Uma
palavra ou duas sobre os Cordéis de Moisés
Por Robson Silva
Há outros modos de se referir ao exercício
poético do cordelista Moisés Monteiro de Melo Neto, mas preferi este que
tateando a fortuna artística do poeta pode apresentar, modestamente, uma visão
honesta de sua escrita com a literatura de cordel. A proposta não é esgotar o
assunto, uma vez que seria impossível acompanhar a veloz versatilidade desse
poeta. Moisés é um consagrado escritor recifense e ninguém, ligado à arte, o
desconhece. Entretanto, o que podemos dizer de suas produções cordelescas?
Embora
antigamente o cordel tenha se restringido ao universo familiar dos terreiros
das fazendas nordestinas, na atualidade esse hábito mudou e também ocupa os
espaços urbanos. Assim, também tem sido os cordéis do cordelista Moisés.
Ultrapassou as fronteiras e vem
sendo consumido por diversos
públicos, desde estudantes à indígenas, pois o alcance de trabalho tem
dimensões territ0riais geograficamente indefinidas.
Ligado
às tendências contemporâneas da arte, mas sem deixar de lado a tradição do
cordel o escritor lança uma estética que explora com segurança uma linguagem culta
(seguindo na maioria das vezes: a norma padrão) na qual permite possibilidades
em que esse gênero literário não perca suas características próprias.
Os
principais temas abordados nas narrativas de seus cordéis exploram desde
universos vivenciados por ele como aqueles que o mesmo toma de empréstimo para
cristalizar experiências de outrem. Essa capacidade traduz não apenas sua
ferrenha tarefa de aproximar-se dos mais variados temas, mais também seu
compromisso ético com as transformações sociais. Mesmo que isso a ele escape.
Seus folhetos versam sobre: personalidades, causos populares, teatro, língua
portuguesa, visão indígena sobre a língua portuguesa entre outros.
Considerado
por Luyten como símbolo da cultura popular brasileira no mundo inteiro, o
cordel é composto por rimas e versos que o diferencia de outros gêneros.
Escrito em rígidas regras rímicas que proporcionam uma precisão métrica desfila
pelas páginas dos folhetos do escritor Moisés um tom crítico e humorístico (um
tanto irônico) muito peculiar a personalidade deste. Ora apresentando ruptura
na sua métrica, ora mostrando dinamicamente nos versos; alguns de seus cordéis
estão divididos em duas partes apresentando quase sempre estrofes de 6 versos,
sextilhas heptassilábicas.
Por
muito tempo procurou-se compreender como se dá o processo criativo dos
escritores, o que se vê em Moisés é que a incumbência de escrever vem quase
como um ato involuntário. A ideia chega, e ele logo transfere para o papel o
que a imaginação ousa inculcar. Uma obsessão. Aferido de uma cadeia de imagens,
sonoridades e movimentos, vai escrevendo aquilo que julga elementar para o
cordel. Assim, tomado pela inspiração, não se contenta apenas pela intuição e
revisa sua escrita como quem debulha feijão verde para logo encaminhar a uma
das editoras de cordéis mais conhecidas do país.
Mas,
seria cedo demais para falar sobre a polissemia de sua escrita? Discorrer sobre
a voz narrativa e poética requer uma pesquisa aprofundada e aqui tenho apenas a
intenção de criar uma tessitura abertas para possíveis reflexões e ecos de sua
obra. Refiro-me, evidentemente, a sua lírica, que ao meu ver ainda não estou
convertido de explorar, uma vez que seu vocabulário (léxico) é muito diversificado
e sua intertextualidade já nos é conhecida. Cabe, então, uma investigação maior
à cerca de sua lírica.
CORDEL RITA LEE
PARTE UM
1 Rita Lee era cantora
compositora, escritora e ativista
acima de tudo temos
nossa Rita Lee amiga, artista
amostrada que só ela
nos deu de tudo uma pista
2 Grande estrela essa mulher
Da música nacional
Rainha do rock Brasil
Foi também mito fatal
Ela se achava quase santa
Vejam que sensacional
3 Eu mesmo sou seu fã
Ela muito me ajudou
Quase operou milagre
É um toque que lhe dou
Cumpriu aqui sua sina
Verdade, ela barbarizou
4 Ah, milhões de álbuns
Na sua carreira vendeu
Sua música em novelas
Isso assim sucedeu
Filha de Charles e Romilda
Em São Paulo, cresceu
5 Ela começou com rock
Esteve na psicodelia
Foi da Tropicália
Música Pop, new wave, eu diria
Na Bossa Nova esteve
Na eletrônica fervia
6 Misturava muito a branquinha
em hibridismo pioneiro
internacionais e nacionais
nem tudo era só dinheiro
era top no Brasil
som com algo tão faceiro
7 Os que vieram a usar guitarra
A ela muito devem
Rita valorizou o rock
Poucos na história se atrevem
De meia meia a sete dois
Nos Mutantes conservem
8 No Tutti-Frutti que fundou
Sete três a sete oito
Ovelha negra danada
A melhor, eu me afoito
A dizer: ah, que viagem
Ela a Lee, molhou o biscoito
9 Das Entradas e Bandeiras
Outro álbum querido
10 Veio então o Babilônia
Onde encontrou seu marido
Eita, som tão potente!
Seu parceiro preferido
10 Importantes revoluções
no mundo, na sociedade
esta mulher incrível
de intensa sonoridade
Rita Lee suas canções
Teatral realidade
11 Com sua ácida ironia
De tudo ela falou
Do pobre, do rico
muito reivindicou
independência feminina
a paulista ajudou
12 Tornou-se onipresente
nas paradas musicais
"Mania de Você", "Lança Perfume"
"Baila Comigo", coisas tais
"Banho de Espuma", "Desculpe o Auê"
E mil flertes fatais
13 ""Doce Vampiro”, ela era vegana
três filhos, e netos, sim
e falava várias línguas
jovem quis ser atriz, assim
ser atriz de cinema
em meia três criou banda, enfim
14 Noutra banda, os Mutantes,
Cantou, tocou flauta e percussão
Foi letrista, em seis álbuns
gravou dois discos solo (ou não)
já que seu grupo a acompanhou
não foi boa solução
15 Ela diz que foi expulsa pelo marido
Arnaldo disse que não
cita novo interesse da banda
ficou no ar interrogação
a esposa foi a última a saber
não foi boa a sensação
16 Ela sai, silenciosa e elegante
Lança Atrás do Porto tem uma cidade
em sete quatro, “Mamãe Natureza” e
“Menino Bonito”, trazem celebridade
Em sete cinco a obra-prima:
“Fruto Proibido”, felicidade
17 “Agora Só Falta Você", sucesso
"Esse Tal de Roque Enrow"
"Ovelha Negra", um clássico
O disco, então, bombou
em turnê pelo Brasil
Saquarema, sete meia, estrelou
18 Terceiro álbum álbum
Entradas e bandeiras
Traz "Coisas da Vida", "Corista de Rock"
"Com a Boca no Mundo", certeiras
"Bruxa Amarela", e veio o estresse
ficou afastada, sem brincadeiras
19 Em sete e meia foi presa
porte e uso de maconha
a ditadura a perseguia
justiça sem vergonha
exemplo à juventude
coisa que nem se sonha
20 Abalada e sem dinheiro
lançou em sete sete a polêmica
"Arrombou a Festa", vendeu muito
Criticando a MPB “autêntica”
Nasce o filho Beto Lee
Influência sistêmica
21 Na sequência nascem dois filhos
João e Antônio, que alegria
Com Gil faz show Refestança
Rock, raiz, fantasia
Em sete banda lança Babilônia
Êxtase e energia
22 Tutti Frutti se desfez
Ela tem desgosto pelo rock e MPB
E com Roberto faz um superpop
Ai, que “Mania de você”, bebê
"Chega Mais" na sonoridade
500 mil cópias, sem dendê
23 Em oitenta viram hits "Lança Perfume"
"Baila Comigo", "Nem Luxo, Nem Lixo"
950 mil cópias no Brasil e Argentina
"Ôrra Meu", "Shangrilá", bicho
sucesso na França e Estados Unidos
Charles da Inglaterra gostou, não picho
24 Em 10, nova turnê
em Belô que estreou
passou por Buenos Aires, até
fragilidade física a aposentou
dos shows, da música nunca
a gente logo sacou
25 Em janeiro de
12, no último
Show, Sergipe foi
ruim
O Projeto Verão,
foi mau
Rita expressou raiva,
sim
Com a polícia
militar
Com atitude
chinfrim
26 Desacato à autoridade
a lei lhe
sentenciou
a cantora
encaminhada à delegacia
pra depor após o
show
para prestar depoimento
isto muito Lee
irritou
27 Liberada em
seguida
Alega o "calor das emoções"
E a polícia
"truculenta ".
Mencionou
aberrações
E no carnaval
de 12,
Vejam bem, ela
aguenta
28 Desfilou na
Águia de Ouro
escola de samba
paulista
o tema foi
Tropicália
Caetano e Gil,
também, ah, que vista!
Ela homenageou Leila Diniz
Aquilo é que era artista!
29 Alguns anos sem
inéditas
lança então o
álbum, Reza
música entrou em
novela
Rita atinge sucesso
que preza
Tantos downloads no iTune
O brilho não a
enfeza
30 Em novembro de
12, faz show
que marcou sua
volta à cena
no Green Move
Festival
A senhora estava
plena
E causou nova polêmica
Mostrou o bumbum pro
público
Qual seria o
estratagema?
31E em janeiro de
13
Show do niver de Sampa
Arrasou no
Anhangabaú
E felicidade à pampa
"Daqui eu não
saio", disse ela
Sua cidade é tampa!
32 Sobre a cidade
em que nasceu.
Em abril de 13, disse
Em uma rara entrevista
à revista Marie Claire, visse?
o grande tabu
da mulher?
O envelhecimento.
Não atiçe!
33 "Envelhecer
bem, é complexo!"
Em 14, não pintou mais
os cabelos
vermelhos, ficou grisalha
"Quero ficar anônima", assaz
E em sua homenagem
estreia
Musical. (Mel
Lisboa faz)
34 Em 15, caixa com
vinte
álbuns da discografia
Em 16, sua autobiografia
Reclusão,"
bichos e horta”, alegria!
best seller,
prêmio APCA
Prêmio por sua obra: pop seguia...
35 Velha hippie comunista
A diaba na poltrona
Foi fã de James Dean
Era forte tal Madonna
Que artista ela era!
Mais zoeira que um Mamona!
36 Sob holofotes da mídia
Meio deusa do exagero
A novela da raça
Mais uma dose e mais dinheiro
Chazinho da meia-noite
Cheia de som matreiro
37 Sem selo de garantia
Uma vitrine, a sua vida
Vocação e talento, foi a Lee
Era fraude, a lida?
Fantasia de Eva
Venenosa, desabrida?
38 Desfile, teatro, show
Tinha a chave do tamanho
Deus lhe livre, guarde
Aquilo era estranho
Não crescessem pra ela
Seu golpe não era tacanho
39 Para lá de Bagdá, era
Se hospedava em hospício
Gênio indomável, assim
Ah, infinito precipício
Mistérios do além, sabia
Fazia rir, sem sacrifício...
40 Era ruim, de tão boa
Ia a Atlântida sem mapa
Entrou em almas sem esforço?
Sem licença, sem tapa
Qual o barro do seu santo?
Cantou na chuva sem capa
41 Esquizofrenia pública
Impropérios e palavrões
Sem Kardec sem candomblé
Tinha medo de aviões
Não de discos voadores
Sim e não às ilusões
42 Crème de la crème
Das delícias humanas
Suprassumo dos prazeres
almas entre frio e flamas
fãs e artistas são esquisitos
solidões de muitas camas
43 Fã é cúmplice ignorado
É amar sem ser amado
O inconsciente coletivo
Quase coisa de tarado
Rouba fogo dos deuses
Fã: bezerro desmamado?
44 Prazer com ela entorpece
Quem não viajou, vacilou
Eita, branquinha aloprada!
Sex, drugs and rock’n’ roll
Desacatou autoridades
Viveu muito, sofreu, amou
45 Primadona brasileira
Escambau a quatro, né?
Dava o dedo do ‘fuck you!’
Fã-clube sem mané, pois é...
