vida do grande D. Quixote de la mancha e do gordo Sancho Pança”.

         

  DO BARROCO A SANTA INQUISIÇÃO 

 

             No final do século XVI, surge um estilo  denominado rococó, nome atribuído ao aclamado barroco, que desenvolve um estilo único de expressar as artes plásticas, arquitetônicas e literárias. O barroco é caracterizado pelas influências religiosas, devido ao contexto histórico da reforma protestante com Martim Lutero, das figuras de linguagem exageradas e das contradições.

Ademais foi o barroco que estabeleceu uma grande ostentação e extravagância dos grupos que lucravam com as riquezas exploradas pela colonização. Estes aspectos eram perceptíveis, através das pinturas de Caravaggio, caracterizando um lado rude nas suas obras, estes contrastes de luz e sombra, deixava evidente como estava se estabelecendo a sociedade do momento.

Neste período estabelecia a ascensão de diversos artistas em diversas áreas; pintura, Caravaggio (1571-1610), Diego Velázquez (1599-1668), Paolo de Matheus (1662-1728) e Alcoforado (1640-1723). Na dramaturgia; Antônio José da Silva (1705-1739). Estes artistas personificaram a forma como era vista e moldada à sociedade e as pessoas.

Diante desses processos de mudanças surge em meio ao renascimento português a contra reforma, fator de extrema importância no decorrer da construção do barroco e da história, estabelecendo um embate entre o antropocentrismo e o teocentrismo, esta dicotomia entre o homem e Deus. Reforça a ideia de que a igreja denota poderes pré-estabelecidos para a formação de um discurso social que permeariam por diversos séculos.  A partir desta crise que assolava a igreja católica, nasce a inquisição,  revestindo o tribunal de fé de poderes absolutos, que por sua vez exerceu o poder durante  os séculos XVI a XVIII, passando a perseguir diversos artistas que subvergiam os dogmas/imposições, feitas a sociedade da época.

Temos, portanto, um artista que soube tecer as mais diversas influências na composição de seu teatro: óperas italianas, zarzuelas espanholas e modinhas brasileiras. Mas o que importa mesmo é que o Judeu conseguiu, ainda em vida, com essas operetas jocosas, ganhar o respeito da crítica e o aplauso do público. Com maestria e perspicácia, Antônio José soube extrair, como nenhum outro teatrólogo de sua época, os efeitos cômicos dos trocadilhos e dos quiproquós, estes últimos, aliás, considerados por Henri Bergson (1987) como uma das faces mais geniais e engraçadas que a comédia pode nos proporcionar. (PEREIRA, 1998, p.121).

 

O referido autor e dramaturgo, Antônio José da Silva, em sua breve e avassaladora vida, marcada pela perseguição da santa inquisição. E sua luta contra esta instituição e o  sistema que maltratou, acusou e desviou recursos dos presos pelo santo ofício. Com a intenção de elevar os níveis financeiros da igreja, além de levar muitos a morte em praça pública. 

   Viveu apenas 34 anos e na biografia abreviada pela intolerância só constam

Sufocos e asfixias: não teve direito a uma identidade, viveu abafado pelo anonimato e, para vencer a insignificância de um nome tão corriqueiro que parece homônimo de joão-ninguém, só conseguiu ser reconhecido depois de esganado pela Santa Inquisição – graças à alcunha convertida em pseudônimo. Infamante, por sinal. (DINES, ELEUTÉRIO, 2005, p.17).

 

A partir do retorno da família do judeu a Lisboa, realçando a veia artística do teatrólogo. Que surge após a sua formação em advocacia, profissão exercida pelo seu pai, o qual o expirou logo de início, posteriormente se encontrando na dramaturgia,  escrevendo obras que os levaram à denuciar, o controle que a igreja exercia diante de uma sociedade amedrontada pela subversão de uma instituição que refletia o medo a indignação e o pavor da época.

No teatro do Judeu, o gracioso é o fio condutor das ações, representa a consciência social e serve para pôr em ridículo os poderosos do tempo. Todos os graciosos são propositadamente cômicos dominados por um senso prático da vida, simbolizada na linguagem corrente, que contrasta com a artificial, de estilo afetado, utilizada por seus senhores. (PEREIRA, 2007, p.43).