Fã-tasma, não ia a cemitério
Foi cremada, por isso, até
46 Em 21, lançou "Change",
a canção
a primeira em oito
anos
em 22, homenagem
do Grammy
23? Outra
autobiografia, dos planos
Seu tratamento de
câncer
Sem saúde, desenganos
47 A metástase a levaria
A quimio não a
salvou
Chamou de "Jair", seu câncer
Em 23, seu estado piorou
cercada pela
família
velório 10 de maio, anunciou
48 Foi aberto ao
público
Presidente Lula, decretou
Luto oficial de
três dias
30 milhões de reais,
ela deixou
divertidamente provocativa
sabedoria sagaz nos legou
49 Longe da autopiedade
ou mesmo da tristeza
essa mulher fantástica
nos deixa a certeza
"Pra que cara de enterro
Se humor também é fortaleza?
50 Tinha o amor dos que a cercavam
Sensação de despedida
fascínio pelo desconhecido
força pra Grande Partida
ao jardim maravilhoso da Luz
microátomo do Todo, querida
51 Lugar de estrela é no céu
Tchu biru dau daus!
Foi rainha da mídia
Sem sobremesa pros maus
Viúva de tempos passados
Ela agora nos dá mil tchaus!
CORDEL DE SÃO JOÃO
Por Moisés Monteiro de
Melo Neto
1 O Dia de São João
é comemorado assim
na data em que nasceu
primo de Jesus, enfim
é 24 de junho
João Batista mininim
2 Foi o profeta do Messias
da pessoa de Jesus
Cristo, nosso senhor
Que por nós morreu na cruz
Mas que vive para sempre
E vem dele a minha luz
3 Tive tanto noite boa
Na fogueira do amor
Que dedico a João Batista
O primo do Salvador
Vou agora dizer d´umas
valei-me, meu redentor
4 A origem dessa festa
de São João vem do
passado
da idade média, bem sei
é coisa de acalentado
em noite fria longe
fazendo friozinho danado
5 A fogueira e os milhos
a canjica, o casaquinho
eu menino, irmã e irmã
dançando lá no clubinho
fantasia de matuto
era bonito, o
Clubinho
6 As estrelinhas no céu
tão longe, tão perto
iluminava, eu pequeno
o meu prazer era certo
havia garoazinha
era urbano meu deserto
7 Às vezes no interior
Havia uma luazinha
Havia traque de massa
Até rojão que lá tinha
E um veio sanfoneiro
em cantoria só minha
8 Essa festa lembra a Igreja
Católica europeia
Nunca vi mais brasileiro
O jeito que tem essa ideia
Afrodescendentes logo
Disse não era ateia
9 Veio o sincretismo e assim
Noutro nome se encantou
O sabor da gente do campo
Tudo Nosso Senhor, eu vou
louvando nesse cordel
aquele que nos salvou
10 Tem uma gente fofoqueira
Que fala de solstício
de verão lá nas
Europa,
mas pra que esse suplício?
o culto à natureza
esse troço, estrupício
11 Falam em plantações, colheitas
De um tal de Adônis, que é mito
É grego, foi disputado
por Afrodite, não acredito
e uma tal de Perséfone
não acho isso bonito
12 Aí veio um tal de Zeus
disse Adônis ia passar
metade do ano com
uma
a outra ia esperar
na luz do Sol ou nas trevas
isso é de arrepiar
13 São os ciclos naturais
da vegetação no
mundo
que morre no inverno
mas renasce do
profundo
O culto a Adônis, é
no São João
Da “boa-nova”
oriundo
14 São João tá em
tanta música
Que ouço e fico feliz
Gosto muito do forró
É bom, o povo diz
Dá vontade de viver
Tristeza tu não sorris?
15 João Batista, traz “boa-nova”
(boa notícia) do filho de Deus
salvador da
humanidade
“renova todas os
seus”
.dai-me força de vontade
Para mim e todos os meus
16 João que batizou Cristo
Nas águas do rio Jordão
Ah, como é tão bonita
Essa história de São João
Aplaudo de pé a cultura
Que faz essa
louvação
17 Que símbolo é a
fogueira
Que linda a crepitar
Diga, professora Fátima
Se num é lindo de olhar
Rafa Miguel e Victor
Leo e Alice a brincar
18 Dizem que Isabel
Muito amiga de Maria
costumavam
visitar-se
era sempre uma alegria
Uma tarde lhe
contou: ia nascer
seu filho e gente amaria
19 Maria então perguntou:
— Como poder saber disso?
— Acendo fogueira bem grande
Assumo esse compromisso
Você assim vê de
longe
Então venha. Faça isso
20 E saberá João nasceu
Isabel cumpriu a promessa
Maria viu ao longe
Pensou a noite é essa
Foi à casa de Isabel
e foi lindo à beça
21 encontrou o menino João
que mais tarde foi sagrado
por tanta gente seguido
e perseguido, coitado
jesuíta traz ao Brasil
esse costume arraigado
22 E assim dos bailes da França
“anarriê”,
“alavantú”, “balancê”,
Eram bailes populares
Amor, eu amo você
Nessa noite tão bonita
Tem igual? Cadê?
23 Só por brincadeira, eu digo
"simpatia, adivinhação,
Coisas de casamento
Mas não acredito, não
A faca na bananeira
A letra aparece ou não?
24 E assim vou acabando
Esse cordel no colégio
Só digo que no nordeste
Essa festa é privilégio
Vem logo, vamos dançar
Isso, sim é sortilégio!
HISTÓRIA DA COMUNIDADE DE SÃO PEDRO
Autor: Moisés Monteiro de Melo Neto
Depoimento: Maria José de Nona
Transcrição: Guilherme Gomes
1 Esta vila teve início
Dezoito nove cinco
construída uma igreja
numa rua, com afinco
os
primeiros habitantes
bela forma,
forte vinco
2. Isidoro Souza, Cândido
de Garanhuns, Zé Luís
Feliciano de Lima
Messias Nazário, é matriz
os primeiros habitantes
os Vasconcelos, assim se diz
3 São informações passadas
Pelo meu tio avô, sim
tio do meu pai Jonas Bernardo
em entrevista disse assim
das famílias Acioli, Carvalho
Ferreira, Tenório, enfim
4 Primeiro nome? Itacatu
que quer dizer pedra boa
por que
tem esse nome?
e São Pedro não é à toa
primeiro padre foi Pedro
e trouxe a imagem, nossa proa
5 Isso há 102 anos
As pedras? Boas para trabalhar
depois vem nome: São Pedro
foi e assim vai ficar
no início eram oito casas
cresceu muito o lugar
6 Galdino
e o primeiro carro
o primeiro
rádio? De Tonho chofer
Ali ouviam A Hora do Brasil
E piadas engraçadas, quem quiser
primeiro
vereador
Amilcar Mota Valença, se quer
7 E a
primeira professora?
Maria Ivo se chamava
a primeira
farmácia?
Paula Valença, lá estava
E o Cine Antônio de Lima
primeira
loja Galdino, inaugurava
8 E outras
diversões? Carnaval
animado por Severino Peixe
e por Miranda de Lima, também
trabalhadores da Pedreira, deixe
trabalhavam o ano inteiro
na folia, ferramentas eram um feche
9 E os feitores de serenata
Grupo com Zé de Peba, sim
Zito, Nide, Lula de Liberato
Antônio de Dino, enfim
Luiz Tourinho e entre outros
Músicas que ecoam em mim
10 Ah, sanfona, pandeiro
cavaquinho, triângulo, violão
Tantas lembranças boas
época para tocar e cantar de montão
e os cantores? difusora de Garanhuns
alguns vivos, ainda, que emoção!
11 Primeiro
comissário da vila
Foi José Luiz de Lima
e o atendimento médico
de Garanhuns, o Pompeu, no clima
salve nosso distrito!
carro de Miguel, buzina anima
12 Nazário doou terreno,
E o prefeito de Garanhuns, é
Constrói igreja, em 37
Monsenhor
Callou, com fé
Pronta só em 40
em 2019, 82 anos, até
13 Construída de trás para frente,
No altar do Santíssimo está São José
na lateral, o padroeiro São Pedro
manto verde até o pé
A festa com banda de pífano
zabumba, quadrilha e mais, né?
14 Ciranda, forró e coco de roda
A iluminação sobre estacas
pedaços de bambu, com algodão
com azeite de mamona, pacas
o encarregado a acender e apagar
os homens? azeite, mulheres desfiam algodão
na estaca
15 Com tempo a energia de carbureto
energia a motor, depois, eletricidade
em 1927 com 32 casas.
Para a construção da igreja da
cidade
moradores ajudaram
materiais, mutirão, muita capacidade
16 em carros de bois, carroças de
burros
enfeitadas de flores cantando e rezando
o templo se ergueu, o padre orientou
mulheres água e pedras carregando
no percurso cantavam
e iam rezando, légua ou caminhando
17 Surge o apostolado de Nossa
Senhora
mulheres com fita azul e marrom
sagrado coração de Jesus
fitas eram vermelha e branca, bom
Com a chega imagem de Aparecida
a outubro tem novena, bento som
18 Em 98 Maria José de Nona,
Lourdes de Nilton, Maria de Lon
e Armando Domingos de Melo,
vereador devoto de São Pedro, bom
procissão motorizada saindo de
Garanhuns,
senhor Antônio de Lima, no tom
19 Louva São Pedro, imagem num
caminhão, não tenho certeza
com jovens como pescadores
redes e tarrafas na mão, que beleza
andor com cetim ouro e verde
mas que
lindeza!
20 Hoje, em nossa capela
temos um altar de pedra, sim
temos água e eletricidade
mas foi uma luta danada, enfim
muita pedra, muita argila
nos fortaleceram, assim
21 Guerreiros nas bênçãos de Deus
Temos tecnologia
Nosso lugar pode crescer
São vitórias noite e dia
Nossa luta pro futura
Salve São Pedro! Alegria!
CORDEL
GERALD THOMAS
Moisés
Monteiro de Melo Neto
1.Por interesse pessoal
ou por exigir o ofício
escrevo esse
cordel pra ele,
mestre do teatro artifício
o que para mim
é prazer
Também não é sacrifício.
2. Ali nos anos 80
Vi teatro do
diretor
que também é dramaturgo
isso eu digo ao
leitor.
Ele não era de um grupo,
era só tal
criador
3. De individualismo, entende
estética bem apurada.
Produto estético em cena,
com uma precisão danada.
Gerald traz um novo gás
Atitude preservada
4.Antunes Filho, abriu caminho
A cena a avançar.
abril de 85.
Electra
concreta é ar.
Homem não era brinquedo.
Oito sete é pra ficar
5. Sem histórico psicológico
Truques da luz desnudava
de luz tão entrecortada
que assim me
abismava
movimentos como
náusea.
Incidências iluminava
6 Misturando o som e luz
Tudo espetacular
Minha pai, meu mãe,
nem sei
Formas fora do lugar
Cenas se embaralham
Neuras, tudo a borbulhar.
7 Panos de boca transparentes.
Sobrepostos, nada encobrir.
No fundo, figuras escuras
Encurvadas sem luzir
Ópera seca se. anunciava
As cenas como
um carpir
8. Meus sentidos explodiam ação
luz em cena com tudo, é
mais o texto e
a música
negócio meio
punk, até
teatro extasiante
eu no Rio.
Ônibus, táxi a pé?
9 Nordestino sem destino?
Deus ex machina
estava
da cena tão recifense
que então estagnava?
O ano de 87
Pernambuco
atrasava
10. Gerald Thomas
acusava
teatro local mentirinha
Tanta
dramaticidade extra
Suas teias de filó retinha.
Eu via e compreendia
sentia a cena como
minha
11. Seu conceito de teatro?
Pode,
Aristóteles lembrar?
Traz luz, suas
imagens
cena, em mim, explorar
conceito imagens em cena
mudez movimento
fragmentar
12 polifonia insensatez
não fala com
espectador
ele que o sinta
de outro modo
E aguente do
chão o clamor
Wagner, Dante, Joyce, Proust e até
Tal estranho, que furor
13, Vai um Shakespeare também
Chupa, chupa, super descarado
De modo algum eu direi
Em Cena o mundo sagrado
cadeias de leit motif
desconstrução, desesperado
14 texto
dramático não
Qual o núcleo da peça
texto cênico bem regido
Registro de
Fronteiras, nessa
mistura de artes
Visual, Daniela Thomas, à beça
15 Palco
italiano mudava,
Londres, New York, Brasil
Unglauber, 94,
fecha o ciclo
Que o cordel o devore, viu?
artista tão
radical no teatro
alguém já o sentiu?
16 Nos anos 70, Gerald
ilustra o New
York Times, é
vendeu muitos posters também
Vanity
fair, Harper ilustrou até
em 23 jogou certo acervo seu
no lixo, cansa guardar, né?
17 Nasceu em
New York
Do 7 aos 14, no Rio
aos l 8 vem
cocaína
com Oiticica bem no cio
ou tudo isso é
mentira?
ao cordel digo fiu fiu
18 Com Beckett em 85
Carmen com
filtro, 86
85 Electra
concreta
87 Navio
fantasma, eis
Fino trato pra vocês
87 Trilogia Kafka
pra vocês
19 Em 90 Flash and crash days
Gala e Traidor
espetáculos
peças dele com o mesmo fim
em 23, tais cenáculos
carioca dos EUA? É assim
com filha de Ziraldo show cálculos
20 Viu Zé Celso
em 69
Balcão de Victor Garcia
Mamberti o ajudou
a entrar no que queria
aos 18, Londres, nos 70
O que o Ge3ral fazia?
21 Intelectual
com prazer
O sonho de uma noite, 80
New York, London, Brasil
notícias de Grotowski, tenta
postura mais que palavras
ato e som: Colônia, 70
22 Antiteatro? Nunca, talvez
subverte
a cena burguesa
76 na Anistia Internacional
Brasil de chumbo, incerteza
com Helen Stewart, o La Mama
Off Broadway,
com certeza
23 Sim, presenciou, atenção
o Living Theater e
mais
dirigiu no La mama, demais
conversava com Beckett
obra desse irlandês, tais
pra falhar de novo e melhor.
24 Condenado, o homem, vejam
busca o som., o
pensamento
Ato psicológico, talvez?
pausas
exasperantes, tratamento
Espaço
temporais em Carmen
Carmen, com filtro, distanciamento
25 Trabalhando com Fagundes,
hermético, estético.no cartaz
Confuso e verborrágico
Recebeu más críticas,
demais?
Encantamento plástico formal
Extrema lentidão ao andar, assaz
26 Suas peças, interrompem-se
As falas rompem , bruscamente
aos gritos como
vômitos saem
cenas expressionistas, gesto demente
pede irônico escutar
estímulo
estético se sente
27 Usa abstrata música
estímulos estéticos se toca
teatro total, bem assim
eis aí o que a música provoca
cenas de artes plásticas
induzem... o cosmopolita choca
28. No Brasil, ciranda constante
Tessitura da memória segue
Mais estilo do que técnica
bruma,
elegância, sutileza, negue!
Mais estilo do
que técnica.
Cia da Ópera Seca,
pegue!
29 Ator fixo e continuidade
Ácida, crítica, que beleza...
Mineira Beth Coelho Estrela.
óperas, musicais :
firmeza
tal Pina Bausch., Denise Stoclos
até fundamento orgânico, certeza
30 Em GT, não é excessivo o expressionismo
Há espaços inusuais
figurinos de aspecto envelhecido.
E algo mais objetos soltos e mais
Figuras retorcidas, difícil locomoção
no palco, quase nu quais? fatais, fractais
31. Lugares contextualizados
como na Grécia mítica
fêmeas
assassinas ...Terra de ninguém
crimes, o diretor, situação crítica
tal poema, verbivocovisual
poesia concreta
esquinas crítica
32. Hermetismo falso ou o quê?
A reinventar teatrão de vanguarda?
Xingavam GT, os neófitos em fúria
Ele em navio
fantasma, Aramada
escandalizaria a todos?
Rio, Janeiro 1987? Nada
33. No Municipal:
vaia de 5 minutos.
Diante da eminência parda
Fritz Lang, Pina Bausch, cantor(a)
encantou,
crítico? Não tarda
não poderiam
defini-lo
pântano de vícios,
ele aguarda
34. Não! Teve tempo? Qui-lo?
Leitura surpreendente
da ópera de
Wagner:
sem nem navio...nem Porto presente
Errância. Como vagão de carga
Espaços, Mendigo demente
35. Vazios, ânsia. Um novo
muro de Berlim? Drama da danação
A intolerância, tal Guerra fria
prossegue Bob
Wilson, paixão
que impacto causou
Teatro de visões, foto de Kafka? Não
36. Com O Processo, Metamorfose, fusões
Leitura semiótica do diretor
Com A Tempestade sensações...
Parece ilha do
naufrágio, vinga a dor?
Joseph K: é Próspero? Ãh?
Enquanto Grego Sansa? Ator...
37. Submisso. A família malsã
Há leituras da
situação
Tcheco judeu, em cenário alto
Biblioteca gigante vão
7m, Gerald
exagera na estrutura?
Daniela dá o cenário da ação
38. Discurso à parede de livros
pensamento ocidental da razão
obsoleto arquivo, parece
concreto, imenso esqueleto, não
Rádio antigo, cubos com fotos
em vez de livros, cubos sobre chão
39. Assim foi figurino, também
Dá Dani clima
de cinema?
Sombrio, sim, em Praga
Nada de Brasil Ipanema
Que visão tão arretada
cabarés alemães, anos 30 sistema
40. Desafio do ser inseto
Mais música/ múmia cortou
Gerald a frase inicial do livro
Gregor Samsa acordou
certa manhã de sonhos intranquilos
em sua cama se metamorfoseou
41. Ó inseto monstruoso
Gerald também trouxe Joseph k
Do livro O processo, assim
Preso na teia da justiça, lá
num dormir e acordar infindo
atrás da teia de filó, já
42. Acusações/ culpas. Vácuo
Impenetrável
silêncio e pó
Um Chaplin. Luz a esquadrilhar
Estado de sítio cênico só
Os próprios fantasmas
K, seus investigadores, sem dó
43. Juízes, culpa inevitável
não é catarse, o que fez???
indefinido, mal,
no palco
lugar mutante vórtice, talvez...
Imagens
intermitentes, moral.
filme mudo, escudo, altivez...
44. Marca, tempo a passar
mudança de cenário, ação
entrelaçar estilhaçar luz
do alto e dos
lados, solidão
sem traço
naturalista, Kafka,
sob refletor de milha, desrazão. A
45. Nula qualquer defesa
Rígidas faces
glaciais, oh!
gestos repetitivos, mãos
pelo cabelo em riste, nó
final com carcereiros
pavor, triste, dó
46. Submissão final, mordaça
morte do Sr. K?
emoção.? Não
isso não é comum ao diretor
primeira vez, empatia com plateia, ação
ele limpa tal melodrama
sem abrir brechas,
escapa sem chão
47. O julgamento de Samsa e de K
(in) consciência na invasão shakespeariana?
Síntese do fim da ciência
culpabilidade atroz, demência insana.
Mediocridade exposta
Roupa do juiz que se dana
48. De funcionário exemplar ao pó
Isso cheira a Beckett, numa ponte
Analógica inteireza
do outro
O íntimo : ameaçador horizonte
Blackout :2
segundos característicos
Alçapão:
domínio muscular, fonte
49. O pai de Sansa na cadeira
Mãe fuma, ri K, nos livros, some
Thomas entra em cena
Entre Gregor e
o pai, fome
Desajeitado ser
cênico
nesse teatro
vago, que consome
50. Gerald dirigiu dezenas de peças
O inusitado é denominador comum.
Espectador às cegas: corpo-palavra
O Cordel vai acabar, fim nenhum
absurdo! Nem vale acreditar.
Até logo, foi incomum!
CORDEL DO PAI MESSIAS
1 Candomblé Nação Nagô
Agora conta a vocês
na Tenda do Pai
Francisco
Umbanda é da vez
foi fundada em meia oito
Babalorixá Messias, vem
dos Reis
2 Yalorixá de seu Santo
Senhora Antônia Queiroz
Mãe Tonha do Sapoti de
Oxalá
Vô de Santo, Manoel
Mariano após
Babalorixá Zé Messias
Acalma já com sua voz
3 Leva adiante como zelo
a Matriz Africana que
Deus deu
no estado de Pernambuco
São Jorge lhe concedeu
Atender todos seus
filhos
Cada um é filho seu
4 A caminhada de São
Jorge
Um dos marcos do
Terreiro
Também vem de meia oito
os toques algo muito
certeiro
calendário orixás
é tudo tão verdadeiro
5 A procissão de São
Jorge
Um dos marcos dessa
tenda
para gente é Ogum
esse santo oferenda
de tanta demanda ruim
Oxalá que nos defenda
6 Arrastando multidão
público a conferir
caboclinhos Carijós
da Mangabeira e clarins, a sair
A romaria começou, lhes digo
Explico logo a seguir
7 O esposo de uma filha
do Terreiro ficou doente
ela quis melhora do esposo
fez promessa tão ardente
para o santo e Pai Messias
sugeriu, mas não de repente
8 Que fizesse uma romaria
em agradecimento ao Santo
muita gente apareceu
olha só: foi quase um espanto
para agradecer e pedir
novas graças, até hoje há canto
9 O candomblé e a umbanda
Tantos anos do cortejo
são centenas
de fiéis
do santo guerreiro, o
ensejo
É São Jorge, é Ogum,
acompanharam tal festejo
10 O Pai ao lado da
imagem
seguidos por carro de
som
cavalaria de devotos
ai, meu Deus, é muito
bom
Por onde passava essa
gente
Espalha alegria no tom
11 E é incrível o que se
vê
O cortejo chama a
atenção
Da gente toda do entorno
Muita fé e devoção.
Pai Messias
vai na frente
Dizendo: “Violência,
Não!”
12 É a bandeira de
Oxalá, também
É o símbolo da paz
intolerância religiosa
não triunfará, jamais!
O momento de união
Vamos em frente, rapaz
13 Um dia escutei de um deles
Quem é que me acuava?
Agora, eu mais velho, vejo:
Relembro o que pensava
naquele tempo era assim
eu doido perdido girava
14 Leve demais, e
assoprado
Deus deixou, ora essa
Ele é supremo, eu bem
sei
Deus é urgente sem pressa
Mas Pai Messias, meninos
Dá muitas bênçãos, não
cessa
15 Ele nasceu em Água
Fria
Lá no Alto do Pascoal
Ladeira dos Anjos, assim
Em quarenta e sete, eis
o tal
Estudou em Beberibe
Católico sem igual
16 Comunhão, Crisma,
coroinha
D´Imaculada Conceição
Na Várzea ele ficou
Seminarista, atenção
Externo, vestiu batina
Até os dezessete, a
questão
17 Os espíritos chamaram
Influências da Umbanda
No Colégio Alfredo
Freyre
Incorporou, isso anda
Com uma senhora
descobriu
Que era forte a
sarabanda
18 Incorporou Preto
Velho
Pai Francisco se mostrou
Teve que ir às sessões
Isaías Gomes ajudou
Depois ficou no “cubico”
Foi assim que se passou
19 Sofreu até preconceito
Trabalhou no Ipsep, sim
Desde os quinze, pois é
Aos dezoito soldado,
enfim
Recebeu lá um Canindé
Um caboclo esperto assim
20 Em meia sete, em
serviço
De guarda, lá no Quartel
Sentiu-se mal, ai,
Jesus!
Acordou em terreiro sem
fel
De Isaías e Zefinha
Sargento Marivaldo, fiel
21 Pra brincar veio o
Caboclo
O Curumim Canindé
O cabo disse: “dou
folga!”
De voltar pro Quartel, é
Num Jeep do Exército
Messias manteve a fé!
22 Dom Helder falou com
ele
Na Rui Barbosa,
Manguinhos:
“Filho, Deus dá o dom
Que sejam bem
direitinhos!”
Messias é Sacerdote
Mas isso foi aos
pouquinhos...