 Portanto, Antônio percebe uma construção injusta na formação familiar. Pois, a  imposição exercida pela igreja. Os colocaram numa situação a se sentirem  obrigados a se converterem aos dogmas do catolicismo. Apesar deste disfarce religioso, criado pelo próprio e seus familiares, a essência judaica jamais foi abandonada. E através da sua arte torna-se referência na luta e resistência contra as imposições da igreja em Portugal, dando voz e vez a todos aqueles que estavam sendo perseguidos e torturados física e mentalmente, pelo tribunal do santo ofício.

 

 ANTÔNIO JOSÉ

 O Quixote cervantino nas mãos de o judeu, se converteu em uma dramaturgia, estruturada em uma opereta joco-séria, ou seja, a peça apresenta cenas ora faladas, ora cantadas, além de árias, coros e minuetos. O escritor judeu elabora sua própria versão do Quixote, utilizando elementos da segunda parte da obra de Cervantes. Ele reinterpreta e paródia algumas das cenas memoráveis desse romance. A vida de Dom Quixote de la Mancha e seu fiel Sancho Pança é apresentada em duas partes: a primeira composta por nove episódios, e a segunda, por oito. 

  Em 1733, Antônio José apresentou sua estreia teatral, "A vida de Dom Quixote de la Mancha e do gordo Sancho Pança", nos palcos do Bairro Alto, em Lisboa. O espetáculo foi recebido com entusiasmo por um público ansioso pelas divertidas façanhas do já renomado Antônio José, carinhosamente conhecido como "o Judeu". Assim como foi citado acima, ele enfrentou severos castigos e torturas nas prisões da Inquisição. Sua primeira detenção ocorreu aos 22 anos de idade devido à acusação de praticar o judaísmo, sendo considerado herege por manter práticas relacionadas a Moisés, apesar de já ter se convertido ao catolicismo. De tal forma, várias cenas e diálogos na peça "A vida de Dom Quixote" criticam tanto a Inquisição quanto denunciam um sistema político-social degradante que prevalecia em Portugal no século XVIII. 

 

QUIXOTE CERVANTINO

    Entretanto, antes de adentrarmos na dramaturgia de Antônio José, é imprescindível que seja abordado uma breve recordação do enredo “Dom Quixote de la Mancha”, escrito pelo espanhol Miguel de Cervantes. A obra foi dividida em dois momentos, a primeira parte em Madrid em 1605 e a segunda anos depois em 1615. 

 A obra nos apresenta Alonso Quijana, um fidalgo de 50 anos, no qual era completamente apaixonado e encantado por alimentar o seu cérebro com novelas de cavalaria, então, resolveu sair pelo mundo, montado em seu magro Rocinante, tentando colocar em prática as lições medievais dos cavaleiros andantes. Ele parte em aventuras com seu fiel escudeiro, Sancho Pança, em busca de justiça e nobreza, lutando contra moinhos de vento que ele imagina serem gigantes, defendendo donzelas em perigo que são, na verdade, camponesas comuns, e assim por diante. Durante suas viagens, Dom Quixote se envolve em várias situações cômicas e absurdas, muitas vezes causadas por sua visão distorcida da realidade. Ele encontra personagens como o falso cavaleiro de espelhos, o jovem pastor Cardênio e a bela Dulcinéia del Toboso, por quem ele nutre uma paixão idealizada. Durante suas viagens, Dom Quixote se envolve em várias situações cômicas e absurdas, e então, Dom Quixote finalmente encontra Dulcineia, mas descobre que ela não é a nobre donzela que ele imaginava. Isso leva a uma crise de identidade e reflexão sobre a natureza da realidade e da ilusão. A obra termina com a reconciliação de Dom Quixote com a realidade e sua morte pacífica, onde ele renuncia à sua persona de cavaleiro andante e retorna ao seu nome original, Alonso Quijana.

 

 QUIXOTE DO JUDEU

  Adentrando na recriação de Dom Quixote, escrito por Antônio José, o dramaturgo luso-brasileiro, tece seu Quixote utilizando o seu espaço no teatro para falar aos criptojudeus e alertá-los sobre a necessidade de resistir à opressão e ressuscitar a religiosidade judaica. Assim como foi apresentado ao início deste artigo, Antônio José foi vítima da santa inquisição, fazendo com que sua readaptação da obra de Cervantes fosse elaborada de maneira que fizesse denúncias ao século que reduziu Portugal ao fanatismo religioso como também ao sistema político que imperava naquele momento. O historiador Roger Chartier, comenta que seria possível que os tormentos vividos por Antônio José “tenham deixado marcas em suas peças” (Chartier, 2012, p.169). 