23 Mais nove meses:
Quartel
Quartel do Treze de Maio
Na instrução, área médica
HGR, tal ensaio
No IPSEP, se aposentaria
Rosa e Silva, sem atrapaio
24 Dom Helder o
encaminhou
Prum Convento Franciscano
Messias se entusiasmou
Com o cartão do “bacano”
E um Frei o recebeu
Em Salvador, eis o Plano
25 O enxoval: cama e
banho
Roupa branca ele comprou
Com o dinheiro do
Exército
E a coisa se encaminhou
Na maleta guardou tudo
Mas o Destino mudou
26 Messias fez oferendas
Em meia oito:
Providência
Sua mãe não era “de
dentro”
Hoje é A Tenda, era a
residência
Zefinha e Isaías, ajudam
terreiro, ali
Em meia oito, evidência
27 Em setenta e um,
casou
Duas filhas e um filho,
é
Nove netos, treze
bisnetos
Aposenta em nove e cinco,
com fé
Sempre ativo e produtivo
Dois mil e um, Itamaracá
chalé
28 Veio a primeira
filha, emoção
Multiplica seu amor
Sua força não vacila
Tudo é filho, meu irmão
Orixás e Guias protegem
Isso não é só opinião
29 quando abriu terreiro
Família viveu aí
Pai, mãe, irmãos, tudo
Mãe ficou viúva, luto
ali
Nas festas tiravam os
móveis
Cerimônias afro-tupi
30 Também alugaram casa
Mãe disse: “cuide da
Tenda”
Meu filho, nunca se
esqueça
Se quer mesmo, sempre
aprenda
Que os Santos e os
Outros
Não há razão que entenda
31 Messias morou em
Cajueiro
Ainda em Água Fria
Vem Márcio Paiva e diz:
“Meu comércio traz
alegria
Patrocino o Terreiro
Messias faz mais do que
fazia
32 Uma pessoa da Alemanha
Completou a ajuda
Pra esse filho de Ogum
Não há a quem Deus não
acuda
Messias bisavô em dias
Importantes com família
sortuda
33 Ser avô é sempre ser
Pai
Orixá Ogum que proteja
Ogum Famila Ó
Está onde ele esteja
Homenagens se sucederam
Teatro, Universidades,
salões, veja!
34 Doutor Honoris Causa
Nosso Mestre nem liga
Prefere fazer um brinde
Que se afaste toda a
briga
Numa Brahma fora dali
Pra longe toda a intriga
35 Troféus,
certificados, fotos
Espalham-se aos
borbotões
José da Silva Messias
Abre portas e portões
Pai Messias do Arruda
Risos, choros, sensações
36 Rolam búzios na
urupema
Pai Francisco a guiar
Umbanda sempre sagrada
Vem gente de todo lugar
Buscam esse juremeiro
Que sabe muito acalmar
37 E Pai Freitas vem e
diz:
A Universidade lhe faz
Doutor
Pela U F P E
Lhe citaram com louvor
Em vários livros e
artigos
Muitos lhe dão valor
38 A gente fica por aqui
Dizendo pra quem nos leu
Que tem mistérios no
mundo
Nesse mundo meu e seu
Mais vale é se ter fé
No mundo que Deus nos deu.
CORDEL DO PAI MESSIAS
1 Candomblé Nação Nagô
Agora conta a vocês
na Tenda do Pai
Francisco
Umbanda é da vez
foi fundada em meia oito
Babalorixá Messias, vem
dos Reis
2 Yalorixá de seu Santo
Senhora Antônia Queiroz
Mãe Tonha do Sapoti de
Oxalá
Vô de Santo, Manoel
Mariano após
Babalorixá Zé Messias
Acalma já com sua voz
3 Leva adiante como zelo
a Matriz Africana que
Deus deu
no estado de Pernambuco
São Jorge lhe concedeu
Atender todos seus
filhos
Cada um é filho seu
4 A caminhada de São
Jorge
Um dos marcos do
Terreiro
Também vem de meia oito
os toques algo muito
certeiro
calendário orixás
é tudo tão verdadeiro
5 A procissão de São
Jorge
Um dos marcos dessa
tenda
para gente é Ogum
esse santo oferenda
de tanta demanda ruim
Oxalá que nos defenda
6 Arrastando multidão
público a conferir
caboclinhos Carijós
da Mangabeira e clarins, a sair
A romaria começou, lhes digo
Explico logo a seguir
7 O esposo de uma filha
do Terreiro ficou doente
ela quis melhora do esposo
fez promessa tão ardente
para o santo e Pai Messias
sugeriu, mas não de repente
8 Que fizesse uma romaria
em agradecimento ao Santo
muita gente apareceu
olha só: foi quase um espanto
para agradecer e pedir
novas graças, até hoje há canto
9 O candomblé e a umbanda
Tantos anos do cortejo
são centenas
de fiéis
do santo guerreiro, o
ensejo
É São Jorge, é Ogum,
acompanharam tal festejo
10 O Pai ao lado da
imagem
seguidos por carro de
som
cavalaria de devotos
ai, meu Deus, é muito
bom
Por onde passava essa
gente
Espalha alegria no tom
11 E é incrível o que se
vê
O cortejo chama a
atenção
Da gente toda do entorno
Muita fé e devoção.
Pai Messias
vai na frente
Dizendo: “Violência,
Não!”
12 É a bandeira de
Oxalá, também
É o símbolo da paz
intolerância religiosa
não triunfará, jamais!
O momento de união
Vamos em frente, rapaz
13 Um dia escutei de um deles
Quem é que me acuava?
Agora, eu mais velho, vejo:
Relembro o que pensava
naquele tempo era assim
eu doido perdido girava
14 Leve demais, e
assoprado
Deus deixou, ora essa
Ele é supremo, eu bem
sei
Deus é urgente sem pressa
Mas Pai Messias, meninos
Dá muitas bênçãos, não
cessa
15 Ele nasceu em Água
Fria
Lá no Alto do Pascoal
Ladeira dos Anjos, assim
Em quarenta e sete, eis
o tal
Estudou em Beberibe
Católico sem igual
16 Comunhão, Crisma,
coroinha
D´Imaculada Conceição
Na Várzea ele ficou
Seminarista, atenção
Externo, vestiu batina
Até os dezessete, a
questão
17 Os espíritos chamaram
Influências da Umbanda
No Colégio Alfredo
Freyre
Incorporou, isso anda
Com uma senhora
descobriu
Que era forte a
sarabanda
18 Incorporou Preto
Velho
Pai Francisco se mostrou
Teve que ir às sessões
Isaías Gomes ajudou
Depois ficou no “cubico”
Foi assim que se passou
19 Sofreu até preconceito
Trabalhou no Ipsep, sim
Desde os quinze, pois é
Aos dezoito soldado,
enfim
Recebeu lá um Canindé
Um caboclo esperto assim
20 Em meia sete, em
serviço
De guarda, lá no Quartel
Sentiu-se mal, ai,
Jesus!
Acordou em terreiro sem
fel
De Isaías e Zefinha
Sargento Marivaldo, fiel
21 Pra brincar veio o
Caboclo
O Curumim Canindé
O cabo disse: “dou
folga!”
De voltar pro Quartel, é
Num Jeep do Exército
Messias manteve a fé!
22 Dom Helder falou com
ele
Na Rui Barbosa,
Manguinhos:
“Filho, Deus dá o dom
Que sejam bem
direitinhos!”
Messias é Sacerdote
Mas isso foi aos
pouquinhos...
23 Mais nove meses:
Quartel
Quartel do Treze de Maio
Na instrução, área médica
HGR, tal ensaio
No IPSEP, se aposentaria
Rosa e Silva, sem atrapaio
24 Dom Helder o
encaminhou
Prum Convento Franciscano
Messias se entusiasmou
Com o cartão do “bacano”
E um Frei o recebeu
Em Salvador, eis o Plano
25 O enxoval: cama e
banho
Roupa branca ele comprou
Com o dinheiro do
Exército
E a coisa se encaminhou
Na maleta guardou tudo
Mas o Destino mudou
26 Messias fez oferendas
Em meia oito:
Providência
Sua mãe não era “de
dentro”
Hoje é A Tenda, era a
residência
Zefinha e Isaías, ajudam
terreiro, ali
Em meia oito, evidência
27 Em setenta e um,
casou
Duas filhas e um filho,
é
Nove netos, treze
bisnetos
Aposenta em nove e cinco,
com fé
Sempre ativo e produtivo
Dois mil e um, Itamaracá
chalé
28 Veio a primeira
filha, emoção
Multiplica seu amor
Sua força não vacila
Tudo é filho, meu irmão
Orixás e Guias protegem
Isso não é só opinião
29 quando abriu terreiro
Família viveu aí
Pai, mãe, irmãos, tudo
Mãe ficou viúva, luto
ali
Nas festas tiravam os
móveis
Cerimônias afro-tupi
30 Também alugaram casa
Mãe disse: “cuide da
Tenda”
Meu filho, nunca se
esqueça
Se quer mesmo, sempre
aprenda
Que os Santos e os
Outros
Não há razão que entenda
31 Messias morou em
Cajueiro
Ainda em Água Fria
Vem Márcio Paiva e diz:
“Meu comércio traz
alegria
Patrocino o Terreiro
Messias faz mais do que
fazia
32 Uma pessoa da Alemanha
Completou a ajuda
Pra esse filho de Ogum
Não há a quem Deus não
acuda
Messias bisavô em dias
Importantes com família
sortuda
33 Ser avô é sempre ser
Pai
Orixá Ogum que proteja
Ogum Famila Ó
Está onde ele esteja
Homenagens se sucederam
Teatro, Universidades,
salões, veja!
34 Doutor Honoris Causa
Nosso Mestre nem liga
Prefere fazer um brinde
Que se afaste toda a
briga
Numa Brahma fora dali
Pra longe toda a intriga
35 Troféus,
certificados, fotos
Espalham-se aos
borbotões
José da Silva Messias
Abre portas e portões
Pai Messias do Arruda
Risos, choros, sensações
36 Rolam búzios na
urupema
Pai Francisco a guiar
Umbanda sempre sagrada
Vem gente de todo lugar
Buscam esse juremeiro
Que sabe muito acalmar
37 E Pai Freitas vem e
diz:
A Universidade lhe faz
Doutor
Pela U F P E
Lhe citaram com louvor
Em vários livros e
artigos
Muitos lhe dão valor
38 A gente fica por aqui
Dizendo pra quem nos leu
Que tem mistérios no
mundo
Nesse mundo meu e seu
Mais vale é se ter fé
No mundo que Deus nos deu.
Indígenas versejam mulheres na
literatura Brasileira
Organizador:
Prof. Dr. Moisés Monteiro de Melo Neto (CLIND-UNEAL/ NEAB-UPE)
Danielle
Moacir dos Santos/ Karapotó Terra Nova
Celia Lima
dos Santos/ Karapotó Terra Nova
Letícia
Lima dos Santos/ Karapotó Terra Nova
Zilene Murá
de Moura/ Kariri-Xocó
Aruana
Ricardo da Silva/ Kariri-Xocó
Suzana
Alves dos Santos/ Kariri-Xocó
Renata
Campos Alves Lima/ Kariri-Xocó
Manoela
Suíra de Souza/ Kariri-Xocó
Cinthya
Santos Correia/ Kariri-Xocó
Thiago Tononé
de Aquino/ Kariri-Xocó
Viviane
Pirigipe Rosendo/ Kariri-Xocó
Nayrí Silva
Cruz/ Kariri-Xocó
Marcela
Marques Lima/ Kariri-Xocó
1.
Quando chegaram aqui
Começou
a invasão
Portugal
ganancioso
veio
com má intenção
Olharam
pras indígenas
Aí,
meu Deus, que confusão!
2.
Desembarque alucinado
As
mulheres estava lá
De
olho na novidade
Que
nunca se viu por cá
Teve
canção e dança
Para
alegrar o pessoá.
3.
Vamos falar das mulheres
Seu
importante papel
Na
sociedade sempre
Tanta
coisa foi cruel.
Conseguir
dignidade
E
ficaram quase ao léu
4.Desde
de ontem até hoje
Foi
uma luta danada
Para
conseguir destaque
Para
ser valorizada
E
nas letras brasileiras
Venceram
as paradas
5.
Vamos ver lá no barroco
Como
se via a mulher
Bonitinha
ou atrevida
Gregório
diz o que quer
Leitor
preste atenção
Você
ler o que quiser.
6.
A igreja condenou
Malícia ela dizia
Mulher
serve ao homem
E
a mulher nem reagia
Isso
não ficou assim
Veio
então assim a primazia
7.
Se falasse muito é: bruxa!
Tacar
fogo, heresia
Proibida
de escrever
Ler
ela não podia
Era
massacrada em tudo
Estão
vendo tal agonia?
8.
Retomando os indígenas
Nas
letras apareceram
Não
foi fácil lhes digo
Mas
barreiras se romperem
Era
até submisso
Os
árcades escreveram
9.
Caramuru, Uraguai,
Épicos,
literatura
Paraguaçu
e Diogo
Eita,
que belezura!
Lindóia
e Cacambo
Feiticeira
Tanajura
10.
Nas construções de cidades
há
mulheres também
Salvador
e Vila Rica
Foi
Toré, mas teve amém
Os
sinos badalavam
Foi
aquele vaivém
11.
Musas de tantos poetas
Tem
Maria de Dirceu
É
a mulher tal bibelô
Isso
não lhe convenceu
Não
era protagonista
Digo
o que as sucedeu
12.
Época do romantismo
Tinha
até a prostituta
Lucíola
é uma delas
Foi
muito amor e a luta
Paulo
era namorado dela
Teve
seda e teve juta.
13.
Também teve A Moreninha
Na
Ilha de Paquetá
A
viagem do Amor
Ti,
ti, ti, tá, tá, tá.
O
mistério do coração
romance aqui está.
14.
Mulher idealizada
Tanto
coração feriu
Ultrarromantismo,
é
Coisa
de qual eu que se viu
Suicídio
era mote
Tem
herói e gente vil.
15.
Vamos ver no realismo
Como
a mulher está,
Machado
velho escritor
Trouxe
o estilo para cá
O
realismo vem de França
Não
tem umbu nem cajá
16.
É o pecado da maçã
Brás
Cubas a anunciar
Psicologia,
burguês
O
Brás foi arrasar
Rio
de Janeiro, Brasil
Muito
leitor a comprar
17.
- Não tive filho, o Brás disse
Não
transmiti para ninguém
A
desgraça que era a vida
Por
isso eu vim do além
Outro
livro Dom Casmurro
E
ai, Capitulo vem.
18.
Traidora ou não, hein.
O
filho é de Bentinho
Ou
será do Escobar
O
amigo espertinho
Mistério,
literatura
Visível,
escondidinho.
19.
Naturalista O Cortiço
Rita
Baiana danada
Tem
Pombinha e tem outras
Parece
até revoada
Mas
mulher não é bem vista
Destaca-se
a sexuada
20
Bertoleza e Piedade
Ah,
quanta complicação
Também
tem a Léonie
É
a prostituição
Desse
jeito é que não vale
Mulher
não é bem assim, não
21.
Parnasianismo, vê
Mulher
como escultura
Cultura
greco-latina
Impassível,
criatura
Bilac
era o poeta
Isso
é aventura?
22.
Aí vem o simbolismo
Tem
a história da alma
Trancada
dentro do corpo
Ela
não ficava calma
Cruz
e Sousa negro poeta
Será
isso um trauma?
23.
Sofreu tanto preconceito
O
genial escritor
Já
Alphonsus Guimarães
Com
sua Ismália? louvor
Loucura
e suicídio
A mulher viveu horror
24. No pré-modernismo, sim
Lima Barreto expôs
Mulher para casar e
Ismênia tá louca, depois
Largada com o enxoval
Noivo fugiu, sem arroz
25. Isso é o livro Policarpo
Ali, outra mulher, Olga
Libertária, diferente
Com ela, homem não folga
A irmã do personagem
Adelaide, se empolga
26. Nos Sertões, Deus lhe
tenham
Euclides diz: Conselheiro
“mulher é tentação, o cão!”
Canudos, tiro certeiro
Política e fé, é fogo
O chão virou braseiro
27. Na poesia de Augusto
Esse período se expressa
Funesto que só ele
Sem futuro nem promessa
Lobato traz Negrinha
Racismo danado, essa
28. Modernismo de primeira
Oswald e Manuel
Fizeram um carnaval
Que virou um escarcéu
Foi uma risada geral
Um escambau, um beleléu
29.
Semana de vinte dois
Tem
mulher presente lá
Pintora
é Anita Malfatti
Que
não tinha blá, blá, blá
Usou
vanguarda Europa
Espantou
muitos de cá
30.
Brasil profuso: branco
índio
e negro, ai meu Deus!
Vem
Tarsila do Amaral
Para
mim e para os seus
Eita,
quadro tão famoso!
O
Abaporu sem breus
31.
Vamos falar de Pagu
Comunista
que ela só
Foi
presa e torturada
Botaram
no xilindró
Engajada
que só ela
Que
Getúlio quis ver pó
32.
Vamos pra Macunaíma
Que
o Mário escreveu
Tem
uma mulher tão forte
Sí,
e todo mundo leu
Índia
guerreira era
A
tribo a elegeu
33.
Segunda fase moderna
Tem
mulher pra arrebentar
Do
Ceará vem Raquel
Com
O Quinze estraçalhar
E
da Bahia Gabriela
Retirante
de pirar
34.
Jorge Amado era assim
Que
escrita saborosa
Mulher
era Dona Flor
Que
mulher maravilhosa
E
também criou Tieta
Prostituta
orgulhosa
35.
De Alagoas, Graciliano
Duas
mulheres destaco
Uma
é Sinhá Vitória
Vidas
secas não empaco
Eita,
mulher arretada
Vencedora
eu destaco
36.
Enfrentando a seca
Com
os dois filhos e o marido
Tem
a cachorra Baleia
Eita, sertão comprido!
E
O menino de engenho
Zé
Lins escreve no livro
37.
E a mulher em Zé
É bonita como a cana
Cuja
palha corta a gente
Trabalhador
engana
poetisa
chega, desde
Francisca
Júlia, flana
35.
Cecília, menina triste
Vaga
música e viagem
Neossimbolista,
talvez
Chegou
na vida passagem
Efemeridade
ela é
Em
que espelho a miragem?
36.
Drummond cantou a mulher
Objetivo
ele era
Sem
o sentimentalismo
Itabirana
esfera
Gauche
que só ele
Ali não tinha quimera
36.
E Vinícius de Moraes
Tem
Garota de Ipanema
A
casa é muito
engraçada
Criança
sorrir, não tema
Que
poetinha danado
Pra
desmontar o sistema!
37.
Sem esquecer o cordel
Literatura
tão forte
Escapando
a tirania
Mulheres
de todo porte
Leandro
Gomes e tantos
Histórias
de vida e morte
38.
Água viva é Clarice
Tem
A Hora da Estrela
Macabea
de Alagoas
Rio
de Janeiro a entretê-la
Incompetente
ela era
Para
quem quisesse vê-la
39.
Quero falar João Cabral
Do
Recife esse poeta
Engenheiro
o chamavam
Na
verdade era esteta
Será
que a perfeição
Era
simples sua meta?
40.
O Rosa do Guimarães
Criou
o Grande Sertão
Uma
mulher que era homem
Diadorim
coração
Riobaldo
ficou doido
Depois
dessa paixão
41.
Agora para encerrar
Esse
cordel fica assim
Indígenas
Kariri-Xocó
Karapotó
luz sem fim
Seu
leitor preste atenção
Homem
e mulher em mim
42. Nova Literatura Indígena
Se espalhando no país
Munduruku, Jekupé,
Yaman, Pataxó, diz
Kithaulu, Potiguara, fala
Terena, Guará, raiz
43.
Haki'y, Wapixana, Yaguakãg
Makuxi, Kerexu Mirim
e autores sem preconceitos
conteúdo cognitivo, sim
valor próprio de sedução
arte importante é assim
44. Função simbolizadora
que ela possa situar-se
tendo um espaço próprio
e presentificar-se
cada vez mais estudada
local de fala, ela faz-se
45. Autorias indígenas
É Literatura forte
Erroneamente escondida
Era entregue à própria sorte
questões indígenas, sim
bem marcado suporte
46.
Letras diferenciadas
Pelo brilho furta-cor
direito de expor sua arte
um universo em vetor
propriedade intelectual
coletivo/ individual primor
47. Oralidade e escrita
Oratura ou impressa
saberes, fazeres e crenças
adotada na Europa, essa
sobre crise ambiental
a muitos ela interessa
48.
Mulheres autoras brasileiras
Tem
muitas, cada vez mais
Enaltecem
a nação
Crítica
assim se faz
Maria Firmina dos Reis
Carolina
de Jesus, uma ás
49. Conceição Evaristo
Cora Coralina são
Hilda Hilst todos leiam
Ruth Rocha, sim, meu irmão
Ana Maria
Gonçalves
Defeito de cor, lerão
50.
Dias de hoje a mulher
No
romance Torto arado
Exerce
o local de fala
Negro
viver estampado
Itamar,
o seu autor
Que
livro iluminado
51.
Até logo eu lhe digo
Você
leitor que me lê
O
cordel que acaba aqui
Adiante
você vê
Preste
atenção meu amigo
Em
Literatura crê.
52.
Mas antes que eu me despeça
Dessa
peculiar fantasia
Esse
cordel ainda tem fôlego
Mistura
dor e alegria
Estudar
é sempre bom
O
resto é maresia
53.
Dos mil e quinhentos pra cá
Se
avistou cada mulher
Escrevendo
e sendo escrita
É
coisa que a gente quer
Saudar
essa força infinita
Que
gera Letra que vier
54.
Salve, salve independência
Sai
pra lá, assombração
De
jogo Maria da Penha
Pra
tua má intenção
Literatura
Brasil
Retrata
nossa nação!
Autores desse cordel
Três vezes Teatro: Besame, Aurora,
Trate-me!
Felipe
Damião de Melo
Moisés
Monteiro de Melo Neto
Besame Mucho
1 A peça de Mário Prata
Nunca mereceu castigo
Lutou contra repressão
Sem se importar com perigo;
Mostrando a amizade
De bom e velho amigo
2 Besame Mucho, seu nome
Inspirada em uma canção
Bem famosa no seu tempo,
Até hoje como nunca, não
Tão gostosa que até fica
Grudada em meu coração
3Vou te explicar esse caso
É história engraçada
Escrita de trás pra frente
É mostrada e encenada
A vida de dois casais
Que vai mal encaminhada
4 Essa história assim começa
Já com uma confusão
O Xico briga com Olga
Terminando a relação
Enquanto do outro lado
Maria quer Lampião
5 São dois casais complicados
Um gelado e outro quente
Xico e Olga esfriando;
Tuca e Dina fogo ardente,
Que no auge da paixão,
Matou Dina de repente!
6 Dina, era reprimida
Orgasmo, não tinha não
Só com uma fantasia
“Resolveu-se” essa questão
Pena que por causa disso
Foi morta por “Lampião”.
7 Xico era escritor
Talento era com aquele,
Mas depois de um tempinho
Olga escrevia pra ele
Ela ficava com prêmio,
Só que a fama era dele.
8 Tuca era bem danado
Só pensava em transar
Se não fosse com a Dina
Outra moça ia buscar
Mal sabia que com sexo
Sua amada ia matar!
9 Olga era mulher séria
O seu sonho, viajar
Ir morar lá na Europa
Saindo do seu lugar
Acabou fazendo isso
Mas pra Xico foi voltar.
10 A relação de Tuca e Xico,
Tem grande definição,
Vai além da amizade,
Chega lá no coração,
É carinho e ternura,
Está aqui é a razão:
11 Não é homoafetivo,
Bem, deixe-me explicar
É sim homoternurismo;
É perdido procurar
Que não está no dicionário,
Mas bem deveria estar.
A aurora da minha vida
12 Aurora da minha vida
Tem um tom especial,
Mostra essa juventude
Em pleno colegial
Resgatando as memórias,
Dando aporte emocional
13 Escrita por Naum Alves,
Ano de oitenta e dois
É aquela história conhecida,
Tipo até feijão com arroz.
Do aluno na escola
E a junção desses dois
14 Os alunos são diversos
Cada um bem rotulado
Puxa, Gorda, Bobo e Órfão
O quieto bem trajado,
Adiantada, amostrada.
Só as gêmeas, lado a lado
15 Cheia de humor, sarcasmo
Faz uma crítica social
Ensino conservador
No seu modo original
Sendo o aluno passivo
E o professor maioral
16 Traz também a ditadura
Resgatada do passado,
O danado militar
De pensamento fechado
A liberdade é perigo
E pensar por si, errado.
17 Nem tudo está acabado
A história continua
Você pode ler a peça
Ou até escrever a sua;
O importante é manter
Viva esta literatura!