 O Judeu costuma representar a consciência social e por em ridículo os poderosos do tempo, assim, suas obras há a presença dessa figura bufa, que seria representado de maneira boba, tal qual louca, aproveitando da sua condição de excluído, para fazer, nas palavras de Bakhtin, a “denúncia de toda espécie de convencionalismo pernicioso, falso, nas relações humanas” (Bakhtin, 1998, p.278). Percebe-se, então, que, em Dom Quixote, Sancho faz esse papel, tranformando-se em bobo da corte, um gracioso divertido, da mesma maneira como Ian Watt sugere e chama a atenção para o fato de que “Sancho é um labrego cômico, que assume a profissão de escudeiro pensando desde o início em tirar proveito dela” (Watt, 1997, p.73-74). 

 

“A vida de Dom Quixote e do gordo Sancho Pança

           A seguir, serão analisadas algumas cenas da peça A vida de Dom Quixote e do gordo Sancho Pança que são vistas como uma forma de denunciar o sistema degradante que havia em Portugal, em um entrelaçamento de risos e reflexões. Conforme Patrícia Cardoso (2008), foi pelo riso que o Judeu conquistou identidade, emergindo da insignificância na qual estava aprisionado. 

  A peça se inicia de maneira similar a obra de Cervantes, com os devaneios de Dom Quixote, após mergulhar nas novelas de cavalaria, e mesmo com muitos apelos para que ele não siga atrás de viver aventuras de maneira perigosa, ele segue sua viagem montado em seu magro Rocinante, ao lado do seu fiel escudeiro, Sancho Pança. Assim como fora evidenciado, essa dramaturgia é formada por uma opereta joco-séria, ou seja, ambos se despedem, mas sempre justificando de forma jocosa a decisão tomada:

Sancho: Pois adeus, que me vou a armar cavaleiro (quero dizer, burriqueiro, porque eu monto em burro, e não em cavalo) e a desperdir-me de minha Tereza Pança, y lo dicho, dicho (Vai-se) (Silva, 1957, p.28).

Quixote: Não tem remédio: hei-de ir, que não é justo que fique sem fim minha memorável história. E juntamente vou a fazer muitas obras pias, pois quantas donzelas estarão em necessidade de que um cavaleiro andante lhes defenda o crédito e a honra? Quantos pupilos estarão sem justiça? Quantos cavalheiros honrados estarão encantados por falta de andantes cavaleiros? Enfim, não tenho mais que dizer, vou a castigar insolentes e a endireitar tortos (Silva, 1957, p.29).

 

Em contrapartida, ao mesmo tempo em que se é visto essas falas que nos fazem achar os personagens engraçados e eventualmente sem qualquer conteúdo significativo, fazem nos surpreender com as críticas  que são expostas por esses mesmos personagens ao longo da peça. Por exemplo, houve um trecho original do teatro de o Judeu, onde Quixote, em delírios, tenta abraçar e beijar Sancho Pança, acreditando ser ele sua Dulcinéia querida, transformada pelos feiticeiros e encantadores. Uma cena bastante insurgente para o século XVIII visto  que,  naquela época, seria algo a ser visto de maneira abominável pela sociedade, entretanto, esse era o intuito de Antônio. Se contrapuser à sociedade Portuguesa. Como se pode perceber nesse trecho: 

D. Quixote: E, se bem reparo agora nas feições deste Sancho, lá tem alguns laivos de Dulcineia; porque sem dúvida Sancho às vezes o vejo com o rosto mais afeminado, que quase me persuado está Dulcineia transformada nele.

Sancho: Meu amo está no espaço imaginário! (À parte). Ah, Senhor, toca a cavalgar, que o rocinante está selado e o burro albardado. Senhor, vossa mercê ouve? (Silva, 1957, p.61).

 

Em outro momento, o personagem Sancho Pança vestindo o seu papel de bobo da corte, aproveita para zombar das relações sociais existentes em Portugal, evidenciando como realmente funcionava a justiça do estado português:

Sancho: Que me faça bom proveito! Dai-me atenção, Meirinho. Sabei, primeiramente, que isto de Justiça é coisa pintada e que tal mulher não há no Mundo, nem tem carne, nem sangue, como v. g. a Senhora Dulcineia del Toboso, nem mais, nem menos; porém como era necessário haver esta figura no Mundo para meter medo à gente grande, como o papão às crianças, pintaram uma mulher vestida à trágica, porque toda a justiça acaba em tragédia... (Silva, 1957, p.90).