Trate-me Leão
18 Asdrúbal Trouxe o Trombone
Trouxe grande transgressão;
Ao mostrar a juventude
Em toda libertação;
Era beijo, sexo, droga,
Rock ´n’ roll e diversão.
19 Dividida em oito blocos
Cada um em si fechado
Cada personagem distinto
Parecem diferenciados?
Tem rico, pobre, triste,
Feliz e desempregado
20 O nome da peça em si
Demonstra ferocidade;
Trate-me Leão, seu nome;
Pra mostrar a realidade
Da juventude do Rio,
Agora com liberdade!
21 Feita por Hamilton Vaz
Junto com os outros artistas
Como Regina Casé
Evandro Mesquita, pistas
Que no grupo do Asdrúbal
Tiveram muitas conquistas
22 Ano de setenta e seis,
Lá no Rio de Janeiro,
No tempo de gravidez
produção, deles, o terceiro
Fizeram famosa peça
Mexeu com teatro inteiro!
23 A criação coletiva
Feita diariamente,
Envolvendo os artistas
De imaginação latente,
Fez com que a obra feita
Fosse mais que transcendente!
24 A peça mudou os rumos
De toda uma geração,
Talvez pela realidade
Cativando a multidão,
Ou até a liberdade
Que deu pra nossa nação!
CORDEL
COM LAMPIÃO
Antônio Lourenço Melo
Felipe Damião de Melo
Moisés Monteiro de Melo Neto
1
Sobre esse velho Chico
Eu estou a caminhar
Não sobre as suas águas
Mas num barco a passear
Se essa viagem acabasse
Do que iria adiantar?
2
Por isso que no cordel
Vamos o eternizar
Na mente e no papel
Não tem como não lembrar
Desse maior cangaceiro
Hoje uma estrela a brilhar.
3
Nessa trilha de Lampião
Lá em Angicos chegou
Na dita grota maldita
Tanta cabeça rolou
Esse caminho tão
íngreme
A gente presenciou.
4
Desde a morte Virgulino
De alcunha Lampião
Pra alguns é um herói
para outros, um vilão
Na sua história tem tudo
Amizade e traição.
5
Bem no meio do descanso
O bando foi surpreendido
Tiro aqui, tiro acolá
Não esperavam o ocorrido
Quase todos ali morreram
outros saíram feridos.
6
Como em sagas de heróis
A peleja foi ardente
talvez eu lhes diga o estranho
Mas procure ser valente
Pois não se pode escapar
Do real sobrevivente.
7
Agora vou lhe contar
Coisa feroz é viver
Cabra que for muito frouxo
Aqui não pode crescer
E na grota do Angico
Não vai se fortalecer.
8
Pra chegar lá nessa grota
Espinho no calcanhar
Um calor do meio dia
Que eu quero lhe passar
Com esse meu sangue quente
Vou lhe fazer transpirar.
9
Safadeza dessa gente
Você num vá se iludir
E nossa literatura
Ensombrece e faz luzir
Eternizando histórias
Para a mente expandir.
10
Nas águas do Velho Chico
Vai descer e vai subir
Em cada redemoinho
Que não se pode fugir
Seja qual for o seu gênero
Pras águas não te engolir.
11
Eita, sertão meu querido!
Eu do agreste litoral
Esse lugar perigoso
Tanto feroz, mas não mau
O bom mesmo meu sertão
É que és em mim vital.
12
Eita, vida resistência!
Do campo ao arranha-céu
Eu que vivo nessa vida
Tão querido e tão ao léu
Quanto a você que tá lendo
Eu lhe tiro meu chapéu.
13
Mas não pense que com isso
Esse ardor que agora sinto
Imaginado ou real
É verdade e eu não minto
É tão viva a assombração
Que eu escrevo e pressinto.
14
Eita, força sertaneja
Está em todo lugar!
Seja na terra ou no céu
Ou toda extensão do mar
Tem Felipe e Lourenço
E Moisés pra reclamar.
15
Segue esse desafio
Tal figura brasileira
De cabeças degoladas
Uma série na trincheira
Mataram Maria Bonita
E Virgulino Ferreira.
16
Nesse dia de manhã
De sangue o sertão banhou
O bando de lampião
Macacada o matou
Restou apenas Corisco
E Dadá, o seu amor.
17
Foi de uma brutalidade
A morte de Lampião
Com uma chuva de bala
Que estremeceu o sertão
Mas pior foi de Maria
Degolada com um facão.
18
Para servir de exemplo
Tantas cabeça cortada
Foram expostas na cidade
De uma forma descarada
Chocou a população
Que passava na estrada.
19
As metralhadoras prontas
Três e estava morto o rei!
Maria degolada viva
Não sabia agora sei
Dessas mortes tão cruéis
Que na mente presenciei.
20
Alpercatas do sertão
Meus pés a me carregar
Metonímia do absurdo
No ar a concretizar
Vida bandida, essa nossa
No céu estrelas a brilhar.
21
Lourenço, Damião e Moisés
Danados pelo sertão
Vão assim tirando loa
De viva assombração
Angicos ou Nova Iorque
Em Gaza eles passarão.
22
Mas que coisa tão incrível
A vida de Virgulino
De Serra Talhada, ao mundo
O São João natalino
Tal um batismo de fogo
Um espelho cristalino.
23
Bonnie e Clyde que não tentem
Driblar forte sertanejo
Sem estereótipo, não vi
Aproveito o ensejo
Pra te lembrar, meu amor
O som do meu realejo.
24
Nosso grande trio fez
Viagem ao passado,
Visitou seu Virgulino
E seu bando desgarrado.
Que no mundo fez história
Pra sempre será lembrado.
25
Foi pela manhã cedinho
Partimos da Universidade
Garanhuns estava tão fria
Neblina tanta, é verdade
Fomos até Piranhas, sim
Cantando e rindo, saudade
26
Lampião teve seu sucesso
Brutal ladrão, tal humano
simbolizava doença social
não se passe aqui o pano
seria heroísmo ou honra?
Meu Deus, que desengano...
27
Nossa vida acadêmica
Se misturando assim
Com essa poesia brava
Até parece que é o fim
Mas esse é só o começo
Ai, meu Deus: que bom, que ruim!
28
Na grota em Angicos, pensamos
Literatura da gente
Breve vamos nos formar
Isso deixa a turma contente
Cruzamos o São Francisco
Foi um dia excelente!
Cordel
do assum preto
Moisés
Monteiro de Melo Neto
1 Todo dia arrepiava
pensando na velha canção
sempre auscultava
batendo forte coração.
mas chegou o dia, enfim
Que calmamente...Anunciação!
2 Foi um jogo bem armado
este que lhe
aconteceu
desconhecendo certas coisas
algo disso assucedeu
furaram os 2 oi do bicho
dentro 0 olhar sobreviveu
3 Pelas serras da 232
o bicho vivia a voar
sobe desce no agreste
assombração foi achar
nem metade do que era
seu voo não conseguiu alçar
4 Espaço, gaiola, cruel
bicho com outros sentidos
seu canto não era o mesmo
parado, ecoa cantos gemidos
seu dono, e observava
terríveis olhos compridos.
5 Alimentado de álcool
Seu dono é tão
danado
em noites de lua cheia (ou não)
casa sombria, desconfiado
olhar firme e seco
de animal desconfiado
6 Amigos estranhos e
sempre lugar para o frio
eita, cama misteriosa!
Leito sem ele, tão vazio
Agosto, qualquer mês, seja
Ocupadíssimo vadio
7 Aqui começa a alquimia
me prendeu no
seu feitiço.
Ossanha! em zumba estou eu?
preto canto
chocalho mortiço
Meu bico, meu corpo
Sangue de alagadiço
8 Amiga dele, de longe
há muita emanação
ele busca contra-axé
bruxa não perde
oração
por defeito ou acerto
ela jura viração
9 Deixe continuar a história
deste triste episódio
preto sou
pássaro cansado
tanto amor.., tenta-me o ódio
longe habitat, sofro muito
nesta vida, opróbrio
10 Que sina nessa gaiola
ouvir blues,
não, nunca, para
o cara bebe e fica olhando para mim.
sua voz escancara
It´s all over now, baby blue
Nunca pensa nada odara?
11 Roubaram-lhe o amor,
Semente do seu viver
dor, mas gosto de ouvir
Eu, nas grades a fenecer
Nesta masmorra pendurada
Comida, água, sobreviver
12 Na estrofe de uma dúzia
Eu estou a delirar
Giramundo, mundo gira
E o tédio a crucificar
Passa vídeo, telefone.
cara chato de amargar
13 Um dia chegou aqui
um tipinho esquisito
fumou, cheirou, caiu
soltou até um periquito
minha companhia, adeus
escapou pro infinito
14 E o tipinho? nunca mais!
assum preto que
se vire
desse vigésimo andar
pra casa do sítio tire
a viagem, sem enxergar
Ele viaja comigo
Tenho medo que
me mire
15 Fico aqui nessa gaiola
a paz nasce dormindo
o malfeito acalma o louco
O céu é fluído? Só rindo...
Não farei o que não devo
Suicídio? Não findo
16 Que Sertão é
o Recife!
prudência não é medo
dentro de nós? Hades
imperfeição sem segredo
vida é linha finita
coisa de Deus né brinquedo
17 Nunca mais pensei naquilo
Me acabar contra a parede
nem no céu, nem no inferno
Sigo, sinto a minha sede
saciada por meu dono
preso que fui na tal rede
18 Prudente diz o sábio
da substância infinita
aqui tudo foi criado
do bem vem terra maldita
fica assim ressabiado
nessa jaulinha bendita
19 Ai, que grande provação!
em parente nesse mundo
Minha mestiçagem grita
Da superfície ao fundo
O canto foi-me um castigo
Meu prazer tão profundo
20 Obturo meu ouvido
Entretenho-me só comigo
amo, odeio desejo
não olho só meu umbigo
nem sei mais o que quero
Avante sem ânimo, prossigo
21 Prossigo na minha arte
Prossigo no meu martírio
é realidade, o pensar?
Me deixe com meu delírio
Jesus! blackbird, sem abrigo
o cordel, meu colírio...
22 E pra rematar de vez
Uma coisa logo lhe digo
Você quer se safar dessa?
Não correr nunca perigo
Feche assim esse cordel
E corra pra outro abrigo
Cordel
do assum preto
Moisés
Monteiro de Melo Neto
1 Todo dia arrepiava
pensando na velha canção
sempre auscultava
batendo forte coração.
mas chegou o dia, enfim
Que calmamente...Anunciação!
2 Foi um jogo bem armado
este que lhe
aconteceu
desconhecendo certas coisas
algo disso assucedeu
furaram os 2 oi do bicho
dentro 0 olhar sobreviveu
3 Pelas serras da 232
o bicho vivia a voar
sobe desce no agreste
assombração foi achar
nem metade do que era
seu voo não conseguiu alçar
4 Espaço, gaiola, cruel
bicho com outros sentidos
seu canto não era o mesmo
parado, ecoa cantos gemidos
seu dono, e observava
terríveis olhos compridos.
5 Alimentado de álcool
Seu dono é tão
danado
em noites de lua cheia (ou não)
casa sombria, desconfiado
olhar firme e seco
de animal desconfiado
6 Amigos estranhos e
sempre lugar para o frio
eita, cama misteriosa!
Leito sem ele, tão vazio
Agosto, qualquer mês, seja
Ocupadíssimo vadio
7 Aqui começa a alquimia
me prendeu no
seu feitiço.
Ossanha! em zumba estou eu?
preto canto
chocalho mortiço
Meu bico, meu corpo
Sangue de alagadiço
8 Amiga dele, de longe
há muita emanação
ele busca contra-axé
bruxa não perde
oração
por defeito ou acerto
ela jura viração
9 Deixe continuar a história
deste triste episódio
preto sou
pássaro cansado
tanto amor.., tenta-me o ódio
longe habitat, sofro muito
nesta vida, opróbrio
10 Que sina nessa gaiola
ouvir blues,
não, nunca, para
o cara bebe e fica olhando para mim.
sua voz escancara
It´s all over now, baby blue
Nunca pensa nada odara?
11 Roubaram-lhe o amor,
Semente do seu viver
dor, mas gosto de ouvir
Eu, nas grades a fenecer
Nesta masmorra pendurada
Comida, água, sobreviver
12 Na estrofe de uma dúzia
Eu estou a delirar
Giramundo, mundo gira
E o tédio a crucificar
Passa vídeo, telefone.
cara chato de amargar
13 Um dia chegou aqui
um tipinho esquisito
fumou, cheirou, caiu
soltou até um periquito
minha companhia, adeus
escapou pro infinito
14 E o tipinho? nunca mais!
assum preto que
se vire
desse vigésimo andar
pra casa do sítio tire
a viagem, sem enxergar
Ele viaja comigo
Tenho medo que
me mire
15 Fico aqui nessa gaiola
a paz nasce dormindo
o malfeito acalma o louco
O céu é fluído? Só rindo...
Não farei o que não devo
Suicídio? Não findo
16 Que Sertão é
o Recife!
prudência não é medo
dentro de nós? Hades
imperfeição sem segredo
vida é linha finita
coisa de Deus né brinquedo
17 Nunca mais pensei naquilo
Me acabar contra a parede
nem no céu, nem no inferno
Sigo, sinto a minha sede
saciada por meu dono
preso que fui na tal rede
18 Prudente diz o sábio
da substância infinita
aqui tudo foi criado
do bem vem terra maldita
fica assim ressabiado
nessa jaulinha bendita
19 Ai, que grande provação!
em parente nesse mundo
Minha mestiçagem grita
Da superfície ao fundo
O canto foi-me um castigo
Meu prazer tão profundo
20 Obturo meu ouvido
Entretenho-me só comigo
amo, odeio desejo
não olho só meu umbigo
nem sei mais o que quero
Avante sem ânimo, prossigo
21 Prossigo na minha arte
Prossigo no meu martírio
é realidade, o pensar?
Me deixe com meu delírio
Jesus! blackbird, sem abrigo
o cordel, meu colírio...
22 E pra rematar de vez
Uma coisa logo lhe digo
Você quer se safar dessa?
Não correr nunca perigo
Feche assim esse cordel
E corra pra outro abrigo
INDÍGENAS COMENTAM LITERATURA BRASILEIRA
Autores: IEDO RAMOS DE
ARAÚJO, NIRÃNIK WANAKIDZÉ DE LIMA SILVA, VIVIANE SILVA DE LIMA, Moisés Monteiro
de Melo Neto (professor orientador)
1 O Brasil foi invadido
Chegou aqui Portugal
Eu só não sei direito
Se isso foi bom ou mal
Uma coisa eu lhe digo
Pra nós índios foi fatal.
2 Eram então os quinhentos
Quando se deu a invasão
Isso nos deixou maluco?
Ei, você: preste atenção!
Veio sífilis gripe
E a globalização
3 Foram padres e cronistas
Veio o teatro também
E assim muitos navios
Vinheram lá do além
Queriam que a gente
Todos dissessem amém.
4 Se estabeleceu aqui
Uma cultura diferente
Barroco foi expressão
Que arrebatou muita gente
Não tinha ainda esse nome
Era um troço diferente.
5 Da Bahia vem Gregório
Com um papo tão estranho
Poesia incomodou
Tanto padre e tacanho
O bicho sentou a peia
E pouco foi seu ganho.
6 Teve também o Vieira
Ai, Tupã, quanto sermão!
Veio transformar o índio
Mas virou assombração
Perseguido ele foi
Pela tão inquisição.
7 Acabado esse estilo
Veio assim o Arcadismo
Clássico está de volta
A razão, o terrorismo
Arcádia era um “clube”
Com norma, sem preciosismo.
8 E Marília de Dirceu
Poema e natural lirismo
Vila Rica era o lugar
Viu o Neoclassicismo
Colônia a afundar
Épico obscurantismo.
9 Veio assim o Romantismo
Ai “Jisus” que aventura
Fuga da realidade
Muito amor que se procura
Tô perdendo o juízo
Ó que estranha procura!
10 Quebrou
todas as regras
Exaltou o Brasil
O índio como o herói
Ai, que homem tão viril!
Teve aí O Guarani
Nunca se mostrou serviu.
11 E poetas tão bonitos
Castro Alves que lutou
Contra nossa escravidão
Esse cabra arrasou!
Com seu Navio Negreiro
Que Betânia até cantou.
12 Quiseram até a morte
Álvares de Azevedo
Gonçalves Dias, no Exílio
Que frenesi dá até medo
A moreninha? Que frege
É vida ou é brinquedo?
13 O Realismo de Brás Cubas
Negro Machado de Assis
Psicologia humana
Da dondoca à meretriz
Novo estilo se instalava
Na cultura do país.
14 Dom Casmurro tão
estranho
Já a amada Capitu
Traiu o marido ou não?
Parece flor de caju
Escobar é o suspeito
É fortão, que buruçu!
15 Aqui, em Palmeira dos
Índios
Hoje ainda a gente lê
Quincas Borba, Cartomante
Realismo que se crê
E depois Naturalismo
Em O cortiço a gente
vê.
16 Determina zoomorfismo
E nunca o livre arbítrio
Sociologia nas letras
Parece um precipício
E o Brasil é exposto
Com todo o seu suplício.
17 Daí país quer ser branco
Vem o Parnasianismo
Tanto Grego e Romano
Poesia, artificialismo
Tem o incêndio de Roma
Com Bilac, historicismo.
18 Poetas queriam a alma
Isso não acaba assim
Simbolismo surge, enfim
Também só poemas
Cruz e Souza e Alphonsus
Pó de pirlimpimpim.
19 O Pré-Modernismo é
Uma nova geração
Tem bagunça na cidade
Que chega até o sertão
Lima, Lobato, Euclides
Ah, foi tanta agitação!
20 E tem Augusto dos Anjos
Que da Paraíba veio
Com morcegos, versos íntimos
Ele acertou em cheio
A,i que coisa mas sombria!
Disseram que era feio.
21 Lima Barreto é o cara
Subúrbio, corrupção
Falou do índio ideal
E terminou na prisão
Literatura pro povo
Pro Brasil salvação.
22 Lobato soltou o verbo
Na crítica-conto que fez
Do matuto preguiçoso
“Trabalhando” em Urupês
Racista no Pica-pau
Isso eu digo a vocês.
23 Semana de Arte Moderna
São Paulo, deitou, rolou
Com a cara dos burgueses
A plateia não gostou
Mário, Oswald, Manuel
Carnaval Brasil mostrou
24 Na Segunda Geração
Dividimos verso e prosa
Tem poemas e romances
Drummond, Cecília se goza
Vinícius também tá dentro
Poesia vigorosa.
25 Vou falar dos romancistas
Da Segunda Geração
Amado, Rachel, Zé Lins
Graciliano, boa opção
Zé Lins cana-de-açúcar
Rachel com O Quinze, sertão
26 Amado foi o cara
De comunismo entranhado
Depois criou grandes mulheres
E eu fiquei viciado
Gabriela, Tereza e Flor
E assim foi aclamado!
27 No seu terceiro momento
O modernismo arrasou
Trouxe Clarice, João
De Melo Neto, doutor
Pré- Concretismo de tal
E muito texto ficou.
28 Sina lispectoriana
A Hora da estrela, meu bem
Somos todos Macabéa
Tanto aqui como no além
Nossa estrela nordestina
E Severino também.
29 Nonada: Grande Sertão
De Guimarães meu amor
É a poesia em prosa
Deste grande escritor
Terceira marguem do rio
Tanto mistério e valor.
30 Agora eu digo uma coisa:
Índio, negro, mulher
Muita gente foi calada
Foi uma briga danada
Pra ser da literatura
Ter uma chance qualquer.
31 Negro como foi Machado
Cruz e Souza, o simbolista
Machado se disfarçou
Preconceito dá na vista
Sofreu Solano Trindade
E Luiz Gama na lista.
32 E o Concretismo, ó leitor?
São Paulo nos enviou
Haroldo, Augusto e Décio
Poema em pôster, mudou!
Ferreira Gullar se ergueu
Poema sujo lançou.
33 Ariano Suassuna
Romance, poema, teatro
Compadecida mostrou
E botou o diabo a quatro
Movimento armorial
Do altar até o átrio.
34 Vou falar do Torto Arado
Júnior, Itamar Vieira
Negra cultura, cês leiam!
Isso sim que é brasileira
Ficou famoso? Isso é pouco!
Nada ficou pela beira.
35
Ambígua, híbrida
é local e nacional
resultado a longo prazo
escrita sensacional
é assim tão fascinante
essa literatura: uau!
36 Nova Literatura Indígena
Se espalhando no país
Munduruku, Jekupé,
Yaman, Pataxó, diz
Kithaulu, Potiguara, fala
Terena, Guará, raiz
37 Haki'y, Wapixana, Yaguakãg
Makuxi, Kerexu Mirim
e autores sem preconceitos
conteúdo cognitivo, sim
valor próprio de sedução
arte importante é assim
38 Função simbolizadora
que ela possa situar-se
tendo um espaço próprio
e presentificar-se
cada vez mais estudada
local de fala, ela faz-se
39 Autorias indígenas
É Literatura forte
Erroneamente escondida
Era entregue à própria sorte
questões indígenas, sim
bem marcado suporte
40 Letras diferenciadas
Pelo brilho furta-cor
direito de expor sua arte
um universo em vetor
propriedade intelectual
coletivo/ individual primor
40 Oralidade e escrita
Oratura ou impressa
saberes, fazeres e crenças
adotada na Europa, essa
sobre crise ambiental
a muitos ela interessa
41 Vou parando por aqui
Quem quiser continuar
Que continue sozinho
O que eu quis foi falar
Literatura brasileira
Essa história contar.
Autores:
Iedo Ramos de Araújo
Nirãnik
Wanakidzé de Lima Silva
Viviane
Silva de Lima
Moises
Monteiro de Melo Neto
Cordel da literatura infantil e juvenil
Autores: Moisés Monteiro de Melo Neto
Nogueira Netto
1.
Tudo
é um aprendizado
Na
constância das mudanças
Sem
nenhum sonho frustrado
Destruindo
as esperanças
A
atmosfera é outra
No
planeta das crianças
2.
Eu
Duvido logo existo
Disse
Descartes uma vez
Literatura
uma fonte
Que
desconhece escassez
E
o livro é matéria-prima
Que
a mente humana fez
3.
A
ficção nos ajuda
Em
nosso hábito de ler
Ela
nos faz Dom Quixotes
Em
um mundo a percorrer
Fora
da realidade
Que
estamos a viver
4.
A
realidade física
É
fácil de adquiri-la
Porém
na terra abstrata
Que
nossa mente desfila
A
ficção é moeda
Que
ajuda adquiri-la
5.
Neste
esferoidal planeta
A
ficção faz alarde
Desrealiza
o real
Encoraja
o mais covarde
E
quem não a busca cedo
Ela
o achará mais tarde
6.
Infantil
e juvenil
Sempre
é literatura
Na
escola casa ágora
Juntar
o mal e a cura
O
longe, o impessoal
Com
a busca e a procura
7.
Aprender
refletir vale
Para
mim e para ti
Sabemos
mais de exatas
E
o que se tira dali
Do
que acerca do amor
Como
afirmou Rita Lee
8.
Enxergando
o outro apenas
Pela
nossa experiência
Infantil
ou juvenil
Ficção
não é ciência
Constrói-se
a realidade
Com
marcas da existência
9.