Nesse trecho, justifica a fala de Sancho em dizer que “a justiça acaba em tragédia”, pois Antônio sentiu isso na pele, tendo sido convertido à força pela Inquisição e tendo que enfrentar todos os maus que o santo ofício os trouxe. Portanto, é claramente evidente que o autor quis expressar através do teatro a sua maneira de falar com aqueles que mantinham de forma secreta as práticas judaicas, de tal forma que eles resistissem à opressão que estava sendo imposta.

 

CONCLUSÃO

Diante da complexa teia histórica que envolve o surgimento do Barroco Europeu e sua influência na sociedade portuguesa do século XVI, é possível observar um cenário marcado por conflitos religiosos, políticos e culturais. A ascensão do movimento da Contrarreforma, liderado por Martinho Lutero, desencadeou debates teológicos e contestações às doutrinas da Igreja Católica, levando-a a reprimir severamente qualquer forma de dissidência. Este contexto culminou na instauração da Inquisição, uma instituição temida e implacável, que se utilizava o poder absoluto para perseguir e punir aqueles que desafiavam suas leis e dogmas. É importante reconhecer que por trás dos eventos históricos e das obras de arte, existem pessoas reais, com sonhos, medos e esperanças.

Nesse cenário conturbado, a família do dramaturgo Antônio José da Silva, conhecido como "o Judeu", enfrentou as consequências da intolerância religiosa, sendo obrigada a enfrentar o julgamento do Santo Ofício devido às suas raízes judaicas. A trajetória de Antônio José foi marcada pela perseguição, pela luta contra a opressão e pela resistência aos padrões impostos pela sociedade e pela igreja. Através de sua arte, Antônio José da Silva denunciou as injustiças e as arbitrariedades do sistema inquisitorial, utilizando-se do humor e da sátira para expor as contradições e os abusos de poder. Sua obra "A vida de Dom Quixote de la Mancha e do gordo Sancho Pança" é um exemplo emblemático desse engajamento, recriando de forma criativa e crítica a célebre história de Cervantes. 

         Ao analisarmos "A vida de Dom Quixote" sob essa perspectiva, percebemos que ela vai além do entretenimento. Ela se torna um veículo para a expressão das lutas e aspirações de um povo oprimido, refletindo os desafios enfrentados por Antônio e sua comunidade diante da Inquisição e das injustiças sociais da época. Através do humor e da sátira, Antônio não apenas critica as estruturas de poder, mas também oferece uma mensagem de esperança e resistência. Em cada cena, vemos os personagens de Dom Quixote e Sancho Pança enfrentando desafios absurdos e enfrentando suas próprias ilusões. Essas situações cômicas não são apenas fonte de riso, mas também de reflexão sobre a natureza da realidade e das injustiças enfrentadas por aqueles que se atrevem a desafiar o status quo. Ao mesmo tempo, a peça nos lembra da importância de manter viva a chama da esperança e da luta por um mundo mais justo e igualitário. Portanto, ao considerarmos tanto a vida de Antônio José da Silva quanto sua obra teatral, é confrontada com a poderosa capacidade da arte de transcender as barreiras do tempo e do espaço. Esta peça não é apenas uma mera recriação da famosa obra de Cervantes, mas sim um espelho da realidade vivida por Antônio e seu tempo.

                   

Referências Bibliográficas

 

NOVINSKY, Anita. Inquisição. São Paulo: Brasiliense, 1983.

PEREIRA, Kênia Maria de Almeida. A poética da resistência em Bento Teixeira e Antônio José da Silva, o Judeu. São Paulo: Annablume, 1998.

EUSTÁQUIO, Arlene, Rosa, ANTÔNIO JOSÉ DA SILVA: UM JUDEU HEREGE NA DRAMATURGIA PORTUGUESA. Uberlândia, 2013.

SILVA, Antônio José da. As comédias de Antônio José, o Judeu. Introdução, seleção e notas de Paulo Roberto Pereira. São Paulo: Martins, 2007.

PEREIRA, K. M. A. O Quixote do Judeu: um breve olhar sobre a comédia “Vida do grande D. Quixote de la Mancha e do gordo Sancho Pança”, de Antônio José da Silva. Uberlândia, EDUFU, 2017.

COSTIGAN, L. H. Vida do grande Dom Quixote e do gordo Sancho Pança, de António José da Silva e Don Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes: aspectos comparativos. Signótica, v. 21, n. 1, p. 89-102, 2009.

DOS REMÉDIOS, M. Antonio José da Silva. In: Da Silva, António José. Vida do grande D. Quixote de la Mancha e do gordo Sancho Pança: opera jocosa. Coimbra, França Amado, 1905.

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