Quando
se mostra na sala
Um
pouco de poesia
Seja
encenando ou narrando
O
professor é o guia
Mas
pai e mãe têm também
Compromisso
todo dia
10. Peter Pan ou Dona Benta
Um
Minotauro gentil
A
borboleta e cigana
Figuras
do pastoril
São
personagens presentes
Dentro
do mundo infantil
11. Linguagem para a criança
Não é como para adulto
As lições que elas trazem
Num pensamento resulto
Não preciso ser complexo
Para precisar ser culto
12. Existe a idade certa
Para tratar certos fatos
Mas literatura fala
Em momentos inexatos
Sendo a matéria
Que registra esses relatos
13. Ensinar a arte aos jovens
A palavra não é tudo
Roda gira, gira roda
Com verdades não me iludo
A literatura é séria
Mas ela também é ludo
14. Tem livros só com imagens
Para o neném não lê
Tem menino maluquinho
Salve o coco e o dendê
Além das danças dinâmicas
Feitas por Maculelê
15. O público-alvo é assim
Com jovens assim começam
A viajar nas estórias
Não se afastam, nem se estressam
E quando mais ela é lida
Mais os mesmos se interessam
16. É um trabalho danado
Que na escola se faz
Professores e alunos
Sabem de frente para trás
Imaginação comanda
E a arte é muito mais
17. Lá no íntimo de nós
Desde a gente pequenino
Grita aquele ser adulto
Mesmo dentro do menino
Ó pequena sementinha
És senhora do destino
18. A ficção é conflito
Bonito pra a gente ler
Quando contavam histórias
Encantavam com o saber
Digladiavam-se aos homens
Mentiras pra gente crer
19. A desforra da infância
Em meio à literatura
É mais pura invenção
Feita pela criatura
Mentira que após contada
Se transforma em aventura
20. No correr do tempo vi
Espécies de livros, sim
Quando era criancinha
Ouvi histórias sem fim
De gênio e de desatino
Fui diabo e serafim
21. Na poesia infantil
O humor é delicado
Tem patinho que era cisne
Casa engraçada do lado
Arca de Noé, Vinícius
Tudo assim bem colocado
22. No mundo dos pequeninos
A parlenda é palavrório
Xuxa é uma rainha
O parque é um escritório
E o sorriso uma doença
Que dispensa ambulatório
23. Dos termos vêm a ideia
Como evento se anuncia
Toda lua é a primeira
Eu lembro que parecia
Toda chuva lembra outra
Mas, eu sequer percebia
24. Das situações banais
Com visão crítica talvez
Com sons, ritmos e versos
Desde pequeno se fez
Assim a escrita nasce
E um leitor se satisfez
25. Brincar na educação
Promove o entendimento
No valor da brincadeira
Tem sim um florescimento
Eu vou lhe lembrando bem
Relembrando esquecimento
26. Não é ensinar bons modos
Poesia é diferente
É prazer, encantamento
Chegando como um presente
O gosto do literário
Para o paladar da gente
27. O cabra se esvoaça
Em um portal que nos chama
Começa se enroscar
Nos fios de uma trama
Viaja por muitos reinos
Mesmo deitado na cama
28. Mostrar em vez de contar
Também é literatura
É coisa da nossa gente
Também de muita cultura
Entregando o indizível
Entrelaça a tessitura
29. Prazer desinteressado
De onde venho, aonde vou
Catárticos elementos
Que nos redimensionou
Para o lado do etéreo
São Saruê nos salvou
30. Para criança é melhor
Literatura é folia
É lágrima, não de tristeza
É choro de alegria
Não exige um exercício
Nem sequer as avalia
31. Essencial existência
O teatro pra criança
Faz quase tudo folguedo
É um poço de esperança
Não tema logo menino
Entra logo nessa dança
32. O teatro tem uma força
Que ajuda a esclarecer
É um jogo que se entende
Atrai de tanto querer
A criança e adulto
Se igualam pode crer
33. A magia teatral
É fácil, mas complicado
No tablado uma rainha
Foi a Maria Machado,
Com “Pluft o fantasminha”
Fez sucesso arretado
34. Liberdade do criar
É coisa muito importante
Os livros não são somente
Para ficar numa estante
Dramatização e auxilia
Todos com o livro avante
35. O lúdico e o prazeroso
Para uma ação dramática
Sem querer o pedagógico
A coisa pode ser prática
Magia percorre bem
Desvenda uma problemática
36. Está no conto “Umas férias”
De Machado e ele é
O que retrata um adulto
Incompleto por Javé
Que vem a ser imperfeito
Podendo ser visto até
37. O Copperfield de Dickens
Muito me impressionou
Do pai, o luto e o tédio
Aos poucos o esmagou
Como um machado afiado
Que algumas fibras cortou
38. No bando de Robin Hood
De criança, histórias temos
Também em Mark Tuan
Emília danada lemos
Estrepolias malvadas
E assim nos entretemos
39. Os apitos do juiz
Guris e adolescentes
Além de João e Maria
Curiosos e valentes
Crianças são terras férteis
E as histórias são sementes
40. Literatura é desvio
Linguagens bem trabalhadas
O estranho e o comum
Curvas certas e erradas
Contam o cotidiano
Como o mercado das fadas
41. A literatura hoje
É algo bem singular
Concorre com instagram
Youtube e celular
Mesmo assim, possui um brilho
Que as telas não sabem dar
42. Fazem leituras nas telas
Mas bom mesmo é no papel
Ser leitor é para sempre
Não vai ficar ao léu
Em companhia dos livros
Seja erudito ou Cordel
43. A leitura é ritual
A crianças se acostuma
Tem o peso do metal
Tem a leveza da pluma
Feita na beira da praia
Passando os pés na espuma
44. O poder de encantamento
Que a leitura produz
Amplia o vocabulário
A novas visões induz
Mas nunca cobra passagem
Nas voltas que nos conduz
45. Estudar texto em criança
E adolescente também
Deslizando pelas páginas
Ao estudar vai além
Olha que o livro tem preço
Mas, possui valor também
46. É uma plateia à parte
Público feito por crianças
Línguas sem hipostação
Quixotes e Sancho Panças
Virando leitores críticos
Renovando as esperanças
47. Superar lugar comum
Ser bonzinho pouco importa
Preconceito não aceito
Vá bater em outra porta
Não há um caminho certo
Quando a direção é torta
48. Vamos ler nas entrelinhas
Não trazer só mastigado
Vamos ver o rearranjo
Não vale o mal educado
No plural que é o mundo
Vale tudo ser virado
49. Bruxas, lobos, maravilhas
O folclore verdadeiro
Lida com qualquer idade
Nacional ou estrangeiro
Uma vida ainda é pouco
Viva um bom aventureiro
50. No jogo do faz de conta
Conta o inusitado
Literatura pra jovens
O real reinventado
Faz explodir o fascínio
Perante o interpretado
51. A brincadeira é real
Acontece de verdade
O que vai ser ficção
O que é realidade
Ser criança com a criança
Traz à tona a liberdade
52. Não é moral de história
Pois, isso não é legal
Não vem com resposta pronta
Tal e qual ou nada igual
Para vencer tanta dor
Enfrentemos todo o mal
53. Tristeza vire alegria
Pedagogia pra lá
Ideologia vem não
Leitor, traz sonhos pra cá
Mudando o que não tá bom
Ninguém fica a Deus dará
54. Autor não deve forçar
O imaginar da criança
Porque louvam várias vozes
Fortalece essa aliança
Quem for escritor criativo
Inicia uma festança
55. Continua a brincadeira
Intenso prazer brincar
Nunca experimentado
Faz o mundo rebrilhar
No jogo não resta dúvida
O bom é mesmo viajar
56. Brincar é libertação
Quando os livros se entrelaçam
Os olhos grudam nas letras
Enquanto as páginas se amassam
Os vocábulos dialogam
E os parágrafos se abraçam
57. Ler é viver outra vida
Refazendo a própria história
Quando muda o nosso mundo
Passa a ser uma vitória
Pois na criança uma estante
É posta em sua memória
58. A dúvida sempre se tem
Pelo jovem não se mande
Não há céu só pra criança
Consciência se expande
Deus é o mesmo pra todos
Ignorância se abrande
59. Se quer aprender a voar
A literatura ensina
Aos jovens de toda história
A caretice elimina
A infância perpetua
E jamais se descrimina
60. Não se traia pela língua
Ao fluir o escritor
Na máquina ou no humano
Surge o tom revelador
Pois a criança conhece
Toda linguagem de amor
61. A literatura é
A fantasia ao pensar
As curvas em cada letra
Com o brilho em cada olhar
O sorriso ao escrever
E o prazer ao recriar
CORDEL DE SÃO FRANCISCO
1
A cidade italiana
De Assis tem na memória
A história de um jovem
Que abriu mão de ter glória
Entregando a vida a Deus
Sua vida fez história
2
São Francisco a trajetória
Vai compor este cordel
Sobre um menino doce
De pai amargo igual fel
Com um patrimônio na terra
Sem moradia no céu
3
Desde cedo o tabaréu
Teve ternura infinita
Evitando a todo custo
O ódio que nos limita
Dialogou com os pássaros
Como quem a Deus imita
4
Como quem fé necessita
Com bases celestiais
A mãe dedicada a fé
O filho voltado à paz
Expôs a humanidade
Abraçando os animais
5
Seu pai criticava mais
Os comportamentos seus
Foi rico ao vender tecidos
Viveu como os fariseus
Pois o cobre não encobre
A falta de amor a Deus
6
À família deu adeus
Na decisão que ele quis
Ir lutar contra Perugia
Pela cidade de Assis
Por lá foi capturado
Um ano preso infeliz
7
Antes dessa cicatriz
Que na sua alma enterra
Chegou a conhecer clara
Depois conheceu a guerra
Provando os banhos de sangue
Da raça humana na terra
8
Seu pai lucrou com a guerra
Muito dinheiro se diga
Soube explorar quem trabalha
E a criança que mendiga
Ao adotar a ganância
Por sua melhor amiga
9
Francisco com isso liga
Não podia suportar
Conheceu os operários
Quis se sensibilizar
Mas a mãe viu que ao pai
Ele não ia imitar
10
O pai quis o maltratar
Sem querer o ver no ócio
Porque além de um filho
Quis um sucessor, um sócio
Pois o seu comportamento
Era ruim para o negócio
11
Seu amor à natureza
Se fortalecia ao vento
A alegria o cercava
Mas era também lamento
Que o peito batia forte
No rumo ao conhecimento
12
Tentando levar alento
Gritou até ficar rouco
Mas dessa forma a cidade
Dizia que era louco
Para dizer a verdade
Isso explica muito pouco
13
O seu pai foi ao juiz
Para à igreja agradar
Mas Francisco então orou
Foi a ela se entregar
Ficando longe das trevas
A luz era o seu lugar
14
Francisco quis ser feliz
E nada mais importava
Foi trabalhar por amor
Pedia esmola, alguém dava
Para cuidar da igreja
Que ele mesmo reformava
15
Mas, aí seu pai falava:
Para casa você vai
Ele abriu mão da herança
Pois isso não lhe atrai
Retirando a roupa em público
Sem levar nada do pai
16
A nova paixão crescia
Como seria o futuro
Tava sendo lapidado
Um Diamante tão puro
Que ajudou aos mendigos
E se tornou mais maduro
17
Ele falava com Deus
Como um pai ou um irmão
E reformou a igreja
Do santo São Damião
Numa conduta que foi
Mais do que religião
18
O seu amigo Bernardo
Ao voltar da Guerra Santa
Viu que Francisco era puro
Em cada gesto que encanta
Tinha fé, exemplo e obras
É o que mais adianta
19
Ele após ficar doente
Também ficou transformado
Insistiu em perdoar
E também ser perdoado
Da mesma forma que amar
Para também ser amado
20
O grupo de Francisco
Foi crescendo a quantidade
A todos recomendava
Preservar a castidade
O corpo é casa de Deus
E um lar para a santidade
21
Assim seguiu seu caminho
Embora ainda rapaz
Mostrando maturidade
Pedindo a Deus, pais dos pais
Que onde houvesse algum ódio
Ele ali levasse a paz
22
Assim foi pedir ao bispo
E ele agiu com violência
Pois, Francisco incomodava
Com a sua transparência
Quis ir a Roma rezando
Para buscar outra essência
23
Seguiu Francisco e mais cinco
Para cumprir este plano
Sendo zombados por Paulo
Igual um grupo cigano
Mas foram recompensados
Ao pisar no Vaticano
24
Inspirados em Mateus (10:9)
Com sentimentos distintos
Não leveis ouro nem prata
Nem dinheiro em vossos cintos
E alimente com palavras
Vários corações famintos
25
O Papa daquela época
Era Inocêncio III
Francisco se ajoelhou
E pediu o tempo inteiro
Para o seu grupo poder
Pregar o Deus verdadeiro
26
O papa inicialmente
Demonstrou dar um revés
Porém depois de um sonho
Mudou perante os fiéis
E assim que viu Francisco
Chegou e beijar-lhe os pés
27
Assim nasceu sua ordem
Que abraçava os leprosos
Sem acumular riquezas
Sendo sempre generosos
Dando um exemplo de fé
A todos os poderosos
28
E assim foi a sua história
Merecedora de palmas
Em prol de um mundo melhor
Enfrentaram vários traumas
Com a pobreza dos corpos
Mas, com riqueza nas almas